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Márcia Araújo Almeida
Blá-blá-
blá: a presença dos vocábulos expressivos na
identidade lingüística do brasileiro e sua relevância para o
português como segunda língua para estrangeiros (PL2E)
Dissertação de Mestrado
Dissertação apresentada como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-
Graduação em Letras da PUC-Rio.
Orientador: Profª. Drª. Rosa Marina de Brito Meyer
Rio de Janeiro
julho de 2006
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410520/CA
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Márcia Araújo Almeida
Blá-blá-blá: a presença dos vocábulos
expressivos na
identidade lingüística do brasileiro e sua relevância para o
português como segunda língua para estrangeiros (PL2E)
Dissertação apresentada como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-
Graduação em Letras da PUC-Rio. Aprovada pela
Comissão Examinadora abaixo assinada.
Profª. Drª. Rosa Marina de Brito Meyer
Orientador
PUC-Rio
Profª. Drª. Rosa Marina de Brito Meyer
PUC-Rio
Prof. Dr. Ricardo Borges Alencar
PUC-Rio
Profª. Drª. Maria Teresa Gonçalves Pereira
UERJ
Prof. Dr. Paulo Fernando Carneiro de Andrade
Coordenador(a) Setorial do Centro de Teologia e Ciências Humanas -
PUC-Rio
Rio de Janeiro, __ de __________ de _____
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410520/CA
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Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total
ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da
autora e do orientador.
Márcia Araújo Almeida
Graduada em Letras pela UERJ em 1993 (Bacharelado e
Licenciatura em língua portuguesa, língua francesa e
respectivas literaturas), com Pós-Graduação em língua
francesa - tradução pela UERJ em 1998, é professora de
francês, português como língua materna e português como
segunda língua para estrangeiros.
Ficha Catalográfica
Almeida, Márcia Araújo
Blá-blá-blá: a presença dos vocábulos expressivos na
identidade lingüística do brasileiro e sua relevância para o
português como segunda língua para estrangeiros (PL2E) /
Márcia Araújo Almeida; orientadora: Rosa Marina de Brito
Meyer - Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Letras,
2006.
123 f.; 30 cm
Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Letras.
Inclui referências bibliográficas.
1. Letras - Teses. 2. Onomatopéia. 3. Vocábulos
expressivos. 4. Português para estrangeiros. 5.
Funcionalismo. 6. Estilística. 7. Identidade cultural. I.
Meyer, Rosa Marina de Brito. II. Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Letras. III.
Título.
CDD: 400
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Agradecimentos
Meus agradecimentos
a Deus, pela oportunidade e inspiração;
a meus pais, por terem investido em mim;
a minha irmã Leila, pelo apoio incondicional;
a Janir, pela atenção crítica entusiasmada;
a minha orientadora Professora Dra. Rosa Marina de Brito Meyer, pelo carinho,
dedicação e paciência durante todos os momentos de orientação a este trabalho;
a Professora Dra. Maria Teresa Gonçalves Pereira, pela gentileza e prontidão em
ajudar;
aos funcionários e professores do Departamento de Letras da PUC-Rio, pelo apoio
administrativo, pela dedicação e atenção.
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Resumo
Almeida, Márcia Araújo. Blá-blá-blá: a presença dos vocábulos
expressivos na identidade lingüística do brasileiro e sua relevância para
o português como segunda língua para estrangeiros (PL2E). Rio de
Janeiro, 2006. 123p. Dissertação de Mestrado - Departamento de Letras,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Marca de identidade cultural, uma vez que diferem de povo para povo, os
vocábulos expressivos são convencionais em cada comunidade lingüística e
precisam, portanto, ser considerados no contexto do ensino/aprendizagem de
segunda língua para estrangeiros por constituírem-se elementos importantes para a
comunicação. Este trabalho apresenta, analisa e classifica, conforme critérios
estilístico-funcionais, o uso em contexto de um conjunto de vocábulos expressivos
onomatopaicos e não onomatopaicos observados no discurso cotidiano informal
do eixo Rio-São Paulo durante o período compreendido entre o início do segundo
semestre de dois mil e três e maio de dois mil e seis. Com base nas ocorrências
que compõem o corpus do trabalho, verifica-se uma grande margem de variação
funcional e semântica dos vocábulos expressivos, reflexo da habilidade do
brasileiro em lidar com o contexto em um nível elevado de abstração. Verifica-se
ainda que esses vocábulos são elementos reveladores de inúmeros aspectos da
cultura subjetiva do brasileiro.
Palavras-chave
onomatopéia; vocábulos expressivos; português para estrangeiros;
funcionalismo; estilística; identidade cultural.
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Abstract
Almeida, Márcia Araújo. Blá-blá-blá: the presence of the expressive
words in brazilian linguistic identity and its relevance for Portuguese as
a second language for foreigners. Rio de Janeiro, 2006. 123p. MSc.
Dissertation - Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro.
Expressive words are marks of cultural identity as they differ among people.
They are conventional in each linguistic community and therefore need to be
considered in the context of teaching/learning of a second language for foreigners
as they constitute important elements of communication. This paper presents,
analyses and classifies according to stylistic and functional criteria the contextual
use of a set of onomatopoeic and non-onomatopoeic expressive words observed in
the daily informal speech of the Rio-São Paulo axis within the period between
August, 2003 and May, 2006. From the occurrences that constitute the corpus
described in the paper, one can notice a wide range of functional and semantic
variation of expressive words reflecting the ability of Brazilian people to cope
with context in a high level of abstraction. One can also observe that these words
reveal uncountable aspects of the Brazilian subjective culture.
Keywords
onomatopoeia; expressive words; Portuguese for foreigners; functionalism;
stylistics; cultural identity.
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Sumário
1 Introdução 9
2 Pressupostos teóricos e metodologia 15
2.1. Pressupostos teóricos 15
2.1.1. Cultura e identidade cultural brasileira 15
2.1.1.1. A noção de cultura 15
2.1.1.2. Cultura objetiva e cultura subjetiva 17
2.1.1.3. Cultura de Alto Contexto e cultura de Baixo Contexto 19
2.1.1.4. Aspectos da cultura brasileira 21
2.1.2. Funções da linguagem e vocábulos expressivos 30
2.1.2.1. Funções da linguagem 30
2.1.2.2. Vocábulos expressivos 34
2.2. Procedimentos metodológicos 44
2.2.1. Coleta do corpus 44
2.2.2. Constituição do corpus e forma de análise 45
3 Análise e classificação dos dados 52
3.1. Apresentação de uma proposta descritiva 52
3.1.1. Vocábulos expressivos referenciais nocionais 55
3.1.2. Vocábulos expressivos referenciais qualitativos 57
3.1.3. Vocábulos expressivos referenciais acionais 59
3.1.4. Vocábulos expressivos referenciais circunstanciais 60
3.1.5. Vocábulos expressivos estilísticos 62
3.2. Conclusão parcial da análise de dados 64
4 Conclusão 79
5 Referências bibliográficas 82
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6 Anexos 87
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1
Introdução
Para que uma pessoa possa atingir um nível de competência lingüística que
lhe assegure um bom desempenho em uma segunda língua, precisa conhecer bem
a cultura de seus falantes nativos, de modo a conseguir identificar e compreender
todo e qualquer ato, lingüístico ou extralingüístico, que constitua linguagem nas
interações entre os mesmos.
Em outras palavras, é fundamental estar-se atento não só à língua (código)
como também a certas práticas extra-língua (extra-código), de natureza
ideológico-comportamentais, que, compondo uma linguagem à parte, comunicam
tanto ou mais do que a própria língua, com a qual, aliás, têm relações tão íntimas a
ponto de nela se refletirem.
Pode-se dizer inclusive que conforme a distância cultural entre duas
comunidades lingüísticas é possível medir o grau de dificuldade em se entender e
se aprender a usar com propriedade a variedade de formas que compõem a
expressão lingüística do outro.
Este trabalho examina determinadas formas de expressão lingüística do
português do Brasil até então pouco exploradas
1
quanto à sua descrição,
praticamente sem registro nas gramáticas e livros didáticos, tanto de português
como língua materna (PL1) como de português como segunda língua para
estrangeiros (PL2-E), bem como as relaciona com o modus vivendi dos brasileiros,
1
Embora haja uma série de estudos sobre tais formas no campo da Estilística, cujo caráter não é
substancialmente funcional (aspecto interacional pragmático cotidiano), mas estilístico, seus
enfoques não são a descrição do português do Brasil como língua estrangeira.
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em especial dos cariocas, o que se mostra fundamental para uma compreensão do
gosto ou da predileção que estes demonstram por estas formas em seu cotidiano
interacional informal.
Significativamente freqüentes no dia-a-dia do brasileiro, são elas as
onomatopéias e outras palavras nada prosaicas, que, por vezes, soam mais como
meros ruídos ou efeitos sonoros expletivos ou de simples adorno do discurso. Em
essência, são vocábulos expressivos
2
, que formados por imitação dos sons
produzidos pelo referente (coisa a que se nomeia) ou por meio de reduplicação
silábica ou qualquer outro processo estilístico, sugerem aos seus ouvintes uma
relação cognitiva geralmente não arbitrária entre significante e significado, ou
melhor, entre determinada massa sonora articulada e o que ela significa em termos
de representação de mundo.
Convencionais em cada comunidade lingüística, diferindo de língua para
língua, os vocábulos expressivos, onomatopaicos ou não, precisam ser
considerados no contexto do ensino/aprendizagem de segunda língua para
estrangeiros por constituírem-se elementos importantes para a comunicação ao
mesmo tempo em que revelam peculiaridades de cada cultura ou grupo de
falantes. Reconhecendo-os e sabendo utilizá-los, os aprendizes de PL2E ampliarão
sua competência comunicativa na nova língua.
O discurso cotidiano informal dos brasileiros encontra-se repleto desses
vocábulos especiais. Consagrados pelo uso, estão de tal modo internalizados por
seus falantes nativos, que os mesmos nem se dão conta de como lançam mão
desse tipo de recurso lingüístico a todo momento, tanto na fala quanto na escrita.
2
Vocábulos expressivos é uma denominação tomada emprestada à gramática normativa e adaptada
pela autora para designar um conjunto de palavras especialmente expressivas as onomatopéias e
outras de sonoridade peculiar e sugestiva (cf. 2.1.2.2).
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Menos ainda percebem com facilidade a sensação de estranheza que costuma
apresentar um indivíduo estrangeiro aprendiz de português ao se deparar com tais
expressões lingüísticas e/ou a perturbação que estas podem lhe causar. Enquanto
os falantes nativos as usam com desenvoltura e destreza, os estrangeiros muitas
vezes não têm oportunidade de conhecê-las ou mesmo de conseguir decifrá-las.
À primeira vista, o fato de o barulho de uma cavalgada ou galope no Brasil
ser reproduzido como pocotó e nos Estados Unidos, como da rra rrum (GOSLIN,
2003: 30) realmente não parece ser relevante. No entanto, para um norte-
americano, saber o que vem a ser pocotó pode ser a chave para que ele entenda o
que quer dizer um brasileiro em determinados contextos. E, muitas das vezes,
expressões como essas não se encontram sequer registradas nos principais
dicionários das suas respectivas línguas.
Registrar e descrever as onomatopéias e outras palavras de efeitos
especiais de uma língua estrangeira, bem como seu comportamento e função faz-
se, portanto, necessário, sobretudo no caso de uma língua que se serve de tais
recursos com significativa freqüência, em especial em situações de interação oral.
A seguir, como ilustração, encontra-se reproduzido um trecho do conto Pá,
Pá, , de Luiz Fernando Veríssimo, que demonstra a necessidade de que um
aprendiz de português adquira competência lingüística relativamente a esse tipo
de vocábulo, aumentando assim suas chances de sucesso na comunicação e
interação em um novo ambiente cultural. No caso, uma americana está às voltas
com o “pá, pá, pá”, um tipo de recurso lingüístico não muito comum em seu
idioma.
“Mas o que ela não entendia mesmo era o “pá, pá, pá”.
- Qual o significado exato de “pá, pá, pá”?
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- Como é?
- “Pá, pá, pá”.
- “Pá” é pá. “Shovel”. Aquele negócio que a gente pega assim
e...
- “Pá” eu sei o que é. Mas “pá” três vezes?
(...)
- Funciona como reticências sugeri eu. Significa, na
verdade três pontinhos. “Ponto, ponto, ponto”.
(...)
- Mas não são palavras. São só barulhos. “Pá, pá, pá.
- Pois é – disse eu. (VERÍSSIMO, 2001: 56-58)
A cultura de origem da personagem americana valoriza uma linguagem o
mais objetiva, simples e clara possível (STEWART & BENNETT, 1991: 45-49),
não dando especial valor a efeitos especiais por considerá-los opacos, confusos ou
supérfluos. Tanto assim que, no final do trecho de Veríssimo, a americana destila
seu preconceito ao dizer “Mas não são palavras. São barulhos” (VERÍSSIMO,
2001: 56-58).
Pocotó, miau, cocoricó, atchim , cof-cof, buá, fonfom, pimba, vapt-vupt,
tintim, cuti-cuti, bilu-bilu, nhenhenhém, tititi, trololó, quiquiqui, nheco-nheco,
bafafá, rififi e babau são alguns exemplos de recursos lingüísticos que têm algo
em comum. Por meio de repetição silábica e/ou alternância vocálica, destacam-se
pela sua expressividade. E observando-se a fala cotidiana brasileira nas situações
corriqueiras de interação ou seu registro nos jornais, revistas, anúncios de
publicidade, internet, televisão, enfim, nos principais meios de comunicação de
massa da atualidade, verifica-se que tal categoria de palavras constitui-se como
mais uma fonte reveladora da expressão nacional, refletindo aspectos da
identidade cultural brasileira.
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Essa maneira descontraída, incontida, vibrante, inquieta e brincalhona de
ser do brasileiro, conhecida e celebrada internacionalmente, a qual este trabalho
apresenta mais detalhadamente no capítulo seguinte (Cf. 2.1.5), se reflete em sua
linguagem. Seu comportamento lingüístico verbal e não verbal
3
revela muito da
sua cultura. Seu discurso costuma ter normalmente um tom jocoso e criativo, uma
vez que, extrovertido, faz barulho; expressivo, usa e abusa de todos os recursos
lingüísticos de que dispõe; expansivo, externa seus sentimentos e sua maneira de
ser (Cf. os conceitos de cultura objetiva e cultura subjetiva em 2.1.3).
Marca de identidade cultural, uma vez que difere de povo para povo, os
recursos lingüísticos de que trata o presente trabalho são aqui focalizados de modo
a desvendar alguns aspectos importantes da cultura brasileira ao mesmo tempo
que, descritos, comporão um relevante registro didático para os alunos de PL2-E
em especial, mas também para os alunos de PL1.
O objetivo desta Dissertação é então registrar e descrever as onomatopéias
e outras palavras expressivas de efeitos especiais utilizadas atualmente no
português do Brasil, não apenas reunindo-as e analisando-as semântica e
funcionalmente, como também desvendando, por intermédio destas, algumas
características culturais dos brasileiros.
Em termos de literatura descritiva disponível sobre onomatopéias em
língua portuguesa, por exemplo, destacam-se algumas obras antigas e raras como
o “Pequeno dicionário luso-brasileiro de vozes de animais – onomatopéias e
definições”, de Júlio de Lemos, que cataloga as vozes de animais (piar, cacarejar,
grasnar etc.) como vocábulos onomatopaicos, mas não procede ao registro dos
3
O comportamento lingüístico não verbal ou extra-lingüístico engloba a comunicação gestual e
corporal (voluntária ou involuntária, consciente ou inconsciente) dos indivíduos de determinada
cultura e também a maneira como lidam com tempo, barulho, espaço e outros aspectos subjetivos.
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sons relativos às suas fontes (piu-piu, cocorocó, qüem-qüem, etc.) e “Elementos
para um tratado de fonética portuguesa”, de Rodrigo de Nogueira, esta última
contendo interessantes considerações acerca da natureza geral das onomatopéias e
de sua ortografia, incluindo um expressivo inventário de suas fontes, que engloba
o registro dos sons das vozes de diversos animais e de outros barulhos como tosse,
vento, viola, armas de fogo, máquinas em funcionamento, etc. referentes ao
português de Portugal, em cotejo com suas correspondentes em outras línguas.
Recentemente, além de meras listagens de onomatopéias, mormente
relativas aos sons das vozes de animais, encontradas sobretudo em sites na
internet, e os exemplos poucos e às vezes confusos das gramáticas escolares
tradicionais, se dispõe de registros mais completos e elaborados de vocábulos
expressivos, onomatopaicos e não onomatopaicos do português do Brasil, em
livros de Estilística (por exemplo, em MARTINS, 2003: 30-50) ou Morfologia -
estudos de processos de formação de palavras - (por exemplo, ILARI, 2003: 114).
No entanto, os mesmos não são acompanhados de explicações sobre suas
ocorrências no discurso em situações de interação ou sobre seus possíveis usos em
tais situações. Exemplos contextualizados são raros.
Assim, este trabalho pretende preencher uma lacuna que se observa no
campo da descrição desses recursos lingüísticos utilizados pelos falantes do
português do Brasil, uma vez que, ainda que consideravelmente freqüentes no
discurso do brasileiro, são muitas vezes relegados pela gramática normativa, que
costuma lhes dedicar espaço inferior a uma página, a um segundo plano, o que
impede ou dificulta que oportunamente se possa apresentá-los de uma maneira
prática e funcional aos alunos de PL2-E, inclusive permitindo-lhes um pouco mais
de acesso à língua e à cultura brasileiras.
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2
Pressupostos teóricos e metodologia
2.1.
Pressupostos teóricos
2.1.1.
Cultura e identidade cultural brasileira
Neste item, em primeiro lugar, serão apresentadas as definições de cultura
com que esse trabalho comunga, bem como serão abordados alguns conceitos que
lhe são fundamentais, a saber: cultura objetiva e cultura subjetiva, cultura de alto
contexto e cultura de baixo contexto.
Em seguida, serão brevemente descritos alguns dos principais aspectos da
identidade cultural brasileira cujo reflexo no português do Brasil é patente.
2.1.1.1.
A noção de cultura
O ensino de língua estrangeira deve envolver toda uma preocupação e todo
um esforço em prol de realçar o fato de que cada povo, cada comunidade
lingüística, tem sua própria cultura e, conseqüentemente, uma maneira particular e
exclusiva de ver o mundo, de pensar, de agir, de se comportar perante os
acontecimentos e situações, de se relacionar, de interagir, de se comunicar.
Como o homem costuma perceber o mundo e as coisas da vida por meio
de sua cultura, cada qual tende a considerar o seu modo de vida como o mais
correto e o mais natural. Desta forma, e sobretudo diante da enorme diversidade
cultural que se verifica no panorama internacional, por entre os diferentes povos
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do mundo, faz-se necessário, cada vez mais, pensar, criar, organizar e colocar em
prática estratégias que permitam, como diz Meyer, “que a língua estrangeira seja
tratada como um instrumento de conscientização das diferenças culturais,
proporcionando, portanto, um melhor entendimento entre os povos, como um
agente disseminador de tolerância entre os diferentes” (MEYER, 2003).
A partir da premissa de Benjamin Lee Whorf de que a língua reflete a
visão de mundo e os conseqüentes padrões de comportamento de seus falantes
nativos, ao mesmo tempo em que os condiciona a continuarem presos ou reféns de
sua maneira de ser e de pensar o pensamento e os valores de uma sociedade se
refletem em sua língua e esta, por sua vez, leva em certa medida tal sociedade a
perpetuar essa sua percepção de mundo, como num ciclo vicioso (WHORF,
1978: 212-214), percebe-se a estreita relação que existe entre língua e cultura.
Cada cultura tem sua própria língua e cada língua é a manifestação das
percepções, valores, crenças e descrenças de um determinado grupo. A língua,
uma vez estabelecida, induz o indivíduo a perceber a realidade de uma
determinada forma. Também, é o meio pelo qual o grupo mantém e reforça a
similaridade de percepção. Desta forma, a língua está diretamente relacionada à
cultura e vice-versa. (SINGER, 2000: 29).
A definição da noção de cultura vem se desenvolvendo por entre os
tempos, acompanhando a evolução do pensamento humano, na medida do
progresso intelectual do homem, que precisa cada vez mais interagir não apenas
com seus iguais, mas também e principalmente deve aprender a se relacionar da
melhor maneira com seus diferentes.
Segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, entende-se como cultura o
conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se
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preservam ou se aprimoram através de comunicação e cooperação entre
indivíduos em sociedade. Considerada do ponto de vista antropológico, cultura é o
conjunto complexo dos códigos e padrões que regulam a ação humana individual
e coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo específico, e que
se manifestam em praticamente todos os aspectos da vida: modos de
sobrevivência, normas de comportamento, crenças, instituições, valores
espirituais, criações materiais, etc. (FERREIRA, 2000).
“Cultura é comunicação” afirma o antropólogo e pesquisador
interculturalista Edward Hall. Cada cultura é um sistema que cria, envia,
armazena e processa informações (HALL, 1998: 53). Assim toda experiência de
um indivíduo é transmitida aos demais, criando assim um processo interminável
de acumulação. (LARAIA, 2002: 52).
2.1.1.2.
Cultura objetiva e cultura subjetiva
Partindo então do conceito geral de cultura, este trabalho baseia-se na
divisão proposta pelos interculturalistas entre dois tipos de manifestação cultural:
a cultura objetiva e a cultura subjetiva.
A primeira, mais evidente, diz respeito às manifestações visíveis de uma
determinada sociedade arte, literatura, música, ciência, religião, política, língua,
enfim tudo o que tal sociedade produz de concreto. A segunda, ao contrário,
consiste em manifestações sutis valores, crenças, comportamento, uso da língua
e todo e qualquer outro componente cultural abstrato dessa sociedade
(BENNETT, 1998: 3).
Enquanto profissionais tradicionais de ensino de língua estrangeira tendem
a focalizar apenas o lado objetivo ou concreto da cultura, considerando apenas o
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aspecto estrutural da ngua, os interculturalistas e profissionais da comunicação
intercultural voltam sua especial atenção para o seu lado subjetivo, preocupando-
se mais com o uso da ngua em situações de uso real do que com sua estrutura
exclusivamente. Estudam, por exemplo, como determinado comportamento não-
verbal de certo grupo pode culturalmente modificar sua ngua e como padrões
culturais de pensamento se manifestam nos diversos estilos particulares de
comunicação (BENNETT, 1998: 4).
Além de pesquisar como a realidade é definida e julgada através de valores
culturais, eles mostram ao mundo como o entendimento da cultura subjetiva dos
falantes de certa comunidade lingüística cuja língua se quer aprender e com a qual
se quer interagir pode ajudar no desenvolvimento de habilidades de adaptação
cultural e na comunicação intercultural. (BENNETT, 1998: 4).
Segundo Bennett, embora a compreensão da cultura objetiva possa trazer,
e normalmente traga, conhecimento sobre determinada comunidade lingüística,
ela não necessariamente gera competência comunicativa.
“Pode-se saber muito sobre a história de uma cultura e ainda assim não
se estar apto para se comunicar com um de seus indivíduos integrantes”
(BENNETT, 1998: 3).
4
Assim, torna-se evidente como é importante que o professor de uma língua
estrangeira aproveite todas as oportunidades que estejam ao seu alcance para que
possa transmitir a seus alunos os aspectos da cultura subjetiva dos falantes nativos
dessa língua a fim de que os aprendizes compreendam e aceitem a maneira de ser
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do outro e possam se servir de seus recursos lingüísticos expressivos verbais e não
verbais com propriedade e consciência. Como diz Singer,
“Se quero que minha mensagem seja compreendida, simplesmente tenho
que traduzi-la numa linguagem cultural que a outra pessoa compreenda e
aceite. A despeito da mensagem que queremos enviar, se queremos que
isso se satisfatoriamente, temos que conhecer melhor os valores
culturais das pessoas com quem queremos nos comunicar e saber como
codificar nossa mensagem em termos que elas possam compreender. Em
outras palavras, precisamos conhecê-las a fundo.” (SINGER, 1998: 142)
5
2.1.1.3.
Cultura de Alto Contexto e cultura de Baixo Contexto
Conforme essa mesma abordagem interculturalista, enquanto em algumas
comunidades lingüísticas o contexto é fundamental para que a comunicação e/ou
qualquer relacionamento interpessoal em qualquer área tenha sucesso, se complete
ou mesmo ocorra, em outras, não o contexto não é tão valorizado ou é mesmo
supérfluo, como muitas vezes representa um ruído na comunicação, sendo banido,
na medida do possível, por constituir-se um verdadeiro incômodo. Num extremo,
trabalha-se com o máximo de contexto. No outro, com o mínimo: e isso não é sem
razão uns se sentem confortáveis e satisfeitos com dados contextuais enquanto
outros experimentam desconforto, de acordo com seus perfis e/ou características.
4
Tradução da autora. No original: “One can know a lot about the history of a culture and still not
be able to communicate with an actual person from that culture.”
5
Tradução da autora. No original: If I want someone to understand my message, I simply must
translate it into a cultural language that the other person understands and accepts. Regardless of
the message we want to send, if we want it to be acted upon favorably, we had better know the
cultural values of the people with whom we want to communicate and how to encode our message
in terms that they can understand. That means really getting to know them”.
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Assim, conforme o nível de abstração, alto ou baixo, ao lidarem com seu
contexto, sua cultura subjetiva, os diversos povos constituem o que Hall e Bennett
denominam culturas de Alto Contexto (High-Context) e culturas de Baixo
Contexto (Low-Context) (HALL, 1998: 61 & BENNETT, 1998: 17).
Imaginando uma espécie de escala, consideram-se como culturas de Alto
Contexto as que se servem ao máximo do contexto em seus atos comunicativos
em oposição às que trabalham com o mínimo de contexto.
As culturas japonesa, árabe e dos povos do Mediterrâneo que possuem
extensas e complexas redes de informações entre familiares, amigos, colegas e
clientes que se encontram envolvidos em estreitos relacionamentos interpessoais
são consideradas culturas de Alto Contexto. Assim, na maioria das interações de
sua vida cotidiana, não requerem nem esperam grande quantidade de informação
lingüística uma vez que os interactantes se mantêm a par de tudo que se refira às
pessoas que lhe são caras (BENNETT, 1998: 4-5).
Culturas de Baixo Contexto seriam, de um modo geral, aquelas dos norte-
americanos, dos alemães, dos suíços, dos escandinavos e de outros europeus do
norte, povos que compartimentalizam seus relacionamentos interpessoais, seu
trabalho e vários aspectos de seu dia-a-dia. Conseqüentemente, cada vez que
interagem com outros, precisam de uma gama de informações detalhadas
transmitidas lingüisticamente (BENNETT, 1998: 4-5).
Em sua obra, Bennett sustenta ainda que enquanto os indivíduos
integrantes de culturas de Alto Contexto freqüentemente se irritam quando os de
Baixo Contexto insistem em lhes fornecer informações que eles têm, pois as
perceberam sozinhos, ao contrário, os de Baixo Contexto se sentem perdidos
quando os primeiros não lhes fornecem informações suficientes por concluírem
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que eles as recuperaram no contexto (BENNETT, 1998: 4-5). São constantes,
então, as situações de desentendimentos interculturais.
“Indivíduos integrantes de culturas de Alto Contexto abominam
parar para escutar o outro e tornam-se cada vez mais abertos a
interrupções e sintonizados com o que se passa em sua volta.” (HALL,
1990: 12).
6
Conforme a base cultural que cada um tem, que funciona como uma lente,
a perspectiva ou o recorte do real pode se revelar completamente diferente. Assim,
desentendimentos são na verdade desencontros que ocorrem devido à lacuna que
se tem quanto ao conhecimento da lente do outro e ao despreparo em usá-la,
provocados pela ignorância da cultura subjetiva desse outro.
“Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto,
têm visões desencontradas das coisas” (BENEDICT apud LARAIA,
2002: 67).
2.1.1.4.
Aspectos da cultura brasileira
Sendo uma das finalidades deste trabalho estabelecer uma correspondência
entre a maneira de ser dos falantes nativos do português do Brasil e a
expressividade manifesta em sua língua a partir da predileção destes por
determinados vocábulos e recursos lingüísticos em detrimento de outros, mais
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prosaicos, em seu discurso, conhecer a identidade cultural brasileira faz-se então
indispensável.
Segundo o antropólogo Roberto DaMatta, a sociedade brasileira pode ser
dividida em dois espaços de convívio: a casa, que “demarca um espaço
definitivamente amoroso onde a harmonia deve reinar sobre a confusão, a
competição e a desordem” e que constitui o “domínio onde se realiza uma
convivialidade social profunda” (DAMATTA, 2001: 26-27) e a rua, “onde não há,
teoricamente, nem amor, nem consideração, nem respeito, nem amizade”
(DAMATTA, 2001: 29). Enquanto a casa é idealizada como o espaço da
segurança e do prazer (lar, doce lar), a rua é o espaço da impessoalidade e da
competição (MEYER, inédito).
DaMatta sustenta que o brasileiro se mostra carente e sente necessidade de
aproximar o espaço da casa e o espaço da rua (DAMATTA, 2001: 23-33), o que
explica o fato de ele gostar tanto de chamar atenção, visando em geral uma
aproximação, um estreitamento, ainda que o faça muitas vezes de forma
inconsciente. Quanto mais e melhor se expressa, mais transparente e, portanto,
mais próximo do outro.
O brasileiro quer sempre conquistar seu interlocutor de modo a com ele
estabelecer laços. Costuma fazer de alguém que não conhece ou nunca viu seu
mais novo interlocutor (no caso de não ter nenhum conhecido por perto), muitas
vezes o tratando como amigo de infância, com toda intimidade. Quer atenção,
quer hipnotizá-lo com seu entusiasmo, quer trazê-lo para si. Precisa cativá-lo.
6
Tradução da autora. No original: High-Context people reject auditory screening and thrive on
being open to interruptions and in tune with what goes on around them. Hence, in French and
Italian cities one is periodically intrusively bombarded by noise”
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Tem pavor da solidão e do isolamento e horror a viver consigo mesmo. É
expansivo, portanto, por precisar estabelecer vínculos.
Segundo Meyer, “fica fácil compreender o porquê da informalidade do
brasileiro nas relações sociais: nós estamos sempre buscando transpor as relações
seguras da casa para a rua; estamos sempre procurando estender as confortáveis
relações pessoais, com toda a sua carga de afetividade e emotividade, para os
outros tipos de relações. (...) O brasileiro transpõe, para as relações sociais, o
padrão das relações pessoais: a proximidade e a emotividade.” (MEYER, inédito).
Essa maneira de ser do brasileiro contrasta, por exemplo, com a dos norte-
americanos.
“Os brasileiros consideram a tendência norte-americana de
“manter-se frio”, de conservar uma aparência serena, frustrante e
confusa. São pessoas pela metade. Você é o que você expressa.””
(HARRISON, 1983: 24-25).
7
Internacionalmente reconhecida, outra característica do brasileiro é sua
cordialidade. Sérgio Buarque de Holanda assim a explica em suas peculiaridades:
“A lhanesa no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão
gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um
traço definido do caráter brasileiro, (...) Seria engano supor que essas
virtudes possam significar ‘boas maneiras’, civilidade. São antes de tudo
7
Tradução da autora. No original: “Brazilians find the North American tendency to “keep cool”,
to maintain un unruffled appearance, frustrating and confusing. “They are only half people. You
are what you express.””
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expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e
transbordante.” (HOLANDA, 2000: 147)
E, revelando um outro atributo do brasileiro a espontaneidade, Holanda
acrescenta que
“nossa forma ordinária de convívio social é, no fundo, justamente o
contrário da polidez. Ela pode iludir na aparência – e isso se explica pelo fato de a
atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de
manifestações que são espontâneas no ‘homem cordial’: é uma forma natural e
viva que se converteu em fórmula”. (IDEM, 147)
O brasileiro, então, avesso ao ritualismo social, não se funda na obediência
a regras sociais de bom comportamento pura e simplesmente. Ele se baseia na
necessidade de colocar afetividade, proximidade e pessoalidade nas relações
pessoais. (MEYER, inédito). Ele tem, acima de tudo, pavor da solidão e está
sempre buscando estabelecer o máximo de intimidade em suas interações, no
desejo de criar sempre elos de confiança mútua, configurando assim seu modo
familiar de ser conforme o que entende por família (pai, mãe, filhos, avós, tios,
tias, primos, primas, sobrinhos, sobrinhas, netos, netas, etc., todos muito ligados
afetiva, psicológica e economicamente), bem diferente, aliás, do que por esta
entende o americano, e sua necessidade de estar e se sentir sempre acompanhado e
querido, amado.
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25
“No ‘homem cordial’, a vida em sociedade é, de certo modo, uma
verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em
apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência.”
(HOLANDA: 2000, 147)
Os relacionamentos pessoais são, desse modo, extremamente importantes
para os brasileiros, a ponto de regularem toda a sua vida. O Brasil não funciona
sem eles.
A criatividade, capacidade de romper continuamente os esquemas da
experiência (FATTORI apud RODARI, 1982: 140)
8
, outra característica do
brasileiro, nasce, entre outras coisas, também da habilidade que ele tem em lidar
com o contexto num nível de abstração alto e, especialmente, de ser um povo
acostumado a unir opostos e se adaptar a tudo para sobreviver, o que nem sempre
é bem visto pelos estrangeiros.
“Devido a seus contrastes, relativos às adversidades vividas (...), o
brasileiro é avaliado negativamente por estrangeiros, mas positivamente
por brasileiros, devido à sua capacidade de resolver, criativamente
problemas”. (SILVEIRA, 2000: 24).
Segundo Silveira, a capacidade de adiar e de resolver criativamente
problemas, intermediada por relações pessoais, por exemplo, caracteriza o famoso
8
Segundo Marta Fattori, é criativa uma mente que trabalha, que sempre faz perguntas, que
descobre problemas onde os outros encontram respostas satisfatórias, que é capaz de juízos
autônomos e independentes, que recusa o codificado, que remanuseia objetos e conceitos sem se
deixar inibir pelo conformismo. Todas essas qualidades manifestam-se no processo criativo, o qual
tem caráter jocoso (FATTORI apud RODARI, 1982: 140).
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jeitinho brasileiro como uma forma flexível de ser ao se relacionar com o que
acontece no mundo (SILVEIRA, 2000: 25).
A referida autora caracteriza o brasileiro como um ser de contrastes que,
devido à sua flexibilidade, soma polaridades e tem muita auto-estima, que sua
forma de ser foi, criativamente, resolvendo o que parecia insolúvel, na medida em
que acredita que será ajudado pelo divino (“Deus é Brasileiro”) e intermediado
por relações pessoais de amizade (“conheço alguém que pode ajudar”)
(SILVEIRA, 2000: 25).
A afetividade do brasileiro, o seu demonstrar emoções despudoradamente
para criar intimidade, sua tendência em transformar a rua em casa, seu pavor da
solidão, entre outros aspectos, tudo isso se manifesta na morfologia do português
do Brasil, língua na qual se verifica uma riqueza enorme de processos de
formação de palavras e processos estilísticos: diminutivos, aumentativos,
superlativos, onomatopéias, bem como é também facilmente detectável por
ocasião, por exemplo, da escolha das formas de tratamento a serem empregadas,
do costume em evitar o imperativo, etc.
A expressão lingüística da identidade cultural do brasileiro encontra então
em suas interações comunicativas formas bem diversificadas, e, tanto na sua
apresentação verbal quanto na não-verbal, observa-se o valor, ou melhor, a
importância e finalidade da manifestação da emoção nessa cultura, conforme
afirma Lewis em seu livro sobre como lograr bons resultados ao lidar e negociar
com culturas diferentes.
“Loquazes e verbosos ao extremo, os brasileiros usam gestos e
expressões faciais para enfatizar seu ponto de vista. Mesmo parecendo
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excessivamente emocionais às vezes, só querem que você entenda que
aquilo que dizem vem do coração. Quanto mais longo seu discurso, mais
eles esperam contar com a lealdade de seu interlocutor como uma base
sobre a qual possam estabelecer futuras relações e criar uma boa vontade
a longo prazo.” (LEWIS, 2003: 430)
9
A manifestação da emoção, tão significativa para o brasileiro, contribui
para que este seja considerado pelos estrangeiros exuberante em sua forma de se
comunicar:
“Graças à exuberância de expressão dos brasileiros, seu modo de
escutar o outro tende a ser um tanto errático. Interrompendo seu
interlocutor com suas próprias idéias, cada qual quer dar sua
contribuição pessoal. Os brasileiros têm antes a intenção de criar uma
impressão de profundidade de quem fala por meio da observação de
movimentos, gestos e contatos visuais do que escutar atentamente o que
está sendo dito.” (IDEM, 430)
10
E a interpretação de tal maneira exuberante de se comunicar, de se
expressar, vem sendo conhecida e começa a ser compreendida pelos
9
Tradução da autora. No original: “Loquacious and verbose to the extreme, the Brazilians use
gestures and facial expressions to emphasize their point of view. Although appearing over-
emotional at times, they only intend for you to understand that what they are saying comes from
the heart. The more lengthy their discourse, the more they feel that they will have cemented your
loyalty as a basis on which they can build further transactions and create long-term goodwill.”
10
Tradução da autora. No original: “Owing to the Brazilian’s exuberance of expression, their
listening habits tend to be somewhat erratic interrupting their interlocutor with ideas of their own,
each individual wanting to make a personal contribution. They aim to form an in-depth impression
of the speaker from watching movements, gestures and eye contact, rather than listening intently
to what is being said.”
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28
estrangeiros devido ao desenvolvimento crescente dos estudos sobre a cultura
subjetiva dos povos: “Eles (os brasileiros) buscam ser queridos e agradar os
outros.” (IDEM: 431)
11
Assim, por meio de autores brasileiros ou não, os estrangeiros começam a
ter acesso a alguns valores culturais do brasileiro que transparecem em sua
linguagem, fazendo dele um povo muito expressivo, valores esses que explicam
características tais como: loquacidade, emocionabilidade, exuberância,
amabilidade, teatralidade, exagero, criatividade, impaciência, inquietude. (IDEM:
429)
As visões do brasileiro pelo outro e por ele mesmo estão em constante
diálogo e se completam entre si, contribuindo a cada dia para o delinear de um
perfil cada vez mais nítido e seguro da identidade cultural brasileira. A seguir,
uma apreciação, desta vez, de uma autora brasileira.
“Falamos perto, falamos alto, falamos o tempo todo, simplesmente
com o intuito de interagir. Falamos sobre qualquer assunto quase sempre
sem nenhuma restrição.” (MEYER, 1999: 2)
12
Os brasileiros, de um modo geral, costumam falar alto e ao mesmo tempo;
se engalfinham pelo turno, e, informalmente, podem se agradar dirigindo ofensas
uns aos outros. Além disso, têm uma maneira muito particular de sonorizar seu
discurso com a ajuda de recursos lingüísticos muito especiais como onomatopéias
ou outros vocábulos cuja fonética é peculiarmente sugestiva. Mesmo quando não
11
Tradução da autora. No original: “They (the Brazilians) strive to be liked and please others.”
12
Tradução da autora. No original: “We talk close, we talk loud, we talk all the time, just for the
sake of interacting. We talk about any subject without any constraint almost any time.”
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expletivos, parece muitas vezes haver uma preferência por este tipo de vocábulo
em detrimento daqueles formados através de processos mais adequados ao que se
pode chamar de norma culta ou ngua padrão, componentes de um léxico mais
formal ou semi-formal. A intenção de sonorizar e dar vida a ações narradas pode
ser facilmente percebida por um falante nativo nas frases a seguir:
Marcelo entrou na sala e nem tchum pra mim. (Marcelo entrou na
sala e nem prestou atenção em mim);
Não se pode falar da mãe que pimba! (Não se pode falar da mãe
que, com certeza, acontece o que ela previu!);
Esse cachorro é cheio de nhém-nhém-nhém (Esse cachorro é muito
exigente);
De acordo com as considerações anteriores a respeito da identidade
cultural do brasileiro, pode-se então concluir que o gosto pelo uso de recursos
lingüísticos como pipipi, popopó, pererê, parará, tititi, quiquiqui, quequequé,
nhenhenhém, pimba, pumba, ploft, etc. vem do espírito leve, distenso e brincalhão
deste povo bem-humorado (POELZL, 2003: 135) que muitos afirmam ser o único
que tem a capacidade rir de si mesmo e de achar graça em sua desgraça – um povo
que vive com alegria e prazer, a despeito de quaisquer dificuldades e problemas.
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30
2.1.2.
Funções da linguagem e vocábulos expressivos
Conforme sua lente, sua cultura subjetiva, sua identidade cultural, cada
povo se comunica com mais ou menos expressividade
13
, dando mais ou menos
valor a um determinado conjunto de funções da linguagem em detrimento de
outras.
A partir do vínculo estabelecido entre língua, cultura e comunicação, serão
tecidas, neste item, algumas considerações acerca das funções da linguagem nas
diferentes culturas e suas implicações quanto à expressividade revelada em cada
comunidade lingüística por meio de seus atos comunicativos.
Em seguida, determinados vocábulos expressivos do português do Brasil
serão apresentados como uma forma de manifestação lingüístico-cultural de seus
falantes.
2.1.2.1.
Funções da linguagem
Da mesma forma que pessoas de diferentes culturas falam sobre o que
sentem não necessariamente da mesma maneira, elas veiculam informações,
contam histórias, narram fatos, se expressam, se comunicam, também não
necessariamente da mesma maneira. Em conseqüência disso, todas as línguas têm,
por exemplo, seus próprios recursos expressivos.
Tendo cada povo seus valores, suas crenças, suas formas de perceber o
mundo, os assuntos e as coisas, cada um tem e usa mais ou menos determinadas
funções da linguagem, o que se reflete na língua que falam. Pode-se dizer então
que a identidade cultural de um povo não se manifesta na sua língua, o que
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31
pode ser percebido em sua morfologia, sintaxe e estilística, como também na sua
maneira de se comunicar, na sua maneira de usar a língua para se comunicar.
O vínculo que se estabelece entre língua, cultura e comunicação é,
portanto, de considerável importância para este trabalho, como se ve mais
adiante; e sobre esse vínculo diz Laraia:
“A comunicação é um processo cultural. Mais explicitamente, a
linguagem humana é um produto da cultura, mas não existiria cultura se o
homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado
de comunicação oral” (LARAIA, 2002: 52).
Para Edward Hall, que considera cultura como um sistema de criar, enviar,
armazenar e processar informações, se a pessoa fracassa na negociação das regras
básicas de comportamento e comunicação, é impossível fazer a cultura funcionar
(HALL, 1998: 53-54).
Com base nessa relação tão estreita entre cultura e comunicação, uma vez
que cada povo pode ter modos muito diferentes de compreensão das funções
básicas da linguagem na comunicação, podem-se encarar estas últimas como outro
importante aspecto cultural a ser observado nas diversas comunidades lingüísticas,
visto que tendem a desempenhar essencial papel na comunicação intercultural.
(SCOLLON & SCOLLON, 2001: 150).
Segundo Scollon e Scollon, a despeito de ainda haver alguma discussão
entre profissionais tais como teóricos da comunicação, lingüistas, psicólogos e
antropólogos sobre a quantidade de funções que uma língua possa ter e quais
13
O termo expressividade, neste trabalho, refere-se à expressividade da linguagem, isto é, à sua
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32
ganham prioridade perante as outras em cada caso particular de comunicação,
consenso no seguinte: a língua possui várias funções e toda comunicação envolve
necessariamente uma função informativa e uma função de relacionamento ou
interação. Em outras palavras, quando uma pessoa se serve da língua para se
comunicar com outra, ela passa a esta última simultaneamente um tanto de
informação e outro tanto de expectativa sobre a qualidade do relacionamento ou
interação entre elas (SCOLLON & SCOLLON: 2001, 150 -151).
Com base nas afirmações desses autores, verifica-se, então, uma outra
possibilidade de avaliar quão diferentes são as culturas dos diversos povos:
segundo o grau de importância que cada um deles dedica a certa função da
linguagem em relação às outras também presentes em seus atos comunicativos.
Como exemplo desse novo enfoque, os autores citam o caso dos
japoneses, em cujo ato comunicativo são demonstrados aspectos sutis de
sentimentos e preocupação com a qualidade do relacionamento interpessoal, em
contraste com os americanos. Para os primeiros, é muito mais importante, numa
comunicação, o sucesso da interação interpessoal do que a transmissão eficiente
de informação. Assim, enquanto os nipônicos valorizam mais a função da língua
responsável pelo relacionamento ou interação, os americanos, ao contrário,
reduzem ao máximo essa função em suas situações de comunicação, ao mesmo
tempo em que investem sobremaneira na veiculação mais completa e eficiente
possível do que constitui informação em seu caráter mais objetivo (SCOLLON &
SCOLLON: 2001, 151-152).
Note-se que essa comparação entre japoneses e americanos quanto à
natureza dos seus atos comunicativos, estabelecida por Scollon e Scollon, revela
capacidade de emocionar e sugestionar (CÂMARA JR, 2002: 110).
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33
igualmente o contraste que se verifica entre dois povos com níveis de abstração da
cultura subjetiva extremamente diferentes. Enquanto os japoneses lidam com um
nível de abstração muito alto, os americanos seguem o caminho oposto, lidando
com um nível de abstração muito baixo. Por isso, conforme visto em páginas
anteriores, respectivamente tais povos são denominados pelos Interculturalistas
como de Alto Contexto e de Baixo Contexto.
Culturas de Alto Contexto geralmente dão mais importância ao aspecto
interativo da comunicação enquanto as de Baixo Contexto tendem a valorizar
mais seu aspecto informacional.
Assim sendo, seguindo essa classificação, os brasileiros, como os
japoneses, são considerados um povo de Alto Contexto. E isso se reflete na sua
língua, e na maneira como a usam para se comunicar.
No entanto, mesmo por entre os povos de Alto Contexto, que normalmente
se servem muito mais de recursos estilísticos e não-verbais em seu discurso
cotidiano do que os considerados de Baixo Contexto, há uma diversidade bastante
significativa na maneira como o fazem. Por exemplo, tanto os japoneses como os
brasileiros usam muitas palavras onomatopaicas em seu dia-a-dia; entretanto no
caso dos primeiros, por seu perfil cultural oriental, as onomatopéias normalmente
assumem um caráter ornamental no estilo discreto, doce e sutil, além de
conferirem um certo charme infantil à sua fala “A língua japonesa falada é
muito freqüentemente ornamentada por onomatopéias, o que lhe confere um
charme infantil... As onomatopéias utilizadas tornam a conversação mais viva e
permitem instaurar a “convivialidade”
14
entre os interlocutores.”
15
14
A despeito de essa palavra, que significa aproximadamente familiaridade, diz respeito a
convívio, em especial ao bom convívio, não se encontrar registrada nos dicionários de língua
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34
(http://japan.chez.tiscali.fr; 2004: 1). Enquanto isso, no caso dos brasileiros, elas
apresentam uma outra especificidade, conforme será visto mais adiante.
Quanto às duas funções que toda comunicação envolve – a de informar e a
de interagir –, percebe-se uma preponderância da segunda em relação à primeira
nos atos comunicativos do brasileiro, que definitivamente não são tão sutis quanto
os do japonês, nem tão diretos e pragmáticos como os do inglês norte-americano,
o que dá uma importância enorme à qualidade da interação, fato claramente
visível em seu discurso.
Como afirmado aqui anteriormente, uma vez que o perfil cultural de todos
os povos se manifesta em sua arte, em sua música, em sua literatura, em sua
maneira de ser e de pensar, em seus hábitos, comportamentos, na sua maneira de
agir, no seu modo de se comunicar, na sua língua e no modo de usá-la, é
fundamental se conhecer a identidade cultural de cada um deles quando o objetivo
é o sucesso da comunicação intercultural.
2.1.2.2.
Vocábulos expressivos
Uma vez desvendados os motivos que determinam tal gosto por esses
vocábulos nada prosaicos (cf. 2.1.1.4), doravante, para que haja nitidez no
enfoque do objeto deste trabalho, é necessário considerar com atenção a
terminologia nele empregada, bem como o contexto teórico em que se encaixa.
Neste sentido, em primeiro lugar, é fundamental não somente levar em
conta certas acepções atreladas ao que se entende por vocábulo expressivo,
portuguesa, algumas pessoas, como Roberto DaMatta (cf. DAMATTA, 2001: 26-27), se permitem
usá-la.
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35
onomatopéia e vocábulo onomatopaico, mas, sobretudo distingui-las, visando à
verificação do grau de possibilidade de delimitação conceitual entre os termos que
as encerram.
Enquanto por vocábulo expressivo entende-se palavra formada via
sugestão fonológica (palavra sugestiva), por onomatopéia entende-se tanto o
processo de formação de uma palavra a partir da reprodução aproximada, com os
recursos de que a ngua dispõe, de um som natural a ela associada, quanto à
palavra assim formada (HOUAISS, 2001) – o vocábulo onomatopaico.
Os vocábulos onomatopaicos as onomatopéias propriamente ditas
constituem objetos sonoros de configuração definida e valor significativo
constante, embora impreciso, dentro de uma comunidade lingüística, constituídos,
mais freqüentemente por uma combinação de sons correspondentes aos fonemas
da língua dessa comunidade: zás, pum, pimba, dlim-dlão, tlim-tlim, tic-tac, etc.
(MARTINS, 2003: 48)
A delimitação desses conceitos, contudo, nem sempre é consensual.
Alguns autores, como Câmara Jr., defendem, por exemplo, que vocábulo
expressivo e vocábulo onomatopaico não se devem confundir (CÂMARA JR:
2002: 182), o que não é tão simples, uma vez que ambos se originam do mesmo
tipo de recurso morfo(fono)-estilístico, como por exemplo a reduplicação,
conferindo assim sonoridade e especial grau de expressividade ao discurso.
Constatada a existência de dois tipos de vocábulos na língua, uns que são
prosaicos (cadeira, criança, gato etc.) e outros, com especial expressividade, que
não o são (tique-taque, cocoricó, nhenhenhém, balacobaco, telecoteco etc.), este
15
Tradução da autora. No original: “La langue japonaise parlée est três souvant ornée
d’onomatopées, ce qui lui confère um charme enfantin... Les onomatopées utilisées rendent la
conversation plus vivante et permettent d’instaurer de la convivialité entre les locuteurs.”
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36
trabalho denomina vocábulos expressivos estes últimos. Desta forma, vocábulos
expressivos e onomatopéias são termos que buscam, dentro do possível, definir
coisas diferentes embora o necessariamente opostas. As onomatopéias se
incluem no conjunto dos vocábulos expressivos, pois o como negar que a
imitação implica sugestão; os vocábulos expressivos, por sua vez, não se
restringem ao grupo das onomatopéias, uma vez que a sugestão não implica
necessariamente imitação, pode se dar por uma analogia diferente ou outro
processo cognitivo qualquer.
O presente trabalho, que assume um caráter sincrônico, uma vez que
trabalha com um recorte bem definido de tempo e espaço, período de 2003 a 2006
do português falado no Rio de Janeiro, parte de uma motivação interculturalista,
no sentido em que o tipo de vocábulo que descreve varia bastante de língua para
língua e, portanto, precisa ser estudado, bem como registrado e divulgado para os
aprendizes de língua estrangeira, visando promover uma melhor competência
lingüística e cultural entre culturas de línguas diferentes umas em relação às
outras e, desta forma, uma melhor comunicação entre seus falantes. Adquire assim
imediatamente um caráter funcionalista-pragmático, já que as funções, condições
e manifestações de uso de tais recursos lingüísticos em cada língua natural
costumam ser também extremamente diversas.
Enquanto um vapt-vupt encontra, por exemplo, sua versão alemã em
schwpp-di-wupps
16
, certas culturas ou comunidades lingüísticas não localizam
nada equivalente em seu idioma. Muitas não saberiam, por exemplo, entender ou
decifrar um , um nhenhenhém, um pa-pum, um tchum ou um pimba, que
às vezes mais lhe soam como barulhos, e não palavras, seja por não
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corresponderem aos equivalentes em sua língua seja por não se servirem de tais
espécies de artifícios expressivos, ou ainda por o fazerem de maneira diferente,
conforme outros padrões.
Sendo assim, este trabalho apresenta e analisa uma considerável
quantidade de amostras de vocábulos expressivos, bem como estuda as suas
funções e os usos que os caracterizam visando colaborar para que todo e qualquer
estrangeiro aprendiz de português do Brasil tenha acesso aos mesmos, melhorando
assim sua competência lingüística nesta língua.
Para isso, todavia, é mais especificamente no eixo Funcional-Estilístico,
com inspiração na Estilística Funcional de Jakobson, que se alicerçam as partes de
cunho mais analítico deste trabalho, a saber, a análise e a apresentação dos dados.
Considerando-se que os brasileiros, de um modo geral acostumados a
expressar suas emoções como estratégia para criar vínculos afetivos em suas
interações, constata-se que eles demonstram um gosto todo especial pelas palavras
mais expressivas o que é patente no caráter exuberante de sua linguagem (cf.
LEWIS, 2003: 430). É fundamental, portanto, observar com particular atenção o
comportamento de determinadas funções da linguagem em seu discurso.
Assim sendo, dentre aquelas concebidas por Jakobson, a Função
Expressiva, também conhecida como Emotiva, é aqui fundamental. Dizendo
respeito à expressão direta da atitude de quem fala em relação àquilo de que está
falando e tendendo a suscitar a impressão de certa emoção, verdadeira ou
simulada, constitui, portanto, a identidade funcional dos vocábulos expressivos,
justamente por estes manifestarem algo do aspecto emocional de seus usuários.
16
Informação dada por Margret Schuster, alemã, aluna de Português para estrangeiros na PUC em
2004/1.
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38
Contudo, complementarmente à Função Expressiva ou Emotiva, os
vocábulos expressivos usados pelo brasileiro em seu discurso coloquial cotidiano
exercem também ora a Função Referencial, ora a Função Poética (de Jakobson), o
que se verifica a partir do papel que exercem nas interações comunicativas, como
será explicado detalhada e paulatinamente a seguir.
Em decorrência de assumirem uma ou outra dessas duas funções, podem-
se distinguir dois tipos de vocábulos expressivos funcionalmente bem diferentes,
quais sejam, os referenciais e os estilísticos, assim classificados justamente por
desempenharem ora uma função referencial, ora uma função poética ou estilística.
Vocábulos expressivos referenciais são aqueles que se referem às coisas do
mundo e da vida: coisas sensíveis aos cinco sentidos, coisas perceptíveis,
abstrações, seres e seus estados, qualidades ou atributos, acontecimentos,
circunstâncias dos acontecimentos, enfim tudo o que possa e precise ganhar um
nome. Dessa forma, pode-se dizer que esse tipo de vocábulos expressivos atualiza
ou realiza, além da Função Expressiva, a Função Referencial, que, segundo
Jakobson, é a de nomear ou informar alguma coisa, de fazer referência a alguma
coisa. Neste caso, passa-se informação, sim, mas com uma carga expressiva;
como em
(1) Foi o atchim mais estranho que já vi.
(2) Marcelo entrou na sala e nem tchum pra mim.
(3) Hoje você está tchan.
(4) É pá-pum.
(5) É vapt-vupt.
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39
No exemplo (1), a onomatopéia atchim é uma forma bem mais expressiva
e informal para se referir a espirro, palavra que atchim substitui na frase em
questão. O papel deste vocábulo expressivo, portanto, é meramente o de nomear
algo de que se fala, ainda que não o faça de uma forma mais convencional,
tradicional.
Em (2), a onomatopéia tchum é empregada claramente para fazer alusão a
uma ação. Na frase, entende-se algo em torno da idéia de que o comportamento ou
maneira de agir de Marcelo consistiu em nem olhar, nem prestar ou dar atenção,
em esnobar.
A onomatopéia tchan, em (3), busca nomear uma qualidade positiva,
característica momentânea ou estado de uma pessoa, podendo, por
correspondência referencial, ser substituída por palavras mais convencionais como
bonita/o ou linda/o, por exemplo.
As onomatopéias pa-pum e vapt-vupt, respectivamente em (4) e (5), por
sua vez, referem-se a circunstâncias. Enquanto a primeira evoca a certeza do
modo como certo resultado ocorrerá em decorrência de certa circunstância, numa
relação de causa e efeito, a outra indica o tempo como uma ação se passa, no caso
referindo-se à sua rapidez. Cada um a seu turno, ocupam o lugar de palavras
convencionais como certo e rápido, significando aí certamente e rapidamente.
A partir desses exemplos, é possível perceber que os vocábulos
expressivos referenciais ainda podem ser subdivididos e classificados em grupos
específicos, de acordo com a função que desempenha.
Assim, àqueles que buscam nomear uma noção, seja de algo concreto
como seres vivos, objetos, coisas palpáveis, visíveis ou invisíveis, seja de algo
abstrato como sentimentos, impressões, etc., este trabalho denomina vocábulos
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40
expressivos referenciais nocionais. Aos que designam ações, vocábulos
expressivos referenciais acionais. Aos que nomeiam qualidades, estados ou
características impressas ou atribuídas às noções concretas ou abstratas
concebidas pela mente do homem, vocábulos expressivos referenciais
qualitativos. E finalmente, aqueles que nomeiam circunstâncias são aqui
denominados vocábulos expressivos referenciais circunstanciais.
Desta forma, o exemplo (1) refere-se ao grupo dos nocionais, o (2), ao
grupo dos acionais, o (3) ao grupo dos qualitativos e o (4) e o (5) ao grupo dos
circunstanciais.
Vocábulos expressivos estilísticos são aqueles que dão vida ao discurso,
assumindo então a função poética, que, segundo Jakobson, tem o poder de
reforçar a impressividade e a eficácia da mensagem que se quer passar
(JAKOBSON, 2001: 129). Passam também informações, ainda que de natureza
subjetiva, acerca da emoção de quem fala, sendo apenas neste sentido
informativos.
17
Vale lembrar que, segundo Jakobson, um homem que use elementos
expressivos para indicar sua ira ou sua atitude irônica, por exemplo, transmite
informação manifesta e evidentemente tal conduta verbal não pode ser assimilada
a atividades não semióticas (JAKOBSON, 2001: 124). Ao contrário, constitui-se
objeto lingüístico digno de estudo e registro. Expressar emoção também é
informar.
Supor que a diferença emotiva seja uma característica não-
lingüística, “atribuível à enunciação da mensagem e não à própria
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41
mensagem” reduz arbitrariamente a capacidade informacional das
mensagens (IDEM, 2001; 124).
Os vocábulos expressivos estilísticos, ilustrados a seguir em (6), (7), (8) e
(9), são, então, a expressão da arte pela arte, munindo o discurso de efeitos
especiais nesse sentido.
(6) Foi a porta abrir e, atchim, ele espirrou.
(7) Chamou a Uerj de elitista, pipipi popopó, pois jamais foi recebida pela
reitora.
(8) O clima em Londres é de tensão com possibilidade (toc toc toc) de um
atentado também.
(9) Pumba, clico e aí posso editar.
No exemplo (6), a onomatopéia atchim é expletiva, ou seja, desnecessária
ao sentido da frase, servindo apenas para dar vida, força e graça ao discurso. A
reprodução do barulho da ação narrada caracteriza uma espécie de esforço em
levar o interlocutor ao fato narrado ao vivo.
Em (7), pipipi popopó é novamente uma tentativa onomatopaica de tornar
presente o fato que se conta. Embora expletiva, a combinação dessas duas
onomatopéias poderia ser substituída pela expressão latina etcaetera etcaetera e,
diferentemente do exemplo anterior, concentra em si ainda outra motivação a de
trazer à cena narrada a impressão de repetição de fala sem interesse ou que não
vale a pena, sugerindo ser até mesmo excessiva ou enfadonha.
17
A terminologia empregada por este trabalho para denominar os vocábulos expressivos segundo
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42
O toc toc toc
18
do exemplo (8), também expletivo, é a representação
onomatopaica de um bito bastante comum entre os brasileiros, o de bater três
vezes com a mão fechada em uma superfície de madeira para afastar o azar. Da
mesma forma que os vocábulos expressivos estilísticos mostrados nos exemplos
anteriores, tal recurso mais vida e graça ao enunciado ao evocar a cena de tal
gesto indicador de superstição através da representação articulada (gráfica ou não)
de seu barulho.
Em (9), pumba, supérfluo e desnecessário ao sentido da frase, apesar de
seu fundo onomatopaico, não tem uma explicação ligada a imitações como no
caso dos exemplos anteriores. É um mero adorno com intenção de imprimir
vivacidade ao enunciado. Tenta marcar talvez a rapidez com que se dá a ação ou o
processo mencionado de que se fala.
As impressões desencadeadas no interlocutor ou que se buscam
desencadear neste último por meio dos vocábulos expressivos estilísticos não
apresentam limites bem definidos e claros de significação nem mesmo para aquele
que os emite em suas falas. A presença de tais vocábulos nos enunciados parece se
tratar de um hábito lingüístico um tanto ou quanto inconsciente para ambos os
participantes da interação comunicativa. Há entendimento, mas não consciência.
Essa é provavelmente uma das principais razões pelas quais ainda não tinham sido
estudados numa perspectiva voltada para o ensino de português para estrangeiros.
O esquema a seguir sintetiza as classificações que a análise dos dados
deste trabalho propõe.
suas funções no enunciado foi tomada emprestada à gramática funcional.
18
Ao contrário da forma tique-taque (relativa a tic-tac), não foi verificada no corpus analisado por
este trabalho nenhuma ocorrência da forma toque-toque (relativa a toc-toc).
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43
Sobre os dados analisados, cumpre observar que se verificou uma
amostragem significativa de exemplos em cada um desses grupos em que o
esquema acima divide os vocábulos expressivos, como revelam, no final do
trabalho, as tabelas em anexo, resultantes da análise dos dados. É imprevisível,
entretanto, o aumento de suas possibilidades de manifestação devido à alta e
dinâmica criatividade do brasileiro (cf. 3.1).
Finalmente, é muito importante ressaltar que, no universo dos dados
analisados, fica claro que, embora freqüentes no linguajar do brasileiro, os
vocábulos expressivos não são empregados o tempo todo e indiscriminadamente:
são usados quase que exclusivamente em situações de fala informal, descontraída.
VOCÁBULOS
EXPRESSIVOS
REFERENCIAIS
ESTILÍSTICOS
NOCIONAIS QUALITATIVOS ACIONAIS CIRCUNSTANCIAIS
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44
2.2.
Procedimentos metodológicos
2.2.1.
Coleta do corpus
Diante de uma carência significativa de corpora do português falado atual
e/ou dificuldade de acesso se comparado, por exemplo, aos corpora do inglês
britânico ou mesmo americano, o corpus obtido durante a pesquisa que tornou
possível este trabalho é constituído de transcrições de enunciados informais
cotidianos colhidos de forma aleatória. São falas ambientadas em vários e
diversos segmentos sociais no eixo Rio-São Paulo, sejam elas pertencentes à “vida
real” (proferidas na minha presença e devidamente anotadas, em reportagens ou
programas de entrevistas de televisão e rádio, em propagandas, anúncios,
publicidade em geral etc.), sejam elas parte de representações ficcionais dessa
“vida real” (sitcoms da Rede Globo, como A Grande Família”, “A Diarista”,
“Sexo Frágil”, “Brava Gente”, “A Comédia da Vida Privada”, “Os Normais”, e
também peças de teatro ou filmes brasileiros). É formado também por registros
escritos, tanto na forma de trechos de representação da língua falada encontrados
em crônicas e outros textos literários (prosa ou poesia), quanto na forma de
documentos da mídia – internet, publicidade, colunas de jornal e artigos em
revistas de grande circulação no território nacional, o que permite comprovar
como se dá a manifestação dos recursos lingüísticos descritos neste trabalho
também na modalidade escrita do português do Brasil.
Serão apresentados a seguir os vocábulos expressivos extraídos desse
corpus, cujos enunciados integrantes foram recolhidos a partir do início do
segundo semestre de dois mil e três, diariamente, até a última revisão para a
impressão desta Dissertação, em maio de 2006.
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45
2.2.2.
Constituição do corpus e forma de análise
Os vocábulos expressivos que integram o corpus estão aqui catalogados de
acordo com suas similaridades e/ou características comuns.
As onomatopéias, vocábulos expressivos encontrados em maior
quantidade, podem ser classificadas conforme o tipo de som que imitam.
A seguir, serão apresentadas algumas delas reunidas por categoria segundo
esse critério.
Onomatopéias relativas a animais:
ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Au-au O latido do cachorro
Cocó, cocoricó, cocorocó, corococó,
cocococoró
O cacarejar da galinha
Curupaco; curupaco, papaco A “fala”
19
do papagaio
Pocotó O cavalgar do cavalo
Qüem-qüem/qua-quá O grasnar do pato
19
Há pássaros que imitam a voz humana. Daí a possibilidade de atribuir-se a eles o termo fala.
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46
Onomatopéias relativas a vozes humanas:
ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Blábláblá Fala contínua. Pode ter conotação de
cansativa, enfadonha, sem interesse
e/ou repetitiva.
Bu Pequeno som vocal usado para assustar
alguém.
Buá Choro escandaloso.
Guerê-guerê/gueriguéri Fala ou discussão desprovida de valor
ou fundamento; intriga, falatório.
Nhenhenhém
20
Resmungo, falatório interminável.
Onomatopéias relativas a ruídos fisiológicos ou referentes a
deslocamentos físicos como atrito de superfícies, batidas, quedas, estouros,
etc.:
ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Atchim Espirro
Bum Explosão ou batida resultante de uma
queda ou outro movimento
Blim-blom Campainha.
Bibi Buzina.
Chuá O despejar ou o escorrer de água.
20
Segundo Nascentes, do tupi nheeng-nheeng-nheeng (falar-falar-falar). De fato o tupi tem o
verbo nheéng nheéng (porfiar, teimar, razoar, parlar, parolar, dar muitas razões). Para outros,
palavra de origem expressiva, da mesma natureza de blá-blá-blá. (Houaiss, 2002).
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47
Essas são apenas algumas amostras das onomatopéias encontradas no
discurso informal cotidiano do brasileiro no corpus compilado e analisado, dentre
as demais que encontram-se nos anexos deste trabalho. No entanto, inúmeras
outras, registradas, por exemplo, em obras literárias e em histórias em quadrinhos,
bem como a possibilidade de novas criações onomatopaicas na língua. Assim
como aquelas aqui catalogadas, essas outras podem vir a ocupar também seu
espaço no interagir lingüístico do brasileiro.
Além de formadoras de léxico, como em “Ele nem cocoricou”, as
onomatopéias podem ainda ser combinadas e/ou modificadas pelo falante
conforme seu humor, disposição, criatividade e inspiração de momento, de forma
aleatória, para fazerem mais efeito no discurso como em “Fui à escola. Sei que
moda também é cultura, forma de expressão, que acompanha as transformações
sociais, que é um sistema, que é uma linguagem, blábláblá, blebleblé, bliblibli,
bloblobló, blublublu.”
21
Quanto às importadas, há aquelas que mantiveram no português do Brasil
o mesmo significado ou uso de origem, como patati patata (do francês), e as que
dele se afastaram um pouco, como é o caso de bangue-bangue (do inglês). O
barulho do tiro em português é representado por e não bangue, mas,
curiosamente, enquanto no Brasil tem-se bangue-bangue como tiroteio e filmes de
bangue-bangue (de faroeste), nos Estados Unidos não se tem bang-bang movies e
sim western movies.
Vocábulos de origem onomatopaica podem eventualmente vir a funcionar
também como vocábulo expressivo não onomatopaico. Tralalá, por exemplo, no
trecho “Para alguma coisa deve servir a passagem dos anos. Para mim, serviu para
21
Trecho da coluna de Arnaldo Bloch, no 2º caderno do Jornal O Globo, em 15/1/2005, p. 10).
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gostar cada vez mais do essencial e desprezar todo o tralalá, necessário apenas
para os “nouveaux riches” ou os deslumbrados”
22
, referindo-se, no caso, a
supérfluo, perde quase que completamente seu poder onomatopaico ou imitativo.
Enquanto isso, com relação aos vocábulos expressivos não onomatopaicos,
a coleta desse corpus apurou os seguintes, alguns dos quais podem por sua vez
atuar no discurso como onomatopaicos, misturados ou não a onomatopéias, ou
seja, em ambiente onomatopaico ou não.
VOCÁBULO EXPRESSIVO NÃO
ONOMATOPAICO E/OU DE
ORIGEM OBSCURA
SIGNIFICAÇÃO
Auê Tumulto, confusão
Babau Acabou-se, foi-se, era uma vez.
Balacobaco Qualidade ou beleza excepcionais;
festa, farra.
Beleléu Morte, desaparecimento, malogro.
Borocoxô Desanimado, envelhecido, aborrecido
Borogodó Atrativo pessoal irresistível
Chororó Borralhara.
23
Chororô
24
Com cara de choro, que anda chorando
muito, choroso.
22
Danuza Leão, em seu livro “Na sala com Danuza 2” – p. 194.
23
Borralhara é uma ave passeriforme.
24
Chororô é um vocábulo expressivo que não se encontra dicionarizado.
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49
VOCÁBULO EXPRESSIVO NÃO
ONOMATOPAICO E/OU DE
ORIGEM OBSCURA
SIGNIFICAÇÃO
Cuti-cuti
25
Palavra que acompanha um gesto
carinhoso que se faz ao brincar com um
bebê.
Estabacada
26
Queda, caída, esbarrão.
Fiofó Ânus.
Lengalenga Conversa, narrativa ou peça de oratória
enfadonha e monótona; ladainha,
cantilena.
Lero-lero
27
Conversa vazia, inútil, vã; conversa
mole.
Lesco-lesco Trabalho pesado e diário; a dura faina
de todos os dias.
Lusco-fusco Crepúsculo, meia claridade.
Misere
28
Miséria, penúria.
Nananina
29
Não enfático.
Oba-oba Euforia, festa, comemoração.
Parangolé Conversa fiada, lábia, troço.
25
Cuti-cuti é um vocábulo expressivo que não se encontra dicionarizado.
26
O vocábulo expressivo estabacada vem do verbo estabacar-se, mas não se encontra
dicionarizado.
27
Pode funcionar como onomatopéia.
28
Miserê é registrado no Aurélio como gíria.
29
Nananina é um vocábulo expressivo que não se encontra dicionarizado.
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50
VOCÁBULO EXPRESSIVO NÃO
ONOMATOPAICO E/OU DE
ORIGEM OBSCURA
SIGNIFICAÇÃO
Peteleco Pequeno tapa
Pirlim-pim-pim
30
Palavras mágicas geralmente relativas a
magia.
Popô Nádegas.
Piriri Diarréia.
Quiproqüó Equívoco, engano, confusão causada
por esse engano.
Rififi Conflito, confusão que envolve várias
pessoas.
Sururu Rebelião, revolta.
Tchutchuca
31
Mulher bem dotada, extremamente bem
feita de corpo
Tiririca Do tupi, brasileirismo que significa
furioso.
Totó Cãozinho.
Xodó Envolvimento amoroso, namoro,
paixão.
Não obstante os significados apurados nos principais dicionários, como o
“Novo Aurélio Séc. XXI” e o “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”
32
, por
30
Pirlim-pim-pim é um vocábulo expressivo que não se encontra dicionarizado, oriundo da obra
infantil “O Pó de Pirlimpimpim”, de Monteiro Lobato.
31
Tchutchuca é um vocábulo expressivo que não se encontra dicionarizado.
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51
serem palavras extremamente sugestivas, tais vocábulos apresentam
constantemente também outras possibilidades de significação de acordo com os
diferentes momentos e situações em que são usados pelos falantes, de acordo com
suas intenções comunicativas ou conforme as circunstâncias em que os usam.
Enquanto no caso das onomatopéias é possível estabelecer uma relação
razoavelmente clara entre elas e seus referentes, no caso dos vocábulos
expressivos não onomatopaicos, a sugestão engendrada por eles tem caráter muito
vago, indefinido, inviabilizando qualquer tentativa de correspondência com a
parte do mundo real que representam, muitas vezes dificultando assim uma
definição exata.
Entretanto, pode-se considerar onomatopaico tudo aquilo que, mesmo não
tendo caráter imitativo em sua origem, possa funcionar como tal na mente do
falante e seu interlocutor.
32
A despeito de às vezes existirem outras acepções de vários dentre os vocábulos expressivos
dicionarizados expostos nesse quadro, foram selecionadas para completá-lo apenas aquelas
verificadas nos enunciados que compõem o corpus utilizado neste trabalho.
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52
3
Análise e classificação dos dados
Uma vez apresentados os vocábulos expressivos onomatopaicos e não
onomatopaicos a que se refere este trabalho, é chegada a hora de examiná-los e
defini-los de acordo com o papel ou função que desempenham na linguagem
cotidiana do brasileiro.
Para essa análise, foram selecionados alguns dos enunciados de onde
foram extraídos os vocábulos expressivos catalogados no capítulo anterior e que
compõem o corpus deste trabalho.
3.1.
Apresentação de uma proposta descritiva
Conforme seu contexto e a maneira como tais vocábulos encontram-se
empregados nos enunciados, cada um deles poderá ser encaixado em uma
categoria funcional diferente, merecendo assim uma classificação correspondente
própria, segundo a taxonomia e conceitos instrumentais propostos no capítulo
2, item 2.1.6.
Assim, uma vez que se refiram diretamente às coisas do mundo e da vida,
serão denominados referenciais. Neste caso, os que derem nome a tais coisas,
sejam elas concretas ou abstrações, serão classificados como nocionais; os que se
referirem a qualidades ou estados dessas coisas, como qualitativos; os que se
referirem a ações e suas circunstâncias, respectivamente, como acionais e
circunstanciais (cf. esquema na página 31).
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aqueles que não se referirem a nada especificamente e servirem apenas
como elementos estilísticos de expressão, funcionando como adornos ou efeitos
especiais da linguagem, serão chamados estilísticos (cf. esquema na página 31).
Não se verifica aqui, contudo, a possibilidade, ou mesmo a adequação de
se estabelecerem quadros taxonômicos com grandes listagens de vocábulos
expressivos, fixando-os desta forma em determinadas funções e conseqüentes
classificações. Afinal, um mesmo vocábulo expressivo pode ser, por exemplo,
referencial ou estilístico, conforme sua função em cada enunciado proferido. Essa
flutuação pode ser observada nas frases seguintes, onde, respectivamente, a
onomatopéia atchim assume um papel ora referencial, uma vez que se refere
objetivamente a algo o espirro –, ora estilístico, por ter unicamente a função de
dar mais vida ao que se disse, numa tentativa de trazer à presença do interlocutor a
cena narrada.
(10) Foi o atchim mais estranho que já ouvi.
(11) Foi só abrir a porta e, atchim, ele espirrou.
Assim, enquanto em (10) atchim é um vocábulo expressivo onomatopaico
referencial uma vez que se refere diretamente a espirro, no caso, por meio de sua
representação sonora, em (11) atchim é um vocábulo expressivo estilístico que,
pela reprodução do som do espirro, busca dar mais realidade, mais presença ao
fato narrado.
Igualmente, um vocábulo expressivo referencial não tem obrigatoriamente
sempre a mesma função, e conseqüentemente pode receber diferentes
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54
classificações dentre seus subtipos nocionais, qualitativos, acionais e
circunstanciais. Tudo vai depender das funções que exercem nas frases.
Pelo exposto acima, nota-se a impossibilidade de se apresentar um quadro
taxonômico rígido, onde uns vocábulos expressivos seriam sempre classificados
de um mesmo modo enquanto outros o seriam de outro, sem se levar em
consideração a significativa margem de possibilidades de variação funcional
verificadas entre eles.
O que se faz necessário saber sobre eles é, sim, a sua significação original
o que imitam ou sugerem para o falante nativo que os emprega e como e em
que condições se seu uso no discurso. Conhecer um pouco dos mecanismos
metafóricos e associativos ou alusivos presentes no uso dos mesmos no discurso e
o processo de manifestação lingüística que os envolve é o primeiro passo para a
concretização de seu real aprendizado.
Apresento, então, a seguir, uma série de enunciados contextualizados, que
exemplificam como vem se processando o funcionamento de tais recursos
lingüísticos no português do Brasil.
Não obstante esses exemplos estarem didaticamente organizados conforme
o quadro classificatório proposto por este trabalho, será possível notar que um
mesmo vocábulo expressivo pode ser classificado de várias formas ao assumir as
mais diferentes funções, como foi afirmado anteriormente, ainda neste item 3.1,
comprovando-se, assim, que o fundamental é conhecê-los e entender como,
quando e onde são usados.
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55
3.1.1.
Vocábulos expressivos referenciais nocionais
12. “Nada de bilu-bilu em público”.
33
Dicionarizado como vocábulo onomatopaico, em que se repetiria o vozerio
infantil, bilu-bilu (ou bilo-bilo) é uma palavra com que se acompanha o gesto
carinhoso de mover com o indicador o lábio inferior ou o queixo de um bebê ou
uma criança. Contudo, no trecho destacado na frase, quer dizer manifestações
exageradas de carinho e ternura entre namorados.
13. “Não quero ouvir nenhum quiquiqui-quiquiqui; hoje não tem
bababá-bababá.”
34
De origem onomatopaica, quiquiqui recebe nos dicionários a acepção de
gago. Entretanto, no exemplo acima, significa conversa vazia, conversa sem
importância, assim como bababá, ainda sem registro.
14. “Isso era bem feito pro Beiçola: levar um créu do tio Juvenal”.
35
Não dicionarizada, onomatopéia indicadora normalmente de barulho de
algo que cai e se quebra, muito usada nos quadrinhos, créu não tem valor
onomatopaico, no sentido de imitar coisa alguma. É selecionada pelo falante
33
Danuza Leão, em seu livro “Na sala com Danuza 2” – p. 207.
34
Fala do personagem interpretado por José Wilker na novela “Senhora do Destino”, da Rede
Globo, exibida em 2004.
35
Fala do personagem Lineu, interpretado por Marco Nanini, em um dos episódios de “A Grande
Família”, da Rede Globo, exibido em 14/10/2004.
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apenas por sua expressividade, pelo efeito de impacto que provoca no discurso, e
significa tapa, golpe, soco.
15. “O sex-shop A2 abriu uma filial para mulheres, em Ipanema, no
Rio, com uma nova atração: cursos para elas. O aprendizado de nheco-nheco
tem como “disciplinas” sexo oral, strip-tease e posição de Kama Sutra. As aulas
podem ser particulares ou em turmas de até 30 pessoas.”
36
Nheco-nheco, sem registro nos dicionários, significa, no trecho destacado,
coito em sentido amplo. Seu poder onomatopaico original permanece ainda
bastante sugestivo para o falante neste caso, sugerindo-lhe o barulho da cama por
ocasião dos movimentos executados durante o ato sexual.
16. “Nota zero para o chororô em “América”. A coisa está tão grave, que
até Caco Ciocler derramou uma lágrima solitária para...festejar o noivado! Haja
cristal japonês...”
37
Sem registro nos dicionários, chororô quer dizer choro constante. A
reduplicação da última sílaba de choro fez com que se convertesse em uma forma
mais expressiva de dizê-lo.
36
Ancelmo Góis em artigo entitulado “Salienciologia”, em sua coluna no Jornal O Globo, p. 20,
em 29/05/2005.
37
Patrícia Kogut, em sua coluna “Controle Remoto”, no Jornal O Globo, p. 4 em 8/4/2005.
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3.1.2.
Vocábulos expressivos referenciais qualitativos
17.“Antes de namorarem, elas vão se tornar amigas, sair juntas e dar
selinhos, aquele toque vapt-vupt de lábios.”
38
A combinação onomatopaica vapt-vupt, passa a idéia de rapidez de um
acontecimento através da representação do barulho provocado por um
deslocamento do tipo ida-e-volta quase instantâneo de algo, considerando-se o
atrito do ar. Assim, no exemplo acima, vapt-vupt significa rápido, sua acepção
mais comum, ainda que nos dicionários vapt-vupt conste apenas como um tipo de
lençol dotado de elástico que se prende facilmente à cama, tornando mais rápida e
menos penosa a tarefa de arrumá-la.
18. “Mulher teco-teco: aceita um de cada vez. Pula e sacode tanto que
deixa você nauseado, mas é sempre muito emocionante.”
39
Teco-teco, onomatopéia que imita o barulho de hélices girando sem muita
potência, significa, segundo os dicionários, avião pequeno, de um motor de
explosão, de reduzida potência, para trajetos curtos. No entanto, pode significar
também avião velho, o confiável e/ou passível de apresentar problemas. Uma
mulher do tipo teco-teco é uma mulher com características semelhantes às de um
teco-teco.
38
Trecho da Revista da TV do Jornal O Globo, em 22/8/2004, p. 3.
39
Charge da série “Radical Chic – Gatão de Meia –Idade”, de Miguel Paiva, em novembro de
2003.
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19. “João Kleber é finalista do troféu Brasileiro Pocotó do site
www.brasileirospocoto.com.br. O troféu vai para ‘quem mais contribui para o
emburrecimento do Brasil`”.
40
Não registrada nos dicionários, pocotó é uma onomatopéia que imita o
barulho da cavalgada de um cavalo. No entanto, no trecho acima, não faz alusão a
cavalo. O que acontece, neste caso em especial, é que desde o ano dois mil e três,
mais ou menos, uma música chamada “Egüinha Pocotó” fez muito sucesso no
Brasil, sobretudo na região Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo. Tal música
engendrava em suas entrelinhas conteúdo altamente sugestivo de erotismo e
sensualidade de gosto discutível. Desta forma, até hoje, quando se fala em pocotó,
muitas vezes se está referindo à apologia feita a coisas eróticas em excesso e/ou a
coisas de péssimo gosto nesse sentido ou a baixo nível de instrução e educação,
característicos de quem se sente atraído por manifestações culturais desta sorte.
Assim, no exemplo em questão, pocotó assume a significação de “baixaria”.
20. “São Paulo é erva, Rio é nhenhenhém”.
41
Palavra onomatopaica registrada nos dicionários como relativa a falatório
interminável, nhenhenhém significa aí de bater papo”, de conversar, de se
distrair. Na frase, enquanto São Paulo é tida como uma cidade forte, onde se
trabalha, se executa, onde as coisas acontecem, no Rio as pessoas parecem menos
rígidas, gostam de uma conversa, não levam as coisas tão a sério.
40
Patrícia Kogut, em “Controle Remoto”, no 2º caderno do Jornal O Globo, em 14/7/2004, p. 8.
41
Título de artigo de Joaquim Ferreira dos Santos em sua coluna “Gente Boa”, no 2º caderno do
Jornal O Globo, em 15/10/2004, p. 3.
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59
21.“Essa comida é muito pa-pum para essa hora da noite.”
Na frase acima, a combinação onomatopaica pa-pum, não dicionarizada,
significa pesada.
3.1.3.
Vocábulos expressivos referenciais acionais
22. “Meu carro nunca tinha dado problema. Foi só eu botar ele na sua mão
e créu.
Créu, não registrado nos dicionários, coincidentemente aí assume de forma
relativa seu valor onomatopaico de imitar algo que se quebra. No exemplo acima,
quer dizer quebrou (ainda que não literalmente), deu defeito.
23. “Marcelo entrou na sala e nem tchum pra mim.”
A onomatopéia tchum, não dicionarizada, perde aí seu valor imitativo, uma
vez que não imita o som daquilo a que se refere neste caso em que o falante a
seleciona para siginificar olhou, prestou atenção.
24. “E ele lá pepepê-pepepê no ouvido dela...”
42
42
Fala do personagem Agostinho, da série “A Grande Família I” (em DVD), da Rede Globo, na 1ª
cena do episódio “A melhor casa da rua”.
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nesta frase, pepepê-pepepê, que não se encontra registrado em
dicionários manteve seu valor onomatopaico ou imitativo e significa falou muito e
de forma constante.
25. “Ele chegou morto de cansado e pa-pum em cima da cama.”
Nesta frase, a combinação onomatopaica não dicionarizada pa-pum
significa se jogou.
26. “As crianças trocaram logo de roupa e tibum na piscina.”
Não dicionarizada, a onomatopéia tibum significa aí caíram, se jogaram.
3.1.4.
Vocábulos expressivos referenciais circunstanciais
27. “Vou terminar meu trabalho vapt-vupt!”
Significando rápido ou rapidamente, ainda que essas acepções não
constem dos dicionários, vapt-vupt imprime, no caso, a circunstância de rapidez à
ação terminar meu trabalho.
28. “Quanto a isso, não tenha dúvidas. É pa-pum!”
Não dicionarizado, pa-pum refere-se à circunstância de uma ação que
vai acontecer, imprimindo à mesma a noção de certeza.
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29. Vou num pé e volto no outro. É zás-trás!”
Dicionarizada, a onomatopéia zás-trás, normalmente usada para reproduzir o
ruído de uma pancada, uma batida rápida ou para representar uma ação rápida e
decidida, reforça a idéia de rapidez na ação de “ir num pé e voltar no outro”, isto
é, ir e voltar em um intervalo mínimo de tempo.
30. “Hoje não tem conversa. Hoje é pimba!”
Dicionarizada, exprimindo geralmente acontecimento imprevisto e/ou que
marca o desfecho de uma ação, pimba imprime a um fato ou acontecimento
subentendido um caráter de certeza, de inevitabilidade: “Hoje não tem conversa.
Hoje é certo que determinado fato vai se dar”.
43
31. “Aqui não tem história não. Escreveu não leu, é créu!”
As frases acima significam respectivamente não adianta embromar ou não
tem perdão ou outra chance e se bobear ou se não estiver prevenido ou se
proteger, certamente vai acontecer o que tem que acontecer. Dessa forma, créu,
não dicionarizado, é utilizado para reforçar a certeza, a inevitabilidade da ação:
“Aqui não tem história não. Escreveu, não leu, determinado acontecimento se
sucederá com certeza”. A despeito de certeza não corresponder exatamente a uma
43
Considerando que todo fato ou acontecimento implica uma ação e que toda ação se em
determinada circunstância, pimba neste caso é considerado como tendo a função de informar algo
sobre uma situação ou acontecimento previsível e aparece como vocábulo expressivo referencial
circunstancial por imprimir circunstância enquanto fato acessório ou outro pormenor que se prende
a um acontecimento ou a uma situação (HOUAISS, 2001), no caso a particularidade de
inevitabilidade desse mesmo fato ou situação.
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circunstância, créu pode ser considerado um vocábulo expressivo referencial
circunstancial por informar algo sobre uma situação ou um acontecimento
previsível imprimindo-lhe circunstância enquanto fato acessório ou outro
pormenor que se prende a um acontecimento ou a uma situação (HOUAISS,
2001), no caso a particularidade de inevitabilidade desse mesmo fato ou situação.
3.1.5.
Vocábulos expressivos estilísticos
32. “Os saquês entraram em ação, a galera se animou e, pimba!, lá
estávamos nós falando besteira.”
44
Nessa frase, o vocábulo expressivo pimba, de origem onomatopaica e que
costuma expressar acontecimento inesperado e/ou desfecho de uma ação
(Houaiss, 2001), não possui nenhuma significação em si mesmo, ou seja, não se
refere a nada, não contém nenhuma informação objetiva. Sintaticamente
supérfluo, podendo ser retirado da frase sem comprometimento da mensagem
por ela veiculada, é usado apenas estilisticamente, para enfatizar a ação por ele
expressada, tornando-o então mais expressivo.
33. “A foto publicada aqui ontem de uma banca que entrega o jornal ao
motorista que buzina parado no sinal (uma buzinada para “O Globo”, duas para o
“Extra” e três para “O Dia”) entupiu a caixa postal da coluna. Alguns aplaudiram.
44
Reportagem “Promessas e surpresas”, da série “Pé-limpo”, de Jefferson Lessa, no caderno Rio
Show do Jornal O Globo, em 16/7/2004.
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Mas a maioria bibi, fonfom! chiou, dizendo que, se a moda pega, a poluição
sonora na cidade será insuportável. Tem razão.”
45
O papel das onomatopéias dicionarizadas bibi e fonfom nesse trecho é
também estilístico no sentido de dar mais vida ao enunciado, adornando-o com o
som das buzinadas a que se refere, e, ao mesmo tempo, imprimindo-lhe um
caráter, no caso, bem-humorado e jocoso, como que comparando as vozes das
pessoas que “chiavam” a buzinadas.
34. “Fui à escola. Sei que moda também é cultura, forma de expressão, que
acompanha as transformações sociais, que é um sistema, que é uma linguagem,
blábláblá, blebleblé, bliblibli, bloblobló, blublublu.”
46
Sem prejuízo sintático, a seqüência de onomatopéias imitativas de vozes
humanas blábláblá, blebleblé, bliblibli, bloblobló, blublublu, apenas blábláblá
encontrando-se dicionarizada, poderia ser perfeitamente dispensada ou substituída
por etc. etc. etc. no trecho acima. No entanto, sua escolha pelo enunciador garante
ao enunciado maior expressividade ao evocar, com criatividade e de modo
distenso, além do que conteria um simples etc, a sensação de falatório
interminável e cansativo, sem dúvida dando mais vida ao discurso.
35. “Ontem, por volta de 0h30m, no estacionamento do Rio Sul, o carona
do Honda Fit preto LDB 9646, que saía de um show de Djavan, desceu, pôs o
microfone pra fora e – chuáááá – fez o maior xixi numa pilastra.”
47
45
Ancelmo Góis, em “Ponto Final”, em sua coluna no Jornal O Globo, em 17/4/2004, p.17.
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Sintaticamente dispensável, a onomatopéia chuáááá, dicionarizada com a
acepção de enchente, não tem tal significação, servindo apenas para imprimir
graça ao enunciado, remetendo-se ao barulho do xixi narrado no trecho em
questão, que se torna bem mais vivo e expressivo com sua presença.
36. “Um pobre papagaio grita sem parar desde o raiar do dia num poleiro
pendurado do lado de fora da janela do andar do prédio 78 da Rua Maria
Quitéria, esquina com Redentor, em Ipanema. A vizinhança, apiedada do bicho,
fez queixa ao Ibama e ao síndico. Mas, até agora, curupaco-papaco, nada.”
48
Curupaco-papaco, onomatopéia não dicionarizada que imita a voz do
papagaio, confere ao enunciado um toque de humor e talvez uma pitada de ironia.
Elemento com função estilística, é dispensável no que tange à sintaxe da frase em
que aparece.
3.2.
Conclusão parcial da análise de dados
Durante o processo de catalogação e análise de dados que levou à proposta
classificatória dos vocábulos expressivos apresentada no item 3.1, algumas
evidências puderam ser observadas, como se pode confirmar por meio das
amostras disponíveis nos anexos deste trabalho e pelo quadro sinóptico
apresentado ao final deste item 3.2.
Dentre os vocábulos expressivos onomatopaicos, por exemplo, percebeu-
se que sua variedade de ocorrência como referenciais nocionais e acionais é
46
Trecho da coluna de Arnaldo Bloch, no 2º caderno do Jornal O Globo, em 15/1/2005, p. 10).
47
Ancelmo Góis em sua coluna no Jornal O Globo, em 28/4/2005, p. 20.
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bastante mais significativa nas diversas situações interacionais se comparada à dos
qualitativos e, principalmente, dos circunstanciais, que contam com uma
amostragem bem mais modesta neste sentido, ou seja, bem menos variada.
No entanto, a evidência mais importante observada durante a análise de
dados neste trabalho foi, sem dúvida, o fato de que tanto os vocábulos expressivos
referenciais em geral quanto os vocábulos expressivos estilísticos, estes últimos
também com importante diversidade de manifestação, oferecem uma grande e
imprevisível margem de variação possível, uma vez que, como foi visto aqui, um
mesmo vocábulo expressivo pode simplesmente ocupar qualquer uma das
posições funcionais descritas aqui, de acordo com uma escolha momentânea do
falante. Assim, nas frases que se seguem, a combinação onomatopaica pa-pum é
um vocábulo expressivo referencial nocional em (37), por dar nome a determinada
noção, um vocábulo expressivo referencial qualitativo em (38), por qualificar
algo, um vocábulo expressivo referencial circunstancial em (39), por imprimir
uma circunstância ou um caráter circunstancial a uma ação ou situação acional,
um vocábulo expressivo referencial acional em (40), por representar uma ação, e
finalmente um vocábulo expressivo estilístico em (41), por não ter caráter
referencial e sim estilístico (cf. item 2.1.6).
(37) “Esse pa-pum constante é motivo de orgulho para ele.”
(38) “Essa comida tá pa-pum.”
(39) “É pa-pum! Não tenha dúvida.”
(40) “Ele pegou e pa-pum nela”.
(41) “De repente, pa-pum, o estoque de parafusos acabou”.
48
Ancelmo Góis em sua coluna no Jornal o Globo em 10/11/2003.
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Juntamente com a evidência constatada acima, foi apurado também que,
quando referenciais, os vocábulos expressivos podem apresentar inúmeras
significações, só sendo possível resgatá-las com o auxílio do contexto em que são
usados. Assim, por exemplo, em (37) pa-pum pode se referir a várias e diferentes
coisas, dentre as quais, por exemplo, sucesso nas conquistas, sendo possível
identificar sua real significação por meio da informação contextual fornecida pela
interação em seu contexto. O mesmo pode então ocorrer em (38), onde
normalmente pa-pum foi apurado com o significado de pesada, mas que bem
poderia significar grudenta, saborosa ou se referir a outra qualidade qualquer. Em
(40), a possibilidade de variação semântica de pa-pum seria também bastante
interessante: bateu, caiu, se jogou com ou sem intenções sexuais, etc. em (39),
seria mais difícil haver muito mais do que uma ou duas possibilidades de
significação, uma vez que, dentre todos os outros tipos de vocábulos expressivos,
os referenciais circunstanciais foram os que demonstraram menor produtividade
em questão de variação de sentido.
Finalmente, observou-se também que, por vezes, o limite entre os
vocábulos expressivos referenciais acionais e os vocábulos expressivos estilísticos
ou entre os vocábulos expressivos referenciais qualitativos e os vocábulos
expressivos referenciais circunstanciais pode parecer tênue. No entanto,
sempre, ainda que sutil, uma diferença funcional que os separa em grupos
diferentes.
No primeiro caso, essa diferença é determinada pelo papel exercido pelos
vocábulos expressivos – uns são referenciais e outros são estilísticos, isto é, uns se
referem objetivamente a alguma coisa, sendo sintaticamente imprescindíveis,
enquanto outros se constituem como elementos de força estilística, sendo, por sua
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vez, dispensáveis à sua sintaxe. Desta forma, em “e ele pepepê pepepê no
ouvido dela”
49
, pepepê pepepê se refere diretamente a uma ação, no caso a de
falar muito e insistentemente com o intuito de seduzir e ou convencer a dona do
ouvido de alguma coisa, enquanto em “Ele disse que não podia ser assim pepepê
pepepê...”, a mesma seqüência onomatopaica tem finalidade meramente estilística.
Enquanto na primeira frase, pepepê pepepê não pode ser suprimido sob pena de
prejudicar o entendimento do enunciado, na segunda, pode.
Quanto ao segundo caso, é preciso atenção para que não se confundam
vocábulos referenciais qualitativos com circunstanciais quando estes aparecerem
logo após o verbo de ligação ser, cuja característica mais comum na estrutura do
português é a de qualificar alguém ou alguma coisa. Para que não haja problemas
de distinção entre essas duas categorias de vocábulos expressivos, basta que se
confira sua função nos enunciados. Assim, em “Essa comida é pa-pum”, pa-pum
qualifica comida, no caso, querendo dizer que esta é pesada, enquanto em “Hoje é
pa-pum”, pa-pum não qualifica nada, mas confere um caráter informativo-
circunstancial
50
, o de certeza, de inevitabilidade e mesmo iminência a uma ação
ou situação acional previsível subentendida.
O quadro sinóptico apresentado a seguir baseia-se nas diferentes
ocorrências dos vocábulos expressivos catalogados por este trabalho e permite
visualizar as variações funcionais a que estes estão sujeitos, ilustrando o fato de
que cada um deles pode receber diferentes classificações conforme o papel que
desempenha nos enunciados. Nele encontram-se enumerados, em ordem
49
Fala do personagem Agostinho, da série “A Grande Família I” (em DVD), da Rede Globo, na 1ª
cena do episódio “A melhor casa da rua”.
50
Circunstancial aí se reporta à sua acepção de fato acessório ou outro pormenor que se prende a
um acontecimento ou a uma situação, particularidade (HOUAISS, 2001).
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alfabética, em primeiro lugar as onomatopéias, e, em seguida os vocábulos
expressivos não-onomatopaicos.
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VOCÁBULOS EXPRESSIVOS REFERENCIAIS VOCÁBULOS
EXPRESSIVOS
ESTILÍSTICOS
NOCIONAIS QUALITATIVOS ACIONAIS CIRCUNSTANCIAIS
ATCHIM
BABABÁ
BANGUE-BANGUE
BIBI
BLÁ
BLABLABLÁ
BLIM-BLOM
BLU(H)
BOOM/BUM
BU
BUÁ
CABUM
CHOMP-CHOMP
CHUÁ
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70
VOCÁBULOS EXPRESSIVOS REFERENCIAIS VOCÁBULOS
EXPRESSIVOS
ESTILÍSTICOS
NOCIONAIS QUALITATIVOS ACIONAIS CIRCUNSTANCIAIS
CLICK
COF-COF
CÓS-CÓS
CREC
CRÉU
DINDIN
DUM/
DUM-DUM-DUM
FIU-FIU
FLAP
FLASH
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71
VOCÁBULOS EXPRESSIVOS REFERENCIAIS VOCÁBULOS
EXPRESSIVOS
ESTILÍSTICOS
NOCIONAIS QUALITATIVOS ACIONAIS CIRCUNSTANCIAIS
FON-FON
GLUB/GLUB-GLUB
GUERÊ-GUERÊ/
GUERIGUÉRI
HIC
LALALÁ
NHAC/
NHAQUE-NHAQUE
NHEC/
NHECO-NHECO
NHENHENHÉM
PAF
PAPAPÁ
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VOCÁBULOS EXPRESSIVOS REFERENCIAIS VOCÁBULOS
EXPRESSIVOS
ESTILÍSTICOS
NOCIONAIS QUALITATIVOS ACIONAIS CIRCUNSTANCIAIS
PA-PUM
PARARÁ
PATATI PATATÁ
PI/PI-PI-PI-PI
PIMBA/PUMBA
PINGUE-PONGUE
PIUÍ
PLÁ
PLAF
PLIFT/PLOFT
PRIIIII
PUM
QUIQUIQUI/
QUEQUEQUÉ
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73
VOCÁBULOS EXPRESSIVOS REFERENCIAIS VOCÁBULOS
EXPRESSIVOS
ESTILÍSTICOS
NOCIONAIS QUALITATIVOS ACIONAIS CIRCUNSTANCIAIS
RASC-RASC
RATATÁ
RATIMBUM
SNIF
SONS DE ANIMAIS
TCHAN
TCHUM
TECO
TELECOTECO
TERETETÉ(Ê)
TIBUM/TCHIBUM
TILT
TINTIM
TIQUE-TAQUE
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VOCÁBULOS EXPRESSIVOS REFERENCIAIS VOCÁBULOS
EXPRESSIVOS
ESTILÍSTICOS
NOCIONAIS QUALITATIVOS ACIONAIS CIRCUNSTANCIAIS
TITITI
TLEC-TLEC
TOC-TOC-TOC
TOIN-OIN-OIN
TRALALÁ/TROLOLÓ
TRIM
TUM/TUM-TUM-TUM
VAPT/VUPT
VAPT-VUPT
VRUM/VRUM-VRUM
ZZZ
ZAP
ZAPT/ZUPT
ZÁS(Z)-TRÁS(Z)
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VOCÁBULOS EXPRESSIVOS REFERENCIAIS VOCÁBULOS
EXPRESSIVOS
ESTILÍSTICOS
NOCIONAIS QUALITATIVOS ACIONAIS CIRCUNSTANCIAIS
ZIGUE-ZAGUE
ZIRIGUIDUM
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76
VOCÁBULOS EXPRESSIVOS REFERENCIAIS VOCÁBULOS
EXPRESSIVOS
ESTILÍSTICOS
NOCIONAIS QUALITATIVOS ACIONAIS CIRCUNSTANCIAIS
AUÊ
BABAU
BAFAFÁ
BALACOBACO
BAMBAMBÃ
BELELÉU
BILU-BILU
BOROCOXÕ
BOROGODÓ
CHORORÔ/CHORORÓ
CUTI-CUTI
ESTABACADA
FIOFÓ
LENGALENGA
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VOCÁBULOS EXPRESSIVOS REFERENCIAIS VOCÁBULOS
EXPRESSIVOS
ESTILÍSTICOS
NOCIONAIS QUALITATIVOS ACIONAIS CIRCUNSTANCIAIS
LERO-LERO
LESCO-LESCO
LUSCO-FUSCO
MISERÊ
NANANINA
OBA-OBA
PARANGOLÉ
PETELECO
PIRLIM-PIM-PIM
POPÔ
PIRIRI
QUIPROQÜÓ
RAMERRAME
RIFIFI
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78
VOCÁBULOS EXPRESSIVOS REFERENCIAIS VOCÁBULOS
EXPRESSIVOS
ESTILÍSTICOS
NOCIONAIS QUALITATIVOS ACIONAIS CIRCUNSTANCIAIS
SURURU
TECO-TECO
TCHUTCHUCA
TIRIRICA
TOTÓ
TROLOLÓ
XODÓ
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79
4
Conclusão
As onomatopéias e os outros vocábulos expressivos de que trata este trabalho
costumam guardar uma relação de dependência muito grande entre sua significação e o
contexto em que são usados, uma vez que aquela varia de acordo com este último.
Logo, verifica-se sua predominância de uso mormente nas interações lingüísticas entre
interlocutores pertencentes a culturas de Alto Contexto, como no caso do Brasil, do que
entre aqueles oriundos de culturas de Baixo Contexto, o que pode ser explicado pela
maior habilidade que as primeiras possuem em lidar com o contexto em um nível mais
elevado de abstração.
Tais recursos, contudo, não são universais nem por entre os povos considerados
de Alto Contexto, onde são mais freqüentes, e precisam, portanto, ser conhecidos pelos
que pretendem melhorar sua competência lingüística e comunicativa em suas interações
com outros povos.
Embora para o aprendiz de uma língua estrangeira seja quase impossível
identificar em outra língua que não a sua se determinado vocábulo é mais especialmente
expressivo do que outro, é preciso ensiná-lo a ler a expressividade contida no discurso
dos outros povos, bem como a nela encontrar informações sobre o estado de espírito dos
mesmos e a lhe reconhecer o grau de informalidade nas diferentes situações de
interação.
Desta forma, os profissionais que lidam com o ensino/aprendizagem de línguas
devem sempre ter o cuidado de pesquisar, estudar, descrever e disponibilizar para os
aprendizes de línguas estrangeiras aqueles vocábulos expressivos especiais de cada uma
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delas que possam estar passando despercebidos mesmo por seus falantes nativos.
Devem fazer isso sem se esquecer de associar tais manifestações lingüísticas à cultura
subjetiva, aos valores e padrões de comportamento da comunidade lingüística falante de
cada língua, aproveitando para explicá-los e fazê-los respeitar, promovendo então um
diálogo saudável entre as diferenças.
Assim, além de melhorarem sua competência lingüística, conhecendo outros
valores que não os seus, os povos podem repensar e atualizar sua maneira de ver o
mundo e lidar com as coisas da vida, o que certamente constituirá uma experiência
muito enriquecedora. Essa troca frutífera entre culturas é sem dúvida muito importante
para a humanidade uma vez que quanto mais os povos se compreenderem, se aceitarem
e se respeitarem, menos conflito e mais entendimento terão entre si.
Ainda que consideravelmente freqüentes no discurso cotidiano do brasileiro, os
vocábulos expressivos estudados aqui têm sido muitas vezes relegados pela gramática
normativa a um segundo plano, o que tem privado muitos aprendizes de PL2-E de uma
parte bastante importante do uso do vocabulário do português do Brasil, fonte
riquíssima reveladora de aspectos da identidade cultural de seus falantes nativos.
Por mais que tais vocábulos se mantenham em pleno uso na língua bastante
tempo, o acesso à maioria deles por um aprendiz de português pode ser difícil, uma vez
que não estão todos registrados nos dicionários, e, mesmo quando aparecem
catalogados, muitas vezes carecem de explicação ou de um comentário pormenorizado
que possa auxiliar os que com eles não têm intimidade. Além disso, por vezes a acepção
veiculada por essas obras para um vocábulo expressivo não atende a determinados
contextos de uso, podendo deixar o aprendiz que as consulta ainda mais confuso.
Neste sentido, este trabalho descreveu os vocábulos expressivos usados pelos
brasileiros no eixo Rio – São Paulo, em especial pelos cariocas, que além de tornar mais
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atraente e interessante sua conversação, permitem-lhe, em seu discurso coloquial
cotidiano, cativar seu interlocutor, manifestar melhor seu estado de espírito, dando
vazão a toda sua criatividade e exuberância comunicativa. Com isso, buscou franquear,
em especial, aos aprendizes de português do Brasil como língua estrangeira o acesso a
mais essa manifestação lingüístico-cultural brasileira.
Este trabalho visa então despertar o grau de atenção dado a esse tipo de
manifestação lingüística, os vocábulos expressivos, proporcionando-lhes, portanto, um
reconhecimento ainda não conferido, e evitando-se que sejam esquecidos,
principalmente por quem trabalha com ensino/aprendizagem de língua estrangeira.
No caso do Brasil, é interessante que se façam, ainda, pesquisas regionais para
catalogar também os vocábulos expressivos de outras localidades não contempladas por
este trabalho.
A presente Dissertação não é um trabalho conclusivo, mas um estímulo a novas
incursões no terreno dos estudos da linguagem referentes ao português do Brasil como
língua estrangeira visando aprofundar os estudos em torno desse tipo de vocabulário
expressivo, tornando maior o alcance à língua e à cultura do Brasil.
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87
6
Anexos
Onomatopéias relativas a animais:
ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Au-au O latido do cachorro.
Arara O som emitido pela arara.
Bzz O zumbido ou zunido da abelha
ou de inseto que zuna.
Cocó, cocoricó, cocorocó, corococó, cocococoró O cacarejar da galinha.
Curupaco; curupaco, papaco A “fala”
51
do papagaio.
Glu-glu-glu O grulhar / grugulejar do peru.
Iôon O som emitido pelo asno.
Miau O miado do gato.
Muu O mugido da vaca.
Oinc-oinc O grunhir / roncar do porco.
Piu-piu O piar do passarinho.
Pocotó O cavalgar do cavalo.
Qüem-qüem/qua-quá O grasnar do pato.
Zuiin-zuiin O zunido do mosquito.
Zum-zum O zumbido da abelha.
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Onomatopéias relativas a vozes humanas:
ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Bababá Fala contínua. Pode ter conotação de
cansativa, enfadonha, sem interesse, e/ou
repetitiva.
Bafafá Tumulto, confusão.
Bilu-bilu Palavra com que se acompanha o gesto
carinhoso de mover com o indicador o lábio
inferior ou o queixo de um bebê ou uma
criança.
Blá Pedaço de fala.
Blábláblá Fala contínua. Pode ter conotação de
cansativa, enfadonha, sem interesse e/ou
repetitiva.
Bu Pequeno som vocal usado para assustar
alguém.
Buá Choro escandaloso.
Fiu-fiu Assobio.
Guerê-guerê/gueriguéri Fala ou discussão desprovida de valor ou
fundamento; intriga, falatório.
51
Há pássaros que imitam a voz humana. Daí a possibilidade de atribuir-se a eles o termo fala.
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ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Lalalá Fala contínua. Pode ter conotação de
cansativa, enfadonha, sem interesse e/ou
repetitiva.
Nhenhenhém
52
Resmungo,rezinga.
Falatório interminável.
Papapá, pepepé(ê), pipipi, popopó(ô) Fala contínua. Pode ter conotação de
cansativa, enfadonha, sem interesse e/ou
repetitiva.
Parará, pereré(ê), piriri Fala contínua. Pode ter conotação de
cansativa, enfadonha, sem interesse e/ou
repetitiva.
Patati, patatá Fala contínua. Pode ter conotação de
cansativa, enfadonha, sem interesse e/ou
repetitiva.
Quiquiqui, quequequé Fala contínua. Pode ter conotação de
cansativa, enfadonha, sem interesse e/ou
repetitiva.
Qua-qua-quá Gargalhada.
Tatatá, teteté(ê), tititi
53
(fofoca também)
Fala contínua. Pode ter conotação de
cansativa, enfadonha, sem interesse e/ou
repetitiva.
52
Segundo Nascentes, do tupi nheeng-nheeng-nheeng (falar-falar-falar). De fato o tupi tem o verbo
nheéng nheéng (porfiar, teimar, razoar, parlar, parolar, dar muitas razões). Para outros, palavra de origem
expressiva, da mesma natureza de blá-blá-blá. (Houaiss, 2001).
53
Tititi também pode ter a acepção de fofoca.
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ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Tereteté(ê)
54
Fala contínua. Pode ter conotação de
cansativa, enfadonha, sem interesse e/ou
repetitiva.
Tralalá, trelelé(ê), trilili, torololó Fala contínua. Pode ter conotação de
cansativa, enfadonha, sem interesse e/ou
repetitiva.
Trololó Conversa vazia.
Onomatopéias relativas a ruídos fisiológicos ou referentes a deslocamentos
físicos como atrito de superfícies, batidas, quedas, estouros, etc.:
ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Atchim Espirro.
Blu(h) Queda relativamente suave.
Boom Explosão.
Bum Explosão ou batida resultante de uma queda
ou outro movimento
Blim-blom Campainha.
Bibi Buzina.
Bangue-bangue Tiros
55
.
Cabum Trovão.
54
Teretetê também pode significar o mesmo que borogodó.
55
De bang ou bang bang , no inglês. Em português o som relativo a tiro seria .
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ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Chomp-chomp Mastigação.
Chuá O despejar ou o escorrer de água.
Click Pequeno estampido ou ruído de botões de
engenhocas como máquinas fotográficas e
mouses de computadores.
Cof-cof(-cof) Tosse.
Cós-cós O roçar de unhas na pele.
Crec Quebra razoavelmente discreta.
Créu Golpe podendo envolver quebra ou alguma
espécie de destruição
Dindin O tilintar de moedas.
Dum, dum-dum-dum Batida surda.
Flap Batida levemente moldada por deslocamento
de ar, que ora a enfraquece ora a afia, como
no caso do chicote.
Flash Disparar da máquina fotográfica.
Fon-fon Buzina.
Glub, glub-glub Água entrando em um compartimento cheio
de ar.
Hic Soluço.
Nhac, nhaque-nhaque Mordida e mastigação normalmente de boca
aberta.
Nhec, nheco-nheco Ranger proveniente de atrito entre
superfícies.
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ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Batida com som aberto ou tiro.
Paf Batidas ou quedas estaladas.
Pimba, pumba Pequenas batidas ou quedas.
Plift, ploft O gotejar.
Pingue-pongue Batimento alternado de bola no tênis de
mesa.
Pi, pi pi pi pi Detector de metais.
Priiiiiii Apito.
Piuí Apito de locomotiva.
Plá Batida.
Plaf, plof, Batidas levemente atenuadas.
Pum Explosão ou queda.
Ramerrame Repetição monótona, enfadonha.
Rasc-rasc Coceira de pele ou roçar de papéis.
Ratimbum Queda reverberada.
Ratatatá O disparar da metralhadora.
Snif O fungar.
Taco, teco Batidas suaves.
Teco-teco Pequeno avião, de construção leve e um
motor de explosão, próprio para treinamento
ou para trajetos curtos.
Tchan Batida razoavelmente violenta, de impacto.
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ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Tchum Batida razoavelmente violenta, de impacto.
Telecoteco Batucada.
Tibum/Tchibum Queda de sólido na água.
Tilt Pequeno estampido.
Tlec-tlec O cortar da tesoura.
Tintim O tilintar de copos ou o bater de vidros.
Tic-tac/tique taque O batimento regular e cadenciado do
relógio, do coração, etc.
Toc-toc-toc O bater na porta ou na madeira.
Toin-oin-oin O bater e quicar
Trim O tocar do telefone ou de campainha.
Tum, tum-tum-tum Batida, batida de coração.
Vapt, Vupt Deslocamento rápido de alguma superfície
no ar.
Vapt-vupt Deslocamento rápido de alguma superfície
no ar, num movimento de ida e volta.
Vrum, vrum-vrum Barulho de motor acelerando.
Zzz O Ressonar.
Zap Deslocamento rápido de alguma superfície
no ar.
Zapt, zupt Deslocamento rápido de alguma superfície
no ar.
Zás(z)-trás(z) Deslocamento rápido de alguma superfície
no ar, num movimento de ida e volta.
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ONOMATOPÉIA SOM IMITADO
Zigue-zague Deslocamento rápido de alguma superfície
no ar, num movimento de ida e volta
específico, como faz a agulha da máquina de
costura.
Ziriguidum Batucada, batuque.
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95
Vocábulos expressivos referenciais
Vocábulos expressivos referenciais nocionais
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
1
“Para alguma coisa deve servir a passagem dos anos. Para mim,
serviu para gostar cada vez mais do essencial e desprezar todo o
tralalá, necessário apenas para os “nouveaux riches” ou os
deslumbrados”.
56
De origem obscura, segundo Houaiss (2002), tralalá, que nos
dicionários encontra para si uma única acepção nádegas - significa,
no trecho ao lado, supérfluo. Em outros contextos, vale lembrar, pode
ter caráter onomatopaico e se referir a vozerio, a conversa vazia.
2
“Pode deixar, amanhã vou dar um plá/blá pra ele.” Nos dicionários, em que não o registro da variante blá, a palavra
expressiva plá significa dica, conversa, papo. Entretanto pode
assumir, como no caso da frase ao lado, uma especificação semântica
de conversa ou papo com finalidade de dar atenção a alguém com
quem não se fala há um bom tempo ou a quem se quer manter
contato e agradar.
56
Danuza Leão, em seu livro “Na sala com Danuza 2” – p. 194.
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96
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
3
“Deu um tilt no computador, no rádio, na máquina de lavar,
etc.”
Sem registro nos dicionários e de origem obscura, mas aparentemente
onomatopaica, tilt significa, em frases como essa, problema ou
defeito.
4
“Tive um tilt e de repente danei a escrever.”
Nesta frase, tilt significa insight, idéia, inspiração.
5
“Deixe de trololó e faça seu trabalho.”
Onomatopaico, nos dicionários normalmente relativo a conversa
vazia (papo furado) ou música ligeira e fácil de entoar, trololó, no
exemplo ao lado, se refere à primeira acepção.
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97
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
6
“Nada de bilu-bilu em público”.
57
Tido como vocábulo onomatopaico, em que se repetiria o vozerio
infantil, bilu-bilu (ou bilo-bilo) é uma palavra com que se acompanha
o gesto carinhoso de mover com o indicador o lábio inferior ou o
queixo de um bebê ou uma criança. Contudo, no trecho destacado ao
lado, quer dizer manifestações exageradas de carinho entre
namorados.
7
“Isso aí poderia se chamar, sei lá, plift-ploft”.
58
Combinação de onomatopéias, plift-ploft é apenas uma denominação
que qualquer coisa poderia ganhar, numa ilustração da arbitrariedade
dos signos. Poderia ser substituída por qualquer outro termo,
recurso lingüístico ou seqüência aleatória como XPTO, XYZ etc.
57
Danuza Leão, em seu livro “Na sala com Danuza 2” – p. 207.
58
Mariza Bueno, professora da Faculdade de Letras da PUC-Rio em uma das aulas ministradas por ela para a Pós-Graduação, na disciplina “Evolução do Pensamento
Lingüístico”, em 2004/2.
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98
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
8
“Não quero ouvir nenhum quiquiqui-quiquiqui; hoje não tem
bababa-bababá.”
59
De origem onomatopaica, quiquiqui, recebe nos dicionários a acepção
de gago. Entretanto, no exemplo ao lado, significa conversa fiada,
papo furado, lero-lero, assim como bababá, ainda sem registro.
9
“Isso era bem feito pro Beiçola: levar um créu do tio
Juvenal”.
60
Onomatopéia indicadora normalmente de barulho de algo que cai e se
quebra, muito usada nos quadrinhos, créu não tem valor
onomatopaico, no sentido de imitar coisa alguma. É selecionada pelo
falante apenas por sua expressividade, pelo efeito de impacto que
provoca no discurso, e significa tapa, golpe, soco.
10
“Esse cachorro é cheio de nhenhenhém.” Palavra onomatopaica normalmente relativa a falatório interminável,
nhenhenhém significa aí restrições, imposições, exigências.
59
Fala do personagem interpretado por José Wilker na novela “Senhora do Destino”, da Rede Globo, exibida em 2004.
60
Fala do personagem Lineu, interpretado por Marco Nanini, em um dos episódios de “A Grande Família”, da Rede Globo, exibido em 14/10/2004.
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99
11
Nhenhenhém.”
61
Já no caso deste título da coluna de Jorge Bastos Moreno, no Jornal O
Globo, nhenhenhém assume seu significado onomatopaico original,
referindo-se a falatório, no caso, ao que se fala nos corredores
políticos em Brasília. Tal coluna dedica-se a informar o que se fala e
se faz por lá que possa repercutir no resto do país e consequentemente
na vida dos brasileiros.
12
“Vou dar um teco nele.”
De origem onomatopaica, o vocábulo expressivo teco significa, no
exemplo acima, peteleco, tapa, golpe, soco.
13
“O sex-shop A2 abriu uma filial para mulheres, em Ipanema,
no Rio, com uma nova atração: cursos para elas. O
aprendizado de nheco-nheco tem como “disciplinas” sexo oral,
strip-tease e posição de Kama Sutra. As aulas podem ser
particulares ou em turmas de até 30 pessoas.”
62
Nheco-nheco, sem registro nos dicionários, significa, no trecho
destacado, coito em sentido amplo. Seu poder onomatopaico original
permanece ainda bastante sugestivo para o falante neste caso,
sugerindo-lhe o barulho da cama por ocasião de movimento
executado durante o ato sexual.
61
Título da coluna de Jorge Bastos Moreno na seção “O País” do Jornal O Globo.
62
Ancelmo Góis em artigo entitulado “Salienciologia”, em sua coluna no Jornal O Globo, p. 20, em 29/05/2005.
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100
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
14
“Venha dar um tibum nesse mar de descontos!”
63
A onomatopéia tibum normalmente reproduz o ruído produzido pela
queda de um corpo na água. No caso, por figura de linguagem, a
mesma sugere um mergulho num mar de descontos.
15
“O lançamento do Kid Abelha não fica na música. A
Universal lançou também os voicetones, gravações da voz de
Paula Toller que também podem ser usadas como toque de
celular. Assim, em vez do trim trimbásico, as chamadas são
anunciadas com um “alô, aqui é Paula Toller. Atende aí”.
64
Trim trim, onomatopéia que imita toques de campainha ou de
telefone, no trecho ao lado se refere ao segundo, significando
portanto o toque do telefone. Não se encontra registrada nos
dicionários.
16
“Nota zero para o chororô em “América”. A coisa está tão
grave, que até Caco Ciocler derramou uma lágrima solitária
para...festejar o noivado! Haja cristal japonês...”
65
Sem registro nos dicionários, chororô quer dizer choro constante.
A reduplicação da última sílaba de choro fez com que se convertesse
em uma forma mais expressiva de dizê-lo.
63
Trecho de propaganda impressa da Primeira Feira Forte, ocorrida de 10 a 13 de junho de 2004 na Praia do Forte, em Cabo Frio – RJ.
64
Trecho do artigo “O toque de Ouro – Mercado de ringtones cresce e traz mais músicas ao celular”, 1ª página do 2º caderno do Jornal O Globo em 5/6/2005.
65
Patrícia Kogut, em sua coluna “Controle Remoto”, no Jornal O Globo, p. 4 em 8/4/2005.
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101
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
17
“O tititi nas conversas nova-iorquinas, hoje, é o site
www.wingwomen.com, que oferece acompanhantes para
homens solteiros em eventos sociais. Não, não se trata da
profissão mais antiga do mundo: a intenção das moças aqui é
ajudar os homens a chegar junto de outras mulheres.”
66
A onomatopéia tititi, relativa a vozes, consta nos dicionários, onde
lhe são registradas quatro acepções: situação confusa, burburinho,
conversa interminável e boataria, esta última equivalendo ao
significado de tititi no trecho em questão.
18
“Mais tititi sobre artistas na tela da Band”.
67
nesse outro exemplo, tititi significa fofoca, que aliás é um
vocábulo expressivo bastante difundido e enraizado no léxico do
português do Brasil.
19
“Depois de confirmada a futura visita da cegonha, as mulheres
grávidas começam a aturar nove meses de um lengalenga
danado: “É menino ou menina? tem nome? com desejo?
Já chutou? Enjoou muito?”
Lengalenga, registrado como vocábulo expressivo nos dicionários,
pode significar conversa ou narrativa enfadonha, ladainha, ou, por
extensão de sentido, o que é demorado, fastidioso. No exemplo
acima, tem a primeira acepção.
66
Trecho do artigo “Homem solteiro procura”, de Ana Cristina Reis, em “Front”, do caderno “Ela” do Jornal O Globo, p. 4 em 16/10/2004.
67
Título de artigo de Elizabete Antunes na Revista da TV do Jornal O Globo, em 25/4/2004, p. 9.
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102
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
20
“Em compras a partir de 50 reais, mais 1 real, você leva um
bichinho. Dia dos namorados é aqui. um gupi-gupi pro seu
cuti-cuti.”
68
Nem gupi-gupi nem cuti-cuti encontram-se registrados nos
dicionários. Formados através de repetição de termos também não
registrados, constituem-se vocábulos expressivos e são muito usados
na linguagem entre namorados ou entre crianças. No exemplo acima
gupi-gupi significa bichinho e cuti-cuti, benzinho ou namorado(a).
21
“Jennifer em seu casamento-surpresa com Marc Anthony: na
base do vapt-vupt.”
69
Vapt-vupt é uma combinação onomatopaica registrada nos
dicionários referindo-se a um tipo de lençol dotado de elástico que se
prende facilmente à cama. Mas na frase em questão, significa
correria, “toque de caixa”.
68
Trecho de propaganda impressa do Shopping Grande Rio (São João de Meriti – RJ) na Revista de Domingo nº 45 do Jornal O Globo, em 5/6/2005.
69
Título de nota editada por Bel Moherdaui na Revista Veja, em 16/6/2004, p.83.
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103
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
22
“Amanhã, quando visitar o castelo da Fiocruz, em Manguinhos,
Lula vai ouvir, na escadaria, que a turma es cansada de
lero-lero e quer mesmo é saúde. Na boa. A música de Rita Lee
é um dos destaques do afinadíssimo coral da casa, dono de
repertório bem-humorado com citações do universo
médico.”
70
Lero-lero, registrado no dicionário, quer dizer conversa vazia, “papo
furado”. No exemplo ao lado é também essa a sua significação.
23
“Uma colméia causou o maior bafafá, segunda, na Rua Paul
Redfern, em Ipanema”.
71
Com sentido de confusão ou desordem barulhenta, no exemplo ao
lado, o vocábulo expressivo onomatopaico bafafá ainda encontra
registrada nos dicionários uma outra acepção, a de conflito entre
muitas pessoas, rolo.
70
Trecho de artigo de Joaquim Ferreira dos Santos em sua coluna “Gente Boa”, no 2º caderno do Jornal O Globo de 4/8/2004, p. 3
71
Trecho de artigo de Ancelmo Góis no Jornal O Globo, em 13/10/2004, p. 2.
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104
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
24
“Acredite. De cada 100 litros que capta, trata e distribui, a
Cedae, a estatal fluminense da água, é recompensada
financeiramente por uns 50 litros, metade. O resto vai embora
em gatos e calotes. Aliás, acredite também, nenhum clube
carioca (Fla, Flu, Botafogo, Vasco) paga água. E o Flu e o Fla
fizeram miau.”
72
Miau, a onomatopéia que imita o miado do gato, se refere a gato,
contudo, neste exemplo, não na sua acepção de animal felino, mas de
ligação clandestina, no caso, para obter água de forma irregular.
25
“Esse nhaque-nhaque incessante, mais conhecido como
ruminação, foi desenvolvido para digerir melhor os alimentos.
As vacas podem ficar a oito horas por dia ruminando sem
parar.”
73
Onomatopéia não registrada nos dicionários, nhaque-nhaque aí quer
dizer mastigação. Em outras situações, poderia se referir também a
mordidas generosas em um alimento.
72
Ancelmo Góis em seu artigo “Gato Fla x Flu”, no Jornal O Globo de 12/11/2003.
73
Trecho da reportagem de caráter educativo “por que as vacas mastigam sem parar?”, de Paulo Roberto Crepaldi, no Globinho do Jornal O Globo, em 22/2/2004.
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105
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
26
Rififi no Fórum.”
74
O vocábulo expressivo rififi encontra-se registrado nos dicionários e
significa confusão ou conflito que envolve várias pessoas.
27
“Ele é o bambambã da sala em Química.”
75
Nesta frase, bambambã significa mestre, grande ou melhor
conhecedor. No entanto, nos dicionários, registra-se também outra
acepção – valentão.
28
“Clique clique para fazer dindin.”
76
Dindin, vocábulo onomatopaico não registrado nos dicionários, quer
dizer aí dinheiro.
29
“Faz trim trim virar dindin”.
77
Trim trim, seqüência onomatopaica não registrada nos dicionários,
quer dizer ligação telefônica, telefonema, na frase ao lado, e dindin,
vocábulo onomatopaico não registrado nos dicionários, quer dizer
dinheiro.
74
Título de nota de Ancelmo Góis, em sua coluna no Jornal O Globo, em 3/4/2004.
75
Do quimb.mbamba-mbamba (exímio, mestre) (Houaiss, 2002).
76
Slogan de campanha publicitária dos Classificados do Jornal O DIA, em 2005.
77
Slogan de campanha publicitária dos Classificados do Jornal O DIA, em 2005.
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106
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
30
“O professor Marinho modificou numericamente a minha vida.
Fez meu coração, em repouso, desacelerar para 52 tuntuns por
minuto.”
78
Tuntuns, plural de tuntum, vocábulo onomatopaico não registrado nos
dicionários, quer dizer batimentos.
Vocábulos expressivos referenciais qualitativos
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
1
“Antes de namorarem, elas vão se tornar amigas, sair juntas e
dar selinhos, aquele toque vapt-vupt de lábios.”
79
A combinação onomatopaica vapt-vupt, passa a idéia de rapidez de
um acontecimento através da representação do barulho provocado por
um deslocamento do tipo ida-e-volta quase instantâneo de algo,
considerando-se o atrito do ar. Assim, no exemplo acima, vapt-vupt
significa rápido, sua acepção mais comum, ainda que nos dicionários
vapt-vupt conste apenas como um tipo de lençol dotado de elástico
que se prende facilmente à cama.
78
Trecho de William Bonner, jornalista e apresentador de TV, na Revista Claudia, em abril de 2004.
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107
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
2
“O implante vapt-vupt. Técnica restaura dente em um mês,
mas só é indicada em alguns casos.”
80
O mesmo acontece neste outro exemplo. Vapt-vupt significa rápido,
num piscar de olhos”, breve, que acontece em pouco tempo, que não
demora.
3
“O lençol vapt-vupt é muito mais prático.” Aqui, vapt-vupt assume seu significado dicionarizado, isto é, um tipo
de lençol com elástico para prender na cama. A idéia de rapidez
normalmente engendrada por essa combinação onomatopaica
permanece de alguma forma neste caso, uma vez que demora muito
menos arrumar a cama com um lençol desse tipo do que um
convencional.
79
Trecho da Revista da TV do Jornal O Globo, em 22/8/2004, p. 3.
80
Título e lead de reportagem da Revista Veja de 16/6/2004.
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108
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
4
“Mulher teco-teco: aceita um de cada vez. Pula e sacode
tanto que deixa você nauseado, mas é sempre muito
emocionante.”
81
O vocábulo onomatopaico teco-teco, que imita o barulho de hélices
girando sem muita potência, significa, segundo os dicionários, avião
pequeno, de um motor de explosão, de reduzida potência, para
trajetos curtos. No entanto, pode significar também avião velho, não
confiável e/ou passível de apresentar problemas. Uma mulher do tipo
teco-teco é uma mulher com características semelhantes às de um
teco-teco.
81
Charge da série “Radical Chic – Gatão de Meia-Idade”, de Miguel Paiva, em novembro de 2003.
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109
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
5
“João Kleber é finalista do troféu Brasileiro Pocotó do site
www.brasileirospocotó.com.br. O troféu vai para “quem mais
contribui para o emburrecimento do Brasil””.
82
Não registrada nos dicionários, pocotó é uma onomatopéia que imita
o barulho da cavalgada de um cavalo. No entanto, no trecho ao lado,
não faz alusão a cavalo. O que acontece, neste caso em especial, é que
desde o ano dois mil e três, mais ou menos, uma música chamada
“Egüinha Pocotó” fez muito sucesso no Brasil, sobretudo na região
Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo. Tal música engendrava em suas
entrelinhas conteúdo altamente sugestivo de erotismo e sensualidade,
de gosto.discutível. Desta forma, até hoje, quando se fala em pocotó,
muitas vezes se está referindo à apologia feita a coisas eróticas em
excesso e/ou a coisas de péssimo gosto nesse sentido ou a baixo nível
de instrução e educação, característicos de quem se sente atraído por
manifestações culturais desta sorte. Assim, no exemplo em questão,
pocotó assume a significação de “baixaria”.
82
Patrícia Kogut, em “Controle Remoto”, no 2º caderno do Jornal O Globo, em 14/7/2004, p. 8.
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110
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
6
“São Paulo é erva, Rio é nhenhenhém”.
83
Palavra onomatopaica normalmente relativa a falatório interminável,
nhenhenhém significa de “bater papo”, de conversar, de se
distrair. Na frase, enquanto São Paulo é forte, trabalha, executa, faz e
acontece, o Rio é menos rígido, gosta de uma conversa, parece não
levar as coisas tão a sério.
7
Fiu-fiu!/Você está fiu-fiu. Quando alguém diz fiu-fiu!, vocábulo onomatopaico não registrado
nos dicionários, ou “você está fiu-fiu para outra pessoa, tem a
finalidade de elogiar-lhe a beleza e/ou elegância, assim como o
assobio que imita, utilizado para o mesmo fim.
8
“Estou tiririca
84
com você”! Registrado nos dicionários, o vocábulo expressivo tiririca significa
furioso, muito irritado.
9
“Roberta é bambambã
85
neste assunto.” Nesta frase, bambambã significa excelente, exímia.
83
Título de artigo de Joaquim Ferreira dos Santos em sua coluna “Gente Boa”, no 2º caderno do Jornal O Globo, em 15/10/2004, p. 3.
84
Segundo Nascentes, vem do tupi. (Houaiss, 2001).
85
Do quimb.mbamba-mbamba (exímio, mestre) (Houaiss, 2001).
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111
Vocábulos expressivos referenciais acionais
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
1
“Meu carro nunca tinha dado problema. Foi eu botar ele na
sua mão e créu.
Créu, não registrado nos dicionários, coincidentemente aí assume de
forma relativa seu valor onomatopaico de imitar algo que se quebra.
Nesse exemplo, quer dizer quebrou, ainda que não literalmente, deu
defeito.
2
“É, você é um negão de tirar o chapéu, não posso dar mole se
não você créu, me ganha na manha e, babau, leva meu coração
(...)”
86
neste outro trecho, créu deixa de assumir seu valor imitativo ou
onomatopaico, tendo sido selecionado aleatoriamente pelo falante
para siginificar “me pega de jeito”, “me faz sua mulher” ou qualquer
ação mais ou menos nesse sentido.
3
“Marcelo entrou na sala e nem tchum pra mim.” A onomatopéia tchum perde seu valor imitativo, tendo sido
selecionada pelo falante de forma aleatória para siginificar olhou,
prestou atenção.
86
“Meu Ébano”, canção composta por Neneo e Paulinho Rezende, cantada por Alcione, grande sucesso nas rádios em 2005.
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112
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
4
“Ele lá pepepê-pepepê no ouvido dela...”
87
Pepepê-pepepê, na frase ao lado, manteve seu valor onomatopaico ou
imitativo e significa falou muito e de forma constante.
5
”Olhou, pum!” Foi só olhar e o que estava previsto aconteceu imediatamente. O
vocábulo onomatopaico pum, registrado em dicionário, marca o
desfecho dessa situação acional, no caso.
6
“E dum dum dum em quem der um só desses conselhos”.
88
Dum dum dum aí quer dizer repreenda.
7
“Não se pode falar da mãe que pimba!”
89
Pimba, vocábulo de origem onomatopaica, registrado em dicionário,
significa aí acontece alguma coisa sobre a qual a mãe advertiu.
8
Clique clique para fazer dindin
90
.” Na frase, clique clique quer dizer acesse utilizando o mouse do
computador.
87
Fala do personagem Agostinho, da série “A Grande Família I” (em DVD), da Rede Golobo, na 1ª cena do episódio “A melhor casa da rua”.
88
Danuza Leão, em “Na sala com Danuza 2”, pág. 207.
89
Fala de Ana Helena Vanier, professora de português para estrangeiros da PUC, em 2004.
90
Slogan de campanha publicitária dos Classificados do Jornal O DIA, em 2005.
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113
Vocábulos expressivos referenciais circunstanciais
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
1
“Vou ali no jornaleiro. É vapt vupt!” Vou ali no jornaleiro. “É vapt-vupt!” significa vou ser rápido.
2
“Vou terminar meu trabalho vapt-vupt!” Vapt-vupt imprime a circunstância de rapidez à ação terminar meu
trabalho.
3
“Quanto a isso, não tenha dúvidas. É pa-pum!”
Pa-pum refere-se à circunstância de uma ação que vai acontecer,
imprimindo à mesma a noção de certeza.
4
Vou num pé e volto no outro. É zás-trás!” Zás-trás reforça a idéia de rapidez na ação de ir num e voltar no
outro.
5
“Hoje não tem conversa. Hoje é pimba!”
Pimba intensifica a noção de certeza à ação na frase subentendida de
acontecer algo impreterivelmente. É um reforço da circunstância de
certeza.
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114
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
6
“Aqui não tem história não. Escreveu não leu, é créu!” As frases ao lado significam respectivamente o adianta embromar
ou não tem perdão ou outra chance e se bobear ou se não estiver
prevenido ou se proteger, certamente vai acontecer o que tem que
acontecer. Dessa forma, créu é utilizado para reforçar a circunstância
de certeza da ação.
Vocábulos expressivos estilísticos
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
1
“Os saquês entraram em ação, a galera se animou e, pimba!,
lá estávamos nós falando besteira.”
91
Pimba, sem nenhum valor semântico em si mesmo, marca o desfecho
da ação de forma mais expressiva.
91
Reportagem “Promessas e surpresas”, da série “Pé-limpo”, de Jefferson Lessa, no caderno Rio Show do Jornal O Globo, em 16/7/2004.
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115
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
2
“A foto publicada aqui ontem de uma banca que entrega o
jornal ao motorista que buzina parado no sinal (uma buzinada
para “O Globo”, duas para o “Extra” e três para “O Dia”)
entupiu a caixa postal da coluna. Alguns aplaudiram. Mas a
maioria – bibi, fonfom! – chiou, dizendo que, se a moda pega,
a poluição sonora na cidade será insuportável. Tem razão.”
92
O papel das onomatopéias bibi e fonfom neste trecho é também
estilístico ou retórico no sentido de dar mais vida ao enunciado,
adornando-o com o som das buzinadas a que se refere, e, ao mesmo
tempo a imprimindo-lhe um caráter, no caso, bem-humorado e
jocoso, como que comparando as vozes das pessoas que “chiavam” a
buzinadas..
92
Ancelmo Góis, em “Ponto Final”, em sua coluna no Jornal O Globo, em 17/4/2004, p.17.
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116
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
3
“Fui à escola. Sei que moda também é cultura, forma de
expressão, que acompanha as transformações sociais, que é
um sistema, que é uma linguagem, blábláblá, blebleblé,
bliblibli, bloblobló, blublublu.”
93
Sem prejuízo sintático, a seqüência de onomatopéias imitativas de
vozes humanas blábláblá, blebleblé, bliblibli, bloblobló, blublublu
poderia ser perfeitamente dispensada ou substituída por etc. etc. etc.
no trecho acima. No entanto, sua escolha pelo enunciador garante ao
enunciado maior expressividade ao evocar, com criatividade e de
modo distenso, além do que conteria um simples etc, a sensação de
falatório interminável e cansativo, sem dúvida dando mais vida ao
discurso.
4
“Ontem, por volta de 0h30m, no estacionamento do Rio Sul, o
carona do Honda Fit preto LDB 9646, que saía de um show de
Djavan, desceu, pôs o microfone pra fora e chuáááá fez o
maior xixi numa pilastra.”
94
Sintaticamente dispensável, o vocábulo onomatopaico chuáááá
imprime graça ao enunciado, remetendo-se ao barulho do xixi
narrado no trecho em questão, que se torna bem mais vivo e
expressivo com sua presença.
93
Trecho da coluna de Arnaldo Bloch, no 2º caderno do Jornal O Globo, em 15/1/2005, p. 10).
94
Ancelmo Góis em sua coluna no Jornal O Globo, em 28/4/2005, p. 20.
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117
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
5
“Um pobre papagaio grita sem parar desde o raiar do dia num
poleiro pendurado do lado de fora da janela do andar do
prédio 78 da Rua Maria Quitéria, esquina com Redentor, em
Ipanema. A vizinhança, apiedada do bicho, fez queixa ao
Ibama e ao síndico. Mas, até agora, curupaco-papaco,
nada.”
95
Curupaco-papaco, onomatopéia que imita a voz do papagaio,
confere ao enunciado um toque de humor e talvez uma pitada de
ironia. Elemento com função retórica, é completamente desnecessário
no que tange à sintaxe da frase em que aparece.
6
“Acredite. Um galo cocorocóóóó! vem acordando a
vizinhança da Delegacia do Leblon, o bairro dos bacanas no
Rio, por volta das 6h da matina. quem jure que o bicho
vive num galinheiro na DP. E que tem companhias.”
96
A imitação do canto do galo, cocorocóóóó confere ao enunciado ao
lado mais vida e um toque especial de humor.
95
Ancelmo Góis em sua coluna no Jornal O Globo em 10/11/2003.
96
Ancelmo Góis em sua coluna no Jornal o Globo em 1/10/2003.
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118
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
7
“Duvido que alguém aqui faça contas de duzentos e quarenta e
sete parcelas e , diga o resultado na hora.”
97
o pá, que o imita absolutamente nada, convive com tal frase,
sonorizando-a, dando-lhe mais vida.
8
“Aí parará...ele foi pra casa parará parará...” Nesta frase, parará é um elemento retórico que funciona como uma
espécie de pausa na conversação, mas que, ao mesmo tempo, pode
ser indicativo de alguma ação sobre que não se fala, seja por
conveniência, pressa ou preguiça.
9
“Um dia ele acordou, tomou café e pimba, empacotou.” Pimba, sem nenhum valor semântico em si mesmo, marca o desfecho
da ação de forma mais expressiva.
97
Marisa Bueno, professora da PUC-RJ, em uma de suas aulas sobre a evolução do pensamento lingüístico, em 2004/2.
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119
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
10
“No elevador, é só entrar uma gatinha e piriri pororó
nhenhenhém patati patatá lero-lero tititi blablá bababa...
Depois disso eu faturo. Aí é pá e pronto. Pa-pum.”
98
A seqüência piriri pororó nhenhenhém patati patatá lero-lero tititi
blablá bababa serve para imitar, ou melhor, sugerir ações e falas de
um conquistador, no caso, durante o processo de conquista que
engendra.
11
“Aí ele foi e pegou na minha mão.” o pá, que não imita absolutamente nada, convive com tal frase,
sonorizando-a, dando-lhe mais vida. Sem nenhum valor semântico
em si mesmo, marca o desfecho da ação de forma mais expressiva.
12
“Aí morreu.” o pá, que não imita absolutamente nada, convive com tal frase,
sonorizando-a, dando-lhe mais vida. Sem nenhum valor semântico
em si mesmo, marca o desfecho da ação de forma mais expressiva.
98
Fala colhida em episódio da série “Sexo Frágil”, exibido em 24/10/2003 pela Rede Globo.
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120
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
13
“É comprou pum pagou.”
99
Sem nenhum valor semântico em si mesmo, pum marca o desfecho
da ação de forma mais expressiva.
14
“Um belo dia pimba ele morreu.” Sem nenhum valor semântico em si mesmo, pimba marca o desfecho
da ação de forma mais expressiva.
15
Pumba clico e aí eu posso editar.”
100
Sem nenhum valor semântico em si mesmo, pumba marca o
desfecho da ação de forma mais expressiva.
16
Tic-tac: o tempo está passando. Click-click: você está
ganhando tempo. Citibank Online: se você não se cadastrou, já
sabe o que está perdendo.”
101
Tic-tac e click-click, imitando respectivamente o barulho de um
relógio em funcionamento e o barulho que se faz com o mouse do
computador quando de seu uso, conferem graça e estilo ao enunciado
ao lado.
99
Fala do personagem interpretado por Jorge Dória em episódio de “A Grande Família” dos anos 70.
100
Fala da instrutora durante o curso que deu sobre o Smart Board (lousa digital) para os professores da PUC em 2004.
101
Slogan de campanha publicitária do Citibank em 2006.
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121
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
17
“Aí ele foi e tum pegou o carro e...” Sem nenhum valor semântico em si mesmo, tum marca o desfecho da
ação de forma mais expressiva.
18
“Foi o que bastou para a mulher do coitado puxá-lo pelo braço
e, na frente de todo mundo, plaft! virar-lhe a mão no rosto.”
102
Sem nenhum valor semântico em si mesmo, plaft, que imita o som de
um tapa, marca o desfecho da ação de forma mais viva, mais
expressiva.
19
Buáááááá...Este prefeito eleito de Salvador, João Henriques
Carneiro, é, como Lula, filiado ao PC (Partido dos Chorões).
Carneiro bééééééééé... chora à toa, igual ao presidente.
Com todo o respeito.”
103
Buáááááá e bééééééééé, imitando respectivamente choro e som
emitido pelo carneiro, conferem ao enunciado ao lado um toque
especial de humor, de graça.
102
Trecho da coluna “Gente Boa”, de Joaquim Ferreira dos Santos, p.3 do Segundo Caderno do Jornal O Globo de 3/9/2004.
103
Ancelmo Góis, 1/11/2004, p..5, Jornal O Globo.
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122
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
20
“Eu morei um ano em São Paulo e era diferente. A gente se
reunia com amigos, ia a barzinho, tatá, tetê, teté, titi, a gente
não saía assim para dançar, se divertir junto, sei lá...”
104
Nesta frase, a seqüência tatá, tetê, teté, titi é um elemento retórico
que funciona como um etc, mas que, ao mesmo tempo, pode ser
indicativo de ações ou acontecimentos sobre os quais não se fala, seja
por conveniência, pressa ou preguiça.
21
“Eles disseram que não iam deixar de fazer aquilo e ...” Nesta frase, é um elemento retórico que funciona como uma
espécie de pausa na conversação, mas que, ao mesmo tempo, pode
ser indicativo de alguma ação sobre que não se fala, seja por
conveniência, pressa ou preguiça.
22
“Pisei fundo no acelerador e, quando ultrapassei, o motorista
do carrão: click! click! click! Disparou a máquina
fotográfica.”
105
Click! click! click! confere ao enunciado ao lado mais vida. Ao imitar
o barulho de tirar fotos, acaba trazendo o acontecimento narrado para
um plano mais próximo de uma cena ao vivo.
104
Vitória Santos, psicóloga, em 17/5/2005, em conversa informal com os colegas de dança de salão.
105
Joana Pegado, designer, na Revista O Globo de 23/10/2005.
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123
Enunciado com vocábulos expressivos Explicação sobre os vocábulos expressivos no enunciado
23
“Você está caminhando pela primeira vez no Bairro Alto,
reconhecendo o campo antes de escolher um bar e, !
encontra um casal de amigos que está de férias na cidade.”
106
Sem nenhum valor semântico em si mesmo, marca o desfecho da
ação de forma mais expressiva.
106
Marcelo Balbio, na revista Boa Viagem do Jornal O Globo de 20/10/2005, p.6.
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