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UFRJ
Casa e Jardim: a revista e a divulgação do ideário
moderno na década de 1950
Paula Merlino Machado
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Arquitetura,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Arquitetura,
na linha de pesquisa Pensamento, História e
Crítica da Arquitetura.
Orientadora: Dra. Beatriz Santos de Oliveira.
Rio de Janeiro
Março de 2007
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Casa e Jardim: a revista e a divulgação do ideário
moderno na década de 1950
Paula Merlino Machado
Orientadora: Dra. Beatriz Santos de Oliveira
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em
Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título
de Mestre em Ciências em Arquitetura, na linha de pesquisa Pensamento,
História e Crítica da Arquitetura.
Aprovada por:
______________________________________________
Prof. Dr. Rogério Medeiros – PPGAV-EBA-UFRJ
______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Margareth Silva Pereira – Prourb-FAU-UFRJ
______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Vera Regina Tângari – Proarq-FAU-UFRJ
______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Beatriz Santos de Oliveira
Rio de Janeiro
Março de 2007
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Machado, Paula Merlino.
Casa e Jardim: a revist
a e a divulgação do ideário moderno na década
de 1950/ Paula Merlino Machado. - Rio de Janeiro: UFRJ/ FAU, 2007.
xiii, 201f.: il.; 31 cm.
Orientadora: Beatriz Santos de Oliveira
Dissertação (mestrado)
UFRJ/ Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo/ Programa de Pós-graduação em Arquitetura, 2007.
Referências Bibliográficas: f. 151-159.
1. Revista Casa e Jardim. 2. Arquitetura Moderna no Brasil
. 3. Década
de 1950. I. Oliveira, Beatriz Santos de. II. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-
graduação em Arquitetura. III. Título.
Casa e Jardim: a revista e a divulgação do ideário
moderno na década de 1950
Paula Merlino Machado
Orientadora: Dra. Beatriz Santos de Oliveira
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-
graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências em Arquitetura.
O trabalho a seguir tem por objetivo a análise da revista Casa e Jardim, um
periódico criado em 1953 e ainda existente, estudando de que maneira ela
veiculou o ideário da arquitetura moderna entre as classes médias da sociedade
urbana brasileira na década de 1950. Verificamos quem foram os principais
responsáveis pela sua produção, na tentativa de compreender que idéias
pretendiam divulgar, qual a sua concepção do que seria a modernidade e, ainda,
que conceitos foram, de fato, divulgados aos leitores e, de que maneira, poderiam
ser entendidos e aplicados em sua vida diária. Espera-se que este estudo possa
contribuir no entendimento de mais uma das faces do desenvolvimento e
divulgação do modernismo brasileiro, quando da sua chegada a uma nova
parcela da população. Esta, predominantemente urbana e fortalecida pelo
desenvolvimento da sociedade capitalista da época, se mostra fortemente
baseada no consumo dos produtos frutos da industrialização e representantes de
um novo modo de vida, baseado no modelo norte-americano e profundamente
associado a sua cultura.
Palavras-chave: Revista Casa e Jardim, ideário moderno, década de 1950.
Rio de Janeiro
Março de 2007
Abstract
CASA E JARDIM:
THE MAGAZINE AND THE POPULARIZATION OF THE MODERN
IN THE 1950'S
Paula Merlino Machado
Orientadora: Dra. Beatriz Santos de Oliveira
Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-
graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências em Arquitetura.
This paper aims at analyzing Casa e Jardim magazine, a monthly publication
launched in 1953 still being published, stablishing how it disseminated the
repertoire of ideas related to modern architecture among the middle classes of the
Brazilian urban society in the 1950's. We will verify who was involved in its
production in order to understand which ideas these individuals intended to
disseminate, which was their conception of modernity and, furthermore, which
concepts were, in fact, ultimately conveyed to the readers and how these could be
understood and applied to their daily lives. It is hoped that this study will contribute
to the understanding of yet another face of the development and popularization of
Brazilian modernism at the time it became accessible to a new parcel of the
population, predominantly urban and strengthened by the development of the
capitalist society of the time, which was strongly based on the consumption of
industrial goods and represented a new lifestyle deeply associated with North
American culture and its way of living.
Kew-words: Casa e Jardim Magazine, modern repertoire of ideas, the 1950's.
Rio de Janeiro
Março de 2007
Este trabalho é dedicado
Ao nosso Pai maior, por nos dar o que
precisamos e consentir, desta maneira, que
possamos nos dedicar à realização de nossos
pequenos sonhos.
Aos meus pais, por serem o que são e
permitirem que eu seja o que sou.
À bossa nova, música que tão bem representou
este momento e hoje consegue resgatá-lo para
os que não tiveram a oportunidade de vivê-lo.
A todos os que, de alguma maneira,
participaram comigo da sua realização.
Agradecimentos Especiais
Thiago Merlino Machado,
irmão e amigo para sempre.
Minha avó Orlanda e meu avô Roberto,
por guardarem um registro tão precioso
do seu mundo para mim.
Beatriz Santos de Oliveira,
pela orientação, paciência, carinho
e, principalmente, por acreditar em mim.
William Seba Mallmann Bittar
pela amizade e por me ensinar muito do que eu
precisei saber antes para chegar até aqui.
Rachel Sisson e Flavio Damm,
pelo carinho com que me receberam e
compartilharam suas experiências.
Prof. Carlos Lemos,
pela atenção ao me atender e
pelas valiosas informações.
Minha turma do mestrado:
Alexandre Vidal, André Coelho,
Cláudia Baima, Isabel Rocha,
Marisa Hoirisch, Priscyla Arias,
Simone Guerra e Taísa Carvalho,
por me fazerem sentir como uma família
Aos poucos e sinceros amigos,
simplesmente por serem amigos.
Sem a ajuda de vocês, tudo
certamente teria sido mais difícil.
“A arte moderna é educacional não com relação à arte,
e sim à vida. Não se pode explicar a pintura de
Mondrian a pessoas que nada sabem a respeito de
Vermeer, mas facilmente se pode explicar a
importância social de admirar Mondrian e esquecer
Vermeer. Através da arte moderna a dilatada casta de
instrutores profissionais das massas – projetistas,
arquitetos, decoradores, figurinistas, organizadores de
exposições – informa ao povo haver surgido um sumo
valor em nossa época, o valor do novo, e que existem
pessoas e coisas que corporificam tal valor.”
(Harold Rosenberg – A Tradição do Novo).
Sumário
Índice de imagens.................................................................................. x
Introdução.............................................................................................
01
1. A revista Casa e Jardim
1.1. Origens.......................................................................................................... 06
1.2. Desenvolvimento.......................................................................................... 22
1.3. Principais Colaboradores............................................................................ 51
2. O moderno na revista
2.1. Análise da imagem: as capas................................................................. 58
2.1.1. Os primeiros exemplares...................................................................... 59
2.1.2. A predominância dos interiores............................................................. 71
2.1.3. Imagens do comportamento.................................................................. 76
2.1.4. A valorização da arquitetura moderna................................................... 78
2.2. Análise do discurso: os textos............................................................... 86
2.2.1. O comportamento moderno................................................................... 86
2.2.1.1. A família.................................................................................................... 87
2.2.1.2. As relações com o ambiente..................................................................... 95
2.2.1.3. O papel do arquiteto.................................................................................. 98
2.2.2. A casa moderna................................................................................. 100
2.2.2.1. Características formais do moderno....................................................... 100
2.2.2.2. A modernização das casas..................................................................... 115
2.2.2.3. Características do interior moderno........................................................ 131
2.2.2.4. O jardim como complemento do lar........................................................ 139
3. Conclusão........................................................................................
146
4. Referências Bibliográficas..............................................................
151
5. Anexos.............................................................................................
160
Índice de Imagens
Figura 01 – Artigo ilustrando como passar uma camisa............................................................. p. 07
Figura 02 – Fábrica “Vemag” D.K.W. em São Paulo................................................................... p. 11
Figura 03 – Juscelino em visita a metalúrgica, 1957................................................................... p. 11
Figura 04 – JK, Bellini e a Taça, 1958......................................................................................... p. 12
Figura 05 – Nelson Rodrigues na estréia de Os Sete Gatinhos, 1958........................................ p. 12
Figura 06 – Chega de Saudade, 1958........................................................................................ p. 12
Figura 07 – Copacabana, Rio de Janeiro.................................................................................... p. 14
Figura 08 – Aterro melhorando a ligação centro-zona sul. ......................................................... p. 14
Figura 09 Página com continuação dos textos das matérias iniciais e anúncios,diagramação
típica do início da revista............................................................................................................. p. 17
Figura 10 Artigo onde a revista fornece reparos críticos a certos detalhes que, algumas vezes,
destoam num conjunto arquitetônico”......................................................................................... p. 21
Figura 11 – “Pequenas idéias... Boas idéias”, em substituição a Outras Seções....................... p. 24
Figura 12 – Imagens do advogado e do médico da família, respectivamente............................ p. 25
Figura 13 – Tipo de resenha publicada....................................................................................... p. 28
Figura 14 – Um dos poucos exemplos fora da linguagem moderna........................................... p. 30
Figura 15 – Artigo teórico sobre móveis...................................................................................... p. 30
Figura 16 e 17 – Como localizar a casa em terreno estreito e artigo sobre arte moderna......... p. 31
Figura 18 – A cozinha do futuro.................................................................................................. p. 31
Figura 19 e 20 – Novidades tecnológicas................................................................................... p. 32
Figura 21 Artigo informando que a Forma S.A. poderá produzir no Brasil os móveis assinados
pelos arquitetos modernos.......................................................................................................... p. 32
Figura 22 – Como fazer um forro solto........................................................................................ p. 33
Figura 23 – Receita culinária....................................................................................................... p. 33
Figura 24 – Arranjo japonês, o ikebana....................................................................................... p. 34
Figura 25 e 26 – Artigos que ensinam a ter uma vida mais prática............................................ p. 34
Figura 27 – Dimensões corretas para móveis............................................................................. p. 35
Figura 28 – Esquema mostrando detalhe construtivo................................................................. p. 35
Figura 29 – As mulheres e os problemas econômicos, abordagem familiar............................... p. 36
Figura 30 – As mulheres e seu peso, abordagem feminina........................................................ p. 37
Figura 31 – A filosofia de acumular............................................................................................. p. 37
Figura 32 – Anúncio de página inteira......................................................................................... p. 39
Figura 33 – Anúncios de ½ e ¼ de página.................................................................................. p. 40
Figura 34 – Anúncio de caráter mais simples..............................................................................
p. 40
Figura 35 – Anúncios de página inteira....................................................................................... p. 41
Figura 36 – Colunas de meia página........................................................................................... p. 42
Figura 37 Anúncios americanos, mostrando a mesma estrutura gráfica dos nacionais. Mesmo
variando completamente o tema, temos um resultado bastante semelhante............................. p. 42
Figura 38 – Tipo de diagramação comum, com anúncios nas extremidades e texto central...... p. 43
Figura 39 – O moderno como tecnologia, facilidade. ................................................................. p. 43
Figura 40 – Móveis modernos patenteados. .............................................................................. p. 44
Figura 41 – O moderno como conforto e bom gosto................................................................... p. 44
Figura 42 – O moderno e o clássico na decoração..................................................................... p. 45
Figura 43 – A ultramoderna pia americana para cozinha agora fabricada no Brasil................... p. 46
Figura 44 – Os materiais acompanhando a evolução da arquitetura moderna........................... p. 47
Figura 45 – O moderno como união entre arquitetura e artes.................................................... p. 48
Figura 46 – O moderno é higiênico............................................................................................. p. 49
Figura 47 – Métodos modernos para o envio de peixes............................................................. p. 50
Figura 48 – Flores naturais modernas........................................................................................ p. 50
Figura 49 – Carlos Oscar Reichenbach...................................................................................... p. 56
Figura 50 – Apresentação dos primeiros colaboradores............................................................. p. 56
Figura 51 – Rachel Sisson quando colaborava com a revista.................................................... p. 57
Figura 52 – Revistas com as capas expostas em uma banca.................................................... p. 63
Figura 53– Case Study House em anúncio do fabricante de piscinas........................................ p. 63
Figura 54 – Capas e legendas dos números 1 e 2 da revista. Março e maio de 1953............... p. 64
Figura 55 – Capas e legendas dos números 3 e 4 da revista. Julho e setembro de 1953......... p. 67
Figura 56 – Capa do número 21, janeiro de 1956....................................................................... p. 68
Figura 57 – O Homem do Braço de Ouro, 1955.......................................................................... p. 68
Figura 58 – Especial Brasília, março de 1960............................................................................. p. 71
Figura 59 – Capas mostrando alguns interiores.......................................................................... p. 75
Figura 60 – Capas dedicadas às noivas, 1954 e 1955............................................................... p. 77
Figura 61 – Capa agosto / 1955.................................................................................................. p. 77
Figura 62 – Capa maio / 1957..................................................................................................... p. 77
Figura 63 – Capa janeiro / 1960.................................................................................................. p. 77
Figura 64 – Capa maio / 1958..................................................................................................... p. 77
Figura 65 – maio / 1959............................................................................................................... p. 77
Figura 66 – Capa número 61, de fevereiro de 1960.................................................................... p. 80
Figura 67 – Capas com destaque para a arquitetura.................................................................. p. 81
Figura 68 – Capa de março de 1955........................................................................................... p. 84
Figura 69 – Como agradar o marido com flores de legumes...................................................... p. 92
Figura 70 – A juventude transviada............................................................................................. p. 92
Figura 71 – Como planejar a decoração..................................................................................... p. 99
Figura 72 – O moderno integrado à paisagem.......................................................................... p. 103
Figura 73 – Fachada: simplicidade no desenho e nas formas.................................................. p. 103
Figura 74 – Ausência de ornamentos........................................................................................ p. 103
Figura 75 “Ao olhar esta residência, sentimo-nos espiritualmente transportados às casas rústicas
da Europa Central, que formam o estilo arquitetônico destas regiões”..................................... p. 105
Figura 76 – O moderno na casa de Sérgio Bernardes.............................................................. p. 105
Figura 77 – Uso de vidro e pilotis............................................................................................... p. 107
Figura 78 – Fachada e plantas................................................................................................... p. 107
Figura 79 – Concreto e vidro na casa de Artigas........................................................................ p. 107
Figura 80 – Casa de Paulo Antunes Ribeiro: funcional e integrada à natureza......................... p. 109
Figura 81 – Detalhe da fachada. Casa do arquiteto Henrique Alexander.................................. p. 110
Figura 82 – O “arrojo arquitetônico” da casa de Ariosto Mila...................................................... p. 110
Figura 83 – Parte do artigo sobre a utilização de pedras........................................................... p. 112
Figura 84 – Parte do artigo sobre os elementos vazados........................................................... p. 113
Figura 85 – “Anteparos de enrolar, de tecido plástico (vinyl), cercam este terraço. Em poucos
minutos podem ser enrolados como se fossem venezianas de janelas”.................................... p. 114
Figura 86 – Comparação dos custos da construção em função do desenho da planta............. p. 116
Figura 87 – Fachada da casa antes da reforma......................................................................... p. 120
Figura 88 – Sugestão de reforma............................................................................................... p. 120
Figura 89 e 90 – Exemplo de casa agradável e desagradável, respectivamente....................... p. 120
Figura 91 – Possibilidade de fachada para a casa em madeira................................................. p. 122
Figura 92 – Montagem de uma casa pré-fabricada................................................................... p. 122
Figura 93 – Estragos causados pela incidência direta da chuva na fachada
.
............................ p. 124
Figura 94 – Solução indicada para minimizar os danos............................................................. p. 125
Figura 95 – Primeiro projeto publicado como modelo................................................................. p. 126
Figura 96 – Croquis para casas econômicas.............................................................................. p. 126
Figura 97 – Projeto para residência............................................................................................ p. 127
Figura 98 – Projeto para residência............................................................................................ p. 128
Figura 99 –
Equipe 5
................................................................................................................. p. 129
Figura 100 – Projeto para casa térrea....................................................................................... p. 131
Figura 101 – Projeto para sobrado............................................................................................ p. 131
Figura 102 – Artigo Os Móveis e o Modernismo....................................................................... p. 133
Figura103 – Quatro tipos de salas, duas modernas e duas em estilo tradicional..................... p. 136
Figura 104 – Comparação entre os estilos................................................................................ p. 136
Figura 105 – Exemplo de interior moderno............................................................................... p. 138
Figura 106 – Esquemas mostrando o aproveitamento do espaço............................................ p. 139
Figura 107 – Artigo valorizando os diferentes tipos de jardins.................................................. p. 140
Figura 108 – Informações sobre o plantio de rosas.................................................................. p. 142
Figura 109 – Criando condições ideais para o jardim............................................................... p. 142
Figura 110 – Exemplo de jardim modernizado.......................................................................... p. 143
Figura 111 – Jardins de Ekbo, Reysten e Williams, da Califórnia............................................. p. 143
Figura 112 – Jardins de Burle Marx.......................................................................................... p. 144
Figura 113 – Importância do paisagista.................................................................................... p. 145
Introdução
O trabalho a seguir pretende traçar uma análise da revista Casa e Jardim, periódico
sobre arquitetura de caráter não especializado publicado a partir de 1953, buscando
compreender no seu discurso o que compunha o ideário moderno por ela divulgado e que
características foram a ele atribuídas. O objetivo desta análise é a aproximação a um
importante momento da nossa história, em que a arquitetura moderna produzida pelo
Brasil atinge seu apogeu e, partindo das elites intelectuais do país, começa a chegar às
classes médias. Neste contexto, a revista participa como um instrumento para a grande
popularização da linguagem moderna nas novas construções, fornecendo diretrizes e
instruções para sua aplicação nas residências, assim auxiliando no embelezamento e
modernização das cidades, um de seus interesses confessos.
Optamos por realizá-lo em duas partes distintas, que abordaram, em primeiro lugar, os
aspectos necessários ao entendimento da revista e sua importância no momento em
estudo, posteriormente verificando-se como ela veiculou os conceitos de moderno e
modernidade, que aspectos lhe foram mais freqüentemente associados e de que maneira
este ideário poderia ser utilizado pelos leitores. Para compreender com clareza o objeto
em estudo, fizemos, a princípio, algumas considerações sobre o momento histórico
tratado na pesquisa, traçando um breve panorama das condições políticas e econômicas
sob as quais o país se encontrava: um momento marcado pelo crescimento e por um
espírito eufórico e otimista, basicamente por meio de consultas às seguintes fontes
bibliográficas para o contexto histórico: Aquino (1978) e Boris Fausto (1999), para as
considerações sobre o Brasil e Joaquim Ferreira dos Santos (1998) para a compreensão
do ambiente cultural onde se desenvolveram tais acontecimentos, dentre outras leituras
posteriormente citadas.
Buscamos o entendimento da arquitetura moderna em conceitos de historiadores da arte
e da arquitetura, como Giulio Argan, Mário Pedrosa e Henrique Mindlin, e nos textos dos
próprios personagens, como Le Corbusier ou, no Brasil, Lucio Costa e Oscar Niemeyer.
O problema da formação e implantação da arquitetura brasileira, juntamente com a
consolidação de uma mentalidade moderna por parte dos arquitetos e das elites que
comandavam o país, é tratado por Lauro Cavalcanti (2006) e por Hugo Segawa (2002)
que, por abordar aspectos do desenvolvimento da cidade de São Paulo, onde era
publicada a revista, será adequado ao seu entendimento, constituindo, assim, as
principais fontes em que se baseou esta etapa.
Em seguida, descrevemos a publicação, verificando como surgiu e se desenvolveu,
citando suas características mais marcantes e os principais colaboradores responsáveis
por sua realização. Esta etapa teve como base, além da bibliografia de apoio para o
entendimento de algumas questões importantes, a leitura dos exemplares publicados
durante o recorte temporal estabelecido, ou seja, dos meros 01 a 63. A coleção de
revistas utilizada na pesquisa foi guardada e conservada por Orlanda Machado, avó
paterna da autora, que disponibilizou o acervo para consulta.
Não se pretendeu realizar aqui um levantamento de todos os artigos publicados ao longo
do período, mas sim traçar um panorama que nos permitisse entender como a revista
surgiu e se desenvolveu, de que assuntos tratou e como foram abordados, incluindo
considerações sobre os anúncios por ela veiculados. Diante da pouca bibliografia
encontrada sobre a imprensa no Brasil, que servisse de apoio ao entendimento da
posição da revista no mercado editorial da época e dos problemas que enfrentava,
optamos por inserir estas informações no texto explicativo sobre suas origens e
desenvolvimento, complementando-o. Para esta parte, dois autores foram selecionados,
Nelson Werneck Sodré (1999) e Ricardo Ramos (1987), na tentativa de contextualizar ou
corroborar as informações transmitidas pela própria revista, associando-as a tais
transformações da imprensa. Também consultamos textos de autores que se dedicaram
ao estudo de periódicos, como Clara Luiza Miranda (1998) e Nelci Tinem (2006), que
abordaram a historiografia da arquitetura nas revistas especializadas, além de Aparecida
Maria Nunes (2006) e Maria Tavares Figueira (1984), em seus trabalhos sobre as
publicações destinadas unicamente às mulheres, as revistas femininas, também
importantes para a compreensão de certos aspectos do objeto em estudo.
Partindo de um levantamento realizado na revista, procedemos sem muito sucesso a
uma tentativa de localização dos principais colaboradores. Após alguns contatos
telefônicos com o professor Carlos Lemos, da Universidade de São Paulo, descobrimos
que, da lista de nomes que poderiam ser localizados e entrevistados, dentre os poucos
por ele identificados, todos haviam falecido. Segundo ele, ainda, com exceção dos
arquitetos que assinavam os projetos, os outros autores de artigos deveriam ser
jornalistas especializados em assuntos de arquitetura que freqüentemente utilizavam-se
de pseudônimos. No entanto, não houve recursos para expandir a pesquisa, o que
impossibilitou a realização de uma viagem a São Paulo para o recolhimento de tais
dados. Ainda assim, conseguimos localizar dois importantes colaboradores do Rio de
Janeiro, Rachel Sisson e Flavio Damm, entrevistados em julho de 2006, que forneceram
bons depoimentos sobre sua participação. Embora eles sejam a única fonte a respeito
destas pessoas que criaram e mantiveram a revista, consideramos um item dedicado às
informações sobre os principais colaboradores, para registro e possível aprofundamento
posterior, assim como uma lista de todos os nomes de colaboradores publicados ao
longo dos exemplares estudados, localizada no anexo 5.
A segunda parte do trabalho consistiu de um exame mais detalhado da revista,
possibilitando o entendimento de como o seu discurso difundiu o conceito de moderno e
como este se refletiu nos espaços da casa, atingido as classes médias da sociedade. Foi
subdividida em duas análises distintas, a primeira relacionada às capas, por sua
importância como imagem que busca refletir o conteúdo da publicação, atraindo o leitor, e
a segunda referente aos artigos, mostrando como o discurso da revista veiculou o
pensamento moderno em seus textos, e que características associaram-se a ele.
A análise das imagens baseou-se na metodologia proposta por Martine Joly (2005, p. 50),
professora da Universidade de Bordeaux e discípula de Roland Barthes. Segundo ela, se
partíssemos do que compreendemos da mensagem a ser analisada, obteríamos seu
significado, ou seja, o que a imagem se propõe a comunicar. Procurando e isolando os
elementos que provocam tais significados e associando a eles significantes,
descobriremos os signos utilizados para transmitir a mensagem. Para a mensagem
implícita veiculada, pode-se usar o método inverso: “enumerar sistematicamente os
diversos tipos de significantes co-presentes na mensagem visual e fazer com que a eles
correspondam os significados que lembram por convenção ou hábito” (idem, p. 51).
Desta maneira, seria possível também distinguir os diversos componentes da imagem,
utilizando-se o princípio da permutação, a partir do isolamento de um elemento
relativamente autônomo e sua substituição por outro, similar e não presente na imagem,
o que ajudaria a distinguir diversos elementos, interpretando-os “pelo que são” e “pelo
que não são, enriquecendo a análise (idem, p. 52). Como auxiliar no entendimento da
estruturação da análise, optamos pelo texto de Alberto Manguel (2001), que tece
importantes considerações acerca das imagens e sua leitura e interpretação, mesmo que
por um público não especializado. Segundo ele, “as imagens, assim como as histórias,
nos informam” e, “com o correr do tempo, podemos ver mais ou menos coisas em uma
imagem, sondar mais fundo e descobrir mais detalhes, associar e combinar com outras
imagens” (MANGUEL, 2001, p. 21 e 25). Este estudo das capas da revista, que
proporcionou um entendimento das imagens veiculadas por elas como representantes do
conteúdo da revista e modelo para os leitores, realizou-se em quatro partes, onde se
destacaram os quatro primeiros exemplares, por suas características comuns, seguidos
dos demais, que abordaram, respectivamente, os interiores, o comportamento e a
arquitetura moderna.
Para o entendimento dos textos, que completam a segunda parte do trabalho, foi
pesquisada a prática da lingüística denominada análise dos discursos, desenvolvida em
meados dos anos 1960 por Michel Pêcheux, filósofo francês, responsável pela criação
deste novo objeto de estudo: o discurso. Este seria a prática social da produção de
textos, devendo ser analisado como uma construção coletiva e não individual, sendo
inserido em um contexto, caracterizado pelo momento de sua produção, e que envolveria
elementos tanto da realidade do autor quanto do receptor. De acordo com Pêcheux, o
“objeto de estudo deixou de estar centrado na fala, na escrita ou no texto em si mesmos para
recair nas condições, na situação, no momento de produção, invertendo a linha de raciocínio
a respeito do processo de produção”
(STROGENSKI, 2007).
O livro de Aparecida Maria Nunes
1
, citado anteriormente, também foi bastante importante
para o entendimento da análise do discurso, por seu caráter analítico, servindo como
exemplo de abordagem e interpretação deste tipo de texto e participando como meio de
aproximação com o contexto da época, pelas informações fornecidas sobre a mulher e
seu comportamento na sociedade.
Esta última parte se dividiu em dois temas principais, centrais na revista e para o
entendimento da veiculação do ideário moderno: o comportamento e a casa. O primeiro,
mostrou como o moderno se refletia na família e nas suas relações com o ambiente e
que comportamentos eram valorizados como condizentes com a época ou com o futuro,
cabendo a discussão da função do arquiteto como incentivador e promotor desta
modernidade, através do acesso às novas técnicas. Seguindo-se na análise, verificamos
nos demais artigos, selecionados segundo sua clareza e adequação aos objetivos da
pesquisa, as características do moderno na casa, sua linguagem e as qualidades a ele
associadas, abordando também a importância dada ao paisagismo, como resposta à falta
do contato do homem das cidades com a natureza.
Foram elaborados, ainda, quatro anexos que complementaram o texto com informações
1
Professora, pós-graduada pela da Universidade de São Paulo, dedicou-se ao estudo da literatura publicando, em 2006, o
livro Clarice Lispector Jornalista: páginas femininas e outras páginas, em que aborda os textos e colunas produzidos pela
escritora para jornais e revistas femininas entre os anos de 1950 e 1960.
relevantes ao seu entendimento. O anexos 1, composto pela linha do tempo da década
de 1950, ilustra de maneira sintetizada o momento em estudo e fornecem uma leitura
rápida e integrada com a revista, favorecendo um maior entendimento. Os demais
anexos, que funcionam como registro de alguns dos dados levantados, apresentam,
nesta ordem, a cronologia das capas da revista ao longo do período em estudo, os
arquitetos e projetos publicados, juntamente como o exemplar onde se localizam, e a lista
dos colaboradores citados, que participaram de sua produção.
Esperamos poder, com este estudo, lançar um outro olhar sobre um importante
momento da história e da arquitetura do nosso país, tão intensamente abordado e
analisado como o ponto culminante do processo de construção de uma identidade
moderna para o país. Pretendeu-se, ainda, destacar sua importância, mesmo não se
tratando de uma publicação de caráter específico, na veiculação deste novo modo de
vida, associada por ela ao moderno, a uma parcela crescente da população da época. O
interesse pelo periódico em estudo, ainda, se justifica quando levamos em conta o
sucesso por ele alcançado, uma vez verificada a sua popularidade, tendo atingido
praticamente todo o território nacional e sendo produzido ininterruptamente até hoje,
embora atualmente distante de seus objetivos iniciais
2
.
2
A Editora Globo, embora realize atualmente a publicação da revista, não se compromete com o conteúdo original
proposto pelos seus criadores, tendo apenas obtido, em 1995, a permissão para utilizar o nome da revista, comprado da
editora anterior, EFECÊ, que por sua vez a havia incorporado da Editora Monumento desde 1965. Esta, por sua vez, não
foi localizada, embora responsável por diversas publicações até meados da década de 1960. Acredita-se, com base em
informações obtidas no setor de periódicos da Biblioteca Nacional, que tenha sido comprada ou se fundido com outras,
formando a Editora EFECÊ.
1. A revista Casa e Jardim
1.1. Origens
A revista Casa e Jardim começa a ser vendida em março de 1953, bimestralmente,
tornando-se mensal em junho de 1955. De propriedade da Editora Monumento S. A., foi
criada com o objetivo de atingir um público não especializado, de classe média ou alta e
com um bom nível de escolaridade, isto é, pessoas com condições econômicas de ter,
construindo ou comprando, uma casa. Percebemos a revista como um veículo de forte
valorização desta arquitetura moderna feita no Brasil e de difusão das novas tecnologias
domésticas à disposição dos leitores. Mostrando muitas vezes um tom educativo e, tendo
como alvo um público relativamente leigo, não tinha a ambição crítica das revistas
especializadas destinadas aos arquitetos, preferindo funcionar como um elemento de
divulgação das realizações dos arquitetos brasileiros, principalmente no tocante à
arquitetura residencial, intenção principal dos seus criadores.
A tiragem inicial da revista foi de 50.000 exemplares
3
e seu subtítulo, “decorações,
móveis, arquitetura, jardim, culinária”, muito bem representado pela primeira capa,
composta por uma fotografia onde se um jardim de rosas e, ao fundo, uma residência
de linhas modernas
4
. Nos primeiros anos, a revista distribui seus assuntos nas seguintes
seções: decoração, com maior quantidade de artigos, arquitetura, jardim, artes, culinária
e outras seções, onde apresenta textos teóricos e receitas práticas sobre diversos
assuntos (fig. 01), entre eles: correspondências
5
, dicas de leitura, artigos de utilidade
pública
6
, música, comportamento, artes
7
, lazer
8
, utilidades domésticas e criação
de animais.
O interesse pela divulgação de um modo de vida moderno e condizente com o momento
que se estava vivendo, e o esforço empreendido em sua chegada às classes menos
abastadas da população pode ser percebido pelo caráter civilizatório da revista,
mostrando, muitas vezes, a arquitetura como o cenário onde esta doutrinação do público
3
Segundo Théo Gygas (1954, p.2), editor da revista, metade dos exemplares do primeiro número foram destinados à
distribuição gratuita, visando a sua divulgação.
4
Ver foto e considerações sobre a capa no capítulo 2, item 2.1.1.
5
Seção com perguntas enviadas pelos leitores, predominando dúvidas sobre plantações ou jardinagem existiu apenas no
primeiro ano.
6
Geralmente assinados por autoridades em segurança pública, do corpo de bombeiros ou da prefeitura de São Paulo,
abordando temas como segurança, prevenção a incêndios ou cuidados com a manutenção da casa.
7
Esta seção, existente desde a criação da revista, vai diminuindo gradativamente ao longo dos primeiros números, até
desaparecer por completo em meados de 1954.
8
Por exemplo: como organizar sua discoteca, como fazer filmagens.
se daria. Com cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, que se mostrassem
preocupados com a manutenção de suas casas e com a valorização da vida em família, a
aparência das cidades melhoraria consideravelmente, refletindo o nível cultural de seus
habitantes. Dentro deste entendimento da revista, que tenta atingir um público bastante
amplo e não especializado, percebemos como assunto principal e mais valorizado, a
casa, presente nos textos sobre arquitetura e composição dos espaços, internos e
externos, incluindo o paisagismo.
Figura 01 – Artigo ilustrando como passar uma camisa
(CASA E JARDIM, n. 01, 1953, p. 60 e 61).
É importante, no entanto, verificarmos alguns aspectos deste momento histórico no qual
a revista surgiu, na tentativa de compreendermos os aspectos que possibilitaram seu
desenvolvimento. Trata-se de um período bastante particular e sob alguns aspectos até
oposto ao de nossos dias, marcado por um forte sentimento nacionalista, e de grande
otimismo em relação ao futuro. No entanto, para melhor compreendê-lo, é necessário
considerar um dos principais acontecimentos do século XX, que consolidou as
transformações pelas quais o mundo vinha passando: a Segunda Guerra Mundial. Para
isso, é preciso voltar um pouco mais: após a Primeira Guerra Mundial
9
, o mundo vivia
momentos de falsa prosperidade que logo resultariam na Grande Depressão de 1929
10
,
sem dúvida a primeira grande crise do sistema capitalista, que atingiu todos os setores da
9
1914 - 1918.
10
O fato que desencadeou a crise foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, ocorrida na chama “Terça-Feira Negra”,
em outubro de 1929, quando os preços das ações desmoronaram, levando bancos e indústrias à falência e dilapidando o
patrimônio acumulado pela classe média americana durante a alta do mercado.
economia: desde os bancos até a indústria, o comércio e a agricultura, todas as classes
sociais e propagou-se por praticamente todo o mundo.
A crise acabou por acentuar o antagonismo entre os países, que nesta época formavam
um novo eixo político-econômico na América do Norte (EUA) a na Ásia (Japão). O
surgimento da URSS no cenário internacional, grande potência socialista, apesar de
neutra, também irá abalar profundamente o regime capitalista, que enfrenta sua maior e
mais grave dificuldade. Pode-se dizer que foi ela o fenômeno que desencadeou a guerra,
pois quanto mais os problemas econômicos aumentavam, os países percebiam que tais
diferenças não iriam se resolver pacificamente. Buscando enfrentar a crise, alguns países
acabaram adotando posturas extremamente nacionalistas, responsáveis por gerar os
regimes ditatoriais (nazistas e fascistas). Era necessário que ocorressem enormes
mudanças na organização do mundo. Iniciada em setembro de 1937 e terminada em
1945, a Segunda Guerra Mundial
11
marca o declínio da Europa e, paralelamente, a
ascensão dos Estados Unidos e da União Soviética como novas potências capitalista e
socialista, cujo confronto ideológico passou a ser conhecido pelo nome de Guerra Fria
(AQUINO, 1978).
No pós-guerra, à medida que o socialismo se expandia e ameaçava o capitalismo, os
Estados Unidos adotaram uma postura defensiva, formando com seus aliados, em 1949,
a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), na intenção de deter o avanço
soviético. Em resposta, a URSS cria o Pacto de Varsóvia, contribuindo para criar o
antagonismo militar entre as potências. No entanto, a rivalidade entre os países
capitalistas e socialistas não poderia se desenvolver da maneira convencional, através de
um confronto militar, visto que ambos possuíam a tecnologia nuclear e as conseqüências
da utilização desta poderiam ser extremamente perigosas. Cria-se então um clima de
constantes disputas por áreas de influência, onde as potências se confrontavam
indiretamente. Vale lembrar que, enquanto o capitalismo e o comunismo tentavam
ampliar suas zonas de influência, cerca de dois terços do mundo viviam em condições de
miséria. Era o Terceiro Mundo, “composto pelos países subdesenvolvidos e dependentes
da Ásia, África e América Latina” (idem, p. 319).
Neste contexto, o Brasil participa como área de influência norte-americana e o então
presidente Eurico Gaspar Dutra rompe, a partir de 1947, relações diplomáticas com a
União Soviética e decreta ilegal o Partido Comunista do Brasil, chefiado por Luís Carlos
11
O Brasil participa da Guerra a partir de 1942, após romper relações com o Eixo (Alemanha, Japão e Itália), assinando
com os EUA um acordo político militar secreto. Em 1944, é enviada uma força expedicionária, a FEB (Força Expedicionária
Brasileira), para lutar na Europa com os aliados.
Prestes. Com as eleições de 1951 e a vitória de Getúlio Vargas, é empreendida uma
nova política econômica nacionalista, que culminou em 1953 com a criação da Petrobrás.
Esta nova política não agradou ao imperialismo norte-americano, e foi rompido o acordo
de desenvolvimento entre Brasil e Estados Unidos. Vargas, no entanto, volta seu governo
para o movimento trabalhista, na tentativa de obter apoio ao seu plano econômico na
massa popular. A oposição dos conservadores cresce após a nomeação de João Goulart
como Ministro do Trabalho, o que promoveu a reorganização dos sindicatos, dando ao
governo maiores condições de manipular a massa operária. A figura de Carlos Lacerda,
proprietário do jornal Tribuna da Imprensa, será de grande importância para a campanha
antigetulista, identificando o novo governo de Vargas como uma fase para o retorno ao
Estado Novo
12
.
Enquanto isso, crescem as pressões norte-americanas, principalmente por parte das
empresas petrolíferas, interessadas na exploração do nosso petróleo, criando cada vez
mais dificuldades para o presidente. Em meados de 1954, um atentado a Carlos Lacerda
envolvendo pessoas da segurança pessoal de Vargas resulta na morte de um oficial da
Aeronáutica e parte da sociedade, apoiada agora pelo Exército, exige que o presidente
renuncie. Em agosto do mesmo ano, após escrever uma carta-testamento, Getúlio se
suicida. A sucessão da presidência após a morte de Vargas mostrou-se um tanto
complicada: o vice-presidente, Café Filho, permaneceu pouquíssimo tempo no cargo e foi
substituído pelo presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz, pouco depois
interditado pelo Congresso Nacional. Nereu Ramos, vice-presidente do Senado, se
manteve na presidência até 1956, quando Juscelino assume, após vencer as eleições.
Vimos que a vitória de Juscelino Kubitschek nas eleições de 1955, com o apoio das
forças getulistas (PSD e PTB), dará início a um governo de grandes transformações,
sobretudo econômicas, também responsáveis pela atmosfera de otimismo que invadiu os
brasileiros dos anos 50. JK propunha um plano de metas (energia, transporte,
alimentação, indústrias de base, educação, além da criação da nova capital do país) que
garantiria um desenvolvimento econômico industrial sem precedentes para o Brasil.
Dentro dessa política desenvolvimentista,
o Estado entraria como instrumento coordenador
do desenvolvimento,
estimulando os empresários nacionais e a entrada do capital
estrangeiro, tanto na forma de empréstimos como de investimentos diretos. Em 1959 é
criada a Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), órgão
12
Fase ditatorial do governo Vargas, inspirado no modelo facista, que durou de 1937 a 1945, utilizando-se de mecanismos
de controle e reprimindo toda a qualquer oposição ideológica. Segundo Boris Fausto (2004, p. 367), “podemos sintetizar o
Estado Novo sob o aspecto socioeconômico, dizendo que representou uma aliança da burocracia civil e militar e da
burguesia industrial cujo objetivo comum imediato era o de promover a industrialização do país sem grandes abalos
sociais”.
“destinado a promover o planejamento da expansão industrial do nordeste”, subordinado
diretamente à presidência da República (FAUSTO, 2004, p. 426).
Em comparação com o governo Vargas e os meses que se seguiram ao suicídio
do presidente, os anos JK podem ser considerados de estabilidade política. Mais
do que isso, foram anos de otimismo, embalados por altos índices de crescimento
econômico, pelo sonho realizado da construção de Brasília. Os “cinqüenta anos
em cincoda propaganda oficial repercutiram em amplas camadas da população
(idem, p. 422).
O governo JK representou um enorme esforço modernizador para o país, cujo discurso
favorecia o novo, o dinâmico, o moderno. O período é um reflexo, também, da política
econômica protecionista de Vargas no início da década, e ambos estão intimamente
ligados à tentativa de se construir o novo homem brasileiro e à tão buscada identidade
nacional. Com maciços investimentos estrangeiros que visavam ao desenvolvimento,
sobretudo, das indústrias, está também associado à instalação da indústria
automobilística, que ambicionava criar uma civilização do automóvel, em lugar de investir
em ampliar os meios de transporte coletivo de massa
13
. Enfatizava a necessidade de se
promover o desenvolvimento e a ordem, através da política nacional-desenvolvimentista,
que combinava “o Estado, a empresa privada nacional e o capital estrangeiro para
promover o desenvolvimento, com ênfase na industrialização”
(idem, p. 427) (fig. 02 e 03).
Esta situação era possível graças à nova posição obtida no pós-guerra pela América
Latina e em especial pelo Brasil, que perde o estigma de colônia e passa a ser visto
como novo fundo de investimento para o capital estrangeiro. Segundo Lauro Cavalcanti,
a cidade do Rio de Janeiro se constitui nos anos 50 como um espaço de intensa
experimentação artística, inovador e renovador” (CAVALCANTI, 2001 p. 157), que
modifica seus hábitos e seu consumo, incorporando o american way of life, resultado da
influência do capitalismo norte-americano que vinha crescendo desde o pós-guerra, com
a implantação da Política da Boa Vizinhança. Um novo estilo de vida se populariza
através da propaganda veiculada principalmente pela imprensa escrita, rádio, revistas,
cinema e, um pouco mais tarde, com a televisão
14
, incitando o consumo de novos
produtos, práticos e funcionais, destinados a facilitar o dia-a-dia, e colocando a classe
média urbana em sintonia com a vida moderna dos países desenvolvidos.
13
Em 1956 é lançado o primeiro carro brasileiro, Romi-Isetta, e são produzidos veículos pesados, como caminhonetes e
jipes. Em 1958, começam a ser produzidos carros de passeio (mais de 50% de peças nacionais), como o Fusca 1200 e o
Simca Chambord. De um total de 2189 carros produzidos em 58 passa-se a quase 38.000 em 1960.
14
Introduzida no Brasil primeiro em São Paulo, em 1950, por Assis Chateubriand (dono dos “Diários Associados”), e em
seguida no Rio, em 1951, porém ainda reduzida à elite, se popularizando a partir do final da década e principalmente
nos anos 60.
Figura 02 –
Fábrica “Vemag” D.K.W. em São Paulo
(FAUSTO, 2004, p. 428).
Figura 03 – Juscelino em visita a metalúrgica, 1957
(FAUSTO, 2004, p. 429).
JK comandou no país uma época marcada pela euforia e otimismo, de grande expansão
cultural oriunda da liberdade oferecida pela proposta do governo, altamente democrática.
Acabou por se tornar um dos mais populares presidentes do país, dotado de um espírito
descontraído e orgulhoso das realizações dos brasileiros. Joaquim Ferreira dos Santos
(1998), faz em seu livro uma reconstrução do ano de 1958, mostrando as conquistas do
país naquele momento. Foi o ano em que o DKW-Vemag saiu às ruas, o Brasil
conquistou a Copa do Mundo de futebol, Maria Ester Bueno venceu em Wimbledon, João
Gilberto inventou a bossa nova com o disco Chega de Saudade, Nelson Rodrigues
lançou no teatro Os Sete Gatinhos e Jorge amado publicou Gabriela Cravo e Canela,
livro mais vendido do ano (fig. 04, 05 e 06).
Figura 04 – JK, Bellini e a Taça, 1958 (SANTOS, 1998, p. 08).
Figura 05 – Nelson Rodrigues na estréia de Os Sete Gatinhos, 1958
(SANTOS, 1998, p. 114).
Figura 06 – Chega de Saudade, 1958
(capa do LP, foto da autora).
desde o início do século, com as reformas do prefeito Pereira Passos que alteram
profundamente a imagem do Rio de Janeiro, notamos uma grande preocupação por parte
dos sucessivos governos em se ter uma capital condizente com o nível de importância
adquirido pelo Brasil. Um novo estilo de vida se populariza, tendo como ideal a cidade do
Rio de Janeiro e especialmente o bairro de Copacabana, que atraía para suas praias,
bares e cinemas, não uma grande quantidade de turistas, como também políticos e
artistas (fig. 7).
Passava-se o bastão. A cidade saía do plácido interior monárquico,
abandonava os palácios de São Cristóvão e da Praça 15, para tirar a roupa e assumir sua
vocação praieira, bronzeada, de frente para o sacolejar das ondas do Atlântico”
(SANTOS,
1998, p.35).
As mudanças que ocorrem na então capital são consequência do processo de
urbanização do país que se inicia na virada dos anos 1930 para 1940 e altera a
fisionomia das cidades, “sobretudo com o adensamento dos de seus núcleos antigos ou
áreas lindeiras. Essa ocupação se processou sobretudo com a verticalização, com a
construção de grandiosos volumes em concreto armado – no imaginário da época, signos
do progresso e modernização” (SEGAWA, 2002, p.75). Com o objetivo de facilitar a
ligação do centro da cidade com a zona sul, são iniciadas as obras de desmonte do
Morro de Santo Antônio para a construção de um aterro acompanhando o traçado da
Avenida Beira-Mar, durante a administração de Dulcídio Cardoso, de 1952 a 1954 (fig. 8).
As pistas de alta velocidade, no entanto, serão concluídas no governo de Carlos
Lacerda (1961-1965), quando o Parque adquire a feição atual.
Ao longo de toda a década de 50, o clima de entusiasmo começa a tomar conta do
país,com as diversas realizações nas artes, na música, na arquitetura, no futebol e o
crescimento econômico aumentando a auto-estima dos brasileiros, levando aos quatro
cantos do mundo os ideais criados no Rio de Janeiro. Tais transformações, produzidas
na sociedade brasileira com a ajuda do governo, que culminaram em 1960 com a
inauguração de Brasília, a tão sonhada nova capital e mais moderna cidade do mundo,
levariam o país a uma grande euforia, uma vez que o setor industrial se desenvolvia e a
economia se diversificava sensivelmente. No entanto, outros problemas começavam a
surgir: a entrada do capital estrangeiro, responsável pela industrialização, provocava a
inflação e o crescimento desigual se concentrava no centro-sul e agravava as diferenças
regionais, transferindo a mão-de-obra das áreas rurais para as urbanas, aumentando a
pobreza nos grandes centros. Notamos, ainda, o Brasil totalmente inserido no
capitalismo internacional, com a implantação direta de indústrias, internacionalizando-se
o mercado brasileiro e aumentando a dependência econômica do país.
Figura 07 – Copacabana, Rio de Janeiro
(SANTOS, 1998, p. 32).
Figura 08 – Aterro melhorando a ligação centro-zona sul.
Ao fundo, em construção, o prédio do Museu de Arte Moderna.
(COHEN, 1998, p. 40).
Surgida num momento de expansão do mercado editorial favorecida por diversos
fatores
15
, a revista representa bem a procura por novos mercados. Podemos então situá-
la num patamar intermediário entre as revistas populares de grande circulação, como O
Cruzeiro, existente desde 1928 e Manchete, de 1952, e as revistas específicas
destinadas a arquitetos. A nova camada média da população que se desenvolve neste
momento, fruto do processo de industrialização e do desenvolvimento das cidades, que
produz fortes mudanças nas relações sociais e nos costumes, apresenta diferentes
ocupações, estilo de vida e visão de mundo. Este fato possibilita o surgimento de um
15
Na sua maioria, como já foi dito, relacionados ao avanço das relações capitalistas e à ascensão progressiva da
burguesia ocorridos após a Segunda Guerra Mundial.
discurso que se baseia no consumo e na informação, destinado a atingir esta nova
clientela, diferindo do conceito de cultura popular que existia até então e que foi
incentivada e controlada pelo governo Vargas, com o objetivo de valorizar elementos
nacionais que pudessem representar o espírito do povo brasileiro.
O segundo s-guerra é, portanto, responsável por transformações bem mais
significativas que as ocorridas na imprensa brasileira durante a virada do século XIX, pois
representa “a passagem da imprensa artesanal à imprensa industrial” (SODRÉ, 1999, p.
391). a necessidade de máquinas mais complexas que possibilitem maiores tiragens,
buscando, assim, atender à instantaneidade da comunicação e ao crescimento do
número de leitores, que se enquadram neste novo segmento surgido na sociedade,
dotados de poder aquisitivo e interesse no consumo de quantidades cada vez maiores de
informação e novos produtos industrializados. A importação de tal equipamento, que
permitiu à imprensa se industrializar, é possibilitada neste momento, contrariando sua
proibição durante a ditadura de Vargas que, sob a justificativa de dominar a imprensa
mediante a criação de uma legislação
16
de controle da compra de suprimentos para a
industria gráfica, travou seu desenvolvimento, levando diversos jornais de menor porte à
falência. Quando retorna ao poder, desta vez eleito, Vargas adota uma política mais
conciliadora e admite concessões ao governo norte-americano, o que não impede, no
entanto, a forte campanha por parte dos jornais que visavam a sua destituição do poder.
Neste momento, “as empresas jornalísticas usavam três caminhos para conseguir
recursos: a tomada a particulares (caminho largamente palmilhado por Assis
Chateubriand para constituir o seu império jornalístico); a tomada a cofres públicos, em
empréstimos de concessão e privilégio, e a recebida pela publicidade” (idem, p.402).
O período final da década de 1940 mostra um comportamento paradoxal da publicidade:
ao mesmo tempo em que a movimentação de anúncios diminui, o empenho em se
ampliar os horizontes da propaganda. Esta, por sua vez, começa a se tornar um negócio
bastante lucrativo para as revistas e, como sinal da maturidade deste novo campo
profissional, cria-se em 1951 a primeira escola de propaganda do país, a Escola Superior
de Propaganda de São Paulo. Criada sob influência das agências americanas, ela inseriu
novos conceitos para os produtos, gerando opções diferentes para os consumidores
(RAMOS, 1987). Já nos anos 1950, é visível a grande influência que a publicidade exerce
nos meios de comunicação, e a ordem dos gastos feitos pela indústria e comércio
17
são,
16
Maiores informações sobre as referidas leis podem ser encontradas em SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa
no Brasil, p. 395 a 413.
17
Mercado quase que inteiramente dominado por agências e firmas estrangeiras.
“através das agências de publicidade, em 1947, cerca de 750 milhões de cruzeiros,
ascendendo para 3500 milhões em 1953” (SODRÉ, 1999, p. 405).
A partir dos primeiros anos da década de 1950, a industrialização é incentivada,
impulsionando também a circulação de inúmeros jornais e revistas e a criação de
grandes empresas, como a cadeia Última Hora, de Samuel Weiner (1912-80) e o Sistema
Globo de Comunicação, de Irineu Marinho (1876-1925), além de propiciar aos Diários
Associados de Assis Chateubriand sua fase áurea, com faturamentos superiores a quase
todos os jornais existentes juntos, com exceção do Estado de São Paulo. A grande
liberdade de imprensa favorece os jornais e revistas, que se reformulam graficamente e
passam a valorizar mais a fotografia, principalmente na composição das capas. Enquanto
os primeiros dedicam-se à disputa pela formação de uma opinião pública através da
influência propiciada pelas informações fornecidas, as últimas voltam-se para o lazer e
para o público feminino, com o interesse principal de se vender, assim como um produto
qualquer. Mais que influenciar a opinião pública, a revista difere do jornal por buscar o
entretenimento do leitor, e a ampliação deste mercado propicia o surgimento da revista
de variedades Manchete, de 1952, para concorrer com O Cruzeiro, que orienta novas
publicações com o uso da combinação de imagens e reportagens, e vive seus anos de
apogeu entre 1950 e 1959.
O primeiro número da revista Casa e Jardim, de formato 20x30 cm, se apresentou com
72 páginas, das quais pouco mais de 8% correspondiam a anúncios, fato que a diferencia
do modelo americano de publicação da época, na qual eram inspiradas a maioria das
revistas brasileiras, em que cerca de 50% a 75% era formado por anúncios. Este fato,
que mudará ao longo dos primeiros anos da publicação, se deve à falta de anunciantes
neste período inicial, que passaram a investir na revista após verificarem sua aceitação
por parte do público. Apenas quatro páginas, além das capas e contracapas, eram
coloridas e serviam para ilustrar três dos artigos: a resenha da residência de Lina Bo e P.
M. Bardi e as matérias sobre arranjos de flores e receitas culinárias; no restante da
revista havia abundância de imagens, desenhos e fotografias, mas todas em preto-e-
branco. Apresentava os anúncios concentrados no início, estes maiores, de página
inteira, e no final, onde eram pequenos e apareciam inseridos entre os artigos. Algumas
matérias do início da revista eram interrompidas e sua continuação se localizava nas
páginas finais, fato que pode ser observado em diversas publicações da época, como por
exemplo nos jornais. Em alguns casos, entre quinze e vinte das páginas finais eram
dedicadas às continuações de artigos, intercaladas com anúncios de meia ou um quarto
de página, até o ano de 1958 quando o fato deixa de ser observado (fig. 09).
Figura 09 – Página com continuação dos textos das matérias iniciais e anúncios,
diagramação típica do início da revista. (CASA E JARDIM, n. 01, 1953, p. 71).
Seguindo no entendimento de como a revista se apresentou, inicialmente, aos seus
leitores, vemos que os cerca de 30 artigos apresentados nesta primeira edição eram
distribuídos entre os assuntos segundo uma hierarquia: nas primeiras páginas
revezavam-se os artigos dedicados à arquitetura, decoração, jardim e artes, esses sem
qualquer tipo de interrupção na diagramação ou pela inserção de anúncios, mostrando
uma valorização maior de sua forma e conteúdo. Em seguida, as matérias de caráter
mais prático, que se localizavam na parte final da revista, diagramadas quase sempre em
colunas e aparecendo intercaladas com pequenos anúncios, coerentes com sua
temática, e no final a continuação de alguns dos textos iniciais.
O primeiro artigo publicado, Prezado Leitor, por Carlos Reichenbach
18
, funcionou como
editorial e apresentação da revista, deixando bem claro o objetivo pretendido com a
publicação, que era o de ajudar na construção do “moderno semblante do Brasil”,
moldado pelos arquitetos brasileiros que compartilhavam da evolução das técnicas,
sistemas e elementos construtivos, como o concreto armado e o vidro:
18
Nascido em 1907, filho do mestre de artes gráficas Gustav Reichenbach, fundador da Companhia Lithographica
Ypiranga (responsável por grande número de publicações). Assumiu a presidência da mesma em 1941, fundando a
Revista Casa e Jardim, única revista brasileira do gênero na época. Seu falecimento é comunicado no número 66, de julho
de 1960.
O nosso mundo jamais conheceu, em qualquer outro período, progresso da
envergadura dos que, neste século XX, foram alcançados na arte da construção e
da habitação. O cimento armado, o aço e o vidro impuseram-se como elementos
construtivos das novas construções, tanto quanto o vapor, a eletricidade e o gás.
Abriu-se caminho à luz, aumentou-se a defesa contra o ruído e a temperatura
pode ser regulada ao simples toque de alguns botões ou alavancas. Nesta
primeira metade do nosso século erigiram-se habitações nas quais todos os
recursos técnicos do nosso tempo encontraram aplicação e nas quais o equilíbrio
dos ambientes e as linhas claras e nítidas correspondem às necessidades e ao
gosto de uma geração realizadora (REICHENBACH, 1953, p. 06).
A revista também apontava problemas de ordem social e, mesmo não tendo intenção de
resolvê-los, desejava tornar-se útil para a construção e no embelezamento” das
residências, avivando o interesse pelas realizações da moderna arquitetura brasileira”.
Acreditava, ainda, que uma casa desagradável induziria forçosamente os habitantes
para a rua, para as reuniões de porta de botequim e outras piores, com todas as
conseqüências decorrentes sobre a estabilidade do matrimônio e a união da família”, e
esta seria a missão da revista, difundir a idéia de um lar bonito, agradável, prático e
funcional, onde as pessoas pudessem sentir-se bem, a partir do contato com as
modernas possibilidades da construção de casas”, pelas sugestões apresentadas ou
exemplos publicados (idem, p. 07). Podemos associar este discurso à crença na função
social da arquitetura, bastante presente no período em questão, onde se buscava
compatibilizar a industrialização e a modernização do país, mantendo a preocupação em
ampliar o acesso à educação e à cultura.
Materializando essa preocupação social durante os cinco primeiros anos de existência,
uma parte da revista era vendida separada, sob a forma de um suplemento, que deveria
ser distribuído pelo leitor que comprava a revista a pessoas que, mesmo impossibilitadas
financeiramente de adquiri-la, demonstrassem certo interesse no cuidado com seu lar.
A razão de darmos essa parte da revista sob a forma de suplemento está em que
sabemos que para muitas pessoas a despesa em que importa a compra da revista
pode tornar-se pesada: pedimos, por isso, aos compradores de Casa e Jardim
que presenteiem com o suplemento essas pessoas que, apesar de não disporem
de grandes recursos monetários têm o senso do lar, e devem ser favorecidas em
suas aspirações (idem, p. 06-07).
O primeiro suplemento publicado
19
fornecia informações sobre a horta nos meses de
janeiro e fevereiro, ensinava a construir um galinheiro, como fazer um canteiro e um
tapete de estopa. Na maioria dos suplementos, os assuntos repetiam a mesma linha de
educação prática e iam desde desenhos de móveis, brinquedos e diversos outros objetos
para construir, moldes de roupas e muitas dicas sobre plantações, jardins, hortas. Esta
associação das classes mais pobres, a quem se destinava o suplemento, a um ambiente
rural, com espaço suficiente para quintais e galinheiros nos remete a um momento onde
a cidade brasileira, tanto nos bairros das classes populares quanto nos das mais
abastadas, apresentavam ainda fortes características de uma sociedade rural,
principalmente nos subúrbios. Surgidas inicialmente como solução para alojar os
imigrantes que chegavam para suprir as necessidades da indústria e os escravos recém
libertos do final do século XIX, as áreas de moradia da maioria desta população mais
carente
20
ainda não apresentariam o grau de densidade das atuais favelas,
caracterizando-se mais pela falta de infra-estrutura básica, mantendo ainda um aspecto
predominantemente rural.
O suplemento também pode ser interpretado como uma fonte de receitas ou exemplos
que teria o objetivo de instruir alguns tipos de empregados, de modo a ser deixado com o
caseiro da casa de campo para que ele aproveitasse as áreas da propriedade com a
plantação de hortas ou jardins, ou com pequenas construções importantes para melhorar
seu funcionamento. A partir do exemplar de março de 1957 (n° 33), o suplemento se
incorpora ao corpo da revista, apresentando-se como mais uma seção, de nome Para as
horas de lazer, que mantém a mesma linha de artigos, do tipo faça-você-mesmo. De
acordo com o pensamento da época, as facilidades tecnológicas teriam por objetivo
liberar o homem de certos tipos de trabalho para que ele pudesse dedicar mais tempo ao
lazer e ao convívio do lar. Assim, a revista dedica espaço e atenção a possíveis “hobbys”
que o leitor possa vir a desenvolver e que, se associados aos cuidados com a
manutenção e o embelezamento da casa, como a jardinagem e a carpintaria ou, no caso
das mulheres, a confecção de bolos artísticos ou de peças de vestuário para a família,
poderiam proporcionar um maior conforto.
Diante da necessidade de classificar a revista em estudo, optamos por considerá-la como
uma publicação de interesse específico sobre arquitetura, porém direcionada ao público
leigo, composto principalmente por não-arquitetos, de classe média ou alta, proprietários
ou locatários de imóveis com interesse por assuntos relacionados à construção ou à
19
Não foi encontrado, provavelmente doado conforme as instruções de Carlos Reichenbach. Os títulos das suas matérias
apareciam descritos no sumário das edições.
20
Representada, sob o ponto de vista da revista, principalmente pelos empregados domésticos das classes média e alta.
manutenção da casa e às questões da família. Segundo os objetivos propostos pelos
editores, ela se constituiu num instrumento de divulgação das possibilidades da moderna
arquitetura brasileira e das novas tecnologias à disposição da construção (idem, p. 06).
De acordo com a catalogação encontrada na seção de periódicos da Biblioteca Nacional,
a revista está classificada pelos assuntos: “habitações” e “decorações e ornamento”, o
que demonstra certa coerência com seus propósitos e objetivos e exclui de início a
tendência a classificá-la entre as revistas destinadas apenas ao público feminino.
Ao contrário do que se possa pensar, a revista não apresenta características de
publicação feminina
21
, pois todos os assuntos abordados, pelo menos da maneira que o
são, permitem que se perceba um caráter voltado para a vida familiar e para a casa, das
quais a mulher também participa, sem, no entanto, que seja o foco da abordagem. Mostra
exemplos de residências, com os respectivos interiores e jardins e apresenta artigos
teóricos de caráter instrutivo, que indicam soluções para beneficiar o espaço da
residência (fig. 10). Se considerarmos as cartas enviadas para a revista
22
, veremos que a
ocorrência de leitores é bem maior que a de leitoras. Dos dez trechos de cartas
publicadas, apenas dois eram assinados por mulheres. Entre os homens, que se
admitiam leitores sem constrangimento algum, destacava-se o diretor geral da Secretaria
da Segurança Pública Oswaldo Silva, que teceu fortes elogios à publicação, sendo
convidado para redigir um artigo sobre segurança, intitulado “A Proteção do Lar”.
Segundo Rachel Sisson
23
, uma de suas colaboradoras mais freqüentes, a revista aborda
os aspectos da estrutura espacial, embora não sob esses termos, mas refletindo sobre
como seriam formados os ambientes, como se relacionariam com os demais aposentos
da casa e de que maneira o leitor poderia conseguir deles maior conforto e segurança,
tratando de temas presentes no seu cotidiano. Ela também discorda da sua classificação
como revista feminina, concordando com seu caráter familiar e afirmando acreditar tratar-
se de uma revista intermediária, nem direcionada apenas ao leigo, nem ao público
especialista, mas a todo o tipo de pessoa que possuísse alguma relação com o espaço.
“É uma revista do lar, da família, com artigos legíveis, acessíveis para o leitor de classe
média”.
21
A revista é citada no livro A Revista no Brasil, como parte do capítulo dedicado às revistas femininas (p. 156 a 174),
quando este aborda a revista Cláudia, de 1961, numa referência à Casa Cláudia, criada a partir dela, e à “pioneira Casa e
Jardim” (A REVISTA NO BRASIL, 2000, p. 172), como representante das revistas de decoração que surgem atreladas às
necessidades de consumo das mulheres, que começam a trabalhar, tornando-se um importante e amplo mercado. Este
ponto de vista, porém, não corresponde aos objetivos propostos inicialmente pelos editores, que abordavam principalmente
as questões acerca da construção de casas, dos cuidados com o lar, do comportamento.
22
Embora não fosse muito freqüente a publicação de cartas dos leitores, que eram publicadas apenas esporadicamente, o
segundo número da revista apresentou, no artigo Obrigado!, uma compilação de trechos das cartas recebidas por ocasião
do seu lançamento.
23
Os trechos citados foram retirados da entrevista concedida por Rachel Sisson, no dia 13 de julho de 2006.
Figura 10 – Artigo onde a revista fornece “reparos críticos a certos detalhes que, algumas
vezes, destoam num conjunto arquitetônico” (CASA E JARDIM, n° 01, 1953, p. 26 e 27).
1.2. Desenvolvimento
A revista conquista, com o passar do tempo, uma boa aceitação por parte do público,
atendendo bem à expectativa de seus editores e adquirindo, ao longo do ano de 1954,
uma quantidade cada vez maior de anunciantes. Ilustrando o sucesso atingido nos
primeiros números, temos os dois artigos assinados por Théo Gygas, editor da revista
(Nosso Programa, de março de 1954 e Entra no seu 3
o
. Ano, de março de 1955), em que
se comemora os primeiros exemplares publicados, alegando-se terem sido atingidos os
objetivos programados.
Olhando um momento para trás neste primeiro aniversário e folheando as 6
edições, vemos atingida a nossa meta: nenhum mero saiu à rua sem conter
inúmeros conselhos práticos, recomendações valiosas, receitas refinadas. (...). As
fotografias que ilustram os textos, os desenhos que acompanham os capítulos
tudo é um estímulo, uma orientação, uma idéia para cada um de nós que temos
problemas na casa e no jardim, sejamos já donos de um lar ou apenas desejosos
de construir, pouco a pouco, conforme os recursos.(GYGAS, 1954, n. 07, p. 04).
No ano de 1955, quando a revista entra no terceiro ano de existência, seu editorial
informa que um dos diretores da The Hearst Magazines Inc.
24
, uma das maiores
organizações editoriais americanas, que recebe regularmente o periódico em seu
escritório em Nova York, em visita à América do Sul, teria solicitado licença para publicar,
nos Estados Unidos, fotografias de residências brasileiras. Segundo descrito pelo editor,
em troca, esse diretor pôs a organização Hearst Magazines ao nosso inteiro
dispor. Sem despender um único cruzeiro em propaganda, Casa e Jardim
conquistou pela sua atitude os mercados de toda a América do Sul e muitos
países de além-mar. Nas bancas de Buenos Aires, Santiago do Chile e outras, é
vendida a Casa e Jardim com a mesma regularidade como em Lisboa ou Angola.
Nos centros arquitetônicos em Londres circula também a Casa e Jardim, como
também agora em Berlim, onde Oscar Niemeyer reconstruirá uma grande parte da
cidade (GYGAS, 1955, n.13, p. 02-03).
Ainda no mesmo artigo, o editor se dirige aos leitores e volta a abordar a falta de matéria-
prima para a produção da revista, no caso, o papel, responsável pela intensa oscilação
na sua periodicidade, chegando a variar de mensal a bimestral por cerca de nove vezes
24
Enorme cadeia e veículos de comunicação americana, verdadeiro império fundado pelo magnata da imprensa William
Randolph Hearst (1863-1951), através do qual ele manipulou políticos e enormes quantidades de leitores.
entre os anos de 1953 e 1960. Demonstrando preocupação com o assunto, Gygas se
justifica: “sendo regularizado o abastecimento do papel a preocupação maior de toda a
imprensa do Brasil passaremos a editar a revista mensalmente” (idem). Este problema
é abordado por Werneck Sodré, em sua História da Imprensa no Brasil (1999), onde o
relaciona ao controle da imprensa. Segundo ele, verificava-se no Brasil uma tendência a
elevar os preços do papel usado para a impressão, que era importado, tornando-o
inacessível aos jornais mais pobres, limitando a liberdade de imprensa aos detentores de
capital. Essa rápida e brutal ascensão dos preços arrasou a pequena imprensa, reduziu
a circulação dos jornais, entregou-os integralmente ao controle da agências estrangeiras
de publicidade” (SODRÉ, 1999, p. 413). A escassez de papel duraria até meados dos
anos 1960, quando leis de incentivo à produção de papel nacional e à isenção de
impostos e taxas para equipamentos e materiais industriais relacionados à produção da
imprensa puderam ser aprovadas.
Por ocasião do 50
o
exemplar publicado, em março de 1959, o presidente Carlos
Reichenbach se dirige novamente aos leitores, esclarecendo-os acerca das dificuldades
encontradas ao longo dos anos pela revista para que fosse possível a publicação de 50
exemplares e agradecendo a sua fidelidade e paciência. “Lutamos pelo anunciante,
lutamos pela matéria a ser publicada, lutamos por tempo de máquina e por papel, porém
nunca tivemos de lutar para encontrar leitores” (REICHENBACH, 1959, n. 50, p. 04).
Segundo a propaganda feita pela própria revista, através de seus editoriais, ela pode ser
considerada um sucesso de público, sendo esta grande aceitação uma prova da
importância que a arquitetura moderna brasileira atingiu como manifestação artística, de
exaltação à nacionalidade. O grande interesse demonstrado por um periódico sobre a
casa corrobora a existência por parte das classes médias de uma preocupação com o lar,
o morar e, mais ainda, com o morar dentro da lógica e dos cânones modernos. A revista
se estabelece como mensal definitivamente em maio de 1958, após alternar entre mensal
e bimestral por várias vezes, segundo as possibilidades do mercado de matérias-primas.
Para Carlos V. Cerchiari, no artigo “Considerações” de 1955, a revista teria o objetivo de
divulgar o que o leitor desejava que fosse publicado, apresentando soluções objetivas,
que satisfizessem a todos, “empreendimentos que significassem inovações para as
famílias brasileiras, na casa e no jardim (CERCHIARI, 1955, 18, p. 42). Neste mesmo
número, inicia-se a publicação dos artigos sobre arranjos japoneses, os ikebana, com
aulas acompanhadas de fotografias em cores, que obtém êxito na comunidade japonesa
de São Paulo e são moda na decoração da época. Mostra-se satisfeito com os resultados
apresentados: “quanto às seções basilares, que constituem a estrutura de nossa revista:
arquitetura, decoração, jardinagem, culinária enfim, tudo o que se refere à casa e ao
jardim – quanto a esta parte geral, nosso sonho já se tornou realidade” (idem).
Esta estrutura básica da revista mostra-se um tanto enxuta e com poucos artigos sobre
outros assuntos fora da arquitetura e da decoração entre os anos de 1955 e 1957,
quando surge a seção utilidades, com pequenos artigos em colunas de meia página
intitulados “Pequenas idéias... Boas idéias”, em substituição a outras seções (fig. 11).
Também em 1957, o suplemento, até então encadernado separadamente da revista para
ser distribuído, incorpora-se ao corpo da publicação, através da seção “Para as horas de
lazer”. Ainda no período após 1955, começamos a perceber um aumento da participação
de alguns dos arquitetos mais reconhecidos do movimento moderno, como colaboradores
diretos em participações pontuais, escrevendo artigos sobre assuntos como o papel do
arquiteto e do cliente, arquitetura e construção, novos materiais e possibilidades
tecnológicas. A partir de junho de 1956 são publicados artigos com entrevistas realizadas
por Regina Zonta
25
a importantes arquitetos paulistas, como Luiz Saia, Zenon Lotufo e
Ariosto Mila, mostrando uma tentativa de estreitamento das relações entre os
profissionais e o leitor.
Figura 11 – “Pequenas idéias... Boas idéias”, em substituição a Outras Seções
(CASA E JARDIM, n. 34, 1957, p. 77).
25
São eles: ZONTA, Regina. Arquitetura sem preconceitos de classe: entrevista do arquiteto Abelardo de Souza. in Casa e
Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro, n.27, Julho, 1956; ______. O arquiteto não onera o custo da construção: entrevista do
arquiteto João Clodomiro de Abreu. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro, n.28, Agosto, 1956;______. Você é um
cliente em potencial do arquiteto: entrevista do arquiteto Luiz Saia. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro, n.29,
Setembro - Outubro, 1956;______. Arquiteto dos reis, arquiteto dos deuses, arquiteto dos homens? - entrevista do arquiteto
Zenon Lotufo. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro, n.30, Novembro, 1956______. Presença do arquiteto:
entrevista do arquiteto Ariosto Mila. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro, n.31, Dezembro, 1956.
Novos assuntos passam a ser incorporados à revista, na edição bimestral de novembro
de 1957, através da coluna Empreendimentos (orientação)”, uma espécie de consultoria
sobre compra e venda e imóveis, com o objetivo de prestar serviços relacionados à
avaliação de custos, estado de conservação do imóvel, contratos e anúncios enganosos,
mantendo-se a meados de 1958, apesar de certa monotonia nos temas abordados.
Também surgem as seções “Alta Fidelidade TV”, em sintonia com a popularização das
novas tecnologias, além de “Faça você mesmo” eTricô e Crochê”, estes na linha prática.
no final do ano de 58, na edição de número 47, o sumário deixa de ser dividido por
seções, e começam a ser mais freqüentes os assuntos relacionados ao comportamento,
dedicados à educação dos filhos, às crises em família e aos problemas do casamento.
Também surge uma nova coluna, “O advogado da família”, onde Mary Apocalypse
fornece informações sobre procedimentos legais e pareceres jurídicos acerca de
situações do cotidiano, substituída mais tarde por “Conselheiros da família”, onde um
médico e um advogado prestam assistência aos leitores da revista (fig. 12).
Figura 12 – Imagens do advogado e do médico da família, respectivamente
(CASA E JARDIM, n.56,1959, p. 63).
Os primeiros sumários, organizados pelos subcapítulos: arquitetura, decoração, arte,
jardim, cozinha, outras seções
26
e suplemento, permanecem com a mesma subdivisão,
apesar de algumas pequenas variações, até o final de 1958, quando a revista sofre
algumas modificações mais relevantes em sua apresentação e os artigos publicados
deixam de ser agrupados por assunto. Também o subtítulo inicial da revista, “decorações,
móveis, arquitetura, jardim, culinária” se altera, passando a ser, em março de 1956: “a
arte brasileira de morar bem - reportagens de todo o território nacional” e permanecendo
desta maneira por todo o restante do período em estudo.
26
Era comum esta seção se desdobrar em outras, como música, entretenimento, utilidades, faça você mesmo,
empreendimentos.
O formato inicial da revista, 21x30 cm, continua o mesmo nos cinco primeiros anos,
sofrendo a única alteração do período em junho de 1958, no número 43. O novo formato,
agora menor, de tamanho 20x27 cm, seria, segundo o fotógrafo Flávio Damm
27
, uma
tentativa de adequação ao padrão das publicações que dominavam o mercado, gerando
facilidades aos anunciantes. As capas mantêm uma mesma linguagem ao longo do
período, com a predominância, salvo duas ou três exceções, de uma fotografia de fundo,
com o tema geralmente envolvendo interiores ou exteriores residenciais e predominância
de jardins, e o nome da revista localizado na parte superior. Após algumas poucas
tentativas define-se uma fonte para título, que é repetida até o final do ano de 1955. Em
março de 1954 é feita a primeira inserção de texto na capa
28
, através de etiquetas
coloridas onde se lêem os artigos de destaque da publicação, que são substituídas no
início de 1955 por textos mais discretos, aplicados diretamente sobre a foto. A partir de
janeiro de 1956, a revista apresenta uma nova diagramação para a capa, conferindo-lhe
um aspecto mais gráfico, com molduras verticais e quadrados coloridos, além de um
novo logotipo, que se mantêm por todo o período em estudo. Os textos vão ganhando
mais importância e peso ao longo do tempo, e passam a utilizar tarjas coloridas e
diferentes fontes de vários tamanhos, se destacando cada vez mais em relação
às imagens.
A revista se desenvolve mantendo a mesma quantidade aproximada de páginas, entre 70
e 80, até o fim de 1956, quando são contabilizadas em torno de 90 por edição, número
que permanece razoavelmente estável ao longo de todo o período estudado. São
freqüentes os números especiais, geralmente de final de ano, alguns com o preço de
capa mais alto que o normal e uma proporção muito superior de anúncios, chegando a
mais de 25% do conteúdo da revista. Em março de 1954, é lançada uma edição especial
de 104 páginas em comemoração ao primeiro ano de publicação, juntamente com um
especial sobre noivas. De acordo com as informações contidas no sumário, “a escassez
do papel estrangeiro, essencial para uma ótima reprodução, proibiu, lamentavelmente,
um volume ainda maior, com fora planejado antes (n° 07, março, 1954, p. 03). O custo
elevado deste papel, onde poderiam ser impressas as fotografias coloridas, limita a
quantidade de páginas com cores disponíveis para as matérias, que variam em função da
quantidade de anúncios comprados pelos anunciantes.
O preço inicial de capa de CR$ 10,00 passa, em janeiro de 1954, para CR$ 15,00,
permanecendo até junho de 1957, quando a revista passa a custar CR$ 20,00. Em março
27
Flávio trabalhou como assistente editorial da revista por um curto período de tempo em meados dos anos 1960. Foi
realizada uma entrevista com ele em 26/07/06.
28
Com exceção do título e subtítulo da revista.
de 59 o preço de capa volta a subir, passando a CR$ 25,00 e ainda no mesmo ano, em
setembro, para CR$ 30,00. A edição especial de natal de dezembro de 1959, com 120
páginas, é vendida por CR$ 40,00, mas o preço retorna a CR$30,00 em janeiro de 1960,
aumentando para CR$ 35,00 novamente no mês de março. Percebemos um aumento
inicial, antes do primeiro ano de existência da revista, mas o preço se mantém o mesmo
por cerca de três anos e meio, quando começa a subir a cada ano. Em 1959 são
registrados dois aumentos em apenas seis meses, mostrando o início da inflação gerada
pelos problemas econômicos oriundos da política desenvolvimentista de Juscelino
Kubitschek. Além do surgimento da inflação, a alta dos preços do papel, como dito
anteriormente, impossibilitava a manutenção do preço de capa, obrigando aos sucessivos
aumentos.
A evolução da tiragem da revista comprova sua grande aceitação por parte do público.
Da inicial, de 50.000 exemplares em 1953 passou-se a 70.000 em janeiro de 1957 e
85.000 em setembro de 1958, deixando de ser informada na revista em novembro de
1959. A proporção de anúncios por número, ao contrário, mantém-se estável ao longo
das publicações, em torno de 15% do conteúdo da revista, com exceção dos números
especiais, onde a quantidade de anúncios é bastante superior. No segundo número
lançado, o artigo Obrigado! divulga trechos de cartas, que teriam sido recebidas pela
redação, de leitores parabenizando a iniciativa da revista de preencher uma lacuna
existente no mercado editorial da época, onde inexistiam publicações sobre os problemas
oriundos da casa e de sua manutenção. Segundo eles, a revista assumiria o “invejável
posto de ‘revista do lar brasileiro’”, cujas “novas idéias e obras sobre decoração e
arquitetura (...) teriam decisiva influência sobre o aspecto das atuais e futuras residências
brasileiras” (CASA E JARDIM, 1953, n. 02, p. 2).
Os principais artigos encontrados, como já dito, transitavam em torno do tema da
arquitetura residencial unifamiliar e das relações espaciais, por meio de receitas práticas
passíveis de aplicação, elevando a qualidade de vida do leitor e proporcionando conforto,
segurança, facilidades e praticidade. As resenhas, na maioria das vezes, traçavam a
análise de uma residência específica, informando suas características, o arquiteto que a
projetou e sua localização, tecendo comentários acerca das soluções arquitetônicas
empregadas, mantendo a linha descritiva, sem se caracterizar num instrumento de crítica
arquitetônica
29
. Nas primeiras edições não a informação do nome de seu autor, que
começa a aparecer apenas em meados de 1954.
29
No anexo 4 pode ser encontrada a lista dos arquitetos publicados pela revista por ano, com o nome dos respectivos
projetos e o exemplar onde estão localizados.
Como primeira resenha publicada, temos a residência do casal Lina Bo e P. M. Bardi, no
bairro do Morumbi, em São Paulo, escrita em colaboração com a autora do projeto, que
forneceu os detalhes da construção. A casa é caracterizada como um exemplar da
arquitetura moderna, em que um dos princípios norteadores é a integração com a
paisagem e descrita com precisão nos detalhes construtivos e muito bem documentada,
apesar de não apresentar plantas baixas, com desenhos esquemáticos bastante
explicativos e belas fotografias. Este tipo de descrição minuciosa, no entanto, não se
manteve ao longo do tempo, sendo substituído por uma abordagem mais superficial e
menos técnica, com abundância de imagens, principalmente dos interiores, e poucos
desenhos explicativos (fig. 13).
Figura 13 – Tipo de resenha publicada (CASA E JARDIM, n. 07, 1954, p. 16 e 19).
Rachel Sisson, colaboradora da revista no Rio de Janeiro e responsável pela maior parte
das resenhas, em entrevista fornecida, revelou que era dotada de total liberdade para
escolher que assuntos abordaria nos seus artigos, e que gostava de eleger uma
característica particular do imóvel para o título e, assim, desenvolver o texto falando
sobre a casa. Refere-se ao processo como uma “coisa bem descontraída”, onde
contactava os arquitetos, que na maioria eram seus colegas de turma, e visitava as
casas, escrevendo os artigos de maneira acessível ao leitor de classe média, sempre
documentando a partir de desenhos e fotografias. Quando perguntada sobre a influência
da revista House And Garden na elaboração dos artigos, Rachel afirma que conhecia a
revista, mas quase não lia, e não a utilizava como fonte de inspiração, pois uma das
preocupações era tratar de temas adaptáveis às condições locais. “Nesse ponto eu fiz a
coisa totalmente ligada aqui com a situação local e isso tudo, você que é vizinhança
do Rio de Janeiro”.
Quase todas das residências apresentadas eram fruto do trabalho de importantes
arquitetos brasileiros
30
e construídas em linguagem moderna, salvo raríssimas exceções
(fig. 14). As resenhas valorizavam as características e soluções formais e funcionais
inspiradas no movimento moderno da arquitetura, por vezes até reconhecendo o
moderno como o único estilo possível para a construção das casas. Na maioria das
vezes, apresentavam linguagem bastante acessível e grande quantidade de imagens, de
maneira a facilitar o entendimento do espaço. Pouca referência se fazia aos desenhos
técnicos, como plantas ou cortes, valorizando as perspectivas.
Percebemos, juntamente com a abordagem do termo moderno sentido de ideologia na
concepção dos espaços e nas características de funcionalidade e racionalidade, sua
visão como estilo, como norma de composição formal, modelo a ser seguido para se
alcançar um resultado satisfatório. Outros tipos de artigos encontrados também
mantinham o foco sobre os assuntos relacionados à casa e à família, se apresentando,
na revista, ora sob a forma de textos teóricos, ora sob a forma de artigos instrutivos de
caráter mais prático, com receitas que o leitor poderia aplicar às suas atividades diárias,
incluindo desenhos de móveis para construir, orientações para jardins e plantações,
receitas culinárias e trabalhos manuais.
Estavam associados principalmente à arquitetura, decoração e artes e eram, na sua
maioria, bem redigidos e claros, apesar de superficiais, seguindo a linha informativa e
30
Ver lista no anexo 3.
mostrando o objetivo de educar o leitor (fig. 15). Os primeiros mostravam conceitos sobre
como construir ou reformar a casa, como decorá-la, soluções arquitetônicas para o
programa, para a implantação no terreno ou sobre o melhor partido a ser adotado para o
projeto, como combinar as cores ou escolher os tapetes corretos, estendendo-se a como
conseguir flores mais bonitas e indicações de leituras e concertos de música (fig. 16 a
18). Ao longo do tempo, os artigos passam a fazer o lançamento de novos produtos e
tecnologias, discutindo sua funcionalidade (fig. 19 a 21).
Alguns artigos de linha mais prática ou instrutiva, por sua vez, mostravam a aplicação de
alguns dos conceitos contidos nos artigos teóricos, por meio de receitas claras e
objetivas, ilustrados ora com desenhos, ora com fotografias, que ensinavam desde
trabalhos manuais e pequenas idéias para facilitar a organização dos espaços da casa
até desenhos de móveis, com as respectivas dimensões corretas e detalhes construtivos
de arquitetura (fig. 22 a 28).
Figura 14 – Um dos poucos exemplos fora da linguagem moderna
(CASA E JARDIM, n. 01, 1953).
Figura 15 – Artigo teórico sobre móveis
(CASA E JARDIM, n. 04, 1953).
Figura 16 e 17 – Como localizar a casa em terreno estreito e artigo sobre arte moderna
(CASA E JARDIM, n. 02,1953, p. 7 e n. 13, 1955, p. 8).
Figura 18 – A cozinha do futuro (CASA E JARDIM, n. 44, julho, 1958, p. 22).
Figura 19 e 20 – Novidades tecnológicas
(CASA E JARDIM, n. 62, 1960, p. 30 e no 63, 1960, p. 122).
Figura 21 – Artigo informando que a Forma S.A. poderá produzir no Brasil os móveis assinados
pelos arquitetos modernos (CASA E JARDIM, n. 59, 1959, p. 60).
Figura 22 – Como fazer um forro solto (CASA E JARDIM, n. 10, 1954).
Figura 23 – Receita culinária (CASA E JARDIM, n. 7, 1954).
Figura 24 – Arranjo japonês, o ikebana
(CASA E JARDIM, n. 13, 1955).
Figura 25 e 26 – Artigos que ensinam a ter uma vida mais prática
(CASA E JARDIM, n. 49, 1959).
Figura 27 – Dimensões corretas para móveis
(CASA E JARDIM, n. 40, 1958).
Figura 28 – Esquema mostrando detalhe construtivo
(CASA E JARDIM, n. 33, março, 1957).
Encontramos, ainda, artigos definidos como de utilidade pública, uma pequena série
publicada nos números iniciais da revista e já citados anteriormente, assinados por
autoridades em segurança
31
, novamente atrelado ao discurso do progresso por meio da
educação e sustentado pelas palavras dos especialistas, mostram ao leitor como cuidar
da segurança e da limpeza do seu lar e prevenir acidentes. Também tornam-se bastante
comuns os artigos sobre comportamento a partir de 1955. Eles aconselham o leitor,
abordando temas familiares, como as relações entre marido e mulher e pais e filhos ou a
integração com os vizinhos (fig. 29), além de outros temas, mais gerais, como o controle
do peso (fig. 30), ou mais específicos sobre arquitetura, como a filosofia moderna de um
espaço funcional e esteticamente limpo ou quando parece ser o melhor momento para se
chamar um arquiteto ou decorador, registrando o incentivo à reflexão sobre a arquitetura
incorporado ao discurso da revista, mesmo neste tipo de artigo (fig. 31).
Figura 29 – As mulheres e os problemas econômicos, abordagem familiar
(Casa e Jardim, n. 17, setembro, 1955).
31
São eles: SILVA, Oswaldo. A Porteção do Lar. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro, n.02, Maio-junho, 1953;
SILVA, Geraldo Theodoro (Capitão do Corpo de Bombeiros). Proteja sua casa contra incêndios. Idem, n.03, Julho - agosto,
1953; GARCIA, Heitor A. Eiras. A Higiene do Ambiente. idem, n.4, Setembro - outubro, 1953; ALTIERI, Alvaro. Caso os
Pais Entreguem o Carro aos Filhos. idem, n.05, novembro-dezembro, 1953.
Figura 30 – As mulheres e seu peso, abordagem feminina
(CASA E JARDIM, n. 33, 1957 p. 70).
Figura 31 – A filosofia de acumular.
(CASA E JARDIM, n. 23, 1956, p. 32-33).
Podemos afirmar, neste ponto, a importância da revista para sua época, ao abordar a
arquitetura como um assunto de interesse também do público não especializado,
utilizando uma linguagem simples e compreensível, alguma coisa que o leigo pudesse
não se sentir afastado (...), artigos legíveis, (...) acessíveis para o leitor de classe média,
que tem sua casa”. Segundo Rachel Sisson
32
, que trabalhou como colaboradora
permanente da revista entre 1954 e 1959, os artigos tentavam manter um nível que fosse
compreensível ao leitor e compatível com ele, sem grandes pretensões intelectuais e,
antes de mais nada, fornecendo exemplos práticos, passíveis de serem aplicados.
Graças a esse caráter inédito, pelo menos nos seus primeiros anos de existência, e
popular uma vez que abordou temas que despertaram o interesse de grande quantidade
pessoas, a revista pôde se desenvolver, atingindo um bom público e conseguindo, assim,
manter-se no mercado. Sua linguagem direta e simples e seu discurso leve e ao mesmo
tempo educativo puderam ser amplamente aceitos, saciando a necessidade de
informação destas classes que, à medida que aumentavam seu poder aquisitivo, podiam
investir na informação.
Segundo o fotógrafo Flávio Damm, atuante na redação da revista no início da década de
1960
33
, ela não participava da criação e produção dos anúncios, que vinham prontos
das agências, com forte inspiração dos modelos americanos, como veremos a seguir.
Desta maneira, faremos uma leitura de como estes anúncios se apresentaram e suas
proporções na revista e, em seguida, serão selecionados alguns exemplos em que o
conceito de moderno é valorizado, verificando seu sentido e características.
O primeiro exemplar da publicação sai às bancas com uma quantidade razoável de
anúncios, totalizando seis páginas (sem contar as contracapas, sempre em cores e com
anúncios), cerca de 8,5% do total e doze anunciantes, caindo para apenas duas páginas
no segundo número. A partir da terceira edição, o número de páginas anunciadas
começa crescer, atingindo o ápice no especial de fim de ano de 120 páginas (novembro e
dezembro de 1953), onde 28 delas são anúncios, mais de 20% do total. Registramos
uma boa quantidade de anunciantes ao longo de 1954, chegando a 25% da revista no
final do ano, voltando a cair e estabilizando-se em torno dos 20% nos anos de 1955 e
1956. A partir do início de 1957, até o final do período estudado, a revista mantém um
número fixo em torno de quinze páginas de anúncios, variando entre 80 e 100 páginas
por edição.
32
Rachel assinava os artigos como Rachel Prochnik quando casada com o arquiteto Wit Olaf Prochnik. Foi realizada uma
entrevista com ela no dia 13 de julho de 2006.
33
Ver o item seguinte, referente aos colaboradores da revista.
São mais comumente encontrados anúncios de página inteira e meia página vertical ou
horizontal, além dos pequenos, de cerca de 1/4 ou 1/6 do tamanho da página,
encontrados na parte final da revista. Podemos perceber uma certa hierarquia na posição
dos anúncios na revista: não existem anúncios no início da revista, os de página inteira
localizam-se nas contracapas, coloridas, e os menores nas páginas do final da revista,
dividindo espaço com as continuações dos artigos e geralmente em preto e branco (fig.
32 e 33).
Nos primeiros números predominam anúncios de gêneros alimentícios, acessórios de
cozinha, eletrodomésticos e alguns materiais de acabamento, como tapetes, tintas, além
de móveis, que se mostram simples e geralmente em preto e branco, com pequenos
desenhos ou fotografias (fig. 34). Ao longo do tempo, vão se enriquecendo graficamente
e novos anunciantes são incorporados, como cigarros e automóveis, e predominam os
anúncios sobre móveis e opções para revestimentos. Notamos que novas empresas
anunciantes começam a procurar a revista e diversifica-se a oferta de produtos à medida
que ela ganha público e que o poder aquisitivo dos leitores aumenta.
Figura 32 – Anúncio de página inteira
(CASA E JARDIM, n. 15, 1955).
Figura 33 – Anúncios de ½ e ¼ de página
(CASA E JARDIM, n. 01, 1953, p. 70 e 71).
Figura 34 – Anúncio de caráter mais simples
(CASA E JARDIM, n. 01, 1953).
Analisando anúncios americanos
34
, percebemos grandes semelhanças, tanto na forma
como no conteúdo, possibilitando a identificação de tipos comuns que se repetem. Os
anúncios de página inteira, onde predomina uma imagem principal ocupando metade da
página e textos e desenhos sobre o produto no restante dela, aparecem muito
freqüentemente, utilizando cores e podem ser também encontrados em grande
quantidade nas revistas americanas (fig. 35). Outro tipo bastante utilizado é a coluna de
meia página, com um desenho central, de preferência do produto, e em torno dele outras
pequenas imagens associadas a textos aplicados em elementos gráficos (fig. 36 e 37).
Este tipo de anúncio compões um tipo de diagramação bastante característica do
período, com o artigo ocupando as meias páginas centrais e os anúncios ocupando as
das extremidades (fig. 38).
É interessante registrarmos, ainda, que inúmeros anunciantes usavam na revista a idéia
do moderno para vender seus produtos, atribuindo-lhes diferentes qualidades. Os
primeiros exemplos de produtos que encontramos, já no exemplar de estréia da revista,
associam-se à tecnologia e ao progresso, que gera conforto e facilita a vida diária e
englobam tudo o que pode ter associação ao lar e ao ambiente familiar, levando-se em
conta o público alvo, adultos de classe média e ambos os sexos (fig. 39).
Figura 35 – Anúncios de página inteira
(CASA E JARDIM, n. 15, 1955; n. 01 e 03, 1953).
34
Levantados no livro All-American Ads 50’s, organizado por Jim Heimann, TASCHEN, 2002.
Figura 36 – Colunas de meia página
(CASA E JARDIM, n. 01 e 03, 1953).
Figura 37 – Anúncios americanos, mostrando a mesma estrutura gráfica dos nacionais. Mesmo
variando completamente o tema, temos um resultado bastante semelhante
(HEINEMANN, 2002, p. 99 e 419)
Figura 38 – Tipo de diagramação comum à época, com anúncios nas
extremidades e texto central (CASA E JARDIM, n. 4, 1953).
Figura 39 – O moderno como tecnologia, facilidade.
(CASA E JARDIM, n. 01, 1953, p. 09 e 60).
Nas propagandas de móveis, bastante freqüentes ao longo de toda a revista, o termo
moderno aparece associado ao estilo, e está basicamente coligado ao tipo de design
utilizado e, obviamente, ao bom gosto, à funcionalidade, ao conforto e à qualidade
estética dos objetos (fig. 40 e 41).
Figura 40 – Móveis modernos patenteados.
(CASA E JARDIM, n. 01, 1953, p. 71)
Figura 41 – O moderno como conforto e bom gosto.
(CASA E JARDIM, n. 03, 1953, p. 09).
Ainda fazendo referência ao estilo, podemos encontrar o conceito de moderno como
representante da novidade, do atual e oposto ao clássico (passado), mostrando a grande
variedade de opções disponíveis pelo fabricante, capaz de atender aos mais diversos
níveis de exigência (fig. 42).
Figura 42 – O moderno e o clássico na decoração.
(CASA E JARDIM, n. 12, 1955, p. 70).
Em relação à arquitetura, percebemos este mesmo conceito tentando vender
principalmente a praticidade e as novas tecnologias, conseguidas através da
industrialização e chegando aos interiores de maneira que estes pudessem acompanhar
a evolução da arquitetura moderna, na maioria das vezes importando soluções e
tecnologias, principalmente dos Estados Unidos (fig. 43). Para tornar concretas as novas
formas sugeridas por esta nova arquitetura, fica a indústria responsável por viabilizar
essas construções através dos novos materiais que começam a ser criados segundo as
necessidades dos novos projetos (fig. 44). A importância das artes e seu diálogo com a
arquitetura também constitui uma importante característica deste moderno veiculado na
revista e incentiva o consumo de obras de arte modernas e industrializadas (logo
acessíveis), que complementem e valorizem a arquitetura das casas. Os desenhos
modernos dos azulejos, por exemplo, feitos por artistas famosos, servem para valorizar a
arquitetura, dando uma nota de arte e beleza às construções, seja no seu interior ou no
seu exterior (fig. 45).
Figura 43 – A ultramoderna pia americana para cozinha agora fabricada no Brasil
(CASA E JARDIM, n. 21, 1956, p. 59).
Figura 44 – Os materiais acompanhando a evolução da arquitetura moderna.
(CASA E JARDIM, n. 43, 1958, p. 17).
Figura 45 – O moderno como união entre arquitetura e artes.
(CASA E JARDIM, n. 54, 1959, p. 23).
Curiosamente, também a revista associará o conceito de moderno a determinados tipos
de qualidades bastante distintas e nem sempre tão intimamente ligadas à arquitetura ou
às artes, como a higiene por meio do produto descartável (fig. 46), a tecnologia que
pretende enviar peixes vivos pelo correio (fig. 47) ou mesmo flores modernas (fig. 48),
tudo isso participando de um mesmo espírito de consumo de objetos e produtos
comprometidos com o futuro, capazes de transformar funcionalmente, facilitando a vida
das pessoas.
Vender o moderno para esses anúncios, era o mesmo que vender um estilo arquitetônico
e artístico livre de referências anteriores, atual para a época, condizente com a sociedade
industrial e urbana, associado a um conjunto de tecnologias, um determinado padrão
estético em sintonia com um ideal de praticidade e funcionalidade, passando também por
uma valorização da nacionalidade, além das facilidades de acesso a esses produtos a
preços cada vez mais acessíveis em função do desenvolvimento da indústria.
Figura 46 – O moderno é higiênico.
(CASA E JARDIM, n. 12, 1955, p. 05).
Figura 47 – Métodos modernos para o envio de peixes.
(CASA E JARDIM, n. 13, 1955, p. 67).
Figura 48 – Flores naturais modernas.
(CASA E JARDIM, n. 32, 1957, p. 63).
1.3. Principais Colaboradores
Para Nelson Werneck Sodré (1999, p. 1), “o controle dos meios de difusão de idéias e
informações é uma luta em que aparecem organizações e pessoas da mais diversa
situação social, cultural e política, correspondendo a diferenças de interesses e
aspirações”. No caso da revista, os responsáveis por sua publicação pretendiam fazer
com que o ideário moderno fosse transmitido às classes médias da população, servindo
como modelo e instrumento para a sua incorporação à vida destes leitores.
Os primeiros nomes a aparecerem na revista, ainda no número de estréia, são os de
Carlos Oscar Reichenbach como diretor-presidente, Fernando Chinaglia (diretor vice-
presidente), Curt Werner Reichenbach (diretor comercial), Théo Gygas (superintendente),
Arnaldo Pedroso d’ Horta (redator chefe), Francisco Donato (redator gerente) e Ilona
Colos e Maria Kloss (redatoras secretárias). No segundo exemplar publicado, no entanto,
somente alguns destes nomes permanecem: Reichenbach continua como diretor-
presidente, mas Théo Gygas passa a editor, mantendo-se apenas as redatoras
secretárias e Francisco Donato como redator-chefe. O corpo editorial varia muito ao
longo do tempo, tanto na estrutura como nos componentes, mas sempre mantendo os
nomes do editor e do presidente
35
, considerados como os principais responsáveis pela
criação da revista e sua manutenção ao longo do período em estudo. Carlos
Reichenbach, o presidente e idealizador da revista, nasceu em 1907, filho do mestre de
artes gráficas Gustav Reichenbach, que fundou Companhia Lithographica Ypiranga
(responsável por grande número de publicações). Assumiu presidência da mesma em
1941, fundando a Revista Casa e Jardim em 1953 (fig. 49).
Os primeiros artigos, principalmente nos números iniciais, raramente apresentam os
nomes dos autores, sendo atribuídos ao corpo editorial da revista, composto por Arnaldo
Pedroso d’Horta
36
, Francisco Donato, Maria Kloss e Ilona Colos. No primeiro sumário
aparece a coluna Colaboraram neste Número, que lista os principais colaboradores e
permanece presente ao longo de todo o período estudado
37
. Ainda no número de estréia,
logo na página 5, é feita a apresentação de alguns profissionais responsáveis por artigos
da revista, falando sobre sua contribuição e com fotos, dentre os quais podemos destacar
(APRESENTAMOS, 1953, p. 05):
35
A morte de Carlos Reichenbach, ocorrida em 13 de junho de 1960, é anunciada com grande pesar no número 66, de
julho, onde seus colaboradores se comprometem a continuar a obra iniciada por ele.
36
Nascido em 1914, se destacou como crítico de arte e jornalista, sendo também artista plástico. Trabalhou como redator
chefe da revista apenas no primeiro número, sendo substituído por Francisco Donato.
37
A transcrição da lista completa dos colaboradores ao longo do período estudado encontra-se no anexo 5.
LINA BO BARDI, arquiteta e decoradora, esposa do sr. P. M. Bardi, diretor
do Museu de Arte de São Paulo, que ideou e construiu a residência do casal,
no alto do Morumbi. Uma explicação detalhada do projeto, acompanhada de
fotos a cores e em preto e branco, do exterior e dos aposentos dessa
moradia, encontram-se na reportagem intitulada “Entre o céu e a vegetação
surge a casa de dois artistas”;
RAY H. HOOKNEY, mundialmente conhecido como perito em cores, enviou-
nos de Cleveland, U.S.A. , o artigo “Novas aventuras em cores”, com
exclusividade para “Casa e Jardim”. É um estudo didático e consciencioso
dos problemas em que implica a decoração de interiores, no que se refere às
combinações de cores. A pessoa mais leiga no assunto ganhará úteis
conhecimentos acompanhando Ray H. Hookney através dessas novas
aventuras colorísticas;
O arquiteto ALFREDO ERNESTO BECKER, com seus valiosos conselhos
sobre a nossa arquitetura contemporânea, contribuiu notavelmente para
prestigiar este número;
HENRIQUE ALEXANDRE, arquiteto, de quem damos duas expressivas
realizações O lar de um celibatário” e “Casa de europeus que se
radicaram no Brasil”. Dois problemas arquitetônicos bastante diversos entre
si, mas encarados e resolvidos com igual espírito de compreensão e de
acatamento às necessidades dos moradores;
MARGARIDA ERNST, a renomada artista cuja habilidade não precisa de ser
destacada pelas nossas modestas palavras, executou propositalmente para
Casa e Jardim uma gravura, anexa ao presente número e gratuitamente
oferecida aos leitores.
Este tipo de apresentação (fig. 50), no entanto, não se repete nos números posteriores,
onde encontramos apenas a lista de colaboradores. Desta listagem, que se encontra no
anexo 5
38
, podemos destacar alguns nomes mais freqüentes, tais como:
Arquitetura e decoração: Henrique Alexandre; Rachel E. Prochnik; Liba Frydman;
Olga Meraviglia; Vilma Crivelli; Carlos V. Cerchiari; Alexander Franca; Huberto
Campobelo; Regina Zonta; Gregorian; Dorca; G. Luckmann; Carlos Gamba Franca;
Silvia Reis; (pseudônimo de Rachel E. Prochnik); Yvonne Jean; José Chasin
38
Foram levantados e reunidos no anexo cerca de 400 nomes de colaboradores que trabalharam na revista no período em
estudo.
Arquitetura e paisagismo: Roberto Coelho Cardoso
Artes e decoração: Lucia Cintra; Ivy Cox Villela; Fernando Medeiros
Consultoria sobre Direito (seção “o Advogado da Família”): Mary Apocalipse.
Cores: Ray H. Hookway
Decoração: José Scapinelli; Aurélio Hedwig
Discos: Pery Campos
Ikebana:Profª Koou Fujiwara; Kimi Fugimoto
Livros e literatura: Sérgio Milliet; Iside M. Bonini;
Música: Nagib Elchmer; R. Valentini
Televisão: R. P. L.
Localizamos e entrevistamos a arquiteta Rachel Sisson, que trabalhou como
colaboradora da revista entre os anos de 1954 e 1959, assinando os artigos como Rachel
E. Prochnik
39
(fig. 51). Ela foi, no início da revista, a principal correspondente no Rio de
Janeiro e, apesar não ter nenhuma formação em jornalismo, começou a escrever os
principais artigos publicados sobre casas na revista quando ainda estava no último
período da faculdade de arquitetura. O convite para o trabalho foi feito pelo próprio editor,
Théo Gygas, a quem fora apresentada por um amigo, praticamente a única pessoa com
quem manteve contato e para quem enviava os artigos que escrevia e as imagens com
as respectivas legendas.
O depoimento de Rachel serviu para confirmar o caráter educativo da revista e sua
preocupação em se utilizar uma linguagem acessível ao tipo de leitor que pretendia
alcançar, um público sem o mesmo interesse específico dos profissionais ligados à
arquitetura, mas necessitado de informações úteis e práticas. Segundo ela, o texto não
possuía nenhuma pretensão técnica ou inovadora, “o importante é ficar que era uma
abordagem racional, que dizer, não houve assim uma intelectualização, porque não cabia
no objetivo da revista. Era um atendimento ao leitor, quase uma coisa prática”. Sua
colaboração foi muito útil, no que se refere à compreensão do momento e na
aproximação com o objeto em estudo e seus objetivos. Admitiu, ainda, utilizar alguns
pseudônimos, como Silvia Reis ou Ester Wit, estratégia comum na época para que,
segundo ela, um mesmo nome não fosse publicado como autor de muitos artigos numa
mesma edição. É graças a este caráter educativo que poderemos perceber como a
revista difundiu os cânones da arquitetura moderna, que passam a ser cada vez mais
aceitos e utilizados nas construções residenciais de caráter mais modesto.
39
Na época, era casada com o arquiteto Wit-Olaf Prochnik, também colaborador freqüente da revista.
A questão do uso de pseudônimos na imprensa, fator que impediu, no caso da pesquisa,
a localização de possíveis colaboradores, é abordada no estudo de Aparecida Maria
Nunes, que analisa a contribuição de Clarisse Lispector às revistas femininas nas
décadas de 1950 e 1960. Segundo ela, ocorria na época um fenômeno inverso ao dos
dias de hoje, quando a questão da autoria é profundamente valorizada, em que duas
visões se confrontavam. Assim com era interessante “para o veículo de comunicação
contar com o nome de um escritor conceituado, (...) por outro lado, principalmente na
época, o trabalho na imprensa não era visto com bons olhos. Quando o escritor optava
por esse veículo, geralmente era movido por razão de ordem financeira” (NUNES, 2006,
p. 113). Desta forma, muitos autores evitavam que seu nome fosse associado a
publicações de menor porte, quando permitido por elas, através do uso de pseudônimos.
No caso da revista, era interessante para os arquitetos que seus projetos fossem
publicados, como forma de valorização do seu trabalho e de conquista de novos clientes,
e alguns se disponibilizavam inclusive a desenvolver estudos e projetos especialmente
para os leitores, que enviavam cartas pedindo sugestões para seus problemas de
habitação. Embora na maioria das vezes o texto fosse redigido por um outro autor que
não o arquiteto, são freqüentes as entrevistas e depoimentos de alguns arquitetos e
paisagistas, que não temem em se expor, compreendendo sua missão de educadores
das classes médias e esclarecendo dúvidas sobre arquitetura, urbanismo e planejamento
de jardins ou interiores. Notamos também uma forte colaboração de arquitetos
estrangeiros que chegaram ao país após a Segunda Guerra Mundial, concentrando-se
principalmente em São Paulo, onde as possibilidades de crescimento de novos mercados
eram maiores. “O Brasil também acolheu inúmeros refugiados ilustres, incluindo
literatos, artistas plásticos e arquitetos. A enorme repercussão do ‘Brazil Builds’ durante o
período de guerra foi decisiva para a opção que alguns desses imigrantes sem rumo
tomaram” (SEGAWA, 2002, p. 134).
Seguindo a indicação de Rachel, localizamos o fotógrafo Flávio Damm
40
, que também
trabalhou na revista, mas não apenas fotografando. Flávio, segundo a entrevista
concedida por ele, trabalhava no final dos anos 1950 como fotógrafo para a revista O
Cruzeiro, quando foi convidado por Zygmunt Damm, diretor da revista, a ajudar na sua
reformulação, em substituição a Helio Fernandes. Comprometeu-se, então, a passar uma
semana por mês em São Paulo onde se reuniria com Zygmunt Damm e Théo Gygas para
criarem a revista, escolhendo as matérias e assuntos a serem abordados, consultando
números anteriores para evitar repetições. Na grande maioria das vezes ele mesmo
40
A entrevista, de onde foram retiradas as citações incluídas no texto, ocorreu no dia 26 de julho de 2006.
também fazia as fotos, porque era mais fácil e mais prático, apesar de não ser contratado
como fotógrafo e sim secretário de redação. Na revista, seu nome aparece como
assistente editorial, mas apenas a partir de agosto de 1960, não se apresentando mais
dentro do recorte temporal que define o estudo.
As informações recolhidas servem, no entanto, para ajudar na caracterização do período
e de base para o entendimento do processo pelo qual a revista era produzida. Flávio
colaborou com o Dr. Zygmunt Damm na introdução de algumas modificações, como a
mudança no formato para acompanhar as outras publicações existentes, mostrando uma
tentativa de padronização para gerar menores custos. Fala que a maior preocupação, na
reformulação, era usar a criatividade para evitar a repetição de assuntos, continuando a
produzir textos que fossem pertinentes ao público-alvo da revista. A sua função era
apenas elaborar os assuntos que seriam abordados e solicitar as matérias aos
colaboradores sendo responsável por fazer chegar à revista as colaborações de Clarice
Lispector, Fernando Sabino e Gilda Muller que, como ele, também moravam no Rio
de Janeiro.
Théo Gygas, o editor da revista, se apresentava para Flavio Damm como um europeu
muito conservador que se mostrou bem inseguro com as modificações introduzidas”,
mostrando certa dificuldade em aceitar algumas novidades. O mais importante para
Gygas era que a revista tivesse bons anunciantes, que eram conseguidos através de
uma boa tiragem e da venda de assinaturas. “A tiragem era informada pelo IVC (Índice de
Verificação de Circulação), que definia quantos exemplares eram efetivamente impressos
e as assinaturas eram uma garantia de que determinado número de revistas estava
vendido”. Devido a certas diferenças de ponto de vista, Flavio conta que permaneceu na
revista por pouco tempo, cerca de um ano e meio, quando abandonou suas atividades de
assistente de redação para se dedicar a outros projetos, voltados para a fotografia.
Após estas considerações, e verificando os colaboradores que puderam ser localizados,
apesar da impossibilidade de se definir quais as suas origens e os objetivos reais
pretendidos com a publicação, percebemos, nos depoimentos tomados e artigos
pesquisados, a clara pretensão em se prestar um serviço aos leitores, desta maneira
absorvendo uma demanda crescente por informações. Como negócio, pode-se dizer que
a revista alcançou um patamar estável no mercado editorial, fato que pode ser
demonstrado por sua extensa duração e pela grande quantidade de anunciantes que
manteve ao longo dos anos.
.
Figura 49 – Carlos Oscar Reichenbach
(Casa e Jardim, n. 01, 1953, p. 06).
Figura 50 – Apresentação dos primeiros colaboradores.
(Casa e Jardim, n.01, 1953, p.05).
Figura 51 – Rachel Sisson quando colaborava com a revista
(Casa e Jardim, n.10, 1954, p.07).
2. O moderno na revista
Foram estudadas primeiramente as capas, imagem que melhor representa a revista e o
ponto mais forte de contato com o leitor, a partir de cerca de 30 exemplares selecionados
e agrupados conforme o assunto abordado e as características comuns encontradas.
Pretende-se mostrar que elas, assim como próprios artigos da revista, afirmam a
importância do ideário moderno e o divulgam, na tentativa de fazê-lo chegar às classes
médias urbanas, que devido ao crescimento econômico e à sensação de prosperidade,
começam a participar mais intensamente do mercado consumidor de produtos tornando-
se então um ótimo investimento para a publicidade.
2.1. Análise da imagem: as capas
Consideramos a capa como o primeiro contato do público com a revista, tendo, portanto,
a função de estabelecer com ele uma identidade visual que lhe desperte o interesse, de
acordo com o conteúdo que pretende apresentar ao leitor. Ela é o chamariz da
publicação, permanecendo freqüentemente exposta nas bancas de jornal e, assim,
funcionando como verdadeira propaganda (fig. 52). Desta maneira, podemos associar
suas características às do cartaz publicitário ou comercial, onde também estão incluídos
os anúncios de página inteira publicados em revistas e periódicos. Segundo Abraham
Moles
41
(1974), “o cartaz comercial se revela de início pela sua força de atração. A cor
desempenha um papel essencial, mas não exclusivo. A atração se baseia na
simplicidade de uma mensagem de traços nitidamente recortados, unindo um apelo de
marca, uma evocação e uma figuração” (MOLES, 1974, p.29). Percebemos que, no caso
das capas, o processo é o mesmo, sendo a única diferença a de que ela participa do
produto, e seu objetivo é também, na verdade, vender-se.
Como a maioria das capas da época, as da revista Casa e Jardim são compostas
basicamente por fotografias, geralmente retiradas de reportagens do seu interior ou
relacionadas ao seu assunto principal, a casa. Nos primeiros números, aparecem apenas
um desenho ou fotografia e o título
42
, mostrando o predomínio da imagem icônica
43
sobre
41
Realizou, em seu livro O cartaz, de 1969, uma análise do papel do cartaz na sociedade contemporânea, abordando
aspectos sociológicos, psicológicos e estéticos, além da sua importância econômica.
42
Não ainda definição de um logotipo fixo para a revista, que aparece apenas a partir do seu segundo ano de
existência.
a lingüística. A inserção de chamadas destacando as matérias publicadas começa a ser
registrada, a partir de 1956, quando revista passa por uma reformulação que insere um
novo padrão de diagramação continuado até o fim de 1957.
“Um cartaz moderno será, pois, uma imagem em geral colorida contendo normalmente
um único tema e acompanhando de um texto condutor, que raramente ultrapassa dez ou
vinte palavras, portador de um único argumento. É feito para ser exposto à visão do
transeunte” (MOLES, 1974, p. 44). Podemos estender esta definição estabelecida para o
cartaz às capas, esperando que uma melhor compreensão facilite sua análise. “É por
intermédio dessas mensagens, alicerçadas nos impulsos fundamentais do indivíduo,
gulodice, honra do lar, erotismo, que a civilização do cartaz constrói uma cultura visual
sobre os muros da cidade” (idem, p 29) e, da mesma maneira, a revista consegue se
vender ao leitor pela promessa de levar até ele um modo de vida ou receita de
comportamento que transforme sua vida para melhor.
2.1.1. Os primeiros exemplares
As capas dos primeiros números, de 1953, apresentam uma qualidade visivelmente
superior a das posteriores e diferentemente delas não representam obrigatoriamente um
artigo contido na revista (a matéria de capa, como ocorre com as revistas de interesse
geral), mas uma imagem relacionada a alguns dos assuntos tratados, como arquitetura,
decoração ou culinária. Por sua função, a capa deverá instigar o leitor sobre alguns dos
aspectos dos assuntos encontrados em seu interior. A o ano de 1959, é
complementada por uma legenda, que aparece no interior da revista, no sumário, e faz
considerações sobre a imagem e seu significado
44
. Este tipo de procedimento deixa clara
a intenção de informar o leitor, colocando-o em contato com imagens que seriam
posteriormente explicadas e associadas a diferentes questões dentro do discurso
apresentado, freqüentemente relacionadas ao espírito moderno. Mesmo não fazendo
parte da capa, as legendas compõem um tipo de mensagem lingüística que define e
direciona o sentido que se pretende dar àquela imagem e, por este motivo, também serão
levadas em consideração na análise, pois interferem diretamente na leitura que o
espectador faz do que lhe é apresentado, como ocorre com os pequenos textos dos
cartazes publicitários.
43
Martine Joly, 2005, p. 74-89, enumera diferentes tipos de mensagem que interagem entre si, compondo a mensagem
visual: a plástica (signos que compõem a imagem, como cores, formas, composição e textura), a icônica (signos figurativos
ou icônicos, ou seja, que mantém com o objeto uma relação de analogia: a própria fotografia) a lingüística (os textos
explicativos e o próprio título, incluindo a tipografia utilizada). Para ela, o entendimento do sentido global da mensagem
visual seria conseguido através da interação destes diferentes signos, por meio de associações culturais realizadas pelo
espectador.
44
A legenda deixa de ser constante em 1959, aparecendo esporadicamente em algumas edições até 1960.
Na análise das capas dos primeiros exemplares publicados, os números de 1 a 4,
verificamos que elas alternam todos os assuntos constantes do subtítulo da revista
45
:
casas com jardim, uma bebida e móveis compondo um interior (ver fig. 54 e 55). A
primeira capa (fig. 54A) mostra uma casa de características modernas ao fundo e, em
primeiro plano, algumas roseiras em flor. A residência, localizada na avenida Indianápolis
em São Paulo segundo projeto do arquiteto Alfredo Ernesto Becker, é desprovida de
ornamentos e transmite uma linguagem moderna, remetendo às suas primeiras
manifestações na década de 20, como uma espécie de “clássico modernizado”, com
estrutura pesada, o volume da varanda se destacando em curva e pequenas aberturas
pouco arrojados, apresentando simplicidade de formas e ausência de ornamentos. Sobre
as roseiras, a legenda diz tratar-se de “rosas ‘Independence’ em U.S.A., a mais original
novidade do criador da conhecidíssima rosa ‘Crimson Glory’, que conquistou medalhas
de ouro em Londres e Genebra, e também em nosso país iniciou marcha triunfal” (CASA
E JARDIM, n.01, 1953 p.01). Trata-se, evidentemente, de uma montagem de duas fotos
diferentes, a casa em São Paulo e a roseira americana, o que pode ser percebido pelo
ângulo e foco entre outros detalhes, assim como a revista realiza uma montagem de
diversos assuntos em seus conteúdos.
O fato de serem rosas diante de uma arquitetura de características modernas é
significante no contexto da revista, principalmente por se tratar de um momento de
ascensão do paisagismo moderno. Justamente por estar relacionada à casa e à família a
partir da ótica moderna, a revista aparece como importante meio de divulgação deste tipo
de paisagismo que, após se consolidar nas residências das classes abastadas através da
intervenção dos profissionais (arquitetos e paisagistas), começa a se espalhar para o
restante da população, principalmente as classes médias, sem condição de contratar um
profissional. Segundo Silvio Soares Macedo, “a expansão e a diversificação dos meios de
comunicação, o grande número de revistas ilustradas algumas das quais voltadas para
a divulgação exclusiva da arquitetura e da decoração, e indiretamente do jardim fazem
com que as novas idéias difundam-se rapidamente por todos os segmentos da
população” (MACEDO, 1999, p. 64). Mesmo com a crescente valorização cultural das
espécies nativas, característica do paisagismo moderno, temos a presença, no número
de estréia da revista, dos “tradicionais roseirais, tão queridos das donas de casa”, embora
estes comecem, gradativamente, a diminuir “significativamente sua presença no novo
jardim, havendo restrição ao seu uso, que o considerados ‘fora de moda’” (idem, p.
63). Tal fato indica o forte empenho por parte da revista na conquista de um público mais
diversificado e demonstra certa flexibilidade em seu discurso, visando a despertar a
45
Decorações – Móveis – Arquitetura – Jardim – Culinária.
atenção do maior número possível de leitores. As flores são utilizadas como um meio de
atração do público feminino, também fazendo uma ponte entre um elemento mais
tradicional, as rosas, e outro mais moderno, a arquitetura. A legenda, por sua vez, ao
informar sobre a procedência das rosas e seu criador, inicia o leitor num assunto
extremamente elitizado, como concursos internacionais de flores. Não há, no entanto,
qualquer classificação para o estilo da casa, sendo apenas citado o nome do arquiteto
responsável pelo projeto
46
.
Consideramos que a imagem é usada para mostrar e definir um estilo de vida, uma
maneira de morar que todos gostariam de possuir e que interessa à classe média,
levando-a a buscar cada vez mais informações sobre a vida das classes mais abastadas,
fato comprovado pelo grande número de leitores da revista. Este modo de vida
sofisticado, mas ao mesmo tempo prático, funcional e higiênico, conforme se verá
adiante, aparece associado ao gosto pela arquitetura moderna, presente em
praticamente todas as capas. A segunda (fig. 54B), seguindo a mesma lógica compositiva
da precedente, apresenta em primeiro plano “a famosa bebida denominada ‘Kalte Ente’”
(Casa e Jardim, n.02, p.01), que, embora semelhante a um chá gelado, é composta
basicamente por vinho branco, tinto e champagne e, ao fundo, desta vez sendo
perceptível a montagem das duas fotografias, uma casa de linhas modernas. A
residência se localiza, segundo o artigo no interior da revista, “num dos bairros
residenciais mais agradáveis de S. Paulo” e é um projeto do arquiteto Zeno Wolanski,
que se desenvolve no centro de um terreno ajardinado. A planta em U e o uso de vidro
nos vãos de todos os cômodos da residência permitem sua total integração com o jardim.
Apesar das linhas modernas, com o jogo de planos das lajes onde se observa um
discreto beiral em telhas, as esquadrias e a parede de tijolos aparentes, possui outra
tipologia, também ainda não corbusiana, que pode ser relacionada ao tipo de residência
veiculado em catálogos de projetos de arquitetura importados, geralmente dos Estados
Unidos, que freqüentemente serviam como modelo para alguns arquitetos brasileiros.
Inúmeras publicações americanas como Architectural Record, Pencil Points, Architectural
Forum, Progressive Architecture e Arts & Architecture, esta responsáel pela publicação
do Case Study Houses Program, idealizado pelo editor John Enteza, circularam o mundo
levando uma ideologia modernizadora, analisando e divulgando obras de vanguarda
46
De acordo com SEGAWA (2002, p. 73), Alfred Ernesto Becker foi um arquiteto atuante em São Paulo e consultor
da revista Acrópole. Defendia uma arquitetura monumental, derivada das linhas geometrizadas do anos 1930, “que
tomava emprestadas soluções compositivas de grandes massas do ensinamento Beaux-arts”. Para Becker, estes
projetos, que podiam ser classificados como um moderno inspirado nos arquétipos ‘clássicos’”, eram considerados
como obras-primas [...} podendo mesmo servir de pontos de partida para a sedimentação definitiva da arquitetura
contemporânea” (idem, p. 74).
arquitetônica (fig. 53). O programa Case Study Hoouses objetivava o desenvolvimento de
uma arquitetura residencial moderna para uma democrática América, que representasse
o modo de vida baseado na indústria, no consumo, enfim, na modernidade, e, segundo
Carlos Eduardo Comas, possibilitou a observação de uma certa identidade entre as
experiências desenvolvidas por arquitetos brasileiros e a arquitetura californiana do pós-
guerra. Para ele, “a qualidade das Case Study Houses mostra o que pode ocorrer quando
certa idéia de casa se torna o tipo emblemático de um sonho da boa vida” (COMAS,
2003). Apresentando um tom mais familiar ao público de classe média, principalmente
devido aos materiais utilizados na fachada, a casa apresentada na figura 54B não é
caracterizada como moderna, apesar de suas linhas, sendo citada na legenda apenas
como “a bela casa localizada à rua Primavera, 60” (CASA E JARDIM, 1953, n. 2, p. 8).
Na reportagem contida na revista, poucas informações são fornecidas sobre sua
composição formal ou fachada, detendo-se principalmente em aspectos da composição
dos interiores e dos principais revestimentos internos e elementos decorativos. O texto
aborda o aproveitamento inteligente do terreno pelo arquiteto que integrou a casa ao
jardim, fazendo-o entrar “pelas janelas a dentro, comunicando ao morador a fresca e
repousante sensação do campo” , sendo esse efeito “acentuado pelo equilíbrio e
sobriedade do estilo da construção” (CASA E JARDIM, 1953, n. 2, p. 10).
Comparando as duas capas, notamos na primeira uma composição mais leve, artística e,
sobretudo, sofisticada: as rosas ocultando levemente a fachada e o título mais destacado
sob o céu que ocupa a parte superior da página. A segunda, no entanto, não valoriza da
mesma maneira o título, parcialmente encoberto, utiliza quantidade maior de elementos,
tornando a composição confusa e pesada, confere maior destaque à bebida que à
residência, desta vez sob uma faixa estreita de céu, dividindo espaço com o título. Ao
mesmo tempo, mostra a casa inserida no paisagismo, o que fornece a imagem de um
local para descanso e sugere uma idéia de intimidade, uma atmosfera familiar, compondo
um ideal de “boa vida” a partir dos elementos indispensáveis para que ela aconteça,
como o cuidado, a ordem, a arte nos arranjos. Representa uma vida ideal, em que nos
dias de calor se prepara uma boa bebida gelada, que é tomada com gosto do lado de
fora da casa, em cadeiras colocadas na entrada, no que se aprecia um belo jardim.
Ambas insinuam um modelo de lar e de vida que, partindo do exemplo desta parcela da
sociedade que apadrinha o moderno, financiando e movimentando a produção dos
artistas e arquitetos, ambiciona agora chegar a uma camada maior da população, as
classes médias, que se tornariam consumidoras em potencial da grande quantidade de
produtos agora à disposição de todos.
Figura 52 – Revistas com as capas expostas em uma banca.
(A REVISTA NO BRASIL, 2000,p.74)
Figura 53– Case Study House em anúncio do fabricante de piscinas.
(HEIMANN, 2002, p. 286).
Figura 54 – Capas e legendas dos números 1 e 2 da revista. Março e maio de 1953.
B
A incessante tentativa de se demonstrar um estilo de vida ideal, compatível com os
tempos atuais e a modernidade, reflexo de uma vida saudável e prazerosa, é nitidamente
valorizada na capa do número 3 (fig. 55A). A imagem, cujo título é “Domingo na cidade”,
de autoria do desenhista Leo Led
47
, representa um típico “recanto de bairro de casinhas
novas”, transmitindo a mensagem de que um bom domingo poderia ser facilmente
conseguido em casa, “aproveitando-se o sol, desfrutando o ímpar conforto do lar” (Casa e
Jardim, n.03, p.01). O desenho nos mostra, realmente, um ideal de vizinhança bastante
condizente com a ideologia da época, em que se valorizava o consumo e se tentava
imitar o estilo de vida americano, que chegava até as classes médias por intermédio das
revistas e do cinema. As casas, em diferentes estilos, convivem lado a lado e seus
moradores divertem-se ou descansam, aproveitando o espaço saudável, confortável e
tranqüilo por elas fornecido.
Alguns detalhes, que levam a nos deter um pouco na análise desta capa, podem
comunicar aspectos importantes para uma compreensão mais global do discurso da
revista que se relaciona à maneira moderna de habitar. Trata-se, como dito, de um
domingo passado na cidade, em casa. O local escolhido, apresentando terrenos
relativamente pequenos, caracteriza uma área de moradia de uma população não muito
abastada com casas simples, numa escala mais próxima à capa da segunda edição,
novamente mostrando uma imagem familiar ao leitor, para que ele se identifique com o
discurso da revista. Dentre as três casas que ganham maior destaque no conjunto do
desenho, observemos a moderna: corbusiana, branca, sob pilotis e com grandes janelas,
sem telhado e com terraço. É a que sugere um padrão de vida mais elevado, uma certa
sofisticação, se observarmos a quantidade superior de empregados, lembrando tratar-se
de um domingo, sendo também a única a possuir um automóvel. Nas demais, a tipologia
que apresenta telhado tradicional e aparente mostra uma transição em direção ao
moderno
48
. Ambas apresentam grande quantidade de pessoas dividindo um mesmo
espaço, caracterizando reuniões de amigos ou em família, com muitas crianças,
enfatizando o aspecto social sugerido pelo domingo passado em casa, com maridos
brincando com os filhos e jovens tomando sol ou se exercitando. Oferece um cenário
idealizado e executado para a revista, baseado em modelos americanos, com seus
subúrbios ocupados pelas classes média e alta, o sonho da maioria dos leitores, porém
adaptados à sociedade brasileira, como os terrenos de pequenas dimensões, as casas
47
Segundo a legenda, foi pedido pelo chefe do departamento artístico da Cia. Lithographica Ypiranga, “onde esta revista é
redigida e impressa”, que o desenhista fizesse um trabalho diferente para a capa, expressando um domingo em casa,
passado com a família.
48
Essa transição pode ser verificada pela postura dos personagens e em alguns detalhes construtivos de inserção do
moderno, como o terraço e os toldos coloridos, ou um jardim moderno de espécies nativas.
não muito sofisticadas e a ausência de piscinas, objeto de desejo de grande parte da
população da época.
Na capa da edição 21, de janeiro de 1956, a legenda sugere que alguns tipos de piscinas
ajudam a nos colocar em contato com a natureza, pela presença da água, enquanto
outras teriam efeito decorativo, “como se fossem tiradas dos filmes de Hollywood” (Casa
e Jardim, n.21, p.01). A imagem apresentada, caracterizada apenas como “foto da res. do
Comendador Guenther Tuch”, sem referência ao arquiteto (fig. 56). Se compararmos a
imagem da capa com alguns dos cenários de filmes da época, principal meio e
divulgação do modo de vida americano, vemos que ela, assim como eles, também retrata
um estilo de vida ainda bem distante das possibilidades do leitor de classe média, mas
que funciona como um ideal de vida a ser alcançado, e garante boas vendas à revista.
No cinema, os cenários modernos começam a aparecer a partir de meados dos anos
trinta e associam-se à sofisticação, à higiene, representando as residências dos
personagens mais abastados ou o futuro nos filmes de ficção científica.
Segundo Juan Antonio Ramirez (2006, p.269), “a expressão otimista do estilo apareceu
em comédias sofisticadas ou musicais de fantasia onde personagens frívolos e
encantadores se mostravam em casas brancas radicalmente vanguardistas”. O moderno
passava, então, a representar um estilo de vida e uma sociedade baseados no consumo
e no capitalismo. Sob o ponto de vista de Hollywood, o estilo moderno fazia parte do
mundo contemporâneo dos Estados Unidos e aparecia em “arranha-céus, emissoras,
bancos, fábricas e estruturas de natureza impessoal ou pouco ligadas ao passado”, pois
seu desenho e materiais eram os mais indicados por garantirem maior funcionalidade ao
espaço (idem, p. 270). A partir dos anos 1950, com a grande aceitação que o moderno
conquista após a Segunda Guerra Mundial, o cinema também acaba por assumi-lo como
o estilo não da elite, mas das classes médias da sociedade, mostrando-se cada vez
mais acessível graças ao crescente aperfeiçoamento da produção industrial. Na figura
57, vemos um casal de personagens, do filme “O Homem do Braço de Ouro”, de 1955,
que observa pela vitrine de uma loja uma cozinha americana, sonho de consumo das
classes médias urbanas do país.
Figura 55 – Capas e legendas dos números 3 e 4 da revista. Julho e setembro de 1953.
A
B
Figura 56 – Capa do número 21, janeiro de 1956.
Figura 57 – O Homem do Braço de Ouro, 1955.
A capa da quarta edição (fig. 55B) é a primeira a apresentar um interior de residência,
este com móveis de design moderno em cores contrastantes, na maioria primárias, e
valorizando, sobretudo, a simplicidade. Refere-se a ele na legenda como “belo e
harmonioso conjunto, onde tudo é funcional”, mostrando um ambiente muito limpo, claro
e alegre, com móveis de linhas simples, ausentes de ornamentação, dotado de espaços
com funções distintas e integrados, com a casa não compartimentada e o jardim inserido
nela. A funcionalidade aparece freqüentemente vinculada ao moderno, uma vez que a
principal preocupação do arquiteto é que o ambiente cumpra seu objetivo, ou seja,
funcione bem. De acordo com Gregori Warchavchik, assim como a máquina, a
arquitetura deveria ser “de perfeita utilidade, de perfeito funcionamento” sem custar “mais
que o necessário a esse perfeito funcionamento” (WARCHAVCHIK, 2006, p. 57). Neste
ponto, percebemos a íntima relação entre o movimento moderno e a indústria, que
deveria subsidiar a produção destes elementos funcionais, econômicos e,
conseqüentemente belos que iriam revolucionar a vida da população, compreendendo
que foi a partir deste momento que o Brasil passaria de um país essencialmente agrícola
a “um Brasil urbano, industrial e de serviços” (FAUSTO, 2004, p. 539).
Ainda segundo Boris Fausto (2004), seria possível falar em ondas de crescimento para o
setor industrial do país, a primeira delas entre o fim da Segunda Guerra Mundial e
meados dos anos 50 e a segunda ao longo de todo o governo de Juscelino Kubitschek.
No período inicial ocorreu a substituição das importações de bens de consumo não
duráveis, como alimentos e bebidas, e houve avanço na produção de bens de consumo
duráveis mais leves, enquanto preparava-se a infra-estrutura que apoiaria as indústrias
posteriores. Na segunda fase, o produto industrial cresceu cerca de 10% ao ano, uma
taxa bastante significativa, e houve mudanças, “tendo a indústria de bens de capital
realizado um salto considerável, junto com a produção de insumos básicos (aço, petróleo,
metais não ferrosos, celulose, papel, química pesada) e a instalação de um complexo de
serviços urbanos” (FAUSTO, 2004, p. 540). A produção industrial automobilística se
destacou e, começando em 1956, passou de 2.189 carros em 1958 a 37.818 em 1960.
Desta forma, a indústria brasileira começou a ganhar, por meio de seu desenvolvimento,
certa autonomia em relação às estrangeiras, uma vez que o país tornou-se semi-
industrializado, conseguindo subsidiar sua própria produção industrial, que começa a
surgir em apoio aos setores de maior desenvolvimento, entre eles a construção civil.
No caso do mobiliário, a defesa da assimilação da máquina para a criação de novas
formas de expressão, condizentes com o progresso dos novos tempos, não obteve
reação imediata por parte da indústria. Inicialmente, não houve investimentos na
produção de mobiliário moderno e os arquitetos acabaram por projetá-los sob medida
para ambientar os espaços criados em suas casas, sendo executados artesanalmente
por marceneiros para a elite. Somente após os anos 50, com a grande aceitação da
arquitetura moderna, o mobiliário passa de produzido sob encomenda para ser agora
fabricado em série. Trata-se de um momento “particularmente fértil em relação à difusão
e aceitação do mobiliário moderno” (BAYEUX, 1997, p. 95). Ao começarem a ser
produzidos em série pela indústria como apoio a essa arquitetura nova que se queria
prática e funcional, os móveis passaram a ter “um novo tipo de linguagem, em que as
formas estivessem em harmonia com as exigências da era industrial” (idem, p. 87) a
partir da utilização da máquina. Interessante registrar a preocupação da revista na
produção de mobiliário, informando e comemorando, por exemplo, no número 59, de
dezembro de 1959, o contrato assinado pela loja Forma S.A., conferindo-lhe a permissão
para produzir no Brasil os móveis criados pelos arquitetos modernos, momento em que o
país já se encontrava dotado de tecnologia e maquinário suficiente para a sua execução
(ver fig. 24).
Ao discurso do funcional está também relacionada a questão da ausência dos
ornamentos, que, ainda segundo Warchavchick, seriam inseridos na arquitetura,
seguindo a tradição clássica, posteriormente à construção do esqueleto, com isso
aumentando “inútil e estupidamente tanto o peso quanto o custo da construção”
(WARCHAVCHIK, 2006, p. 34). O mesmo vale para os interiores e, conseqüentemente,
para o mobiliário. A retirada dos elementos puramente decorativos, que não possuíam
qualquer função, passou a ser obrigatória para o moderno e, como nas máquinas, a
forma deveria seguir a função do objeto, tornando-o, assim, por conseqüência, belo.
Prosseguindo à análise, percebemos que, dentre as capas publicadas, quase metade
delas (48%) mostrava o interior de uma residência, uma boa parte mostrava exemplos da
arquitetura das casas (24%) e uma pequena parte destacava o paisagismo (3%),
valorizando o jardim.
Em cerca de 13% delas apareciam pessoas em atitudes que poderiam caracterizar o
comportamento moderno e poucas exceções, como o desenho de Leo Led no número 3
(fig. 58A), apresentariam outra forma ou tema
49
. Alguns exemplos parecem mais
emblemáticos e refletem um tipo de conduta ou um momento que a sociedade esteja
vivendo. A capa da edição dedicada a Brasília (fig. 61), de 1960, por exemplo, foge
completamente dos padrões anteriores da revista para exaltar a inauguração da nova
49
Além destas, 6% ilustravam arranjos florais, 6% outros assuntos.
capital do país. O aparelho de TV ganha ênfase na edição de julho de 1958, justamente
quando é lançada a seção “Alta Fidelidade” sob a justificativa de que nas decorações de
hoje, o TV e as instalações de ALTA FIDELIDADE ocupam lugar de destaque, sempre
mais evidência”. A intensa valorização dos produtos oriundos das novas tecnologias,
como os aparelhos de som e a televisão, demonstra o interesse da revista de,
lentamente, convencer o leitor de que estes produtos são indispensáveis, incentivando
seu consumo de uma maneira mais sutil que por meio de anúncios.
Figura 58 – Especial Brasília, março de 1960
(CASA E JARDIM, n. 63, capa).
2.1.2. A predominância dos interiores
As capas que abordam os interiores residenciais são as que aparecem em maior
quantidade, sendo quase todos os espaços apresentados de características modernas,
geralmente explicadas ou citadas nas legendas, e predominam as áreas sociais, como as
salas. Trata-se de ambientes iluminados, coloridos, dotados de móveis e objetos
decorativos de linhas modernas. A partir das capas selecionadas para estudo, juntamente
com a leitura das respectivas legendas, podemos encontrar algumas das principais
características atribuídas ou associadas ao moderno pela revista, transmitidas por meio
destas imagens veiculadas aos leitores.
O interior também representa a intimidade, a célula familiar, o conforto que possibilita a
“boa vida” oriunda da modernidade e do progresso dos tempos atuais. Percebemos,
também que, para a revista, veicular a imagem de um ambiente na capa pode abranger
um número muito maior de leitores, uma vez que serve tanto para os leitores que moram
em casas quanto em apartamentos. Lembremos que o fenômeno da verticalização
começa no início do século XX, concentrado, em princípio, nas áreas centrais”. No
entanto, é “somente décadas mais tarde (anos 50 e 60), [que] o edifício residencial
espalha-se pelos bairros tradicionais e áreas novas, à exceção da cidade do Rio de
Janeiro”, onde se espalha rapidamente pela orla marítima, local de moradia preferido pela
elite, especialmente o bairro de Copacabana, com a adoção da quadra bloco, forma
européia tradicional
50
(MACEDO, 1999, p. 53). Temos, assim, entre os leitores da revista,
uma parte da população mais abastada que ainda ocupa os terrenos dos bairros-jardim
paulistas, enquanto uma parcela crescente da classe média começa a morar nos
apartamentos.
A capa de janeiro de 1955 (fig. 59A) mostra um ambiente claro, limpo, de linhas sóbrias e
cores vivas. A grande quantidade de branco das paredes e piso sugere um espaço
higiênico, com uma estética racional e elementos valorizando o paisagismo moderno, o
que, por sua vez, confere um caráter de sofisticação ao conjunto. Os móveis em estrutura
metálica e de desenho simples, ausentes de ornamentação, ajudam a compor o cenário,
evocando a industrialização, que viabiliza a produção em série do mobiliário, e
comunicando um novo modo de vida: moderno, confortável, prático e funcional. Segundo
a legenda, trata-se de um ambiente original, onde o “equilíbrio é assegurado não
somente pela estrutura dos móveis mas também pela harmonia das cores”. Esta receita
se repete sucessivas vezes o longo da revista, podendo ser observada também na capa
39, de 1957 (fig. 59F), que constitui para as leitoras um modelo onde predomina a
pureza formal e a simplicidade e que deveria ser seguido, possibilitando sua adaptação
ao mundo da sua época.
O ambiente de características modernas e funcionais vai predominar, com algumas
pequenas variações, ao longo de todo o período em estudo. Algumas vezes alterna-se ao
espaço limpo e claro, alguns elementos mais contrastantes, como paredes e móveis em
diferentes combinações, cores mais vivas e abundância das primárias. A figuras 59C,
59E e 59I representam um tipo de abordagem menos austera do interior moderno, na
qual diferentes texturas e materiais se misturam harmonicamente. “A alegria deste
50
Prédios geminados, com a altura controlada pela legislação, possuindo poço de iluminação e jardins praticamente
inexistentes.
ambiente salta aos olhos. Ao lado da diversidade do material usado, pedra, madeira e
metal, temos a combinação extremamente feliz das diversas cores. (...) Reparem também
no tom quente da tampa de mesa e no armário que faz lembrar um Mondrian” (CASA E
JARDIM, n. 36. 1957, p. 2). Uma referência ao moderno aparece na legenda da edição
de 1956, sugerindo um estilo oposto ao passado, o barroco, e livre das suas
ornamentações. “Na Bahia barroca, uma casa bem moderna. Ao invés de móveis
doirados, com cabeças de anjos sorridentes, linhas retas e simples. Não mais a mobília
pesada, as paredes brancas, cobertas de grandes quadros. Agora é a variedade de cores
estudadas, mural com motivos regionais e peças vazadas que aumentam o ambiente”
(CASA E JARDIM, n. 26. 1956, p. 2).
O número 15, de julho de 1955, apresenta apenas a fotografia de uma escada em
estrutura de concreto armado sobre um jardim, projeto de Oswaldo Bratke. Segundo a
legenda, os arquitetos primeiro transformaram as linhas exteriores das residências e “os
interiores acompanharam a evolução, integrando-se cada vez mais no ambiente como
toques decorativos” (CASA E JARDIM, n. 15. 1955, p. 2). Vemos um diálogo entre a
arquitetura moderna, suficientemente valorizada pelas classes médias que se
interessam profundamente pelo tema, e a decoração como uma de suas principais
aplicações. A escada, no entanto, não é classificada como moderna pela legenda, sendo
associada apenas aos “arrojos arquitetônicos de nossos dias”, e são citados, inclusive, os
nomes do arquiteto e do cliente que a teria encomendado.
A capa 31, de 1956, indicando quatro soluções para um mesmo espaço, mostra como
“mudar o aspecto e a finalidade de um ambiente, mesmo com recursos reduzidos”,
variando a disposição e as cores dos móveis. É interessante, pois mostra ao leitor como
pensar num espaço, identificando diferentes possibilidades para ele, com várias opções
de função (fig. 59D). Este tipo de abordagem acaba por aproximar o leitor do trabalho do
arquiteto, pelo menos no que diz respeito ao planejamento do espaço e como ele deve
ser pensado, e se repete constantemente nas matérias no interior da revista.
O jovem casal retratado na capa do número 56, de 1959 (fig. 59H), parece, ao mesmo
tempo, representar o leitor e identificar um modelo de comportamento para ele. O
ambiente onde está locada a cena é um fragmento de uma sala de estar, com um grande
sofá azul acinzentado, uma mesinha lateral ou um cinzeiro de pé, um pequeno quadro e
uma almofada vermelha. A parede é pintada numa cor bege e o piso, em carpete,
apresenta um tom um pouco mais escuro, tendendo para o ocre, cores que contrastam
com o nome da revista, em letras vermelhas, que ocupa o canto superior esquerdo da
página. Na diagonal oposta, canto inferior direito, um pequeno quadro branco destaca
algumas das matérias que compõem a revista. Essas chamadas na capa começam a
acontecer na edição de janeiro de 1956, na parte superior, ao lado do título, numa
diagramação que se mantém constante até o início de 1957, passando a ser inseridas em
faixas ou tarjas coloridas sobre a fotografia. Nos dois últimos exemplos mostrados (fig.
59H e 59I), não mais a legenda que fala sobre a capa, localizada no sumário, que
começa a aparecer apenas muito esporadicamente, praticamente desaparecendo.
Quase no centro da composição está o homem, sentado no sofá, com uma revista ao
colo e levando o cigarro ao cinzeiro à direita. O maço está colocado ao seu lado. Ele
veste uma calça cinza, camisa branca com as mangas dobradas e gravata preta e está
calçando chinelos, como se tivesse relaxando após um dia de trabalho. Sentada no chão,
à sua esquerda, a mulher de cabelos ruivos uma revista apoiada na almofada
vermelha, vestindo uma saia preta rodada que se espalha levemente pelo chão e uma
blusa de botões e mangas compridas cor-de-rosa, com um cordão de pérolas no
pescoço. Nenhum dos dois olha para o leitor, ambos concentrados em suas leituras: a
mulher, olhando uma fotografia de moda e o homem, um texto de aparência mais séria,
com pequenas imagens. A fotografia mostra uma cena doméstica, provavelmente um
casal comum de classe média, que descansa em sua casa após um dia de trabalho. No
entanto, demonstra uma fração da sociedade que divulga e valoriza a informação e o
consumo, incentiva o hábito de fumar como sinal de elegância e julga superior o papel do
homem em relação à mulher, apresentando este modelo como uma referência para as
camadas médias da população, que constituem o corpo de leitores da revista. O contato
entre o homem e a mulher é frio, cada qual concentrado em sua atividade, e ela aparece
ao leitor numa posição de inferioridade em relação ao ele, sentada no chão e não no sofá
ao seu lado. O ambiente reflete uma certa tranqüilidade e um tom bastante informal,
elementos que destacam aspectos importantes do lar, como aconchego, conforto
e simplicidade.
Complementando esse estilo de vida que é apresentado ao leitor, o número especial de
natal, de dezembro de 1959 (fig. 62I), mostra uma decoração de natal bastante moderna.
Uma escultura sobre um fundo de madeira escura, uma mesa baixa no mesmo material,
onde repousa um arranjo com uma vela e algumas bolas coloridas. Preso à lateral da
escultura, um pano grande e cintilante, de cor clara, sobre onde podemos ver diversos
embrulhos de presentes, como que representando uma árvore de natal estilizada. O
escuro da madeira e o colorido dos embrulhos contrastam com o branco do fundo que
acentuan a atmosfera moderna, limpa e funcional da imagem, representando uma outra
Figura 59 – Capas mostrando alguns interiores.
A
B C
D
E F
G
H I
maneira de abordar um tema tradicional como as festas. O único texto, além do título da
revista, em verde, aparece à direita da escultura numa posição quase central, na cor
cinza bem claro, Tudo que é útil para seu lar”, reforçando o caráter de funcionalidade
sugerido pelos demais elementos.
2.1.3. Imagens do comportamento
Por duas vezes, ao longo do período em estudo, a capa do mês de maio foi dedicada às
noivas (fig. 63). Na primeira, de 1954, vemos o jovem casal entrando em sua nova casa
e, na segunda, do ano seguinte, a noiva junto a um padre, exibindo sua aliança de
casamento. Outras, compondo cerca de 12% do total analisado, também retratam cenas
do cotidiano, como a dona-de-casa cozinhando, o casal escutando música ou
desfrutando os benefícios da tecnologia, a jovem se arrumando em seu quarto ou a mãe
com seu bebê (fig. 64 a 68). Neste momento, a casa, os filhos, a roupa, a silhueta fazem
parte das preocupações do novo papel que a mulher, nessa época, assume em
sociedade” (NUNES, 2006, p. 123), e a maioria absoluta das mulheres é ou deseja ser
casada e envolvida com seus afazeres domésticos. Este tipo de imagem evoca
ambientes familiares, onde vemos reinar a paz e a harmonia, com todos vivendo felizes.
Representa um tipo de sociedade idealizada, baseada nos modelos americanos, onde o
homem trabalha, compra sua casa numa área tranqüila da cidade, se casa e tem filhos,
ficando a mulher responsável pela perfeita harmonia do lar. Em nenhum momento, ao
longo do discurso da revista, a mulher abandonará seu papel de esposa e mãe. Esta é a
sociedade que a revista representa e reflete, que valoriza a família como seu núcleo
principal, sua célula, afirmando a todo o momento a necessidade de se constituir um lar
onde se possa desfrutar do conforto fornecido pela modernidade.
Figura 60 – Capas dedicadas às noivas, 1954 e 1955.
Figura 61 – agosto / 1955 Figura 62 – maio / 1957 Figura 63 – janeiro / 1960
Figura 64– maio / 1958 Figura 65 – maio / 1959
As inovações científicas que ocorreram após a Segunda Guerra Mundial, sem vida
introduziram novas formas de vida a todos os países e houve o aumento crescente da
urbanização. A partir do surgimento de novos produtos industrializados, a publicidade se
encarregou de que se tornassem indispensáveis e a produção em série acelerou seu
consumo. A sociedade, então, passou a depender destes elementos, capazes de
economizar tempo e espaço, como os eletrodomésticos, automóveis e aviões. Assim,
vemos a revista como integrante deste movimento de divulgação destas novas
tecnologias do bem-estar, mostrando como poderiam ser alcançados, num momento em
que a prosperidade era a palavra de ordem.
2.1.4. A valorização da arquitetura moderna
Este conforto, claro, passava não pelo interior, mas se refletia também na casa, e
cerca de 25% das capas destacava obras da arquitetura moderna brasileira, residenciais,
de diferentes arquitetos, de início misturando suas imagens com signos icônicos
representando outros elementos, logo em seguida valorizando unicamente a arquitetura.
Em todos os casos, forma-se um cenário que comunica um certo tipo de vida,
possibilitado pelo consumo e pela sociedade capitalista, com a piscina como contato com
a natureza, o isolamento e a paz, o conforto para as crianças. Estas cenas são
substituídas ao longo dos anos 50 por exemplos mais emblemáticos de grandes
arquitetos do movimento moderno, à medida que a revista ganha público e constata a
existência de mercado para publicações que abordem a arquitetura e o modo de vida
modernos, e conforme aumenta também o número de anunciantes e assinantes. As
capas vão mostrando novas imagens e exemplos não tão populares e formalmente mais
interessantes, incentivando a divulgação e valorização da arquitetura brasileira.
Em uma única capa, de fevereiro de 1960, são mostrados exemplos de arquitetura fora
dos padrões modernos (fig. 66), três residências em estilo normando ou semelhantes a
chalés, habitações seguindo tipologias rurais européias. Segundo as informações
internas: “em pleno verão, apresentamos algumas sugestões do país e de Punta Del
Este: casas de campo cercadas de piscinas, quadras de tênis, ‘play-grounds’ e campos
de golfe (CASA E JARDIM, n. 61, 1960, p. 2). Não nenhuma referência, no entanto,
ao estilo das casas e aos arquitetos responsáveis por seus projetos, ou mesmo ao fato
de não utilizarem a linguagem moderna, apenas sendo mostradas as residências.
Partindo da seleção feita (fig. 67), podemos perceber uma evolução no critério de escolha
dos exemplos publicados nas capas e a que modo de vida estariam relacionados. As três
primeiras (fig. 67 A, B e C), de 1954, 1955 e 1956 respectivamente, apresentam imagens
de residências onde predomina um tipo de moderno mais relacionado àquele produzido
pelos arquitetos brasileiros, oriundo do seu contato com o modernismo europeu, com
soluções formais e materiais relacionadas a elementos da tradição local. Nas três
seguintes, os exemplos começam a apresentar obras mais emblemáticas, e de
importantes arquitetos como Oscar Niemeyer e Flavio de Carvalho. A escala das
residências, no entanto, permanece quase sempre a mesma, casas urbanas para uma
família de classe média.
A primeira capa (fig. 67A), de janeiro de 1954, mostra uma casa fora do comum, cuja
planta não foi confeccionada somente levando-se em conta a orientação, mas, também, a
orladura que a guarnece” (CASA E JARDIM, n. 6, 1954, p. 2). A residência, de linguagem
moderna, com telhado borboleta, colunas inclinadas com jardineiras circulares revestidas
em pastilhas e painel de azulejo na fachada. Segundo o artigo no interior da revista, a
arquitetura moderna tem dispensado especial atenção ao jardim. De maneira geral, a
pintura e decoração externa das casas são discretas, de cores repousantes. A cor, pois,
é dada pela vegetação” (idem, p. 17). Ele não chega a descrever a casa, detendo-se
apenas no ajardinamento do terreno, rodeado pela Chácara das Flores, realizado pelo
arquiteto Fernando Pamplona para o sr. João Rinaldi Neto. Observamos que a imagem
da casa é usada para vender a revista, mas na reportagem não vemos nem sequer
citadas as suas características.
Vemos na capa, em primeiro plano, a piscina, que aparece apenas parcialmente. É
quadrada ou retangular, com um vaso cerâmico junto ao vértice. Marcando
aproximadamente o eixo horizontal da página aparece um canteiro em pedra e, ao fundo,
ocupando menos de um quinto da página, a casa. Ela surge em uma posição de
destaque, sem nenhum elemento interferindo na sua visibilidade. Na parte superior, um
céu azul com nuvens onde aparecem o título e subtítulo da revista, em preto. O projeto foi
realizado pelo Escritório Arquitetônico Bresslau e Bastian, para o proprietário Werner
Rosenfeld. A fotografia nos mostra um cenário perfeito, almejado pela maioria dos
leitores e que impõe a arquitetura moderna como parte desta qualidade de vida
apresentada, que é conseguida através da boa utilização dos espaços pelo homem.
Figura 66 – Número 61, de fevereiro de 1960.
No número 18, de outubro de 1955 (fig. 67B), vemos na capa uma casa que flutua sobre
um declive de 1100 metros de altura graças à sua estrutura em concreto. A legenda se
refere à fuga do caos da cidade e, realmente, trata-se de uma residência para finais de
semana na Serra da Cantareira, que também soluciona o mesmo problema existente na
casa de vidro de Lina Bo Bardi e na casa projetada por Reidy para Carmem Portinho,
ambas publicadas anteriormente pela revista. A solução formal é um pouco diferente,
mas o resultado que se obtém quanto à visibilidade e às trocas com o exterior é bastante
próximo. A casa se projeta sobre o desnível do terreno, mas, em lugar de colunas
apoiadas, o arquiteto utilizou mãos francesas que sustentam parte da casa, criando uma
“vista fronteira tanto moderna quanto fascinante” (CASA E JARDIM, n. 18, 1955, p. 27).
A capa nos mostra a casa branca, perfeitamente inserida na vegetação e ocupando o
centro da imagem, apesar de parcialmente encoberta. O título, também na cor branca,
aparece agora inserido em uma faixa de cor marrom na parte superior da página. No
canto esquerdo, um céu azul e sem nuvens equilibra a composição, dominada pelo verde
da vegetação e o colorido das flores. Novamente encontramos o mesmo discurso da
habitação inserida e se impondo sobre a natureza, seja ela natural, a própria paisagem
local, ou criada pelo homem, os jardins artificiais valorizados pelo paisagismo moderno.
Figura 67 – Capas com destaque para a arquitetura
A
B C
D
E F
G
H I
Na revista de número 22, de fevereiro de 1956 (fig. 70C), “o proprietário de um terreno
confiou a um arquiteto a construção de uma residência confortável. Este, conhecedor da
arte moderna de construir, conseguiu uma obra tão confortável quanto bela e artística,
tão simples quanto magistral em suas linhas” (CASA E JARDIM, n. 22, 1956, p. 2). O
projeto que compõe a capa, do arquiteto paulista Zenon Lotufo, resultou numa casa
“espaçosa em suas extensões, conciliante em suas proporções, clara e viva em seus
interiores” (idem, p.6). A composição da capa permanece semelhante às anteriores: a
casa em posição central, inserida no jardim e este formando um recanto de aparência
agradável e tranqüila, onde, em primeiro plano, aparece uma comportada criança que
brinca entre cadeiras de design moderno. Ainda na mesma escala das demais mostradas
pela revista, a residência associa, segundo o discurso apresentado na legenda,
características como conforto, beleza e simplicidade às técnicas construtivas modernas.
A casa tem enormes vãos protegidos contra a insolação por um brise-soleil vertical, a
cobertura é em laje plana e predominam as linha retas e a cor branca. Compõe com o
jardim um cenário ao mesmo tempo sofisticado e familiar, mostrando um estilo de vida
que, nos Estados Unidos, pertencia a uma parcela bem mais significativa da população,
quando no Brasil era conseguido por uma porção bem mais reduzida e abastada da
sociedade do país.
As três capas seguintes mostram obras com características únicas, veiculando
composições formais novas e mais arrojadas, como a residências projetadas por
Niemeyer (fig. 67 D) e pelo arquiteto Ariosto Mila (fig. 67E), publicadas em 1957, ou a
casa fora do comum de Flavio de Carvalho (fig. 67F), de janeiro de 1958. Percebemos
uma evolução no tipo de linguagem escolhida para representar a capa: dos primeiros
exemplos (fig. 54), onde as características modernas são um tanto tímidas e ainda
bastante americanizadas, passamos a obras de consagrados arquitetos em soluções
formais bastante particulares.
Na legenda da capa onde é mostrada a residência de Edmundo Cavanelas, idealizada
por Oscar Niemeyer, afirma-se que “é possível viver numa obra de arte (CASA E
JARDIM, n.32, 1957, p.2). A imagem mostra, em primeiro plano, as espécies vegetais
que compõem o jardim de Burle Marx, de onde três pessoas parecem observar, a certa
distância, a casa, representada apenas por um croqui. Tanto o nome do arquiteto quanto
do paisagista são bastante valorizados. Este tipo de apresentação, misturando foto e
desenho, vem quebrar um pouco a monotonia das capas, onde até então predomina
unicamente a fotografia. Tanto no detalhe da residência do arquiteto Ariosto Mila,
mostrando a laje em concreto que compõe a garagem, quanto na fachada de “linhas
extraordinariamente incomuns” (CASA E JARDIM, n.40, 1958, p.2) da casa construída
por Flávio de Carvalho quase trinta anos antes, percebemos a revista comprometida com
a divulgação do moderno nas suas mais variadas manifestações, levando até os leitores
suas mais diversas possibilidades de aplicação. Percebemos a intenção de citar o nome
do arquiteto, falar sobre ele, apresentar sua foto junto a casa, como parte do trabalho de
valorização e divulgação da profissão, como será visto a seguir, que se mantém presente
também nos principais artigos encontrados na revista.
No número 45, de agosto de 1958 (fig. 67G), é mostrado pela primeira vez um exemplo
de habitação multifamiliar, o condomínio Parque Verde Mar, “majestoso edifício que Casa
e Jardim foi visitar em Santos” (CASA E JARDIM, n.45, 1958, p.2). Projeto do arquiteto
Artacho Jurado, o edifício constitui um marco na arquitetura local e está associado à
expansão da construção civil propiciada pelo turismo, principalmente após a inauguração
da Via Anchieta, em 1947, tornando a cidade um verdadeiro refúgio para os dias de lazer.
A fotografia da capa mostra parte da fachada, com elementos formais característicos do
vocabulário moderno, como os pilares circulares, as grandes janelas com jardineiras, a
parede em elementos vazados, além da variedade de materiais utilizados no
revestimento. No interior da revista, uma reportagem mostra com detalhes o edifício,
dando ênfase às suas áreas comuns. Não mostra a relação do edifício com o entorno ou
a sua escala, valorizando apenas o efeito criado pela arquitetura e os ambientes
resultantes dele.
As duas últimas capas analisadas também apresentam residências com características
modernas, a primeira, que mostra o pavilhão de lazer (bar, vestiários, etc.) da casa
pertencente ao sr. Oscar Americano, projeto de Oswaldo Bratke (fig. 67H), aparece
totalmente inserido na paisagem, dotado de uma grande laje branca apoiada por esguias
colunas, e a segunda, de julho do mesmo ano, do arquiteto David Libeskind (fig. 67I), que
flutua sobre um jardim moderno, ostentando um belo painel em cerâmica. Diferentemente
das composições anteriores que colocam a arquitetura em destaque, centralizada na
página e com o céu como fundo, a última capa mostra um ângulo pouco convencional e
um fundo preto, que valoriza de uma outra maneira a construção.
Dentre outros tipos de assuntos abordados pelas capas, o paisagismo aparece em
quantidade bastante inferior se comparado com as residências e os interiores. Apenas
um exemplo foi selecionado, a capa de março de 1955 (fig. 68), onde duas crianças
brincam em um jardim. Sua legenda diz: “O pátio, que na antiguidade romana constituía o
centro de gravidade arquitetônico e familiar, foi-nos transmitido pela tradição arábico-
ibérica. Hoje, o jardim interno é o recanto ideal, especialmente para as crianças” (CASA E
JARDIM, n. 13, 1955, p. 2). Mostra uma parte de um jardim residencial onde, sob o fundo
de uma parede branca, surgem elementos de linhas modernas, como a vegetação nativa
com ausência de flores, o piso em pedras portuguesas, a cadeira e as esculturas em
ferro sustentando os vasos. Representa realmente um lugar tranqüilo para as crianças
brincarem, ao mesmo tempo ao ar livre e protegidas pela casa. No caso das capas que
mostravam uma casa ou um jardim, a ocorrência das figuras humanas é mais constante,
sendo elas, algumas vezes, o próprio arquiteto autor do projeto (ver fig. 67E e F).
Figura 68 – Capa de março de 1955.
A capa número 63, de abril de 1960 (ver fig. 58), que limita o recorte estabelecido pela
pesquisa, é uma homenagem à inauguração da nova capital do país, meta-síntese do
plano de governo do presidente Juscelino Kubitschek. É constituída por um desenho
assinado por Manoel Victor onde a figura de Dom Bosco se mistura aos edifícios da
cidade e tem como chamada: Brasília cumpre-se a profecia de Dom Bosco
51
. Um
número especialmente dedicado à capital da esperança”. Embora a revista aborde outros
temas, não sendo um número inteiramente dedicado a Brasília, a capa sugere tratar
apenas do assunto, diferenciando-se bastante das demais publicadas no período.
51
Também conhecido como São João Bosco, que viveu na Itália no final do século XIX. Teve sonhos revelando uma área
de grande prosperidade onde hoje se localiza Brasília sendo, por este motivo, o padroeiro da cidade.
No geral, temos as capas produzidas no período estudado em total sintonia com o
discurso da revista, como será visto a seguir, que pretende divulgar e valorizar a
arquitetura moderna, principalmente a de características brasileiras que utiliza elementos
do repertório dos grandes arquitetos da época, os interiores e móveis, o próprio
comportamento das pessoas. Mesmo se tratando de residências, geralmente de pequeno
porte, percebemos uma necessidade de se indicar ao leitor as diferentes possibilidades
da arquitetura moderna, sempre associadas ao modo de vida moderno, caracterizado
pelo conforto, bom gosto e qualidade de vida. As capas veiculam imagens que vão
desde a escala do interior, do cômodo, até a da casa como um todo, a arquitetura em si,
apresentadas quase completamente dentro dos padrões modernos, mostrando este
ideário como mais um objeto a ser consumido pelo público leitor da revista. A partir da
sua análise, juntamente com o estudo de alguns dos textos publicados, selecionados
dentre os 63 primeiros exemplares, pretende-se estabelecer que conceitos estavam
associados ao moderno que eram transmitidos a uma parcela significativa da população.
2.2. Análise do discurso: os textos
A análise do discurso é uma prática do campo da lingüística que tem por objetivo estudar
as construções ideológicas presentes nos textos. O objeto sobre o qual se debruça é o
discurso, caracterizado como a prática social da produção de textos, que reflete uma
visão de mundo conseqüentemente vinculada aos seus autores e à sociedade em que
vivem. O texto, por sua vez, é o produto da atividade discursiva, onde se encontra
registrada a sua ideologia. Por este motivo, é importante que consideremos o contexto,
ou seja, a situação histórico-social da construção do texto, que envolve elementos tanto
da realidade do autor como do receptor. No caso da revista, o discurso está inserido num
contexto, conforme visto anteriormente, de grande crescimento econômico,
responsável por gerar uma atmosfera de profundo otimismo, que atingiu toda a
sociedade, dos governantes à população, associada ao progresso, desenvolvimento e,
em conseqüência, ao ideário moderno e à maneira como o caracterizou e veiculou.
Vimos que a revista era composta por seções, representando os assuntos principais que
eram abordados. No texto Considerações (CASA E JARDIM, 1955, p. 42), Carlos V.
Cerchiari se refere “às seções basilares, que constituem a estrutura de nossa revista:
arquitetura, decoração, jardinagem, culinária, enfim, tudo referente à casa e ao jardim.
Além destas, havia as outras seções, que falavam sobre diversos assuntos, como
música, artes
52
, literatura, moda, segurança, saúde e alimentação, entre outros. Optou-se
por dividir a análise da revista em dois pontos principais: o comportamento moderno, que
abrangeria estes assuntos, e a arquitetura moderna, referente à casa, considerando seus
ambientes internos e externos.
2.2.1. O comportamento moderno
Os artigos sobre o comportamento moderno começam a aparecer e são bem freqüentes
no primeiro número e continuam ao longo de todo o período, com uma concentração
maior ao longo de 1955, mas à medida que a revista vai se desenvolvendo e, de certa
forma se especializando, vão diminuindo consideravelmente a quantidade e repetindo os
temas. Esses textos falam sobre assuntos do dia-a-dia, problemas que o leitor
freqüentemente enfrenta, situações e aspectos que não estão diretamente relacionados à
arquitetura, decoração e paisagismo, mas dizem respeito principalmente ao lar e às
52
Os primeiros números apresentavam uma seção Artes, mas teve pequena duração, desaparecendo antes do primeiro
aniversário da revista.
relações entre a família, célula desta sociedade, que aparece caracterizada por meio dos
artigos apresentados.
2.2.1.1. A família
“Esperamos da família o calor humano, amor romântico e segurança emocional. A família
moderna alcança freqüentemente essas nobres aspirações, embora à custa de muito
esforço e decepções” (JAMES, 1958, p.4). Esta família, assim definida num dos artigos
da revista, é composta, basicamente, pelo marido, mulher e filhos, cada qual com um
papel definido dentro da estrutura, apesar das mudanças de valores e comportamento
que começam a se anunciar no período, ganhando força nos anos seguintes. Ao homem,
ainda, cabe ser o provedor, o que trabalha para garantir o sustento dos demais, enquanto
a mulher fica responsável pelo cuidado com a organização do lar, a alimentação e a
educação dos filhos.
Neste momento, “a sociedade costuma-se aos eletrodomésticos, ao crediário e ao
automóvel. Sente que o tempo e o espaço podem ser reduzidos. Em casa, novos
aparelhos facilitam o trabalho doméstico. O carro permite percorrer longas distâncias
rapidamente. E a televisão institui de vez o fenômeno de massa. A informação se
democratiza, tingindo ao mesmo tempo milhares de pessoas em pontos diferentes”
(NUNES, 2006, p. 126-127). Aproveitando esta atmosfera, o discurso da revista fornece
informações sobre como o leitor deve se preparar para as novas formas de agir e pensar
surgidas com uma nova realidade que se estabelece, baseada no consumo, inserindo
valores e moldando o comportamento desta família. Usando um tom predominantemente
pedagógico, a revista vai incutindo nos leitores os comportamentos e posturas
necessárias para que consigam se adaptar às exigências da década.
Nos dois primeiros anos da revista, o discurso foca principalmente as relações familiares
e os cuidados que se deve ter com a casa. Não há, a princípio, muitas reportagens
direcionadas exclusivamente às mulheres, mas seu comportamento é citado e indicado
em alguns dos artigos deste período, sempre dirigidos à mulher casada, envolvida com
os afazeres domésticos, os filhos, a roupa. “Ser mulher, então, é se comportar dentro
dos padrões da moral e do pudor. É ser compreensiva, humana, sensível, terna e
bondosa. É ser moderna, atualizada, instruída. É ser esposa, mãe” (NUNES, 2006,
p.219). Além disso, ela deve utilizar a seu favor as novas descobertas para diminuir,
desta maneira, seu trabalho e adquirir ou intensificar seu “hábito de fazer a tarefa de
cozinhar mais simples, melhor e mais higiênica” (Mma. de ... faz nova descoberta,1954,
n.9, p. 51).
no primeiro número, um artigo aborda como seria a imagem de uma dona-de-casa
perfeita: “a dona-de–casa consciente de seus deveres não é aquela que fica atenta
apenas aos manjares mais apetitosos, nem aquela que conhece apenas os teores
vitamínicos e as quantidades de calorias de cada alimento. A prefeita dona-de-casa deve,
antes de mais nada, saber preparar com requinte de bom gosto o cenário onde serão
apresentadas as suas iguarias” (O Milagre da Arrumação, 1953, n.01, p. 35). O trecho
mostra claramente que, além de cuidar do que a família vai comer, a mulher deve criar
um ambiente agradável, visando a “espiritualizar as prosaicas áreas de refeição” (idem).
Também cabe a ela cuidar da sua aparência e conservar sua linha de elegância,
combinando melhor os alimentos para manter, assim, seu peso baixo. Este artigo,
Conserve Baixo o seu Peso, de 1957, sugere que a mulher procure preparar refeições
saudáveis e saborosas, que agradem mesmo aos membros da família que não precisem
emagrecer. Podemos entender aqui, que a maior preocupação da revista não são as
características físicas da mulher (como se veste e se apresenta, assuntos mais
freqüentemente abordados pelas revistas femininas da época), estando mais interessada
em como ela desempenha seu papel dentro da estrutura familiar.
Assim, muito poucos artigos se dirigem única e diretamente ao marido, como o publicado
em 1953, intitulado Sim senhor, este é um Homem!, que fala sobre como o homem deve
se vestir e se colocar de modo a ser reconhecido pelos demais na sociedade. Segundo
ele, “consciência de si não é um produto que se pode comprar no mercado ou
prescrever-se numa receita. É uma parte do caráter, da personalidade do homem, que se
evidencia no rosto, na maneira de falar e no seu modo de vestir” (Sim senhor, este é um
Homem!,1953, p. 61). Sob a desculpa de falar do vestuário, que representa o cartão de
visitas para o homem, o artigo acaba traçando um perfil do comportamento deste,
mostrando como ele deve se portar para alcançar o sucesso. Vemos, assim, que os
aspectos psicológicos aparecem com maior destaque e importância, pois possibilitam
traçar o perfil do homem e da mulher que juntos vão compor esta família moderna e
acolher o sentido do lar, definindo que tipo de ambiente vão habitar e que relações
marcarão este espaço.
No que se refere às relações entre os membros da família, percebemos que a mulher
quase sempre depende financeiramente do homem, sendo incentivada a agradá-lo para
conseguir uma recompensa, o que pode ser visto no artigo Quando o Marido entrou na
Cozinha, de 1953, onde uma dedicada cozinheira, dotada de “boa vontade e paciência”
(p. 56), cria flores a partir dos legumes, dando uma aparência especial aos pratos (fig.
69). Seguindo esses conselhos, conforme o texto, “as donas de casa, afora os elogios e
carinhos do marido, poderão, quem sabe, ganhar o vestido novo com que sonham”.
De acordo com o artigo de Olga Meraviglia, Participam as Mulheres dos Problemas
Econômicos?, “no mesmo passo em que progride a ciência, a indústria e a educação,
sobe também o padrão de vida. (...)É evidente que, economicamente, todo o progresso
resulta num nível mais alto de bem-estar como um todo” (MERAVIGLIA,
1955, p. 4). O texto limita bem rigidamente os papéis masculino e feminino, mostrando o
homem como aquele que permanece ocupado durante a maior parte do dia, trabalhando
para garantir o sustento dos seus e manter um bom padrão de vida. Mostra uma visão
machista, citando que “não é de todo errado dizer que o dinheiro ganho pelo homem é
gasto pelas mulheres. Por isso, não será exagero chamar a atenção da mulher para os
problemas econômicos e convir que, mesmo que do ponto de vista social, ela influi
sobremaneira na definição do padrão de vida(idem). Cabe, então, à esposa, tornar a
casa bela e confortável, cuidando das roupas e alimentos, daí deve ter ciência de quanto
seu marido ganha, para manter o padrão da família de acordo com as possibilidades do
esposo e ajudar em alguns assuntos financeiros. Em compensação, observamos um
discurso que incentiva a mulher a participar dos assuntos que antes diziam respeito
apenas ao marido, dividindo com ele alguma responsabilidade sobre a economia do lar.
Neste momento, à medida que aumenta o poder aquisitivo da classe média, que
descobre novos produtos de consumo e começa a depender do conforto que eles
proporcionam, também começam a surgir os problemas econômicos. Segundo o artigo
de T.F.James, publicado em 1958, “nossa sociedade é extremamente móbil. As famílias
se deslocam com freqüência. Hipotecas, prestações mensais, empréstimos, são coisas
corriqueiras. Exigimos mais da vida do que nossos antepassados. Acreditamos
perfeitamente que com inteligência, habilidade e zelo podemos subir de nível social
mas tais ambições nos fazem extremamente sensíveis às oscilações financeiras”
(JAMES, 1958, p. 5). O texto diz ainda que, “em outras sociedades e em outras eras, as
crises principais eram o nascimento, o casamento e a morte. As crises da família
hodierna resultam da mudança social deste século” (idem).
Cabe destacar aqui que, ao nos aproximarmos do final da década, começam a ser
valorizados os assuntos sobre as dificuldades econômicas que podem se abater sobre a
família, incorporados ao discurso da revista justamente num momento em que o clima de
prosperidade e otimismo começa a dar lugar ao avanço da inflação
53
e, em conseqüência,
problemas em se manter o padrão de vida conseguido pela classe média. O artigo citado
acima, “Crise em Família”, de T.F. James, fornece um bom exemplo de como é
importante, em meio aos papéis rígidos impostos pela sociedade para os membros da
família, a adaptação desta estrutura a fim de garantir sua sobrevivência. Assim,
cada membro de uma família desempenha vários papéis dentro da comunidade.
Quem sustenta e chefia a família é geralmente o pai, enquanto que a mãe cuida
do lar. Acontece que também a chefia cabe à mãe. Um marido expôs o problema
como segue: “Em minha família, que manda é a mulher.(...) Quando se trata de
alguma aquisição maior, quem decide é ela. Ela toma conta dos nossos filhos. Às
vezes não estou inteiramente satisfeito com este estado de coisas, mas em geral
tudo corre a contento. Eu me vejo livre de preocupações e ela gosta de seu papel
de chefe” (JAMES, 1958, p. 5).
Sobre o citado, James afirma, ainda, que quando surgem as crises inesperadas,
mudanças radicais acontecem, e o marido deve passar a assumir inteiramente as
responsabilidades do lar. “Tudo depende da situação, mas o importante é que o
responsável saiba impor sua autoridade” (idem). Desta maneira é encerrado o artigo,
mostrando o quão distantes as mulheres estariam, ainda, de sua independência.
Tratando dos problemas da vida matrimonial, temos o artigo escrito com base no livro da
Drª. Florence Hollis, Mulheres em Conflito Matrimonial (Women in Marital Conflict), que
define quatro tipos de problemas psíquicos que podem se manifestar, principalmente na
mulher, oriundos de traumas ou conflitos ocorridos na infância. Uma dessas “aberrações
psíquicas”, como são chamadas, é a das “mulheres que não gostam de ser mulheres”,
facilmente reconhecíveis pelo fato de não desejarem ter filhos ou, no caso de tê-los, não
abandonarem a profissão para se dedicar a criá-los. Os trabalhos caseiros serão
sempre, para este tipo de mulher, estranhos e desagradáveis. Por outro lado, a mulher
que não gosta de ser mulher quer mandar no lar e possuir, no mínimo, seu próprio
dinheiro” (São Problemas da Vida Matrimonial, 1953, n 3, p. 70). Ocorrendo este tipo de
problema, que segundo a doutora são facilmente tratáveis, caberia ao marido dar o apoio
de que a mulher necessitasse, evitando tanto a indiferença quanto as atitudes violentas.
É interessante ver que o fato de a mulher não se interessar pelas tarefas domésticas, não
aceitar a maternidade como obrigatória ou tentar ser independente financeiramente do
53
Segundo Boris Fausto (2004, p. 432), “os gastos governamentais para sustentar o programa de industrialização e a
construção de Brasília e um sério declínio dos termos de intercâmbio com o exterior resultaram em crescentes déficits do
orçamento federal. Ou seja, o governo gastava mais do que arrecadava.(...) Este quadro veio acompanhado de um avanço
da inflação, excetuando o ano de 1957, atingindo seu nível mais alto no governo Juscelino em 1959, com a variação de
39,5%”.
marido é encarado como uma doença, ou aberração, que deve ser tratada e combatida.
A questão da maternidade não é discutida, não sendo a mulher incentivada a pensar se
deseja ou não ter filhos, uma vez que faz parte de sua função como esposa.
O casamento, mesmo caracterizando uma imposição da sociedade, é encarado como o
sonho e objetivo principal para quase todas as mulheres, e freqüentemente são
publicados especiais sobre noivas, que descrevem os preparativos e dão sugestões,
envolvendo o acontecimento por uma atmosfera de conto de fadas. No número 14, de
maio de 1955, o especial “24 Horas na Vida de uma Noiva”, além de texto descrevendo
toda a carga emocional envolvida no acontecimento, sob o ponto de vista da mulher,
apresenta um verdadeiro curso sobre como providenciar todos os detalhes necessários,
desde móveis e enxoval ao vestido de noiva e a viagem de lua de mel. Alguns outros
artigos vão se dedicar a mostrar aos pais a melhor maneira de educar os filhos, amando-
os e os instruindo de forma correta. O texto de Iside Bonini, de 1954, fala da “atual
mocidade vazia de ideologia, com a alma influenciada pelas visões cinematográficas, as
quais lhe atiram ao rosto insensível a deturpação cínica dos argumentos apresentados,
inculcando-lhes conceitos, normas, teorias e ilusões subversivas” (BONINI, 1954, p. 40).
Caberia aos pais evitar situações como esta, referindo-se aos jovens que começam,
neste momento, a se agrupar em torno de interesses e gostos comuns e movidos
principalmente pelo consumo. Era o que se chamou juventude transviada, inspirada
principalmente pelos filmes de James Dean e Marlon Brando
54
e cujo comportamento
tinha como característica básica a rebeldia. A bordo de lambretas e usando camisas
vermelhas, jeans e óculos escuros, esses jovens freqüentemente iam às boates onde
ouviam e dançavam o rock and roll e bebiam cuba libre, além de praticar pegas de carros
nas ruas (fig. 70). Esse comportamento agressivo culminaria, no Rio de Janeiro, com o
assassinato da jovem Aída Curi, após uma tentativa de estupro por dois jovens de classe
média alta, crime que teve enorme repercussão na época, servindo de alerta para as
famílias de que seus filhos precisavam de limites.
“O abandono hoje não é mais o da miséria, é o abandono mora”’, dizia o sr.
Eurico Magalhães, curador de menores do Distrito Federal. “A mocidade
perdeu a orientação dos velhos tempos por parte dos pais e descambou
para a licenciosidade. Na ânsia do gozo, de prazeres e distrações, jovens
com dinheiro praticam toda sorte de desatinos. É a juventude transviada.
54
O Selvagem, de 1953, e Juventude Transviada, de 1955.
Em outros países, produto do pós-guerra. Aqui, produto de imitação”
(SANTOS, 1998, p. 140).
Os especialistas da época acreditavam que o motivo para o aumento da agressividade
dos jovens se devia ao abandono dos pais, visto que algumas mulheres começavam a
trabalhar fora de casa e o número de divórcios aumentava sensivelmente em relação aos
anos anteriores.
Figura 69 – Como agradar o marido com flores de legumes
(CASA E JARDIM, n.3, 1953, p. 56)
Figura 70 – A juventude transviada
(SANTOS, 1998, capa).
Ainda no que diz respeito ao problema da educação dos filhos, em especial os jovens, é
dado o exemplo dos Estados Unidos que, em meio ao grande número de acidentes de
trânsito, conseguiu implantar um programa de educação no trânsito para os
adolescentes. O artigo de Álvaro Altieri, Caso os Pais entreguem o Carro aos Filhos,
publicado na revista em 1953, descreve e elogia o referido programa, desenvolvido pela
Universidade de Nova York, mostrando sua eficácia, e de acordo com ele, aconselha aos
pais que também se preocupem com a questão, informando e educando seus filhos
sobre os perigos que envolvem o trânsito das grandes cidades. Sugere também que o
pai, ao emprestar ou permitir que os filhos dirijam o carro, que estes assinem um termo
de responsabilidade, redigido por ele, onde se comprometem a fazê-lo de maneira
consciente, evitando ao máximo os acidentes.
Este é o lado negativo desta sociedade que cultua o automóvel e necessita visceralmente
dele, transmitindo, às gerações mais jovens, esses sentimentos de dependência e amor.
É um momento no qual o jovem começa a se rebelar contra os pais e a sociedade, e
acabam por utilizar o automóvel de maneira inconseqüente, provocando acidentes. Entre
os itens sugeridos para o compromisso a ser firmado entre pais e filhos, temos: “embora
seja insistentemente tentado a fazê-lo, não apostarei corrida com outros carros”
(ALTIERI, 1953 p. 7), como uma tentativa de evitar o envolvimento nos famosos rachas,
que ocorriam nas madrugadas das grandes cidades. Compreendemos, a partir do
discurso da revista que cabe aos pais, principalmente, mas também a toda a sociedade,
a responsabilidade pela formação de bons condutores, cientes de seus deveres.
Para a revista, havendo o estímulo intelectual das crianças, por meio primeiramente de
uma formação do espírito dos pais de modo a criarem um clima adequado ao estudo e à
reflexão, elas não seriam influenciadas negativamente pelos filmes, assumindo mais
tarde, na juventude, comportamentos considerados inadequados. Para tal, é de extrema
importância a valorização da educação cultural, e uma grande quantidade de artigos
versa sobre a importância de se cultivar o prazer pela leitura, pela música, pelas artes,
tanto nos pais quanto nos filhos. A música é um assunto bastante valorizado,
principalmente a educação musical das crianças, com artigos que fornecem sugestões
inclusive de peças clássicas mais indicadas para serem apreciadas por elas,
despertando-lhes o interesse pela música. Também é abordada a questão de se fazer
música em casa, reunindo amigos parentes e vizinhos que saibam tocar diferentes
instrumentos, o que é defendido e incentivado, pois auxilia no desenvolvimento das
crianças e nas boas relações entre a vizinhança, ajudando a criar um ambiente de
cumplicidade entre os moradores de uma mesma área.
Participando deste âmbito de incentivo à formação cultural do leitor, encontramos artigos
que se dirigem diretamente aos adultos, mostrando os benefícios e a necessidade de se
consumir cada vez mais rápido e em maior quantidade, as informações que chegam a ele
através das tecnologias da sociedade industrial. Um interessante texto de Sergio Milliet,
“Aprenda a Sentir Prazer na Leitura”, cita que “a biblioteca, na casa moderna, não pode
ser descuidada (MILLIET, 1953, p. 34), pois são os livros a única forma de relaxamento e
distração para o homem que vive na agitação do mundo moderno. Segundo ele, os livros
são grandes amigos do homem e, quando se cultiva o hábito de ler, devendo ser este
hábito constantemente cultivado, é importante que se cuide deles, reservando-lhes um
espaço próprio dentro da casa.
Um outro artigo, denominado “Ordem na Discoteca”, aborda o mesmo problema da
discussão em torno do nível intelectual e cultural do leitor, defendendo que o homem
atual deve se interessar pela produção artística de sua época, aproveitando os benefícios
oriundos do desenvolvimento tecnológico. Também embute no seu discurso a questão da
influência norte americana, mostrando-a como exemplo a ser seguido pelos leitores
brasileiros. De acordo com o artigo, que não possui indicação de autor, “segundo
informações fornecidas por uma estatística norte-americana, a freqüência às salas de
concerto nos Estados Unidos excedeu, em 1952 à dos campos de beisebol, o número de
companhias de ópera e de orquestras sinfônicas está aumentando consideravelmente e
em geral o interesse musical do povo americano, em particular seu interesse pela música
clássica está crescendo dia-a-dia” (Ordem na Discoteca, 1953, p. 46). Ele atribuiu esse
fato ao aumento do acesso à música promovido pelos discos, levando-a os leitores e
despertando sua vontade de assistir-lhe sendo executada ao vivo, e se pergunta qual o
motivo de tal fato não ocorrer aqui no Brasil, onde a população não demonstra este tipo
de interesse.
Neste ponto, o discurso começa a se relacionar ao consumo, pois, segundo ele,
incentivando-se a compra de discos e livros, estimularíamos o gosto musical e pela
leitura. No entanto, a casa deveria se adaptar a eles, com a criação de espaços
específicos para abrigar funcionalmente as referidas aquisições, com a inserção, no
ambiente doméstico, de bibliotecas e discotecas. A partir deste momento, com a casa
representando o local que deverá abrigar todos os desejos do homem, quando o
consumo aparece como fundamental para a vida, vemos que ela se adapta para receber,
graças ao progresso tecnológico e econômico, novos programas. Para tal, é interessante
que seja estudado como esta casa é mostrada no âmbito do comportamento moderno.
2.2.1.2. As relações com o ambiente
Cabe a esta família, que habita as páginas da revista e pretende servir como paradigma
ao leitor, a responsabilidade pelo lugar onde vive, o seu lar. Este deve possuir as
condições necessárias para um perfeito desenvolvimento dos membros da família e das
relações entre eles, constituindo o é cenário para este comportamento: limpo (higiênico),
prático, econômico, mas caloroso nas cores e sofisticado na concisão. Percebemos que,
nos seus primeiros números, a revista apresenta aos leitores modelos de comportamento
a serem seguidos, que aparecem ao longo dos cinco primeiros anos principalmente,
conforme foi visto há pouco. À medida que o tempo passa, os assuntos vão se repetindo,
e o discurso da revista se volta mais para a descrição da arquitetura moderna, que seria
a forma de habitar deste homem moderno, com quem a população já se identifica,
principalmente no final da década, quando grandes conquistas animam e encorajam
os brasileiros.
Alguns dos artigos publicados tentarão definir e conceituar o lar, norteando o
comportamento e os valores do leitor a respeito da sua importância e dos cuidados que
lhe devem ser dispensados. Segundo o próprio discurso apresentado pela revista, por
muitas que sejam as idéias que a palavra casa nos sugere, uma domina todas as outras:
é o sentimento de aconchego, proteção. Casa é acolhimento, resguardo, calor” (A Casa é
a Sede do Amor, 1953, p. 6). Ela tem a função de proteger o homem, sendo responsável
pela sua liberdade de escolher entre receber ou deter as manifestações da natureza e
acolher ou afastar os semelhantes.
No entanto, também, “a casa é a sede do amor, pelo qual os homens se perpetuam. A
felicidade e a tristeza, o riso e o pranto deslizam em suas paredes. Nela principia e nela
termina nossa vida (idem, p.7), dentro dos seus limites, “encontra terreno propício, a
desenvolver-se, o sentimento profundo e de difícil definição que liga estreitamente dois
seres humanos do sexo oposto” (idem). Ela aparece, assim, associada ao casamento,
reconhecido como a principal instituição da sociedade da época, consumando as
relações entre homem e mulher. Sua caracterização está, desta forma, relacionada ao
bem estar da família, ao local onde ela nascerá e se desenvolverá.
Para o engenheiro da Prefeitura de São Paulo, Heitor Garcia, autor do artigo A Higiene
do Ambiente”, de maio de 1953, “o lar não se resume na peça de pernoitar, mas sim no
ambiente onde de transcorrer a existência dos membros da família” (GARCIA, 1953,
p. 4), cabendo aos pais a responsabilidade de propiciar aos filhos um ambiente digno
onde possam viver. Segundo ele, ainda, “a expansão rápida da metrópole, nestes últimos
anos, produziu uma radical transformação nos hábitos da população, que teve de
adaptar-se às exigências da vida moderna, nem sempre com as indispensáveis
condições de conforto e salubridade” (idem). Continua, lembrando um princípio do
urbanismo que convém seja aqui recordado: casas higiênicas, em cidades salubres, para
indivíduos sãos” (idem, p. 72) ao afirmar que as casas construídas deveriam fornecer às
suas famílias um ambiente dotado de luz, sol e ar e, mesmo que observados os
requisitos técnicos para a sua construção, deve haver o cuidado diário com sua higiene e
limpeza. “Entenda-se por limpeza domiciliar não somente a remoção do lixo quotidiano, a
varredura, lavagem ou enceramento do piso, mas, também e principalmente, o perfeito
funcionamento dos aparelhos sanitários e a manutenção de uma atmosfera agradável,
alegre, bem arejada e insolada, sem os inconvenientes dos cômodos superlotados”
(idem, p. 4).
Além da questão da higiene, a garantia da qualidade de vida da família na casa também
aparece, no discurso, conjugada à segurança. “Especificamente no que concerne ao lar,
o lar como trincheira da família, forçoso é traçar certas normas que em muito ajudarão à
defesa da propriedade particular” (SILVA, 1953, p.6). Esta propriedade e altamente
valorizada devido ao modelo econômico capitalista em que se baseia a sociedade,
devendo ser protegida. Para isso, o artigo A Proteção do lar”, escrito pelo Dr. Oswaldo
Silva, diretor da Secretaria de Segurança Pública, procura instruir o leitor no sentido de
colaborar com a polícia, fazendo a sua parte e se esforçando em resguardar sua
residência dos perigos oferecidos pela ação dos criminosos. Alguns ensinamentos de
ordem prática servem a esta finalidade, como a colocação de grades, a substituição de
fechaduras antigas e a adoço de um sistema de alarmes, entre outros, e o texto apela às
famílias que acatem tais sugestões. “Siga, pois, os conselhos eu a polícia lhe dá, porque
estará assim defendendo o seu lar, protegendo sua família e atendendo o que a polícia
lhe pede através de seu slogan: ajude a polícia a ajudar você” (idem).
“Já vão longe os tempos, em que deixávamos portas e janelas abertas, vivendo
despreocupados em nossas casas. As cercas, quando as havia, eram baixas e tão-
somente indicavam as divisas de nossa propriedade. Quanta saudade não sentimos
desses tempos de sossego e despreocupação? Hoje, tudo mudou e isto, principalmente
nos grandes centros urbanos” (LUCKMANN, 1958, p.3), relata o artigo “A Proteção de
Nossas Casas”. Nesta abordagem, no entanto, sugere-se que este tipo de preocupação
não deva ser excessiva, uma vez que instituições responsáveis pela segurança, nas
quais é necessário confiar a fim de viver tranqüilamente, pois “a vida moderna está
repleta de sensações agradáveis e desagradáveis, expondo nossos nervos a constante
hipertensão” (idem).
O crescimento da população ocasiona o adensamento das cidades, e o discurso da
revista insere a casa numa vizinhança, que exige da família uma postura harmônica e
sociável em relação aos demais habitantes do entorno da sua residência. Segundo o
artigo de junho de 1956, “os vizinhos desempenham, de certo modo, um papel
importantíssimo em nossa vida. Hoje, somente em lugares bastante afastados, é possível
morar isoladamente” (Os Vizinhos, 1956, p.2). Este, entre outros textos, aparecem
apontando como é importante para o leitor manter com os moradores próximos boas
relações desde os primeiros dias na nova casa, mostrando como conseguir que este
contato e falam também dos tipos de vizinhos que poderão ser encontrados e como
melhor conviver com eles, mediante a atitude correta. “Devemos ser muito prudentes e
usar de toda a diplomacia. Fazemos por inspirar confiança, porém, uma confiança
limitada, reservada, que se resuma em tratos cavalheirescos, nas saudações trocadas
com afabilidade” (idem).
Ainda, insiste em que não se deve ignorar a existência destes vizinhos, pois em algum
momento poderá ser necessária a sua ajuda, principalmente em casos de emergência.
Insiste também na solidariedade, melhor caminho para se conservarem os bons
vizinhos. Para que sejam mais duradouras e harmônicas as amizades, devemos
restringir-nos a um trato discreto e nobre com as mesmas” (idem). Percebemos que,
dentro do discurso, o homem moderno deve, antes de tudo, saber viver dentro da
sociedade que se impõe a ele, valorizando a convivência com os outros. O artigo “Ali
um vizinho perto de você”, de janeiro de 1959, mostra situações onde são destacadas a
cooperação e a solidariedade entre os vizinhos, através de exemplos bastante ilustrativos
que expõem os benefícios de se manterem as boas relações entre os mesmos, sempre
prevalecendo o respeito ao seu espaço.
Por fim, entendemos que, de acordo com o discurso da revista, percebido ao analisar-se
os artigos divulgados, ela tenta preparar o leitor para a vida atual, cuja base é a
tecnologia e o consumo, de maneira a adaptar-se a ela e usufruir de seus benefícios. A
arquitetura é, ao mesmo tempo, cenário e concretização deste comportamento
caracterizado como moderno, e será o principal produto que a publicação tentará vender
ao leitor, orientando-o sobre como obter o máximo de conforto e, conseqüentemente,
bem-estar, de sua residência mediante textos mais especializados e direcionados,
contendo soluções práticas a serem aplicadas no seu cotidiano.
2.2.1.3. O papel do arquiteto
Alguns artigos, um pouco posteriores, tentarão mostrar a importância e expandir o
conhecimento da necessidade da profissão do arquiteto, mostrando que seus serviços
poder também ser acessíveis às classes médias e, de certa forma, ao povo. A idéia de
que o arquiteto trabalha apenas para as classes mais abastadas tenta ser quebrada, e o
artigo de Regina Zonta informa: “o arquiteto de hoje é um homem que, nas suas
atividades, tem por objetivo a solução dos problemas da comunidade, que procura utilizar
o espaço natural de modo próprio e adequado, indicando para cada caso o sistema
construtivo eficiente” (ZONTA, 1956, p. 2).
A função do arquiteto seria organizar os espaços de modo a torná-los “utilizáveis e
habitáveis” (idem), e, para tal, deve conhecer a fundo a família que habitará a residência,
seus costumes e hábitos, e esta deve saber o que deseja, colaborando com o trabalho do
profissional. Segundo o texto, considera-se o arquiteto desnecessário para algumas
classes ou mesmo um mero desenhista, capaz de juntar como a um quebra-cabeças,
todas as idéias do cliente em um desenho. Encerra o artigo com as seguintes palavras,
É preciso compreender que o arquiteto é um homem capacitado para
projetar, para dar a cada plano a solução adequada ao caso, no problema da
habitação. ele é capaz, quer por seus estudos especializados quer pelos
seus dons inatos de equilíbrio e proporção, bom gosto e conhecimentos
grais, de organizar o espaço para o homem morar. Não o proprietário
deve levar suas idéias ao arquiteto, como, outrossim, reconhecer nele o
homem capaz de transformá-las em coisa concreta e realmente útil
(idem, p. 73).
A revista aborda, também, a questão do custo de se contratar um arquiteto, afirmando
que a seleção criteriosa de materiais e técnicas construtivas adequadas concorrem para
o barateamento da construção, compensando os gastos. A utilização de elementos
padrão funciona na redução dos custos, mostrando que, com o planejamento do
arquiteto, tanto o tempo de obra pode ser menor como os erros e o desperdício de
materiais diminui consideravelmente. Sem onerar o custo da construção, a boa e honesta
arquitetura oferece pela ‘forma’ a expressão harmoniosa da estrutura e da função; por
isto é que a arquitetura moderna deve ser simples para que possa se adaptar às
condições atuais (idem). A originalidade é valorizada como característica do papel a ser
desempenhado pelo arquiteto.
A evolução da sociedade é vista também como libertação do arquiteto do seu estigma de
servir somente aos setores mais ricos da sociedade. A revista deseja que o leitor
concorde que “de fato, por favor dos problemas resultantes do progresso técnico, da
industrialização, da avolumação demográfica, da conceituação de planejamento e da
socialização, a tendência sensível é para o povo tornar-se o cliente mais importante dos
arquitetos” (ZONTA, 1956c, p. 4). Através de programas de habitação coletiva, com a
construção de grandes conjuntos, o trabalho do arquiteto pode chegar à grande massa
da população, mesmo que ela não tenha condições de pagar o preço de um projeto. Ao
mesmo tempo, a contratação de arquitetos pela classe média, algo visto antes como
inacessível, começa a ser incentivado, uma vez que a economia resultante de um projeto
bem estudado compensaria os honorários pagos ao profissional.
Alguns artigos, entretanto, ensinam técnicas para que o leitor projete seus próprios
interiores, levantando e desenhando o espaço existente e estudando a disposição dos
móveis no espaço. “Comece o projeto de arrumação de seu apartamento,desenhando os
contornos dos cômodos e as formas dos móveis em proporção certa, conforme indicado
na disposição acima (fig. 71). Use para isso papel milimetrado, como o que se nas
fotos” (Planeje Primeiro no Papel, 1955, p. 27). Afirma, ainda, que “recortando papel,
você poderá economizar tempo e dinheiro e terá mais probabilidade de acertar com a
arrumação dos móveis do seu lar (idem), mostrando que, algumas vezes, a decoração
poderá ficar a cargo do próprio leitor, desde que ele consiga aplicar os princípios de
escala, proporção, equilíbrio e harmonia.
Figura 71 – Como planejar a decoração
(CASA E JARDIM, n.14, 1955, p. 27)
2.2.2. A Casa Moderna
2.2.2.1. Características formais do moderno
Abordaremos, a partir de agora, como o moderno se concretizou nas residências
publicadas pela revista e quais eram suas características formais e elementos mais
freqüentes. A casa aparece, aqui, como o objeto arquitetônico que corresponde à
materialização do lar, ou seja, do espaço onde habita esta família moderna que compõe o
discurso analisado até aqui. Da leitura dos artigos publicados sob o tema da arquitetura,
foram selecionados alguns dos mais significativos, onde os termos e as características
aparecem mais bem associados, e tentou-se estabelecer um panorama do que seria o
moderno na arquitetura residencial dentro do próprio discurso da revista.
A primeira resenha descreve a casa de Lina Bo e Pietro Maria Bardi, projetada pela
arquiteta em 1950 e construída no ano seguinte. Segundo o texto, “um dos conceitos
básicos da moderna arquitetura é o da integração da casa na paisagem que a delimita”
(Entre o Céu e a Vegetação Pousa a Casa de dois Artistas, 1953, p. 08). Localizada
numa encosta de morro no bairro do Morumbi, em São Paulo, a casa é introduzida na
paisagem sem chocá-la, com a parte dos fundos apoiada no terreno e a frente sobre
pilotis em esguias colunas de ferro. Fala de uma “simplicidade quase austera” das formas
(idem, p. 13), que obrigou a uma solução com sistemas de pressão artificial para a
instalação hidráulica a fim de evitar a caixa d’água no telhado, “detalhe que tanto enfeia
numerosas construções modernas” (idem). Em resumo: “a casa realizada pela senhora
Lina Bo, sem embargo de apresentar tudo o que de mais moderno a técnica pode
oferecer, em matéria de conforto e de assegurar aos os seus moradores sossego e
isolamento é uma casa instalada em plena natureza; voltada para fora e plenamente
integrada na paisagem” (idem).
A primeira característica associada à arquitetura moderna, sua integração com o
ambiente onde es inserida, apresenta-se claramente no início do texto. Ao longo
dele, outros significados são conferidos ao vocábulo, relacionados às construções atuais
ou às novas tecnologias. Mesmo havendo a impossibilidade de se integrar a casa à
paisagem devido a um tipo diferente de localização, pode-se voltá-la para o seu próprio
jardim, criando uma natureza, como mostra o artigo Em terreno Mais ou Menos
Quadrangular, de 1953. Para dar o aspecto mais agradável possível ao ambiente,
conforme o próprio texto veiculado pela revista, “foram estudados grandes vãos, que
permitissem maior visibilidade dos jardins, para que estes formassem um todo único com
os interiores” (Em terreno Mais ou Menos Quadrangular, 1953, p. 12). O sucesso do
projeto deveu-se, neste caso, ao fato de terem os projetistas conseguido “fazer com que,
uma vez abertos os vãos, a natureza se integrasse na vida interior da residência” (idem).
Outro importante exemplo da arquitetura moderna residencial, a casa de Reidy e
Carmem Portinho, é mostrado no artigo de Rachel E. Prochnik, já no ano seguinte.
Segundo ela, ao observarmos o hábito que começa a se desenvolver entre as classes
mais abastadas de procurarem sua moradia longe dos locais de trabalho, “a residência
que ora apresentamos projeto do arquiteto Afonso Eduardo Reidy, cuja contribuição à
arquitetura contemporânea tem sido das mais brilhantes exemplifica essa tendência”
(PROCHNIK, 1954a, p. 12). Esta característica, bastante presente na época, é
observada também a partir da ocupação das cidades jardins em São Paulo e de bairros
como Jacarepaguá, Ilha do Governador e Gávea, no Rio de Janeiro, remetendo ao modo
de vida americano com seus subúrbios de casas localizados distante do centro. Refere-
se também à integração da casa na paisagem, possível devido ao tamanho do lote e à
sua localização (fig. 72). No artigo, Carmem diz não se importar com as duas horas que
leva diariamente para chegar ao trabalho.
Rachel também expõe, ainda, no número seguinte, um projeto de Mauro Müller localizado
na Ilha do Governador para um casal. Escreve que, em se tratando de “uma arquitetura
residencial de porte diminuto, as soluções complicadas não são em geral as melhores”
(PROCHNIK, 1954b, p. 07). Afirma que as “pequenas residências nas quais vão
penduradas as várias ‘marcas registradas’ do ‘estilo moderno, numa superabundância de
arcos, marquises, apoios em v, acabamentos em cerâmica, canjiquinha e mosaico de
vidro” (idem) não garantem o efeito desejado, pois sabe-se que a beleza vem da perfeita
integração dos diversos elementos que compõem o edifício. Valoriza, portanto, a
simplicidade e concisão das decisões formais no projeto e o conforto necessário na
orientação da planta de maneira a aproveitar a melhor posição em termos de insolação e
ventilação (fig. 73).
Nesta casa, encontramos mais semelhanças com o padrão de vida das classes médias,
onde o lote urbano apresenta menores dimensões. Os exemplos anteriores, localizados
nos arredores das cidades ou em bairros-jardins, aparecem um pouco distantes da
realidade da grande massa dos leitores da revista, porém servindo como instrumento de
elevação do seu nível cultural, a partir do conhecimento das importantes obras dos
arquitetos brasileiros. No artigo publicado no ano de 1955, “Quando a Arquitetura
Moderna Proporciona um Verdadeiro Lar”, Liba Frydman afirma que “mesmo os que, em
matéria de arquitetura, se inclinam para o estilo clássico, não poderão negar a harmonia
e o equilíbrio de linhas da moderna arquitetura funcional” (FRYDMAN, 1955, p.10). Na
resenha que descreve a bela casa, projeto do arquiteto Henrique Mindlin, novamente
temos a revista associando o moderno às linhas simples e retas e à ausência de
ornamentos (fig. 74). Esta ausência é a reivindicação por uma composição elaborada
apenas com recursos plásticos obtidos com os elementos propriamente arquitetônicos
(planos, linhas, volumes, qualidades das superfícies em textura, transparência ou
opacidade, porosidade, cor) e remete-nos ao abstracionismo nas artes plásticas e sua
reivindicação por trabalhar a essência da pintura e não a representação de um tema.
Neste ponto é usada pela primeira vez a palavra estilo, porém relacionada apenas ao
clássico, remetendo ao antigo, mas referindo-se ao conjunto de características que
definem um padrão, um conjunto de modelos a serem obedecidos pelo arquiteto.
A questão do moderno como estilo aparece também, ainda em 1955, quando o artigo de
Tassilo Marischka mostra a residência do sr. H. E. Schrank, construída sob a forma de
uma casa rústica da Europa Central
55
. O autor justifica a escolha do referido estilo
afirmando que “como é certo que nem todas as pessoas se sentirão bem numa casa
moderna, certo é também não haver razão para que todas as casas recém-construídas –
cujo objetivo é sobretudo fazer-nos sentir em casa – ostentem um estilo moderno
(MARISCHKA, 1955, p. 32). Neste ponto, ele admite que nem todos concordam ser o
moderno o melhor estilo para se construir, tratando-o como somente mais um entre os
muitos possíveis, embora na revista os outros representem a minoria.
Ainda segundo o artigo, “seguir um estilo ou aderir ao acostumado em construção ou
decoração pode ser o melhor meio para conseguir-se uma atmosfera caseira” (idem).
Vemos aqui um discurso avesso à questão do novo, onde a semelhança com o antigo
torna mais agradável a casa. Ela apresenta, além de telhados característicos, também as
janelas e portas em ferro batido e toda a mobília em madeira de lei compondo a
decoração (fig. 75). Mostra que referência a revista faz ao estilo, como o conjunto de
características e elementos utilizados por uma época ou uma região, e que devem ser
observados ao se “adotar o estilo de outro país” (idem, p. 33). De acordo com o texto
sem autor “Uma Casa Hoje Moderna Amanhã Tradicional”, de julho de 1957, “há ainda
hoje muita gente que prefere construir, ao lado de arquiteturas modernas, suas casas em
estilo rústico. Talvez porque a liguem a lembranças de moradias de outros países ou
porque gostassem de transplantar aqui um pedacinho da sua terra natal, fugindo, assim,
55
Além desta, apenas mais quatro resenhas ao longo de todo o período observado descreveram residências sem
características modernas.
das casas puramente funcionais” (Uma Casa Hoje Moderna Amanhã Tradicional, 1957,
p.38). Este contraponto entre os estilos moderno e tradicional ou rústico, será bastante
recorrente no discurso da revista, onde o antigo é tratado como acolhedor e familiar,
enquanto o moderno é impessoal, simples e funcional.
Figura 72 – O moderno integrado à paisagem
(CASA E JARDIM, n. 9, 1954a, p. 22).
Figura 73 – Fachada: simplicidade
no desenho e nas formas.
(CASA E JARDIM, n. 10, 1954, p. 07).
Figura 74 – Ausência de ornamentos.
(CASA E JARDIM, n. 12, 1955, p. 11).
O artigo de Olga Meraviglia, “O Espírito da Simplificação”, de 1956, discute algumas
características do moderno como estilo, também contrapondo-as ao passado. Fala dos
exageros decorativos dos arquitetos antigos, com sua “profusão de torrezinhas, pilares,
colunas e mais ornamentos a enfeitar suas casas” (MERAVIGLIA, 1956, p.5), valorizando
os arquitetos modernos, que “deixaram muito longe o desejo de criarem-se caprichosos
adornos, tais como torres, pilares e outros. Porém, a troca foi muito melhor.
Desenvolvendo a simplicidade, eles se integraram no rol dos criadores de arte” (idem, p.
10). Novamente é ensinada e valorizada a simplicidade, outra forte característica da
arquitetura moderna dentro do discurso da revista.
O texto “Moderno é Sinônimo de Informal?”, de Rachel Sisson, de 1958, levanta a
seguinte questão: “se o leitor quisesse e pudesse construir para si uma casa de grande
luxo e ambientes formais, como a imaginaria?” (PROCHNIK, 1958, p.22). Ela afirma que
apenas a minoria concordaria com um ambiente moderno, por considerar que este não
atenderia os requisito da formalidade, mostrando-se informal. Para algumas pessoas, um
bonito vestido de baile não fica agradável em um interior moderno, enquanto outros
asseguram “que edifícios ou móveis, para terem caráter formal têm, forçosamente, que
ser ‘de estilo’” (idem). Discordando deste ponto de vista, a autora afirma que o leitor não
precisa abrir mão do moderno para fugir ao informal, dando como exemplo o projeto do
arquiteto Sérgio Bernardes que, mesmo ao usar a este tipo de linguagem, conseguiu criar
um ambiente luxuoso (fig. 76). De acordo ela, a formalidade viria do caráter tradicional
ostentado pelos espaços, o que, na mentalidade das pessoas, ainda não poderia ser
conseguido sem a ornamentação adequada, o que tenta desmistificar mostrando uma
residência dotada de todos os requisitos necessários para tal, embora moderna.
A casa que aparece no artigo “Visita à Capital da Bahia”, projetada pelo arquiteto
Fernando Leal, segue mostrando características que fazem dela um exemplar da
arquitetura moderna, que apresenta “um ambiente agradável e acolhedor” (DORCA,
1956, p. 25), oriundo da hábil combinação dos materiais empregados. Na fachada,
elementos formais como a estrutura rígida e bem demarcada, o teto plano apoiado sobre
colunas leves ou a pintura branca nas faces longitudinais e laterais, são associados ao
estilo moderno, que aparece compondo o “panorama urbanístico das cidades do centro e
do sul do país, onde dominam hoje em dia” (idem, p. 74). Da mesma maneira, o projeto
de Bina Fonyat e Tércio Santana, “apresentando o cuidado e o gosto da nossa
arquitetura contemporânea”, mostra outros elementos modernos, como as lajes
acompanhando a inclinação do telhado e a própria edificação seguindo a do terreno, com
a garagem sob os pilotis. Revestindo a fachada, elementos vazados, tijolos aparentes e
mosaicos nas colunas. A estrutura também é valorizada, assim como a horizontalidade
frontal e o movimento conferido pela vista lateral. Outra residência, do arquiteto Lev
Smarcevski apresenta, além da laje plana e da marquise apoiada na grande coluna em v,
esquadrias pintadas de branco, elementos vazados e muro em pedra. Cita a “arquitetura
contemporânea como evolução da casa brasileira” (DUTRA, 1956, p. 17).
Figura 75 – “Ao olhar de relance esta residência, sentimo-nos espiritualmente
transportados às casas rústicas da Europa Central, que formam o estilo arquitetônico
destas regiões (CASA E JARDIM, n. 20, 1955, p. 32 e 34-foto).
Figura 76 – O moderno na casa de Sérgio Bernardes
(CASA E JARDIM, n. 45, 1958, p. 22 e 23).
Outra residência, caracterizada como “obra prima de arquitetura moderna do arquiteto
Oswaldo Bratke” (DORCA, 1959, p. 10), apresenta proporções perfeitas, coloração
discreta, fachada constituída por terraços de linhas retas e severas. Para o artigo que
mostra o projeto dos arquitetos Tinoco e Pivatelli, o “conjunto moderno e confortável” (Um
Arquiteto Projeta sua Residência, 1955, p. 14) possui como características, além do
partido em três blocos com funções distintas, as grandes áreas ajardinadas, integradas
por meio das fachadas envidraçadas e pelo uso de pilotis (fig. 77). O artigo fornece
também, uma lista de materiais e sistemas construtivos a serem utilizados de modo a
garantir um espaço moderno. São eles: estrutura em concreto armado, paredes em
alvenaria de tijolos, cobertura de alumínio sobre laje de concreto, revestimento da
fachada interna e externamente de mosaico de vidro (melhor conservação e asseio”) e
esquadrias em ferro (fig. 78).
Materiais semelhantes aparecem na reportagem “A Casa do Arquiteto Artigas”, de Carlos
H. Born, onde o próprio Artigas, entrevistado, fala sobre a casa e explica os materiais
utilizados, “basicamente vidro, tijolo e concreto” (BORN, 1955, p.25) (fig. 79). O arquiteto
associa, também, o moderno a um outro aspecto, relacionado a mudanças no programa
arquitetônico da casa, em decorrência, segundo ele, do “desenvolvimento industrial
vertiginoso do nosso país”, que levará, “inexoravelmente, à escassez de mão-de-obra
para os serviços caseiros” (idem, p.28). Da mesma maneira, “esse desenvolvimento da
produção trará para dentro de nossas casas uma série interminável de novos produtos
domésticos que (pelo menos teoricamente) substituirão com vantagem o velho sistema
servil, que ainda caracteriza a organização da família média” (idem).
Sua fala defende a idéia de que, sendo a casa preparada para facilitar o trabalho da
mulher, poderiam-se dispensar as empregadas domésticas, ficando toda a casa e a
família sob os cuidados da esposa. Este ponto de vista, que também aproxima o
moderno do futuro e da tecnologia que facilitará a vida das pessoas, aparece como
reflexo das pesquisas realizadas pelo arquiteto, principalmente na década de 1940,
quando de sua viagem aos EUA, em que visita as obras de Frank Loyd Wright,
absorvendo conceitos como a arquitetura sem serviçais, ainda bem distantes da
realidade brasileira.
Figura 77 – Uso de vidro e pilotis Figura 78 – Fachada e plantas
(CASA E JARDIM, n. 15, 1955, p. 13). (idem, p. 17).
Figura 79 – Concreto e vidro na casa de Artigas
(CASA E JARDIM, n. 17, 1955, p. 28).
Inúmeros outros artigos ao longo da revista repetem as diferentes características para o
moderno. Porém, achamos conveniente citar, ainda, a reportagem “A Casa do Arquiteto”,
composta por uma coletânea de artigos, publicados no número de abril de 1957, que
mostra residências diferentes arquitetos, com todas as mais pormenorizadas facetas” (p.
05), fornecendo um conjunto importante de imagens do moderno na arquitetura
residencial. Roberto Simões, no texto introdutório às resenhas, afirma que abordará o
problema do arquiteto que projeta sua própria casa, verificando, inclusive, se ele adota
em sua residência soluções semelhantes às que indica aos seus clientes e também, se o
resultado obtido manteve-se como o esperado.
A primeira casa publicada, do arquiteto Paulo Antunes Ribeiro, descrita no texto de Marc
Berkowitz, está localizada no bairro da Gávea, Rio de Janeiro, e, segundo o próprio
arquiteto, “não representa um marco importante na arquitetura moderna nem contém
inovações de grande importância. Mas é uma casa moderna, uma casa que realmente
funciona” (BERKOWITZ, 1957, p. 07). Além da funcionalidade, a integração com a
natureza que, “circundando a casa, oferece ao arquiteto a possibilidade de unir
visualmente interior e exterior, através de grandes janelas e vidraças” (idem, p.6) (fig. 80).
O texto de Dorca, que mostra a residência de Henrique Alexander, fala dos desejos e
preferências que levamos quando construímos nossa casa. De acordo com ele, o
arquiteto construiu sua casa misturando um pouco de seu aprendizado europeu com a
experiência que lhe ditaram 20 anos de contato com a nova arquitetura brasileira, suas
novidades técnicas e sua variedade de materiais” (DORCA, 1957, p. 14). Este discurso
indica sua possível origem estrangeira e mostra sua arquitetura como reflexo de sua
formação européia, fundidas às inovações propostas pela moderna arquitetura brasileira
(fig. 81). Na fachada da casa, identificamos a mesma simplicidade de linhas já citada,
agora acrescida de uma maior variedade nos materiais de revestimento utilizados. A
tentativa de contato com a paisagem é feita, neste caso, através da criação de um jardim
suspenso para onde se voltam os dormitórios, favorecendo sua ventilação.
A residência do arquiteto Ariosto Mila, segundo Regina Zonta, é construída com “arrojo
arquitetônico” (ZONTA, 1957a, p. 18), apesar de “atender às necessidades de uma
família normal” (idem), fato que se reflete na simplicidade com que foi traçada a planta.
“No coração da casa, fica o parque social, abrigado pela marquise que se estende por
toda a fachada; a intimidade do ambiente é assegurada por uma cortina de elementos
vazados” (idem, p. 24). Quanto aos aspectos formais, fala sobre os planos que se
sobrepõem, definidos pelos elementos no espaço, originando um conjunto bastante
movimentado, com “contrastes entre formas rígidas de pedra e arcos delgados e
concretos, superfícies vazadas e planos impermeáveis, em unidade com longas paralelas
horizontais sobre fustes galbados” (idem, p.22). Novamente é abordada a variedade dos
materiais e das formas arquitetônicas, no caso da residência com o contraste entre a laje
da garagem, curva, os planos retos horizontais e inclinados das coberturas e os volumes
prismáticos apresentados, traço marcante da arquitetura moderna brasileira (fig. 82).
A casa de Mieczyslaw Grabowski, única apresentada pelo próprio arquiteto, é descrita
como “a casa das fachadas bonitas, das escadas leves e de grande efeito arquitetônico”
(GRABOWSKI, 1957, p. 29). É colocada no terreno sobre pilotis que vencem o declive do
terreno, criando um agradável terraço coberto onde normalmente, segundo o texto, seria
destinado o lugar de um porão escuro e úmido. O artigo não descreve bem a casa, o que
é feito apenas levemente nas legendas que acompanham as imagens, mas aborda de
uma maneira interessante os tipos de clientes que o arquiteto pode encontrar, mostrando
um importante exemplo:
“Os clientes que nada sabem e deixam plena liberdade para os arquitetos, em
regra, terminada a casa, estão decepcionados. Imaginavam a residência
completamente diferente, parecida com a do vizinho. Com colunas ornamentais
em lugar de tubos inclinados, telhas paulistas em vez de lajes em balanço, com
grades retorcidas em vez de ‘brise-soleil’, etc. Conheço uma senhora que, depois
de ver sua casa, construída por um arquiteto ultramodernista, exclamou: ‘não
quero viver numa boîte’” (idem, p. 31).
A abordagem deste desencontro entre as expectativas do cliente e do arquiteto aparece
pela primeira vez, mostrando que a arquitetura moderna ainda encontra certa resistência
por parte de algumas pessoas, mesmo que dotadas de poder aquisitivo suficiente para
contratar um profissional. O último dos artigos, também escrito por Regina Zonta, fala da
“obtenção de um conjunto estético e funcional” (ZONTA, 1957b, p. 34), na casa de Clovis
Felippe Olga. Segundo ela, o partido adotado teria resultado das condições do próprio
terreno, através de “um belo exemplo de técnica construtiva, simplicidade de linhas e
formas, ambientes agradáveis e de bom gosto” (idem), resultado de uma perfeita
integração entre a arte e a técnica.
Figura 80 – Casa de Paulo Antunes Ribeiro: funcional e integrada
à natureza (CASA E JARDIM, n. 34, 1957, p. 06).
Figura 81 – Detalhe da fachada. Casa do arquiteto Henrique
Alexander (CASA E JARDIM, n. 34, 1957, p. 14).
Figura 82 – O “arrojo arquitetônico” da casa de Ariosto Mila
(CASA E JARDIM, n. 34, 1957, p. 19).
Observamos, até aqui, e no que diz respeito ao objeto arquitetônico, que o discurso da
revista associa o moderno a determinadas características, recorrentes nas resenhas
analisadas e citadas. São elas basicamente: a integração com a paisagem através do
uso abundante do vidro, aliado a uma preocupação com a orientação solar do terreno; a
simplicidade das linhas e a ausência de ornamentação, permitida apenas sob a forma de
elementos vazados, murais e painéis em mosaico ou azulejos e planos de cores. Outros
artigos, no entanto, mostrarão elementos ou materiais que, aplicados à casa existente ou
incorporados aos futuros projetos, servirão como seu elemento modernizador.
O artigo de Gehart Luckman sobre pedras é bastante ilustrativo e mostra, além de quatro
páginas com fotos de pedras, também exemplos de aplicações em diferentes ambientes.
Segundo ele, como material de construção, a pedra teve seus tempos áureos; (...).
Com a técnica moderna, a racionalização e o apressamento de todas as realizações, ela
cedeu lugar ao tijolo e ao concreto. Ainda é usada como material de revestimento, mas
não como elemento de construção de responsabilidade estática” (LUCKMAN, 1957, p.
21). Fala do crescente uso da pedra na arquitetura, recuperando seu lugar de destaque
após ficar quase esquecido entre as pessoas. Ainda de acordo com o texto, nos novos
bairros o aspecto das ruas mudou radicalmente. Não se vêem mais casas
demasiadamente austeras e monótonas em suas concepções, apresentando-se agora
muito mais alegres e hospitaleiras, com seus contrastes de revestimentos e cores. E
vemos surgir pedras que antes desconhecíamos por completo” (idem).
Explica, ainda, como se deve escolher em que áreas da fachada usar qual material e
descreve os diferentes tipos de pedras à disposição dos leitores e inclui uma lista com
combinações de pedras, dotadas de fotografia, nome e local de procedência (fig. 83),
mostrando uma abordagem compatível com o objetivo didático e informativo do artigo.
São mostrados, também, ambientes onde as pedras foram usadas como revestimento,
fornecendo a possibilidade de contato com “o vasto campo de sua aplicação, de sua rara
beleza como elemento decorativo e de seu emprego cada vez maior na arquitetura
moderna” (idem, p. 25).
Ainda tratando dos revestimentos, Luckman mostra, no número 43, as Novidades da
Indústria Cerâmica, iniciando o texto da seguinte maneira: “na procura de materiais
duradouros e ao mesmo tempo de grande efeito decorativo, a industria dinâmica evoluiu
de maneira extraordinária, acompanhando o progresso e as realizações da arquitetura
moderna” (LUCKMAN, 1958b, p. 6). Fala da importância e do uso da cerâmica através da
história, enquanto mostra imagens de revestimento aplicado a edifícios e assim reduzindo
seus gastos com pintura e conservação. Ambos os artigos escritos por ele, apesar de
apresentarem um nível razoável, não forneciam informações suficientes sobre onde
encontrar, como preparar e aplicar o material, descrevendo sua evolução através da
história, citando as vantagens do seu uso e mostrando exemplos de sua utilização na
arquitetura, predominantemente em edifícios, mostrando um custo inda um pouco
elevado para a aplicação em residências de pequeno porte.
Rachel Prochnik, no artigo Elementos Vazados, inicia com o seguinte texto: “em nossa
arquitetura, os elementos vazados exemplificam a única maneira aceitável de se
empregar elementos tradicionais: não pelo simples fato de serem tradicionais, mas por
continuarem a preencher de modo racional uma determinada função” (PROCHNIK,
1954c, p. 25). Os crivos, como são chamados pela autora, mantêm uma forte relação
com o moderno, associados ao uso da estrutura independente, que libera as paredes
para torná-las vazadas, representando a liberdade concedida ao arquiteto pela técnica
construtiva moderna. Fala, ainda, da sua utilização na arquitetura brasileira, citando
grandes exemplos como o Pavilhão para a Feira Mundial de Nova York de 1939, o
Parque Guinle de Lucio Costa ou o Pedregulho de Reidy. Explica sua função, que é a de
evitar a penetração direta do sol e permitindo, simultaneamente, a circulação do ar,
criando-se desta forma uma penumbra no interior, resultando numa vedação parcial que
promove certa privacidade. Mostra detalhadamente diversos tipos destes elementos,
afirmando suas vantagens econômicas e plásticas, “tanto pelos tipos de animação de
superfície que possibilitam, como pelo efeito de luz e sombra que produzem” (idem, p.
27) (fig. 84).
Figura 83 – Parte do artigo sobre a utilização de pedras
(CASA E JARDIM, n. 38, 1957, p. 22 e 23).
Figura 84 – Parte do artigo sobre os elementos vazados.
(CASA E JARDIM, n. 10, 1954, p. 22 e 23).
O texto de Huberto Campobello, Das Termas de Caracalla às Piscinas de Hoje, também
aborda o assunto do elemento de origem tradicional que, assim como os crivos, ganha
novamente utilização, podendo ser associados à técnica moderna. Fala da utilização dos
mosaicos ao longo dos séculos, traçando um paralelo com obras da época, mostrando o
que chama ser o renascimento desta arte. “A arquitetura moderna, com suas amplas
superfícies planas, em conjunção com a luz forte que nela predomina, exige o ornamento.
Recorre-se ao mosaico para reproduzir obras de nossos pintores, para adornar fachadas,
pátios internos de residências e halls majestosos” (CAMPOBELLO, 1956, p.19). Assim
como os elementos vazados, os mosaicos são indicados pela revista para equilibrar a
simplicidade e austeridade das formas modernas, conferindo-lhes maior dinamismo.
Logo, os artigos mostram exemplos de sua aplicação para que o leitor escolha, dentro
destes, o que melhor se adapta às suas necessidades, a fim de modernizar sua
residência.
Da mesma maneira que a revista informa sobre a utilização na arquitetura moderna de
elementos tradicionais, os novos materiais também são valorizados, como no artigo de
Alexandre Franca, em que mostra ao leitor as novidades da indústria de plásticos, como
os anteparos em vinil (fig. 85). Afirma que as novas fábricas já instaladas começarão a
produzi-los logo que possam importar a matéria-prima necessária e ainda inexistentes no
país. Segundo o texto, “atravessando as ruas de nossas cidades, notamos que casas
antigas estão sendo demolidas enquanto palacetes ou prédios de apartamento passam a
ocupar seus lugares; ou, que essas casas antiquadas sofrem um retoque moderno”
(FRANCA, 1955, p.21). Define que modernizar uma casa “significa tirar dela a aparência
sombria que apresenta, introduzindo novas janelas espaçosas e terraços abertos;
remover paredes para ganhar mais espaço e descortinar sua frente para o jardim (...).
Modernizar é, enfim, permitir a entrada de luz e ar em abundância” (idem).
Os materiais, tanto tradicionais quanto novos, produzidos recentemente pela indústria,
funcionam como modernizadores do espaço, e o discurso da revista tem a intenção de
mostrar ao leitor quais deles melhor se adaptam às necessidades da arquitetura
moderna, ajustando construções antigas de maneira a melhorar o aspecto das cidades e
o conforto das edificações. Alguns artigos, ainda, fornecerão informações de caráter mais
técnico acerca da construção e manutenção das casas, em alguns casos publicando
projetos que contém soluções para problemas relacionados ao tamanho ou a orientação
do terreno, ou que obedecem a um programa específico.
Figura 85 – “Anteparos de enrolar, de tecido plástico (vinyl), cercam este terraço.
Em poucos minutos podem ser enrolados como se fossem venezianas de janelas,
desaparecendo completamente da vista. Assim, é possível manter o ambiente
fechado ou aberto, conforme o tempo e em função da presença ou ausência
dos enfadonhos insetos (FRANCA, 1955, p. 21).
2.2.2.2. A modernização das casas
À medida que publica casas construídas por importantes arquitetos modernos, que
definem as características formais do estilo e refletem algumas de suas principais
diretrizes, a revista insere no seu discurso outros textos de caráter mais instrutivo. Estes
contém, além de informações básicas sobre como o leitor deve se relacionar com sua
casa, desde o momento em que escolhe o terreno que vai comprar até sugestões sobre
como construir, reformar ou conservar sua residência, também projetos que possam lhe
servir como modelo.
O artigo Pense Bem antes de Comprar o seu Lote, de 1953, um dos primeiros
publicados, fornece informações sobre determinados aspectos a serem analisados
quando da compra do terreno onde edificará sua casa, de maneira a facilitar a futura
construção no lote. Segundo o texto, “são principalmente razões econômicas que nos
impedem de adquirir um lote nas dimensões desejadas, pois os terrenos nas imediações
das cidades tornaram-se excessivamente caros. E (...), é conveniente, antes de
efetuarmos a compra, estudar, detalhadamente as seguintes questões: escolha do bairro,
tamanho e posição do terreno, meios de condução, localização das escolas, água e
energia elétrica, possibilidades de valorização” (Pense Bem Antes de Comprar o seu
Lote, 1953, p. 8).O assunto mais detalhadamente abordado é o tamanho e a posição do
terreno, onde, dentro das possibilidades de loteamento mais freqüentemente encontradas
nas cidades, são citadas as dimensões que melhor atendem às necessidades da época
para a construção de uma casa:
Infelizmente, a maior parte dos loteamentos, nas cidades grandes, constitui-se de
lotes com 10 m de frente por 40 ou 50 m de fundo. Antigamente, quando o
automóvel não era ainda considerado um luxo, poucas casas possuíam garagem
e portanto a largura de 10 m era suficiente. Hoje, todavia, o automóvel representa
uma necessidade e (...) o ideal seria, portanto, comprar um terreno com 12 ou 15
m de largura, largura suficiente para construir uma casa isolada com boa entrada
para o automóvel (idem).
O texto passa, então a abordar as vantagens da casa construída afastada das divisas,
“não no que se refere ao seu aspecto externo” (idem), mas também como instrumento
para melhores condições de iluminação e ventilação internas. Orienta, inclusive, o leitor a
observar os vizinhos, dando preferência a casas com menores possibilidades de
crescerem em altura, tornando-se edifícios que obstruam a vista e o sol.
O discurso acerca da incorporação do automóvel ao dia-a-dia do leitor, oriunda do
crescimento das cidades, do aumento das distâncias e da necessidade de maior rapidez
nos trajetos, voltará a aparecer em artigos que tratam da adaptação da garagem a casas
existentes ou da sua localização no projeto, como é o caso do artigo O Problema da
Garagem, também de 1953. Afirma que, “dentre os problemas que a vida moderna nos
apresenta, a fim de dotarmos nossa moradia de todo o conforto, destaca-se pela
necessidade atual, o problema da garagem” (O Problema da Garagem, 1953, p.50),
abordando maneiras de adaptação destas às residências e edifícios através de exemplos
“construídos de modo a deixar lugares adequados ao estacionamento coletivo de
veículos” (idem, p. 51), onde a área sob os pilotis é usada como garagem.
O artigo Como Baratear a Construção das nossas Casas, de 1955, apresenta
considerações bastante relevantes acerca da economia que pode ser conseguida
alterando-se certos aspectos da residência. Fornece o exemplo de duas casas com a
mesma área construída e plantas diferentes, a primeira em formato retangular e a outra
com o perímetro apresentando reentrâncias, mostrando que , quanto mais complicado for
o desenho da planta, maiores serão os gastos com mão-de-obra e o desperdício de
materiais, além de maior dificuldade na execução de fundações e telhados (fig. 86).
Figura 86 – Comparação dos custos da construção em
função do desenho da planta (CASA E JARDIM, 1955, p. 3).
“Sem prejudicar o conforto e a beleza de nossas casas, podemos fazer uma série de
economias, desde que conheçamos as causas que concorrem para o encarecimento
desnecessário das obras” (Como Baratear a Construção das nossas Casas, 1955, p. 2).
Este trecho reflete a questão da construção mais simples e racional como forma de
economizar, preocupação freqüente da sociedade moderna. A racionalização dos
espaços e das construções, assim como a participação da indústria na produção de
elementos construtivos padronizados, que diminuam o custo e o tempo de execução,
tornando as habitações acessíveis ao maior número de pessoas. É o primeiro artigo que
fala na utilização de materiais padronizados e produtos fabricados em série, como portas
e janelas, que são mostrados como a solução para custos cada vez menores nas
construções. Segundo o texto, nos Estados Unidos e em outros países, quase todos os
materiais necessários para a construção de uma casa poderão ser adquiridos por
catálogo” (idem). No entanto, alerta para que não ocorra uma padronização excessiva, o
que ocasionaria certa monotonia.
Aborda o fato de que, para se conseguir uma boa economia com as instalações
sanitárias, basta que seja realizado um projeto cujo posicionamento das peças seja
racional e encerra afirmando que “vale muito mais a pena perder algumas horas no
estudo acurado da planta, considerando-a nos seus nimos detalhes, do que perder
horas e horas com a execução e material a ser empregado na obra inutilmente” (idem, p.
70). Mesmo falando na importância de se estudar a planta, não cita o papel do arquiteto,
afirmando, apenas, que se deve escolher um bom mestre-de-obras, que saiba dirigir
racionalmente os serviços.
O artigo Para Principiantes, assinado por Elainy Denby, também faz interessantes
considerações a respeito do custo das casas e como estes podem ser reduzidos.
Segundo o texto, “muitas pessoas têm um capital disponível muito pequeno e, entretanto,
gostariam de morar numa casa construída para eles e não naquelas feitas em série”
(DENBY, 1958, p. 8), embora seu custo seja bastante reduzido. Desta forma, considera
interessante que o leitor pense nas vantagens de se optar por um espaço menor numa
casa feita sobre encomenda para ele. Cita os tipos de moradores que poderão aproveitar
o que chama de “casa nima”: os casais recém-casados, ainda sem filhos e os idosos,
cujos filhos já se casaram. Fala sobre o espaço necessário e como este deve ser mais
bem aproveitado, de maneira racional.
“Se o jardim não for tratado, a erva daninha tomará conta dele, as plantas, não regadas,
secarão e, o que antes era belo, apresentará um aspecto desolado. O mesmo acontece
com nossa casa, se não tratarmos de conservá-la” (Conservação de nosssas casas,
1953, p.03). O artigo de onde foi tirado o trecho acima, que trata da conservação das
casas, é bastante completo e fornece informações bem precisas sobre os cuidados a
serem dispensados a fim de que a residência apresente sempre um aspecto belo,
proporcionando o conforto almejado.
Fornece importantes informações sobre temas como a pintura das paredes internas,
fachadas e das esquadrias de madeira, cuidados com os telhados e as calhas, revisões
em instalações elétricas e hidráulicas, limpeza e manutenção de caixas d’água e
cisternas. Encerra o artigo da seguinte maneira: “conforme vemos, dentre os muitos
fatores importantes, a renovação das pinturas é o principal para garantir a maior
conservação dos vários elementos da casa. Zelando, pois, pela nossa moradia, ela
durará muito mais e apresentará sempre um bom aspecto, refletindo o grau de cultura
dos seus moradores” (idem, p. 102), onde percebemos que, após enumerar diversos
procedimentos de rotina que colaboram para a manutenção da residência, levanta outra
questão, associando a boa conservação ao nível cultural dos seus moradores, esta
associada à civilidade que se rebate na aparência das cidades. Cabe aqui um paralelo
com a sociedade moderna, como visto anteriormente, de papéis rígidos e forte
valorização da aparência, apesar do discurso de inovação e progresso.
O interesse dos homens em geral pela construção e o prazer que têm desde que haja
recursos disponíveis, de ampliar a sua casa é citado no artigo Reformas Sucessivas, de
1955. A residência, que de início é modesta, com o passar do tempo vai agregando
necessidades, à medida que aumenta a posição social do morador. Este fato reflete a
possibilidade de mobilidade social oferecida pela sociedade capitalista e o aumento do
poder aquisitivo das classes médias. Segundo o texto, mesmo pensando em melhorar
suas condições de vida, o leitor é realmente movido por seu desejo de construir e pelo
prazer de ver suas idéias realizadas. Também não faz alusão alguma o arquiteto, apenas
afirmando ser “sempre de bom alvitre ouvir a opinião objetiva de um técnico, antes de por
em execução nossas idéias de reforma, mesmo que estas pareçam as melhores”
(Reformas Sucessivas, 1955, p. 70). Segue descrevendo as possibilidades de se ampliar
a casa, construindo em altura, caso as fundações tenham sido previstas para tal, ou por
meio de anexos na direção dos fundos do terreno. Usa croquis para ilustrar as sucessivas
fases de uma reforma apenas com perspectivas externas, sem apresentar plantas baixas
ou mostrar os interiores. Pretende ajudar o leitor em dificuldades e esclarece que,
“haverá, decerto, muitos leitores em situação análoga e quem sabe você mesmo, que nos
agora, poderá tirar proveito dessas considerações breves de como melhorar e
aumentar racionalmente uma residência” (idem, p. 71).
Outro artigo aborda, também, questões referentes à conservação e adaptação das casas,
mas de uma maneira especial: como adaptar residências antigas que necessitem de
reforma. Sugere que “a arquitetura colonial, das ‘casas grandes’, é a que mais se
harmoniza com nossa paisagem contradiz o sentido imaginarmos uma fazenda com
casas em estilo moderno ou outro qualquer. Longe estamos de pretender inimizarmos
com o modernismo, todavia, temos para nós, que existem tradições que não podem e
não devem ser abolidas” (Sugestões para Reforma em Casas Grandes, 1953, p. 34).
Entendemos neste ponto uma flexibilidade no discurso que, embora defenda o moderno
como estilo ou representante formal do presente e do futuro, também respeita e
considera as construções de outras épocas, entendendo que devem ser conservadas.
Não aborda as modificações internas, mas apenas as de fachada e telhados, fornecendo
diretrizes para que possam ser adaptadas as residências deste tipo, atribuindo-lhe,
assim, maior conforto.
Para a fachada original (fig. 87), considerada pelo artigo como monótona por apresentar-
se “sem terraços ou varandas e com as janelas simetricamente distribuídas” (idem, p. 35)
indica a colocação de alpendres, varandas ou outros elementos de transição entre o
interior e o exterior que consiga quebrar tal monotonia, além de embasamento em pedra
e venezianas externas às janelas. Desta maneira, ainda segundo ele, seria possível
transformar a residência, tornando-a mais confortável sem interferir no seu aspecto
tradicional. O resultado final sugerido, no entanto, mostra uma forte descaracterização do
imóvel, apesar de a reforma ter sido realizada utilizando-se elementos tradicionais e
evitando os modernos (fig. 88).
O artigo Porque Gostamos Desta ou Daquela Casa? tenta definir as razões pelas quais
alguns tipos de residência nos parecem mais agradáveis que outras. O entrosamento
correto dos vários elementos que compõe a fachada seria responsável por conceder à
casa um aspecto agradável. “Uma moradia sem atrativos poderá tomar uma feição
agradável por meio de elementos relativamente de pequeno custo, mas que contribuem
em muito para o embelezamento do conjunto. Estes elementos podem ser um simples
gradil, uma entrada curiosa, uma jardineira bem disposta, um lampião original, uma
singela pérgula ou qualquer pormenor interessante” (Porque Gostamos desta ou Daquela
Casa?, 1954, p. 65 e 66). Não aborda a questão do moderno nem fala sobre fachadas,
apenas apresenta dois exemplos de casas, agradável e desagradável, conforme as
figuras 89 e 90.
Figura 87 – Fachada da casa antes da reforma (CASA E JARDIM, 1953, p. 34).
Figura 88 – Sugestão de reforma (CASA E JARDIM, 1953, p. 35).
Figura 89 e 90 – Exemplo de casa agradável e desagradável,
respectivamente (CASA E JARDIM, 1954, p. 64 e 65).
A casa da figura 89 vem acompanhada da seguinte legenda: “Esta é uma casa simpática!
Os moradores não têm nada a esconder, grandes janelas permitem a livre entrada dos
raios solares. É evidente a estética conseguida em sua aparência” (idem, p. 64) e
apresenta linhas simples e retas, ausência de ornamentos e grandes vãos. A segunda,
no entanto, cuja legenda considera “um exemplo de casa antipática. Completamente
desequilibrada: o arco suportado pela coluna em forma de vaso e os relevos altos e
baixos em toda a fachada acentuam ainda mais a falta de gosto em estilo e harmonia”
(idem). Trata-se de uma residência em estilo neocolonial
56
, dotada de arcos, telhado de
telhas aparentes no beiral, pequenas janelas e outros elementos. Observamos que
palavras como estética e estilo são utilizadas de maneira superficial, como sinônimo para
beleza, do mesmo modo que não justificativas formais para a residência moderna ser
a mais agradável das duas.
o artigo Vale a Pena Construir em Madeira, de janeiro de 1955, além de abordar os
benefícios de se construir em madeira, desmistificando certos aspectos como o perigo de
incêndios, discute também a questão cultural, pela qual no Brasil, apesar da abundância
do material, não existe o hábito de utilizá-lo nas construções. Segundo o texto, o motivo é
simples: associamos as casas de madeira às habitações simples, das populações
carentes, “pessimamente construídas, sem nenhuma planificação” (Vale a Pena Construir
em Madeira, 1955, p.08). Afirma que “entretanto, com madeira pode-se edificar uma casa
tão boa, bonita higiênica e durável quanto as de alvenaria, se para tanto houver
planificação adequada e uma execução apurada, como se faz nos Estados Unidos,
Canadá e mesmo nos estados do Sul do Brasil” (idem).
Ainda não borda a questão do estilo, mas ilustra o artigo com um exemplo onde, apesar
do telhado em duas águas de telhas aparentes, as grandes vidraças conferem um
aspecto mais moderno à fachada. Na legenda, pode-se ler: detalhe da frente
envidraçada, com as portas corridas, vendo-se parte do interior da ampla sala. Observe-
se a cadeira de linhas ultramodernas”. (idem). A cadeira, sem dúvida, é o elemento que
aproxima esta tipologia de uma linguagem mais atual, favorecendo sua aceitação pelo
leitor (fig. 91).
Um outro artigo trata de construções em madeira, desta vez as casas pré-fabricadas,
escrito por E. Gregorian, para o número de setembro de 1956. Aborda o problema das
56
Movimento surgido a partir dos anos 1920 e que se estendeu por todo o continente americano. No Brasil, aparece como
uma tentativa de valorizar nosso modelo colonial, resgatando a tradição portuguesa buscando uma forma de habitação que
refletisse a cultura brasileira e sua relação com o ambiente. Seus principais personagens foram Ricardo Severo e José
Marianno Filho.
classes menos abastadas, para as quais o problema “não é o de possuir uma casa,
possuí-la rapidamente, de acordo com as suas posses, sua condição social e com um
mínimo de conforto” (GREGORIAN, 1956, p. 33) e pretende fornecer uma solução para o
problema, ilustrando a montagem, em apenas 3 horas, de uma casa pré-fabricada (fig.
92) O assunto, anteriormente abordado, da padronização ganha peso e pode ser
percebido como uma opção real para o leitor, com o custo correspondente à metade do
exigido para uma casa de alvenaria, afirmando não se tratar de “um casebre ou de um
rancho de madeira, mas uma casa construída de acordo com as exigências do código de
obras, no que se refere a claridade, cubagem de ar, tamanho de cômodos, altura e etc.”
(idem, p. 36). Fica clara a preocupação em justificar do uso da casa pré-fabricada,
mostrando que obedece aos termos da legislação.
Figura 91 – Possibilidade de fachada para a casa em madeira
(CASA E JARDIM, 1955, p. 08).
Figura 92 – Montagem de uma casa pré-fabricada
(CASA E JARDIM, 1955, p. 08).
Nos exemplos apresentados, apesar do discurso da revista, que se apóia na vida
moderna e suas necessidades, predominam as tipologias semelhantes às das habitações
rurais, com varandas e telhados em duas águas. Segundo o texto, no entanto, “quanto a
sua forma, seu estilo, depende do gosto de cada um, do terreno, da sua localização”
(idem). Está claro que, devido às limitações formais provenientes da estrutura, materiais
e técnicas construtivas utilizadas, as dificuldades em se conseguir uma residência de
características modernas é bem menor, mas percebemos uma preocupação maior em
solucionar o problema da habitação residencial da população menos favorecida, que nas
características formais da casa.
Um dos artigos que melhor explicita e discute o problema da escolha do estilo par a
construção da casa é Home Sweet Home, de G. Luckmann, que mostra uma visão
interessante do momento em estudo. Trata-se do relato um jovem e sua esposa, futuros
proprietários, sobre o processo de construção de sua casa juntamente com os sogros e
uma tia. Coloca os problemas encontrados, oriundos do choque entre as diferentes
gerações. Nós que estamos influenciados pela era atômica, o rádio, a televisão e os
cavalos motorizados, não podemos compreender os restos de romantismo, que a
geração mais velha isto é os sogros e a tia conservam. O que para nós é funcional,
para eles não tem função” (LUCKMANN, 1957b, p.08).
O texto descreve toda a problemática acerca da escolha do estilo arquitetônico da casa,
móveis e até dos quadros e bibelôs, explicitando a insatisfação do casal e as dificuldades
em se chegar a um acordo. Segundo ele, “quanto ao estilo, os velhos queriam um estilo
colonial cheio de troféus e colunas retorcidas, enquanto a tia acreditava que tinham de
dar à casa um aspecto semelhante ao dos castelos da França (idem). Admitem ter
chegado a um resultado em que a casa não apresenta estilo, sendo
preponderantemente ‘funcional’ com reminiscências coloniais” (idem). Leves críticas
podem ser percebidas em diversos trechos, como o abaixo, mostrando o moderno como
uma imposição de hábitos para a adoção de um novo estilo de vida, condizente com o
futuro, e que deve ser sobretudo funcional:
Adoram e preferem, por exemplo, uma “bergère” confortável a uma
dessas cadeiras modernas, que nós achamos maravilhosas, mas que na
opinião deles, apesar de anatômicas, parecendo mais cestos ou bacias,
pouco conforto oferecem. É verdade que as mesinhas baixas e de
formas sinuosas obrigam-nos a dobrar as pernas e encolher o estômago,
mas, uma vez que nos sujeitamos aos ditames da era funcional,
sofremos calados o desconforto (LUCKMANN, 1957, pp.08 e 09).
Este texto mostra claramente a caracterização do moderno com o presente, representado
pelo casal, enquanto os estilos antigos, europeus ou coloniais, são referentes ao
passado, ou seja, às gerações anteriores. Acaba afirmando alguns defeitos oriundos da
linguagem moderna, ao mesmo tempo que admite terem, os moradores, chegado a um
resultado satisfatório.
O artigo A Maquilagem das Fachadas, por sua vez, aborda o problema das chuvas e
seus efeitos sobre os revestimentos externos das residências, apresentando croquis de
quatro exemplos onde, de acordo com a linguagem e os elementos utilizados, define as
manchas escuras na pintura que surgirão ao longo do tempo com a incidência direta da
água. Afirma que: “ao se projetar uma casa, devemos pensar sempre no escoamento das
águas pluviais, não somente por meio de calhas e condutores, mas quanto ao
escorrimento fácil pelas saliências das fachadas” (A Maquilagem das Fachadas, 1955,
p.6) (fig. 93). Não utiliza, no discurso, o termo moderno, mas faz referência aos inúmeros
“prédios e casas que, apesar da beleza das linhas arquitetônicas nos causam péssima
impressão devido às inúmeras nódoas que apresentam, as quais com o tempo se
transformam em limo” (idem). Segue mostrando que, à medida que são inseridos
elementos sucessivamente, as manchas vão diminuindo e finalmente chega-se à solução
mais eficiente, onde o beiral saliente e um pequeno balanço no andar superior evitam que
as águas escorram pela superfície da fachada (fig. 94).
Encerra justificando que
“para conseguir uma boa e limpa aparência e, conseqüentemente,
maior conservação de nossas casas, devemos defendê-las dos efeitos, sempre funestos, que
causam os elementos naturais chuva e sol”
(idem, p.07), considerando a aplicação dos
elementos arquitetônicos tradicionais que, segundo o artigo, contribuem muito para a
beleza de uma casa.
Figura 93 – Estragos causados pela incidência direta da chuva na fachada
(CASA E JARDIM, 1955, p. 06).
Figura 94 – Solução indicada para minimizar os danos
(CASA E JARDIM, 1955, p. 06).
Um outro artigo, A Beleza da Cor na Arquitetura ensina boas maneiras de se conseguir
aplicar a cor na arquitetura, seja através de pintura ou outros materiais de construção,
como tijolo, cerâmica ou pedra. Segundo ele, “uma vez que estamos na época do
funcionalismo, tudo deve ter sua função justificada” (LUCKMANN, 1957c, p. 2). Cita os
estucadores que, com uma infinidade de ornamentos e figuras, banalizavam a arte,
ocultando a estrutura do edifício. Afirma, ainda, que, “a elegância sem dúvida, baseia-se
na simplicidade das linhas, mas a simplicidade excessiva poderá tornar-se monótona”
(idem). Daí a importância da cor nas fachadas, responsável pela quebra do aspecto
austero conferido pelas linhas modernas.
Dentre os projetos cuja intenção seria fornecer modelos para o leitor planejar sua futura
casa, o primeiro deles publicado, em janeiro de 1954, não apresenta o nome do arquiteto,
indicando em duas páginas a solução para um terreno em declive acentuado (fig. 95).
Mostra apenas as plantas baixas, um corte e uma perspectiva com um texto explicativo
demasiadamente resumido. O mesmo acontece com o segundo projeto, Casas
Econômicas, em que, apesar de apresentar um texto mais extenso, não dedica atenção
aos dois exemplos que ilustram o artigo, ambos proposto para lotes de 10 x 30 m e área
construída entre 75 e 90 m² (fig. 96). Sobre os desenhos apresentados, esclarece: “os
dois croquis, aqui estampados, contém algumas sugestões generalizadas para a
construção de casas econômicas. É evidente que cada caso apresenta sempre certas
particularidades, as quais deverão ser levadas na devida consideração. Nosso intuito é o
de colaborar para os passos iniciais dos que pretendem construir sua casa própria e não
contem com qualquer elemento que os inspire” (Casas Econômicas, 1954, p. 15). Afirma
o objetivo de “contribuir com algumas sugestões práticas” (idem), que de fato
encontramos, são principalmente a respeito das possíveis economias que o leitor poderá
fazer planejando bem a construção e consultando os profissionais adequados.
O projeto para Residência no Jardim Leonor, dos arquitetos Luiz Anhaia Mello e Roger
Zmekhol “foi planejada de acordo com os cânones da boa arquitetura e ‘modus vivendi’
do proprietário” (Residência no Jardim Leonor, 1955, p.6). Podemos, em lugar de boa
arquitetura, entender arquitetura moderna face ao resultado final obtido (fig. 97). Segundo
o texto, “a solução espacial foi obtida levando-se em conta a trilogia: função, estrutura e
forma dentro de uma síntese econômica” (idem). Utilizando elementos modernos, como
os pilotis, a estrutura em concreto e o teto plano. É o primeiro projeto proposto como
modelo que, além do nome dos arquitetos, informa também o nome do proprietário.
Figura 95 – Primeiro projeto publicado como modelo (CASA E JARDIM, 1954, p. 65).
Figura 96 – Croquis para casas econômicas (CASA E JARDIM, 1954, p. 65).
Figura 97 – Projeto para residência (CASA E JARDIM, 1955, p. 6 e 7).
Seguindo nesta linha, o artigo Do Rascunho à Planta Final, afirma que, “em geral, os
clientes apresentam ao arquiteto de sua confiança, rascunhos de como desejam construir
suas casas, indicando também o limite aproximado dos recursos que querem aplicar nas
obras” (Do Rascunho à Planta Final, 1956, p. 2). Tais rascunhos expressam, na maioria
das vezes, idéias extraídas de revistas e opiniões ou sugestões de outras pessoas. Cabe
ao arquiteto compilar tais idéias e, a partir do esboço fornecido pelo cliente, conseguir
auma “distribuição inteligente das peças e sem prejudicar a comodidade da casa, [a partir
da qual] se obterá economia substancial nas obras, eliminando espaços perdidos, ao
mesmo tempo que se simplificará a planta baixa, dando-lhe forma regular” (idem).
Alega que, partindo de um desenho simples e racional da planta, a obra será mais
exeqüível e econômica, e “com uma distribuição harmoniosa dos vãos e dos elementos
arquitetônicos que compõem a casa, essa forma retangular poderá se tornar tão bela e
elegante quanto outras mais complicadas. A elegância de linhas, geralmente, reside na
sua simplicidade e não no seu emaranhado, muitas vezes forçado” (idem). Cita, sem
informar o nome do arquiteto, três exemplos onde, partindo do croqui fornecido pelo
cliente, mostra a planta final e a perspectiva a que se chegou como resultado final.
Descreve com detalhes as modificações realizadas e que melhorias acarretaram para o
projeto. Finaliza o artigo de maneira interessante posicionando-se em relação ao
moderno, valorizando-o como ideal de racionalização embora nem sempre adotando-o
como estilo, conforme veremos no trecho: “é bem de ver que não pretendemos nos
arvorar em mentores unicamente da arquitetura moderna, condenando tudo o que for
antiquado ou tradicional por isso que existem casas antigas, inúmeras até, muito mais
bonitas do que algumas, de um modernismo mal compreendido” (idem) (fig. 98).
A partir do número 32, de janeiro de 1957, é criada a seção Equipe 5 Responde, com o
artigo More Bem na Casa Feita para Você, cujo objetivo seria “resolver sempre que
possível, os problemas da sua residência moderna (SILVA, 1957, p. 4). Formada pelos
arquitetos A. Grostein, G. Himmelstein, J. O. Silva (assessor técnico, que assina o texto,
espécie de memorial descritivo do projeto), L. A. Teixeira Leite e M.N. Lima (fig. 99), a
equipe pretende atender aos leitores que tiverem dúvidas sobre sua futura casa, projeto
ou decoração, através dos exemplos publicados, que constituem “soluções adaptáveis a
seu caso particular”, incentivando-os a colecionar as diversas plantas publicadas,
classificadas segundo o tipo de proposta apresentada. Justifica a criação da seção pelo
grande número de “cartas enviadas pedindo orientação sobre problemas de projeto para
residências modernas” (idem).
O primeiro projeto publicado buscou atender ao maior número de solicitações dos
leitores, para tal, apresentando uma residência de um pavimento para um terreno de 10m
x 30m “comumente encontrado em loteamentos comerciais” (idem) e a família para a qual
foi idealizada é composta pelo casal e dois filhos. No âmbito da discussão sobre o
projeto, afirma que “na realização da residência moderna, o problema mais complicado é
o do terreno, tanto pelas más condições topográficas como de orientação e de
localização urbana (idem). Mostra uma planta baixa e perspectiva, além de um pequeno
texto descritivo (100).
Figura 98 – Projeto para residência (CASA E JARDIM, 1956, p. 2 e 3).
Figura 99 – Equipe 5 (CASA E JARDIM, 1957, p. 4).
À medida que apresenta o projeto, o texto associa ao moderno determinadas qualidades,
como a preocupação com a insolação e o bom aproveitamento do terreno, além da busca
por um “ambiente espiritual mais acolhedor, sem prejuízo das três primordiais funções da
casa: habitação, recepção e serviço, conseguindo-se, assim, aproveitamento total, sem
áreas perdidas” (idem). É interessante verificarmos que a questão do planejamento é
também valorizada como característica da arquitetura moderna, juntamente com a
procura pela melhor distribuição dos espaços e a possibilidade de previsão de futuras
ampliações, caso seja necessário.
No número seguinte, é publicado o segundo projeto da Equipe 5, para uma residência de
dois pavimentos, a que chama de sobrado, no mesmo terreno-padrão de 10 x 30 m.
Apresenta o mesmo tipo de diagramação das páginas e as mesmas informações: plantas
baixas, perspectiva da fachada (fig.101). Alguns números depois, ainda em 1957, a
seção mostra um projeto para um terreno com inclinação acentuada, muito comum nos
loteamentos mais distantes o centro, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo.
Segundo o texto, o axioma função segue a forma’ nos impõe a adequação da casa ao
ambiente” (SILVA, 1957c, p. 06). Logo, ao adaptar a casa à inclinação do terreno, são
evitados os movimentos de terra, reduzindo custos. O terreno apresentado possui agora
dimensões um pouco maiores, 14 x 30 m, o que permite a construção separada das
divisas, afirmando que a residência, com pequenas alterações nos afastamentos laterais,
poderá ser construída num lote de apenas 12 m de frente.
Outro artigo que discorre sobre as possibilidades da construção fora dos lotes planos, é o
de Rachel Prochnik, que faz alguns comentários sobre os terrenos em declive. Explicita
ao leitor que um terreno inclinado não é necessariamente pior que um lote plano, e que o
bom resultado depende de um projeto bem estudado. Tece, ainda, algumas
considerações práticas, com croquis ilustrando as informações, principalmente acerca da
melhor utilização da garagem ou do aproveitamento interno os desníveis obtidos.
Um projeto publicado que discute claramente a questão do moderno é o artigo Casas
Modernas, de 1957. Segundo ele, “a arquitetura moderna é, antes de mais nada,
funcional. Sendo funcional, deve alcançar elementos imprescindíveis: comodidade,
estética e, mesmo, economia. Por isso, esquece a arquitetura moderna os arabescos
sem fim, que fantasiavam as fachada de nossas casas, alguns decênios” (MELILLO,
1957, p. 32). São publicadas duas casas que, segundo o texto “apresentam uma
disposição funcional e moderna” (idem). Os desenhos que ilustram o artigo são pobres
em detalhes, assim como as perspectivas, e notamos a ausência de informações sobre
as dimensões, sem cotas ou escala gráfica, e nem a representação do terreno, sugerindo
a possibilidade de ser colocada sob várias posições, em diversos tipos de terrenos,
inclusive de esquina. No entanto, não fornece suas dimensões mínimas nem se preocupa
com a orientação. Aborda também a possibilidade, como estaria ocorrendo em São
Paulo, da construção de várias destas pequenas casas em um terreno de grandes
dimensões.
O artigo da Equipe 5, de julho de 1957, apresenta uma casa de campo, construída em
terreno privilegiado, permitindo sua expansão em todas as direções. Admite não ser uma
casa econômica, acessível à grande maioria das pessoas, mas se propõe a ser um
conjunto de sugestões úteis para os leitores aplicarem isoladamente em seus projetos.
No entanto, este tipo de projeto não é tão freqüente, e os mais publicados são, sem
dúvida, os que interessam ao leitor, com terrenos de tamanhos acessíveis, para que eles
possam realmente aplicar as soluções indicadas. Diversos artigos vão utilizar como base
para o projeto lotes-padrão de 10x 30 m, embora alguns ofereçam soluções para áreas
ainda menores, como o do texto Menor terreno maior problema, que mostra um projeto
de um sobrado para um lote de 7 x 23 m.
Em março de 1958, a seção passa a se chamar Conselho C&J, agora assinada pelos
arquitetos A. Gronstein, M.N. Lima e G. Himmelstein e patrocinada pelos Móveis
Teperman.
57
Ainda abordando o problema dos terrenos estreitos, o artigo de maio de
1958 oferece uma sugestão econômica para o maior aproveitamento de um terreno de
5,10 x 40 m, com a construção de um prédio de apartamentos monobloco horizontal
formado por três unidades duplex. Aborda detalhes interessantes, como a largura a ser
utilizada na escada e a opção por unidades duplex, permitindo a eliminação de
corredores e áreas inúteis. Como em exemplo anterior, onde uma pequena casa poderia
se repetidamente arranjada num terreno de dimensões maiores, este também favorece a
construção de vários apartamentos que poderiam servir como casa para renda,
representando, assim, também um tipo de investimento.
Figura 100 (esquerda) – Projeto para casa térrea (CASA E JARDIM, 1957, p. 5).
Figura 101 – Projeto para sobrado (CASA E JARDIM, 1957b, p. 7).
2.2.2.3. Características do interior moderno
A preocupação com a decoração e com o bom funcionamento dos espaços da casa se
reflete na grande quantidade de artigos sobre o planejamento dos interiores que mostram
espaços, discutem o uso de cores e os tipos de móveis que melhor combinam entre si.
Estes artigos fornecem informações que caracterizam os interiores modernos, compondo
57
A partir de 1959, a seção passa a ser assinada por G. Luckmann, mas mantendo a mesma linha.
um panorama que mostra ao leitor como aproveitar suas qualidades, incorporando-as de
maneira a modernizar seus ambientes.
O artigo que melhor define a decoração moderna, publicado em 1959, afirma não ser ela
propriamente um estilo, mas sim “um modo de pensar, uma concepção de vida”
(VILLELA, 1959, p. 9) que reflete o modo der ser e as necessidades e anseios da época.
Atribui ao vocábulo decorar o sentido de organizar o ambiente, de maneira a atender às
necessidades de seus futuros habitantes, observando aspectos como funcionalidade,
equilíbrio, proporção e harmonia. Segundo o texto, na concepção moderna, também
chamada de funcional ou orgânica, o objeto é planejado e sua forma definida com o
objetivo primordial de atender às suas funções.
Por serem os móveis os principais componentes do interior moderno, são freqüentes os
artigos sobre eles em que são valorizadas as linhas modernas. O primeiro destes a
abordar o assunto, escrito por Peter Bruck, define claramente o que seria o estilo
“moderno contemporâneo” (BRUCK, 1953, p. 16), caracterizado pela busca da perfeita
combinação entre estrutura, plástica e estética. Segundo ele, “a estrutura dos móveis
modificou-se radicalmente, até encontrar as linhas puras e simples, (...) livre dos
ornamentalismos” (idem), tornando-se um resultado das necessidades atuais e refletindo
uma nova estética, condizente com a sociedade atual e fruto dos avanços da tecnologia
industrial. Aborda, ainda, a questão da funcionalidade, associando-a ao reconhecimento
do verdadeiro sentido da casa, dos móveis, dos objetos: a forma deve obedecer à
função e mais ainda a forma e a função são uma (idem, p. 17). A respeito desta
nova linguagem, cita:
A plástica do móvel moderno pode ser de uma harmonia incomparável. O
desenvolvimento das madeiras compensadas, laminadas nas mais várias
formas e das estruturas tubulares de ferro e aço, permite criar uma plástica
levíssima, quase etérea, baseando-se não mais no volume da matéria, mas
na tensão da mesma. Tensão: eis a chave para as estruturas modernas.
Seja na arquitetura, seja na decoração dos interiores, ambas intimamente
ligadas, a aplicação deste princípio é a base de todo o edifício, de todo o
móvel moderno (idem, p. 18).
Ainda tratando dos móveis, o artigo Os Móveis e o Modernismo reforça a sua libertação
em relação aos cânones clássicos, abolindo os detalhes artificiais de maneira a melhor
assimilar os materiais e as conquistas industriais da época. Fala do modernismo não
como uma simples modificação de estilo, mas como uma nova interpretação artística,
com características próprias, em que se mais realce ao espírito que à habilidade
manual” (MOURA, 1953, p. 39). Segundo ele, ainda:
A arte dos móveis do século XX toma suas novas formas de expressão da
arquitetura, subordinando sua estrutura às necessidades da vida moderna.
Sua prática estética se traduz no chamado modernismo, que instrui a
técnica atual à base de novas concepções do equilíbrio, da proporção e do
movimento das massas (idem, p. 38).
Mostra fotografias de diferentes tipos de mesas, identificando-as como modernas ao
leitor, por seu alto valor funcional e suas linhas que não prejudicam a harmonia do
conjunto (fig. 102). Fala também da importância da originalidade, que deve vir
subordinada às regras de estabilidade, de adequação ao uso e à proporção humana, a
fim de que o todo alie o belo ao útil” (idem, p.116). Aurélio Hedvig, ao falar sobre o Lar
Funcional, esclarece que conforme o conceito moderno, a casa, o apartamento, servem,
em primeiro lugar, de moradia; são feitos para constituir o lar” (HEDVIG, 1953, p. 23) e
devem atender às necessidades dos futuros moradores. Para tal, deve o arquiteto ou
decorador verificar, estudar e conhecer os hábitos, os costumes e o modo de viver dos
mesmos, aprendendo o que será funcional para eles.
Figura 102 – Artigo Os Móveis e o Modernismo (CASA E JARDIM, 1953, p. 38-39).
O artigo de Olga Meraviglia, O que Entendemos por um Interior Poético, define bem a
decoração moderna e afirma que a harmonia do lar é responsável também pelo
temperamento e pelos sentimentos dos moradores, devendo refletir aspectos de sua
personalidade e fazer parte da sua vida:
É verdade que admiramos o novo método de construção e decoração e não
gostaríamos de mudar seu aspecto sadio, higiênico e bonito. Estamos
satisfeitos com as grandes salas arejadas, decoradas com móveis
atraentes, delicadas e leves cortinas, em cores harmonizantes com todo o
interior, suas largas janelas ensolaradas, terraços espaçosos, emoldurados
com plantas verdes (MERAVIGLIA, 1956, p. 39)
Ainda definindo o ambiente moderno, o artigo de Alexander Franca apresenta um a
decoração de um apartamento, onde se conseguiu um “grande luxo moderno” (FRANCA,
1956c, p.14). Este luxo, a que se refere, estaria associado ao conforto, favorecido pelas
linhas harmoniosas e pelo estilo simples e estético dos móveis e objetos, oferecendo o
conforto não ao corpo, mas também ao espírito. “Assim é que assoalhos, tetos,
janelas e até mesmo os efeitos da iluminação realçam esta sobriedade” (idem, p. 16).
O contaste entre o novo e o antigo também é recorrente, como acontece quando se trata
da arquitetura, e os artigos que mostram esta discussão sobre o estilo aplicado aos
interiores definem o que se deve ser levado em consideração na sua escolha. Alguns
textos, como Pode o Antigo Harmonizar-se com o Novo?, de Alexander Franca,
defendem a possibilidade de se mesclar, num mesmo ambiente, peças de desenho
moderno e móveis antigos. De acordo com eles, “objetos valiosos nunca se chocarão
com o moderno, uma vez que possuem uma existência sem fim e nunca o moderno se
chocará com o antigo desde que ele, em sua linha, forma e cor, um aspecto
harmonioso” (FRANCA, 1956, p. 63). o artigo sem autor Como Desenvolver o Senso
Crítico do Estilo, abordando mais especificamente a questão, fornece uma definição não
muito precisa do que este seria, levantando questões filosóficas em que considera o
estilo como a alma da obra, que regeria a combinação entre seus diversos elementos,
num discurso contrário do que veremos a seguir, quando os artigos são didáticos e
mostram as características de cada estilo e as possibilidades de combinação entre eles,
com abundância de fotografias ilustrativas. Segundo ele,
O estilo é aquela forma que expressa o caráter inato do objeto. É o resultado
total de muitos elementos reunidos em conjunto. É a forma tomada por todas
as inerentes características do objeto. É a expressão de todas estas
características: o material, a fabricação, as cores, o desenho, a elevação, a
execução. Estilo é o resultado da integração prefeita de todas elas. O
princípio, trabalhando numa situação particular, desenvolve a forma distintiva
que é o estilo (Como Desenvolver o Senso Crítico do Estilo, 1956, p. 6).
Aparecem também artigos contrapondo estilos de épocas diferentes, com o mesmo tipo
de ambiente em duas versões diferentes, a moderna e a antiga (fig. 103). Sobre o interior
moderno, sugere que suas superfícies são grandes e calmas, criando um fundo
adequado aos móveis e objetos de arte, em oposição aos excessos decorativos dos
interiores antigos. Trata a escolha pelo passado como uma questão de gosto, mostrando
como “a arte moderna provou que o antigo e o moderno são compatíveis e podem ser
muito bem casados apara compor interiores de classe, luminosos, onde cada móvel,
cada objeto, adquire seu valor” (B., 1957, p. 27).
Sobre a questão do gosto, o artigo O Que Resiste às Vicissitudes dos Tempos?, de
Huberto Schoenfeldt, define: “Se quisermos discutir o que é bom gosto, acabaremos
numa controvérsia acalorada, sem, entretanto, chegarmos a uma solução satisfatória”
(SCHOENFELDT, 1957, p. 35). Considera, ainda, os estilos consagrados clássicos como
indiscutíveis por sua importância no passado, enquanto valoriza o moderno aplicado à
decoração, que segundo ele, “tem sua expressão mais alta nas criações da ‘Bauhaus’,
nos móveis desenhados por projetistas italianos, suecos, finlandeses” (idem, p.36).
Também aborda a questão da convivência, num mesmo ambiente, de peças modernas e
de épocas passadas, justificando que “o móvel moderno, que felizmente se casa com um
ou outro objeto de valor antigo, constitui-se de peças bem equilibradas e dimensionadas,
pelo valor do material aplicado” (idem, p. 38).
Finaliza ensinando o leitor a testar aquilo que é de bom ou mau gosto, observando, após
viver algum tempo num ambiente, que peças começam a parecer desinteressantes.
Afirma, ainda, que cabe aos decoradores instruir o público, mostrando-lhe como
diferenciar um móvel original de sua imitação ou falsificação, tão mais comuns devido à
simplicidade e funcionalidade das linhas e ao desenvolvimento da tecnologia industrial.
O artigo Qual dos Estilos, sem autor, fornece uma abordagem bastante didática sobre o
assunto, mostrando os fatores que condicionam a escolha do estilo a partir do qual será
realizada a decoração. Fala da importância do gosto pessoal, uma vez que a casa deve
atender às necessidades de seus moradores, do nível cultural, que definirá o programa
da residência e da questão financeira, apresentando um quadro onde compara dois
ambientes de diferentes inspirações. O primeiro é caracterizado como moderno ou
funcional, enquanto o segundo aparece como antigo, “estilo do vovô” (Qual dos Estilos,
1959, p. 28), não de maneira pejorativa, visto que ambos os espaços são valorizados nos
textos das legendas por suas qualidades, independente do estilo (fig. 104).
Figura103 – Quatro tipos de salas, duas modernas e duas em estilo tradicional
(CASA E JARDIM, 1957, p. 30-31).
Figura 104 – Comparação entre os estilos
(CASA E JARDIM, 1959, p. 28-29).
O moderno também aparecerá na revista como ligado ao futuro, às novas descobertas e
tecnologias. Novos aparelhos surgem para facilitar a vida doméstica e a casa deve se
adaptar a eles. Começam então a surgir artigos mostrando qual a melhor maneira de
posicionar a TV ou como criar móveis para os novíssimos aparelhos de alta fidelidade,
cada vez mais freqüentes, assim como outros mostrando adaptações em banheiros,
áreas de serviço e cozinhas graças às novas instalações e materiais de revestimento,
criando um ambiente mais bonito e higiênico.
De acordo o artigo A Cozinha do Futuro, “nos dias de hoje, em que o poder do homem é
sempre crescente, o aperfeiçoamento moderno torna-se resposta ao futuro. Os soldados
se substituem por projéteis dirigidos, trocam-se os operários pelo automatismo, e os
criados pelas inovações na cozinha” (BRANDON, 1959, p. 22). Fala dos aparelhos em
uso pelas donas de casa, como refrigerador, congelador, triturador de alimentos, lava-
pratos e das novidades tecnológicas então em desenvolvimento, como o forno
microondas, capaz de diminuir consideravelmente o tempo de cozimento dos alimentos.
Faz especulações sobre o funcionamento da cozinha no futuro, com portas de armários e
gavetas acionados pelo toque de botões, aparelhos completamente automáticos, pratos e
copos descartáveis e alimentos pré-cozidos ou congelados, associando o moderno à
questão da facilidade, logicamente aliada ao conforto, e às tecnologias que possibilitam
que as máquinas façam o trabalho para o homem.
Dentre os artigos que mostram espaços decorados por arquitetos, os que aparecem em
maior número ao os destinados a pequenos espaços. Seu discurso aponta o problema
dos novos apartamentos construídos, na sua maioria de tamanho diminuto, os quais
assemelha a caixas de fósforo. Estes, embora apresentem inconvenientes, também
podem dar origem a espaços adequados, agradáveis e práticos, mediante um
planejamento prévio, às necessidades de seus moradores. Destacamos aqui o artigo
assinado por Yvonne Jean, onde apresenta um pequeno apartamento que, ao ser
decorado corretamente, fornece a sensação de um espaço antes inexistente. Segundo a
autora, “o aparente milagre se explica pela criação de novos planos, artificiais, e uma
combinação de cores que rebaixam os tetos, afastam as paredes e aproximam as
janelas” (JEAN, 1956, p. 34), transformando o espaço de pequenos corredores e salas
escuras e altas em um ambiente “simpático e moderno”, dotado de “aconchego, equilíbrio
e harmonia” (idem) (fig. 105).
Além de decorações executadas, que fornecem exemplos concretos de como o bom
uso dos elementos modernos pode transformar os espaços existentes, tão exíguos nas
grandes cidades, também apresentam projetos para interior, publicados na seção Equipe
5 Responde, onde são discutidas as diretrizes norteadoras dos projetos. O artigo Criar
Ambientes é Decorar o Interior, de 1957, por exemplo, fala do desenvolvimento industrial,
responsável por profundas modificações na vida humana, com a imposição de novos
valores, como economia e integração. Mostra esquemas para um melhor aproveitamento
dos espaços, conseguido por meio de um planejamento funcional do mobiliário,
valorizando “não mais elementos isolados e sim o elemento no conjunto, em suas
relações com o espaço” (SILVA, 1956e, p. 2) (fig. 106).
No número seguinte, entretanto, a mesma seção apresenta a sugestão para a decoração
de um grande salão, que deveria atender às funções de sala de estar, de música e jardim
de inverno. Segundo o texto, “a premissa que orientou o projeto foi a de deixar, o mais
possível, espaços livres dentro da arquitetura” (SILVA, 1956f, p. 39), evitando-se o
excesso de móveis. Afirma, ainda, a preocupação em “criar ambientes capazes de causar
emoções, do ponto de vista estético, para o homem moderno de vida atribulada, que
necessita ao chegar em sua moradia, ambiente confortador e espiritual que o faça
esquecer os dissabores freqüentes da vida hodierna” (idem). Este ambiente necessário
ao bem-estar seria conseguido não por meio de um planejamento funcional, mas
também pela arte, com o uso correto das cores e dos objetos. Finaliza o artigo
considerando que “as vegetações devem aparecer com constância, em vasos artísticos
ou em jardineiras, a fim de levar o homem de hoje ao contato com a natureza” (idem),
contato este bastante valorizado pelos arquitetos, como maneira de se conseguir
melhores condições de vida.
Figura 105 – Exemplo de interior moderno
(JEAN, 1956, p. 34).
Figura 106 – Esquemas mostrando o aproveitamento
do espaço (SILVA, 1956e, p. 2).
2.2.2.4. O jardim como complemento do lar
Vimos que, dentre as características que a revista associa ao moderno, seja na
arquitetura ou nos interiores, é de grande importância a integração da casa e do homem
com o espaço circundante, a natureza. O jardim surge, desta maneira, como um
complemento da casa, um refúgio onde as famílias podem descansar e contemplá-la. No
entanto, as dificuldades de se conseguir bons terrenos ou mesmo a necessidade de se
morar em apartamentos acaba por afastar o homem deste contato que lhe é tão benéfico.
Os arranha-céus, com seus apartamentos na parte central das grandes
metrópoles, fazem que os moradores, ali, sejam forçados a viver
constantemente afastados da natureza. Falta-lhes também, em geral, o
tempo necessário para cuidar de uma ou outra planta de adorno, que
poderia dar um toque de beleza no interior (FRANCA, 1956b, p. 31).
Segundo o texto, a vida moderna impede que grande quantidade de pessoas possa
desfrutar de um local de repouso. No entanto, fala às “famílias felizes” que, com sua casa
situada num terreno que possibilite a criação de jardins, devem, da mesma forma, cultivar
nas crianças o prazer de cuidar deles, sendo muito constantes os artigos abordando
questões sobre o paisagismo, técnicas de jardinagem, cuidados com as flores ou a horta,
bem como tipos de árvores que se adaptam aos mais variados climas (fig 107).
Figura 107 – Artigo valorizando os diferentes tipos de
jardins (A Vida em Flor, 1956, p. 50-51).
Em cada número, artigos específicos sobre uma determinada espécie de planta são
publicados, mostrando suas variações, características e como obter um melhor
crescimento e beleza. A favorita, como visto, é a rosa, que aparece logo no primeiro
número e repetidas vezes ao longos dos seguintes, junto de outras flores, como
crisântemos, begônias e orquídeas, entre outras, fornecendo as informações técnicas
necessárias ao seu cultivo. Usa uma linguagem mais específica, como que falando a um
público mais direcionado que, dispondo do espaço necessário, possa melhorar seus
jardins ajudando, assim, no embelezamento dos bairros e cidades (fig. 108). Para as
pessoas que não habitam em casas, e sim em apartamentos, são também selecionados
tipos de plantas que podem ser facilmente sobreviver em pequenos espaços. Como
exemplo, o artigo Plantas próprias para apartamentos fala do problema da falta de
contato do homem com a natureza, causada pelas habitações coletivas construídas em
altura, e sugere que algumas variedades de plantas suportam a viver com pouca
quantidade de luz, ar ou água, apresentando-as ao leitor que mora em prédios de
apartamento. Artigos deste tipo são freqüentes e valorizam espécies como o
Philodendron, também apreciado pelos paisagistas modernos, capazes de permanecer
por longo tempo no interior da residência.
Artigos que abordam especificamente o paisagismo moderno, conferindo-lhe
características próprias, como acontece com os interiores e a arquitetura, são bem
menos abundantes que os textos que ensinam, de maneira prática e ilustrada, como
obter o máximo do jardim, com plantas saudáveis e bonitas (fig.109). Teremos
reportagens que, ao apresentar uma residência de características modernas, estudam
também seu paisagismo, mostrando-o como continuidade dos espaços da arquitetura, ou
outros em que é valorizado o paisagista, profissão que surge como complementar
à do arquiteto.
A harmonia entre a arquitetura da residência e o caráter do jardim é valorizado, sendo
este tratado como um compartimento ao ar livre, sem no entanto ganhar o adjetivo
moderno. Suas principais funções são, a partir de elementos da natureza e outros criados
pelo homem, fornecer ao habitante a sensação de repouso, tranqüilidade e recreação,
provocando-lhe uma exaltação constante, uma verdadeira festa para os olhos e descanso
para o espírito” (CARRARI, 01956, p. 48). Um outro artigo ilustra tais funções usando as
legendas para sentar”, “para andar” e “para descansar” (Reflexões sobre um Jardim,
1956, p. 64-65), nas fotografias do jardim do sr. Zimon Leisner, reformado e modernizado
por Roberto Coelho Cardozo (fig.110). Fala da colaboração entre arquiteto e paisagista,
conseguindo um resultado que aliou construção e natureza. “Jardins que, como
verdadeiras obras de arte, resultam de trabalhos bem pensados, estudados e
primorosamente executados” (idem, p. 66).
Também alguns artigos falam dos materiais a serem aplicados de maneira a conseguir
melhores resultados em muros, cercas, equipamentos como bancos e pérgulas ou
pavimentação de pisos. O texto assinado por Rachel Prochnik, de 1957, fala dos jardins
cada vez mais construídos e menos naturais, oriundos da necessidade crescente de
aproveitamento do espaço, onde a vegetação constitui o principal fator de composição e
seu emprego serve para criar espaços e delimitar funções, contrastando com diferentes
materiais como madeira, tijolo, pedra, ferro e vidro. Fornece exemplos de jardins
projetados pelos paisagistas americanos Garret Ekbo, Reysten e Williams, que
apresentam tais elementos e refletem a preocupação com os ambientes a criar (fig 111).
A idéia de moderno aparece também no artigo que mostra alguns jardins idealizados por
Burle Marx, que, assim como outros, valoriza o trabalho do paisagista e a necessidade
sua relação com o arquiteto. Não utiliza o termo moderno, mas cita obras como os
jardins do Ministério da Educação, do aeroporto Santos Dumont e da praia de Botafogo,
ligando seu nome à renovação ocorrida “no último quarto de século, na arquitetura
paisagística, como resultado da procura consciente, iniciada mais de vinte anos atrás,
de um estilo que satisfizesse ás necessidades contemporâneas” (PROCHNIK, 1955, p.
44), a partir da cuidadosa seleção de certos elementos da natureza, proporcionando
repouso, tranqüilidade, recreação. Cita o próprio Burle Marx para falar sobre as
características de sua obra, que seriam “o uso de plantas nativas; a integração de plantas
e canteiros com a paisagem; o contraste e a inter-relação de volumes menores e maiores
em movimentos com as formas arquitetônicas fixas” (idem, p. 74). Justifica o uso das
plantas nativas segundo o critério racional, por terem elas melhores condições de
sobrevivência e desenvolvimento mediante as condições locais, não excluindo a
possibilidade de utilizar plantas importadas capazes de se adequar ao clima e entrar em
harmonia com a paisagem (fig. 112).
Figura 108 – Informações sobre o plantio de rosas (CASA E JARDIM, 1953, p. 44).
Figura 109 – Criando condições ideais para o jardim (SILVA, 1956e, p. 2).
Figura 110 – Exemplo de jardim modernizado (CASA E JARDIM, 1956, p. 65-66).
Figura 111 – Jardins de Ekbo, Reysten e Williams,
da Califórnia (PROCHNIK, 1957, p. 53-54).
O artigo O Paisagista é Importante, mostra a tentativa de se valorizar este profissional,
visto que a maioria das pessoas na época ainda considera desnecessário consultar um
técnico para o projeto do exterior. O arquiteto-paisagista é, no entretanto, indispensável,
segundo o texto, pois estuda as particularidades de cada cliente ou família e adapta a
elas o jardim, que se transforma num “complemento de salubridade e beleza” da casa
(MERAVIGLIA, 1955b, p. 78). Cita a adaptação do jardim às linhas modernas da casa, as
quais acompanha suavemente, ilustrando-o com fotos e maquete (fig 113).
Diferentemente dos outros assuntos tratados pela revista, o paisagismo não é associado
diretamente ao moderno, como os interiores ou a arquitetura das residências. Os artigos
apresentados não fornecem as características de um jardim moderno nem tampouco
confronta diversos estilos, discutindo seus aspectos formais e apenas considerando sua
importância à medida que proporciona melhores condições de vida ao leitor. Raros são
os artigos que associam o paisagismo à arquitetura moderna, funcionando como
coadjuvante desta. Eles refletem, no entanto, a preocupação em cultivar no leitor um
interesse por cuidar das áreas verdes que cercam sua casa, de maneira a criar espaços
salubres e belos, sendo direcionados a um público ligeiramente mais específico, que
domina um certo tipo de vocabulário e compreende alguns conceitos, não tão acessíveis
a um público totalmente leigo.
Figura 112 – Jardins de Burle Marx (PROCHNIK, 1955, p. 44-45).
Figura 113 – Importância do paisagista (MERAVIGLIA, 1955b, p. 48-49).
3. Conclusão
Como visto, o trabalho realizado pretendeu lançar um olhar sobre a revista Casa e
Jardim, mais precisamente no tocante à divulgação do ideário moderno às camadas
médias da sociedade. Pretendeu-se que a primeira parte fornecesse informações ao
leitor sobre as condições do surgimento da revista e suas características e
desenvolvimento, enquanto na segunda seriam verificados os textos e imagens
veiculadas, mostrando as principais características do termo moderno nas várias
concepções transmitidas.
Pudemos entender que o discurso da revista se mostrou apoiado num contexto bastante
particular, caracterizado pelo governo JK, onde a atmosfera de progresso e
desenvolvimento impulsionou a divulgação das realizações dos brasileiros, dentre as
quais a arquitetura que, atingindo seu apogeu, deixa de interessar apenas às elites,
sendo buscada por novas parcelas da população. Neste momento, a publicação se
aproveita desta atmosfera gerada pelo ambiente cultural da época, lançando-se e
abrangendo toda a família, desta maneira representando uma economia, por mesclar
assuntos femininos e masculinos em torno de um tema comum a ambos, a casa. Este foi,
sem dúvida, um fator para o grande sucesso por ela alcançado, uma vez que atingiu a
todos os leitores de uma mesma residência, evitando-se que cada um adquirisse uma
publicação específica para si.
Podemos considerar como pano de fundo para a criação da revista a preocupação com a
elevação do nível cultural dos vários segmentos da classe média através da divulgação
das grandes realizações nos campos da arquitetura e artes. Para ela, de uma maneira
geral, o moderno estaria associado ao progresso e ao bem-estar, sendo a sociedade
moderna incentivadora da cultura, preocupando-se com a formação do leitor,
incentivando-o, inclusive, ao consumo inteligente de livros e música.
Por fornecer textos bem escritos e bastante didáticos, ela incentiva o leitor a agir,
transformando sua própria realidade e incorporando os benefícios oriundos da
industrialização e as novas descobertas tecnológicas ao seu dia-a-dia. O modo de vida
moderno, dentro deste aspecto, aparece como a solução para um futuro que teria
começado, devendo ser implantada de imediato, para que atingisse rapidamente toda a
população, melhorando suas condições de vida. Isto pode ser claramente percebido nos
artigos que tratam das casas, observando-se suas possibilidades construtivas e
mostrando ao leitor como utilizá-las, associando freqüentemente o bom estado de
conservação das residências ao bom nível cultural de seus moradores. São fornecidos
modelos, onde materiais padronizados possibilitam uma maior economia, que visam a
atender a demanda de solicitações por projetos acessíveis aos terrenos de pequeno
tamanho, disponíveis a uma parcela da população que pode construir, mas ainda não se
sente em condições de contratar um arquiteto.
À medida que expõe ao leitor diversos e diferentes exemplos caracterizados como
modernos, ou representantes da “arquitetura contemporânea” ou da “nova arquitetura”,
que exibem tetos planos, ausência de ornamentos e simplicidade nas formas, o discurso
também tece considerações sobre a família moderna e suas relações com o lar, e de que
maneira aquela arquitetura e aquele modo de vida caberiam a ela. A intenção é que o
leitor se identifique com o modelo proposto e aceite as sugestões, e a revista estaria,
assim, contribuindo para o embelezamento e modernização das cidades, seguindo a
lógica do funcionalismo e mostrando em tom pedagógico a postura necessária para a
adaptação da população aos novos tempos.
Ao mesmo tempo, porém, que demonstra objetivos bastante claros e definidos, o
discurso da revista também se mostra flexível, aceitando outras manifestações diferentes
das modernas, como maneira de não segregar os diversos tipos de leitores, englobando
um público cada vez maior. Por este motivo ela pôde, através do sucesso de vendas que
obteve, superar as grandes dificuldades sofridas pela imprensa na época, como os
problemas com o fornecimento das matérias-primas importadas, principalmente o papel
para a impressão, fato que prejudicou inúmeros jornais e revistas de pequeno porte,
levando-os à extinção.
O espírito conservador do editor, não obstante o discurso modernizador da revista,
acabou por permitir apenas as adaptações necessárias referentes a formato e conteúdo,
visando a manter-se atualizada, atraindo novos anunciantes e mantendo os existentes.
Desta forma, não são notadas modificações significativas na publicação ao longo do
tempo. Percebemos que se inicia com um caráter notadamente experimental nos
primeiros números (resenhas e artigos sem a indicação do autor), mostrando um maior
aprofundamento teórico ao longo do tempo. Rachel Sisson, colaboradora, via o processo
de produção da revista como algo descontraído, onde o jornalista gozava de total
liberdade na escolha dos temas que abordaria, desde que respeitasse o nível de
informação do público para o qual se destinavam os artigos escritos. Mais que se vender,
entendemos que a revista desejava prestar um serviço, dotando o leitor de informações
relevantes na adaptação de seu modo de vida às necessidades da sociedade. As
diferenças encontradas nas abordagens devem-se a esta liberdade concedida aos
colaboradores, refletindo-se nos diversos níveis de aprofundamento alcançados pelos
vários artigos, de acordo com o entendimento do autor sobre o que seria bem recebido e
aceito pelo leitor, e que linguagem deveria utilizar para transmitir a informação.
No geral, a revista aborda a arquitetura como um assunto que desperta interesse também
no leigo, adaptando temas específicos a uma linguagem mais acessível, simples e direta,
e adequando seu discurso ao entendimento por parte deste público, por quem foi
amplamente aceito. Ela é vista como transformadora da vida humana, capacitada para
dotá-la da comodidade e conforto oferecidos pela modernidade, criando uma estética
adequada aos novos tempos, assim como o espírito moderno seria responsável pela
adaptação tecnológica, melhorando as condições de vida. Percebemos, ainda, uma
pretensão de cientificidade da arquitetura, onde grande importância é concedida ao
estudo e planejamento, com a análise e a consulta a dados técnicos, também nas
pequenas construções residenciais, de maneira a perderem seu caráter artesanal, e não
apenas com aplicações em grandes projetos.
As capas refletem a intenção de se atingir os diversos tipos de leitores, alternando na
grande maioria das vezes, imagens e símbolos, quando não deste novo, da família que
deve se preocupar em buscá-lo, fornecendo modelos ideais. Sua análise serviu para
identificar os padrões ou cenários considerados pela revista como passíveis de incentivar
os leitores a adquiri-la, cuja preocupação inicial era refletir os temas abordados no
conteúdo, mostrando uma maneira de morar almejada pelas classes médias urbanas e
cristalizada como um modo de vida sofisticado e prático, ao mesmo tempo que funcional
e higiênico. Elas passeiam por diversas linguagens caracterizadas como representantes
da arquitetura moderna, onde podemos verificar forte influência de modelos importados,
até chegar a exemplos mais emblemáticos de importantes arquitetos brasileiros.
As resenhas, como principal meio de valorização da linguagem e das características
modernas, eram dotadas de maior quantidade de imagens que dados técnicos e, à
medida que a revista ganha corpo e importância, vemos um aumento crescente da
participação de arquitetos conceituados, que aceitam que seus projetos sejam
publicados, entendendo a revista como uma forma de autopromoção e estreitamento das
relações com seus clientes em potencial. Nas discussões sobre a arquitetura como objeto
formal, o termo moderno aparece fornecendo diretrizes para a construção, discutindo sua
utilização como estilo, ou seja, linguagem, em oposição a outras possíveis, aceitas
também, mas sob determinadas situações ou condições.
Assume, ainda, a forma de conforto e bem-estar; funcionalidade; simplicidade de formas,
com ausência de ornamentos; integração com a paisagem; tecnologia construtiva
avançada; estrutura independente possibilitando grandes vãos; coberturas em lajes
planas, por vezes inclinadas; bom aproveitamento da insolação e ventilação, com a
constante preocupação com a orientação do projeto no terreno; elementos formais como
pilotis, marquises, arcos e acabamentos em mosaico de vidro, painéis de azulejos,
cerâmica ou pedra, combinados habilmente e dando às fachadas diversas cores. Nem
sempre essas características são ressaltadas como representantes de um estilo ou
linguagem moderna, mas sim pela sua qualidade, valorizando-as ora pela beleza e arrojo
das formas, ora pela simplicidade e sofisticação.
O lar moderno é prático, limpo e higiênico, ao mesmo tempo que econômico, caloroso e
sofisticado, dotado da segurança necessária e com boas relações com o entorno,
dialogando com a natureza e formando o conceito de vizinhança, tão valorizado pelo
ambiente de cooperação e solidariedade que podem proporcionar. Alguns artigos tentam
preparar o leitor para a vida atual da época, tecnológica, industrial e consumista,
adaptando-se a ela e usufruindo seus benefícios. A arquitetura moderna aparece como o
cenário onde se desenvolve este comportamento moderno, deixando de pertencer
apenas à elite, podendo agora auxiliar os proprietários da classe média e a revista mostra
isso estabelecendo que os custos com o profissional são compensados com a economia
por ele proporcionada, além de serem as suas criações sempre originais, com escala
correta, proporção, equilíbrio, harmonia.
nos interiores, questões como o conforto, a funcionalidade, a higiene e a busca por
uma estética condizente com o momento são buscadas através do uso de linguagem
moderna, que possibilita equilíbrio, proporção e harmonia de cores. Busca ensinar o leitor
a cultivar e lapidar seu gosto, identificando o que é bom ou ruim nos interiores de acordo
com sua própria percepção e fornece informações de decoradores mostrando como
detectar falsificações. Os demais artigos servem como aplicação de novos conceitos e
soluções práticas para a vida dos leitores. Além destes, ganham importância ao longo do
tempo os artigos que abordam temas como segurança e conforto, os artigos chamados
de utilidade pública, e os sobre comportamento. Estes últimos fornecem características
da família moderna, comprometida fortemente com padrões de moral extremamente
rígidos, onde se espera da mulher, geralmente dependente do marido, que seja esposa,
mãe, atualizada, instruída, compreensiva, bondosa e terna, inserindo as que não se
adequassem ao seu papel num quadro de distúrbio comportamental. A revista tenta se
adaptar, ainda, ao momento de extrema mobilidade social e início dos problemas
econômicos, apontando soluções ou fornecendo diretrizes para se contornar as situações
de crise. Por fim temos os anúncios, que tentam vender a idéia de moderno como
representando, ora como um estilo (padrão estético) presente em certos elementos ou
objetos, ora como tecnologia, ideal de praticidade, além de conforto e facilidades,
caracterizando a época atual e contraposto, por sua vez, ao rústico, tradicional ou
clássico, representantes dos tempos passados. Essa abordagem nos leva a entender
esse discurso, algumas vezes, valorizando a informação que deve ser passada, para que
o leitor possa refletir e chegar às suas próprias conclusões sobre o que seria adequado a
cada caso em particular, mostrando um caráter fortemente educativo.
Com base nas considerações tecidas ao longo de todo o trabalho, esperamos que tenha
ficado clara a importância do objeto em estudo como representante de um momento
singular na história do país, e que possa ter sido compreendida a sua função como
fornecedora de modelos sociais, espaciais e arquitetônicos, veiculando às classes
médias as diretrizes necessárias para a criação de lares e ambientes onde pudessem
reinar a paz e a harmonia, dentro de uma ótica de compromisso com o futuro.
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Planeje Primeiro no Papel. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro, n. 14, maio-
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Plantas Próprias para Apartamentos. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro, n. 2,
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Porque Gostamos desta ou Daquela Casa? in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro,
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______.Os Jardins de Roberto Burle Marx. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro,
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______.Cercas para Jardim. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro, n.34, abril,
1957.
______.Moderno é Sinônimo de Informal? in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro,
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Quando o Marido entrou na Cozinha. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro, n.3,
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______. Equipe 5 Responde More bem na casa feita para você. in Casa e Jardim. São
Paulo - Rio de Janeiro, n. 33, março-abril, 1957b.
______. Equipe 5 Responde More bem na casa feita para você. in Casa e Jardim. São
Paulo - Rio de Janeiro, n. 36, junho, 1957c.
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Uma Casa Hoje Moderna Amanhã Tradicional. in Casa e Jardim. o Paulo - Rio de
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Vale a Pena Construir em Madeira. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro, n.12,
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VILLELA, Ivy Cox. Decoração Moderna. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro,
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ZONTA, Regina. Arquitetura sem Preconceitos de Classe. in Casa e Jardim. São Paulo -
Rio de Janeiro, n.27, julho, 1956.
______. O Arquiteto não Onera o Custo da Construção. in Casa e Jardim. São Paulo -
Rio de Janeiro, n.28, agosto, 1956b.
______. Você é um Cliente em Potencial do Arquiteto. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio
de Janeiro, n.29, setembro-outubro, 1956c.
______.A Casa do Arquiteto Ariosto Mila. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de Janeiro,
n.34, abril, 1957.
______. A Casa do Arquiteto Clovis Felippe Olga. in Casa e Jardim. São Paulo - Rio de
Janeiro, n.34, abril, 1957b.
REVISTA CASA E JARDIM. São Paulo: Monumento, março/1953-maio/1955. Bimestral.
______. São Paulo: Monumento, julho/1955-agosto/1956. Mensal.
______. São Paulo: Monumento, setembro/1956. Bimestral.
______. São Paulo: Monumento, novembro/1956-dezembro/1956. Mensal.
______. São Paulo: Monumento, janeiro/1957. Bimestral.
______. São Paulo: Monumento, março/1957-junho/1957. Mensal.
______. São Paulo: Monumento, julho/1957-março/1958. Bimestral.
______. São Paulo: Monumento, maio/1958-agosto/1958. Mensal.
______. São Paulo: Monumento, setembro/1958-novembro/1958. Bimestral.
______. São Paulo: Monumento, janeiro/1959-abril/1960. Mensal.
Números 01 ao 63.
5. Anexos
Anexo 1 – Linha do Tempo – 1953 a 1960
Cronologia dos principais acontecimentos do momento em estudo principalmente no país
e informações sobre aspectos do desenvolvimento da publicação ao longo dos anos.
Anexo 2 – Cronologia das capas – n. 01 a 63
Levantamento de todas as capas publicadas, em ordem cronológica, entre 1953 e 1960.
Anexo 3 – Arquitetos Publicados
Lista dos arquitetos que publicaram seus projetos na revista entre 1953 e 1960, segundo
a ordem cronológica em que parecem.
Anexo 4 – Lista de Colaboradores
Transcrição dos nomes que aparecem na revista na coluna Colaboradores, localizada na
primeira gina, incluindo-se arquitetos, jornalistas e empresas, entre lojas e fábricas,
dispostos em ordem alfabética.
N
o
. 01 – 1953:
Lina Bo Bardi – Entre o céu e a vegetação pousa a casa de dois artistas. p. 08 a
13
Henrique Alexandre – O lar de um celibatário. p. 16 a 18
Henrique Alexandre – Casa de europeus que se integraram no Brasil. p. 19 a 21
N
o
. 02 – 1953:
Zeno Wolanski – Casa com jardim na Rua Primavera, São Paulo. p. 08 a 13
N
o
. 04 – 1953:
Silvio de Vasconcelos – Residência em Belo Horizonte. p. 10 a 14.
N
o
. 05 – 1953:
Eng. Saul Renato Sersan – Em terreno mais ou menos quadrangular. p. 10 a 15.
Eng. Clovis Felipe Olga – Projeto para Residência em São Paulo. p. 16 a 17.
Jandovy Lui – Projeto para casa de custo módico. p.18.
James Zerbe – Casa em madeira para finais de semana. p. 26 a 27.
N
o
. 06 – 1954:
Rino Levi – O arquiteto Rino Levi projetou: residência do Dr. Milton Guper p. 10 a
15.
José Carlos Maya – Casa em Campinas. p. 20 a 23.
N
o
. 07 – 1954:
Carlos Gou (proprietário) – Um solteiro constrói para si uma casa. p. 14 e 15.
Osmar Tosi – Estudo de uma pequena residência que crescerá futuramente. p. 16
a 17.
Oscar Niemeyer – Uma residência em Minas de Niemeyer. p. 26 a 29.
N
o
. 08 – 1954:
Fritz Louis Rosenthal – Uma casa deferente das outras. p. 16.
N
o
. 09 – 1954:
Vicente Peixoto Jr. – Esta residência foi projetada para um casal e seu filho. p. 08.
Victor Palma – Um arquiteto constrói para si uma casa fora da rotina. 14 a 17.
Affonso E. Reidy – Eis um sonho realizado. p. 22 a 25.
Nestor Lindenberg – Residência simples e ampla. p. 29 a 31.
N
o
. 10 – 1954:
Mauro Müller – Conforto e simplicidade. p. 07 a 09.
H. Landsberg – Casa com rampa. p. 36 a 37.
N
o
. 11 – 1954:
Escritório Técnico Bernardo Rzezak – Reforma e decoração de residência. p. 04.
Sérgio Bernardes – Residência em Manga Larga. p. 12 a 14.
N
o
. 12 – 1955:
Henrique Mindlin – Quando a arquitetura moderna proporciona um verdadeiro lar.
p. 10 a 14.
Arnaldo Furquim Paoliello – Casa Dr. Antonio Factore. p. 15 a 17.
N
o
. 13 – 1955:
Georg Hann – Três casas populares num só terreno. p. 25 a 27.
N
o
. 14 – 1955:
Antônio Luiz de Anhaia e Roger Zme Khol – Projeto para residência no Jardim
Leonor. p. 06 e 07.
Lucjan Korngold – Graça na magnitude: encanto do detalhe. p. 16 a 22.
N
o
. 15 – 1955:
Tinoco e Pivatelli – Um arquiteto projeta sua residência. p. 06 a 17.
Eduardo Kneese de Mello – Casas pré-fabricadas. p. 22 a 25.
N
o
. 16 – 1955:
Ariosto Mila e João Cacciola – Dificuldades inspiram melhorias. p. 11 a 15.
Eng. Clovis Felipe Olga – O projeto foi executado. p. 16.
N
o
. 17 – 1955:
Rino Levi – Casa de fazenda em São José dos Campos. p. 10 a 14.
Juvenal Waetege Jr. – Decoração como expressão de personalidade. p. 21 a 24.
Vilanova Artigas – A casa do arquiteto Artigas. p. 25 a 28.
N
o
. 18 – 1955:
Henrique Verona – Três meios planos = dois andares. p. 12 a 17.
Escritório Arquitetônico Bresslau e Bastian – No alto da serra. p. 24 a 29.
N
o
. 19 – 1955:
Dr. Jamil Gerard Jacole – Casa de uma dona-de-casa. p. 06 a 09.
Lucjan Korngold – A passos com a época. p. 22 a 28.
Plínio Croce e Roberto Alfato – Ao redor de um pátio. p. 44.
N
o
. 20 – 1955:
Helio Pasta e João Clodomiro B. de Abreu – Uníssono feliz. p. 11 a 20.
N
o
. 21 – 1956:
Guenter Paulus – Remodelação de uma residência. p. 4 a 8.
Affonso E. Reidy – Refúgio na floresta. p. 12 a 17.
N
o
. 22 – 1956:
Marcos Passera – A casa do arquiteto decorador. 18 a 21.
Zenon Lotufo – O espírito de simplificação. p. 04 a 11.
N
o
. 23 – 1956:
Rino Levi – A residência do arquiteto Rino Levi. p. 06 a 15.
Sergio Bernardes – Apresentamos Sergio Bernardes que projetou, para um dos
melhores bairros residenciais do Rio, esta casa. p. 16 a 21.
N
o
. 24 – 1956:
Construtora Heep Ltda – Atrás desta fachada. p. 04 a 10.
Victor Reif – Totalidade como idéia de estética. p. 12 a 19.
N
o
. 25 – 1956:
Construcci – Uma família muda-se para uma nova casa. p. 06 a 09.
Renato Righetto – Nova vida-novo estilo. p. 18 a 21.
Carlos Martins Spira – O decorador e sua casa. p. 23 a 29.
Abelardo de Souza – Um mundo a parte. p. 42 a 45.
N
o
. 26 – 1956:
Paulo Antunes Ribeiro – Entre morro e mar. p. 10 a 15.
Miguel Brada Jr. – Equilibrar a vida social e a vida familiar. p. 16 a 20.
N
o
. 27 – 1956:
Abelardo de Souza – Arquitetura sem preconceitos de classe. p. 02 a 03.
Eduardo Corona – A “casa do galo”. p. 12 a 17.
Fernando Leal – Visita à capital da Bahia. p. 24 a 29.
N
o
. 28 – 1956:
Bina Fonyat e Tercio Fontana – Residência de veraneio. p. 16 a 20.
N
o
. 29 – 1956:
Luiz Saia – Você é um cliente em potencial do arquiteto. p. 04 a 05.
Oswaldo Bratke – Passeio na Ilha Porchat. p. 21 a 25.
Henrique Mindlin – A paisagem também influi no cenário da casa. p.26 a 31.
N
o
. 30 – 1956:
Zenon Lotufo – Arquiteto dos Deuses. p. 02 a 03.
Lev Smarcevski – Linhas e horizontes sob o céu da Bahia. p. 16 a 20.
N
o
. 31 – 1956:
Ariosto Mila – Presença do arquiteto. p. 02 a 03.
Ligia Fernandes – Proteção contra o calor. p. 11 a 16.
N
o
. 32 – 1957:
Zenon Lotufo – Três pessoas numa só: proprietário, decorador e arquiteto. p. 10 a
11.
Oscar Niemeyer – É possível viver numa obra de arte. p. 12 a 17.
N
o
. 33 – 1957:
Pires e Santos – Dois pavimentos sobre um grane terreno. p. 08 a 13.
Jeorge Zalszupin – “O Sr. Está satisfeito com a sua casa?”. p. 14 a 23.
N
o
. 34 – 1957:
Paulo Antunes Ribeiro – A casa do arquiteto. p. 06 a 09.
Ariosto Mila – A casa do arquiteto. p. 18 a 26.
Mieczyslaw Grabowski – A casa do arquiteto. p. 28 a 33.
Clovis Felippe Olga – A casa do arquiteto. p. 34 a 39.
N
o
. 37 – 1957:
Rubens Viana e Ricardo Sievers – Uma casa hoje moderna, amanhã tradicional.
p. 38 a 43.
N
o
. 39 – 1957:
Charles Bosworth – Quando construímos nossa casa... p. 10 a 15.
Abelardo de Souza – Não pode ser sempre assim? p. 17 a 19.
Jorge Zalszupin – Proprietário, arquiteto, decorador e paisagista falam sobre uma
casa. p. 22 a 33.
Sergio Bernardes – Proporção e detalhes definem uma arquitetura. p.34 a 42.
Construtora Caniato e Lange Ltda – Longe do rebuliço da cidade. p. 52 a 57.
N
o
. 40 – 1958:
Construtora Heep Ltda – A residência jardim. p. 23 a 30.
Flavio de Carvalho – Flavio de Carvalho. p.32 a 41.
N
o
. 41 – 1958:
Henrique Mindlin – Residência em três níveis. p. 18 a 28.
Miczyslaw Grabowski – Modernos projetos. p. 46 a 49
N
o
. 42 – 1958:
Lauro C. Lima – Residência do deputado Ubirajara Keutendjian. p. 30 a 38.
N
o
. 43 – 1958:
David Libeskind – Arquitetura Libeskind. p. 13 a 19.
Carlos Leão – A escala humana faz de uma casa um lar. p. 30 a 34.
N
o
. 44 – 1958:
Henrique Mindlin – Residência para “week-end” na Samambaia. p. 11 a 16.
Gastão S. Marcondes – Casa moderna casa habitável. p. 36 a 42.
N
o
. 45 – 1958:
Rubens Carneiro Vianna e Ricardo Sievers – Remodelação. p. 08 a 09.
Sergio Bernardes – Piscina à beira-mar. p. 10 a 13.
Sergio Bernardes – Moderno é sinônimo de informal? p. 22 a 28.
J. Aratacho Jurado Sociedade Técnica Ltda. e Companhia Construtora Monções –
Condomio Verde-Mar. p. 36 a 40.
Construtora Ferraz Ltda – A casa do morar bem. p. 52 a 55.
N
o
. 46 – 1958:
Jorge Andrada Carvalho – Na cidade de Braz Cubas. p. 8 a 14.
N
o
. 47 – 1958:
Construtora Paulicéia Ltda – Quando poesia e técnica se casam. p. 18 a 21.
N
o
. 48 – 1959:
Francisco Bolonha – Depende do terreno e do programa. p. 06 a 10.
Nicolef – Na serra da Cantareira. p. 18 a 23.
N
o
. 49 – 1959:
Oswaldo Bratke – Arquitetura contemporânea. p. 10 a 17.
Rubens Viana e Ricardo Sievers – 8 x 27. p. 40 a 41.
N
o
. 51 – 1959:
Gregório Zolko – Descanso na represa de Santo Amaro. p. 18 a 23.
Henrique Alexander – A vivenda da harmonia. p. 36 a 43.
N
o
. 52 – 1959:
David Libeskind – Reformar quer dizer rejuvenescer. p. 04 a 06.
Adolpho Lindenberg – Como se apresenta em estilo colonial uma residência
moderna. p. 18 a 25.
Rubens Carneiro Vianna e Ricardo Sievers – Uma pequena casa. p. 28 e 29.
Rodolfo Orlenblad – Não se chocam o belo e o funcional. p. 36 a 39.
N
o
. 54 – 1959:
David Libeskind – O positivo na construção. p. 4 a 11.
Erich Boeckler – Casa pequena na qual se sente bem. p. 14 a 16.
Sérgio Bernardes e Sérgio Rodrigues – Dois arquitetos, um só apartamento. p. 36
a 40
N
o
. 55 – 1959:
Fausto Antônio de Araújo – Num recanto do Morumbi. p. 20 a 24.
Jorge Moreira – Casa na Vertical. p. 40 a 45.
N
o
. 57 – 1959:
Sarah Bittencourt Cyrillo – Uma vivenda acolhedora. p. 42 a 44.
N
o
. 58 – 1959:
Planco – Casa em terreno irregular. p. 20 a 23.
N
o
. 59 – 1959:
Planco – Uma casa que cresce com a família. p. 68 a 70.
N
o
. 60 – 1960:
Planco – Duas casas para duas vidas diferentes. p. 12 a 18.
João Alfredo Ortigão Tiedman – Entre a grama e a floresta. p. 32 a 36.
N
o
. 61 – 1960:
F. Henri Cahen e Cia. Ltda – Na arquitetura as linhas simples e puras seduzem
sempre. p. 14 a 17.
Roberto Bratke e Marcos Tomanik Ltda – Pronta para mudar-se. p. 18 a 21.
Oswaldo Bratke – Jogando com materiais. p. 22 a 28.
Planco – Pode-se construir uma casa assim mesmo num lotezinho de 6,50 x 20
m. p. 44 a 46.
N
o
. 62 – 1960:
Studio A&M – Demolição e construção em CR$. p. 26 a 29.
N
o
. 63 – 1960:
Studio A&M – Construção por etapas. p. 18 a 25.
Simeon Fichel – Residências em Brasília. p. 56 a 57.
1. A. Benetean A. Blay
2. A. Meerbaum
3. A. Olschewski
4. A. von Smigay
5. Arq. Abelardo de Souza
6. Abrão Kasinki
7. Accasio Lopes
8. Adolfo Roberto Heep
9. Adolfo Milani
10. Aertsens Michel
11. Affonso Eduardo Reidy
12. Alceu de St. Anna de Almeida
13. Alda Metzener
14. Alexandre Franca
15. Arq. Alexandre Magyar
16. Alfaiate William
17. Eng. Arq. Alfredo Ernesto Becker
18. Alfredo Gailland
19. Alfredo Olschewski
20. Alfredo Samad
21. Alice Rand
22. Álvaro Altieri
23. Álvaro B. Cavalcanti
24. Ambiente
25. Angélica da Silva
26. Ângelo Rinaldi
27. Dr. Antonio Factore
28. Eng. Arq. Antonio Luiz de Anhaia
Mello
29. Eng. Arq. Ariosto Mila
30. Arnaldo Catafesta
31. Arq. Arnoldo Grostein
32. Artesanal Ltda.
33. Arthur Imhof
34. Ary Garcia Roza
35. Dr. Ary Nunes Garcia
36. Augusto da Silveira Mascarenhas
37. Aurélio Hedvig
38. B. Davis
39. Beau Brummel
40. Bernardo Rzezak
41. Arq. Bina Fonyat
42. Bogdan Zins
43. Boggi & Mesquita
44. Boris Chnaiderman
45. Branco e Preto
46. Dr. Bruno Heydenreich
47. Bruno Moser
48. Mrs. C. L. Codling
49. Carlo Castaldi
50. Carlo Hauner
51. Carlos Bock
52. Carlos Bottkay
53. Arq. Carlos de Amleida Vidal
54. Carlos Drummond de Andrade
55. Carlos Gamba França
56. Carlos H. Born
57. Carlos Maria de Araújo
58. Carlos Martins Spira
59. Carlos V. Cerchiari
60. Carmen Portinho
61. Casa Lemcke
62. Catharina Mark
63. Chaim Goldenstein
64. Arq. Charles Bosworth
65. Clara Petraglia
66. Cláudia H. Andujar
67. Cláudio Henry
68. Eng. Arq. Clovis Felipe Olga
69. Comp. Construtora Módulo
Transcrição dos colaboradores da revista, que aparecem listados nos sumários
das edições
entre março de 1953 e abril de 1960.
70. Companhia de Linhas
71. Arq. Construcci
72. Construtécnica Ltda.
73. Construtora Heep Ltda.
74. Copa Cabana Ltda.
75. Cortinas Ludovico Ltda.
76. Cristais Prado
77. Daisy Nakagawa
78. David Zeiger
79. Decimo Mozzocato
80. Dirck de Almeida
81. Dominici Ltda.
82. Dorca
83. Drogasil
84. Dulce G. Carneiro
85. E. Costa Mello
86. E. Doeppenschmitt
87. Mestre Ébeniste
88. Eckard Ziegler
89. Edgard Fernandes Teixeira
90. Edgard Kocher
91. Edith Freud
92. Edmilson Viana Moura
93. Edmundo Cavanelas
94. Edmundo Gregorian
95. Edmundo Monteiro
96. Eduardo Corona
97. Eduardo Suhr
98. Eduardo Kneese de Mello
99. Edwina Jackson
100. Profª Eiko Fugiwara
101. Elin Rüs
102. Elisabeth Wilheim
103. Empresa Brasileira de Relógios
Hora
104. Equipe 5
105. Érika Valeska
106. Ernesto Irsigler
107. Dr. Erwin Waldemar Rathsam
108. Esber Saad
109. Escritório Arq. Bresslau & Bastian
110. Escr. Técn. Eng. Mieczlau
Grabowski
111. Escr. Técn. Lucjan Korngold
112. Ethel Mcall Head
113. Eugenio Mogor
114. Euvaldo P. Nunes
115. F. Albuquerque
116. F. Unger
117. F. W. Schultz Wenk
118. Fausto Penna Moreira
119. Ferdinand Berg
120. Fernando Leal
121. Flavio de Carvalho
122. Flávio Ramos
123. Forma S. A.
124. Francisco Ikavec
125. Francisco Voegeli
126. Freitas Maia
127. Galeria Artesanal
128. Galeria Paulista
129. Galliano Calliera
130. Garret Ekcbo
131. Eng. Geonisio Carvalho Barroso
132. Georg Hann
133. Georg P. Wachinsk
134. George Marek
135. Arq. George Zalszupin
136. Georges Simone
137. Georgette Nacarato Nazo
138. Cap. Geraldo Theodoro da Silva
139. Gerda Angelica Lubrun
140. Gerhart Luckmann
141. Germano Zimber
142. Arq. Gesel Himmelstein
143. Giandomenico de Marchis
144. Gilberto Caldas
145. Com. Gilberto Ferraz
146. Giorgio Ramponi (Itália)
147. Giuseppe Scapinelli
148. Gloria Stroock
149. Mrs. Govier
150. Granja Domont
151. Granja Tupy
152. Dr. Guenter Paulus
153. Günther Tuch
154. Gustave Martin
155. Guy de Lebrun
156. H. E. Schrank
157. H. Landsberg
158. H. R. Dodansky
159. H. Sternfeld
160. Arq. Hans Lange
161. Harald e Wilma Schultz
162. Prof. Harold Schulz
163. Eng Chefe Heitor A. Eiras Garcia
164. Heitor Ferreira de Souza
165. Helio Modesto
166. Arq. Helio Pasta
167. Helena Mindlin
168. Henri Hollmeyer
169. Eng. Arq. Henrique Alexandre
170. Henrique Eichheim
171. Henrique Flatauer
172. Henrique Mindlin
173. Henrique Verona
174. Henry Maluf
175. Herbert Kupferberg
176. Heriberto Muraro
177. Horácio Kneese de Melo
178. Huberto Campobello
179. Huberto Felipe
180. Huberto Schoenfeldt
181. Dr. Ibiapaba Martins
182. Ibsen Pivatelli
183. Ignaz Johann Sessler
184. Ilse Hofman
185. Interiors
186. Irene de Bojano
187. Dr. Isaac Rechulski
188. Iside M. Bonini
189. Ivan Ramos Reis
190. Ivonne de Fonseca
191. Ivonne Jean
192. Ivy Doreen Cox Vilela
193. J. Vilanova Artigas
194. J. Waetge Jr.
195. Dr. Jacques Pasternak
196. Dr. Jamil Girard Jacob
197. Jandovi Lui
198. Janos László
199. Jardim Vanguarda
200. Jardins Tropicais
201. Jatobá Móveis e Decorações Ltda.
202. Arq. Jean Gillon
203. Jean Muller
204. Joan O’ Sullivan
205. Joanita Mormanno
206. João Antero de Carvalho
207. Eng. Arq. João Cacciola
208. João Clodomiro B. de Abreu
209. João Dierberger
210. Prof. João Gonçalves Carneiro
211. Prof. João S. Decker
212. Dr. Joel Ostrowicz
213. John Lawrence
214. Arq. Jon A. V. Maitre Jean
215. Arq. Jorge Zalszupin
216. José Luis Guimarães
217. José Luiz de Andrade
218. José Lyra
219. José Marques da Costa
220. José Moreira Torres
221. José Rottgering
222. José Scapinelli
223. Joseph A. Barry
224. Josette Károlyi
225. Jovino Bernardes Filho
226. Julian Penrose
227. Julio Chiocca
228. Julio Lobo
229. Julio O. Kroehne
230. Dr. Justo Pinheiro Fonseca
231. Karl Pichler
232. Keiko Matsudo
233. Kijelce A. Correia
234. Kimi Fugimoto
235. Klaus Franke
236. Dr. Klauss Heinrich Bessel
237. Kohler A. G. Ofenfabrik
238. Profª Koou Fujiwara
239. Laboratórios Lederle
240. Laubisch, Hirth & Cia.
241. Lauro Costa Lima
242. Leo Led-Ledvinka
243. Lev Smarcevscki
244. Liba Frydman
245. Lili Corrêa de Araújo
246. Eng. Arq. Lina Bo Bardi
247. Linda Charles
248. Drª Lisetta Levi
249. Livraria Kosmos
250. Lotte de Jong
251. Prof. Louis F. James
252. Dr. Luciano de Souza Marques
253. Lucjan Korngold
254. Ludwig Gleich
255. Luis Saia
256. Luiz Emigdio de Mello filho
257. Luiz Lessa Mello
258. Lygia Fernandes
259. M. Grabowsky
260. M. S. Menezes
261. Maggie M. Carvalho
262. Manufatura Tapetes Sta. Helena
S.A.
263. Marc Berkowitz
264. Marcel Klaczko
265. Arq. Marcello Fragelli
266. Márcia
267. Marco Passera
268. Margarida Ernst
269. Margarida Troje
270. Margô
271. Maria Amélia Junqueira
272. Maria de Gonzaga
273. Maria Eugênia Franco
274. Maria Moreira
275. Marialice Prestes
276. Marina Moraes Barros
277. Mario Carpentiri
278. Dr. Mario Lindenberg
279. Mario Tabarin
280. Mario Valle
281. Marjorie Prado
282. Marthe Grauer
283. Martin Eisler
284. Martin Holzmeister
285. Martinho Conceição
286. Dr. Massau Shimizo
287. Arq. Mauro Müller
288. Max Helle
289. Dr. Mem Xavier da Silveira
290. Mierczyslaw Grabowisk
291. Milton Claro
292. Dr. Milton Guper
293. Miguel Brada Jr.
294. Miranda M. Martinelli
295. Mirko Mayerroff
296. Moacyr Trussardi
297. Mobília Contemporânea Ltda.
298. Moore-Mc Cormack Navegação
S.A.
299. Móveis Fortalit
300. Nábia
301. Nagib Elchmer
302. Nanette
303. National Fisheries Institute
304. Neidy Nakagawa
305. Neli Dutra
306. Nelita Alves Lima Pignatari
307. Dr. Nelson Corazza
308. Neorex do Brasil
309. Nestor Lindenberg
310. Nevio Tognato
311. Nicolau Nazo
312. Nicolini SpinaOlga Meraviglia
313. Norman Westwater
314. Dr. O. B. de Couto Silva
315. Olschewski
316. Omar Simão Racy
317. Oscar Niemeyer
318. Osmar Tosi
319. Eng. Arq. Oswaldo Bratke
320. Oswaldo Corrêa Gonçalves
321. Oswaldo de St. Anna de Almeida
322. Dr. Oswaldo Silva
323. Eng. Othelo de Souza Machado
324. Othmar Danesch
325. Otto Fandler
326. Otto Wolfgang Cohen
327. Prof. P. M. Bardi
328. Paul Leibkuler
329. Arq. Paulo Antunes Ribeiro
330. Arq. Paulo F. Santos
331. Paulo Leibkuechler
332. Arq. Paulo de Moraes Cordeiro
333. Arq. Paulo Martyn Liberman
334. Arq. Paulo R. Pires
335. Paulo Sampaio
336. Pedro Cortizas
337. Peter
338. Peter Bruck
339. Pierre Loeb
340. Pierre Weckx
341. Conde Dr. Piero A. Bulganini
342. Pineapple Growers Association
343. Plínio Croce
344. Prata Wolf
345. R. Drucker
346. Rachel Esther Prochnik
347. Dr. Rafael Carneiro Maia
348. Rafael Sanches Goldeana
349. Raul Faria
350. Prof. Raul Votta
351. Ray H. Hookway
352. Arq. Renato Righetto
353. René Usmiany
354. Regina Zonta
355. Ricardo Sievers
356. Ricardo Teixeira Brancato
357. Richard Williams
358. Eng. Arq. Rino Levi
359. Roberto Alfato
360. Roberto Burle Marx
361. Roberto Coelho Cardozo
362. Roberto Montecoroa
363. Arq. Roberto Pinto Monteiro
364. Roberto Simões
365. Roger Henry Weiler
366. Eng. Arq. Roger Zmekhol
367. Rolf Weinberg
368. Rubens C. Viana
369. Rubens Ferreira
370. Ruth Irsigler
371. S. Campos
372. S. Osborn Coelho
373. São Paulo Lady Amateur Gardener
374. Saul Renato Serson
375. Scandinavian Airwais System
376. Schill Kuperman
377. Arq. Sergio Bernardes
378. Sergio Lunardelli
379. Sergio Milliet
380. Serson Ltda.
381. Sherwin Williams do Brasil S.A.
382. Shin Obayashi
383. Siegfried Willner
384. Silvia Reis
385. Stanislau
386. Stefan Neuding
387. Studio Dorca
388. Studio Lar Moderno
389. Susan Osborn Coelho
390. Sylvestre Ferraz Egreja
391. T. V. Mottek
392. Tabacow
393. Tapeçaria Alfredo
394. Tassilo Marischka
395. Teixeira Leite
396. Arq. Tercio Fontana
397. Terneiro
398. Terneiro e Langenbach
399. Teodomiro Costa
400. Theodor Gaede
401. Tinoco & Pivatelli Ltda.
402. Tônia
403. Uniseco do Brasil S. A.
404. V. Fiorentini
405. Valeska Käppler
406. Valeska Peter
407. Verona & Vaidergorn
408. Vicente Gaudio
409. Prof. Vicente Peixoto
410. Vicente Peixoto Jr.
411. Victor Palma
412. Victor Reif
413. Victor Schubski
414. Vidraria Santa Marina S.A.
415. Vilma Crivelli
416. Violanda Guimarães Correia
417. Violet Dismore
418. Vladmir Kagan
419. W. Bernauer
420. Waldemar Cordeiro
421. Walter Haberkorn
422. Walter Lewi
423. Walter Neublum
424. Dr. Walter Kupsch
425. Werner Rosenfeld
426. Wladmir Kagan
427. Wit-Olaf Prochnik
428. Yole Mandetta Carrari
429. Yvonne Jean
430. Zanine
431. Eng. Arq. Zeno Wolanski
432. Arq. Zenon Lotufo
433. Zimon Leisler
434. Zuleika Cerqueira Leite Costa
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