O simbolismo dos números para a família é caracterizado pelas idades da
vida (biologia), onde o enfant (criança) é o não falante, a pueritia “menina do olho”
que representa pureza, a adolescência (até 28, 30 ou 35 anos) estágio de
procriação, a juventude (até 45 anos) o da produção material para si e para os
outros (Aristóteles), a senectude compreendida entre a juventude e a velhice (não
tão velho, mas além da juventude, até 70 anos). Ou seja, a vida enquanto fenômeno
biológico na sociedade “Observamos que, como juventude significava força da
idade, ‘idade media’, não havia lugar para a adolescência. Até o século XVIII, a
adolescência foi confundida com a infância” (ARIÉS, 1981, p.41).
Vedes aqui o mês de janeiro./ o primeiro de todos, que tem duas
faces,/porque está voltado para dois tempos: o passado e o porvir./
Assim também a criança que viveu apenas/ Seis anos não vale
quase nada./ pois quase não possui saber./ mas deve-se cuidar/
Para que ela se alimente bem,/ Pois quem tem um bom começo,/ No
final terá um bom fim.../ No mês de outubro, que vem depois,/ O
homem deve semear o bom trigo,/ Do qual viverão todos os outros;/
Assim deve fazer o homem valoroso/ Que chegou aos 60 anos:/
Deve semear para os jovens/ Boas palavras com exemplo,/ E dar
esmolas – ao menos, assim me parece (N. do T.) (ARIÉS, 1981,
p.38).
A vida é um drama “tédio quotidiano” e as idades da vida são na verdade
funções sociais. A palavra infância no sentido moderno começa a ser delimitada
somente a partir do séc. XVII, a princípio, a infância era considerada com a idade da
dependência (fils, valets, garçons), dos lacaios, auxiliares, dos soldados “petit
graçon” (menino pequeno), “o jovem servidor operário”, “bom menino que não vale
nada”, Gars significa menino, rapaz ou homem. Já na Paris moderna era tradicional
a mãe dizer “adeus, mon enfant”, ser criança, era sinônimo de lacaio ou trabalhador
uma perda aceitável. “Enfants perdus” (crianças perdidas), “petit enfant” (criança
pequena ou criancinha) petties, moyens e grands (alunos: pequenos médios e
grandes). Ensiná-los e alimentá-los era a única responsabilidade “civil-jurídica”
imposta pela moral social vigente, havia um sentimento de caridade com os
“pequenos pombos” ou “pequenas almas”, ou ainda “pequenos anjos”.
No séc. XVII, as palavras do francês clergeon (pequeno bebe) e poupon
(boneca), assim como do italiano bambino, que formaram as palavras afrancesadas
bambi marmots (moleques). Do mesmo modo, Frater, cadet e populo (criança