são meros espectadores e receptores de qualquer tipo de produto/serviço que lhes seja
ofertado: eles são usuários de determinado produto/serviço de acordo com a satisfação que
uma prática – de uso e de consumo de algo – lhes proporciona, contemplando elementos
sociais, institucionais e de desempenho técnico (ALLEN, 2002; WARDE, 2005), conforme se
pode perceber pelas colocações de alguns entrevistados na pesquisa, a seguir:
[...] essa cadeia de desenvolvimento, que se chama de transferência de tecnologia,
até chegar ao mercado, tem que levar em conta a demanda, o mercado, como que o
valor será atribuído e apropriado ao produto/serviço; se o
shape de bambu não fosse
tão bom, mecanicamente como ele é, só por ser bambu, não daria certo. Isso se
justifica, sobretudo, pelo fato de que, na coisa do desenvolvimento de tecnologias,
em princípio, é uma questão bastante interdisciplinar, em que plataformas distintas
convergem para que todo o processo funcione; se você vai desenvolver um
shape de
bambu, por exemplo, então você precisa ter o conhecimento tácito daquilo que o
cliente entende como valor de um bom
shape, o conhecimento tácito de saber como
trazer isso ao produto e de como fabricar isso, as ferramentas específicas para gerar,
mecanicamente, o produto, os métodos e ferramentas definidas para isso, que vão
atuar como o norte do processo, o guia do que precisa ser feito no processo. Esse
referencial, de como agir, se faz presente no caso da empresa
Alfa, quando você
percebe que foram mais os testes técnicos – de cisalhamento, resistência,
flexibilidade – que foram moldando o processo, do que a inventividade por si só do
empreendedor, de querer inovar em um produto. Mas veja:
não apenas isso (ênfase
na fala do entrevistado
), pois esses testes eram, e são, em geral, multifatoriais, com
interações entre variáveis diversas, variáveis essas, 'imputadas' por aspectos
objetivos, e também subjetivos, pois era então que entrava o ferramental do
QFD, e
da opinião dos usuários do produtos, que no caso eram os
skatistas que testavam os
protótipos (SUBGERENTE DA DTS-TECPAR).
O
shape de bambu é destinado (ou mais direcionado) ao skatista profissional, e o
produto é mais destinado a modalidade
street, ao skate de rua; não tanto para andar
nas rampas verticais; é mais o uso do
street mesmo. Sendo a modalidade street uma
modalidade mais de impacto, e menos “circense”, é justamente aí que a qualidade e
resistência diferenciada do bambu se faz presente e singular, por causa da
constituição físico-química da matéria-prima, e da combinação desta na colagem das
lâminas (respeitando as linhas – ou sequências – das fibras do bambu), além do
know-how de produzir o shape que leva a tecnologia social do bambu na densidade
adequada, na sua composição ideal de bambu e lâminas de madeira, no seu peso, etc.
(PROPRIETÁRIO DA EMPRESA
ALFA).
Em geral, se vê o seguinte: o
shape de bambu, é uma idéia até paradigmática, pela
questão da sustentabilidade
né; contudo, o bambu ainda não tem uma cadeia de
produção suficientemente desenvolvida no Brasil – tanto é que ele é classificado
como uma opção de tecnologia social, porque fica restrito a alguns produtores e
algumas comunidades produtoras, que muitas vezes, fazem um manejo sustentado
do cultivo do bambu, não explorando o solo, mas integrando o seu cultivo na área da
propriedade rural, de modo equilibrado. [...] o mercado de marcas 'ecologicamente
corretas' é um segmento bem restrito, e isso faz desse tipo de produto, um tipo mais
complexo por si só, porque a transferência da tecnologia em si, não é suficiente para
explicar o produto; tem toda a questão da percepção do consumidor que vai a
reboque [...] é uma dimensão mais difícil de captar, porque ela ainda é nova, e tem
premissas distintas, aspectos culturais, de consciência, atitude do consumidor, etc.
[...] os 'produtos verdes', têm que ter uma abordagem horizontal e vertical no que diz
respeito a como se organiza a cadeia de valor que vai possibilitar a sua confecção
(GERENTE DA DTS-TECPAR).