manutenção da casa e às questões da família. Segundo os objetivos propostos pelos
editores, ela se constituiu num instrumento de divulgação das possibilidades da moderna
arquitetura brasileira e das novas tecnologias à disposição da construção (idem, p. 06).
De acordo com a catalogação encontrada na seção de periódicos da Biblioteca Nacional,
a revista está classificada pelos assuntos: “habitações” e “decorações e ornamento”, o
que demonstra certa coerência com seus propósitos e objetivos e exclui de início a
tendência a classificá-la entre as revistas destinadas apenas ao público feminino.
Ao contrário do que se possa pensar, a revista não apresenta características de
publicação feminina
21
, pois todos os assuntos abordados, pelo menos da maneira que o
são, permitem que se perceba um caráter voltado para a vida familiar e para a casa, das
quais a mulher também participa, sem, no entanto, que seja o foco da abordagem. Mostra
exemplos de residências, com os respectivos interiores e jardins e apresenta artigos
teóricos de caráter instrutivo, que indicam soluções para beneficiar o espaço da
residência (fig. 10). Se considerarmos as cartas enviadas para a revista
22
, veremos que a
ocorrência de leitores é bem maior que a de leitoras. Dos dez trechos de cartas
publicadas, apenas dois eram assinados por mulheres. Entre os homens, que se
admitiam leitores sem constrangimento algum, destacava-se o diretor geral da Secretaria
da Segurança Pública Oswaldo Silva, que teceu fortes elogios à publicação, sendo
convidado para redigir um artigo sobre segurança, intitulado “A Proteção do Lar”.
Segundo Rachel Sisson
23
, uma de suas colaboradoras mais freqüentes, a revista aborda
os aspectos da estrutura espacial, embora não sob esses termos, mas refletindo sobre
como seriam formados os ambientes, como se relacionariam com os demais aposentos
da casa e de que maneira o leitor poderia conseguir deles maior conforto e segurança,
tratando de temas presentes no seu cotidiano. Ela também discorda da sua classificação
como revista feminina, concordando com seu caráter familiar e afirmando acreditar tratar-
se de uma revista intermediária, nem direcionada apenas ao leigo, nem ao público
especialista, mas a todo o tipo de pessoa que possuísse alguma relação com o espaço.
“É uma revista do lar, da família, com artigos legíveis, acessíveis para o leitor de classe
média”.
21
A revista é citada no livro A Revista no Brasil, como parte do capítulo dedicado às revistas femininas (p. 156 a 174),
quando este aborda a revista Cláudia, de 1961, numa referência à Casa Cláudia, criada a partir dela, e à “pioneira Casa e
Jardim” (A REVISTA NO BRASIL, 2000, p. 172), como representante das revistas de decoração que surgem atreladas às
necessidades de consumo das mulheres, que começam a trabalhar, tornando-se um importante e amplo mercado. Este
ponto de vista, porém, não corresponde aos objetivos propostos inicialmente pelos editores, que abordavam principalmente
as questões acerca da construção de casas, dos cuidados com o lar, do comportamento.
22
Embora não fosse muito freqüente a publicação de cartas dos leitores, que eram publicadas apenas esporadicamente, o
segundo número da revista apresentou, no artigo Obrigado!, uma compilação de trechos das cartas recebidas por ocasião
do seu lançamento.
23
Os trechos citados foram retirados da entrevista concedida por Rachel Sisson, no dia 13 de julho de 2006.