laços entre pais e filho, uma relação socialmente construída, nessas circunstâncias ganhavam
sentido também por meio do empenho rigoroso de Jayro e Lia nas buscas de Pedro. Lia e Jayro
não tinham prescrições para saber como agiriam naquelas situações. No entanto, a necessidade
e o compromisso de proteger o filho, de conviver com ele, se impunham e as relações afetivas
entre pais e filho eram manifestadas mesmo estando Pedro ausente.
O livro escrito por Lia trazia detalhes sobre as possíveis pistas do paradeiro de Pedro,
como as próprias buscas dela e do marido, as investigações policiais, a descrição minuciosa da
forma como a falsa assistente social tinha atuado para roubar a criança. No filme com roteiro
de Cristina esses mesmos esforços de localização são os principais elementos utilizados para
contar a saga dos pais. Sobre a luta para reencontrar Pedro, Jayro me disse:
Bom, foram dezesseis anos de procura, né? E nós usávamos de todos os meios
legais disponíveis, em busca dele. A gente mantinha contato periódico com a
polícia, a gente questionava o inquérito, em tudo que a gente notava algum
tipo de falha, a gente questionava, procurava, tentava fazer de novo,
estávamos sempre disponíveis pra ir atrás de qualquer criança que dissessem
que parecia com ele, onde estivesse. Fui a vários lugares, às vezes até sozinho
atrás dele. A Lia escreveu livros, a gente contava a história em rádios,
televisão e pra quem perguntasse, até no meio da rua, porque a gente tinha a
esperança de que contando a história alguém denunciasse, né? E nesse
processo de procura, quando tava com doze anos de procura, treze anos por aí,
mais ou menos isso, com o surgimento da internet, um sobrinho meu, muito
conhecedor da internet, me disse “Tio vâmo botá o caso na internet, você abre
uma página lá e coloca”. E colocamos, né. E precisava de fotos, aí, o Pedro
estaria com treze anos, por aí, aí eu peguei um foto, única que eu tinha com
dez anos, e coloquei lá. “Eu sou o pai, deve parecer comigo”[falando sobre as
legendas da foto na internet], toda aquela historinha, e colocamos o retrato
falado da seqüestradora do lado, no site. O SOS tomou conhecimento do site
com o passar do tempo, chamou o site pro site dele, e foi o pivô da denúncia,
foi o pivô da denúncia esse site...
Os esforços de localização eram entendidos por Jayro e Lia como uma tarefa também
deles e não apenas da polícia. Eles conheciam detalhes das investigações policias e as
acompanhavam rigorosamente, insistiam para que a história do desaparecimento não sumisse
da mídia, procurando esta última com freqüência e, além disso, buscavam revelações de guias
espirituais na esperança de descobrir onde Pedro estava. Outrossim, eles se deslocaram várias
vezes para encontrar algum garoto que poderia ser o filho ou fazer o reconhecimento de
alguma mulher que poderia ser a seqüestradora. Nas últimas palavras transcritas no trecho
acima, Jayro estava descrevendo o modo como sua foto chegou ao site do S.O.S. Criança de
Brasília, lugar onde mais tarde foi encontrada por Gabriela, que viu semelhanças entre ele e