
Estas duas brincadeiras, o Maracatu e o Cavalo-Marinho, quando não estão se
apresentando, brincando, constituem um conjunto de objetos e artefatos (roupas,
chapéus, surrões, golas, guiadas, instrumentos musicais, máscaras, arcos, bandeira,
etc.). Isto é, fora da situação de brincadeira, o conjunto de objetos fica guardado:
‘adormecido’ ou em manutenção
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. O espaço destinado a este fim é comumente
chamado de sede, terreiro ou barraca, lugar que agrupa o brinquedo e a brincadeira. O
lado de fora da sede, o terreiro, é onde acontecem as sambadas. No carnaval, esses
artefatos e roupas são ‘animados’ pelas pessoas que brincam.
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Nas sambadas, todos
brincam à paisana.
“A sambada é o ensaio, que a gente tem que treinar o povo.
Eu não gosto de ensaio, por mim só saía no dia (do carnaval)
mesmo. A gente faz porque o povo gosta. Pelo menos vai
treinando e o mestre vai se desenvolvendo, outra, para
aprumar o terno. Se um cabra não vem, aí arruma outro, para
no dia do carnaval estar tudo certo. Tem também a sambada
com dois mestres que é ensaio também. Só que são 2 mestres
discutindo um com outro. A sambada é assim, eles vão cantar
como cantador de viola. O mestre de Maracatu é o mesmo
que um cantador de viola, discute eles dois, depois tá
abraçado eles dois. A disputa é na poesia, não é material, não
é pessoalmente. Agora tem gente que briga, o que abraça com
a brincadeira é a torcida.” (Biu Alexandre).
O dono do Maracatu trata principalmente dos assuntos de ordem estrutural e
administrativa, define as pessoas que irão compor o grupo, seus personagens, negocia
os cachês, compõe o terno, conjunto de 5 tocadores dos instrumentos de percussão: o
tarol (caixa), bombo (surdo), mineiro (ganzá), póica (cuíca) e gonguê (agogô) e os
músicos do Maracatu, responsáveis pelos instrumentos de sopro (trombone, piston,
significativas características do Cavalo-Marinho: sua fatalidade móvel - uma capacidade de conviver com a
alteridade, que constitui um tipo de identidade em movimento. Movimento este que faz com que toda
brincadeira seja uma experiência única.”
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Trocam as lantejoulas ‘sem brilho’ das golas, restauram vestidos, etc.
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“Um boi-artefato, que baila, morre e ressuscita, é foco de brincadeiras pelo país a fora” (Cavalcanti,
2006:69), no carnaval pernambucano há vários bois. Em Pernambuco, costuma-se chamar de alma a pessoa
que brinca no boi, isto é, embaixo do boi. Esse termo me parece significativo pois dá a idéia de que o artefato
e a alma dão vida ao boi.