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CANIBALISMO EM FÊMEAS DE CAMUNDONGO SWISS
EXPOSTAS À IRRADIAÇÃO IONIZANTE DURANTE A
PRENHEZ: ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS ASSOCIADAS
ORIENTADORA: PROF
a
DR
a
MARTHA DE OLIVEIRA GUERRA
JUIZ DE FORA
2007
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação
em Saúde - área de concentração em Saúde Barsileira
da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de
Juiz de Fora, como requisito parcial para obtenção do
grau de mestre em Saúde Brasileira.
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2
LÚCIA DE ARAÚJO PIÚMA
CANIBALISMO EM FÊMEAS DE CAMUNDONGO SWISS EXPOSTAS À
IRRADIAÇÃO IONIZANTE DURANTE A PRENHEZ: ALTERAÇÕES
MORFOLÓGICAS ASSOCIADAS
Aprovado em agosto de 2007
BANCA EXAMINADORA
Prof
a
Dr
a
Martha de Oliveira Guerra, Doutora em Ciências
Centro da Biologia da Reprodução
Universidade Federal de Juiz de Fora.
Prof
a
Dr
a
Vera Maria Peters, Doutora em Biologia Animal
Centro da Biologia da Reprodução
Universidade Federal de Juiz de Fora
Prof Dr Antônio Carlos Guimarães de Almeida
Doutor em Engenharia Biomédica
Centro de Neurociência Experimental e Computacional
Universidade Federal de São João Del Rei
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Saúde - área de concentração em Saúde Barsileira da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de
Fora, como requisito parcial para obtenção do grau de
mestre em Saúde Brasileira.
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3
Aos meus pais, Jaime e Laura, pilares fortes da minha plataforma de vôo.
Aos companheiros de jornada Manuela e João Francisco, professores e
significantes de vida.
Ao meu irmão Marcelo, à Simone, Luíza e Gabriela, presenças constantes
mesmo que distantes.
À Mestra Dr
a
Martha, sem a qual ainda estaria no caos primordial de onde
surgem as idéias.
4
Agradecimentos.
Agradeço à minha orientadora Dra Martha de Oliveira Guerra e à Dra Vera Maria Peters, por
acreditarem, acolherem e tornarem possível. Pelos ensinamentos técnicos, éticos e humanos
para sempre serei grata.
À Dra Carla Márcia Lanna por ter me contagiado com vida acadêmica.
Ao Dr Rogério Baumgratz de Paula pelo empréstimo de sua força ética quando precisei.
Ao físico Gilberto Maroco que irradiou os modelos experimentais com radiação ionizante, e a
mim com o seu entusiasmo e conhecimento.
Á toda a equipe do Setor de Radioterapia do Hospital ASCOMCER pela enorme boa vontade,
carinho, atenção e respeito com que eu e meus animais fomos tratados.
Aos pacientes do Setor de Radioterapia do Hospital ASCOMCER por dividirem comigo o seu
tempo e tornarem a espera sempre proveitosa e mais leve.
Ao diretor clínico do Hospital ASCOMCER, Dr João Paulo Vieira, e ao chefe da Radioterapia
Dr João Ramin pelo empréstimo generoso de sua casa-hospital.
À Dra Angela Gollner e Dra Sônia Neuman Cupollino, pelo apoio, utilização do laboratório
CITO, confecção das lâminas e análise anatomopatológica.
Ao técnico de histologia Leonardo da Silva Hauck agradeço a boa vontade e disponibilidade.
Aos técnicos Paulo do Carmo e Evelise de Souza, meus sinceros agradecimentos por me
apresentarem aos camundongos e me tornarem mais apta a esse convívio.
À doutoranda Luciana Valente Borges, pelos gráficos, fotos, leituras críticas e generosidade
na amizade e conhecimento.
Á família CBR, presente de várias formas: técnicos do biotério e dos laboratórios, secretários,
pessoal da limpeza e manutenção, estagiários, mestrandos, doutorandos e pesquisadores.
Aos professores do ICB, Dr Luis Carlos Bertges, Dr Luis Augusto do Amaral e Dr Carlos
Alberto Mourão, pelo tempo passado juntos.
Aos funcionários do ICB Almir, Angela e Sidney, pelo apoio e carinho.
Aos professores do curso de Pós-graduação pelos ensinamentos, exemplos e apoio.
À Coordenação do curso de Pós-graduação de Saúde Brasileira.
À Dra Darcília pelo profissionalismo, atenção amistosa e entusiasmo.
Aos secretários da Pós-graduação de Saúde Brasileira, sempre dispostos a resolverem da
melhor maneira as dificuldades.
5
Ao Dr Renan Vitral, pelo iniciar.
À Rede Mineira de Bioterismo pelo fornecimento de animais e manutenção dos mesmos.
Agradeço aos amigos que compreenderam as minhas faltas e se fizeram presentes na minha
ausência.
Aos amigos-colegas de Mestrado que tornaram o caminhar mais leve.
Meus agradecimentos sinceros às Forças presentes no meu caminho.
6
RESUMO
Fêmeas de camundongos Swiss irradiadas apresentaram comportamento
canibalístico inesperado durante um experimento para avaliação de teste de memória
operacional e de referência, não mencionado em trabalhos prévios, o que levou ao estudo
mais detalhado da incidência e de possíveis causas relacionadas ao comportamento anormal.
Um grupo de 31 fêmeas de camundongos Swiss prenhes foram submetidas à irradiação
ionizante com raios X de corpo inteiro através de aparelho acelerador linear de elétrons de
energia fotônica de 6 MeV com dose total absorvida gerada de 3 Gy (300cGy) e distribuídas
aleatoriamente em dois grupos para análise do período pré e pós-natal e foram comparadas
com fêmeas controles. Os dados observados indicam que a irradiação não induziu
comportamento materno indicativo de estresse ou intoxicação nem de comprometimento do
sistema endócrino, mas as fêmeas irradiadas apresentaram uma incidência de 86,67% de
canibalismo. O peso corporal fetal do grupo irradiado (1077,1 mg ± 152,6 n=16) foi
significativamente menor (p< 0,001) quando comparado com o do grupo controle (1241,2 mg
± 64,2 n=15) e apresentaram , em 28,1, % dos casos, hipoatividade acompanhada de
desorganização das camadas laminares corticais e diminuição da população neuronal.
Verifica-se que a irradiação não causou alterações morfológicas evidenciáveis nos ovários,
hipófise e áreas cerebrais maternas. O distúrbio motor fetal provavelmente induziu para o
comportamento canibalístico observado.
Palavras-chave: radiação ionizante, canibalismo, comportamento materno, memória,
aprendizado.
7
ABSTRACT
Irradiated female Swiss mice presented unexpected cannibalistic behaviors during
an experiment involving tests for operational memory and reference assessment. This finding
is not mentioned in previous works, which lead us to a more detailed study of the incidence
and the possible causes related to that abnormal behavior. One group of 31 pregnant Swiss
mice was exposed to whole body ionizing irradiation of X-rays through a linear accelerator
apparatus of 6 MeV electron photonic energy, presenting total absorbed dose of 3 Gy
(300cGy). Those animals were randomly divided into two groups, one for the analysis of
prenatal and another for postnatal periods, and they were compared to mice from control
groups. The data indicate that irradiation did not induce stress, intoxication or endocrine
changes in mothers, however, irradiated female showed a high incidence (86.67%) of
cannibalism. Fetuses from irradiated mothers had a decreased body weight (1077.1 mg ±
152.6 n=16) (p< 0.001) when compared to the control group (1241.2 mg ± 64.2 n=15) and
also presented 28.1% of hypo activity, together with desorganization of brain cortical laminar
layers and decrease in neuronal population. It was observed that irradiation did not cause
morphological changes in maternal ovaries, hypohpysis and brain. The fetal motor
disturbance probably induced the observed cannibalistic behavior.
Keywords: Ionizing radiation, cannibalism, maternal behavior, memory, learning.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Figura- Vista superior do cérebro de camundongo
(Mus musculus) com marcações para cortes coronais .........................48
Figura 2- Gráfico com proporção de comportamento canibalístico
em fêmeas de camundongo irradiadas e controles ............................51
Figura 3- Foto de filhotes de camundongo de mães irradiadas e controle
com 40 dias de vida...........................................................................52
Figura 4- Gráfico do peso corporal materno (g) em animais
do grupo controle (C) e irradiados (T2)...........................................53
Figura 5- Foto. Corpos lúteos de fêmeas de camundongo
controle (A) e irradiads (B). 40x. HE.................................................55
Figura 6- Foto. Hipófise de fêmeas de camundongo
dos grupos controle (A) e irradiados (B). 40x. HE............................55
.
Figura 7- Gráfico do Peso de cérebro materno (mg) de camundongos
controle (C2) e irradiados (T2).........................................................56
Figuras 8- Foto. Área pré-óptica medial de fêmeas de camundongo
dos grupos controle (A, B) e irradiadas (C, D).40X. HE................57
9
Figura 9- Gráfico com a proporção de recém nascidos
conforme o grau de atividade motora.............................................58
Figura 10- Gráfico com peso (mg) corporal de fetos
obtidos de mães irradiadas (T2) e controle (C2) ..........................59
Figura 11- Gráfico do peso corporal fetal
de acordo com graus de atividade motora no grupo irradiado.........60
Figura 12- Foto. Pulmões de fetos de camundongo
dos grupos controle (A, B) e irradiados (C, D, E, F).
Fetos com atividade Grau II (C, D) e grau III (E, F).
A, C, E 10X; B, D, F.40X. HE.........................................................61
Figura 13 – Foto. Rins de fetos de camundongo.
Grupo controle (A, B) e irradiado (C, D, E, F).
Atividade motora Grau II (C e D), Grau III (E, F).
A, C, E 10X ; B, D, F 40X. HE........................................................62
Figura 14- Foto. Córtex de fetos de camundongo.
Fetos controles (A)
e com grau de atividade motora II (B) e III (C). 10X. HE..................63
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Variáveis relacionadas ao desempenho reprodutivo materno
em fêmeas de camundongo irradiadas no D-15 e controles.................54
Tabela 2. Variáveis Maternas...............................................................................77
Tabela 3. Variáveis Fetais......................................................................................77
11
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
1. INTRODUÇÃO ...............................................................................13
2. HIPÓTESE.........................................................................................15
3. OBJETIVOS ...................................................................................16
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................17
4.1 Correlação entre memória e comportamento ...............................17
4.2 Comportamento parental.............................................................18
4.2.1 Fatores genéticos relacionados à conduta materna..............19
4.2.2 Fatores endócrinos relacionados à conduta materna...........20
4.2.3 Circuitos neurais relacionados à conduta materna..............21
4.2.4 Neuroquímica e comportamento materno...........................24
4.2.5 Características das crias
relacionadas à conduta materna...................................................29
4.3 Comportamento parental aberrante ............................................. 30
4.3.1 Canibalismo ........................................................................ 31
4.3.2 Infanticídio ......................................................................... 32
4.4 Radiação Ionizante ........................................................................33
4.4.1 Efeitos da radiação ionizante sobre o sistema nervoso........35
4.4.2 Irradiação pré-natal – alterações na neurogênese.................36
4.4.3 Alterações funcionais e comportamentais
após irradiação do sistema nervoso....................................39
4.4.4 Radiação ionizante em modelos animais ............................41
12
5. MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................42
5.1 Procedimento experimental ............................................................42
5.1.1 Modelo experimental e alojamento ....................................42
5.1.2 Indução do cio e acasalamento ...........................................42
5.1.3 Procedimento para a irradiação
dos modelos experimentais .................................................43
5.1.4 Distribuição dos grupos experimentais ...............................44
5.1.5 Avaliação pós-natal .............................................................45
5.1.6 Avaliação pré-natal ..............................................................46
5.1.7 Processamento histológico ...................................................48
5.2 Análise estatística......................... ....................................................49
5.3 Comissão de Ética na Experimentação Animal.................................49
6. RESULTADOS ......................................................................................50
6.1 Avaliação pós-natal ............................................................................50
6.2 Avaliação pré-natal .............................................................................53
6.2.1 Variáveis maternas ..................................................................53
6.2.2 Variáveis fetais .........................................................................58
7. DISCUSSÃO ..........................................................................................64
8. CONCLUSÃO ........................................................................................70
9. REFERÊNCIAS ....................................................................................71
ANEXO 1 – Tabelas de variáveis maternas e fetais ...............................77
ANEXO 2 – Artigo submetido...................................................................78
13
1 INTRODUÇÃO
O estudo da memória é de grande interesse para neurobiólogos dado que ela é o
substrato para a aprendizagem e linguagem, e sua função se mescla com a definição de
inteligência e entendimento (LENT, 2004). O fenômeno mnemônico tem no ser humano papel
de destaque no desenvolvimento da civilização (PINKER, 2004). Suas alterações patológicas
podem ser correlacionadas com alterações clínicas de pacientes com distúrbios como dislexia,
esquizofrenia, retardo mental e doenças degenerativas cerebrais (GOLDMAN-RAKIC, 1995;
SOUZA, 1995; VITRAL, 2001; PINKER, 2004; HALL et al., 2004; VITRAL et al., 2005).
Vários métodos e técnicas têm sido utilizados para estudar os sistemas de
memória como manipulações genéticas e cirúrgicas (ENNACEUR e MELIANI, 1992;
KESLEY e VARGAS 1993; RAWIINS et al., 1993; WAN, PANG e OLTON, 1994;
GAZZANIGA, 1999; MOOSMANG et al., 2005). De todas elas, a mais específica é a
radiação pré-natal de cobaias, com eliminação seletiva de células neuronais e que consiste em
submeter animais prenhes à radiação ionizante em um determinado período da neurogênese.
Tem sido utilizada como um método efetivo para eliminar uma população neuronal
específica, principalmente as indiferenciadas e ainda em desenvolvimento (SCHMIDT et al.,
2001 a b; VITRAL et al., 2005).
Para comparar os desempenhos nos testes de memória operacional e de referência
com graus variados de desorganização laminar cortical, projetou-se uma pesquisa onde seriam
utilizados camundongos swiss, machos, adultos, obtidos de mães expostas à radiação
ionizante de corpo inteiro no 15
o
(I-15) e 16
o
(I-16) dias pós-inseminação.
14
Iniciado o procedimento experimental, observou-se que as fêmeas de
camundongos prenhes, submetidas á irradiação ionizante apresentavam elevada incidência de
canibalismo. Os trabalhos prévios mencionam os resultados obtidos com os testes realizados
nas crias originadas de mães submetidas à radiação ionizante, mas não fazem menção a
canibalismo (MINAMISAWA et al.,1992; SOUZA, 1995; SCHMIDT et al., 2001a,b;
VITRAL et al., 2005).
Em roedores são citados vários motivos que levam ao canibalismo realizado por
mães em suas crias, entre eles a presença de malformações ou indícios de debilidade física do
recém-nascido e quando as mães são portadoras de alterações genéticas, endócrinas ou
neurológicas (FERRARI et al., 1996; ALSTON-MILLS, 1999; HOUPT, 2000; LONSTEIN e
GAMMIE, 2002; BONSIGNORE et al., 2006).
A elevada incidência de canibalismo observada, ao mesmo tempo em que
inviabilizava a obtenção de animais em número suficiente para os testes, suscitou dúvida
sobre os resultados a serem obtidos com os sobreviventes em testes de memória e
aprendizado. A necessidade de analisar com mais detalhe a incidência de canibalismo bem
como tentar buscar as causas de sua ocorrência foi o propósito do presente trabalho.
15
2 HIPÓTESE
A radiação ionizante em meas de camundongo prenhes gera alterações
morfofisiológicas na mãe e /ou no feto acarretando alta incidência de canibalismo no período
neonatal e infantil
16
3 OBJETIVOS
Avaliar, em fêmeas de camundongos Swiss prenhes, expostas à irradiação
ionizante:
1. Incidência de canibalismo e índice de sobrevivência de crias durante o período
neonatal e infantil.
2. Alterações morfológicas de órgãos do sistema neuroendócrino materno.
3. Alterações do desenvolvimento fetal: atividade motora, e alterações
morfológicas do sistema nervoso e órgão vitais.
17
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.1 Correlação entre memória e comportamento
Duas modalidades de memória relacionadas através de conexões com funções
complementares atuam como base nas rotinas comportamentais, a memória operacional, de
curtíssima duração, sendo esquecida após sua utilização, gera noção de continuidade temporal
e espacial essencial para funções executivas cotidianas (GOLDMAN-RAKIC, 1995) e a
memória de referência que tem como função formar o conhecimento de um mapa espacial do
ambiente onde se está inserido, ou seja, permitir uma localização precisa no espaço
circundante (ENNACEUR e MELIANI, 1992; KESLEY e VARGAS, 1993; RAWLINS et
al., 1993; WAN et al., 1994; VITRAL et al., 2005).
O aprendizado pode ser moldado geneticamente e por processos fisiológicos, mas
implica necessariamente na organização de novas conexões e alterações funcionais neurais
(LENT, 2004) e a retenção de novos padrões comportamentais é feita através da memória.
As pesquisas desenvolvidas até o presente momento encontraram como correlato
celular da memória e aprendizado, a distribuição laminar cortical e presença de células
específicas em determinadas camadas (GOLDMAN-RAKIC, 1995; GAZZANIGA, 1999).
A busca pelo maior conhecimento dos substratos moleculares, celulares e
plasticidade sináptica, alterações cerebrais que ocorrem durante o aprendizado e execuções
comportamentais, tem impulsionado as pesquisas na área da neurociência e neurobiologia
(GAZZANIGA, 1999).
18
As alterações patológicas correlacionam modificações de vias e funcionalidade
sináptica com distúrbios clínicos de aprendizagem e comportamento como dislexia,
esquizofrenia, retardo mental e doenças degenerativas cerebrais (GOLDMAN-RAKIC, 1995;
SOUZA, 1995; VITRAL, 2001; HALL et al., 2004; PINKER, 2004; VITRAL et al., 2005).
A Neurobiologia e os estudos neurocomportamentais vêm se destacando na elucidação das
bases fisiológicas e anatômicas da memória, da aprendizagem e dos processos de aquisição de
novos comportamentos frente à experiência.
Atualmente o conhecimento sobre as bases neurofisiológicas e endócrinas do
comportamento é de grande interesse e compreender os processos fisiológicos ajuda na
elucidação dos comportamentos aberrantes e patológicos, bem como na busca por tratamentos
mais eficazes e específicos para os mesmos.
4.2 Comportamento parental
Todo cuidado dispensado às crias, tanto por parte das fêmeas como dos machos, é
chamado de comportamento parental e visa aumentar as chances de sobrevivência dos filhotes
e suas aptidões para a vida adulta (MOTTA, 2000). Nos mamíferos o cuidado parental é
prolongado e intenso e se confunde com materno, pois é a fêmea quem se ocupa da proteção e
alimentação das crias que nascem dependentes (KREBS e DAVIES, 1996; LONSTEIN e
VRIES, 2000).
O comportamento maternal é caracterizado como um complexo de seqüências
comportamentais estereotipadas tais como postura de amamentação, lambidas nas crias,
19
cuidados com o ninho, manutenção da ninhada agrupada e defesa da cria diante de um invasor
(LONSTEIN e VRIES, 2000; MOTTA, 2000; BONSIGNORE et al., 2006), que relaciona-se
a fatores hormonais, neurológicos, características genéticas e estímulos sensoriais das crias
(FERRARI et al., 1996; HOUPT, 2000; LONSTEIN e GAMMIE, 2002; BONSIGNORE et
al., 2006).
Conforme descrito por Lonstein e Gammie (2002), o comportamento materno é
mantido ao longo da amamentação e até que a prole se torne independente. Os
comportamentos de proteção e agressividade contra invasores declinam com o tempo de
lactação tendo seu pico máximo durante as duas primeiras semanas. Tais comportamentos não
têm sua base fisiológica perfeitamente definida, mas sabe-se que o estímulo de sucção das
crias é responsável pelo seu início e a manutenção e o decréscimo nas fases tardias de
lactação é devido, principalmente, à diminuição da freqüência de amamentação e fatores
neuroendócrinos ainda não totalmente explicados. Algumas linhagens de camundongo não
apresentam atitudes protetoras, levando à hipótese de que fatores genéticos também são
responsáveis pelo seu aparecimento.
4.2.1 Fatores genéticos relacionados à conduta materna
Alguns genes, em ratas, foram identificados e relacionados com a conduta
materna demonstrando a importância destes no comportamento. Houpt (2000) observou que,
em ratos, alteração genética do receptor de prolactina produz distúrbio não na conduta
materna como também no aprendizado e anormalidades na função do gen do receptor para
estrogênio e vitamina D levam ao aparecimento de condutas anormais, como canibalismo. A
ausência do gene Mest leva à falta de cuidado materno e da placentofagia fisiológica, e a
20
presença do gen Peg 3, de transmissão paterna, gera comportamento anormal.
Os ratos FSL (Flinders Sensitive Line), manipulados geneticamente para servirem
como modelo animal para depressão, apresentam redução das atividades relativas ao cuidado
das crias (LAVI-AVNON, 2005) e camundongos mutantes hubb/hubb, além de demonstrarem
diminuição do comportamento padrão de cuidados com a prole, podem desenvolver condutas
aberrantes como canibalismo (ALSTON-MILLS, 1999).
Mutação no gen da ocitocina gera maior agressividade em ratos machos
(LONSTEIN e GAMMIE, 2002) e possivelmente alterações maternas.
Os estudos genéticos apresentam campo vasto e aberto para novas pesquisas e
descobertas.
4.2.2 Fatores endócrinos relacionados à conduta materna
Os hormônios atuam em variadas áreas cerebrais modulando os comportamentos e
influenciando mudanças fisiológicas e possivelmente patológicas. As flutuações dos níveis
hormonais ovarianos e hipofisários durante os ciclos reprodutivos e suas funções no controle
da agressividade e cuidados parentais vêm sendo amplamente estudados. As alterações
hormonais a que as fêmeas se encontram expostas durante os períodos de gestação e lactação
levam a mudanças comportamentais adaptativas para as novas tarefas de cuidados com a prole
(LONSTEIN e VRIES, 2000; LONSTEIN e GAMMIE, 2002) que visam à sua proteção, bem
estar e à defesa territorial, e interferências patológicas nos seus níveis refletem-se nos padrões
de comportamento observáveis.
21
Os estímulos desencadeadores do comportamento materno em ratas são as
alterações hormonais do final da gestação e pós-parto. No período de prenhez, as ratas
apresentam elevação dos níveis de progesterona, estrogênio e prolactina, seguida de queda das
taxas de progesterona no pré-parto. Concomitantemente as ratas exibem os comportamentos
de construção e manutenção do ninho e lamber os mamilos (MOTTA, 2000; LONSTEIN e
GAMMIE, 2002).
O comportamento protetor, com aumento da agressividade contra invasores, é
promovido, nas ratas, pela elevação dos níveis de estrogênio e estímulo de sucção das crias ao
mamarem e, nas fêmeas de camundongo, é dependente apenas do reflexo de sucção, pois o
estrogênio encontra-se baixo nesta espécie, durante lactação. Os níveis de progesterona
elevados durante a gestação não afetam diretamente a agressividade, mas geram aumento no
alerta ao perigo (LONSTEIN e GAMMIE, 2002; D’AMATO et al., 2006).
O papel da prolactina como indutora de comportamento materno não está bem
estudado ainda, e a sua importância não pode ser descartada, mas parece ser irrelevante na
origem e manutenção da agressividade contra invasores. Também a ocitocina parece estar
mais ligada a um reconhecimento da identidade do invasor, do que aumento da agressividade
materna contra o mesmo (LONSTEIN e GAMMIE, 2002).
4.2.3 Circuitos neurais relacionados à conduta materna
O envolvimento dos circuitos neurais e neurotransmissores na gênese do
comportamento reprodutivo e parental é de inegável importância, mas ainda requer maior
esclarecimento. Os circuitos neurais da agressão em roedores, comuns à fêmea lactante e ao
22
macho, incluem áreas ventrais e mediais do hipotálamo que recebem informações hormonais
e sensoriais para integração, e enviam padrões motores de respostas, ligadas a agressividade.
Áreas cerebrais identificadas durante comportamento protetor materno, utilizando
marcadores de atividade neural, cFOS e pCREB, podem estar relacionadas a aferências de
estímulos da cria ou eferências motoras comportamentais, o que tem tornado difícil
interpretações baseadas nestes resultados.
Os estímulos sensoriais durante interação com as crias são importantes para a
manutenção do comportamento materno de proteção e as alterações de áreas ligadas a
aferência e processamento de pistas sensoriais das crias diminuem as reações de cuidados
(LONSTEIN e GAMMIE, 2002; OLAZÁBAL et al., 2004).
As lesões da área talâmica mediodorsal ou do córtex insular pré-frontal levam a
um decréscimo da agressividade protetora das fêmeas lactantes e essa anormalidade
comportamental não se deve a anosmia, mas sim a um não reconhecimento das pistas
olfatórias das crias, não ocorrendo discriminação entre essas e o intruso (LONSTEIN e
GAMMIE, 2002).
Lesões dos núcleos peripedunculares, que transmitem impulsos da amamentação
para hipotálamo e sistema límbico, causam diminuição das atitudes de proteção apenas se
ocorrerem após o quarto dia de parto demonstrando que os estímulos hormonais parecem ter
uma importância maior como iniciadores desse comportamento, sendo apenas a manutenção
de responsabilidade dos circuitos neurais peripedunculares. Quando são observadas lesões no
hipotálamo ventromedial de ratos, onde terminam as projeções dos núcleos peripedunculares,
23
ocorre decréscimo da agressividade contra intrusos em fêmeas lactantes e entre machos. O
neurotransmissor GABA (ácido gama amino butírico) parece ser o facilitador neste sítio, para
o comportamento maternal, já que seus antagonistas geram uma alteração na conduta
agressiva (LONSTEIN e GAMMIE, 2002).
O papel dos núcleos paraventriculares do hipotálamo não está bem claro, mas
lesões precoces realizadas após dois dias do parto causam aumento do comportamento
protetor, porém quando estas alterações ocorrem mais tardiamente, cinco dias após o
nascimento das crias, um decréscimo da atitude contra agressores. Independente da
ocasião, pré ou pós- parto, que ocorra lesão na área cinzenta periaquedutal haverá um
aumento da agressividade materna, indicando ter essa região um controle inibitório sobre o
comportamento protetor e diminuição na postura de amamentação que as áreas laterais e
ventrolaterais desta região são estimuladas durante amamentação (LONSTEIN e STERN,
1997; LONSTEIN e GAMMIE, 2002).
Lesões no septum prejudicam as atitudes de ataque frente a um agressor por parte
de fêmeas lactantes, e a serotonina parece estimular esse comportamento quando aumentada
nesta área (LONSTEIN e GAMMIE, 2002), ao contrário, alterações dos níveis de serotonina
nos núcleos da rafe mediana causam interrupção do comportamento materno (OLAZÁBAL et
al., 2004).
A área pré-óptica medial tem um papel importante para comportamentos
maternais como construção de ninho e busca de crias para retorná-las ao ninho, mas pode ser
estimulada por dois neurotransmissores diferentes que ratas adultas (60 a 100 dias de vida)
expostas à presença de filhotes apresentam aumento dos níveis de dopamina neste núcleo,
24
porém nas ratas jovens (19 a 21 dias de vida) expostas a esse mesmo estímulo, os níveis
aumentados são de serotonina (LONSTEIN e GAMMIE, 2002; OLAZÁBAL et al., 2004).
A área talâmica mediodorsal, córtex insular pré-frontal, núcleos peripedunculares,
região cinzenta periaquedutal e septum estão relacionados ao comportamento agressivo
protetor em ratas e fêmeas de camundongo, mas não diretamente a agressões contra crias.
As regiões mais relacionadas ao comportamento materno de cuidado com as crias
são: área pré-óptica medial, região da amigdala e núcleo acumbens. A amigdala está
relacionada ao reconhecimento das crias e o núcleo acumbens à manifestação de recolhimento
destas para o ninho, a área pré-óptica medial no hipotálamo é responsável tanto pelo início
como pela expressão do comportamento da fêmea frente às crias (OLAZÁBAL, 2004) e é
considerada a principal região implicada no comportamento materno (BRIDGES et al., 1990;
CALAMANDREI, 2006).
Áreas envolvidas na gênese do comportamento materno de cuidado e interação
com as crias podem estar relacionadas a comportamentos maternos aberrantes quando lesadas.
4.2.4 Neuroquímica e comportamento materno
As alterações no equilíbrio neuroquímico podem ser transitórias ou permanentes e
mesmo quando discretas podem provocar mudanças comportamentais. rios
neurotransmissores e moduladores, bem como suas vias de interação, estão relacionados ao
comportamento agressivo frente a um invasor e proteção das crias (LONSTEIN e VRIES,
25
2000; LONSTEIN e GAMMIE, 2002; OLAZÁBAL et al., 2004; D’AMATO et al., 2006). A
especificidade de cada um na gênese dos comportamentos ainda está longe de estar totalmente
esclarecida, e é uma lacuna a ser preenchida visando inclusive tratamentos mais direcionados
para alterações patológicas comportamentais.
Serotonina
Níveis baixos de serotonina estão relacionados a alto índice de agressividade em
machos de várias espécies, de roedores a humanos, mas ao inverso, o uso de agonistas e
precursores da serotonina, em meas de camundongos e ratas lactantes, induzem à
diminuição do seu comportamento agressivo. Contrariamente, agonista serotoninérgico no
septum medial aumenta o comportamento agressivo em ratas e as lesões das vias
serotoninérgicas na área mediana dos núcleos da rafe levam á inibição do comportamento
materno (LONSTEIN e GAMMIE, 2002; OLAZÁBAL et al., 2004).
Óxido Nítrico
O óxido nítrico, neuromodulador gasoso, tem sua síntese aumentada em várias
regiões do hipotálamo (área medial pré-óptica, núcleos supraquiasmático e
subparaventricular) em fêmeas de camundongo lactantes durante execução de
comportamento agressivo. Nos machos da mesma espécie, o oposto ocorre, e a diminuição
dos veis de óxido nítrico está relacionada ao aumento de agressividade, talvez por uma
interação com vias serotoninérgicas (LONSTEIN e GAMMIE, 2002).
26
GABA
Altos níveis de GABA o mantidos pelo estímulo de sugar das crias durante
amamentação e o responsáveis pela agressão protetora das fêmeas e este comportamento
pode ser induzido em ratas virgens tratadas com benzodiazepínicos e diminuído quando ratas
e fêmeas de camundongo são tratadas com antagonistas dos benzodiazepínicos (LONSTEIN e
GAMMIE, 2002).
Sistemas Dopaminérgicos
Os sistemas dopaminérgicos estão envolvidos no despertar e na manutenção do
cuidado materno, e as alterações em seus níveis causam anormalidades neste comportamento
(BONSIGNORE et al., 2006). A dopamina parece inibir o comportamento agressivo em ratas,
mas a injeção de seu antagonista leva à diminuição do comportamento agressivo em fêmeas
de camundongo. O uso crônico de cocaína durante gravidez em ratas aumenta a agressividade,
já seu uso agudo pós-parto reduz este comportamento (LONSTEIN e GAMMIE, 2002).
Lesões nas vias dopaminérgicas causam interrupção no comportamento materno, e o uso de
seu antagonista leva à inibição de comportamento de recolhimento de crias para o ninho
(OLAZÁBAL et al., 2004).
Vasopressina e Prolactina
A vasopressina está relacionada à agressividade em várias espécies, mas não
um número significativo de trabalhos incluindo este neuropeptídeo no estudo de
comportamento agressivo ou de proteção em fêmeas com cria. A prolactina, tanto de origem
27
hipofisária como placentária, está mais relacionada ao início dos cuidados parentais e
aparentemente não influencia a agressividade materna. O papel da prolactina sintetizada em
neurônios não está esclarecido (LONSTEIN e GAMMIE, 2002), mas apenas a prolactina
administrada no sistema nervoso central gera comportamento materno, atuando
principalmente na área pré-optica medial (BRIDGES et al., 1990).
Fator liberador de corticotropina
A liberação de fator liberador de corticotropina é responsável pelo aumento de
ansiedade e reação de medo em machos de roedores. Durante a lactação decréscimo dos
níveis deste hormônio no hipotálamo das fêmeas que o comportamento agressivo protetor
pós-parto es relacionado à diminuição da ansiedade e medo, e a administração de fator
liberador de corticotropina e o hormônio adrenocorticotrópico inibem sua manifestação
(LONSTEIN e GAMMIE, 2002).
Opióides
Os opióides diminuem a agressividade, e veis mais baixos desse neuropeptídeo
são necessários para o aparecimento de comportamento protetor de fêmeas durante a lactação,
entretanto no período pré-parto, várias áreas cerebrais apresentam taxas altas de opióides e o
comportamento protetor já se manifesta em roedores, o deixando clara a especificidade
desse modulador. O uso de agonistas, como a morfina, talvez leve ao comportamento menos
agressivo por diminuição de pistas olfatórias ou aferência álgica (LONSTEIN e GAMMIE,
2002).
28
Ocitocina e complexo amigdalóide
A presença de níveis mais altos de ocitocina no complexo amigdalóide produz
reconhecimento social em camundongos e permite às fêmeas diferenciarem suas crias de
intrusos inclusive discriminando o sexo e idade de invasores, sendo os ataques mais ferozes
contra machos adultos.
A lesão do órgão vomeronasal que tem forte associação com complexo
amigdalóide, elimina ataque a agressores, mas não altera comportamento maternal frente às
crias, sugerindo que pistas olfatórias são mais importantes para identificação de invasores do
que geradoras de estímulo para cuidados maternos (LONSTEIN e GAMMIE, 2002;
OLAZÁBAL et al., 2004). Experimentos demonstraram que as áreas envolvidas na emoção e
recompensa e vias reguladoras do olfato são estimuladas pela ocitocina (FEBO et al., 2005)
demonstrando o envolvimento do complexo amigdaliano no circuito límbico de
reconhecimento, importante para a modulação de comportamento agressivo.
As substâncias neurotransmissoras e moduladoras como serotonina, vasopresina,
prolactina, fator liberador de corticotropina, opióides e ocitocina, atuam nos comportamentos
protetores modulando a agressividade e ansiedade. O comportamento materno
especificamente parece estar mais relacionado a vias dopaminérgicas e ao neurotransmissor
GABA.
No Sistema Nervoso, as áreas responsáveis pela manifestação comportamental são
moduladas internamente por variações nos níveis de neurotransmissores e hormônios e
externamente pela experiência de aprendizado e informações sensórias aferentes.
29
4.2.5 Características das crias relacionadas à conduta materna
As crias fornecem uma série de estímulos sensoriais que são responsáveis tanto
por iniciar como por manter a conduta materna de cuidado e proteção nas fêmeas. Para que se
mantenha o comportamento maternal, as fêmeas devem ter sido expostas recentemente às suas
crias, período de separação de cinco horas causa diminuição do comportamento materno de
proteção (LONSTEIN e GAMMIE, 2002).
O principal estímulo tátil em roedores ocorre na interação entre crias e mães
durante a amamentação, e parece ser esse o fator mais importante para a manutenção do
comportamento materno. Nas ratas a estimulação tátil ventral é a mais importante, sendo que
em fêmeas de camundongo necessidade do estímulo de sucção durante a amamentação
(LONSTEIN e VRIES, 2000; LONSTEIN e GAMMIE, 2002; FEBO et al., 2005). A pele
delicada dos filhotes e a sua umidade também são pistas táteis sinalizadoras e mantenedoras
de cuidados maternais (HOUPT, 2000).
Estímulos olfatórios são de extrema importância na comunicação entre crias e
fêmeas e podem ser oriundos tanto de substâncias voláteis ou de feromônios, e permitem a
distinção pelas mães entre crias e intrusos (LONSTEIN e GAMMIE, 2002) e geram
comportamentos de cuidados com as ninhadas, lambidas na região ano-genital das crias para
estimular miccção e defecação. Este último cuidado é mais intenso em crias do sexo
masculino devido à presença de feromônio na urina e é determinante para que essas crias
apresentem comportamento reprodutor e sexual na vida adulta, a aferência tátil gerada pelo
cuidado materno desenvolve vias neuronais eferentes para comportamento motor de monta
durante a cópula (CARLSON, 2002).
30
O comportamento materno diminui nas fases tardias da lactação, talvez as
modificações das crias crescidas levem a alterações nas pistas olfatórias e táteis que não mais
conseguem manter o estímulo para atitudes protetoras e de cuidados. Ocorre também uma
diminuição da freqüência dos contatos entre mães e filhotes com o passar do tempo e
crescimento destes, o que acarretaria um decréscimo dos estímulos sensoriais.
A vocalização ultrassônica das crias é identificada pela mãe e é importante para a
busca dos filhotes perdidos e recuperação para junto da ninhada, a vocalização dos intrusos é
diferenciada e permite localização e ataque mais precisos. As pistas visuais geram
identificação do tamanho das crias e parecem importantes na manutenção de cuidados
maternos com animais de menor porte do que um adulto (HOUPT, 2000), contato com
coespecíficos menores, desperta cuidados maternos e intrusos de menor porte despertam
menos agressividade em adultos (LONSTEIN e GAMMIE, 2002).
Alterações na capacidade de captar pistas advindas das crias ou de anormalidades
nas funções cerebrais associativas podem gerar comportamentos maternos anômalos, bem
como crias com comportamento ou morfologia anormais podem desencadear na e
comportamentos para eliminação dessas crias (HOUPT, 2000; CHRISTIAN,2001)
4.3 Comportamento parental aberrante
Comportamentos parentais não comuns podem ter sua origem em fenômenos
fisiológicos e ecológicos como controle populacional, sobrevivência durante período de
carência de recursos e eliminação de competidores sexuais. Mesmo as atitudes maternas que
aparentemente não parecem ser de cuidados, como o infanticídio, podem ser uma
31
manifestação de proteção das crias saudáveis e eliminação de filhotes que não seriam viáveis.
Comportamentos aberrantes como sintomas de disfunção neurológica ou
endócrina materna são cada vez mais abordados em trabalhos experimentais e o conhecimento
sobre as bases neurais e endócrinas do comportamento materno em modelos animais
(LONSTEIN e GAMMIE, 2002) pode favorecer a compreensão das alterações
comportamentais pós-parto em mulheres com padrões elevados de agressividade.
4.3.1 Canibalismo
O ato de um animal devorar outro da mesma espécie é um comportamento
intrigante que atrai estudos de várias áreas, desde a biologia aa sociologia, passando por
questionamentos éticos e religiosos quando este fenômeno é observado em comunidades
humanas.
A descrição do canibalismo como um corte na própria carne” parece sugerir uma
idéia de auto-eliminação, porém este comportamento apresenta uma vantagem evolucionária
individual e populacional, canibalizar jovens crias é uma estratégia de sobrevivência de
adultos durante períodos de limitação de comida. A morte da vítima não fornece energia
para o adulto como é uma tática de eliminação de um competidor pelos mesmos recursos e o
nível populacional poderá até ser positivo quando as crias se tornam uma estratégia alimentar
dos adultos (GETTO et al., 2005).
Quando ocorre aumento da densidade populacional, este comportamento tem sua
importância no controle demográfico, e nesses casos não está relacionado a necessidade
32
alimentar individual dos adultos. O canibalismo promove a regulação populacional, processo
densidade dependente, quando a relação do número de vítimas por predador for alta, tendo
efeito dinâmico sobre o nível populacional e promovendo a sobrevivência dos adultos frente à
adversidade alimentar. Optar por um comportamento não canibalístico seria uma condenação
à extinção, e esta estratégia promove a sobrevivência individual e populacional (CLAESSEN
et al., 2003; GETTO et al., 2005).
4.3.2 Infanticídio
No infanticídio a morte da vítima não tem como objetivo a alimentação do adulto
que o praticou, diferentemente do canibalismo (CLAESSEN et al., 2003).
Entre roedores é comum quando praticado por o parentes, camundongos
machos praticam infanticídio, e a agressividade materna aumentada durante a lactação tem
como objetivo a proteção das próprias crias contra esse comportamento, bem como defesa de
território. Camundongos suíços machos juvenis são mais vítimas de infanticídio do que
animais do sexo feminino, talvez por que suas pistas olfatórias sejam mais estimulantes sobre
fêmeas lactantes que não suas mães (LONSTEIN e GAMMIE, 2002).
O infanticídio praticado pelo macho tem como substrato neural e motivacional
uma competição sexual e social. È uma estratégia adaptativa para aumentar recursos de
acasalamento e não um ataque predatório, a utilização de medicação antiagressiva
serotoninérgica diminui o infanticídio sem alterar o comportamento predatório. As fêmeas são
comumente descritas como menos agressivas do que os machos, sendo este comportamento
alterado durante prenhez e principalmente lactação. O infanticídio por fêmeas lactantes é
33
praticado contra crias de outras meas, basicamente motivado por defesa de território e
competição intrassexual por alimentos e recursos para construção de ninhos, como nos
machos, não está relacionado a um comportamento predatório (FERRARI et al., 1996).
Infanticídio sobre crias próprias pode ocorrer quando estas não apresentam as
características perinatais esperadas como normais. Os filhotes malformados, fracos, com
temperatura menor e vocalizando pouco, são identificados como os de menor probabilidade
de sobrevivência, e podem ser canibalizados pelas próprias mães logo ao nascerem (HOUPT,
2000). Nos modelos experimentais de estudos toxicológicos, com a expectativa de
malformações, o sacrifício das fêmeas prenhes deve ocorrer antes da data prevista para o
parto, caso contrário o infanticídio materno eliminará as chances de observação das
deformidades (CHRISTIAN, 2001).
4.4 Radiação Ionizante
Os efeitos toxicológicos da radiação dependem da dose total absorvida e o
influenciados pelo tempo de exposição. Os efeitos imediatos apresentam sinais clínicos
resultantes da morte celular, tardiamente, o efeito estocástico, devido à lesão de material
nuclear pode induzir ao aparecimento de câncer ou mutação gênica transmissível às próximas
gerações (SANTIS et al., 2005). Além disso, as lesões podem ser causadas indiretamente pela
formação de radicais livres reacionais (VERHEYDE e BENOTMANE, 2006).
A citopatologia devido à radiação é semelhante aos outros tipos de injúrias
celulares e a lesão molecular, ampliada pelos processos biológicos após injúria, pode levar de
segundos a anos para se expressar (COCKERHAM, 2001).
34
A interação da radiação com os organismos vivos gera efeitos biológicos como as
quebras das ligações químicas que degradam as estruturas das moléculas, alterando ou
eliminando a atividade bioquímica normal. Proteínas e aminoácidos m a sua função
prejudicada após irradiação devido às quebras nas pontes de hidrogênio, na maioria das vezes
irreversíveis. Quando as bases dos ácidos nucléicos são rompidas, anormalidades tanto no
DNA como RNA mensageiro são observadas, e o dano interrompe o ciclo celular, diminui a
capacidade de reparo do organismo e provoca morte celular por necrose ou apoptose induzida
e o câncer aparece secundariamente à lesão do material protéico nuclear (COCKERHAM,
2001; SANTIS et al., 2005; VERHEYDE e BENOTMANE, 2006).
A apoptose induzida pela radiação é inicialmente causada pela lesão no DNA e
posteriormente mantida por um segundo mensageiro, a ceramida (COCKERHAM, 2001). É
um fenômeno receptor dependente e não secundário ao dano de material nucléico
(VERHEYDE e BENOTMANE, 2006).
Durante o ciclo celular, as lulas em mitose (síntese de DNA e divisão celular)
são as mais radiossensíveis, e tecidos com maiores velocidades nos ciclos celulares têm maior
chance de serem alterados durante exposição à radiação como os tecidos em formação durante
a fase de organogênese.
Os sistemas reprodutivos e endócrinos respondem à irradiação com sinais de
deficiência com queda da produção de melatonina na pineal, de hormônios hipofisários e
ovarianos como o estrogênio e progesterona. O aumento da secreção de TSH (fator de
liberação) é compensatório à diminuição da produção hormonal tireoidiana (COCKERHAM,
2001) e o hipotireoidismo secundário à irradiação diagnóstica dentária leva ao nascimento de
35
fetos de baixo peso (SANTIS et al., 2005).
Na fase pré-implantação, aa placenta se tornar um órgão funcional, o concepto
em divisão celular é extremamente sensível e normalmente ocorrerá morte após irradiação.
Após a implantação e no período de organogênese a irradiação causará patologia estrutural,
com anormalidades nos órgãos e malformações externas grosseiras. No período perinatal as
lesões serão mais funcionais do que anatômicas, com alterações nas atividades enzimáticas
teciduais, produção hormonal e hematopoiese (COCKERHAM, 2001; VERHEYDE e
BENOTMANE, 2006).
A radiação ionizante é potencialmente teratogênica e apesar da correlação entre
dose e efeito não estar bem definida, o período gestacional mais suscetível em humanos
compreende da segunda à oitava semana, e seus efeitos são dependentes do período em que
ocorre a exposição e não apenas da dose absorvida pelo feto (SANTIS et al., 2005).
4.4.1 Efeito da radiação ionizante sobre o Sistema Nervoso
O tecido nervoso adulto era considerado relativamente resistente à radiação, porém
o período longo de latência para o aparecimento das lesões dificulta as avaliações, como a
desmielinização que é iniciada duas semanas após a irradiação. Em animais de laboratório,
adultos, expostos a uma dose única acima de 15 Gy, o surgimento de necrose no tecido
branco e é possível observar alterações morfológicas com dose única acima de 10 Gy
(COCKERHAM, 2001).
36
A apoptose em neurônios maduros se deve ao dano no receptor ou canal iônico
com aumento do influxo de cálcio o que não é encontrado durante apoptose de neurônios
imaturos. Leucoencefalopatia, microangiopatia, atrofia cortical e necrose cerebral que surgem
após irradiação no tecido nervoso formado parecem ter como principal causa alterações
vasculares e não morte celular direta (VERHEYDE e BENOTMANE, 2006).
Áreas subcorticais são mais sensíveis, como hipotálamo e hipocampo. Ratos
irradiados mesmo com doses baixas, 0,005 a 0,5 Gy , apresentam diminuição da densidade
sináptica em CA1 hipocampal e as alterações vasculares, com quebra de barreira
hematoencefálica, edema vasogênico e aumento da pressão intracraniana surgem tardiamente
em animais irradiados com doses mais altas (10 – 30 Gy) (COCKERHAM, 2001).
As lesões em hipocampo manifestam-se com alterações de aprendizado, memória
e orientação espacial, mesmo com exposição em doses baixas e em pacientes adultos
(VERHEYDE e BENOTMANE, 2006).
4.4.2 Irradiação pré-natal – alterações na neurogênese
Durante a oitava e a décima quinta semanas de gestação em humanos o tecido
nervoso se encontra mais vulnerável á ação da radiação ionizante devido ao alto índice de
proliferação e migração neuronal para formação das camadas corticais (GOLDMAN-RAKIC,
1995; GAZZANIGA, 1999; SANTIS et al., 2005).
uma diminuição da radiossensibilidade do tecido nervoso ao longo do período
gestacional e apesar de ser mais raro o aparecimento de lesões morfológicas ou funcionais
37
após a vigésima quinta semana de gestação em humanos (SANTIS et al., 2005), mudanças
comportamentais sem alterações histológicas podem surgir após exposição em fases tardias do
desenvolvimento ou na fase perinatal (HALL et al., 2004; VERHEYDE e BENOTMANE,
2006).
A apoptose induzida durante o desenvolvimento neuronal pode ter inicio seis horas
após a exposição e atinge principalmente as áreas germinativas periventriculares e camada
externa granular e mesmo a utilização precoce do Fator Neurotrófico cerebral (BDNF) o
previne este fenômeno (FERRER et al., 1998).
Em cultura de células corticais de ratos em idade gestacional de quinze dias,
neurônios pós-mitóticos se tornam suscetíveis a apoptose devido à diminuição da velocidade
de reparo do DNA (GOBBEL et al., 1998). Alterações no funcionamento de receptores e
apoptose são encontradas nas culturas de neurônios hipocampais de ratos em fases tardias
(SHIRAI et al., 2006).
A exposição à radiação ionizante em altas doses (>1Gy) leva ao atraso no
desenvolvimento do Sistema Nervoso com aparecimento de microcefalia principalmente
quando esta ocorre antes da décima sétima semana de gestação em humanos, e após a
vigésima semana não anomalias congênitas (SANTIS et al., 2005; VERHEYDE e
BENOTMANE, 2006).
Em ratos irradiados no período pré-natal (D-15 e D-16) ocorre alto índice de
microcefalia, principalmente devido à morte celular nas regiões neocorticais, bem como
alterações na formação sináptica com desequilíbrio entre número de neurônios secretores de
38
GABA e GLUTAMINA (NAKANISHI, 2004).
O retardo mental é uma das mais importantes alterações após a irradiação em altas
doses intra-útero e não pode ser creditado apenas à diminuição da circunferência craniana
que é encontrado sem estar associado à microcefalia (SANTIS, 2005; VERHEYDE e
BENOTMANE, 2006). A alteração cognitiva devido à queda da função cortical após a
irradiação ionizante indica provável anormalidade nas conexões neurais ou alteração gênica
semelhante a desordens genéticas que se expressam com semelhante decréscimo cognitivo
(VERHEYDE e BENOTMANE, 2006).
A irradiação ionizante pré-natal, como técnica para provocar lesão no
desenvolvimento do sistema nervoso já foi utilizada por autores que evidenciaram alterações
do desenvolvimento cerebral em roedores (SOUZA, 1995; SCHMIDT et al., 2001a b;
VITRAL, 2001; VITRAL et al., 2005).
Roedores submetidos à irradiação durante o 15
o
dia (D-15) gestacional apresentam
alterações como as descritas por Souza em 1995: destruição de células nas regiões anteriores,
redução da espessura e densidade celular nas camadas supragranulares e nódulos de lulas
entre áreas rarefeitas de população celular nestas mesmas camadas, as ectopias neuronais no
hipocampo, nas regiões periventriculares e na camada I podem estar acompanhadas de
agenesia do corpo caloso.
Ratos irradiados no D-16 ou D-18 apresentam desenvolvimento falho das camadas
II, III e IV, mas evidências de que as lulas progenitoras sobreviventes do neocortex
proliferem após exposição (NAKANISHI et al., 2004). Em períodos tardios da organogênese
39
cerebral pode ocorrer diminuição da formação das camadas corticais, e o efeito sobre a
migração neural pode levar a alterações moleculares e morfológicas regionais como ectopias
(VERHEYDE e BENOTMANE, 2006).
A desorganização no hipocampo irradiado tardiamente evidencia dispersão das
células de CA1 e CA3, além da agenesia do corpo caloso e diminuição do tecido cortical e
cerebelar. Lesões na glia podem ocorrer com doses baixas de RX, em torno de 0,2 Gy, e por
sua importância funcional podeacarretar anormalidades funcionais ainda não esclarecidas
(COCKERHAM, 2001).
4.4.3 Alterações funcionais e comportamentais após irradiação do sistema nervoso
A exposição à radiação ionizante pode levar a alterações funcionais sem lesões
radiogênicas morfológicas, nestes casos os testes comportamentais e eletrofisiológicos são
mais sensíveis.
Alterações metabólicas no tecido nervoso, disfunção hipotalâmica sem necrose,
podem ser observadas após exposição a doses baixas entre 0,11 a 0,24 Gy e (COCKERHAM,
2001).
Ocorre aumento do fluxo de sódio após irradiação ionizante, o que acarreta uma
hiperatividade cerebral com mudanças do padrão cortical no eletroencéfalograma de animais e
humanos após exposição a 0,05 Gy, e anormalidades significativas associadas a alterações
hipocampais com doses em torno de 2 Gy (COCKERHAM, 2001). Neurônios maduros
apresentam aumento do influxo de cálcio devido à lesão no canal iônico (VERHEYDE e
40
BENOTMANE, 2006).
A função dopaminérgica está diminuída com irradiação de altas doses (100Gy),
mas ocorre aumento da ntese de acetilcolina no hipotálamo de ratas após exposição a doses
baixas como 0,02Gy. O surgimento de grânulos neurosecretórios na hipófise e hipotálamo nos
dois primeiro dias após irradiação de RX na dose de 3 Gy é transitório e a ingestão menor de
água e comida, diminuição do comportamento sexual e agressividade são alterações de
comportamentos inatos dose dependente. A exacerbação da agressividade surge com doses
acima de 10 Gy, sendo que doses baixas (0,05 a 0,15 Gy) levam à inibição deste
comportamento de defesa (COCKERHAM, 2001).
Ratos e camundongos irradiados por volta do 15
o
dia de vida intra-uterina
apresentam anormalidades no comportamento motor como locomoção saltitante,
hiperatividade, respostas motoras em sucessões rápidas e eventualmente tônus muscular
diminuído e os camundongos irradiados nesta mesma data, com dose de 2Gy, desenvolvem
agressividade na vida adulta (COCKERHAM, 2001). Diminuição da locomoção espontânea e
da execução motora como nadar, alteração no aprendizado de labirintos com diminuição do
aprendizado, memória operacional e memorização espacial são comportamentos inatos
alterados com a exposição à irradiação (COCKERHAM, 2001; NAKANISHI et al., 2004;
VITRAL et al., 2005).
41
4.4.4 Radiação ionizante em modelos animais
A irradiação pré-natal de modelos animais é um método efetivo para eliminar uma
população neuronal específica, principalmente as indiferenciadas e ainda em desenvolvimento
(SCHMIDT et al., 2001 a; SCHMIDT et al., 2001b; VITRAL et al., 2005).Conhecer as etapas
de desenvolvimento embrionário de cada área e sistema cerebral permite a eliminação seletiva
destas. As células em mitose são as mais radiossensíveis, logo a área em desenvolvimento na
época da irradiação será a lesada especificamente. A não manipulação direta do cérebro e a
eliminação de neurônios pós-mitóticos não indiferenciados por apoptose tornam esta técnica
bastante seletiva e de alta especificidade nos estudos neurobiológicos.
O córtex cerebral é a estrutura responsável pela capacidade cognitiva, inteligência,
criatividade e padrões comportamentais. A mais importante característica desta estrutura é a
sua arquitetura distribuída em camadas e laminas e suas divisões em áreas de dominância com
suas conexões (GOLDMAN-RAKIC, 1995; GAZZANIGA, 1999). A irradiação pré-natal
ionizante permite estudar alterações na laminação cortical, na migração de neurônios e nas
conexões de áreas cerebrais. Esta técnica possibilita também apreciar respostas
comportamentais de reação plástica de lesões precoces do tecido nervoso e o uso de roedores
como cobaias têm se mostrado de utilidade que o grau de maturidade cerebral de um rato
recém nascido pode ser comparado ao de um feto humano durante os três últimos meses de
gestação (BONSIGNORE et al., 2006).
Camundongos Swiss apresentam comportamento agressivo semelhante tanto na
vida selvagem como em laboratório, e são bons modelos experimentais para estudar as
causas e mecanismos da agressão (FERRARI et al, 1996).
42
5 MATERIAIS E MÉTODOS
5.1 Procedimento experimental.
5.1.1 Modelo experimental e alojamento
Foram utilizados camundongos Swiss adultos, 20 machos e 60 fêmeas entre dois e
quatro meses de idade e peso ao redor de 30 gramas, obtidos do Biotério do Centro de
Biologia da Reprodução da Universidade Federal de Juiz de Fora, onde todo o experimento
foi realizado.
Os animais foram mantidos em gaiolas de polipropileno com camas de maravalha
de pinho branco, em armários climatizados onde a temperatura ambiente é mantida em torno
de 23
0
C, ventilação com fluxo de ar de 15 renovações/hora através de filtros HEPA. Controle
de ciclo claro-escuro automático de 12 horas por 12 horas. Ração comercial apropriada
peletizada e mamadeira de água filtrada foram disponibilizadas ad libitum.
5.1.2 Indução do Cio e Acasalamento
Através do método de indução de cio, onde fêmeas são colocada em gaiolas
anteriormente ocupadas por machos, foi obtida a sincronização do cio (LOMBARDI et al.,
1976; GANGRADE e DOMINIC, 1984; FRANCO, 2004; BARINO,2006).
As meas foram colocadas com os machos em caixas individualizadas, na
43
proporção de três meas para cada macho, durante o período escuro (de 18hs às 7hs). Foi
considerado como primeiro dia pós-inseminação (D-1) aquele da observação de tampão
vaginal.
5.1.3 Procedimento para a irradiação dos modelos experimentais
Fêmeas no 15
o
ou no 16
o
dia pós-inseminação, escolhidas aleatoriamente entre as
fêmeas prenhes, foram transportadas em micro isoladores, em carro com ar condicionado com
temperatura em torno de 23
0
C, do Biotério do Centro de Biologia da Reprodução até o
Hospital ASCOMCER, aonde foram submetidas à irradiação.
As meas foram colocadas individualmente em caixas de acrílico de 10,0 cm X
5,0 cm X 2,0 cm e submetidas à exposição de raios X de corpo inteiro através de aparelho
acelerador linear de elétrons de energia fotônica de 6 MeV. A permanência nas caixas para
exposição à irradiação não ultrapassou três minutos.
A dose no monitor foi de 139 UM, com uma distância fonte- alvo de 100 cm. O
tamanho do campo de abertura do colimador foi de 10 X 6 cm e profundidade de 2,0 cm. Foi
gerada uma dose total absorvida de 3 Gy (300cGy). A dose total irradiada foi dividida em dois
campos, paralelos e opostos, de 150 cGy, para que houvesse maior uniformidade na exposição
de toda a superfície corpórea.
O procedimento de irradiação foi sempre acompanhado pelo Físico responsável
pelo Serviço de Radioterapia do Hospital ASCOMCER e a dosimetria calculada de acordo
com as normas da Agência Internacional de Energia Atômica.
44
5.1.4 Distribuição dos grupos experimentais
As meas irradiadas foram distribuídas aleatoriamente em dois grupos
experimentais: [a] formado por 15 fêmeas irradiadas em D-15 ou D-16 para observação após
o parto denominado T1-D15 e T1-D16 e [b] formado por 16 fêmeas irradiadas em D-15 que
foram submetidas à eutanásia no décimo nono dia de prenhez, chamado de T2.
As fêmeas que geraram o grupo controle não foram manipuladas durante todo o
período gestacional e foram separadas também aleatoriamente em dois grupos constituídos de:
[a] cinco fêmeas para observação do período pós-natal que recebeu o nome de C1e [b] 15
fêmeas para a observação pré-natal, denominado de C2.
Fêmeas
prenhes
T 1
D15-16
n = 15
C 1
n = 5
C 2
n
= 15
T 2
D 15
n = 16
PÓS-NATAL
PRÉ-NATAL
45
5.1.5 Avaliação Pós-natal
Fêmeas irradiadas e as controles foram colocadas em gaiolas individuais, dois dias
antes da data provável para o parto, recebendo água e ração ad libitum, com o objetivo de
avaliar a incidência de canibalismo e o índice de sobrevivência das crias.
Diariamente as gaiolas eram inspecionadas e verificados comportamento materno
padrão, como construção de ninho e lambida de mamilos e indícios clínicos de toxicidade
como: [a] piloereção [b] atividade motora na gaiola, [c] movimentos estereotipados como
coçar o focinho, lamber as patas e morder-se a si própria, [d] alterações gastro-intestinais
como diarréia [e] cromodacriorréia, [f] sangramentos, [g] alteração na diurese, e para registrar
a ocorrência do parto (KHERA, 1984; KHERA, 1987; HOOD e MILLER, 2006).
Constatado o parto, diariamente, pela manhã, as crias eram observadas, contadas e
identificados os animais canibalizados ou mortos, até o 21
0
dia, correspondente ao período
neonatal e infantil (BECK, 2006). Calculada a proporção de canibalismo precoce (Crias
canibalizadas até o quarto dia de vida pós-natal/crias nascidas vivas X 100); canibalismo
tardio (Crias canibalizadas após o quarto dia de vida pós-natal/crias sobreviventes no quarto
dia X 100). Calculado o índice de sobrevivência previamente à separação (Crias vivas no 21
0
dia de vida pós-natal/crias nascidas vivas X 100).
46
5.1.6 Avaliação Pré-natal
As fêmeas irradiadas e as controles foram pesadas em D-1, D-15 e D-19, sendo
neste último anotados os pesos corporais total e peso corrigido.
As fêmeas de camundongos foram eutanasiadas por deslocamento cervical no 19
o
dia após inseminação e o procedimento sempre realizado por técnicos comprovadamente
experientes em tal intervenção. Não foi possível submeter as fêmeas à sedação prévia devido
à necessidade de se avaliar a atividade motora das crias ao nascimento, a qual poderia ser
afetada pela sedação materna.
Após laparotomia os ovários foram removidos da bursa ovárica, pesados e seus
corpos lúteos foram contados sob microscópio estereoscópico. Posteriormente foram fixados.
Procedeu-se a seguir a craniectomia e retirada do tecido cerebral materno, tendo como pontos
de referência o cerebelo, inclusive, e o bulbo olfatório, excluído. Seguida de pesagem e
fixação. A hipófise foi pesada separadamente e fixada.
Os cornos uterinos foram seccionados longitudinalmente, sendo contados os fetos
vivos e mortos, número de implantes e de reabsorções.
Nos fetos verificou-se a presença de malformações externas e classificou-se a
atividade motora (hiper ou hipoatividade).
O método para classificação de atividade fetal para a avaliação da vitalidade e
atividade motora fetal foi realizado por consenso entre dois experimentadores
47
simultaneamente, sendo que um deles não conhecia a que grupo experimental a mea
pertencia.
A atividade motora espontânea foi observada passivamente durante 30 segundos
após abertura da cavidade amniótica, caso o ocorresse movimentação espontânea, os fetos
eram estimulados pelo toque gentil de uma pinça. Os animais foram classificados conforme
definido abaixo:
Grau I Presença de movimentos espontâneos dentro de 30 segundos após
abertura da cavidade amniótica.
Grau II Presença de atividade motora semelhante ao Grau I obtida após
estímulo tátil.
Grau III Presença de atividade motora de menor intensidade e amplitude
comparada à observada no Grau I, obtida após estímulo tátil.
Grau IV – Hiperreflexia aos movimentos espontâneos ou após o estímulo tátil.
Os fetos e placentas foram pesados por ninhada. Fetos com malformações ou
alterações na atividade motora foram pesados à parte, bem como as respectivas placentas.
Para o estudo histopatológico, de cada ninhada foram escolhidos aleatoriamente
dois fetos de Grau I e suas respectivas placentas. Fetos mortos, com alterações morfológicas
externas ou da atividade motora, foram fixados separadamente e identificados, bem como as
respectivas placentas.
48
5.1.7 Processamento histológico
Como solução fixadora para a preservação do material destinado ao estudo
histopatológico foi usada o formol cálcio de Baker (MICHALANY, 1998), numa proporção
mínima de nove partes de fixador para cada volume correspondente à peça anatômica.
Os cérebros dos fetos e das fêmeas foram dissecados sob lupa cirúrgica e
seccionados em cortes coronais nas regiões pré-ópticas, na altura dos globos oculares, sobre a
sutura coronal e cerebelo, conforme explicitado na figura 1.
Figura 1. Vista superior do cérebro de camundongo (Mus musculus) com marcações para
cortes coronais. Fonte: Brain Maps. Org -< http://brainmaps.org>
As hipófises e ovários foram processados inteiros, as placentas clivadas
transversalmente ao hilo de implantação e os fetos foram seccionados sagitalmente.
O material foi processado para inclusão em parafina em processador automático
histológico, sendo cortado na espessura de 3 µm e corados pelo método hematoxilina-eosina.
Estes procedimentos foram realizados nas dependências do Laboratório CITO,
2 - Região pré-óptica
1 - Altura dos globos oculares
2 - Sutura Coronal
5 - Cerebelo
49
com supervisão da Dra Ângela Gollner e seguindo protocolos padrões (MICHALANY, 1998;
THE JACKSON LABORATORY, 2005).
Para as localizações das estruturas cerebrais dos animais foi utilizado atlas
estereotáxico (PAXINOS e WATSON, 1986). Nas fêmeas foram analisadas ás áreas pré-
óptica medial, amigdala e acumbens e nos fetos o córtex motor.
5.2 Análise estatística
Os dados contínuos e as amostras homocedásticas foram analisados através do
teste t- Student. Proporções foram analisadas pelo testes Qui- quadrado e Fisher exato. Dados
com distribuição não-normal foram processados pelos métodos de Kruskall- Wallis e Mann-
Whittney.
Nível de significância dos testes α =0.05
5.3 Comissão de Ética na Experimentação Animal
O protocolo experimental foi aprovado pela Comissão de Ética na Experimentação
Animal da Universidade Federal de Juiz de Fora sob o número 056/2006CEEA
50
6 RESULTADOS
6.1 Avaliação Pós-natal
As fêmeas dos dois grupos apresentaram comportamento anterior ao parto
semelhante, como construção de ninho e preparação dos mamilos, semelhantes entre eles.
Não houve sinal de toxicidade precoce ou tardia em relação à exposição à
radiação, não tendo nenhuma fêmea do grupo tratado ou controle desenvolvido piloereção,
diarréia, sangramento vaginal, cromodacriorréia ou movimentos estereotipados.
As crias das fêmeas do grupo T1 apresentavam-s ao nascimento, visivelmente
menores e menos ativas do que as do grupo controle. Não foram pesadas e nem avaliadas
através de manipulação para que não houvesse interferência na observação do
comportamento.
Em 15 ninhadas de meas do grupo T1 ocorreram 13 episódios de canibalismo
representando incidência de 86,67 % de canibalismo. As nove fêmeas irradiadas no D15
praticaram oito episódios de canibalismo (88,89%) e as seis expostas à radiação no D16
apresentaram cinco ocorrências do mesmo comportamento (83,33%). Considerando os
episódios de canibalismo imediato, até o quarto dia pós-natal, 11 crias foram canibalizadas de
um total de 72 nascidas vivas (15,28% de ocorrência). Tardiamente, após o quarto dia, 11 de
um total de 61 sobreviventes foram canibalizados pelas fêmeas (18,03%). Duas crias com 14
e 16 dias de vida foram canibalizadas e, dado que camundongos swiss podem ser desmamados
no 20
o
dia de vida, observou-se um comportamento materno bastante aberrante, com
eliminação de crias juvenis.
51
1
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
86,67(%)
Controle
Irradiado T1
Canibalismo (%)
Grupos
Figura 2. Gráfico com proporção de comportamento canibalístico em fêmeas de camundongo
irradiadas em D-15 ou D16 de prenhez e em fêmeas controles.
A proporção de sobrevivência no momento da separação no 30
o
dia após
nascimento foi de 44,21 %, sendo dois casos com 0 de sobrevivência no grupo T1 D-15 e
52,70 %, com um caso de 0 de sobrevivência no grupo T1 D-16. As três fêmeas de
camundongos que praticaram canibalismo total de suas crias foram eutanasiadas e
necropsiadas, logo após a morte de todas as crias, notando-se discrepância numérica entre os
leitos placentários e o número de crias recém nascidas observadas (21 implantes para 10 crias
recém nascidas).
Nas fêmeas do grupo C1 não foi observada ocorrência de canibalismo.
As crias sobreviventes do grupo irradiado (T1-D15 e T1-D16) apresentaram
comportamento anormal na vida adulta. Foram observados após 60 dias de vida
hiperatividade e movimentos saltitantes ou com padrões repetitivos circulares e agressividade
exacerbada, mesmo entre as fêmeas.
Do grupo T1D15 (n= 9) sobreviveram 12 machos e 12 fêmeas, sendo
52
visivelmente menores quando comparados com controle. Entre os sobreviventes observou-se
agressividade e movimentos anormais.
Figura 3. Filhotes de camundongo de mães irradiadas [T1] à direita e controle
[C1] à esquerda com 40 dias de vida evidenciando a diferença de tamanho entre eles
Nove machos e quatro fêmeas sobreviveram no grupo T1 D16 (n= 6), e
apresentaram as mesmas alterações do grupo T1-D15.
No grupo controle (n= 5) 15 machos e 16 fêmeas sobreviveram e todos
apresentaram comportamento típico de sua espécie.
53
6.2 Avaliação Pré-natal
6.2.1 Variáveis Maternas
Não foram observados sinais clínicos de toxicidade materna durante a exposição à
radiação ionizante. A variação do peso corporal materno durante a gestação não apresentou
diferença significativa e não houve variação no ganho de peso final entre o grupo controle e o
exposto à radiação conforme demonstrado no gráfico 4.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
0
30
40
50
60
Figura 4. Gráfico do peso corporal materno (g) em animais do grupo controle (C) e irradiados
(T2).
* Peso corporal corrigido. Barras representam o desvio padrão.
Fonte dos dados – Tabela 2 do anexo 1
Não foram encontradas alterações significativas nas variáveis relacionadas ao
desempenho reprodutivo materno: pesos de ovários, média de corpos lúteos, de implantes, de
fetos vivos, mortos e de reabsorções, quando os grupos controles e irradiados foram
comparados (Tabela 1).
Tabela 1. Variáveis relacionadas ao desempenho reprodutivo materno em fêmeas de
camundongo irradiadas no D-15 e controles.
54
Grupo Tratado 2* Grupo Controle 2*
Peso dos Ovários (mg) 20,91 ± 3,43 (16) 22,26 ± 2,73 (15)
Média de Corpos Lúteos 9,8 ± 2,7 (16) 10,1 ± 2,0 (15)
Média de Implantes Totais 9,7 ± 2,6 (16) 9,6 ± 2,4 (15)
Média de Fetos Vivos 6,4 ± 2,5 (16) 6,7 ± 2,7(15)
Média de Reabsorções 3,4 ± 2,5 (16) 2,8 ± 1,5 (15)
Média de Fetos Mortos 1,3 ± 0,6 (16) 1,3 ± 0,6 (15)
Resultados expressos em média ± desvio padrão. (n) = número de fêmeas
p > 0,05
Nos ovários de animais dos grupos controle e irradiados não foram encontradas
alterações morfológicas significativas exceto por células lúteas grandes com evidência de
apoptose mais freqüentes entre os corpos lúteos de animais irradiados (Figura 5)
55
Figura 5. Corpos lúteos de fêmeas de camundongo controle (A) e irradiada (B). 40x. HE
As hipófises de mães controles e irradiadas não evidenciaram diferenças
morfológicas conforme pode ser observado na Figura 6.
Figura 6. Hipófises de fêmeas de camundongo dos grupos controle (A) e irradiado (B) .40x.
HE.
B
A
A
B
56
Não foi constatada diferença de peso dos cérebros maternos entre os dois grupos
conforme evidenciado no gráfico 7.
T2 C2
0
100
200
300
400
Grupos
Peso de cérebro (mg)
Figura 7. Gráfico do Peso de cérebro materno (mg) de camundongos controle (C2) e
irradiados (T2).
Fonte dos dados – Tabela 2 do Anexo 1
n = 16
n = 15
57
A Figuras 8 mostra cortes histológicos de áreas cerebrais maternas, relacionadas
com comportamento.
Figura 8. Área pré-óptica medial de fêmeas de camundongo dos grupos controle (A, B) e
irradiadas (C, D). A, C 10X; B, D 40X. HE.
Verifica-se que a irradiação materna o causou alterações morfológicas
evidenciáveis nas áreas cerebrais relacionadas com comportamento, além de edema na região
hipotalâmica em torno do terceiro ventrículo semelhante nos dois grupos experimentais,
melhor evidenciado nas fotos B e D da figura 8.
A
B
C
D
58
6.2.2 Variáveis Fetais
Não foram verificadas malformações externas nos fetos de mães controles ou
irradiadas.
No gráfico 9 encontra-se a proporção de crias conforme o grau de atividade
motora apresentada. A proporção de recém nascidos com hipoatividade foi significativamente
maior no grupo irradiado, sendo que apenas 2% dos animais do grupo controle apresentaram
algum distúrbio na atividade motora.
Grau III
Grau II
Grau I
14.6%
13.5%
71.9%
Grau III
Grau II
Grau I
1%
1%
98%
Figura 9 Gráfico com a proporção de recém nascidos conforme o grau de atividade motora
exibida em cada grupo experimental.
O peso corporal fetal do grupo irradiado (1077,1 mg ± 152,6 n=16) foi
significativamente menor (p< 0,001) quando comparado com o do grupo controle (1241,2 mg
± 64,2 n=15) como ilustrado no gráfico 10.
Grupo Irradiado T2
Grupo Controle C2
59
1
0
800
900
1000
1100
1200
1300
C2
T2
*
Peso corporal
Grupos
Figura 10. Gráfico com peso (mg) corporal de fetos (média ± desvio padrão) obtidos dees
irradiadas (T2) e controle (C2) * p < 0,001. Fonte de dados Tabela 3 no anexo
Não houve diferença de peso entre crias das mães irradiadas quando comparados
em relação aos graus de variação de atividade motora (Figura 11).
60
1
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Graus de atividade
Peso Corporal (mg)
Grupo irradiado T2
I
II
III
Figura 11. Peso corporal fetal de acordo com graus de atividade motora no grupo irradiado.
As placentas de animais do grupo irradiado pesaram 111,4mg ± 14,8 (16) e não
tiveram diferença significativa em relação às do grupo controle 115,3mg ± 18,5 (15).
Embora com peso corporal significativamente menor, os fetos irradiados não
apresentaram alterações significativas na maturação de órgãos vitais como pulmão, fígado e
rins e nem indícios de alterações em órgãos imuno-relacionados como o timo. As figuras 12 e
13 mostram cortes histológicos de pulmão e rim, respectivamente, de animais do grupo
controle e do irradiado.
61
Figura 12. Pulmões de fetos de camundongo dos grupos controle (A, B) e irradiados (C, D, E,
F). Fetos com atividade Grau II (C, D) e grau III (E, F). A, C, E 10X; B, D, F 40X. HE.
A
B
C
D
E
F
62
Figura 13. Rins de fetos de camundongo. grupo controle (A, B) e irradiado (C, D, E, F).
Atividade motora Grau II (C e D), Grau III (E, F). A, C, E 10X ; B, D, F 40X. HE.
A
B
C
D
E
F
63
A laminação cortical dos cérebros dos fetos foi avaliada quanto à celularidade e
padrão de organização estrutural de suas camadas. Das 50 minas do grupo T2 avaliadas 39
(70,9%) continham menor celularidade e algum grau de desorganização de camadas ou estas
estavam mais delgadas. Das lâminas com alterações laminares 64,1% eram de fetos
hipoativos. No grupo controle, das 46 lâminas avaliadas nenhuma apresentou anormalidades
na laminação cortical (Figura 14).
Figura 14. Córtex de fetos de camundongo. Fetos controles (A) e com grau de atividade
motora II (B) e III (C). A linha indica a espessura da região cortical. 10X. HE.
O tecido cerebral sofre degradação rapidamente e foi dada prioridade à
avaliação do grau de atividade motora e fixação do encéfalo fetal, por estes motivos não foi
realizada a pesagem deste órgão nas crias.
A
B
C
64
7 DISCUSSÃO
Comportamento parental aberrante como o canibalismo pode se manifestar em
condições de superpopulação, privação de alimentos e eliminação competitiva (FERRARI
et al., 1996; CLAESSEN et al., 2003; GETTO et al., 2005), o que não foi o caso do
presente trabalho já que as condições ambientais permaneceram sob controle.
Em situações em que as mães são submetidas a estresse ou intoxicação ou são
portadoras de alterações endócrinas podemos observar comportamentos maternos anormais.
Avalia-se o estresse de um animal através de manifestações clínicas como
movimentação estereotipada, alteração de deambulação no interior da gaiola, pelos eriçados
entre outros (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 2003). No presente trabalho tais
indícios clínicos o foram observados nas mães irradiadas, sugerindo que a irradiação não
foi estímulo ansiogênico capaz de interferir com o comportamento do animal.
Não o estresse, mas a toxicidade materna também pode interferir com o
desempenho do comportamento materno (KHERA, 1984; KHERA, 1985; KHERA, 1987;
NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 2003), o que não parece ter ocorrido uma vez
que as observações clínicas dos grupos experimentais não foram diferentes.
É comum ser observada pequena redução de peso corporal após irradiação
(COCKERHAM, 2001), sendo que esta redução de peso corporal quando ocorre em valores
maiores é indicativo de toxicidade (KHERA, 1987; PINTO et al., 2007). Embora o grupo de
mães irradiadas tenha apresentado discreta redução de peso, em valores absolutos, quando
65
comparado às mães controles, essa diferença não foi significativa, corroborando com os
demais indicativos de ausência de toxicidade materna após irradiação.
Entre as causas de comportamento materno anormal são citadas alterações
hormonais, já que os hormônios participam da gênese e manutenção do comportamento
materno observável no período pré-parto e período de amamentação (LONSTEIN e VRIES,
2000; LONSTEIN e GAMMIE, 2002; D’AMATO et al., 2006). As fêmeas observadas
durante o período pré-natal apresentaram comportamento normal como construção do ninho e
preparo dos mamilos e os dados histológicos e de pesagem dos ovários indicam não ter havido
flutuações hormonais importantes.
A irradiação ionizante pode causar queda na produção hormonal ovariana e
hipofisária (COCKERHAM, 2001; SANTIS et al., 2005), levando à alterações no
comportamento materno já que são glândulas essenciais à reprodução e ao comportamento
(BRIDGES et al., 1990; FEBO et al., 2005) A hipófise é o local de armazenamento e
liberação de ocitocina e de secreção de prolactina, importantes também na lactação. Os
ovários são responsáveis pela produção de estrogênios e progesterona, indiretamente inferida
através do número e aspectos dos corpos lúteos e peso ovariano que o peso de um órgão
secretor hormonal é uma medida indireta da sua capacidade funcional e é utilizado para
demonstração da mesma (CALAMANDREI et al., 2006).
No presente trabalho o exame histopatológico das hipófises das fêmeas irradiadas
não evidenciou diferenças significativas histomorfológicas com relação ao grupo controle, o
que poderia indicar funcionamento semelhante nos grupos experimentais. Dessa forma a
produção de hormônios relacionados ao comportamento materno como prolactina e ocitocina
66
não devem diferir entre controles e irradiados.
O número de corpos lúteos por mea e a média do peso ovariano não diferiram
entre os grupos, sugerindo que possivelmente não houve alterações hormonais importantes.
Foi notada com maior freqüência no grupo irradiado, a presença de células lúteos grandes,
produtoras de progesterona no corpo lúteo, com núcleos picnóticos que é indicativo de morte
celular. Lesões vasculares após exposição à radiação como vasculites, edema e necrose
tecidual, também não foram verificadas nos ovários deanimais irradiados. O conjunto dos
dados obtidos sugere que não ocorreram alterações hormonais significativamente importantes
que pudessem justificar modificações do comportamento materno por tais causas.
O Sistema Nervoso Central de animais adultos é afetado pela radiação ionizante
apresentando perda de tecido por apoptose causada por alterações em canais iônicos e
alterações na barreira hematoencefálica com alterações celulares e vasculares (VERHEYDE e
BENOTMANE, 2006; YUAN et al., 2006). Tais lesões, se atingirem áreas cerebrais
relacionadas ao comportamento materno como área pré-óptica medial no hipotálamo, núcleo
acumbens e região amigdaliana (BRIDGES et al., 1990; OLAZÁBAL, 2004;
CALAMANDREI, 2006) podem causar comportamento anormal como o canibalismo de
crias.
A observação do peso dos cérebros maternos irradiados mostra que não foi
diferente dos controles, o que pode indicar indiretamente não ter havido perda significativa
deste tecido por lesão pós- irradiação e nem aparecimento de edema volumoso a ponto de
elevar o peso do órgão. Na avaliação histolpatológica não foram evidenciadas diferenças entre
os dois grupos, indicando que as áreas relacionadas ao comportamento materno não foram
67
afetadas pela radiação ionizante. O edema em torno do terceiro ventrículo, na região
hipotalâmica da área pré-óptica medial, ocorreu nos dois grupos e parece se dever a congestão
dos vasos sanguíneos do pescoço, causado pela eutanásia por deslocamento cervical.
A análise global de comportamento, aspectos físicos e de órgão maternos leva à
sugestão de que a irradiação não causou alterações maternas fisiológicas ou morfológicas
capazes de explicar o comportamento canibalístico observado.
As crias induzem o comportamento materno através de estímulos táteis, olfativos
e sonoros (HOUPT, 2000; LONSTEIN e VRIES, 2000; CARLSON, 2002; LONSTEIN e
GAMMIE, 2002). A presença de crias malformadas, hipotérmicas, hipoativas ou com
problemas de vocalização pode induzir às mães a comportamento anormais como o não
recolhimento das crias que se afastaram do ninho, a ausência de postura de amamentação e o
canibalismo (HOUPT, 2000; CHRISTIAN, 2001). Durante o experimento de observação do
comportamento pós-natal os filhotes foram manipulados pelo mesmo cuidador e somente
quando as gaiolas foram higienizadas de modo a não induzir qualquer modificação
comportamental ou olfativa dos filhotes que gerasse canibalismo pelas meas por o
reconhecimento (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 2003).
No grupo de crias irradiadas intra-útero observou-se na vida adulta
comportamento anormal em relação à espécie, como alterações motoras, agressividade e
baixo crescimento que talvez possa se dever à redução de celularidade neuronal após
irradiação ionizante, que repercute no comportamento dos animais adultos e pode ser
comparado com doenças neurológicas em humanos (ALTMAN, 1987; MINAMISAWA et
al.,1992; HALL, 2004; ).
68
Não tendo sido observadas crias malformadas, não é possível atribuir a tal fator a
canibalização por parte das es, fato que havia sido suspeitado quando se observou que em
três mães que canibalizaram toda ninhada os leitos placentários eram em maior número do
que o de crias contadas ao nascimento.
A exposição à radiação ionizante durante gestação está relacionada ao nascimento
de fetos de baixo peso, até mesmo em humanos, e este efeito parece estar mediado por lesões
vasculares e estruturais (SANTIS et al., 2005). Crias de meas de camundongo prenhes
irradiadas apresentam atraso no ganho de peso pós- natal (MINAMISAWA et al., 1992; GAO
et al., 2002) do mesmo modo que foi observado no presente trabalho. As placentas dos grupos
não apresentaram diferenças significativas quanto ao peso e histologicamente não foram
evidenciadas alterações vasculares que pudessem gerar trocas nutricionais insuficientes entre
feto e mãe que levassem à perda ponderal (ORNOY et al., 1981; BURGOYNE et al., 1983).
Apesar de serem menores, as crias de mães irradiadas não apresentaram alterações
morfológicas em seus órgãos vitais como pulmão, fígado, rins e timo o que indicaria
interferência da radiação ionizante no processo de multiplicação celular.
Embora não tenha sido objeto de mensurações, observou-se que as crias pouco
ativas eram preferencialmente canibalizadas pelas mães do grupo T1, o que parece ser
corroborado pelo fato de se observarem 28,1% de fetos hipoativos no grupo T2 em contraste
com os 2% notados no grupo controle C2.
O substrato morfológico para esta alteração do comportamento motor observado
ao nascimento foi a desorganização das camadas laminares corticais e na diminuição da
69
população celular das mesmas, esta redução da massa neuronal cortical acompanha-se de
distúrbios de aprendizado, memória e motores (GOLDMAN-RAKIC , 1995; MINAMISAWA
e HIROKAGA, 1996; GAZZANIGA, 1999; GAO, 2002; BONSIGNORE, 2006 ;
VERHEYDE e BENOTMANE, 2006).
O presente trabalho permite o questionamento sobre o uso deste modelo
experimental em testes de memória e aprendizado com labirintos. O comportamento
canibalístico poderia estar promovendo seleção natural de crias mais aptas à vida adulta
gerando uma homogeinização de amostras indesejável para trabalhos com animais irradiados.
Os resultados nos testes que utilizam labirintos e testes de fuga podem estar alterados não
somente por distúrbios na memória e aprendizado, mas também devido a problemas motores
dos animais.
70
8 CONCLUSÃO
1. Houve baixa sobrevivência de crias entre as mães irradiadas, com elevada proporção de
canibalismo.
2. Não ocorreram alterações morfofisiológicas maternas.
3. Fetos de mães irradiadas apresentaram peso reduzido, hipoatividade e redução da
espessura cortical cerebral.
O comportamento canibalístico de fêmeas de camundongo Swiss expostas à
irradiação ionizante durante a prenhez provavelmente é induzido por alterações na atividade
motora fetal.
71
9 REFERÊNCIAS
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77
ANEXO 1 – Tabelas com as variáveis Maternas e Fetais
Tabela 2 Variáveis Maternas
Grupo Irradiado
X ± DP (n)*
Grupo Controle
X ± DP (n)*
Peso I- 1 30,8 ± 2,5 (16) 30,0 ± 2,8 (15)
Peso I- 15 40,3 ± 4,2 (16) 41,1 ± 4,4 (15)
Peso I- 19 46,4 ± 5,0 (16) 48,6 ± 6,0 (15)
Peso Pós- histerectomia 36,4 ± 3,7 (16) 37,5 ± 2,7 (13)
Ganho de Peso - gestação 5,60 ± 2,6 (16) 6,83 ± 2,1 (13)
Peso dos Ovários 20,9 ± 3,4(16) 23,0 ± 3,8 (15)
Peso dos Cérebros 461,1 ± 32,3 (16) 469,4 ± 51,0 (15)
Total de Corpos Lúteos 9,8 ± 2,7 (16) 10,1 ± 2,0 (15)
Implantes Totais 9,7 ± 2,6 (16) 9,6 ± 2,4 (15)
Número de Fetos Vivos 6,4 ± 2,5 (16) 6,7 ± 2,7 (15)
Reabsorções 3,4 ± 2,5 (16) 2,8 ± 1,5 (15)
Fetos Mortos 1,3 ± 0,6 (16) 1,3 ± 0,6 (15)
Fetos Grau I 5,7 ± 2,6 (13) 6,6 ± 2,7 (15)
Fetos Grau II 2,0 ±1,8 (14) 1,0 (1)
Fetos Grau III 2,14 ± 1,1 (15) 1,0 (1)
Proporção Grau I 71,80% 98%
Proporção Grau II 13,50% 1%
Proporção Grau III 14,60% 1%
* n = número de fêmeas
Medida do peso - mg
Tabela 3. Variáveis Fetais
Grupo Irradiado
X ± DP (n)*
Grupo Controle
X ± DP (n)*
Peso Fetal 1077,1 ± 152,6 (15) 1241,2 ± 64,2 (15)
Peso Grau I 1056,9 ± 145,4 (12) 1248,0 ± 61,3 (15)
Peso Grau II 1087,2 ± 165,9 (14) 961,8 (1)
Peso Grau III 1061,1 ± 187,1 (15) 876 (1)
Peso dos Fetos Mortos 1088,0 (2) 802,4 (3)
Peso das Placentas dos
Fetos Vivos 111,4 ± 14,8 (15) 115,3 ± 18,5 (15)
Peso das Placentas dos
Fetos Mortos 99,4 (1) 93,9 (3)
Média por ninhada
* n = número de fêmeas
Peso em mg
78
ANEXO 2 -Artigo Enviado para a Revista Behavioral Neuroscience
Cannibalism in female Swiss mice exposed to ionizing irradiation during pregnancy.
Juiz de Fora, 8
th
July, 2007
Abstract
Irradiated female Swiss mice presented unexpected cannibalistic behaviors during an
experiment involving tests for operational memory and reference assessment. This
finding is not mentioned in previous works, which lead us to a more detailed study of
the incidence and the possible causes related to that abnormal behavior. One group
of 31 pregnant Swiss mice was exposed to whole body ionizing irradiation of X-rays
(300cGy). Those animals were divided into two groups, one for the analysis of
prenatal and another for postnatal periods. The data indicate that irradiation did not
induce stress, intoxication or endocrine changes in mothers, however, irradiated
female showed a high incidence (86.67%) of cannibalism. Fetuses from irradiated
mothers had a decreased body weight (1077.1 mg ± 152.6 n=16) when compared to
the control group (1241.2 mg ± 64.2 n=15) and also presented 28.1% of hypo
activity, what probably contributed to maternal cannibalism. The cannibalism, as a
selective behavior of most apt pups, may generate a homogenizing of samples,
which is undesirable for experiments regarding memory and learning tests.
Keywords: Ionizing radiation, cannibalism, maternal behavior, memory, learning.
79
Introduction
Maternal behavior is considered a complex of sequences of stereotyped
behaviors, such as lactation posture, pups licking, nest care, getting litter grouped
and pups defense against invaders (Bonsignore et al., 2006; Lonstein e Vries, 2000).
In litter defense, malformed or weak pups are considered a threat to the litter survival
and those pups can be cannibalized by mothers (Christian, 2001).
During an experiment for comparing the operational and reference memory
tests performance to brain cortical laminar disorganization, adult male Swiss mice
from mothers who were exposed to ionizing radiation on 15
th
and 16
th
post
insemination days would have their performance on Lashley labyrinth and escape to
aquatic test assessed and compared to histological alterations. However, in the
beginning of the experiment, it was observed that irradiated mothers showed a high
incidence of cannibalism, a fact that has not been mentioned in previous works with
the same goal (Minamisawa et al., 1992; Schmidt, Vitral e Linden, 2001a,b; Vitral,
Vitral e Dutra, 2005).
The abnormal behavior of irradiated mothers was preventing a sufficient
number of animals for the tests; this fact evidenced the necessity of a detailed
analysis of the cannibalism incidence in irradiated animals, as well as to identify the
causes of this behavior. So, the present work aimed to assess the pups survival
index during neonatal and infancy periods, and also the alterations of fetal
development, of pups from Swiss mice exposed to ionizing radiation during
pregnancy.
80
Material e Methods
Animals
Twenty male and 60 female Swiss mice, 2-4 months old, weighing around
30g from the Center of Reproductive Biology vivarium, were used. The mice were
housed in plastic cages, kept in light-darkness cycles of 12 hours in ventilated stands
with controlled temperature (23ºC) and humidity. They were fed on rat chow pellets
and received filtered water ad libitum.
Animal care and the experimental protocol followed the principles and
guidelines suggested by the Brazilian College of Animal Experimentation (COBEA)
and were approved by the Ethical Committee of the Federal University of Juiz de
Fora (UFJF) which follows the international rules (EEC Directive – 86/609/EEC)
(Protocol number 056/2006 – CEA).
Mating
Females and males were housed together (3:1) overnight (from 6 pm to 7 am).
Everyday at 8 am females were checked for the presence of vaginal plugs. The
presence of vaginal plugs indicated the beginning of gestation (post insemination 1,
D-1).
Experimental groups
The pregnant mice were randomly divided into four experimental groups: [T1]
consisting of 15 females irradiated on D-15 for post birth observation and [C1] five no
irradiated control female; [T2] with 16 females irradiated on D-15 for the analysis of
prenatal period, and [C2] 15 no irradiated control females.
81
Irradiation of animals
Females on the 15
th
post insemination day were transported in micro
isolators, in a car with air conditioning (23ºC), from the laboratory until the irradiation
place, which was around three kilometers distant (ASCOMECER Hospital, Juiz de
Fora, MG).
For irradiation, animals were individually placed into small acrylic
containers (10.0 X 5.0 X 2.0 cm). Mice were exposed to whole body X-irradiation
using a linear accelerator apparatus of 6 MeV electron photonic energy. Permanency
in cages for irradiation exposure was no longer than three minutes.
The dose at the monitor was 139 UM, with a source-target distance of 100cm. The
opening field of the collimator was 10 X 6 cm and the profundity was 2 cm. The total
absorbed dose was of 3 Gy (300cGy). The total irradiated dose was divided into two
parallel and opposite 150 cGy fields, so that the whole body surface was uniformly
exposed.
The irradiation procedure was always carried out together with the physique
responsible for the Radiotherapy Service from ASCOMCER Hospital, and the
radiation procedure had its dosimetry calculated according to the rules of the
International Atomic Energy Agency.
The females from control group were not exposed to any treatment during
the whole pregnancy.
Postnatal development assessment
Irradiated [T1] and control [C1] females were housed in individual cages
two days before the probable delivery day, receiving food and water ad libitum.
The cages were observed daily for the checking of behaviors of nest
82
construction, nipples licking and clinical signs of toxicity, such as: piloerection, hyper
or hypo activity inside the cage, stereotyped movements as muzzle scratching, paw
licking and biting, diarrhea, polyuria, oliguria, chromodacryorrhea, bleeding (Hood e
Miller, 2006; Khera, 1984; Khera, 1987) and also for delivery date registration.
After delivery, daily until 21
st
day corresponding to neonatal and infancy
period (Beck, 2006) – in the morning, pups were observed, counted, the cannibalized
or dead animals were identified.
It was calculated the early cannibalism ratio (number of pups cannibalized
until 4
th
postnatal day / number of live pups X 100); late cannibalism (number of pups
cannibalized after 4
th
postnatal day / number of live pups X 100) and the survival
index at separation’s day (number of live pups on 21
st
postnatal day / number of live
pups X 100).
Prenatal development assessment
Irradiated [T2] and control [C2] females were weighed on D-1, D-15 and D-
19, on the latter, it was recorded the total body weight and the corrected weight (body
weight – weight of uterus and its contents, uterine horns and ovaries).
Mice were killed through cervical dislocation on D-19 (this procedure was
accomplished by experienced technicians). It was not possible to sedate the female
before the procedure due to the necessity of assessment of pups motor activity at
birth, which could be affected by maternal sedation (National Academy of Sciences,
2003).
After laparotomy, the ovaries were removed, weighed and the corpora
lutea were counted under stereomicroscope.
83
The uterine horns were longitudinally sectioned, and the number of live and
dead fetuses, of implantations and resorptions was recorded.
The presence of external malformations was verified and motor activity
was classified (hyper or hypo activity).
The fetal activity classification method for assessment of fetal vitality and
motor activity was carried out by two different observers at the same time, and one of
them did not know from what experimental group the female belonged.
The spontaneous motor activity was passively observed during 30 seconds
after amniotic cavity opening, and if there was not spontaneous activity, the fetuses
were stimulated by a gentle touch with a tweeze. Animals were classified as:
Degree I – Presence of spontaneous movements in 30 seconds after
amniotic cavity opening.
Degree II Presence of motor activity similar to degree I after tactile
stimulus.
Degree III Presence of less intense and amplitude motor activity when
compared to degree I, obtained after tactile stimulus.
Degree IV Hyper reflexes to spontaneous movements or after tactile
stimulus.
Fetuses and placenta were weighed per litter. Fetuses with malformations
or with alterations in motor activity were weighed separately, so were their respective
placentae.
Statistical analysis
The continuous data and the homocedastic samples were analyzed using
84
Student t test. The ratios were analyzed using Chi-square and Fisher’s exact test.
Data with a non normal distribution were processed by Kruskall- Wallis and Mann-
Whittney tests (α = 0.05)
Results
Postnatal development assessment
Female from both groups presented similar pre-delivery behaviors, such
as nest construction and nipple preparation,
There were no signs of early or late toxicity related to the radiation.
Newborns from irradiated mothers (T1) were visible smaller and less
active than those from control group. These animals were not weighed nor assessed
through manipulation in order not to interfere with behavior observation.
In 15 litters from group T1, there were 13 cases of cannibalism,
corresponding to 86.67% (Fig. 1). Considering the immediate cannibalism cases until
4
th
postnatal day, 11 pups were cannibalized from a total number of 72 born alive
(15.28%). Lately, 11 from 61 survivors were cannibalized by mothers (18.03%). Two
pups, on 14
th
and 16
th
postnatal days, were cannibalized. As Swiss mice are
separated from their mothers on 20
th
postnatal day, this was a very anomalous
maternal behavior, with the elimination of young pups.
The survival rate at the moment of separation, on 21
st
postnatal day was
of 44.21%, from which, in three cases there was 0 survivals in group T1 (20%). The
three female that cannibalized the whole litter were killed and underwent necropsy,
soon after the death of all pups. It was observed a numerical discrepancy between
placental and the number of observed newborns (21 implantations for 10 newborns).
In group C1 it was not observed the occurrence of cannibalism.
85
The survivors pups from irradiated group (T1) showed abnormal behavior
in adulthood. After 60 days postnatal, it was observed hyperactivity movements, or
with circular repetitive patterns and excessive aggressive behavior, even among
females.
In control group (n = 5) all mice survived and presented behaviors typical of its
species.
Prenatal development assessment
Maternal variables
There were no clinical signs for maternal toxicity during ionizing radiation
exposition. Changes in maternal body weight during pregnancy did not show
significant differences and there was also no variation in final weight gain between
control group and the one exposed to ionizing radiation, as is depicted in figure 1.
There were no significant alterations between control and irradiated
groups regarding variables related with maternal reproductive performance: weight of
ovaries, mean number of corpora lutea, of implantations, of live and dead fetuses,
and of resorptions (table 1)
Fetal variables
No external malformations were detected in fetuses from control or
irradiated mice.
The ratio of hypoactive pups was significantly increased in irradiated group
(28.1%), while only 2% of animals from control group showed any disturbance on
motor activity.
Fetal body weight of irradiated group (1077.1 mg ± 152.6) was significantly
86
smaller than control group (1241.2 mg ± 64.2) as is shown in figure 2.
There were no differences in newborns body weight from irradiated
mothers regarding the degrees of motor activity
Placenta weights from irradiated (111.4mg ± 14.8 n = 16) and control
(115.3mg ± 18.5 n = 15).groups did not present significant differences.
Discussion
Anomalous parental behavior, such as cannibalism can occur in conditions
of super population, food deprivation and competitive elimination (Claessen, Roos e
Persson, 2003; Getto, Diekmann e Roos, 2005; Ferrari et al., 1996), what was not
the case of the present work, since the animals were kept under controlled
environmental conditions
When submitted to stress, intoxication, or when mothers have endocrinal
alterations, they can present abnormal behaviors (Bridges et al., 1990; D’amato,
Rizzi e Moles, 2006; Febo, Numan e Ferris, 2005; Khera, 1984; Khera, 1985; Khera,
1987; Lonstein e Vries, 2000; Lonstein e Gammie, 2002; Guidelines, 2003; Pinto et
al., 2007). In the present work there were no signs of stress or maternal intoxication
(Hood e Miller, 2006) in irradiated mothers, suggesting that irradiation was not an
important ansiogenic stimulus, nor caused any important toxic effect. It is common to
have a slight weight decrease after irradiation (Cockerham, 2001) and irradiated
mothers showed a slight decrease in body weight, although it was not significant.
Hormones participate in the genesis and maintenance of maternal
behavior observed during prenatal and weaning periods (Lonstein e Vries, 2000;
87
Lonstein e Gammie, 2002). Ionizing radiation causes diverse lesions, particularly in
cells during mitotic division and can cause a decrease in ovarian and hypophysis’s
hormone production (Cockerham, 2001; Santis et al., 2005). In the present
experiment, it seems that there were no reduction in hormonal levels, since the
number of corpora lutea and ovaries’ weight were not different between the groups.
The weight of a hormone secretor organ is an indirect measure of its functional
capacity, being frequently used for this proposal (Calamandrei et al., 2006).
The similar number of corpora lutea indicates that the number of
ovulations was similar; therefore, the hormonal production was also similar between
groups. On the other hand, the similar number of implantations and of live fetuses,
and the weight of placenta is also an indicative that hormonal conditions, necessary
for keeping pregnancy was similar between groups.
Pups induce maternal behavior through tactile, smelling and sound
stimulus (Lonstein e Vries, 2000; Lonstein e Gammie, 2002). The presence of
malformed, hypothermic, hypoactive or pups with vocalization problems can induce
abnormal maternal behaviors such as no gathering the pups, absence of weaning
posture and cannibalism (Christian, 2001). During the experiment of postnatal
observation, the pups were manipulated by the same person and only the cages
were clean, in order not to induce any behavioral or smelling change in pups that
could induce mothers’ cannibalism (National Academy of Sciences, 2003).
In the group of pups irradiated intra-uterus it was observed abnormal
behaviors in adulthood for the species, such as, motor changes, aggressiveness, and
low body weight, possibly due to neuronal cellular reduction after ionizing radiation,
what is reflected in adult animals’ behavior and can be compared to humans
neurological diseases (Altman, 1987; Hall, 2004; Minamisawa et al.,1992).
88
As malformed pups were not observed, it was not possible to link
malformations to maternal cannibalization. But it is suspected to have happen, since
mothers that cannibalized the whole litter, had more placental stream beds than pups
counted at birth.
Exposition to ionizing radiation during pregnancy is related to the birth of
low weight fetuses, and even in humans, this effect seems to be due to vascular and
structural lesions (Santis et al., 2005). In the present work, pups from irradiated
mothers showed a decreased postnatal weight gain, what is in accordance with
previous works (Gao et al., 2002; Minamisawa et al., 1992).
Although it was not measured, it was observed that low active pups were
preferentially cannibalized by mothers, indeed, there were 28.1% hypoactive fetuses
in irradiated mothers while only 2% of fetuses from control mothers were hypoactive.
Conclusion
The cannibalistic behavior of Swiss mice exposed to ionizing radiation
during pregnancy was probably due to changes in fetal motor activity.
The findings of this work generate a doubt regarding the use of survivors of irradiated
animals for memory and learning assessment in labyrinth and Morris water maze,
since it could constitute a homogenized sample pre selected by maternal
cannibalism. In other hand, the results of these tests could be altered not only by
memory and learning disturbances, but also due to motor problems in animals.
89
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93
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
0
30
40
50
60
*
C1
T1
Body weight (g)
Days of pregnancy
Figure 1. Maternal body weight in animals from control (C1) and irradiated (T1)
groups. * Corrected body weight. Bars represent standard deviation.
94
1
0
800
900
1000
1100
1200
1300
C2
T2
*
Body weight (mg)
Groups
Figure 2. Fetal body weight (mg) of irradiated (T2) and control (C2) mothers. Bars
represent standard deviation. * p< 0.001.
95
Table 1. Maternal variables of T2 and C2 mice irradiated on D-15
Variables Groups
Treated 2 Control 2
Ovaries’ weight (mg) 20.91 ± 3.43 (16) 22.26 ± 2.73 (15)
Mean number of corpora
lutea 9.8 ± 2.7 (16) 10.1 ± 2.0 (15)
Mean number of
implantations 9.7 ± 2.6 (16) 9.6 ± 2.4 (15)
Mean number of live fetuses
6.4 ± 2.5 (16) 6.7 ± 2.7(15)
Mean number of resorptions 3.4 ± 2.5 (16) 2.8 ± 1.5 (15)
Mean number of dead
fetuses 1.3 ± 0.6 (16) 1.3 ± 0.6 (15)
Results are expressed as mean ± standard deviation (number of mice). p>0.05.
96
Table 2. Fetal body weight in accordance with the degrees of motor activity of
irradiated group.
Degrees of motor activity Body weight (mg) *
Degree I 1056.9 ± 1454 (12)
Degree II 1087,2 ± 165.9 (14)
Degree III 1061.1 ± 187.1 (15)
Results are expressed as mean ± standard deviation (number of females). *p>0.05.
97
Manuscr
ipt:
Canniba
lism in
female
Swiss mice exposed to ionizing irradiation during
pregnancy.
Dr. Piuma:
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with your manuscript
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