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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
The L Word – eLas por eLas:
e o universo lésbico se faz presente na TV
ADRIANA AGOSTINI DE RESENDE
Belo Horizonte
2010
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Adriana Agostini de Resende
The L Word – eLas por eLas:
e o universo lésbico se faz presente na TV
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
da Universidade Federal de Minas Gerais, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Comunicação Social.
Área de concentração: Meios e produtos da
Comunicação
Orientador: Bruno Souza Leal
Belo Horizonte
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG
2010
Dissertação intitulada The L Word eLas por eLas: e o universo lésbico se faz presente
na TV”, de autoria da mestranda Adriana Agostini de Resende, aprovada pela banca exa-
minadora constituída pelos seguintes professores:
________________________________________________
Prof. Dr. Bruno Souza Leal – FAFICH/UFMG – Orientador
________________________________________________
Prof. Dra. Simone Maria Rocha – PPGCOM/UFMG
________________________________________________
Prof. Dra. Karla Adriana Martins Bessa – PAGU/UNICAMP
_____________________________________________
Prof. Dr. Bruno Souza Leal
Coordenador do Programa de Pos-Graduação em Comunicação Social
FAFICH/UFMG
Belo Horizonte, 12 de março de 2010
Às mulheres.
AGRADECIMENTOS
À Olga, minha mãe, por ser a maior incentivadora de todas as coisas boas que fiz. A mi-
nha irmã Liana, meu cunhado Geraldo “Feijão” e meus sobrinhos Eduardo e Paula, pelo
apoio.
Ao Prof. Bruno Souza Leal, porque não poderia haver orientador melhor: sereno, sábio
e seguro.
À Luiza, por tudo em que colaborou nesta dissertação e principalmente pelo amor que
sempre nos unirá.
À Viviane, pela compreensão necessária na reta final e pela colaboração nas traduções.
À minha melhor amiga Perna, pelo imprescindível apoio e pela constante colaboração.
Ao Miguel e à Frida, pelo tanto que rimos juntos.
Ao Marcos Aurélio, porque é um excelente companheiro.
Às colegas de trabalho, especialmente Adriana Valente, Rosângela Padrini e irmãs Rosana
e Rosângela Baêta, que sempre colaboraram durante esse percurso.
Aos professores da UFMG, especialmente Vera França, pelo carinho com que acolhe os
alunos, Carlos Mendonça e Simone Rocha, por tudo que acrescentaram na qualificação
deste trabalho.
Obrigada a todos que sempre me acompanharam e que entendem ser impossível listar
todos os nomes. Valeu!
The L Word Theme
Betty
Girls in tight dresses
Who drag with mustaches
Chicks drivin’ fast
Ingenues with long lashes
Women who long, love, lust
Women who give
This is the way
It’s the way that we live
Talking, laughing, loving, breathing,
fighting, fucking, crying, drinking,
riding, winning, losing, cheating,
kissing, thinking, dreaming.
This is the way
It’s the way that we live
It’s the way that we live
and love
RESUMO
Esta dissertação pretende analisar de que forma o universo lésbico se dá a ver a partir da
análise de cinco personagens da série The L Word. Nosso objetivo é o de chegar a pistas
do porquê a série conseguiu angariar fãs em todo o mundo, inclusive em países em que
sequer foi exibida na televisão, observando especialmente os modos como sua narrativa
se apresenta e dialoga com as telespectadoras.
Para isso, o trabalho perpassa a discussão do que seria a identidade lésbica e também o
debate de como está a televisão numa época em que novas tecnologias permitem uma
aproximação ainda maior com o telespectador. Além disso, esta pesquisa resgata, ainda
que brevemente, a história e alguns dos formatos possíveis das séries de TV. Ao recuperar
o que se disse sobre The L Word e colocando em prática o que propõe o título elas
por elas –, percebemos com mais precisão o quanto a série envolveu toda a equipe de
trabalho, mobilizando-a também para além das câmeras. Após enfocar teorias relativas à
questão da personagem, a dissertação busca identificar traços do universo lésbico que
se dão a ver por meio das personagens, oferecendo consequentemente um leque de
opções de identificação junto às telespectadoras, especialmente às lésbicas.
Palavras-chave: Lésbicas, televisão, séries de TV, The L Word.
ABSTRACT
This thesis is geared towards portraying the lesbian universe through the analysis of five
characters from the TV series The L Word. We aim to provide our readers with reasons as
to why this series was such a worldwide success, obtaining fans from all four corners of
the earth, including those from countries that didn’t air the series. Our study will focus
more specifically on the observation of the different ways its narrative is presented and
speaks to its audience.
To achieve this, we addresses the issue of lesbian identity in addition to discussing the
status of television in an era in which new technologies enable the audience closer con-
tact. Moreover, this research also briefly addresses the history and some of the possible
TV series formats. With basis on The L Word series reviews and critics and by putting into
practice the proposed thesis’ title – elas por elas – (them by them
1
), we are able to notice
with precision how intensely all crew members became involved in the making of this se-
ries not only duri ng its shooting but also behind its scenes. After focusing on theories ap-
plied to each individual character, this thesis aims to identify traces of the lesbian universe
depicted by the series characters thereby consequently offering its spectators, especially
those who are lesbian, a wide range of identification options.
Key words: Lesbians, television, TV series, The L Word.
1 NT: the emphasis on the title in Portuguese is on the feminine gender.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Tabela das temporadas
Figura 2 – Portal da Editora Malagueta
Figura 3 – Vinhetas de abertura de Lost
Figura 4 – Os “passageiros” de Lost
Figura 5 – Depoimento de Tina na internet
Figura 6 – Xena, a princesa guerreira e Gabrielle (à esquerda)
Figura 7 – Buffy, a caça-vampiros e Willow
Figura 8 – As personagens: lésbicas e lindas
Figura 9 – O gráfico em OurChart.com
Figura 10 – Vinhetas de abertura de The L Word na 1ª temporada
Figura 11 – Vinhetas de abertura de The L Word, a partir da 2ª temporada
Figura 12 – O quadro se forma e finaliza o episódio
Figura 13 – Alice fala da vida, enquanto Shane tenta afogar suas culpas
Figura 14 – “As panteras”
Figura 15 – Sérias, descem dos automóveis. Sorriem, se juntam...
Figura 16 – Lost, As panteras, O incrível Hulk, Ilha da fantasia
Figura 17 – Da esquerda para a direita, Alice, Bette, Shane, Tina e Jenny
Figura 18 – Alice Pieszecki
Figura 19 – Alice – 1ª temporada
Figura 20 – Dana (de costas), Alice e as fantasias sexuais – 2ª temporada
Figura 21 – Lara e Alice – 3ª temporada
Figura 22 – Tasha e Alice – 4ª temporada
Figura 23 – Alice – 5ª temporada
Figura 24 – Alice no The look – 6ª temporada
Figura 25 – Bette Porter
Figura 26 – Bette e Candace – 1ª temporada
Figura 27 – Bette e seu pai, Melvin – 2ª temporada
Figura 28 – Bette (com Angélica) e Tina – 3ª temporada
Figura 29 – Bette no trator, com um presente para Jodi – 4ª temporada
Figura 30 – Bette e Jodi – 5ª temporada
Figura 31 – Bette e Tina – 6ª temporada
Figura 32 – Jenny Schecter
Figura 33 – Jenny, curiosa, flagra mulheres fazendo sexo – 1ª temporada
Figura 34 – Jenny em crise – 2ª temporada
Figura 35 – Jenny e Max – 3ª temporada
Figura 36 – Jenny – 4ª temporada
Figura 37 – Jenny, seu cachorro, a secretária e o produtor da Shaolin – 5ª temporada
Figura 38 – Jenny morta. As amigas, consternadas, assistem – 6ª temporada
Figura 39 – Shane McCutcheon
Figura 40 – Shane – 1ª temporada
Figura 41 – Shane – 2ª temporada
Figura 42 – Shane – 3ª temporada
Figura 43 – Shane em campanha de cuecas – 4ª temporada
Figura 44 – Shane. Ao fundo, Paige – 4ª temporada
Figura 45 – Shane foge de carro – 5ª temporada
Figura 46 – Shane e Molly – 5ª temporada
Figura 47 – Shane – 6ª temporada
Figura 48 – Tina Kennard
Figura 49 – Tina – 1ª temporada
Figura 50 – Tina vira a mesa, literalmente – 2ª temporada
Figura 51 – Tina grávida e a médica (de costas) – 2ª temporada
Figura 52 – Tina e Henry (com Angélica) – 3ª temporada
Figura 53 – Tina no estúdio de Les girls – 4ª temporada
Figura 54 – Tina e Bette – 5ª temporada
Figura 55 – Tina – 6ª temporada
Figura 56 – Outras personagens de The L Word
Figura 57 – Carmen, abandonada no altar – 3ª temporada
Figura 58 – Cherie, penteada por Shane – 1ª temporada
Figura 59 – Dana, a tenista – 1ª temporada
Figura 60 – Helena se exercita – 4ª temporada
Figura 61 – Ivan, que ama Kit – 1ª temporada
Figura 62 – Jodi, a artista plástica – 5ª temporada
Figura 63 – Joyce, especialista em causas LGBT – 2ª temporada
Figura 64 – Kit, a única heterossexual da trama – 6ª temporada
Figura 65 – Lara, sous-chef – 3ª temporada
Figura 66 – Marina Ferrer, seduzindo Jenny e flagrada por Tim – 1ª temporada
Figura 67 – Moira/Max, transexual e grávido – 6ª temporada
Figura 68 – Molly, que se tornou “gay por Shane” – 5ª temporada
Figura 69 – Niki, o alterego de Jenny – 5ª temporada
Figura 70 – Paige queria ter uma família com Shane – 4ª temporada
Figura 71 – Papi, colecionadora de mulheres – 4ª temporada
Figura 72 – Phyllis descobre-se gay depois dos 60 – 4ª temporada
Figura 73 – Tasha, capitã do Exército e lésbica – 4ª temporada
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – “O que achou do final da série?”
Gráfico 2 – “Por qual dos meios seguintes você tem acesso ao seriado?”
SUMÁRIO
Labor – Introdução
1 Leque de possibilidades
2 Longe do fim, mais perto do telespectador
2.1 Local de diversificação de temas e formatos
2.2 Linguagem em constante renovação
3 Lindas e lésbicas
Tecnologia favorece
3.1 Lendo The L Word
3.2 Latifúndio lésbico
Primeira temporada
Segunda temporada
Terceira temporada
Quarta temporada
Quinta temporada
Sexta temporada
4 Links e Identificações
4.1 Lupa: as personagens lésbicas de The L Word
Alice Pieszecki (Leisha Hailey), a falante
Bette Porter (Jennifer Beals), a dominadora
Jenny Schecter (Mia Kirshner), a desestruturadora
Shane McCutcheon (Katherine Moennig), a cobiçada
Tina Kennard (Laurel Holloman), a coerente
Ligadas pelo desejo
Lapidando – Conclusão
Bibliografia
Ligações
Anexo 1 – Outras personagens de The L Word
Anexo 2 – Tabelas de temporadas e episódios
eLas por eLas 1
LABOR – INTRODUÇÃO
Kit [na gravação de um disco, com cantoras] Tudo se re-
sume a transformação, se resume a mudança. É algo que a
mulher conhece. Constante mudança é a única constante.
Sangramos e não morremos. Transpiramos quando está –10
lá fora.
The L Word, 3ª Temporada, Ep. 3.08: “Apoio e Meditação”
Rio de Janeiro, duas mulheres desfocadas e os bondinhos do Pão-de-Açúcar se cruzando
ao fundo. Essa foi a cena que representou o primeiro beijo lésbico em uma telenovela
brasileira. Ela foi exibida no último capítulo de O Rebu, que era transmitida às 22 ho-
ras, simbolizando o beijo do casal Glorinha (Isabel Ribeiro) e Roberta (Regina Viana). De
1974, época da exibição da novela de autoria de Braúlio Pedroso, até 2007, é inegável
que houve avanços na representação de homossexuais na mídia, embora, pelo menos
até o final do século XX, fosse predominante uma imagem negativa e baseada em este-
reótipos, presentes em filmes, novelas e programas humorísticos. A mudança de trata-
mento mais expressiva está no início do século XXI, quando ser homossexual começa a
deixar de ser tratado como um problema, castigo ou erro e passa a permear o cotidiano
dos personagens, obviamente ressalvando que ainda existem produções que associam
características negativas a esse grupo, sobretudo nos programas humorísticos exibidos
na televisão brasileira, como Casseta e Planeta, exibido semanalmente pela Rede Globo
desde 1998. É inegável que houve um incremento de personagens homossexuais na
televisão e em outras mídias no Brasil, mas este ainda é pequeno, especialmente se com-
parado ao que se vê nas produções americanas.
Apesar de o Brasil não ter tradição na apresentação de personagens homossexuais mais
completos e complexos, não se pode negar o consumo de uma série de produtos ame-
ricanos e europeus no país. Entre eles, alguns são recebidos, em geral, com aplausos
pela comunidade LGBT, como O segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee (2005),
e Imagine eu & você, de Ol PARKER (2005), no cinema – e a série The L Word (SHOWTI-
ME, 2004), na televisão. Já entre as representações de lésbicas mais recentes produzidas
e consumidas no Brasil, também bem recebidas pela comunidade homossexual, desta-
camos o casal Eleonora (Mylla Christie) e Jenifer (Bárbara Borges) na novela Senhora do
destino, exibida pela Rede Globo, entre 2004 e 2005, que recebeu inclusive a atenção
da pesquisa acadêmica (por exemplo, GOMIDE, 2006). Essas produções são apenas al-
eLas por eLas 2
guns exemplos de como a visibilidade LGBT, demonstrada especialmente por meio das
Paradas do Orgulho LGBT, que ganharam muito espaço no Brasil e no mundo, conse-
gue trazer mudanças concretas nas representações midiáticas. Ao lado do crescimento e
aumento da visibilidade do movimento LGBT no país – com suas reivindicações políticas
e sociais está a questão econômica, pois, principalmente a partir da década de 1990,
as empresas começaram a identificar nesse público um excelente mercado: solteiros, in-
dependentes e com renda financeira que os torna consumidores atraentes. Ainda assim,
e pensando especificamente nas novelas brasileiras, fica evidente o longo caminho a ser
trilhado até que homossexuais tenham o mesmo tipo de tratamento dado aos heteros-
sexuais na mídia. Ou seja, suas personagens ainda são identificadas como a bicha ou a
sapatão, enquanto não temos notícia de alguma personagem apontada como o straight
ou o heterossexual.
Se ainda não é possível encontrar o mesmo tom nos meios de comunicação de massa em
geral, é preciso, entretanto, fazer reconhecer que as séries de televisão norte-americanas,
veiculadas na TV a cabo e aqui, estão se mostrando mais ousadas na escolha de temas
e personagens, especialmente se observarmos as produções realizadas a partir de 1990.
No início do século XXI, duas produções se destacaram e foram consideradas ousadas por
retratarem exclusivamente o cotidiano de mulheres e homens gays, respectivamente The
L Word e Queer as folk. Esta última também chamou a atenção da academia e virou
tema de dissertação (por exemplo, ZANFORLIN, 2005). Em 2004, nos Estados Unidos,
estreou a série The L Word, escrita e dirigida por mulheres, que mostra a rotina de um
grupo de amigas lésbicas, bonitas, chiques, glamourosas, femininas e bem-sucedidas.
Séries de TV, lésbicas e personagens. A partir desse tripé, pretendemos entender de que
forma The L Word conseguiu criar e manter ao seu redor uma rede social virtual de lésbi-
cas jamais vista, que se reuniu durante a exibição da série em fóruns virtuais para debater
temas relativos à própria sexualidade, bem como falar sobre suas personagens prediletas.
Para aprofundar esse olhar, a partir da observação da trajetória de cinco personagens da
série The L Word, pretendemos investigar de que modo esses seres ficcionais se colocam
ou não como espaços para a criação de vínculos com as telespectadoras a partir da for-
ma como apresentam o universo lésbico. The L Word é a primeira na história da televisão
a colocar um grupo de lésbicas sob holofotes. A partir de suas protagonistas, essa produ-
ção parece ter acionado um conjunto de referências que compõem traços da identidade
lésbica. Além de ser pioneiro na temática, o programa também se presta ao estudo da
televisão num momento marcado pela convergência de mídias, pois, da mesma forma
que outros produtos contemporâneos, recorre, a todo momento, à complementaridade
eLas por eLas 3
dos dispositivos, o que acaba por garantir um contato mais frequente e próximo do teles-
pectador, mudando, consequentemente, a forma de fazer e de ver televisão.
A opção pela análise das personagens se deu após um longo trabalho de pesquisa,
iniciado em agosto de 2008, em que assistimos aos 70 capítulos da série, exibidos em
seis temporadas. Por meio desse olhar, conseguimos capturar algumas pistas para o
desenvolvimento da dissertação. A primeira delas foi a de ver que, no programa, as per-
sonagens ocupam um lugar de destaque, firmando-se como a grande atração da trama.
A segunda constatação foi que a série não tem apenas uma protagonista, diluindo e al-
ternando momentos de destaque entre as integrantes de um grupo de amigas lésbicas.
Constatamos, ainda, que a apresentação das personagens da série e, consequentemen-
te, de tudo que elas traziam para a tela, acionava muitos temas importantes para a comu-
nidade lésbica, presentes na agenda política contemporânea. A partir daí, observamos
quais seriam as cinco personagens mais significativas, uma vez que seria impossível a
análise de todas. Optamos por perseguir aquelas que estiveram presentes do primeiro ao
último capítulo. Com um olhar atento sobre as seis tabelas apresentadas no Anexo II (p.
170), conseguimos identificar com detalhes momentos-chave das personagens. Para fa-
cilitar a leitura das temporadas, iniciamos os quadros de forma descritiva, sem estabelecer
o que destacaríamos, e deixamos que o próprio programa nos “mostrasse” o que haveria
de relevante. A partir daí, chegamos às seis tabelas, uma para cada temporada e subdivi-
didas em capítulos. De cada episódio, destacamos os seguintes tópicos: (i) sinopse, com
o título em inglês e em português; (ii) temas destinado a mostrar o assunto proposto
pelo episódio, por exemplo, lésbicas e maternidade; (iii) acontecimentosidentifica os
principais fatos ocorridos; (iv) cenas de sexo identifica os pares formados durante o
episódio; (v) diálogos espaço dedicado às falas consideradas mais significativas para
nossa pesquisa.
Figura 1 – Tabela das temporadas
eLas por eLas 4
Optamos por não utilizar um quadro já desenvolvido por outro pesquisador, para que o
próprio objeto pudesse nos apresentar o que ele teria de mais relevante a ser observado.
Entendemos, dessa forma, que cada programa tem suas peculiaridades. Com as tabelas
prontas, ficou evidente a infinidade de temas relacionados à cultura lésbica tratados na
série, os diálogos mais importantes e a discussão de temas atuais, além do amadureci-
mento da trama e das personagens. A partir daí, ficou mais fácil imaginar o tipo de abor-
dagem teórica de que necessitaríamos para alcançar o objetivo da pesquisa. Optamos
por dividir a dissertação em quatro capítulos. No primeiro, para facilitar a metodologia,
buscamos entender melhor o grande tema com o qual iríamos lidar na observação da sé-
rie: a identidade lésbica. Deparamo-nos com o desafio de pensar sobre a identidade lésbi-
ca, levando-se em conta a complexidade e fluidez do tema e a ainda escassa bibliografia
publicada no Brasil. Constatamos o permanente trânsito da identidade lésbica e, conse-
quentemente, a dificuldade de se representar algo em constante construção. Restou-nos
o questionamento de como uma série de TV poderia ser eficiente para abranger temas
caros e que, de fato, dizem respeito à lesbianidade. Essa reflexão foi de fundamental im-
portância para nos trazer uma retrospectiva sobre o tema e para nos ajudar a reconhecer
em The L Word traços caros ao universo lésbico.
Para observarmos de que forma a lesbianidade se apresenta num programa de entrete-
nimento da televisão, foi importante, no segundo capítulo, entender como se posiciona
esse dispositivo na contemporaneidade, especialmente a partir da nova força dada ao
telespectador, que se faz mais presente por meio das novas tecnologias. Tratamos da tele-
visão, a partir de pesquisadores brasileiros como Machado (2003), Balogh (2002), Lopes
(2004) e outros, especialmente Ross (2008) e Jenkins (2008), que voltam seus estudos,
sobretudo, para a TV na era da internet. Interessou-nos mais trazer um breve histórico
sobre a evolução das séries, e consequentemente da TV, e um olhar mais aprofundado
sobre a relação entre TV e telespectador, pensando principalmente que a TV deve evoluir
no sentido de manter a adesão do telespectador, que hoje parece depender, em muitos
casos, de uma extensão dos programas das telas para a web. Desse modo, pudemos
ter pistas da forma como The L Word e outros programas recentes utilizam e atualizam a
linguagem televisiva.
Depois desse breve olhar sobre dois grandes temas lésbicas e televisão –, afunilamos
nossa pesquisa e dedicamos o terceiro capítulo à série em questão. Fizemos uma apre-
sentação de
The L Word, mostrando sua trajetória, impacto, evolução por temporadas,
relação com as telespectadoras, críticas de público e de estudiosos, além de comentários
do próprio elenco, produção e da criadora, Ilene Chaiken. Esses elementos colaboraram
eLas por eLas 5
principalmente para nos dar indícios de como a série conseguiu atrair e manter uma
rede social em seu entorno. Nesse momento, ainda não nos aprofundamos na análise,
deixando apenas pistas que serão retomadas na conclusão da dissertação.
No quarto capítulo, chegamos finalmente ao recorte de nosso objeto: a personagem.
Num breve levantamento teórico sobre a questão da personagem, tratamos do seu papel
na ficção, ressaltando especialmente os laços que possivelmente possam criar com o te-
lespectador. Concluído esse percurso, iniciamos o detalhamento das cinco personagens
que nos dispusemos a acompanhar. Para isso, utilizamos quatro operadores de análise: a
trajetória, o papel na trama, o corpo e a visualidade, e a tematização.
Por fim, na conclusão do trabalho identificamos pistas da forma pela qual a série The L
Word conseguiu se conectar às telespectadoras presentificadas principalmente por meio
das redes sociais, que de alguma forma não se mantêm apenas num movimento de estar
em volta da série, mas chegam a se misturar a ela.
Cabe ressaltar que como nos interessa observar a forma como The L Word consegue se
relacionar com as telespectadoras e não com o público em geral, incluindo os telespec-
tadores, optamos por tratar o público do seriado no feminino e, quando nos referimos ao
público da televisão em geral, utilizamos a palavra comum aos dois gêneros.
Com a análise desse produto, a dissertação The L Word elas por elas: e o universo
lésbico se faz presente na TV pretende, sobretudo, colaborar em pesquisas relativas à
lesbianidade e em investigações sobre a televisão contemporânea.
eLas por eLas 6
1 LEQUE DE POSSIBILIDADES
Sharon [mãe de Dana] Sabe, eu realmente não entendo.
Quero dizer, olho para vocês duas. São garotas bonitas. E ne-
nhuma das duas teria dificuldade em arrumar um homem.
Dana – Ah, meu Deus. Não queremos arrumar um homem,
mãe.
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.02: “Dança sensual”
É possível dizer de uma identidade lésbica? As respostas são as mais variadas, e as que
têm tom mais negativo vão desde taxar essas mulheres de enfermas, pervertidas, até sim-
plesmente de feias e sem competência para atrair ou manter um parceiro do sexo opos-
to. Dentro dos movimentos homossexuais femininos, esse questionamento identitário
também se faz presente, tendendo, nesses casos, a extrapolar o desejo de mulheres por
outras mulheres, a simples prática sexual, para adquirir colorações mais políticas, muitas
vezes relacionadas à condição feminina.
No Brasil, muito pouco material publicado sobre lesbianidade. Em 1956, foi publicado
no país o primeiro livro dedicado ao estudo da homossexualidade feminina: Contribuição
ao estudo da homossexualidade feminina, de Iracy Doyle. Depois dessa época, identi-
ficamos apenas três livros que passam exclusivamente pelo debate do tema, dois deles
esgotados. O primeiro, do historiador e militante gay Luiz Mott, chama-se O lesbianismo
no Brasil, de 1987. Dois anos depois, Denise Portinari publicou O discurso da homosse-
xualidade feminina, também esgotado. Por fim, o de mais fácil acesso é O que é lesbia-
nismo
, de Tânia Navarro-Swain, cuja primeira reimpressão é de 2000. As discussões sobre
a lesbianidade acabam buscando respaldo em publicações sobre homossexuais mascu-
linos, transexuais e em publicações de cunho feminista. Com isso, percebemos refletida
no mercado editorial e nas pesquisas acadêmicas uma hierarquia de gênero – o homem
sempre tendo mais importância do que a mulher –, como ocorre na vida social. É certo
que o mercado editorial reflete um posicionamento da sociedade que também é identi-
ficado na mídia, conforme atesta a pesquisa Mídia e homofobia: linguagem, construção
da realidade e agendamento, coordenada pelo professor Bruno Souza Leal, em 2008,
na UFMG.
A identidade lésbica possui um número significativamente menor de ma-
térias se comparada às identidades gay e travesti. Esse fato é revelador
na medida em que demonstra uma certa invisibilidade da lesbianidade,
eLas por eLas 7
o que impede um maior debate a respeito das nuances e especificidades
do tema (LEAL, 2008, p. 18).
A invisibilidade na imprensa, destacada por Leal (2008), está também presente no meio
acadêmico. Uma busca atual no banco de dissertações e teses da Capes nos apresenta ain-
da poucos trabalhos concluídos sobre o tema, a maioria nas áreas de Ciências Sociais e Psi-
cologia, sendo que boa parte trata da observação de grupos de convivência lésbica. Essa
lacuna não se restringe ao Brasil, como atesta a pesquisadora espanhola Simonis (2007):
“A reconstrução da presença das lésbicas na história é fragmentária, dispersa, ambígua e
muitas vezes baseada em hipóteses difíceis de provar. Precisa de muita investigação.” (p.
112, tradução nossa)
1
.
Se fizermos uma retrospectiva histórica para identificar a presença dessas mulheres, veri-
ficaremos que esta se confunde com a história da própria humanidade. Apesar dos pou-
cos registros documentais, até porque muitos foram destruídos, pesquisadores da área
informam sobre a presença de mulheres que têm relações sexuais com mulheres nas mais
remotas e diversas civilizações, entre eles Mott (1987) e Le Breton (2006). Entretanto, a
prática sexual é insuficiente para se falar em identidade lésbica, uma vez que, como res-
salvamos, essa discussão envolve também questões de gênero, sociabilidade, militância
e uma posição fora do modelo heterocentrista.
Luiz Mott (1987) ressalta que, na chegada dos colonizadores ao território americano,
chamou-lhes a atenção a presença de mulheres masculinas, que se casavam com outras
mulheres e que assumiam tarefas destinadas a homens. A mesma observação é feita por
Trevisan (2004) ao citar trechos da carta que o Padre Pero Correa teria escrito em 1551,
entre eles: “há muitas mulheres que assim nas armas como em todas as outras coisas
seguem ofício de homens e têm outras mulheres com quem são casadas.” (p. 67). Será
que, a partir de Mott e Trevisan, podemos realmente considerar essas mulheres lésbicas?
Essa expressão, aliás, sequer existia no Brasil colonial e muito provavelmente o olhar do
colonizado sobre essas práticas se distinguia bastante dos olhos do colonizador.
De doentes a perigosas, as mulheres masculinizadas e que tinham relações sexuais com
outras mulheres sempre estiveram presentes na história do Brasil. É Mott (1987) o respon-
sável pelo mais amplo resgate dessa presença até 1980. Segundo o pesquisador, essas
mulheres faziam parte das mais diversas camadas econômicas e sociais. E é assim que ele
1 “La reconstrucción de la presencia lesbiana en la historia es, pues, fragmentaria, dispersa, ambígua y mu-
chas veces basada em hipótesis hasta hora muy difíciles de probar y fundamentalmente, muy necesitada
de investigación.”
eLas por eLas 8
as encontra, na virada do século XIX para o século XX:
Vasculhando arquivos nacionais e lusitanos (...). Fomos encontrá-las nas
três raças, tanto nas classes baixas quanto nos salões imperiais, seja nos
claustros, seja nos campos de batalha, quer na zona rural, quer nas zo-
nas de meretrício do Rio de Janeiro na virada deste século (MOTT, 1987,
p. 7).
Apesar da constatação do historiador sobre a presença de mulheres que se relacionam
com mulheres em toda a história do país e nas mais diversas classes, percebemos que
as informações são sempre muito vagas e gerais. Embora o material para pesquisa seja
escasso até o momento, acreditamos que, desde o início do século XXI, houve um incre-
mento da discussão sobre lesbianidade, inclusive entre pesquisadores, motivada, entre
outras coisas, por listas de discussão virtuais e blogs, o que foi possível com a crescente
expansão do acesso à internet. Se esse movimento lésbico passa a se dar mais a ver, ainda
que virtualmente, naturalmente provoca maior interesse por parte dos estudiosos. Além
disso, o aumento da militância LGBT, que se tornou mais visível, também acaba por tra-
zer mais atenção para as lésbicas. Outro fator que colabora para o aumento do interesse
acadêmico pelo tema é a presença cada vez mais constante de mulheres homossexuais
nas telenovelas da Rede Globo e a chegada ao Brasil do seriado The L Word. E mesmo a
grande mídia tem começado a abrigar pequenas “lesbolândias”. Em setembro de 2008,
por exemplo, o Grupo Abril convidou o blog Queer Girls para ser um dos Blogs Vips do
portal Abril.com. A escolha foi comemorada pela criadora do Queer, Mari, na lista de
discussão thelword_br:
É uma vitória de tod@s nós!! No portal Abril, o blog terá destaque de
conteúdo na principal página de blogs do site. Isso significa que a diver-
sidade estará presente constantemente naquele espaço, podendo ser
vista e acessada por um público muito numeroso.
Apesar de ter comemorado a vitória, em abril de 2009 o blog saiu do portal por falta de
tempo de Mari para fazer sua atualização.
Se o mundo acadêmico ainda é pouco generoso no que se refere à pesquisa sobre temá-
ticas lésbicas, o mercado editorial segue a tendência dos espaços abertos pela internet e
supre um pouco a carência de informações por meio de obras de ficção e livros de auto-
ajuda destinados àquelas que se descobrem homossexuais. A responsável pela existência
dessa linha editorial é Laura Barcelar. Depois de um longo trabalho de criação e direção
do “Edições GLS”, selo do Grupo Editorial Summus, ela abriu, ao lado de escritoras do
eLas por eLas 9
segmento, a primeira editora lésbica do Brasil, a Malagueta, em agosto de 2008. No site
da Malagueta, 47 títulos, entre publicações próprias e de outras editoras, estavam à ven-
da em novembro de 2009. A editora incentiva a produção de novos livros.
Figura 2 – Portal da Editora Malagueta
Apesar de terem conquistado espaços virtuais e editoriais a partir do século XXI, é pos-
sível observar que as mulheres que têm uma prática sexual diferente da norma heteros-
sexual foram, aos poucos, construindo um estilo próprio, o que acabou lhes rendendo
uma série de “apelidos”. Viñuales (2006) destaca que o mais conhecido, desde o século
XIX, é tribadismo, palavra grega derivada de tribo, que significa frotar, frotarse – em por-
tuguês, aquecer por fricção, esfregar. Posteriormente, foi trocado pela palavra lésbica. Na
ilha grega de Lesbos, viveu Safo, poetisa considerada por Platão a 10ª musa, que cantava
o amor entre as mulheres. Ela criou uma escola para moças, em que as alunas eram
tratadas por heitairai (amigas). Apaixonou-se especialmente por uma delas, Atis, que se
tornou sua maior amante e a decepcionou ao se apaixonar por um moço e ser retirada
da escola pelos pais. O Papa Gregório VII queimou, em Roma, nove dos 10 livros da po-
etisa. Lesbos e Safo hoje são nomes reconhecidos como símbolo da homossexualidade
feminina. Em 1864, ao editar uma coletânea de poemas com o nome Les lesbiennes,
eLas por eLas 10
Charles Baudelaire inicia a divulgação da palavra na literatura francesa. No Brasil, Mott
(1987) registra o uso da palavra pelo menos desde 1894, quando o criminalista Viveiros
de Castro, segundo o autor, introduziu o termo lésbica como sinônimo de “invertida se-
xual”.
A militância homossexual ficou surpresa quando, em maio de 2008, um grupo de mu-
lheres habitantes da ilha de Lesbos iniciou um processo judicial para que a palavra fosse
empregada apenas para designar pessoas originárias ou habitantes da ilha no noroeste
do Mar Egeu, ou seja, para que não fosse mais usada em referência a mulheres gays. A
notícia foi divulgada nos principais jornais do país. Em julho de 2008, a justiça de Atenas
decidiu que a palavra lésbica pode ser usada universalmente para denominar mulheres
homossexuais.
Os juízes do tribunal consideraram o pedido de veto ao termo “ilegal”
e concluíram que as palavras “lésbica e lésbico” não estão atribuídas à
definição dos moradores da ilha. Eles liberaram o uso do termo para [...]
grupos gays da Grécia e de outros países. O grupo que entrou na justiça
contra o pedido alega que o uso do termo lésbica para definir mulher
homossexual insulta a identidade dos habitantes da ilha de Lesbos. Além
de ter o pedido rejeitado, eles terão que pagar as custas do processo,
cerca de R$500,00 (PALAVRA..., 2008).
No Brasil, foi a partir dos anos 1990, com o início de discussões sobre sexualidade mo-
tivadas principalmente pelo aparecimento da AIDS, que novos “tipos” de homossexuais
femininas começaram a se identificar como tal e a serem identificadas pela sociedade,
ampliando o leque de tratamentos. Vieram a esportiva, a lesbian chic, as sandalinhas, as
melissinhas, entre outras, e “aquelas sem signo interno, que podem ser qualquer mulher”
(NAVARRO-SWAIN, 2000, p. 80). Se, mesmo entre as lésbicas, percebe-se a existência de
subdivisões que variam de acordo com o modo de se vestir, cortar cabelo, gesticular,
enfim, de montar a performance do ser lésbica, é fácil concluir que não é possível pensar
em uma identidade lésbica comum a todas as mulheres, até porque ainda divergên-
cias sobre o próprio conceito do que é ser lésbica. Caso prosseguíssemos nessa análise,
muito provavelmente chegaríamos a cada uma das mulheres que se definem como lésbi-
cas e terminaríamos em algo como MG-3263993, o ser único, identificado pelo número
de sua carteira de identidade, que é única. E, mesmo chegando nesse indivíduo isolado,
haveria controvérsias. Na primeira temporada da série The L Word, por exemplo, há uma
personagem, Lisa (Devon Gummersall), que é um homem que se identifica como lésbica.
Será que ele é?
Frente a tamanha diversidade de práticas e de gêneros sempre em trânsito e em cons-
eLas por eLas 11
trução, fica evidente que não é possível fechar uma definição do que é ser lésbica ou do
que é ter tal identidade. Simonis (2007) ilustra essas inúmeras possibilidades de apresen-
tação do estilo lésbico que compõem a identidade lésbica.
imagens lésbicas para todos os gostos e cores: desde as ultrafemininas
até as supermasculinas, passando pelas fêmeas, as butches, as macho-
nas, as andróginas, as que estão em algum lugar entre esses extremos,
entre as muitas possibilidades, as que jamais dormiram com um homem
ou com uma pessoa transexual, travesti, drag queens, drag kings, as sa-
domasoquistas, as que preferem o sexo papai e mamãe, as que utilizam
brinquedos sexuais, as adeptas do couro, as sapas, as gays, as homosse-
xuais, as que têm cromossoma XY com ou sem resignação, as que têm
papéis fixos, as que têm papéis simétricos, as que têm como parceiras
mulheres bissexuais ou heterossexuais, as que tomam testosterona, as
celibatárias, as mães e as que nunca pariram (p. 137, tradução nossa)
2
.
A partir das considerações feitas, que reafirmam a diversidade de estilos pontuada por
Simonis (2007), pensamos que nunca será possível dizer de uma identidade lésbica num
sentido único, restrito, imutável e limitado. Essa dificuldade de se apreender uma identi-
dade, uma vez que os espectros são amplos e estão em permanente mudança, é desta-
cada por vários pesquisadores, entre eles Leal (2008):
Não se trata de negar as possibilidades teóricas e empíricas de identifi-
car as pessoas, grupos ou comunidades a partir de marcas identitárias,
mas de estar em permanente estado de alerta quanto às ambivalências
e volatilidades das identidades, que no momento mesmo em que são
‘capturadas’, já se encontram em processo de transformação (p. 111).
Nesse início do século XXI, assim como Leal (2008), outros pesquisadores brasileiros dos
temas LGBT, entre eles Bento (2006), Benedetti (2005), Facchini (2005) e Louro (2004), ao
tratarem de sexualidade e de identidades complexas, como a de transexuais e travestis, re-
forçam a ideia difundida pela filósofa americana Judith Butler, uma das pioneiras a mos-
trar que corpo, sexo e gênero são frutos de construções e não algo pronto, dado, como
por muito tempo nos fizeram pensar. Butler (2001) defende a ideia de que o gênero é
inconstante e contextual. Sobre o sexo, diz que “é uma das normas pelas quais o alguém
2 “Hay imágenes lesbianas para todos los gustos y colores: desde las ultrafemeninas, a las supermasculi-
nas, pasando por las femmes, las butch, marimachos o machorras, las andróginas, las que están en algún
punto entre los extremos o coquetean, entre las muchas posibilidades, las que jamás se acostaron con un
hombre y/o con una persona transgénero o transexual, travestis, drag queens, drag kings o con una per-
sona intersex, las sadomasoquistas, las que prefieren el sexo vainilla, las que utilizan juguetes sexuales, las
leather, las tortis, las gays, las homosexuales, las que tienen cromosomas XY con o sin resignación, las que
tienen roles fijos, las que tienen roles simétricos, las que están en pareja con mujeres bisexuales o heterose-
xuales, las que toman testosterona, las célibes, las madres y las que nunca parieron.”
eLas por eLas 12
se torna visível, é aquilo que qualifica o corpo para a vida...” (BUTLER, 1999, p. 155). Ao
tratar da construção do sexo, a filósofa argumenta ainda que ela se dá por um processo
temporal, que atua através da reiteração de normas, o que lhe dá o efeito naturalizado.
(...) em virtude dessa reiteração, que fossos e fissuras são abertos, fos-
sos e fissuras que podem ser vistos como as instabilidades constitutivas
dessas construções, como aquilo que escapa ou excede a norma, como
aquilo que não pode ser totalmente definido ou fixado pelo trabalho
repetitivo daquela norma (BUTLER, 2001, p. 163-164).
Dessa forma, Butler (2001) reafirma o quanto é difícil fazer parte daquilo que escapa à
norma que vem sendo reiterada ao longo dos anos. Bento (2006), em pesquisa sobre
transexuais, comprova o pensamento de Butler (2001) de que corpo, gênero e sexua-
lidade são independentes e construídos, ao lembrar que “nessas experiências, um
deslocamento entre corpo e sexualidade, entre corpo e subjetividade, entre corpo e
performances de gênero” (BENTO, 2006, p. 77). A autora acrescenta que os estudos
feministas foram os primeiros a mostrar que gênero e sexualidade só apresentam corres-
pondência com o corpo se a heteronormatividade guiar esse olhar. Assim, o sujeito só é
de fato construído por meio da experiência, o que elimina a idéia heterocentrista de um
referente natural, original, para a vivência das performances de gênero.
Na mesma linha, Benedetti (2005), ao pesquisar sobre travestis, conclui:
As múltiplas diferenças e particularidades vivenciadas pelas pessoas nesse
universo social não podem ser reduzidas a categorias ou classificações
unificadoras, pois estas, ao tornar equivalentes visões de mundo e identi-
dades às vezes até antagônicas, podem ser arbitrárias (p. 17).
A observação de Benedetti (2005) pode ser confirmada empiricamente em questões
corriqueiras do cotidiano. Impressionante é notar, por exemplo, como muitas vezes a
aparência traz um julgamento inadequado. Um fato curioso aconteceu, por exemplo,
na escolha do ator que interpretaria Will Truman, do seriado Will & Grace. Cotado para o
papel, o ator John Barrowman foi considerado hetero demais, e a personagem ficou com
Eric McCormack. Na vida real, ironicamente, Barrowman é gay e Eric é hetero.
Ao lembrar, como os autores citados, que sempre o parâmetro heteronormativo,
Louro (2004) recupera a teoria queer e alerta para o fato de que uma política de iden-
tidade pode se tornar cúmplice desse sistema contra o qual ela pretende se insurgir. Ela
propõe uma política pós-identitária em que o alvo seria a crítica à oposição heterossexual/
homossexual. A partir desse debate, reafirmamos a posição de que discutir a identidade
lésbica não é apreender um modelo que seguiria uma identidade essencialista.
eLas por eLas 13
A partir desse breve olhar sobre questões que permeiam a diversidade lésbica, o que
de fato poderíamos considerar como pontos comuns? Pensamos que apenas três ques-
tões. A primeira se refere à orientação sexual; são mulheres que preferem se relacionar
sexualmente com mulheres. A segunda se refere ao fato de serem cidadãs de segunda
categoria, pois a maioria dos países, entre eles o Brasil, elas ainda não partilham dos
mesmos direitos civis das mulheres que preferem se relacionar sexualmente com homens.
A terceira é lembrada pelo filósofo francês Didier Eribon (2008), que diz da identidade
ferida de gays e lésbicas.
Temos que dizer que somos orgulhosos porque nos disseram para ter ver-
gonha. (...) Identidade ferida e melancólica. Uma identidade construída
inicialmente com o medo e com a vergonha, até o momento em que ela
se reinventa. (...) Uma personalidade dupla, que não vai coincidir nunca
com a ordem social e familiar (ERIBON, 2008, p. 7).
Apesar de concordarmos com a primeira observação de Eribon, pois de fato os homosse-
xuais tiveram que levantar a bandeira do orgulho gay exatamente para ir contra a condi-
ção de vergonha imposta pela sociedade heteronormativa, somos mais otimistas no que
se refere à condenação a essa dupla personalidade. Com o crescimento da visibilidade
homossexual e conseqüentemente de um estilo de vida diferente da heteronormativi-
dade e com o surgimento de novas formas de famílias, mesmo entre os heterossexuais,
é possível imaginar que essa chamada ordem social e familiar tomará consciência de sua
diversidade, que, muito mais que dupla, é múltipla. Parece-nos que o espaço para a exibi-
ção de séries como Queer as folk e The L Word dão pistas dessa nova realidade, abrindo,
conforme comentamos no início deste capítulo, um espaço para discussão dessa tensão,
dessa constante negociação e transição de estilos de vida, prática sexual e gênero.
Se não é possível, como apontam os autores, pensar numa identidade sexual fixa, no
caso das lésbicas essa dificuldade é reforçada também pela pouca bibliografia disponível.
Se não como se falar em todas as lésbicas sob um ponto de vista único, podemos
pensar em identidades sociais, coletivas, e, a partir de algumas mulheres que nas últimas
décadas dedicam-se à pesquisa da lesbianidade, resgatar alguns momentos comuns. É
possível também pensar em como essas mulheres únicas foram apresentadas, pois isso
sempre nos dirá de um olhar da sociedade sobre esse grupo.
Trata-se, então, de um movimento oposto ao de definição de identidade lésbica. Trata-
se de trazer para o debate questões que estarão sempre em tensão, em negociação na
composição desses estilos de vida lésbicos, entre elas o gênero – o ser mulher –, a orien-
tação e a prática sexuais não heterocêntricas, a rede de afetividade e a sociabilidade.
eLas por eLas 14
Interessa ainda pensar na dificuldade de se colocar todas as mulheres que se identificam
como lésbicas sob o mesmo guarda-chuva e estar atentos para o fato de que estilos de
vida e identidades estão sempre em trânsito, em movimento.
A partir disso, podemos observar de que forma essas mulheres foram apresentadas e
tratadas ao longo da história. Os tipos mais comuns presentes no imaginário social, como
destaca Navarro-Swain (2000), são os ligados a mulheres com aparência e atitudes consi-
deradas mais masculinas. São eles: mulher-macho, paraíba, sapata, fanchona, caminho-
neira, butch e dyke. Seguindo o binarismo da visão heterocentrista, por muito tempo,
especialmente até a década de 1980, predominou no Brasil a visão de casais butch/
femme. De um lado, a homossexual masculinizada, provedora e ligada a um papel mais
ativo na relação. Do outro, a homossexual feminina, delicada, a mulher fazendo papel de
mulher. A pesquisadora espanhola Simonis (2007) argumenta que essa identificação de
lésbica como a mulher masculina diz muito pouco da diversidade desse grupo, que varia
de classe, idade, raça e ideologia: “(...) a única coisa que têm em comum é a opção sexual
e, em alguns casos, um programa político afim” (p. 112, tradução nossa)
3
.
Condenadas a viver dentro de armários, ou restritas aos “brejos”, as lésbicas, também
conhecidas como “sapas” no Brasil, só começaram a se organizar, tornar-se visíveis, apre-
sentar-se coletivamente e a reivindicar direitos a partir dos anos 1960, incentivadas tam-
bém pela luta maior de busca de direitos para as mulheres encampada pelo movimento
feminista. Um acontecimento que também colaborou na organização dos homossexuais
foi a revolta contra as perseguições policiais a esses grupos iniciada no Stonewall Inn,
em Nova York (EUA), e nas ruas ao redor, em 1969. Apesar de ter ficado conhecido mais
como um embate entre homossexuais masculinos e a polícia, as lésbicas também esta-
vam presentes. A Curve Magazine, voltada para o público lésbico nos Estados Unidos,
recuperou a história de uma dessas mulheres, na edição de janeiro/fevereiro de 2008.
Nesta edição, conta a história de Storme DeLarverie, hoje com 85 anos, que na noite do
massacre foi confundida com uma drag queen e levou uma garrafada na cabeça.
A partir do momento em que começaram a se agrupar, a se tornar visíveis, a se encontrar
em bares e se reconhecer como grupo, as lésbicas passaram também a se definir, tirando
essa prerrogativa de grupos alheios a sua realidade. Entre as definições mais emblemáti-
cas estão a do grupo Radicalesbians, dos Estados Unidos, organizado em 1970, citado
por Mott (1987) e por Sanfeliu (2007).
3 “...lo único que tienen en común es su opción sexual y, en algunos casos, un programa político afin.”
eLas por eLas 15
Uma lésbica é a revolta de todas as mulheres condensada no ponto de
explodir. É a mulher que começa muitas vezes em tenra idade a agir de
acordo com sua compulsão interior, tornando-se um ser humano mais
completo e livre do que sua sociedade quer permiti-lo. As lésbicas, por-
tanto, não estão dispostas a aceitar as limitações e opressões que lhes
são impostas pelo mais básico papel social: o papel de fêmea. (WOLF,
Debora G apud MOTT, 1987, p. 12-13).
É fácil identificar como a definição tem uma conotação política, distante de limitar-se
apenas à atração sexual e muito ligada à luta feminista. Na mesma linha, acentua Mott
(1987), em 1977, o grupo Coletivo de Lesbianas de Barcelona define a mulher lésbica
como aquela que é sujeito e objeto de sua sexualidade e que subverte os papéis a ela
dados pela sociedade comandada pelos homens, sendo aquela mulher que se rebela
contra os limites e opressões impostos ao papel feminino.
Viñuales, por sua vez, (2006) pontua o quanto os espaços de convivência, como bares e
restaurantes, são importantes nas interações sociais e o quanto estas têm repercussão na
forma como nos definimos. Segundo a autora, ao se falar de identidade lésbica, sempre
se deve tratar de três temas: coming-out; papéis de gênero e práticas sexuais; relações de
parceria e papéis de parentesco.Talvez estejam nessas observações da autora boas pistas
para entender o sucesso de The L Word e as conexões que a série favorece.
Depois de se perceber lésbica, Viñuales (2006) acredita que uma das primeiras impres-
sões que aparecem é a de isolamento e a consequente necessidade de construir uma
narrativa. Sua ideia é de que apenas com o contato com similares é possível legitimar
o que se é, sendo a identidade lésbica construída na consciência de ser um objeto de
discriminação, no destaque ao caráter essencialista da homossexualidade e na crença de
que se faz parte de um mundo, de um estilo de vida diferente do heterossexual. Passada
essa sensação, quem se descobre lésbica também irá enfrentar a falta de representação
na mídia, o que reforça ainda mais a busca pelos guetos, espaços em que se sentirá
mais à vontade e ao lado de similares. Entretanto, ainda que um grupo de mulheres se
defina como lésbicas, Viñuales (2006) questiona se esse processo pode ser considerado
a configuração de uma identidade social. Segundo ela, por se construírem dentro de um
modelo sexual hegemônico, acabam por reproduzi-lo. De qualquer forma, ela ressalta
que após as fases de aceitação como lésbica, de revelação e de visibilidade, a mulher
encontra nos grupos lésbicos o sentimento de pertencimento a uma categoria.
Navarro-Swain (2000) lembra que, antes de posições políticas, a lesbianidade se define
primeiro como uma prática sexual, colocando em xeque a “legitimidade e a dominação
eLas por eLas 16
do “natural” heterossexual, fundado em torno de um sistema de crenças científicas ou
religiosas” (p. 88). Ela resgata uma pesquisa realizada pelo Mouvement d’information et
d’expression des lesbiennes sobre o “Ser lesbiana” e que coloca no termo lesbiana a repre-
sentação de uma afirmação de identidade, “afirmação que se dirige no sentido de uma
maior visibilidade. Nas relações entre mulheres, esta visibilidade não deve se expressar
somente em um modo de vida sexual ou emocional, mas igualmente por um questiona-
mento da sociedade sexista e patriarcal e contra a heterossexualidade compulsória por
ele veiculada”. (NAVARRO-SWAIN, 2000, p. 92).
Em Lesbofobia, Viñuales (2002) recupera conceitos e processos de constituição de iden-
tidades, lembrando que podemos ou não aceitar as identidades que nos são impostas
pela coletividade na relação entre o que nos atribuem e o que reivindicamos como
tal se forma o núcleo central da identidade. Ao mesmo tempo, a autora lembra que a
identidade é mutável e frágil, como já destacamos. A partir de Heráclito, a pesquisadora
lembra que o que somos, sentimos, pensamos é resultado da interação social. Logo, o
conceito de identidade é um processo. “As pessoas não são, as pessoas estão”, afirma
(VIÑUALES, 2002, p. 71, tradução nossa)
4
.
Ela relaciona algumas características comuns de mulheres que se definem como lésbicas
pelo valor simbólico negativo que essa identidade carrega. Entre elas, estão não poder
expressar afeto em público e não ter alguns direitos legais. Ou seja, o ponto de encontro
seria exatamente no que as lésbicas são tratadas como cidadãos de segunda categoria,
uma vez que contribuem como qualquer um com impostos e taxas sem, entretanto, po-
der usufruir dos mesmos direitos constitucionais e civis.
Navarro-Swain, ao promover um traçado histórico de grupos de militância lésbica e dis-
cutir suas diversas autodefinições, acaba por concluir que a lesbianidade não pode cons-
tituir uma identidade. Sua avaliação é a de que a denominação lésbica envolve um
conjunto de proposições e práticas diluídas em indagações que envolvem discussões
sobre mulher e gênero. E questiona: Como alguém pode ser uma prática sexual? Como
se pode ser lésbica? Para Navarro-Swain (2000),
criam-se grupos em busca de objetivos comuns, proteção de direitos.
Mas que laços pode criar uma prática sexual, a não ser a possibilidade
de encontros mais fáceis num meio específico? Os famosos ghetos, ou a
gay scene, são as boates, bares, cidades como Provincetown, Montreal,
São Francisco, Sydney ou mesmo Parati (p. 91).
4 “...las personas no son, las personas están.”
eLas por eLas 17
Apesar de concordarmos com o fato de ser difícil abarcar um grupo de mulheres em
nome de uma identidade, discordamos do que impulsiona a reunião de coletivos de mu-
lheres homossexuais, que a nosso ver vai além da simples busca de uma parceira sexual.
Em muitos casos, essas pessoas se aglutinam para buscar entender individualmente seus
próprios processos e também para que, em grupo, possam passar a reivindicar o exercí-
cio efetivo de cidadania como casar, ter filhos, ser dependente da parceira no plano de
saúde e no imposto de renda etc.
Além disso, é certo que essas pessoas que se assumem lésbicas acabam sendo cobradas
por diversos segmentos da sociedade, como família e trabalho, e ganham um rótulo que
acaba por se tornar a sua identificação pessoal, a lésbica, quando, na verdade, deveria
ser apenas algo que a integra, que é parte do sujeito, como observa Gomide (2006):
Em uma sociedade heterocentrista, qualquer atitude que afaste um ser
humano nascido com o sexo feminino de seu papel de gênero de mu-
lher é vigiada e cobrada. Nesse sentido, movimentos subjetivos que se
referem na verdade a uma parcela da identidade de um indivíduo aca-
bam aparecendo socialmente como uma característica dominante da
personalidade e toda uma construção social é feita sobre esses deter-
minados atos ou características, globalmente denominados orientação
sexual (p. 28).
Uma das discussões contemporâneas mais interessantes sobre o tema é a de Luz Sanfe-
liu, que mostra o quanto a identidade é fluida, está sempre em tensão e se cola a sua
representação social. Sanfeliu (2007) traça um poético panorama da lesbianidade a partir
da seguinte pergunta: onde me colocam ou me coloco na foto do casamento? A brin-
cadeira se refere à dificuldade de se posicionar o desejo homossexual feminino dentro
de discursos culturais ao longo dos tempos. Ao tentar responder à pergunta, a autora
propõe, quadro a quadro, quais seriam as imagens das lésbicas ao longo da história. A
primeira delas, que vai até o final do século XVIII, teria muitas páginas em branco, algu-
mas danificadas, apenas alguns fragmentos, que davam notícias de pecadoras, tríbadas,
viragos, mas quem elas eram? Era “L, a de mil nomes” (SANFELIU, 2008, p. 28, tradução
nossa)
5
. Predominava o poder dos homens de dizer quem eram. Logo, vigoravam a falta
de definição social e o silêncio documental, uma vez que a matriz hegemônica da sexu-
alidade considerava a identidade lésbica inexistente. A próxima imagem proposta é a do
nascimento de uma identidade lésbica, mas ainda tendo a heterossexualidade como o
padrão da normalidade. Assim, a lésbica era aquela que sofria de alguma enfermidade
5 “L, la de los mil nombres”
eLas por eLas 18
mental ou biológica. E, se havia o desvio sexual, considerava-se que havia também o
desvio de gênero, pois o caráter político do discurso sobre sexualidade mantinha os bina-
rismos excludentes e reducionistas.
O começo do século XX, considerado pela autora a infância da identidade lésbica, marca
o início do protagonismo feminino, concretizado na foto do círculo de lésbicas de Paris,
“as primeiras que se atreveram a falar de sua própria sexualidade sem ter o discurso he-
terossexual como referência” (SANFELIU, 2008, p. 31, tradução nossa)
6
. Nesse contexto,
principiam-se as primeiras rupturas do binarismo que estabelece especialmente a noção
de sexo biológico que opõe homem e mulher; surgem os movimentos feministas e as
mulheres mostram que podem desejar outras mulheres sem ter de recorrer à masculiniza-
ção. Na quarta foto, datada pela autora nos anos 1960, 1970, as imagens começam a se
multiplicar e a se tornarem diversas, como vídeos domésticos. Ao mesmo tempo em que
o movimento lésbico começa a aparecer dentro do feminismo, também sente a necessi-
dade de ser um grupo desvinculado. Os movimentos LGBT iniciam uma política identitá-
ria e de reivindicação. Começam os primeiros movimentos de coming-out, incentivados
sobretudo pela ruptura de silêncio e pela busca de visibilidade iniciadas nos Estados Uni-
dos. Nos anos 1980, a próxima imagem proposta é a de um filme com autoras de alta
qualidade. Começam os questionamentos sobre o que é ser lésbica; intelectuais rompem
padrões estabelecidos pelo heterocentrismo. Entre essas, Sanfeliu destaca Adrienne Rich
e Monique Wittig. De Rich, Sanfeliu recorda a defesa de que a heterossexualidade deve
ser reconhecida e estudada como uma instituição política e uma imposição por parte da
sociedade patriarcal. De ambas, a autora recupera o argumento de que a lesbianidade
põe em questão a heterossexualidade como norma obrigatória. Sanfeliu retoma a afirma-
ção de Wittig de que a lésbica não é mulher, uma vez que esta é vista como aquela que
se relaciona com o homem.
A identidade lésbica passa a ser um espaço de questionamento de gênero. Sanfeliu
(2007, p. 37) acredita que essa fase propicia, então, a possibilidade de se reinventar cate-
gorias com as quais há identificação, de se encontrar novas formas e linguagens, como
sugere a teoria
queer, que são híbridas e mutantes. Para ela, nesse momento a identidade
lésbica está na sua fase criança e pode reivindicar seu próprio álbum de recordações,
deixando de apenas ocupar um lugar no álbum de outros. Começa a fase de visibilida-
de e reconstrução das várias identidades lésbicas. Sanfeliu lembra Nicole Brossard, que
sentenciou: “uma lésbica que não reinventa a palavra é uma lésbica em processo de de-
6 “...atrevieron a vivir y hablar de su propia sexualidad sin tener como referencia la cultura heterosexual.”
eLas por eLas 19
saparecimento” (BROSSARD apud SANFELIU, 2008, p. 37, tradução nossa)
7
. Ao retomar
a pergunta inicial de seu texto “onde me coloco na foto de casamento?” –, e consi-
derando que a Espanha, desde 2005, legalizou o casamento homossexual, ela lembra
que, agora, a foto pode ser a do próprio casamento: “... na foto do próprio casamento
é possível que se adote uma posição excêntrica, pouco adequada, que se organize uma
pequena desordem que obrigue os familiares a se deslocarem...” (SANFELIU, 2008, p. 38,
tradução nossa)
8
. Para ela, essa é a metáfora que ilustra as diversas posições dos discur-
sos sexuais e culturais, que carregam implícitas articulações que se traduzem em uso de
poder e estabelecimento de hegemonias.
Apesar de ainda estar em uma fase de construção de visibilidade e reconhecimento, ou
seja, de representação, é importante ressaltar que alguns avanços foram alcançados ao
se falar em identidade lésbica. Hoje, não se identifica mais a mulher homossexual apenas
como aquela pessoa destituída de sexualidade ou massacrada por discursos religiosos ou
médicos. Sobre o prazer, Viñuales (2002) cita a ativista lésbica feminista Pat Califia, que
dizia: “quando alguém tenta me culpar pelo caminho que escolhi para chegar ao prazer
é porque quer algum controle sobre a minha vida” (CALIFIA apud VIÑUALES, 2002, p. 96,
tradução nossa)
9
. Isso nos ajuda a entender o porquê, por tanto tempo, se tentou negar,
estereotipar a sexualidade das mulheres, especialmente das lésbicas.
Atualmente, na Espanha, foco de estudos de Viñuales, e em outros países, mais espaço
para a visibilidade lésbica nas ruas e nos meios de comunicação. Falar de um estilo lésbico
vai se tornando, assim, uma tarefa cada vez mais difícil, pois as pessoas começam a perce-
ber que mesmo aquela vizinha feminina, que não responde a nenhum dos estereótipos
forçados pela mídia e por discursos conservadores, pode ser uma lésbica. Por outro lado,
Viñuales acredita que essa proliferação de espaços de convivência de mulheres homosse-
xuais, incrementados principalmente pela internet, acabou por enfraquecer a militância.
Finalmente, as novas tecnologias da informação, entre elas os chats, es-
tão modificando a socialização entre as mulheres. As jovens lésbicas que
têm apoio familiar não sentem necessidade de tornar sua homossexuali-
dade pública, visível e têm menor consciência política. Assim, os grupos
de militância estão em um momento crítico, pois têm que enfrentar a ta-
7 “Una lesbiana que no reiventa la palabra es una lesbiana en proceso de desaparición.”
8 “Cuando tal vez estén ante sua propia boda, cuestiónense al menos cómo quierem ponerse en la foto
nupcial. Es posible que, si ustedes adoptan una posición excéntrica y no del todo adecuada, organicen un
pequeño desorden que obligue a sus familiares y amigos a ‘descolocarse’ un tanto.”
9 “...cuando alguien intenta hacerme sentir culpable por el camino que elijo para llegar al placer, quiere
algún control sobre mi vida.”
eLas por eLas 20
refa de criar um sentimento identitário que as aglutine ao mesmo tempo
em que precisam respeitar o individualismo e a necessidade de indepen-
dência das novas gerações (VIÑUALES, 2002, p. 82, tradução nossa)
10
.
Para Viñuales (2002), os espaços de sociabilidade facilitados pela internet acabaram por
fazer com que as mulheres homossexuais se afastassem da militância, uma vez que pelo
menos individualmente encontram nesses grupos virtuais espaços de apoio e troca de
ideias. Para ela, esse formato prejudica a militância de mulheres homossexuais que se
reúnem para tratar e reivindicar questões mais coletivas especialmente relacionadas a
direitos civis. Nesse ponto, discordamos da autora, pois a responsabilidade pelo enfra-
quecimento da militância não pode ser atribuída a um avanço tecnológico. Aliás, se bem
utilizadas, as novas tecnologias podem servir exatamente para o movimento oposto,
favorecendo estratégias de mobilização antes impossíveis, dadas as barreiras de tempo e
espaço. Basta ver o sucesso alcançado pela série de TV The L Word, que conseguiu dia-
logar com e fomentar o diálogo entre lésbicas de todo o mundo antes mesmo que fosse
ao ar nos canais de TV a cabo, pois tão logo era exibida nos EUA, as fãs se encarregavam
de copiar, distribuir pela internet e criar grupos de discussão para debater a trama e os
temas relativos à lesbianidade tratados pelo programa. Caso não existissem os avanços
tecnológicos, a série certamente não alcançaria tamanho sucesso, pois seria exibida a
cada tempo em um lugar, o que diminuiria seu impacto. Além disso, sem a presença de
chats e redes sociais, as discussões seriam praticamente inviáveis ou se limitariam a trocas
presenciais entre grupos de pessoas que se conhecem. Vale registrar que Viñuales
(2002) se refere à militância espanhola. No Brasil, o movimento lésbico é considerado
incipiente, conforme pontua Facchini (2005).
Viñuales (2002) ressalta, ainda, que a expressão política da lesbianidade extrapola uma
identidade sexual, sendo uma atitude que compromete a política de gêneros. “Ela abala
especialmente o poder que os homens tiveram até então de definir as mulheres, sobre-
tudo no que diz respeito a seu valor e dignidade” (VIÑUALES, 2002, p. 112, tradução
nossa)
11
. Na mesma linha, Simonis (2007) defende que as lésbicas têm a capacidade de
10 “Finalmente, las nuevas tecnologias de la información “los chats“ están modificando la socialización em
el ambiente de mujeres. Las lesbianas jovens que cuentan com apoyo familiar no sienten La necesidad de
hacer pública y visible su homosexualidad, es decir, tienen menor conciencia política. Em consecuencia
los colectivos están em um momento crítico, ya que tienen que afrontar La tarea de crear um sentimiento
identitario alrededor del que organizarse que respete, al mismo tiempo, el individualismo y La necesidad
de independência de las nuevas geraciones.”
11 “...es uma actitud que compromete seriamente la política de géneros, especialmente en lo que respecta
al poder que han tenido hasta ahora los hombres para definir a las mujeres y, sobre todo, para decidir su
valor o dignidad.”
eLas por eLas 21
ver a mulher como sujeito, pois a entendem, compreendem, amam como espelhos, en-
quanto os homens a veem apenas como objetos. Tal simbiose se apresenta perigosa para
as estruturas hierárquicas do poder masculino.
Esse panorama nos mostra que ainda muito a pesquisar sobre a lesbianidade e suas
representações, uma vez que as identidades são fluidas e os que tentam defini-la acabam
sendo redutores, controversos e se limitando a apenas uma versão das muitas possíveis
para o que seriam a lésbica ou a identidade lésbica. Fica evidente o avanço que deixa
cada vez mais distantes visões redutoras, negativas, binaristas e estereotipadas dessas
mulheres que são como qualquer outra mulher, qualquer outra pessoa, mas não como
qualquer outro cidadão, se pensarmos em termos políticos.
Especialmente no que se refere às lésbicas, foram raros, como já colocamos, os momen-
tos em que elas se viram sendo apresentadas, debatidas, pensadas, ou seja, em espaço
de visibilidade. É fácil constatar a dificuldade de se falar dessa identidade e consequente-
mente de sua representação porque seria como reduzir a uma imagem congelada algo
que está em trânsito, em permanente construção. A mídia sempre se limitou a apresentá-
las como pessoas problemáticas ou, ainda que em programas mais recentes o tema fosse
tratado com mais naturalidade, não merecedoras de destaque. Em meio a esse contexto,
a série The L Word, que traz um grupo de lésbicas como protagonistas, é um produto
que desponta, destaca-se e se diferencia profundamente do já exibido até então. Mostra-
se, assim, um curioso e provocante objeto a ser analisado para pensarmos de que forma
a série traz essa vida em construção, uma vez que não uma apresentação única desse
grupo, posto que não há uma identidade fixa.
eLas por eLas 22
2 LONGE DO FIM, MAIS PERTO DO TELESPECTADOR
A vida é a menos realista das ficções
12
.
Vladimir Nabokov
Desde sua criação, nos anos 1920, a televisão altera a sua forma, da produção à distri-
buição, adaptando-se ora a novas condições de produção, a novas tecnologias, ora a
demandas do telespectador. Ao longo das décadas, inclusive no início do século XXI,
constatamos que o meio está em permanente evolução. Essa constante transformação,
que a torna uma forma histórica sempre em mudança, leva praticamente todos os pes-
quisadores do tema, entre eles Machado (2003), a pontuar o quanto é difícil conceituar
a televisão.
Televisão é um termo muito amplo, que se aplica a uma gama imensa de
possibilidades de produção, distribuição e consumo de imagens e sons
eletrônicos: compreende desde aquilo que ocorre nas grandes redes co-
merciais, estatais e intermediárias, sejam elas nacionais ou internacionais,
abertas ou pagas, até o que acontece nas pequenas emissoras locais de
baixo alcance, ou o que é produzido por produtores independentes e
por grupos de intervenção em canais de acesso público. Para falar de
televisão, é preciso definir o corpus, ou seja, o conjunto de experiências
que definem o que estamos justamente chamando de televisão (p. 19).
Dada a complexidade do meio, Machado (2003) reforça o cuidado necessário ao falar
de televisão e o quanto é preciso recortar e focar o que se pretende observar, a fim de
deixar claro a que tipo de televisão cada pesquisa se refere. Neste capítulo, interessa-nos
investigar, sobretudo, a relação da TV contemporânea, especificamente das séries, com
o telespectador, bem como de que forma o meio tem se alterado ou não a partir de sua
ligação com a internet, que, para pesquisadores como Jenkins (2008) e Ross (2008), vem
se mostrando um laço fundamental para a sobrevivência do dispositivo. Para isso, nosso
percurso investigará a ficção televisiva, especificamente as séries de TV, e como a lingua-
gem desse tipo de programa evolui em forma, tema e relação com o telespectador.
Para nos ajudar a entender as peculiaridades do objeto que pesquisamos, pensemos, pri-
meiro, se é possível definir claramente os limites entre a ficção e a não ficção. Se, em pro-
gramas jornalísticos considerados de não ficção, vemos muitas vezes o uso de recursos
12 “Life is the least realistic of fictions.”
eLas por eLas 23
claramente típicos da ficção, em programas ficcionais encontramos aspectos que nos dão
a sensação de serem relatos de episódios não ficcionais ou pelo menos com referência di-
reta a fatos ocorridos, o que é facilmente identificável. Na série The L Word, por exemplo,
frequentemente as personagens fazem menção a acontecimentos do momento, como
críticas ao governo Bush e à Guerra do Iraque. Além disso, as personagens participam de
cruzeiros, de grandes festas lésbicas e da Parada LGBT 2005, protagonizando e resgatan-
do acontecimentos conhecidos e populares na vida das homossexuais americanas. Um
fato também muito interessante e que nos leva a pensar, ainda que apenas como exer-
cício, se The L Word é estritamente ficção, é a participação especial de Gloria Steinem,
jornalista e feminista americana. Steinem vai ao velório do pai de Bette Porter (Jennifer
Beals) e depois protagoniza um bate-papo com as principais personagens, tratando de
sexualidade e do ser lésbica; enfim, atua como ela mesma. Não nos interessa aqui dis-
cutir o grau de ficcionalidade ou não dos programas de TV, mas dar um panorama de
algumas abordagens sobre essa discussão, as quais nos ajudarão a entender melhor o
programa de entretenimento, nosso objeto de estudo.
Para Jost (2004), por exemplo, pode parecer natural classificarmos os telejornais como
realidade e as séries como ficção. O autor ressalva, porém, que a ficção pode ser vista
como o real e o real como um show. Ele atesta que “nenhuma emissão pode ser classifi-
cada como pertencendo seguramente a esse ou àquele mundo” (JOST, 2004, p. 2). Balo-
gh (2002) defende que o ficcional pode até se inspirar em fatos reais, mas que tem leis de
elaboração próprias que o distinguem da realidade. Como Jost (2004), a autora admite
que real e ficcional convivem, um invadindo o outro e trazendo formatos híbridos, seja
por mescla de gêneros, intertextualidade ou metalinguagem. Entretanto, a pesquisadora
defende que o mundo ficcional tem protocolos próprios de abertura, fechamento e con-
dução das narrativas. Poderíamos considerar isso como molduras próprias a determina-
dos gêneros de programas, como ela mesma pontua:
Na televisão, as vinhetas de abertura e fechamento constituem elemento
muito importante dos relatos de apresentação nos formatos ficcionais de
TV. (...) Ela determina o clima, a época, eventualmente o gênero da série
e conduz a leitura do espectador. Em geral, é realizada em separado do
restante da série e, atualmente, se presta a experimentações na área da
computação gráfica, frequentemente terminando por constituir um es-
petáculo à parte (BALOGH, 2002, p. 71).
Ao reconhecer esses recursos destacados por Balogh (2002), o telespectador já tem um
determinado olhar sobre o que assistirá. Sob a perspectiva de Jost (2004), esse olhar
colocará o receptor na expectativa de que se cumpra a promessa do programa, que
eLas por eLas 24
começa desde a sua divulgação, passando pelo título, até a obediência às regras esta-
belecidas. A partir das observações de Jost (2004) e Balogh (2002), podemos lançar um
olhar analítico sobre as vinhetas de abertura dos programas televisivos. Se observarmos,
por exemplo, a abertura de Lost, seriado exibido no Brasil desde 2005, ela nos parecerá,
a princípio, na contramão dos programas contemporâneos, que, em geral, abusam de
imagens, de efeitos e dos que irão protagonizá-los. Em Lost, temos apenas um fundo
preto e o nome da série entra em letras brancas num movimento meio circular e diagonal
até que a palavra estoure na tela. A música, apenas instrumental, começa junto com a
escrita e aumenta à medida que as letras se aproximam do telespectador.
Figura 3 – Vinheta de abertura de Lost
Nada mais básico, não? Pois é exatamente com essa abertura minimalista, de fundo preto
e letras brancas, e com uma música de causar arrepios, que a vinheta de abertura conse-
gue sintetizar a proposta da série. Perdidos personagens, perdidos telespectadores. Mais
a trama se desenrola e menos os personagens sabem com quem lidam ou onde pisam.
Mais os telespectadores assistem à trama, mais precisam se embrenhar por ela para con-
seguir respostas. Mais aproximação, mais escuridão e mistérios. Todos perdidos em meio
a uma escuridão que, quanto mais nos aproximamos e enxergamos, mais aterradora e
misteriosa se mostra. Assim, desde a abertura dos programas, conseguimos perceber
a forma e o sentido com que os produtores desejam despertar o telespectador, confor-
me destaca Eco (2006): “Com os universos ficcionais sabemos sem dúvida que têm uma
mensagem e que uma entidade autoral está por trás deles como criador e dentro deles
como um conjunto de instruções de leitura.” (p. 122).
Jost (2004) acrescenta que o mundo da ficção é livre para inventar, desde que não mude
eLas por eLas 25
as regras propostas para o desenvolvimento da narrativa, apresentadas em comerciais e
programas-piloto, sob pena de romper as condições de recepção. Neste, o gênero é a
interface entre telespectador e emissor. Se o programa, por exemplo, é etiquetado como
comédia, espera-se que faça rir. O autor defende que exista um modelo de promessa
entre produtor e receptor. Esse modelo exigirá atenção e participação ativa do receptor a
partir do que é proposto pela produção. O receptor estará sempre atento e participando
da condução dos programas, como uma espécie de fiscal para fazer com que o produtor
cumpra sua promessa. Jost (2004) acredita que o modelo de promessa é mais cidadão,
por exigir uma contribuição ativa do receptor, pois caberá a ele exigir o cumprimento da
proposta oferecida pelo programa e não simplesmente se manter passivo frente à progra-
mação recebida.
Uma possível quebra de promessa talvez seja a causa da insatisfação das fãs com a sexta
e última temporada de The L Word e ilustre na prática o que Jost (2004) propõe na teoria.
Como o primeiro capítulo mostra um possível assassinato de Jenny Schecter, nos demais
a atenção da telespectadora é chamada a descobrir quem seria o criminoso. Com isso,
boa parte dos episódios gira em torno dos motivos que levariam as suspeitas a matá-la.
Instaura-se, dessa forma, um clima de suspense que, até então, não estava dentro das
expectativas das telespectadoras. Além disso, a história passa a focar muito a persona-
gem Jenny Schecter, que não conquistou a simpatia de boa parte do público. Muitas
das fãs comentaram em listas de discussão, entre elas a lista thelword_br, que a autora
pecou por apresentar esse assassinato ao final da série, porque estavam satisfeitas em
acompanhar o cotidiano das amigas lésbicas, seus dramas amorosos e familiares; muitas
também julgam que não seria necessário esse clima de mistério e que bastaria levar The
L Word até o final seguindo sua proposta de ser um drama lésbico. Além do mais, se há
um assassinato num drama, o público em geral espera que ele seja desvendado. Mais
uma promessa não cumprida.
A mudança de rumo parece ter desagradado a muitas telespectadoras, o que se pode
perceber nas respostas à enquete postada por Mah, na comunidade do Orkut The L
Word-Brasil ORIGINAL. A usuária fez a seguinte pergunta: “O que achou do final da sé-
rie?” Dos 950 votantes, que escolheram entre as oito opções deixadas pela proponente
até 17/11/2009, 186 disseram “Nãããooo sei... Ahhh!!! acabouuuu Búúúaaa!!!” [sic]; 185
optaram por “Considerável [sic] (ficou muita coisa no ar) irritada!”; 134 ficaram com “Foi
bom. (Vai ter o filme, esperando o real final)”; 123 escolheram “Quero matar IC... vou
degolar aquela vaca! Q ODIO [sic]!”; 121 preferiram “Uma completa PORCARIA (acabou
com o seriado)”; 106 acharam “Uma droga (mas ate que valeu a pena assistir) [sic]”; 61
eLas por eLas 26
disseram que “me sento de uma forma não descrita á cima (coment)” [sic] e apenas 34
aprovaram plenamente o final ao escolherem a opção “Adorei (simplesmente perfeito ñ
poderia ser melhor) [sic]”.
Fonte Disponível em: http://www.orkut.com.br/Main#CommPollResults?cmm=52139&pct=1236926244&pid=18121
12305. Acesso em 29 nov. 2009.
Gráfico 1 – “O que achou do final da série?”
Esse tipo de enquete, sempre acompanhado de desabafos das fãs e discussões em fó-
runs, serve para ilustrar que a web parece favorecer o cumprimento do papel ativo da
telespectadora de The L Word, uma vez que ela desaprova publicamente o final, exigindo
dos roteiristas que de fato se concretize nas telas a promessa de mostrar o l world. Além
de propor o modelo de promessa, ao tratar dos acessos ao mundo ficcional, Jost (2004)
destaca outras duas características: a atualidade e a universalidade. A primeira se refere
a semelhanças com personagens e cenários do mundo em que vivemos. A universalida-
de, por sua vez, traz ao telespectador o reconhecimento de situações como amor, ódio,
ciúme e sede de poder. Isso talvez ajude a explicar, por exemplo, o fato de The L Word
fazer sucesso entre lésbicas de culturas, raças e situações econômicas tão diversas. As
personagens parecem acionar tanto temas da atualidade, que vão da política externa
americana à pauta de discussões LGBT, quanto questões universais caras ao telespecta-
dor em geral.
Também colabora para a discussão sobre a diferença entre ficção e não ficção a pesquisa
realizada por Hill (2005) junto a telespectadores, em que coloca em questão conceitos
como veracidade, realidade e autenticidade. Segundo a pesquisadora, em reality shows,
por exemplo, quanto mais atuam os atores não-profissionais, as pessoas ordinárias, mais
os telespectadores tendem a julgá-los irreais, pois esperam espontaneidade dos participan-
tes. Cai-se num dilema, pois nesse tipo de programa espera-se uma atuação que faça
parte da estratégia para ganhar o jogo. Entretanto, essa necessária atuação acaba distan-
ciando o programa da proposta que seu nome carrega, ou seja, de ser um reality show.
Além disso, é preciso pensar de que forma o telespectador verifica essa autenticidade
eLas por eLas 27
no desempenho dos participantes, pois, a todo momento, coloca em xeque o compor-
tamento dos integrantes: falso ou verdadeiro? Hill ressalta que, ao julgarmos a autenti-
cidade das performances, estamos pensando de que forma essas pessoas deviam agir
e certamente temos como parâmetro nosso próprio comportamento. Se pensamos a
autenticidade desses comportamentos, consequentemente acabamos por questionar o
grau de veracidade dos programas, que, no caso dos reality shows, também estão su-
jeitos ao formato do programa, edições, manipulação de imagens, etc. Nesse aspecto,
podemos fazer um paralelo da pesquisa de Hill com as séries de TV e pensar em que me-
dida elas emplacam ou não. Se pensarmos especificamente em The L Word, lembrando
que a história gira em torno do dia a dia de amigas lésbicas, podemos tentar entender de
que forma a perfomance das personagens colabora para o grau de veracidade da série
ao colocar na pauta do dia questões que são comuns a lésbicas de todo o mundo, ou
seja, ao acionar os elementos de atualidade e universalidade propostos por Jost (2004).
São críveis?
Ao discutir também os limites entre ficção e não ficção, Balogh (2002) lembra ainda o
merchandising feito em programas ficcionais, que, em muitos casos, tem repercussão direta
na realidade. Parece-nos, assim, que os chamados mundos real e ficcional estão a todo o
momento se reinterpretando e reconstruindo, conforme pontua a autora.
O merchandising social e o político invadem a ficção. O mundo da fan-
tasia convive com um simulacro precário de espaço público no qual são
representados e tratados problemas que as instituições pertinentes não
tiveram eficácia ou correção para resolver (BALOGH, 2002, p. 196).
Esse merchandising social destacado por Balogh (2002) é um recurso muito utilizado
pela telenovela brasileira, especialmente na programação que vai ao ar às 21 horas, e
também está presente nas séries norte-americanas. Ao tratar do câncer de mama, The L
Word motivou, por exemplo, a doação de US$ 1 milhão à Dr. Susan Love Research Foun-
dation, que pesquisa a erradicação da doença. A doadora quis homenagear as atrizes
Erin Daniels e Leisha Hailey a primeira interpretou, na série, uma tenista, Dana, que
morre vítima de um câncer de mama na terceira temporada.
“A doadora, que escolheu se manter anônima, quis homenagear a atriz
e sua convincente atuação em um relacionamento que teve uma trágica
consequência por causa do câncer de mama. Ultimamente ela decidiu
que o melhor modo de fazer essa homenagem era dar uma generosa
doação que nos ajudaria a avançar nosso trabalho que é acabar com o
câncer de mama em nossas vidas”, afirmou Naz Sykes, diretora executiva
da Dr. Susan Love Research Foundation. Em comunicado, a atriz Erin Da-
eLas por eLas 28
niels também agradeceu a doação e disse que esse é um ato que ajuda
a mudar a vida de muita gente. “Há poucos momentos na vida de uma
mulher onde ela sente que tem sorte suficiente de fazer parte de algo
que mudará a vida de muitas pessoas. Esse é um dos momentos. Eu es-
tou decidida de que minha personagem inspirou tal ato de generosidade
e exalta ser parte disso”, afirmou Daniels. (FÃ..., 2007).
Em The L Word, mais exemplos como o do combate ao câncer de mama, mostrando o
quanto o merchandising nas telas pode influenciar as ações das telespectadoras e o quan-
to isso foi abertamente explorado pela produção do programa. Ao perceber o potencial
da ficção em viabilizar ações concretas em busca de uma realidade melhor, a produção de
The L Word se uniu à organização lésbica Equality Now, que luta contra a discriminação
e a violência contra a mulher, e lançou um leilão beneficente no site eBay, no início de se-
tembro de 2008. Com lances a partir de US$1.000,00, a vencedora teve o direito de passar
três dias no set de filmagens no Canadá, convivendo com as atrizes da série. O dinheiro
arrecadado foi para a ONG americana. (PRODUTORES..., 2008).
Na mesma linha de Balogh (2002), Lopes (2004) aponta o espaço ficcional como um ter-
ritório para a redefinição de culturas identitárias. Nesse sentido, a autora ressalta a ficção
televisiva como elemento decisivo, uma vez que “configura e oferece material precioso
para entender a cultura e a sociedade de que é expressão” (p. 124).
Além disso, o atual debate sobre a internacionalização elege a teleficção
tanto como espaço estratégico de construção de identidades que tem
na nação seu ponto de inflexão, quando como instrumento privilegiado
de análise das estratégias de captura da audiência e de autorreconheci-
mento (“a ficção fala de nós”). A perspectiva é a do cenário transnacional,
da viagem, da migração dessas narrativas, da presença do outro, situa-
ção em que constitui a interculturalidade (LOPES, 2004, p. 130).
A autora lembra, ainda, que essas narrativas respondem à própria necessidade de ouvir e
ver, ao mesmo tempo em que articulam temas fortes e elementares do estar no mundo.
Ao pesquisar a recepção na telenovela, Almeida (2003) defende que esses programas
realizam uma espécie de educação sentimental no telespectador, que passa a pensar em
sua própria vida a partir dos acontecimentos que testemunha.
Os espectadores tanto entram em contato com certas situações e senti-
mentos, como através dessas situações refletem e discutem sobre suas
vidas privadas, sobre certas concepções sociais que são veiculadas pelas
novelas e que permitem a revisão de suas próprias concepções (p. 205).
Nesse sentido, Almeida vai além do merchandising social e questões mais coletivas,
eLas por eLas 29
identificados por Balogh (2002) e Lopes (2004), e atribui à telenovela uma capacidade
transformadora do indivíduo, levando-se em conta que pode conduzir cidadãos a rever
posições, preconceitos, etc. Costa (2002) confirma o destacado por todos os autores
citados ao reconhecer a importância da ficção na cultura humana, “tanto na formação
das identidades coletivas e individuais como na constituição de mentalidades – valores e
comportamentos aceitos e difundidos numa coletividade” (COSTA, 2002, p. 32). Desde
os anos 1990, Lacalle (2001), por sua vez, destacava a imporncia da TV como esse
espaço de discussões caras à sociedade:
(...) os gêneros de entretenimento se converteram em um verdadeiro
fórum público, onde se definem boa parte das questões sociopolíticas
emergentes, e em uma parainstituição, destinada a suprir as crescentes
carências que as instituições tradicionais manifestam na sociedade liberal
(p. 14, tradução nossa)
13
.
Ao pesquisar especificamente os reality shows, Lacalle (2001) observa que a televisão se
transformou numa espécie de “panóptico do mundo sem nenhum tipo de obstáculo ao
olhar do espectador que é ao mesmo tempo observador e observado, que utiliza o cená-
rio televisivo para olhar e ser visto” (p. 21, tradução nossa)
14
. Assim, a televisão se coloca
como veículo necessário à visibilidade, o que alterou por completo a lógica das esferas
privada e pública. O que antes era reservado à privacidade do indivíduo – tomar banho,
ter relações sexuais, momentos de desespero aparece, nos reality shows, como momen-
tos ápices da programação, que é da esfera pública. Nesse sentido, observamos que nem
mesmo o advento de sites como o Youtube, em que o amador pode postar seus próprios
vídeos, minimizou a importância de se estar na televisão, permanecendo a máxima ‘se
não saiu na televisão, não aconteceu’. Apesar de trazer o homem comum para o centro
das atenções nos reality shows, a programação se diferencia do Youtube, pois ainda man-
tém a força, a credibilidade e o glamour de uma indústria em seus bastidores.
O pensamento de Lacalle (2001) também é reafirmado por Tufte (2004, p. 305), ao lembrar
que não é novidade o uso de séries televisivas para expandir mensagens sociais. Buonann-
do (2004) vai além e afirma que, em frente à televisão, participamos e testemunhamos uma
variedade de situações que não seria possível experimentar na vida cotidiana. E acrescenta:
“a ficção age como uma potência ‘amplificadora’ da gama de situações sociais às quais te-
13 “...los géneros de entretenimiento han convertido el medio en un verdadero foro público, donde se
definen buena parte de las cuestiones socipolíticas emergentes, y en una parainstitución, destinada a suplir
las crescientes carencias que las instituciones tradicionales manifiestan en la sociedad liberal.”
14 “...panóptico del mundo, sin ningún tipo de obstáculos a la mirada de un espectador que es a la vez
observador y observado; que utiliza el escenario televisivo para mirar y para ser visto.”
eLas por eLas 30
mos acesso sem estarmos fisicamente presentes” (BUONANNDO, 2004, p. 342).
A partir de autores como Balogh (2002), Buonnando (2004), Costa (2002), Lacalle (2001),
Lopes (2004) e Tufte (2004), podemos olhar para The L Word e levantar alguns questio-
namentos. Teria a série possibilitado às lésbicas a criação de uma relação de identificação
com as personagens? Teria, mais que isso, permitido que, por meio das personagens, ex-
perimentassem um universo menos preconceituoso do que o da vida real, especialmente
no caso das telespectadoras lésbicas que vivem em cidades cujo preconceito ainda é
muito forte e o armário quase condição de sobrevivência? Será que as lésbicas consegui-
ram viver, por meio do programa, situações de sucesso e de reconhecimento social? The
L Word teria contribuído para uma pequena amostra do universo lésbico, propiciando
debates e reflexões a respeito do tema? Como destacamos na introdução deste trabalho,
tentaremos responder a esses questionamentos por meio da análise das cinco persona-
gens principais do programa.
2.1 Local de diversificação de temas e formatos
Com tamanha capacidade de seduzir telespectadores e de se colocar nesse espaço de
fórum e de construção social, o que é ampliado pela convergência de mídias, a telinha
também arrebanha, no Brasil e em todo o mundo, levas de pesquisadores que se debru-
çam sobre telejornais, reality shows, telenovelas e outros programas de entretenimento
em busca de responder a questionamentos que o meio suscita. No Brasil, particular-
mente, um gênero ainda tem sido pouco explorado: o das séries ou dos seriados de TV,
como alguns estudiosos preferem chamar. Nascidos sob a classificação de programa de
ficção e categorizados como entretenimento, esses produtos conquistam adeptos e se
mostram instigantes dada a diversidade de temática, formatos e hibridização com outros
programas e mídias. Trata-se, assim, de um objeto que se oferece ao pesquisador cheio de
peculiaridades que vão além das categorizações. É certo, ainda, que esse formato serial
não começa na televisão, mas, bem antes, como recupera Machado (2003), nas formas
epistolares da literatura cartas, sermões e nas narrativas míticas como As mil e uma noi-
tes. Posteriormente, desenvolveu-se com os folhetins, publicados em jornais e prosseguiu
na chamada radionovela. Sua primeira versão audiovisual foram os seriados do cinema.
O seriado nasce no cinema por volta de 1913, como decorrência das
mudanças que estavam acontecendo no mercado de filmes. Nessa épo-
ca, parte considerável das salas de cinema era ainda os antigos nickelo-
deons, que só passavam filmes curtos, inclusive porque o público ficava
eLas por eLas 31
em ou sentado em incômodos bancos de madeira sem encosto. Os
longas-metragens (feature films), que começavam a surgir nessa época,
podiam ser exibidos nos salões de cinema, mais confortáveis e mais
caros, embora numericamente ainda pouco expressivos. O filme em sé-
rie permitia atender às duas demandas simultaneamente. Eram filmes
de duração mais longa, que podiam ser exibidos nos salões de cinema
destinados à classe média, mas podiam também ser exibidos em partes
nos nickelodeons, que concentravam o público mais pobre da periferia.
Séries cinematográficas como Fantômas (1913), de Louis Feuillade, e The
Perils of Pauline (1914), de Louis Gasnier, baseados no modelo dos fo-
lhetins jornalísticos, deram a forma básica do gênero (MACHADO, 2003,
p. 86).
Apesar de o cinema ter marcado o início da exibição das séries, Costa (2002), da mesma
forma que Machado (2003), ressalva que antes dessa forma a estrutura básica das narra-
tivas dos seriados era praticada pelos bons contadores de histórias. Estes já desenvol-
viam as habilidades de “secionar capítulos, dosar a ação, distribuir as emoções, despertar
a curiosidade e dirigir a atenção do leitor/ouvinte” (COSTA, 2002, p. 34). O autor lembra,
ainda, que a habilidade de suspender a história num momento clímax salvou a vida de
Sheherazade.
Das exibições em cinema até os dias atuais, as séries atravessaram fases de maior ou menor
prestígio. Depois de passarem um bom tempo com o pejorativo apelido de “enlatados ame-
ricanos”, elas têm atualmente temáticas cada vez mais diversificadas, aliadas a produções
sofisticadas e bem cuidadas, e conquistam, cada vez mais, o gosto do público, a aprovação
da crítica e a atenção do mercado editorial e da academia. Prova disso é que a editora Ala-
meda lançou Em tempo real: Lost, 24 horas, Sex and the City e o impacto das novas séries
de TV (STARLING, 2006). em 2008, mais dois livros dedicados ao assunto chegaram ao
mercado. A série Queer as Folk, que retrata o cotidiano de um grupo de amigos homos-
sexuais, foi discutida, por exemplo, no livro Rupturas possíveis – representação e cotidiano
na série Os assumidos, publicado pela Annablume (ZANFORLIN, 2005). no início de
2009, Queer Couples in Straight America: A Study of Representations of Straight Woman/
Gay Man Relationships in A Home of the End of the World and Will & Grace foi tema de
dissertação (SANDOVAL, 2009). Pela Ediouro, foi lançado o Almanaque dos seriados (PE-
REIRA, 2008), e, pela Panda Books, As maravilhosas mulheres das séries de TV (FURQUIM,
2008). Outro dado que atesta a relevância do formato está no livro Televisão levada a sério
(MACHADO, 2003): o autor lista os 30 programas mais importantes da televisão. Entre eles,
nove são séries ou minisséries, excluindo, aí, os programas de humor.
Especialmente a partir dos anos 1990, com a chegada da TV paga ao Brasil, o formato ga-
eLas por eLas 32
nhou mais popularidade. Com o início do século XXI e a proliferação de canais na TV paga
destinados apenas a esse formato, as séries têm se consolidado como uma opção “frente
à baixa qualidade da programação da TV aberta” (PEREIRA, 2008, p. 192). Parece inegável
que o crescente acesso à internet, onde é possível baixar temporadas completas em sites
de fãs, ajudou a propagar o formato. Mesmo aqueles que não têm acesso à TV paga têm
a oportunidade de assistir seu título predileto, adquirindo os DVD em lojas virtuais e físicas
e até mesmo no mercado paralelo, onde são muito comercializados. Assim, as séries pare-
cem estar inseridas numa lógica de produção típica das grandes empresas voltadas para
comunicação de massa, embora tenham, na recepção, características da chamada “cauda
longa”. A cauda longa é um conceito criado e explicado no livro A cauda longa: do mer-
cado de massa para o mercado de nicho (ANDERSON, 2006). Resumidamente, o autor
explica que a chegada do comércio on-line viabilizou modelos de negócios de cauda
longa, ou seja, a oferta de produtos é praticamente ilimitada, uma vez que os custos de
armazenagem e distribuição digitais são infinitamente inferiores. Assim, produtos antes
economicamente inviáveis encontraram seu espaço de comercialização na internet, en-
quanto os consumidores, por sua vez, nunca tiveram tantas opções de escolha. Segundo
Anderson (2006), a preocupão se volta, então, para o mercado de nicho, potencializado
com a enorme redução de custos viabilizada pelo comércio on-line. A ele acrescentamos
que a internet propicia, ao que parece, mais a possibilidade de downloads gratuitos de
filmes, programas e música do que propriamente de redução de preço final ao consumidor
dos produtos à venda pela web.
Para se ter uma ideia do quanto a internet ocupa esse espaço significativo entre as op-
ções de acesso às séries, basta conferir os resultados da enquete postada no orkut, no dia
3 de março de 2009. A usuária Mah, da comunidade The L Word Brasil, do orkut, postou
a seguinte pergunta: “Por ql dos meios seguintes vc tem acesso ao seriado?” [sic]. Até o
dia 25 de maio, 470 pessoas escolheram entre as cinco opções deixadas pela autora. As
respostas foram as seguintes:
Fonte Disponível em: http://www.orkut.com.br/Main#CommPollResults.aspx?cmm=52139&pct=1236032487&pid=1
430780793. Acesso em 16 mar 2009.
Gráfico 2 – “Por qual dos meios seguintes você tem acesso ao seriado?”
eLas por eLas 33
O gráfico ilustra essa nova forma de ver televisão pela internet. Devemos considerar que
a inserção da TV paga no Brasil, ao contrário dos EUA, contabilizava, em maio de 2008,
97,6 milhões de clientes. (POSSEBON, 2008). Dados publicados pela revista Veja, em
2001, mostram o quanto a TV por assinatura no Brasil ainda é uma opção complemen-
tar. “O país ainda engatinha no setor. Hoje, a TV paga está em cerca de 8% dos lares,
contra uma média de 19% nos vizinhos da América Latina e 84% nos Estados Unidos”
(MARTHES, 2001). Entretanto, informações mais recentes publicadas pela Folha On-line,
em dezembro de 2009, mostram que essa situação tende a ser revertida. Até novembro
de 2009, o crescimento acumulado naquele ano, se comparado ao ano anterior, chegou
a 16,3%. Esse acumulado nos onze meses do ano foi “o maior nos últimos quatro anos,
com 1.030.891 novos clientes, chegando perto dos 1.062.522 de todo o ano de 2008.”
Com isso, o Brasil encerrou novembro de 2009 com 7,35 milhões de domicílios conecta-
dos a serviço de TV paga. (
NÚMERO..., 2009)
Se pensarmos no telespectador via a recepção tradicional da televisão, fica difícil imaginar
uma família reunida em torno do aparelho esperando por um novo capítulo de Friends
ou de CSI, o que confirma a vocação do formato para atender a públicos segmentados.
Alguns optam pelo drama, outros por super-heróis, suspense, comédia, ação, aventura,
etc. O formato parece atender assim a um novo padrão de comportamento das famílias
da classe média brasileira, quando os jovens e mesmo os pais abandonaram o hábito de
se reunir em volta da TV para assistir ao telejornal e novelas, sendo mais comum estar
cada um envolvido com sua programação, em seu computador ou em sua televisão. O
prolongamento desses formatos em outras mídias parece também responder aos anseios
do público contemporâneo. Para Ross (2008), o telespectador não se satisfaz em assistir
a uma hora de programação e esperar mais uma semana pela continuidade. Ele precisa
discutir, trocar ideias com outros fãs, o que é potencializado pela internet, que elimina as
barreiras geográficas e temporais. Para a autora, um dos grandes prazeres em se acom-
panhar um programa está exatamente nessa troca de experiências com outras pessoas,
está nas possibilidades de conexão que se abrem. Além disso, lembramos que, além do
debate, o telespectador desfruta, com as novas mídias, de incontáveis possibilidades de
interação com seu programa favorito, que vão desde wikipédias específicas, passando
por recriações de histórias e jogos. Até o momento, Lost é considerada a série que melhor
aproveitou esse contexto. Produzida pela ABC Studios, Bad Robot Productions e Grass
Skirt Productions, Lost estreou em setembro de 2004 na TV norte-americana e foi sucesso
de crítica e público, garantindo logo no primeiro ano a exibição de seis temporadas, num
total de 117 episódios. Trata-se da história de vários sobreviventes de um acidente de
eLas por eLas 34
avião, que ficam presos em uma ilha misteriosa, com habitantes ainda mais misteriosos.
“A série é um exemplo do casamento entre novas tecnologias e conteúdos criativos, con-
fiando em uma complicada série de conexões entre televisão e outras formas de mídia
para incrementar a narrativa que oferece aos telespectadores” (ROSS, 2008, p. 199).
Figura 4 – Os “passageiros” de Lost
Numa breve retrospectiva das temáticas que predominaram nas séries desde sua chegada
à TV brasileira, nos anos 1950, Pereira (2008) lembra que, nos primeiros 20 anos, che-
garam ao país dezenas de séries, especialmente de aventura, ação, suspense e humor,
incluindo algumas produções nacionais que se arriscaram na execução de um formato
tipicamente americano. Entre alguns títulos de destaque, ainda acessíveis hoje em DVD
ou em canais que exibem clássicos, estão Agente 86, A Feiticeira, Jeannie é um gênio,
Nacional Kid, I Love Lucy, Batman e Vigilante Rodoviário – esta genuinamente brasileira.
Na década de 1970, que marcou a chegada da transmissão em cores no Brasil, ocorre
o final da exibição dos seriados de longa duração, como Zorro e Perdidos no espaço,
ao mesmo tempo em que a Rede Globo, em ascensão, dá liberdade aos núcleos dramá-
ticos para a criação de novas séries. Nesse momento, a programação estrangeira sofre
restrições e os seriados recebem da imprensa o apelido de “enlatados”. A década de
1980 marca, no Brasil, a exibição de seriados policiais, duplas de investigadores e tam-
bém a volta de seriados com super-heróis japoneses. Entre os exibidos, alguns de maior
destaque são Dallas e Dinastia. Outros seriados famosos são Jaspion, Magnum, Duro na
queda e Profissão perigo.
Ao resgatar a história das séries, Starling (2006) destaca que, até a década de 1970,
prevaleceram os temas tidos como inofensivos. A estreia de Dallas na TV americana,
em 1978, foi um marco na mudança da temática das séries para temas mais adultos e
complexos. Em Dallas, a trama girava em torno de sexo, dinheiro e poder. Além de ousar
eLas por eLas 35
na temática, Dallas foi também pioneira no formato ao recorrer ao cliffhanger, recurso
usualmente utilizado em telenovelas, que consiste em terminar episódios ou temporadas
com uma situação em suspense, impondo ao espectador a necessidade de acompanhar
o próximo capítulo. É o que Ellis (1992) considera os pequenos incidentes que ocorrem
semana a semana, que colaboram para fidelizar o telespectador. A estratégia utilizada
é fazer com que sempre fique uma dúvida para o público: o que acontecerá com a(s)
personagem(s) na próxima semana? “Com Dallas, os seriados de TV conquistam o públi-
co com um recurso que vai ser o principal alimento de todos que o sucederão: a memó-
ria” (STARLING, 2006, p. 26).
Outro nome lembrado como fundamental para a entrada das séries no mundo adulto
é o de David Lynch, que levou para a ABC o que Starling considera uma das produções
mais revolucionárias vistas: Twin Peaks, “com universo instigante, repleto de anorma-
lidades, de perversões e baixos instintos mal dominados” (STARLING, 2006, p. 31). Na
avaliação de Starling, esses ingredientes colocam as séries americanas bem à frente das
telenovelas brasileiras:
A expectativa de um banal beijo entre dois homens elevou a audiência
do último capítulo da novela América, no fim de 2005, e não foi mantida
na edição final em respeito ao público. (...) Uma versão lésbica de Sex
and the City, L Word oferece, desde 2004, fartas cenas de carinho e de
sexo entre garotas. Atos sexuais (violentos ou não) entre homens torna-
ram-se comuns na ficção para TV desde a exibição das ousadíssimas Oz
e Queer as Folk (STARLING, 2006, p. 45).
Essa ousadia das séries em relação às telenovelas, conforme pontua Starling (2006),
parece agradar aos telespectadores brasileiros. Segundo Pereira (2008), com a chegada
dos 1990 e a entrada da TV paga no Brasil, os fãs das séries norte-americanas, carentes
de boas produções que circulavam nos Estados Unidos, suspiraram aliviados. Entre
os canais que cumpriram papel fundamental para a profusão desses seriados estão Fox,
Sony, Warner e Multishow, que, além de novas tramas, promoveram sessões nostálgicas.
O canal pago Eurochannel passou a mostrar a produção europeia, que, entretanto, nun-
ca teve o mesmo sucesso que a norte-americana. Paralelamente, a TV aberta restringiu
ainda mais a exibição de séries estrangeiras.
A partir do início deste século, as séries se consolidaram como um dos formatos prediletos
do público. Parte dessa fidelização de telespectadores parece estar ligada à convergência
das mídias e à facilidade de troca de informações entre fãs de todo o mundo, propiciada
pela internet, o que parece estar influenciando e alterando o modo de fazer televisão. Na
eLas por eLas 36
matéria “Universos paralelos”, de Bruno Segadilha (2008), publicada pela revista Monet,
mostra-se como a web facilita a intervenção dos fãs nos rumos das tramas e mesmo na
criação de roteiros paralelos, conhecidos como fan fictions. Ao mesmo tempo, as comuni-
dades virtuais de fãs facilitam o debate de temas apresentados nas séries e que dizem res-
peito à vida dos telespectadores, como é o exemplo do seriado The L Word. A influência
das novas tecnologias na recepção dos seriados é tamanha que a quinta temporada de
The L Word estreou no dia 30 de dezembro de 2007, no site OurChart.com, fundado por
Ilene Chaiken, criadora e produtora da série, enquanto sua estreia na televisão ocorreu
apenas no dia 6 de janeiro de 2008.
O lançamento em primeira mão na internet faz parte de uma estratégia
comercial do Showtime. O canal, que faz parte dos pacotes mais caros
das operadoras de TV paga norte-americana, pretende ganhar novos as-
sinantes com quem goste da estreia de The L Word, mas ainda não seja
assinante. (THE L WORD..., 2007).
Além disso, após a exibição da sexta e última temporada, a Showtime aproveitou o final
aberto de The L Word, ainda com um crime sendo apurado, e passou a disponibilizar,
semanalmente, depoimentos das suspeitas do assassinato de Jenny. Com isso, apesar do
anunciado último capítulo, a série só acabou na mídia televisiva, pois a trama prosseguiu
na internet por mais sete semanas.
Figura 5 – Depoimento de Tina na internet
Ao se dar conta da tendência irreversível de ver os seriados circulando livremente pela
internet, a Warner anunciou, no início de setembro de 2008, o lançamento de seriados
novos e antigos na web. Com isso, a empresa pretende inibir a pirataria e até lucrar com
a veiculação de publicidade no site www.thewb.com –, conforme publicado na página
4 do caderno de Informática do jornal Hoje em Dia, edição de 8/9/2008. As primeiras
temporadas de séries consagradas como Friends e The OC já estão disponíveis on-line. E
eLas por eLas 37
séries inéditas tiveram sua estreia na web, entre elas Whatever Hollywood.
Com tal capacidade de dialogar e se difundir pela internet, além da evolução da temá-
tica, as séries tendem a assumir formatos mais adequados ao mundo contemporâneo,
suprindo a exigência de consumidores cada vez mais segmentados. canais dedicados
especialmente a determinados setores, inclusive com o resgate de clássicos que con-
quistaram fãs desde os anos 1950. As temáticas ousadas e os tratamentos bem realistas
dados a assuntos considerados tabus para o brasileiro médio, aliados a produções muitas
vezes milionárias, garantem, na avaliação de Starling (2006), padrão de qualidade supe-
rior ao das novelas, que, por muito tempo, reinaram soberanas, entre os telespectadores
de ficção no Brasil. Exemplo do quanto se tem apostado nesse formato é o piloto de
Lost, que durou duas horas e custou aproximadamente US$12 milhões, valor maior que
a produção de temporadas inteiras de alguns seriados.
2.2 Linguagem em constante renovação
Ao mesmo tempo em que as séries foram diversificando e sofisticando, os assuntos trata-
dos também evoluíram na forma. Existem séries, por exemplo, que não apresentam uma
perspectiva de fim e em que não qualquer necessidade de se acompanhar todos os
episódios. Lei & ordem é um desses exemplos. O telespectador pode assistir a um capítu-
lo isoladamente e entenderá a história sem necessariamente ter de assistir o anterior ou o
próximo. outras séries em que uma perspectiva de fim, mas que, via de regra, este
é estipulado pelas exibidoras de acordo com a audiência. A série Lost é um bom exem-
plo deste segundo caso. Sabe-se que vai acabar, mas o número de temporadas, que em
geral nesse formato não passa de seis anos, é determinado pela sua popularidade. Além
disso, para entender sua complexa trama, é preciso assistir a todos os capítulos.
Ellis (1992) caracteriza o formato das séries, em geral, pela constante repetição e novi-
dade, que se sucedem a cada semana. A cada episódio, elementos que se repetem,
porém sempre combinados com novidades. A repetição e a novidade podem ser iden-
tificadas nas séries que exigem um telespectador fiel, como Lost, e naquelas abertas a
telespectadores pouco frequentes como Lei & ordem. É certo que os produtores já con-
tam com a possibilidade de, eventualmente, o telespectador perder um episódio. Assim,
quando a trama o exige, a narrativa traz elementos como flashbacks, diálogos e outros
recursos que resgatam momentos importantes da trama. Além disso, é comum, antes
de cada novo episódio, exibir cenas passadas. Elas não são especificamente apenas do
eLas por eLas 38
episódio anterior, mas de momentos importantes para o entendimento da história que se
desenrolará naquele dia. Mantém-se, assim, uma antiga fórmula que já deu certo desde
Dallas e que é detalhada por Ellis (1992) criam-se novos fatos, retendo-se a memória
dos antigos. Ao comentar a complexidade da narrativa seriada, Machado (2003) alerta
que o mérito não está apenas em buscar, a partir da fragmentação e do embaralhamento
da narrativa, modelos de organização complexos, mas, sobretudo, em propor situações
menos previsíveis e mais abertas ao papel ordenador do acaso.
Para Scolari (2007), nesse desenvolvimento da linguagem, principalmente as séries de fic-
ção assumem cada vez mais características próprias da internet. Ao resgatar rapidamente
a estrutura das séries norte-americanas, o pesquisador identifica que, nas décadas de
1970 e 1980, predominaram estruturas lineares, heróis únicos, enfim, tramas desenvolvi-
das apenas a partir de um núcleo de ação. Em contraponto, na atualidade, as tramas são
múltiplas e se entrecruzam. São tramas dentro de tramas, tecendo grandes redes que se
cruzam. A todo o momento, é revelado mais um dado na construção dos personagens.
Boa parte dos seriados contemporâneos não tem apenas uma personagem principal,
mas vários núcleos que dão origem a inúmeras conexões no desenvolvimento da nar-
rativa. Starling (2006) recorda que esse foco num conjunto de personagens e não em
apenas um protagonista é denominado ensemble show, o que requer um telespectador
mais habilidoso, ou seja, que consiga acompanhar as múltiplas tramas, o ritmo acelerado
e que esteja antenado às possibilidades interativas.
É o ensemble show que permite aos criadores esboçar cada personagem
do grupo como um protagonista de uma história particular, o que à
trama as possibilidades de tecido, no qual cada episódio pode aprofun-
dar um fio narrativo, deixá-lo em suspenso, retomá-lo semanas ou meses
adiante ou mesmo abandoná-lo (STARLING, 2006, p. 37).
Nesse contexto de programas televisivos influenciados pela internet e com predominân-
cia do ensemble show, Scolari (2007) propõe o conceito de hipertelevisão como mais
adequado que o de neotelevisão. O conceito de neotelevisão, que foi proposto por Eco
em 1984 e que predominava até então, pressupunha uma televisão que falava cada vez
mais do mundo interno e da relação do próprio dispositivo com o público. Daí identificar
uma fase em que se começou a cultuar a prática do zapping, cuja marca é a disputa pela
audiência e consequentemente a espetacularização generalizada da programação. Uma
das principais características da neotelevisão é o uso da autopromoção para seduzir os
telespectadores. A hipertelevisão, por sua vez, se caracterizaria pela ruptura de sequen-
cialidade, ritmo acelerado, tramas complexas e elevado grau de intertextualidade.
eLas por eLas 39
Ao analisar o conceito proposto por Scolari (2007), Loureiro (2008) sintetiza a hiperte-
levisão como uma TV cada vez mais centrada no indivíduo, que tem potencialidades
de ser produtor, receptor e utilizador do dispositivo. Nesse sentido de acessar outras
experiências, Ross (2008) acrescenta que “uma rede de interações emerge, englobando
uma série de relacionamentos: entre telespectadores e criadores, entre criadores e textos,
entre textos e a internet, e entre telespectadores, criadores, promotores, texto e a inter-
net” (ROSS, 2008, p. 21, tradução nossa)
15
. Com isso, o contexto social e a experiência
pessoal de cada uma das partes acabam por influenciar, conforme pontua a autora, o
significado e o entendimento não do programa televisivo, mas também da própria
indústria narrativa.
Nesse contexto de uma televisão relacionada à internet, se pensarmos na programação
televisiva de ficção e o ficção, é possível traçar alguns aspectos comuns. Um dos mais
relevantes é a importância do receptor, que interfere cada vez mais no que vai ao ar, seja
por participação direta – votações em reality shows como o Big Brother Brasil e discussões
e palpites na web – ou por baixas audiências que se traduzem em finais prematuros de al-
guns programas. Costa (2002) recorda que “em razão do apego do leitor aos personagens,
os folhetins eram encompridados e a história poderia dar saltos inexplicáveis” (p. 51).
A internet, como afirma Ross (2008), ressaltou a participação e interferência do telespec-
tador nos programas televisivos, mas não podemos perder de vista, como lembrou Cos-
ta (2002), que, desde os folhetins, é identificada a tentativa do público de interferir no
desenvolvimento das tramas, o que, antes da web, ocorria por meio de cartas enviadas
aos jornais, que publicaram semanalmente as primeiras histórias seriadas para entreter o
receptor. Ross (2008) pontua que as formas de participação dos telespectadores nos ru-
mos dos programas se confundem com a própria história da televisão, fazendo parte da
experiência de ver televisão. Essa participação sempre envolveu também a troca de ideias
com outro telespectador, desde os primeiros programas, quando pessoas se reuniam para
assistir e comentar a programação. Hoje, esse encontro, antes sico, presentifica-se nos
milhares de espaços virtuais destinados ao debate da programação televisiva. O mesmo
afirmou Jenkins (2008) ao recordar que os fãs sempre tiveram um papel importante e ativo,
mas que agora, porém, estão mais visíveis por meio da web, o que facilita e exteno das
possibilidades narrativas, propiciando múltiplos caminhos.
15 “A web of interactions emerges that encompasses myriad relationships: between viewers and creators,
between creators and originating texts, between creators and originating texts, between originating texts
and the Internet, and between/among viewers, creators, promoters, the originating text and the Inter-
net.”
eLas por eLas 40
Ross (2008) vai além e aponta a internet como a grande responsável pela alteração no
modo como a televisão é feita e consumida. Para a autora, a partir da propagação da
internet, os responsáveis pela produção de um programa não puderam deixar de pensar
na complementaridade desses dois meios e também no fato de que o telespectador ficou
mais próximo. Do ponto de vista do telespectador, a possibilidade de acessar, na rede,
trechos de noticiários, de realizar downloads de programas favoritos, de opinar e reivin-
dicar também mudou a postura da assistência. Se a forma de produzir e assistir muda, é
fácil perceber que a todo tempo muda, também, a forma de pensar a televisão. O foco
no telespectador ganhou ainda mais status, especialmente se pensarmos na tão falada
cultura da convergência. Entendemos convergência na acepção defendida por Jenkins,
que descarta visões equivocadas e muito divulgadas que a definem como a unificação de
mídias. Para ele, a convergência representa uma transformação cultural, pois incentiva os
consumidores a experimentar novos formatos e posições. A partir de Jenkins (2008), po-
demos eleger três elementos importantes para esse conceito. São eles: fluxo (ou trânsito),
informação e conexão.
(...) fluxo de conhecimentos através de múltiplos suportes midiáticos, à
cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento
migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase
qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que dese-
jam (JENKINS, 2008, p. 27).
Esse fluxo de conhecimento em múltiplos suportes, destacado por Jenkins (2008), é a
chamada era da converncia, em que os consumidores, incentivados a debater o que
consomem, participam, cada vez mais, da confecção de produtos e programas, e afetou
especialmente a mídia e principalmente a televisão. Não se trata, pois, de concorrência en-
tre suportes midiáticos, mas de parceria e integração. Quase todo programa televisivo tem
hoje, por exemplo, seu website, o que, em outras palavras, significa que a programação
não se encerra ao subirem os créditos. Longe disso, o telespectador é chamado a debater,
opinar, apontar rumos e mesmo se divertir com elementos do programa em foco, como
destaca Jenkins (2008):
(...) fãs de um popular seriado de televisão podem capturar amostras de
diálogos no vídeo, resumir episódios, discutir sobre roteiros, criar “fan fic-
tion” (ficção de fã), gravar suas próprias trilhas sonoras, fazer seus próprios
filmes – e distribuir tudo isso ao mundo inteiro pela internet (p. 42).
Além dessa autonomia destacada por Jenkins (2008), é importante lembrar que a criação
de espaços para os telespectadores nos sites oficiais dos programas se tornou inevitável,
eLas por eLas 41
uma vez que esse debate já se fazia presente em outros espaços virtuais como nas redes
sociais, independentemente da vontade da indústria midiática. Uma comunidade virtual
existe quando encontramos, no ciberespaço, certo número de pessoas que participa de
discussões abertas, partilhando suas histórias, memórias, sentimentos, criando, enfim,
um sentimento de pertencimento, conforme pontua Nussbaumer (2001). Essas comuni-
dades se constituem num espaço que origem a novas formas de sociabilidade, sem
os limites da geografia e motivadas por um interesse comum. No caso, por exemplo,
das redes sociais virtuais criadas em torno de The L Word, as fãs se reúnem em torno da
série para debater além da trama apresentada. Reúnem-se porque sabem que, além de
fãs, estarão em contato com pessoas que vivenciam e integram o universo lésbico. Ainda
segundo Nussbaumer (2001), o ciberespaço e as comunidades GLS têm particularidades,
como espaço e corpo-social respectivamente, que agenciam e potencializam essas novas
formas de estar-junto e estar no mundo. Assim, esse convite à participação do telespec-
tador, mais do que opção de quem produz, vem se tornando, cada vez mais, condição
sine qua non para a sobrevivência dos programas, que não podem ignorar a existência
e a importância dessas redes sociais.
Abertas essas possibilidades, é natural pensar que a convergência acabou possibilitando
mais autonomia e poder de pressão também para os telespectadores, o que foi conquis-
tado principalmente por meio da formação de redes sociais que reúnem grupos de fãs,
presentes em listas de discussão e em espaços como Orkut e Facebook. A facilidade de
se formar grupos por meio da web, que chegou aos próprios sites oficiais dos progra-
mas por meio da convergência de mídias, colaborou para que o telespectador interfira
na qualidade e quantidade do produto que chega a sua casa. As séries Xena, a princesa
guerreira, neozelandesa, e Buffy, a caça-vampiros, americana, são consideradas pionei-
ras no encontro de fãs pela internet. Xena ficou entre as dez primeiras na lista das 25
melhores séries de culto da história pela revista TV Guide, mas ficou em primeiro na vo-
tação popular feita pelo website Notopodomundo.com para escolher as Melhores séries
de TV de todos os tempos. A série também foi a primeira a reunir fãs em todo mundo
(o chamado Fandom), que se conectavam pela internet para discutir cada episódio e
personagem. O Fandom continua ativo na internet até hoje. Ross (2008) destaca que
Xena e Buffy fazem parte de um momento histórico que marca o início da influência da
internet na TV.
eLas por eLas 42
Figura 6 – Xena, a princesa guerreira, e Gabrielle (à esquerda)
Figura 7 – Buffy, a caça-vampiros, e Willow
Um exemplo recente da interferência e da força das redes sociais dos fãs foi a exibição, no
Brasil, da série The L Word, que teve cortadas algumas cenas dos primeiros episódios e le-
gendas que amenizavam as falas. Imediatamente, inúmeros grupos de fãs do programa,
entre eles a lista de discussão The L Word Brasil, protestaram. A Warner, que exibe a série
no país, teve que voltar atrás e repetiu todos os capítulos sem cortes. Nos EUA, a pressão
de fãs da mesma série foi um dos elementos decisivos para que a Showtime, responsável
pela produção, esticasse The L Word em mais uma temporada, além das cinco previs-
eLas por eLas 43
tas. Nesse sentido, Jenkins (2008) ressalta que as redes e os anunciantes começam a
concordar com o argumento de grupos de fãs que pleiteiam mais preocupação com a
qualidade do comprometimento do público do que na quantidade de espectadores.
Pode-se afirmar que fãs de alguns cultuados programas de televisão são capazes de exer-
cer maior influência sobre as decisões de programação numa era de economia afetiva.
De tempos em tempos, as redes priorizam certos segmentos do público, e o resultado
é uma mudança nas estratégias para refletir mais completamente esses gostos a subs-
tituição de espectadores rurais por espectadores urbanos transformou o conteúdo da
televisão nos anos 1960, um renovado interesse pelas minorias dos espectadores levou a
sitcoms afro-cêntricas em toda a década de 1960, e uma ênfase crescente em espectado-
res fiéis está mudando o que se veicula no início do século XXI. Os fãs têm visto no ar mais
programas que refletem seus gostos e interesses; os programas estão sendo planejados
para maximizar elementos que exercem atração sobre os fãs; e esses programas tendem
a permanecer por mais tempo no ar, pois, em casos extremos, têm mais chance de serem
renovados. Eis o paradoxo: ser desejado pelas redes é ter seus desejos transformados em
mercadorias. Por um lado, tornar-se mercadoria expande a visibilidade cultural do grupo
(JENKINS, 2008, p. 95).
A influência e a participação dos fãs, destacadas por Jenkins (2008), também são evidencia-
das por Ross (2008) em sua pesquisa. Dessa forma, ao analisar a relação entre a web, te-
levisão e fãs, a partir de entrevistas com fãs, produtores, críticos e escritores envolvidos na
produção televisiva, a autora retoma Walter Benjamin e traz uma provocação: a internet
resgata a arte de narrar, considerada em extinção pelo autor. Ross (2008) acredita que os
grandes fóruns de discussões de séries que se estabeleceram na web resgatam a troca
de experiências entre quem relata e quem ouve. Os que ouvem, por sua vez, sentem-se
estimulados a recontar, recriar e retornar às histórias e, consequentemente, fortalecem o
ato de narrar, retomando, assim, a arte de narrar benjaminiana. Se pensarmos nas fan fic-
tions, que foram potencializadas pela web, podemos identificar na prática o pensamento
de Ross (2008), pois nelas se estimula especialmente o compartilhamento da autoria das
histórias. A pesquisadora reafirma que a internet revigorou elementos da cultura oral, es-
pecialmente o “contar histórias” na acepção de Walter Benjamin. Ross (2008) afirma que
os sites das TVs chamam os participantes a interpretar e entender as histórias que lhes são
mostradas pela TV. Benjamin, segundo a pesquisadora, afirmou que a participação é a
chave da dinâmica de contar histórias. Assim, ela conclui que o espaço da internet entre
os sites de produção e os sites da recepção cria um senso de proximidade ao longo dos
trabalhos desenvolvidos nos sites e encoraja o senso de reciprocidade e de proximidade
eLas por eLas 44
entre a indústria e os telespectadores. Ela lembra que, para Benjamin, “uma das mais
elementares dinâmicas de bem contar histórias é certa quantidade de reciprocidade entre
o narrador e os ouvintes a tal ponto que a distinção entre as duas posições é um pouco
confusa”
16
(ROSS, 2008, p. 10, tradução nossa).
Parece assim que qualquer estudo sobre a televisão hoje não pode ignorar sua extensão
pela internet, que vem se tornando sua grande parceira na arte de não deixar suas histó-
rias morrerem. Ross (2008) acrescenta, ainda, que as séries de TV se aproximam da discus-
são de Benjamin (1996) sobre o narrador. Para a autora, a sequencialidade dos capítulos
e o desenvolvimento da narrativa, episódio após episódio, temporada após temporada,
acabam por invocar esse recontar. Na prática, podemos pensar que nesse gap entre os
episódios, as próprias emissoras de TV chamam os telespectadores para discutirem sobre
as narrativas passadas, presentes e futuras da trama.
Aproveitando o pensamento de Ross (2008), podemos imaginar que a TV, em linhas
gerais e mesmo antes da internet, sempre esteve, de alguma forma e em seus variados
formatos entrevistas, jornalismo e entretenimento contando e recontando histórias
que são frutos da experiência humana. A principal diferença, como pontua Ross (2008),
é que a web acabou por tornar o espectador mais próximo dessa experiência de contar
histórias, o que, consequentemente, cria maior ressonância entre o narrador e quem
escuta, aumentando o senso de contribuição de todas as partes, o que era uma das ca-
racterísticas da arte de narrar evidenciada por Benjamin.
Ross (2008) pondera, ainda, que um dos prazeres primários dos telespectadores é o de
se sentir em conexão com a situação da personagem, ou seja, com o papel da persona-
gem na narrativa. Assim, ela conclui que “quanto mais posições na narrativa a história
oferece, quanto mais opções de identificação oferecidas ao telespectador, maior será sua
repercussão com o mesmo” (ROSS, 2008, p. 25, tradução nossa)
17
.
A partir desses autores, tudo indica que, ao contrário de concorrência, as novas formas
de acessar conteúdos acabam por criar uma espécie de autorreferência, ou seja, um meio
validando e reforçando a existência do outro. O fascínio da televisão sobre a população
certamente ainda permanecerá, aliado aos avanços tecnológicos e ao desenvolvimento
16 “(…) one of the most elemental dynamics of “good” storytelling is some measure of reciprocity between
the storyteller and the listener – such that distinction between these two positions is these two positions is
somewhat muddled (…)”
17 “(…) the more narrative positions a story offers – the more options for identification offered the higher
the resonance with the viewer.”
eLas por eLas 45
de novos dispositivos, que marcam o final do século XX e início do século XXI. Ao invés
de significar o fim da televisão, os diversos canais disponibilizados pela internet vêm se
mostrando um eficiente parceiro da TV, reforçando-a e auxiliando-a na fidelização dos te-
lespectadores. Nesse contexto, as séries de TV estão consolidadas como parte importante
da produção cultural e política do mundo contemporâneo. Se bem feitas, conseguem
dialogar com o receptor, produzindo mudanças efetivas no chamado mundo real.
Dentro desse cenário de convergência de mídias, de temas ousados e da relevância
da participação do telespectador, e ainda depois de seis temporadas, será que The L
Word realiza o que propõe ao longo de todos os episódios: a conexão entre produção
e recepção e entre recepção e recepção? Na série, a interação entre os polos se mostra
intensa, pois consegue promover uma rede de sociabilidade entre lésbicas dos mais diver-
sos países, convidadas não só a preencher vazios, mas também a concebê-los. Assim, a
cooperação vai além da interpretação, mas se desloca para a produção de conteúdo. De
que forma a série provoca a telespectadora a colaborar na configuração do repertório da
trama? The L Word consegue manter um permanente diálogo entre os polos? A princípio
parece que a tática da produção é a de fazer um ‘elas por elas’, como bem diz o refrão da
música de abertura: “este é o mundo que vivemos/ este é o mundo que amamos”
18
.
A partir dos pressupostos teóricos acima expostos, fica a nossa indagação: de que for-
ma a série The L Word, que articula recursos tão diversos e se estende pelo universo da
web, apresenta o universo lésbico para conseguir um espaço de conexão, que tensiona,
negocia e diz de um estilo de vida e que vem se mostrando tão eficiente na condução
das tramas ficcionais e reais junto às telespectadoras? Ou, lembrando Aumont (2004),
poderíamos simplesmente perguntar: de que forma a série convida a telespectadora para
fazê-la existir?
18 “This is the way /It’s the way that we live/It’s the way that we live and love.”
eLas por eLas 46
3 LINDAS E LÉSBICAS
Mark O que é ótimo nesse projeto é que não se trata de
sexo. Essas mulheres têm estilo de vida, uma cultura própria, é
revelador, é antropológico.
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.09: “Depois, Mais Tarde, Latente”.
Mulheres lindas, lésbicas, chiques, glamourosas, bem-sucedidas e residentes em Los Ange-
les. Mostrar as tramas e dramas desse grupo de amigas é a tarefa do seriado The L Word,
em exibição no Brasil pelo canal de TV a cabo Warner, desde setembro de 2005, um ano
depois de sua estreia nos Estados Unidos. No seriado, temos o oposto da maioria dos este-
reótipos de lésbicas que encontramos nos produtos culturais, pois, pelo menos até o final
do século XX, predominaram as representações de butches
19
, quando não a invisibilidade.
Mais que apresentar um grupo de lésbicas, a rie tira as personagens homossexuais de
papéis coadjuvantes, trazendo-as para os holofotes. Além disso, opta por exibir um grupo
de amigas lésbicas ainda pouco familiar aos olhares do telespectador, mais acostumado
à exibição de apenas uma personagem homossexual, em geral estereotipada, em meio
a um grupo predominantemente heterossexual. As lésbicas de The L Word participam de
um grupo privilegiado, que não tem problemas financeiros e vive em uma comunidade
relativamente tolerante aos homossexuais se a compararmos com outras localidades. Esse
ineditismo e o fato de a série ter marcado uma posição política, pois trouxe à tona discus-
sões que passam por antigas reivindicações dos movimentos LGBT, foram reconhecidos e
tornaram-se razão de orgulho na avaliação das mulheres envolvidas na execução de The
L Word. No especial exibido em 8 de março de 2009, antes do último episódio pelo canal
Showtime, que produz e veicula o programa nos EUA, atrizes, profissionais que trabalham
nos bastidores da série e militantes lésbicas falaram da importância do programa:
Leisha Hailey (Alice) – Estou tão feliz por fazer parte do programa.
Erin Daniels (Dana) – É tão relevante e memorável.
Leisha Hailey A comunidade de gays, lésbicas e bissexuais precisa de
uma voz.
Pam Grier (Kit) – É certo dizer que é um momento histórico para a televi-
são porque é algo que nunca foi feito.
Rose Troche (Diretora) Tem uma maneira de todos se sentirem, ‘Oh meu
Deus, estamos fazendo algo muito importante. (SHOWTIME, 2009b).
19 Mulheres lésbicas masculinizadas que assumem aparência e papéis considerados masculinos.
eLas por eLas 47
As atrizes Jennifer Beals e Daniela Sea destacaram, ainda, a importância de finalmente as
lésbicas se verem representadas. Para Beals, a série foi importante por trazer às garotas
lésbicas acesso a uma comunidade à qual elas pertencem. Sea lembrou que na socieda-
de americana todos são afetados pela TV, assistindo-a desde criança, e que as lésbicas
nunca tiveram a chance de se identificar. “E de repente tem um seriado que mostra quem
você é perante a sociedade. É algo muito poderoso”, afirma Sea. (SHOWTIME, 2009b)
A partir da segunda temporada, o próprio refrão da música de abertura anuncia sua
proposta: “.../esse é o jeito como vivemos/.../ e amamos”. Moore e Schilt (2006) defen-
dem que The L Word tem o mérito de ser a primeira série criada, escrita e dirigida por
mulheres lésbicas:
Um retrato da comunidade lésbica ao invés de ser apenas uma lésbi-
ca num mar de heterossexuais. O drama tem uma oportunidade sem
precedentes de oferecer versões diversas e alternativas de expressão da
identidade, amor, relacionamentos, amizade e formações de espaços e
de famílias. The L Word aumenta muito a visibilidade lésbica na televisão,
um gesto que tem argumentos revolucionários com repercussões cultu-
rais (p. 158, tradução nossa)
20
.
Na série, há poucas cenas com algum tipo de conflito ou drama relacionado ao fato de
as personagens serem homossexuais; importam as questões do dia a dia: relacionamen-
tos, trabalho, filhos etc. Apesar de ser considerada pelo senso comum o correspondente
feminino de Queer as folk (Os assumidos)
21
, série transmitida pelos canais de TV a cabo
no Brasil a partir de 2001, alguns defendem que em comum elas têm apenas o fato de
ambas serem produzidas pela Showtime e de serem as primeiras a colocar, respectiva-
mente, gays e lésbicas como personagens principais e terem sucesso imediato. Prova
disso é que a segunda temporada de The L Word foi garantida apenas um dia após a
exibição do piloto e a terceira foi negociada antes da estreia da segunda, como informa
Pereira (2008). Em entrevista à Curve Magazine
22
, a atriz Kate Moennig afirma que o
único ponto comum das séries é o fato de trazerem homossexuais como protagonistas.
“É fácil relacioná-los, mas penso que basta assistir e as diferenças ficarão evidentes. Um
20 “A portrayal of a lesbian community, rather than one lesbian character amid a sea of heterosexuals, the
serial drama has the unprecedented opportunity to offer diverse visions of alternative identity expressions,
love relationships, friendships, spaces and ‘family’formations. The L Word increases lesbian visibility on tele-
vision exponentially, a gesture that arguably has revolutionary cultural repercussions.”
21 Sobre Queer as folk, ler Rupturas possíveis – Representações e Cotidiano na série Os assumidos (Queer
as folk), de Sofia Zanforlin.
22 A Curve Magazine é editada em São Francisco (EUA) 19 anos. Tem 70 mil assinantes, sendo 99%
mulheres. Sua versão digital pode ser acessada em www.curvemag.com.
eLas por eLas 48
é sobre homens; o outro é sobre mulheres. Isso define o tom” (CURVE, 2006, p. 52,
tradução nossa).
23
A popularidade da série influenciou sua duração. As tradicionais cinco temporadas dos
seriados produzidos pela Showtime foram estendidas para seis. A última, com apenas
oito episódios, foi exibida na TV americana de janeiro a março de 2009. Antes do final
da gravação da temporada, a Showtime anunciou que a personagem Alice (Leisha
Hailey) protagonizaria uma spin-off de The L Word. Entretanto, em abril de 2009, o canal
recuou, anunciando que suspenderia o projeto The Farm, até então o nome da spin-off.
Na verdade, a suspensão do projeto ficou sem explicação e certamente não foi por falta
de audiência ou de popularidade de The L Word.
Em termos de audiência. The L Word se despediu em ótima forma. De acordo com a
Broadcasting & Cable, o episódio Last Word teve 756 mil telespectadores. Foi a terceira
maior audiência da história da série, perdendo apenas para os dois primeiros episódios
exibidos em janeiro de 2004
24
. (THE L WORD..., 2009) no dia da estreia da última
temporada, foram 460 mil telespectadores nos EUA, 44% a mais que o primeiro capítulo
da 5ª temporada. E, na semana seguinte, a audiência chegou aos 500 mil telespectado-
res. Mesmo com o adiamento da spin-off, é grande a expectativa das fãs em relação ao
projeto de fazer um filme da série, a exemplo de Sex & the City. Ilene Chaiken já admitiu
a possibilidade, apoiada com unanimidade pelo elenco. Em 16 de setembro de 2009,
Chaiken anunciou, por meio do twitter, que já está trabalhando no projeto do filme, ao
mesmo tempo em que também andamento ao The Real L Word, programa que
passou a ser anunciado pela Showtime em seu site oficial logo em seguida ao post, com
lançamento prometido para 2010. A intenção da produtora, que em outubro começou
a receber inscrições de lésbicas dispostas a participar do reality show, é a de apresentar o
cotidiano de mulheres homossexuais que residem em Los Angeles ou nas proximidades,
mostrando, de certa forma, que The L Word exibiu de fato a realidade da rotina das lés-
bicas locais. Ou seja, que The L Word é real.
O prestígio de The L Word é também atestado na atenção recebida pela mídia, principal-
mente a especializada nos temas LGBT. No Brasil, todos os sites pertencentes à “Lesbosfe-
ra” comentaram, criticaram ou anunciaram novidades da série, acompanhando um mo-
vimento ocorrido em diversos países, mesmo naqueles em que ela ainda não foi exibida,
23 “It’s easy to relate the two, but I think once people see our show the differences will be evident. One is
about men and the other is about women. That sets the tone already.”
24 Na primeira temporada, a audiência da série alcançou 936 mil telespectadores.
eLas por eLas 49
uma vez que boa parte da audiência acontece on-line. Além disso, em 2009, ao exibir
a quinta temporada, a Warner, responsável pela transmissão no país, acabou cedendo
um horário de melhor audiência para o seriado, que saiu da exibição aos domingos, às
23 horas, para as quintas-feiras, às 21 horas. Nos EUA, a Curve Magazine, considerada
a revista de maior prestígio entre o público lésbico, dedicou páginas e páginas às atrizes
que protagonizaram a série ao longo dos anos de sua exibição. Desde 2004, quase 20
capas da revista, que tem 10 edições anuais, estamparam as L atrizes, sendo difícil encon-
trar algum exemplar entre 2004 e 2009 em que não houvesse sequer uma nota sobre
o programa. Além disso, em janeiro de 2007, o colunista do Terra Magazine, do Portal
Terra, destacou que um vídeo promocional de The L Word foi o terceiro mais acessado
do mês no Youtube.
O sucesso do programa parece ter influenciado outras produtoras e canais, que passaram
a abrir mais espaço para personagens homossexuais. Após The L Word, foi lançada uma
série com protagonistas lésbicas e feita predominantemente por mulheres: a americana
Exes and Ohs, que estreou em 2007 e teve seis episódios, sendo exibida no Brasil apenas
a partir de dezembro de 2009 pelo GNT. A TV britânica, por sua vez, apresentou Sugar
Rush, cuja personagem central é uma adolescente lésbica, que foi exibida entre 2005 e
2007. Uma pesquisa realizada pela Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD
Aliança Gay e Lésbica contra a Difamação), abrangendo as cadeias ABC, CBS, NBC,
FOX e The CW, contabilizou 16 personagens gays, lésbicas ou bissexuais entre 2008 e
2009, num universo de 616 personagens em 88 shows das cinco emissoras. Com esse
número, as personagens homossexuais passaram de uma participação de 1,3% entre as
personagens de ficção para 2,6% (HOMOSSEXUAIS..., 2008).
É certo que esse aumento não se deve apenas ao sucesso de The L Word, pois segue
também uma tendência identificada em emissoras de alguns países, entre eles o Brasil
desde a exibição da novela Mulheres apaixonadas (2003), a Rede Globo, maior canal
de TV do país, trouxe uma personagem assumidamente homossexual, e não necessaria-
mente caricata, em todas as produções do horário nobre, pelo menos até a exibição de
Caminho das Índias (2009). No final de maio de 2009, a imprensa noticiou a produção
dos primeiros seriados gays brasileiros: Farme 40 graus e Cariocas. Ambos negociavam a
exibição com os canais pagos Multishow e GNT (SÉRIES GAY..., 2009).
Apesar do aumento no número de personagens homossexuais na TV americana e em
outros países, a criadora da série The L Word afirmou, em entrevista divulgada no www.
thelword.com nove semanas depois que o último episódio foi ao ar nos EUA, que espe-
eLas por eLas 50
rava uma mudança mais expressiva da mídia. Provavelmente, Ilene Chaiken se referia ao
fato de The L Word não ter deixado um programa substituto na TV americana: “Eu real-
mente imaginei que, quando essa série saísse do ar, depois de uma boa exibição, haveria
outras séries. Não somente uma, mas várias, que teriam a missão de representar a vida
LGBT no entretenimento, mas não existem“ (ENTREVISTA..., 2009).
As críticas americana e brasileira já taxaram The L Word de polêmica, revolucionária e até
a apelidaram de Sex & the City lésbico. Por exemplo: “quem pensou na série Sex and the
City, sobre transas de mulheres heterossexuais, não errou. A diferença é que L Word tem
muito mais sexo (por sinal, bem encenado, entre mulheres) e nudez feminina (frontais,
menos genitálias)” (TELEVISÃO LÉSBICAS..., 2005). Sex & the City é considerado um
marco na história da TV americana por ser a série que mais falou sobre as mulheres, o
que elas pensam e o que desejam.
É importante ainda considerar que, além de o elenco ser maciçamente composto por
mulheres, boa parte delas assumidamente homossexuais ou bissexuais, os cargos-chave
na produção e de roteiristas de The L Word também são ocupados por mulheres, a
maioria homossexuais. Há poucas mulheres assumidamente heterossexuais trabalhando
na série, entre elas as atrizes Jennifer Beals e Pam Grier
25
. A importância dessa equipe de
mulheres é destacada por Daniela Sea no especial:
Ela [Ilene Chaiken] se esforçou para contratar mulheres diretoras, o que
é quase impossível na televisão. Ela se esforçou e isso decolou a carreira
de algumas profissionais. Esse é o espírito de nossa comunidade, de nos
trazermos para cima e mudar o mundo mostrando quem somos de ver-
dade (SHOWTIME, 2009b).
Chaiken, em entrevista ao jornal The Observer, chegou a dizer que o seriado “é uma es-
pécie de antropologia lésbica e tem sido chamado de Dyke [gíria americana equivalente
à brasileira “sapatão”] as Folk” ou “Lesbians in the City”. A lésbica que assistir à série vai se
sentir representada. (cf. SAITO, 2005)
Tecnologia favorece
Além da exibição pela TV, os DVDs podem ser comprados pela internet originais ou
pirateados –, em grandes livrarias ou ainda é possível fazer seu download gratuito, for-
25 É curioso notar que boa parte do elenco assumiu uma postura aberta a relações homossexuais e que
algumas atrizes se declararam lésbicas antes, durante ou imediatamente após o término do programa.
Entre as que saíram do armário logo após o final de The L Word estão Kelly McGillis, que fez par romântico
com Tom Cruise em Top Gun (1986), e Clementine Ford, que interpretou Molly.
eLas por eLas 51
mato em que se dá a maior parte da audiência, em sites e listas de discussão de fãs. Com
esses recursos permitidos pelas novas tecnologias, mesmo antes de sua estreia no Brasil,
a série já era conhecida e popular entre grupos de lésbicas mais antenadas. Até a mídia
impressa tradicional, em geral arredia ao tratar da homossexualidade feminina, rendeu-se
à exigência dos fãs e nunca deixa de anunciar as novas temporadas, dar notícias sobre
o elenco etc. Algumas publicações, entre elas a revista Monet, também destacam a rede
de mulheres que se formou em torno da palavra L”. A edição de agosto de 2008 da
revista Monet traz, na matéria “Universos paralelos”, exemplos de séries que ganham um
mundo à parte na internet e consequentemente um novo modo de fazer televisão. Entre
os exemplos está www.thelwordbr.com.br.
No orkut, centenas de comunidades dedicadas à série ou às suas personagens. Entre
as três maiores estão The L Word - Brasil, que contabilizava 25.929 integrantes em janeiro
de 2010, seguida da The L Word-Brasil ORIGINAL com 18.928 e da The L. word -BRASIL
com 14.966. Além disso, no site oficial da série – www.thelwordonline.com –, dedicado
às fãs, pode-se encontrar on-line simultaneamente pessoas dos mais diversos países, en-
tre eles Brasil, Chile, Finlândia, Bulgária, França, México, Polônia, Filipinas e Israel, o que
atesta o quanto a l word extrapolou os limites dos Estados Unidos.
Seja polêmica, ousada, eletrizante ou revolucionária, entre outros adjetivos que recebeu,
The L Word chama a atenção pelo quanto parece ter conseguido mobilizar mulheres
homossexuais, criando redes e mais redes em seu entorno. Talvez o sucesso esteja exa-
tamente na criação desse espaço de encontro, em que, pela primeira vez, as telespecta-
doras, sentindo-se retratadas ou não, têm a possibilidade de ver temas comuns ao seu
cotidiano discutidos sem restrições no espaço midiático e para além dele. O elenco da
série também saiu dos estúdios e participou de atividades organizadas pela sociedade
civil em prol dos direitos da comunidade LGBT. Entre essas atividades, criadora e elenco
participaram de um jantar de gala beneficente da Servicemembers Legal Defense Ne-
twork (SLDN), que luta contra a discriminação dos homossexuais que servem nas Forças
Americanas, pois, sob a política do “Don’t Ask, Don’t Tell”, desde 1994 o exército ameri-
cano baniu e fechou todas as portas para o alistamento de homossexuais. Ilene Chaiken
comentou a emoção da plateia:
E o que eu acho que foi mais comovente, acima de todas as outras coi-
sas foi a forma como as pessoas reagiram a nossa presença. Tiveram tan-
tas mulheres e homens que foram até Rose Rollins, que interpreta Tasha.
Muitos deles em uniformes. Alguns deles foram dispensados do serviço
militar. Estavam se desmanchando em lágrimas. E disseram a ela que
eLas por eLas 52
eles nunca, em seus sonhos mais loucos, imaginaram que veriam suas
histórias sendo vividas na televisão por uma personagem tão guerreira e
inspiradora como Tasha (SHOWTIME, 2009b).
A atriz Kate Moennig aproveitou a popularidade e a história de sua personagem, Shane
McCutcheon, que foi criada em abrigos e orfanatos, para apresentar o documentário
“My Address: A look at gay youth homelessnes”, produzido pela Our Chart, a rede social
de The L Word, que mostra a realidade de jovens da comunidade LGBT que vivem pelas
ruas de Nova York. A atriz também se lembrou desse trabalho e comentou que “não foi
uma experiência realmente profunda, mas também me mostrou o tipo de impacto que
a série teve e o quanto ajudava os jovens em vários níveis. Pensei: bom, é por isso que a
série está no ar”
(SHOWTIME, 2009b). A realização do documentário e a participação em
jantares, paradas gays e outras atividades em prol dos direitos LGBT mostraram que as
pessoas envolvidas com o seriado, seja no elenco, na produção, na direção, roteiro, en-
fim, em todas as suas etapas, tinham um comprometimento bem maior com as questões
que trouxeram para as telas da TV do que os 50 minutos de duração de cada episódio.
Depoimentos de fãs e dos envolvidos no programa nos levam a pistas de que a represen-
tação do cotidiano do grupo de amigas lésbicas angariou simpatia e identificação, tanto
que The L Word virou nome de festas lésbicas no Brasil, principalmente em São Paulo e
no Rio de Janeiro, e também gíria entre as mulheres homossexuais. Passou a ser comum
ouvir frases do tipo: isso está muito The L Word hoje. E, em bares lésbicos, é comum ver
as garotas se vestindo como Shane McCutcheon, personagem de Kate Moennig, com
certeza uma das mais populares da série. Também é comum flagrar grupos de amigas se
tratando pelo nome das personagens com quem se identificam. Sua popularidade pode
ser atestada, ainda, com a inauguração do bar The L, voltado para o público GLS, cujo
nome faz referência direta à série, em setembro de 2007, em Belo Horizonte.
A identificação dos telespectadores com personagens de programas de televisão é fre-
quente alvo de estudos de pesquisadores. Em matéria publicada no Portal Terra, divulga-
se o resultado de uma pesquisa realizada por psicólogos das universidades de Buffalo e
Miami (EUA) com 701 estudantes. Segundo os pesquisadores, as análises comprovam
que os “relacionamentos ilusórios com os personagens dos programas de TV podem
trazer sentimentos de aceitação, mesmo em situações em que a pessoa tenha baixa auto-
estima ou após sofrer rejeição social, sendo excluído de grupos de amigos ou familiares.”
(TV SUBSTITUI..., 2009).
Se pensarmos no quanto ainda existe preconceito em relação à homossexualidade, fica
eLas por eLas 53
fácil deduzir o quanto esse sentimento de inclusão pode ser ainda mais frequente em
pessoas que pertencem a minorias, sejam raciais ou de orientação sexual. Os pesquisado-
res alertam ainda para o risco de se trocar o convívio social real pelo ilusório. Entretanto,
programas como The L Word talvez cumpram mais um papel de porta de entrada para
novas realidades e também colaborem na autoaceitação, conforme relatado pelas atrizes
de The L Word, a partir de suas experiências com as fãs, no especial sobre a série. Segun-
do a atriz Jennifer Beals, uma garota pediu a seu marido que lhe entregasse uma carta.
No texto, ela agradecia a Beals pela série, relatava o quanto The L Word era a “salvação
dela” e ressaltava sua importância. A atriz Erin Daniels, por sua vez, foi abordada por uma
menina num mercado, que relatou ter chamado a mãe para assistir à série e, ao final,
perguntou se ela havia gostado. A mãe respondeu que sim e a menina retrucou: “Ótimo,
porque essa sou eu. Assim que me assumi para a minha mãe.” (SHOWTIME, 2009b)
Além de cultivar fãs lésbicas em vários países, críticos, pessoas que trabalharam na produ-
ção e ativistas homossexuais também frisaram que um dos méritos da série foi o de não ter
uma audiência exclusiva de lésbicas. No especial exibido, Sharon Isbin, guitarrista clássica
assumidamente lésbica, que faz uma ponta na segunda temporada, diz que acha maravi-
lhoso o fato de “mulheres heteros estarem absolutamente devotadas a assistir à série”:
Acho que uma das grandes coisas de The L Word é que a série leva as
pessoas para dentro da história de vida de outras pessoas. Não é... não
é sobre ser gay, é sobre ser humano. É sobre arranjar um emprego, é
sobre perder um emprego. É sobre perder um amor, é sobre ganhar um
amor. É sobre todos os tipos de coisas que os seres humanos vivenciam
na vida (SHOWTIME, 2009b).
Hilary Rosen, sócia de Ilene Chaiken no OurChart.com
26
e colaboradora da CNN, vai
além e diz que “o fato de ter heteros assistindo desde o começo, e todas nós sabíamos
disso, fez as lésbicas gostarem ainda mais da série” (SHOWTIME, 2009b). Talvez essa sa-
tisfação de as mulheres homossexuais terem a consciência de estarem sendo vistas possa
ser explicada pela quebra de estereótipos. Para Joan M. Garry, conhecida ativista dos
direitos humanos nos EUA e Diretora-Executiva da GLAAD, um dos grandes presentes de
The L Word foi que “ele acabou totalmente com os estereótipos arcaicos da comunidade
lésbica” (SHOWTIME, 2009b). Na mesma linha, Kate Clinton, comediante e escritora ame-
ricana assumidamente lésbica, afirma que “a série definitivamente mudou aquela noção
de que todo mundo [lésbicas] sempre está de blusa de flanela” (SHOWTIME, 2009b). So-
26 OurChart.com é uma rede social de mulheres criada durante sua exibição e inspirada no OurChart.
com da série.
eLas por eLas 54
bre algumas críticas que receberam de fãs que não se sentiam representadas pelo fato de
nem todas as lésbicas serem “lindas, magras e com ótimas carreiras”, Rose Troche, roteiris-
ta e braço direito de Ilene, brinca: “Quando fizemos Go Fish, a reclamação foi: ‘nem todas
nós, lésbicas, somos feias’. Não podemos agradar a todas”
27
. (SHOWTIME, 2009b)
Joan Garry, que tem a mesma opinião, acredita que as personagens mostraram para os
Estados Unidos essa diversidade de estilos lésbicos.
Algumas de nós usam cintos para ferramentas, outras usam Donna Ka-
ran. Isso mostrou para a América o fato de que nós existimos em todos os
tamanhos, formas, cores, guarda-roupas. E isso mostrou para a América
que nós podemos ser sexy. A essa altura do campeonato, com notável
exceção de Ellen DeGeneres nós éramos, talvez, se tivéssemos sorte, a
melhor amigo gay. Talvez a vizinha do lado. Mais provavelmente a pro-
fessora da escola ou a bibliotecária no armário. E, mais frequentemente
do que isso, nós éramos completamente invisíveis (SHOWTIME, 2009b).
3.1 Lendo The L Word
The L Word traz um núcleo de amigas que vivem sob o lema “um por todos e todos por
um”. A cada temporada, conflitos, separações e até mesmo pitadas de aventura e comé-
dia vão se sucedendo e prendendo a atenção da telespectadora. Os capítulos, à exceção
do episódio piloto, que teve 90 minutos de duração, têm em média 50 minutos. É pos-
sível assistir a cada episódio isoladamente, mas certamente quem “segue” os episódios
semana após semana tem maior envolvimento e menos dificuldade de entender a trama
do dia. Isso porque os episódios seguem uma sequência lógica, a trama se desenvolve.
grandes questões que serão desenvolvidas durante uma ou mais temporadas, e ou-
tras mais pontuais que costumam dar o tom do episódio. A cada final, a telespectadora
tem uma sensação de desfecho, embora, obviamente, permaneçam situações em sus-
pense, até mesmo para chamar a audiência para a semana seguinte. A partir da segunda
temporada, facilitando para a telespectadora menos atenta, sempre uma retrospectiva
dos principais eventos do capítulo anterior. E a cada final de temporada, uma ou mais
situações são deixadas em suspense.
Pergunta-se quem é a personagem principal de The L Word. Alguns críticos apontaram
Jennifer Schecter (Mia Kirshner). Outros apostam no casal Bette Porter (Jennifer Beals) e
27 Go Fish (TROCHE, TURNER, 1994) é um filme independente, considerado um clássico do cinema lésbico.
eLas por eLas 55
Tina Keynard (Laurel Holloman), mais conhecido como Tibette. Entretanto, não é isso
que se no desenrolar dos episódios, pois cada capítulo e cada temporada colocam
o foco em uma ou outra personagem. Nem as fãs têm consenso sobre isso. Segundo
Chaiken, Jenny, que a princípio era heterossexual, era o ponto de acesso à comunidade
lésbica. Talvez, no começo, a personagem representasse o olhar, no mínimo curioso, que
as heterossexuais têm em relação às homossexuais. Numa enquete realizada na comuni-
dade The L Word–Brasil, no orkut, sobre quem seria a personagem principal da série, as
opiniões ficaram bem divididas e a maioria concordou que não havia apenas um núcleo
privilegiado. A série, na verdade, parece não eleger uma personagem como a principal. A
cada episódio, uma das cinco personagens (Shane, Tina, Bette, Alice, Jenny) presentes em
todas as temporadas ou mesmo outras que vieram depois o tom. Será que cada
personagem, conforme seu estilo e drama, consegue criar conexões com as telespecta-
doras? O fato é que o foco na personagem é tamanho que cada retrospectiva do capítulo
anterior é também feita por uma delas e não pela sequência cronológica dos fatos.
Em The L Word, fica muito evidente a pulverização de protagonistas, o que complexifica
a trama. Acontece, na série, o que Scolari (2007) ressalta: não há apenas uma persona-
gem principal para que a história gire em torno dela, mas várias personagens que dão
origem a inúmeras conexões na trama. O flashback, que rompe a sequencialidade dos
fatos, também é usado recorrentemente, especialmente nas segunda e terceira tempora-
das. Antes do início de cada episódio, alguma cena do passado que terá relação com o
tema em evidência no dia é mostrada, fazendo com que posteriormente a telespectadora
seja obrigada a criar o vínculo entre passado, presente e, às vezes, futuro. Essa ruptura da
sequencialidade quebra a linearidade narrativa e, como pontua Scolari, “leva o telespec-
tador a interpretar os acontecimentos” (SCOLARI, 2007, p. 8). O ritmo de cada capítulo
é acelerado, várias tramas se desenvolvem paralelamente e, seguindo a tendência, se
algo é solucionado em um capítulo, uma ou mais novas questões estão propostas e
manterão o telespectador envolvido até a semana seguinte ou até o próximo ano, pois
mesmo os finais das temporadas deixam muitas situações em suspense.
As tramas se desenvolvem em torno de questões cotidianas como amor, ciúme, filhos, se-
parações, trabalho e morte. Na verdade, o seriado mostra problemas comuns a qualquer
cidadão, o que também angariou a simpatia de telespectadores heterossexuais, confor-
me observado pelas envolvidas na produção. Sobre isso, Vencato (2008) destacou que
um dos méritos da série é o de levar as pessoas a pensarem sobre o universo lésbico e
além dele.
eLas por eLas 56
(...) mulheres heterossexuais que confessam que a série despertou nelas
dúvidas acerca de algumas “verdades” vividas até ali, chegando a ponto
de algumas se questionarem se, de fato, fizeram a “coisa certa” em ter
casado, tido filhos e seguido o que elas denominam de “os padrões con-
vencionais da sociedade” (VENCATO, 2008, p. 1).
Dessa forma, a antropóloga destaca que, além de desmistificar estereótipos em relação
às lésbicas, The L Word consegue que pessoas de sexualidades diversas se identifiquem
com as situações retratadas e passem a repensar suas próprias vidas.
Se a lógica da luta contra o preconceito é tornar experiências outras, dis-
tantes, em mais próximas e menos exóticas; retratar modos de vida que
divergem do normativo como possíveis e legítimas, de modo a fazer com
que deixem de ser vistas como marginais, tem sido comum ao seriado.
Nesse contexto, devo dizer que, até agora, The L Word certamente diz a
que veio (VENCATO, 2008, p. 1).
Não Vencato (2008) se interessou em pesquisar o tema. The L Word parece de fato
despertar o interesse da comunidade acadêmica. Nos Estados Unidos, por exemplo,
pesquisadores de televisão, cinema, lesbianidade, política, linguagem e feminismo, entre
outros, analisaram a série sob a organização de Kim Akass e Janet McCabe, lançando, em
2006, Reading The L Word – outing contemporary television, primeiro livro dedicado ao
tema. Na introdução de Reading The L Word, as organizadoras da edição lembram que
Ilene Chaiken disse que sua intenção não é a de representar todo mundo as lésbicas
–, mas de trazer uma comunidade de mulheres que ela conhece bem e que falam de
questões familiares a todas as mulheres.
Esse sentimento de reconhecer temas comuns é apontado também no Brasil. Em entre-
vista, Martha Vasconcelos, 29 anos, jornalista, e Luriana Cohen, 42, engenheira, que já
se tornaram referência sobre o tema e são as criadoras da lista de discussão The L Word
– BR, que mantêm ativa desde antes do início da série nos EUA, destacam como as teles-
pectadoras podem criar laços de identificação com as personagens.
Quando alguém diz que “se viu” na pele de Bette, nunca se refere ao
carro que ela dirige ou à roupa que veste. Percebemos que essa identifi-
cação sempre diz respeito às ligações afetivas e aos problemas amorosos
pelos quais as personagens passam. E traições, incertezas, paixões incon-
troláveis e dor-de-cotovelo independem de status financeiro e/ou social
(ENTREVISTA..., s/d).
Entretanto, a identificação destacada por Vasconcelos e Cohen não é senso comum. Em
Reading The L Word, os diversos estudiosos do seriado acabam se dividindo na crítica.
eLas por eLas 57
Para alguns, a série teria o mérito de mudar o estereótipo até então utilizado para repre-
sentar as lésbicas: feias, cafonas, assexuadas. Para outros, atenderia ao estereótipo da
fantasia masculina da lesbian chic. Heller (2006) chama atenção para esse paradoxo: de
um lado, a série oferece diversidade cultural, mas de outro está afinada com a indústria
televisiva, em que predominam as mulheres mais femininas.
A respeito disso, Vencato (2005) destaca que a ausência da representação de lésbicas
masculinizadas surtiu pouco efeito no Brasil, pois a maioria acreditou ser bom ver lésbicas
bonitas e bem resolvidas na televisão, uma vez que o imaginário social as considerava
descuidadas, masculinizadas e mal amadas.
Figura 8 – As personagens: lésbicas e lindas
Wolfe e Roripaugh (2006), por sua vez, defendem que The L Word se submeteu a uma es-
pécie de pacto de Fausto, trocando a conquista da visibilidade lésbica no broadcasting pelo
reforço de valores interessantes a patrocinadores, como dinheiro e beleza. Por outro lado,
Heller defende que a série “persistentemente desmantela a dinâmica social convencional,
mostrando caminhos que mudam pressupostos sobre prazer, política e poder(HELLER,
2006, p. 63, tradução nossa)
28
. Para exemplificar, lembra da passagem em que Tim flagra
Jenny e Marina fazendo sexo oral, o que, nos padrões da indústria pornográfica, o excita-
ria. Entretanto, ao fazer sexo com Jenny horas depois, ele não consegue ter uma ereção.
Também Chambers (2006) aponta esse dilema em The L Word. Para ele, a série ganha
pontos ao trazer tantas personagens lésbicas. Entretanto, sua avaliação é a de que o gru-
28 “...The L Word persistently dismantles the conventional social dynamics of looking in ways that challen-
ge typical assumptions about pleasure, politics and power.”
eLas por eLas 58
po é esmagadoramente branco e feminino na aparência, roupas e comportamento. Por
outro lado, ele mesmo admite que se a série trouxesse minorias raciais e butches, poderia
cair em outro tipo de crítica.
Para simplificar, um pastiche multicultural poderia ser muito irreal tanto
para o espaço West Hollywood onde se passa a trama como para
o grupo de amigas. Quem conhece um grupo de amigas tão próximas
como elas que tenha mulheres de todo o tipo, de diferentes sexualida-
des, identificação de gênero, performance, raça e classe? Sabemos que o
mundo não funciona assim.
The L Word é criticado por ser muito branco
e feminino, mas, se não o fosse, poderia ser criticado por não ter seme-
lhança com a realidade e seria desafiado a isso (CHAMBERS, 2006, p. 83,
tradução nossa).
29
Entretanto, é importante registrar que CHAMBERS (2006) e os demais autores fizeram
essas análises após a segunda temporada da série. O fato é que, a cada ano, observa-se
um esforço das roteiristas em apresentar vários tipos de mulheres. Isso foi observado por
Vencato (2005) e contraria boa parte da crítica americana. A antropóloga ressaltou o es-
forço de The L Word em trazer personagens de diversas etnias e discussões sobre temas
polêmicos como traição, homoparentalidade e sadomasoquismo. Para ela, o programa
teve, ainda, o mérito de dar um tom inclusivo às práticas sexuais diversas. “A série traz,
também, discussões acerca do sexo conjugal e do sex for fun (sexo pelo sexo), sem tentar,
de modo geral, legitimar uma e deslegitimar a outra” (VENCATO, 2005, p. 3). Sobre esse
esforço para trazer os mais diversos tipos de mulheres, conforme destaca Vencato, a atriz
Cybill Shepherd, que entrou para a série na quarta temporada, interpretando Phyllis, res-
salta a oportunidade de as mulheres maduras também se verem representadas. Em entre-
vista ao The Courier, ela disse: “Em que outro programa, mulheres com características tão
diferentes poderiam ser retratadas da forma como The L Word faz? (...) Eu até tive uma
cena de amor. Na minha idade, não ganhamos cenas de amor” (MCWHIRTER, 2008).
Por outro lado, Chambers (2006) acredita que a representação tem apenas uma pequena
dimeno dentro das poticas de nero e de sexualidade. Para ele, a representação na
televisão não significa absolutamente que haverá garantias políticas em contrapartida. Ele
avalia que normas de gênero e sexualidade podem ou o ser alteradas por um seriado
29 “To put it simply, a multicultural pastiche would prove utterly unrealistic, both for the setting (West
Hollywood) and for the group of friends. How many of us are a part of, or know a group of friends that
are as close as Dana, Alice, Tina, Bette and Shane, in wich the group is evenly populated across lines of
sexuality, gender-identification and performance, race and class? We know the world does not work that
way. Thus, The L Word will be (rightly criticized for being too white and too femme, but if it had not been,
it would be (rightly) challenged for its departure from any semblance of reality.”
eLas por eLas 59
de televisão. Nesse sentido, lembra que as normas sempre chamam e demandam pela
ideia do normal, reforçando-a e construindo-a. Ao pensar a televisão como um elemento
constitutivo da cultura, Chambers (2006) acredita que ela não deva ser pensada apenas
como representação, mas “como uma prática cultural que produz e reproduz normas de
gênero e de sexualidade que são nossa realidade potica e social(CHAMBERS, 2006, p.
85, tradução nossa)
30
. Nesse sentido, o autor defende que a rie deve ser vista e criticada
como parte de uma grande batalha contra a heteronormatividade, ainda que a retome em
seus episódios. O termo heteronormatividade foi criado por Michael Warner em 1991, e
desenvolvido por Chambers, que o entende como as expectativas, demandas e restrões
existentes em uma sociedade, quando a heterossexualidade é tida como normativa. O con-
ceito pressue, ainda, que não escolhas em relação ao papel de gênero e à identidade
sexual, uma vez que a sociedade se limita ao binarismo macho e fêmea. Nesse sentido, The
L Word quebra esse binarismo e essa suposta falta de opção ao trazer personagens como
o homem sbico, transexuais, travestis e mesmo ao mostrar constantes trocas de papéis
entre os casais lésbicos, que originalmente já não se compõem de macho e fêmea.
Moore e Schilt (2006) minimizam o fato de The L Word não trazer muitas personagens
butches porque acreditam que a série propõe uma discussão mais ampla. Na primeira
temporada, personagens como drag king, genderqueer, transgender, mas é a per-
sonagem da cabeleireira Shane McCutcheon (Katherine Moennig) que as pesquisadoras
avaliam como a mais representativa da ambiguidade dos gêneros, o que aproxima a série
de um olhar mais contemporâneo sobre gênero e sexualidade.
Estes conceitos abstratos butche ’masculinidade’, femmee ‘feminili-
dade’ são excessivamente determinantes e estão em mudança constan-
te. Portanto, assim como butchdepende dos conceitos de ‘masculini-
dade’ e por extensão dos de ‘feminilidade’ para uma definição tanto do
que é quanto do que não é, ‘soft butché um termo completamente
dependente no sentido que ele denota uma lésbica ‘masculina’ que é
mais ‘feminina’ do que é determinado pelo conceito de butch(MOORE;
SCHILT, 2006, p. 159, tradução nossa)
31
.
Como assinalam Moore e Schilt (2006), Shane traz a identidade dyke pós-moderna, que
30 “Television must be thought of not merely as a ‘representation of reality’ but as a cultural practice that
produces and reproduces the norms of gender and sexuality that are our lived reality (both political and
social).”
31 “These abstract concepts ‘butch’ and ‘masculinity’, ‘femme’ and ‘femininity’- are over-determined and in
constant flux. Therefore, just as ‘butch’depends on concepts of ‘masculinity’and, by extension, ‘femininity’for
definition of both what it is and what it is not, ‘soft butch’ is a completely dependent term in that it denotes
a ‘masculine’ lesbian who is more ‘feminine’ than what is determined ‘butch’”.
eLas por eLas 60
vem dos estilos butch e femme, desses papéis. Ela coloca essas coisas de ser butch, fem-
me, masculino, feminino em constante fluxo. O conceito de butch vai depender do que
é masculino ou feminino, e o termo soft butch é totalmente dependente do que seria
uma lésbica masculina, que é mais feminina do que a butch. Em um dos episódios, a
própria Shane transmite esse recado: “Sexualidade é fluida, seja você gay, hetero ou bi...
apenas siga o fluxo”
32
(tradução nossa). Assim, as autoras reafirmam o mérito de The L
Word revelar a complexidade das identidades de gênero, recusando-se a um modelo es-
sencialista e permitindo que o masculino e o feminino sejam temperos que darão origem
a outra coisa. Em síntese, elas avaliam que o seriado estabelece diálogos com teorias
sobre a construção social do gênero que “desmantelam a suposição natural de que
uma conexão entre o corpo em que se nasce, a sexualidade e as identidades de gêne-
ro e as performances de gênero” (MOORE; SCHILT, 2006, p. 168, tradução nossa)
33
. A
partir da quarta temporada, as autoras ousam ainda mais com a quebra de paradigmas
binários, típicos da cultura heterocentrista, com a chegada da personagem Moira/Max,
interpretada por Daniela Sea. No início, Moira nos parece uma butch que namora Jenny.
Depois, descobre-se transexual, assume a personalidade masculina e passa toda a série
desejando fazer a cirurgia de mudança de sexo. Quando está com um aspecto bem
masculino, começa a namorar Tom, um homossexual. E, por fim, ao término da série,
está grávido do namorado, que o abandona.
Para Warn (2006), o sucesso da série se deve ao fato de “expressar experiências específi-
cas de lésbicas, e universais às mulheres (e homens) ao mesmo tempo” (WARN, 2006, p.
3, tradução nossa)
34
. Diferencia-se, assim, de histórias tristes das lésbicas em situações de
coming-out, de amores proibidos e de estarem sempre em busca da construção de uma
família e de terem filhos. Ela destaca que há, inclusive, situações de coming-out, como
as de Jenny e Dana, e também pelo desejo de ter filhos e constituir uma família, como
Tina e Bette, mas essas situações não definem as personagens, sendo apenas parte delas.
Nesse sentido, Warn (2006), fundadora e editora do site AfterEllen.com, destaca que um
dos grandes trunfos da série foi que as mulheres começaram a se juntar na internet e
fora dela em torno da série. Nesse sentido, o grande valor da série é, para a autora, ser
um campo fértil para debates sobre questões importantes para as mulheres lésbicas. Criar
32 “Sexuality is fluid, whether you’re gay or you’re straight or you’re bisexual... you just go with the flow.”
33 “(…) that dismantle the supposedly natural conecction between the body one is born with, sexual and
gender identities, and gender performance.”
34 “(...) The L Word succeeds because it portrays experiences that are specific to lesbians, and universal to
all women (and men) at the same time.”
eLas por eLas 61
essa conexão, segundo Warn (2006), será o maior legado de The L Word para as lésbicas
de todo o mundo.
Aliás, a conexão parece ser a grande metáfora da série e a forma pela qual ela consegue
integrar a telespectadora ao seu espaço. Desde a primeira temporada, pequenas histó-
rias, a princípio sem relação com o enredo, aparecem antes da vinheta de abertura. De-
pois, cabe à telespectadora montar o quebra-cabeça e perceber que todos estão ligados.
Essa ligação acaba por se estender à própria telespectadora por meio da criação de um
espaço comum entre a ficção e a realidade: o OurChart.com.
Figura 9 – O gráfico em OurChart.com
Nesse espaço, as fãs tinham a possibilidade de participar de um gráfico exibido frequen-
temente no seriado, em que aparecem as relações amorosas entre as personagens. O
layout, a proposta e o nome são os mesmos na ficção e na realidade. As fãs podiam en-
trar na rede de relações e até se ligar às atrizes e à criadora da série. Para Ficera (2006),
integrante da Associação Nacional de Jornalistas Gays e Lésbicas dos Estados Unidos, a
presença do chart na série é um belo exemplo da arte imitando a vida e faz com que as
lésbicas consigam se ver em The L Word. Depois de dois anos, a partir de 26/1/2009, o
OurChart.com acabou e foi oferecida à telespectadora a alternativa de se integrar a The
L Word Social Network, disponível no link http://showtimelword.ning.com, e a outros
espaços como a Wikipédia do The L Word e a comunidade oficial da série no Facebook.
Entretanto, nenhuma delas conquistou o mesmo sucesso do OurChart, pois, de algu-
ma forma, ele personificava a mistura entre ficção e não ficção, aproximando as fãs das
atrizes e consequentemente das personagens. O final da rede de relacionamentos foi
esclarecido por Ilene como uma união de esforços entre o OurChart e a Showtime, mas
o novo espaço não alcançou o mesmo sucesso que o anterior.
Essa sensação de verossimilhança é compartilhada por Belge (2006), que escreve para
eLas por eLas 62
o lesbianlife.about.com. Ao tentar explicar porque acha The L Word sexy, ela acredita se
tratar da capacidade de retratar exatamente as situações sexuais e sensuais vividas pelas
lésbicas. Belge (2006) defende que as roteiristas conseguiram materializar uma sensibi-
lidade lésbica universal. Nesse sentindo, Vencato (2005) lembra que as práticas sexuais
entre lésbicas em The L Word têm algo a nos dizer acerca do universo lésbico. Na série,
as mulheres fazem sexo por diversão, algumas têm várias parceiras sexuais ao longo da
vida, em alguns casos simultaneamente, e usam ou não acessórios sexuais. Entretanto,
mesmo quando lançam mão de acessórios, isso não indica “uma vinculação de prazer
sexual pautado num modelo de sexo heterossexual (no sentido de englobar necessaria-
mente a penetração de uma vagina por um pênis)” (VENCATO, 2005, p. 7).
Belge (2006)
destaca que os beijos e arroubos repentinos presentes na série, como a cena em que
Alice se declara para a Dana, fazem com que as lésbicas se lancem aos chat rooms e se
animem a ir para a cama numa lasciva troca de olhares.
A cena em que Bette e Candance estão trancadas na cadeia e não po-
dem se tocar e se masturbam dentro da mesma cela, não causou
tesão nas mulheres como também provocou uma corrida de lésbicas
para a internet para discutir o que era infidelidade. O que faz esta cena
ser excitante é que ela não só nos excita como também nos leva a uma
masturbação mental. Nos excita pensar: o que é sexo, o que é infidelida-
de, o que é ser lésbica? Lésbicas amam debater e The L Word gera muito
assunto para debate (BELGE, 2006, p. 142, tradução nossa)
35
.
Belge (2006) destaca dessa forma o quanto as cenas exibidas na série podem provocar as
telespectadoras a refletir sobre questões relacionadas à própria sexualidade. Vanasco
(2006) destaca a importância de se trazer o cotidiano de lésbicas para a tela. Ela acredita
que The L Word funcione praticamente como um documentário, que, pacientemente,
traz aos leigos o quanto a cultura lésbica é interessante, chique e mesmo engraçada. Ao
recorrer a cenas do seriado, pergunta: “Quem não gosta de beber no final da tarde e
conversar sobre vida sexual? Quem não quer ter sexo numa mesa de bilhar? Quem não
quer fazer uma viagem com as melhores amigas? Tudo isso faz a cultura lésbica parecer
muito, muito normal” (VANASCO, 2006, p. 184, tradução nossa).
36
35 “When Bette and Candance, locked in jail together, can’t touch each other and so grope at themselves,
not only was their masturbation scene underwear sweat inducing, it caused lesbians to race the Internet
forums to debate what constitutes cheating. The appeal is not only to pleasure the body, but to masturbate
the mind. Turns us on, what is sex, what is unfaithful, what is lesbian? Lesbians love to debate and The L
Word gave us plenty to debate about.”
36 “Who wouldn’t want to sit around all afternoon and discuss one’s sex life while drinking lattés? Who
wouldn’t want to have hot sex in one’s own backyard pool? Who wouldn’t want to a road trip to a cool
party with all one’s best buddies? It also makes lesbian culture seem very, very normal.”
eLas por eLas 63
Para ela, essa naturalidade da cultura lésbica se deve ao fato de as mulheres de The L
Word terem seus corações partidos, fazerem boas e más escolhas, adorarem seus animais
e suas crianças. Ou seja, são compassíveis, ranzinzas, em síntese são como qualquer um.
E, nesse possível movimento de identificação e de reconhecimento por parte das fãs, o
seriado parece também ter favorecido não só a sua conexão com as fãs, mas a conexão
entre as fãs, como atesta Vasconcelos ao comentar a atitude das telespectadoras em en-
trevista ao site “Um outro olhar”.
The L Word, segundo elas, despertou uma curiosidade de conhecerem,
finalmente, o que sentiam. E estarem em um ambiente onde a maioria
é de lésbica da série dois pontos em comum deu coragem para
muitas delas se abrirem, contarem suas experiências. Algumas se conhe-
ceram através da lista e até se casaram, mudaram de cidade e de país.
Outras nem conheciam direito o que era uma lista de discussão, mas ao
assistirem a The L Word na TV, sentiram uma imensa vontade de procurar
com quem conversar a respeito e correram para a Internet (ENTREVIS-
TA..., s/d).
Assim, pode-se dizer que, no tema e também na forma, The L Word se mostrou contem-
porânea e provocativa. De um lado, atendeu a quesitos como ruptura de sequencialida-
de, ritmo acelerado e tramas complexas, conforme destacamos e que foram elencados
por Scolari (2007), buscando definir um novo conceito para a televisão. Ao propor o con-
ceito de hipertelevisão, o autor lembra que a entrada dos seriados na vida adulta, com
assuntos mais polêmicos e complexos, acaba por exigir mais refinamento das produções,
o que parece se concretizar em The L Word.
Por outro lado, os envolvidos com o programa levaram a televisão para muito além das
telas. De alguma forma, utilizaram o prestígio, o glamour e a popularidade dos seriados
americanos para dar visibilidade à cultura, aos anseios, às reivindicações das mulheres
homossexuais, enfim, a uma explosão de imagens lésbicas jamais vista na televisão mun-
dial. Ao mesmo tempo, The L Word usou o espaço hollywoodiano, no qual nasceu,
para criticar a própria Hollywood. Com a história da série (re)contada em formato de
filme na própria série – o filme Lez Girls –, Ilene conseguiu mostrar o quanto é difícil – às
vezes impossível – manter uma ficção como uma história sobre lésbicas até o fim. Assim,
aproveita The L Word para denunciar o quanto as indústrias televisiva e cinematográfica
são preconceituosas e, muitas vezes, rendem-se a interesses das áreas de marketing e de
patrocinadores, sacrificando as histórias originais. Apesar da crítica à indústria audiovisual
e da temática polêmica, o programa atraiu um bom número de anunciantes, em forma
de merchandising, que vendem produtos destinados às classes mais abastadas. Entre
eLas por eLas 64
eles, encontram-se produtos e marcas como Dos Equis, Heineken, Apple, Subaru, Perrier,
Marlboro, Absolut, Dove e Adidas.
Ao assistir aos episódios que tratam desses temas, exibidos principalmente na quinta
temporada, mesmo uma telespectadora mais desatenta acaba por relacionar a crítica a
vários produtos conhecidos, entre eles o filme Beijando Jessica Stein, de Charles Herman-
Wurmfeld (2001). No filme, a protagonista, em busca de um amor, chega a ter um rela-
cionamento lésbico, mas, ao final, volta a ser heterossexual, como se tudo não passasse
de um ledo engano, um pequeno deslize, algo assim.
Além de conseguir criticar a própria lógica na qual está inserida, The L Word também
reverteu alguns padrões e rompeu alguns formatos. Se a série traz um assassinato na últi-
ma temporada, cria-se obviamente a expectativa de revelar quem o cometeu. A criadora
banca a não revelação da autoria do crime e ainda se ao luxo de continuar a série pela
internet, após seu término oficial na televisão. Semana após semana, mantendo o ritmo
serial e de suspense, Ilene trouxe pelo site da Showtime os depoimentos de algumas das
personagens suspeitas de terem cometido o assassinato, o que acabou por revelar o
passado de algumas e detalhes da personalidade de outras. Ainda após os depoimentos,
não se sabe quem matou Jenny Schecter, o que, mais uma vez, quebra todas as expec-
tativas às quais as telespectadoras estão acostumadas. De certa forma, Ilene também
consegue dar o seu recado, pois deixa claro que o importante em The L Word não é o
mistério de uma morte. Se o importante não é desvendar um possível homicídio, para o
que ela estaria voltando a atenção das telespectadoras?
3.2 Latifúndio lésbico
The L Word teve 70 episódios distribuídos em seis temporadas e outros sete vídeos exibi-
dos pela internet. A cada temporada, um dilema e algumas das protagonistas ganharam
mais ou menos evidência. A primeira temporada teve 13 episódios, incluindo o piloto.
Antes do início de cada capítulo, pequenas histórias eram apresentadas. Optamos por
chamá-las prefácios, no sentido de que anunciam o que está por vir, sem, no entanto, re-
sumir ou revelar tudo o que será contado. Em boa parte dessas introduções, as histórias
exibidas pareciam não ter vínculo com as personagens da série. Na verdade, em alguns
casos no mesmo episódio, a telespectadora entendia que os tais prefácios revelavam o
passado de uma personagem que apareceria naquele episódio e que não era uma das
protagonistas. No primeiro deles, Alice (Leisha Hailey) aparece falando sobre como as
eLas por eLas 65
pessoas estão conectadas, frisando que essas ligações não se restringem à lesbosfera,
incluindo gays, homens e mulheres heterossexuais. Na verdade, um olhar mais atento
aos prefácios nos mostra que eles, a todo momento, evidenciam as conexões entre as
personagens e os acontecimentos da série. sempre um link entre uma história apa-
rentemente à parte com a personagem que predominará no episódio do dia. Ao final de
cada prefácio, entra a vinheta do programa. Vejamos a tônica de cada ano.
Primeira temporada
Na primeira temporada, a vinheta de abertura começa com um fundo em várias tona-
lidades de azul, que iniciava a criação de inúmeras significações em torno da palavra L
Life, Luscious, Lust, Lesbian, Lost, Large, Later, Los Angeles, etc. Ao som de uma música
eletrônica sem letra, de videogame, as palavras L se movimentam, enquanto aparece um
L sozinho, destacado, mais forte que os demais. As palavras entram nesse L, como que
o fortalecendo, e desaparecem. Por fim, o L está na tela ao lado das outras palavras
que compõem o nome da série The L Word. Num pequeno exercício, pensemos numa
pessoa que não sabe nada a respeito do programa e assiste a essa abertura. A força da
vinheta está no anúncio. As palavras iniciadas com L dão pistas à telespectadora do
que virá pela frente.
Figura 10 – Vinhetas de abertura de The L Word na 1ª temporada
Depois da vinheta, começa a história do dia. Mesmo centrando os primeiros aconteci-
eLas por eLas 66
mentos na chegada de Jenny e sua descoberta homossexual, desde o início The L Word
mostra que não tem uma personagem principal. A cada episódio, as personagens se re-
vezam no foco da história. Ou seja, não se trata de uma série de apenas um herói, o que
parece favorecer seu sucesso, conforme foi debatido na lista de discussão The L Word
Brasil. Na apresentação de “Antes em The L Word”, recapitulam-se cenas do capítulo
anterior, o que facilita, ainda mais, o entendimento de alguém que nunca tenha visto a
série. É também feita uma retrospectiva por personagem, com ênfase naquelas que terão
maior destaque no dia. Essa chamada para a retrospectiva é feita a cada capítulo pela voz
de uma personagem. Quando finalmente começa o episódio, as personagens são mos-
tradas em sequências paralelas, enfatizando quais irão protagonizar as tramas do dia. As
sequências são rápidas. Depois, retomam-se as personagens para desenvolver a história,
dessa vez com cortes, planos e transições mais lentas. Nos episódios, a elipse é utilizada
com frequência. muitas referências a acontecimentos reais, como a Guerra do Iraque,
o que acentua o realismo da trama. Citam-se grupos de cantoras lésbicas, ONG que re-
almente existem. Todos os episódios terminam com canções sempre diferentes –, em
geral mais lentas, que começam ainda no desenrolar da cena. Os atores saem de cena,
surge um fundo preto, sobem os créditos, a música aumenta como que a deixar a teles-
pectadora um pouco só, a pensar sobre o que acabou de assistir.
Segunda temporada
Na segunda temporada, com 13 episódios, é mantida a sequência de apresentação do
programa: “Antes em The L Word”, prefácio, vinheta e novo episódio. Há uma mudança,
aparentemente radical, na vinheta do programa. Radical? Vejamos. No lugar da profusão
de palavras L, aparecem cenas das protagonistas sozinhas, em grupos, com as amigas,
transando e também uma cena com a rede de relacionamentos em que se inserem.
Beijos, orgasmos, piscinas, biquínis. uma troca muito rápida de quadros, mas nem to-
das com o mesmo tempo. A maioria não fica um segundo na tela. Num deles, mais uma
vez surge a escrita mandando seu recado. Uma das protagonistas, Shane McCutcheon
(Katherine Moennig), conhecida entre as amigas como a “pegadora”, aparece vestida
de terno e levando uma mulher para um banheiro, que tem a palavra “men” escrita na
porta. Nas cenas, aparecem os créditos dos atores e principais cargos da produção. Além
da evidência se deslocar das palavras para as imagens, também a cor azul sai de cena,
dando lugar a uma intensa luz branca com uma tonalidade rosa. Ao final, aparece em
destaque, como na abertura anterior, o nome The L Word, que se impõe à foto do gru-
po de mulheres, que vira fundo e desaparece para dar lugar a uma vista noturna de Los
eLas por eLas 67
Angeles. Essa é a vinheta que permanece até a última temporada.
Figura 11 – Vinhetas de abertura de The L Word, a partir da 2ª temporada
Um olhar mais atento nos diz que a mudança foi radical apenas à primeira vista. Se pen-
sarmos que as palavras L foram substituídas pela letra da música, antes ausente, talvez
fosse redundante mantê-las. As emoções, que antes dançavam em forma de letras, são
substituídas por uma música carregada de significações, que se multiplicam ainda mais
nas cenas exibidas. Em ambas, seja com escrita, imagem ou com a escrita da imagem,
a telespectadora é levada a perceber a profusão de emoções, sentimentos e vida do l
world, que serão exibidas em The L Word. Seja em forma de palavra ou imagem, nas
duas aberturas o movimento dos textos converge para a palavra L, que troca o fundo
preto para imperar soberana sobre Los Angeles. Escrita e imagem, como num casamen-
to, enfim, brincam de trocar papéis.
eLas por eLas 68
A segunda temporada mantém os prefácios, que se concentram em personagens que es-
tão na série ou antecipam novas caras que entrarão no seriado naquele episódio. Eles se
mantêm mostrando as conexões que existem entre as personagens, ainda que elas não
convivam naquele exato momento de ação da série. Em uma das histórias, por exemplo,
Joyce, que será a advogada de Tina, no momento atual da trama, aparece transando
com a noiva de Robin, Claybourne, no dia do casamento delas um fato passado. No
presente do enredo, Robin tem um caso com Jenny e não se encontra com Joyce. Ou
seja, as personagens não convivem na atualidade, embora o passado mostre que
uma ligação entre elas.
The Planet, localizado em West Hollywood, sob a direção de Kit, passa a se tornar point
de bandas de lésbicas, muitas das quais se tornaram conhecidas após a aparição em The
L Word, entre elas Betty, responsável pela música da vinheta da série. A série traz vários
links com questões reais, ligadas ao dia a dia. No 11º episódio da segunda temporada,
por exemplo, as protagonistas participam da Gay Parade 2005. Começam, ainda, críticas
mais frequentes aos setores conservadores da sociedade americana, os republicanos,
especialmente ao governo Bush e à Guerra do Iraque. Um dos momentos de destaque
dessa brincadeira de trazer pessoas da não ficção para o mundo ficcional foi a partici-
pação especial de Gloria Steinem, jornalista e feminista americana, com vários artigos e
livros publicados, atuando como ela mesma. No último capítulo da segunda temporada,
ela conversa com as personagens e, entre outros temas, discutem sobre sexualidade.
Glória Steinem É uma loucura. Pelo que sei são mulheres que vivem
com eles que os odeiam. As lésbicas não se importam realmente. São
amigas dos homens, certo?
Jenny Outra ideia erradíssima é a de que ser lésbica é ser automati-
camente feminista enquanto que muitas lésbicas que conheço não são
nada feministas, não é?
(Elas riem e olham para Shane)
Shane – Que foi? Eu gosto de mulher.
Carmen – Nada.
Glória Steinem Está bem, mas tem de admitir que é isso que os homens
dizem: eu amo as mulheres.
Shane – É.
Alice Está bem, posso dizer, falando como quem gosta de você sabe
o quê.
Glória – Você sabe o que significa sexo com homens, certo?
Alice – É, não queria lhe ofender, mas eu gosto de pênis.
GlóriaNão, não. Não me ofende. Também gosto de ter sexo com ho-
mens. Vamos apenas dizer que sou predisposta. Aposto que muitas aqui
são predispostas. Talvez dizem que sim, mas...
eLas por eLas 69
Alice – Eu sigo o coração, não a anatomia.
Jenny É sempre tão complicado, não é? Algumas pessoas escolhem e
outras não a respeito disso, certo?
Glória Steinem – Certo. (E brindam à escolha.)
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.13: “Lacuna”
Terceira temporada
A terceira temporada tem 12 episódios e inova nos prefácios. Até o sexto capítulo, eles
iniciam uma rede de conexões que começa no passado. Uma a uma, as personagens
vão se ligando e o gráfico se forma, até chegar a Bette Porter, em 1986. No sexto epi-
sódio, ela e um amigo transam e se descobrem homossexuais. A partir daí, as pequenas
histórias mostram o envolvimento de Bette com Alice no passado, que era desconhecido.
Na verdade, no último capítulo da temporada, percebe-se que todo o movimento é para
fechar as conexões com a morte de Dana. A tenista morre de câncer de mama e esse foi,
sem dúvida, o acontecimento que mais marcou a temporada. A última cena do capítulo
mostra o “fechamento” do gráfico, ou seja, o episódio se encerra mostrando a rede teci-
da durante toda a temporada.
Figura 12 – O quadro se forma e finaliza o episódio
Quarta temporada
Na quarta temporada, também com 12 episódios, os prefácios se voltam para as prota-
eLas por eLas 70
gonistas de The L Word. Em geral, as cenas começam meio dúbias, câmeras mais fecha-
das, não se entende bem o que está acontecendo. Logo depois, a telespectadora se dá
conta do que se passa. No primeiro episódio, por exemplo, Alice, em seu programa de
rádio, pontua a vida de personagens, enquanto vê-se um corpo no fundo do mar, que é
de Shane. Os prefácios dão espaço para acontecimentos que virão ou que já acontece-
ram, alguns apresentados em atmosfera de sonho. Parece que as roteiristas optam, em
boa parte dos prefácios, por trazer temas importantes para a vida das personagens e que
serão a tônica do capítulo em questão, antecipando assim, sobre qual delas recairão os
holofotes do capítulo.
Figura 13 – Alice fala da vida, enquanto Shane tenta afogar suas culpas
Quinta temporada
Os 12 capítulos da quinta temporada giram em torno da gravação de Lez Girls, filme es-
crito por Jenny, em que ela recria o que havia ocorrido com as protagonistas de The L
Word, fazendo uma espécie de metanarrativa. Os prefácios são todos voltados para as gra-
vações do filme e acompanham naturalmente o andamento da trama. Ou seja, saem da
posição de revelar algo, conectar ou enfatizar, e quase todos praticamente se integram ao
corpo do capítulo, separados apenas pela vinheta do programa. No primeiro, por exem-
plo, Jenny ainda escreve o roteiro sob seu ponto de vista. alguns prefácios muito en-
graçados, como o segundo, em que Aaron, responsável pela produção do filme, começa
a brincar de misturar os casais. Shane e Bette. Tina e Shane. Bette e Shane. Bette e Jenny.
Um dos mais engraçados e que faz referência a um antigo ícone sbico é o do terceiro
episódio. Na história, Alice sonha com as filmagens e pensa que ela, Helena e Shane são
“As Panteras”. Bette assume o papel de Charlie, sendo hilário o momento em que ouvimos
eLas por eLas 71
sua personagem em Lez Girls dizer: “My name is Bev”. O telefone do escritório delas tem
um adesivo gay, e as armas são “gaydar”.
Figura 14 – “As panteras”
Em alguns prefácios, Jenny aparece alterando, no filme, fatos que aconteceram na série,
para dar o rumo que deseja aos acontecimentos. Tanto pelos prefácios como pelos epi-
sódios, essa é uma das temporadas que trazem algumas das cenas mais cômicas de The
L Word e traz a inauguração de outro point de encontro lésbico com a inauguração do
SheBar. Entre algumas das cenas mais engraçadas, destacamos a que Shane foge de um
casamento porque era cobiçada por três mulheres, e a reunião de mulheres que aconte-
ce no SheBar, que mais parece uma cena de filme de mafiosos.
Sexta temporada
A sexta e última temporada teve oito episódios, todos voltados para a construção de
possíveis motivos que levassem alguma das protagonistas a matar Jenny. A estrutura de
apresentação da série também é alterada e, apenas no primeiro capítulo, o “Antes em
The L Word ”. Os prefácios estão absolutamente integrados aos episódios, ou seja, após
as vinhetas, a cena de abertura do capítulo dá sequência ao que apareceu antes. Desta-
que para a abertura do último capítulo em que não é usada a vinheta que acompanha
a série desde a segunda temporada, nem a música tema. O último capítulo é todo frag-
mentado entre presente – depoimentos na delegacia – e episódios anteriores à festa em
que ocorre o possível assassinato. Como na série Jenny produziu um vídeo de despedida
para o casal Bette e Tina, que estava de mudança para Nova York, várias personagens
que não apareciam muitas temporadas como Ivan, Carmem e Tim, ou aqueles que
não estavam no último capítulo, como Jodi, tiveram a oportunidade de aparecer e deixar
eLas por eLas 72
sua despedida. A última cena mostra as protagonistas a caminho da delegacia. Os car-
ros chegam ao estacionamento da delegacia. A música tema da série aparece em nova
versão, sem letra e mais lenta, os créditos começam a aparecer. Elas Kit, Helena, Tina,
Bette, Shane, Alice, Tasha e Max – saem sérias dos carros e vão andando. Aos poucos, o
ritmo da música muda e elas começam a sorrir, mudar a expressão, como se deixassem
de ser personagens e se transformassem nas atrizes. Aparece Jenny ao lado de Shane.
Todas se aproximam da câmera. Sorriem. Juntam-se, saem do vídeo, desaparecem. Na
tela, apenas a visão noturna de Los Angeles.
Figura 15a – Sérias, descem dos automóveis.
Figura 15b – Sorriem, se juntam...
eLas por eLas 73
Em meio a muitos sorrisos, descobertas e lágrimas, as roteiristas da série também encon-
traram espaço para mudar a dinâmica de alguns episódios, que do drama passaram à
comédia, aventura e suspense. Nas seis temporadas de The L Word, permaneceram o
tom de drama e, ao que tudo indica, a discussão de vários temas importantes para a
cultura e política lésbica e para as mulheres de modo geral. Entre eles, destacamos iden-
tidade lésbica, gravidez e maternidade de casais lésbicas, descobrir-se lésbica, separação
e casamento lésbico, queda de libido em casais, ciúmes, dor de cotovelo, amizade, de-
pendência química, sadomasoquismo, transexualidade, sexo na terceira idade, relaciona-
mentos e preconceito no ambiente de trabalho.
eLas por eLas 74
4 LINKS & IDENTIFICAÇÕES
Kate Arden Sua história me tocou muito porque eu pensei:
sou eu, são pessoas que conheço, com quem fui para a
cama. Sabe, não gosto de mentira. Não estou interessada
em deixar as pessoas confortáveis. Sabe? Quero fazer filmes
que digam algo.
The L Word, 4ª Temporada, Ep. 4.09: “Diferenças criativas”
séries como Lost em que o “protagonista” da trama é a misteriosa ilha, ou seja, o
foco das atenções não está exatamente nas personagens, mas na forma como a ilha irá
“movimentá-los”; em CSI, por exemplo, importa a resolução do crime do dia; Ellen está
centrada em apenas uma figura. Outras colocam ênfase nas fantasias das personagens,
como a Ilha da fantasia, em que praticamente não se demonstrava nada em relação à
personalidade e caráter do elenco fixo, Mr. Roarke e Tatoo. As personagens não amadu-
recem com o passar dos episódios. São sempre as mesmas e suas atitudes são sempre
previsíveis. Em Plantão médico, o telespectador aguarda os novos casos que irão desafiar
os profissionais de um pronto-socorro. Em As Panteras, importa mais a grande aventura
a ser apresentada no episódio do que saber sobre a vida pessoal das três agentes, que
também mantêm comportamentos previsíveis. O telespectador sabe que é o momento
de ver tiros, ação, perseguições. Outras séries enfocam uma habilidade especial do prota-
gonista, como as que envolvem super-heróis, sejam eles tradicionais ou às avessas como
O incrível Hulk.
Figura 16Lost, As panteras, O incrível Hulk, Ilha da fantasia
eLas por eLas 75
Starling (2006) explica que, conforme o foco que guia a narrativa, temos duas possibili-
dades para nomear as séries. Quando a construção da narrativa obedece a um conceito,
como em Lei & ordem, recebe o nome de formula show. Entretanto, quando a narrativa
é guiada pela evolução das personagens chamamos de character-driven.
(…) character-driven, que consiste em deixar a história ser conduzida
pelas mutações pelas quais passam os personagens. Estes ganharam a
possibilidade de se desenvolver, de revelar facetas surpreendentes, de
aprender com o vivido nas situações às quais se expunham ao longo da
trama, enfim, de alcançarem complexidade (STARLING, 2006, p. 37).
A partir da classificação proposta por Starling (2006), podemos pensar The L Word como
character-driven ou formula show? O que espera a telespectadora, ou melhor, o que a
série oferece como a grande atração de cada capítulo? Antes de responder, pensemos,
ainda que rapidamente, nos três tipos de narrativas propostos por Machado (2001), cujas
possibilidades se diferenciam conforme a ligação de cada episódio com os anteriores e
seguintes e de acordo com o elemento central a atrair e prender a atenção do telespec-
tador. Primeiro, ele fala do tipo teleológico, em que uma ou mais narrativas se sucedem
mais ou menos linearmente ao longo de todos os capítulos. Trata-se basicamente do
formato adotado pelas telenovelas e seguido por algumas séries como a famosa Dallas,
que chegou a 13 temporadas, num total de 365 episódios. Outro tipo é o que tem cada
edição autônoma, mantendo apenas as mesmas personagens e o tipo de situação nar-
rativa. Um bom exemplo, já citado, é Lei & ordem. E, por fim, existem as que preservam
nos episódios apenas o espírito geral da história, como é o caso de Quinta dimensão.
Como analisar The L Word a partir de Starling (2006) e Machado (2001)? No programa,
o grande atrativo é o cotidiano de um grupo de mulheres lésbicas. Ou seja, a narrativa
é guiada pela evolução das personagens, logo podemos nomeá-la de character-driven.
A cada momento da trama, uma delas está em evidência. A história não prende a teles-
pectadora por meio de grandes surpresas, mistérios, aventuras ou suspenses, embora
também não abra mão desses recursos, mas a entretém por mostrar de que forma os
tipos se desenvolvem, amadurecem e lidam com situações que poderiam estar presentes
no cotidiano de qualquer um. No centro das atenções, estão a fluidez com que se adap-
tam aos tropeços e alegrias da vida e as conexões estabelecidas. Dessa forma, parece
que a série ajuda a desmistificar possíveis fantasias em torno da lesbianidade, dando,
consequentemente, mais visibilidade a essa minoria. Ao se referir às homossexuais de The
L Word, Furquim (2008) pontua que “de forma quase educativa, elas revelam ao público
particularidades desse meio, além de seus sonhos, seus anseios e, principalmente, suas
eLas por eLas 76
dúvidas” (FURQUIM, 2008, p. 265). Para a autora, The L Word esclarece e “defende, em
um tom quase didático”, as particularidades do universo lésbico. (FURQUIM, 2008, p.
265) Tudo indica que, dessa forma, o programa, além de trazer visibilidade, consegue
fazê-lo sem preconceitos.
Para dar ênfase a essa “cartilha” do cotidiano lésbico, obviamente foi preciso que as au-
toras investissem nas personagens, o que certamente também envolveu a escolha do
elenco. A série conta com atrizes de renome no cinema como Jennifer Beals e Rosanna
Arquette, resgata nomes como o de Cybill Shepherd, conhecida por protagonizar a série
A gata e o rato, exibida no Brasil na década de 1980, e lança talentos pouco conhecidos
do público, algumas delas assumidamente lésbicas. O núcleo das protagonistas, que é
grande, passa por uma série de conflitos ao longo das seis temporadas, revê valores,
posicionamentos, atitudes e formas de agir. espaço, inclusive, para a reformulação
ou questionamento da própria sexualidade. São personagens complexas, cujo passado é
revelado a cada temporada, sendo o futuro nunca muito previsível, dados os novos ele-
mentos que se apresentam a cada capítulo ou o próprio amadurecimento de cada uma.
Assim, as personagens da série fazem rir, chorar, criam situações de suspense, passam
por surpresas, o que parece ser o que mantém os olhos das telespectadoras presos a elas.
Não importa, por exemplo, se uma delas tem menos ênfase em determinado capítulo e/
ou temporada, pois a telespectadora é chamada a acompanhar o cotidiano de cada uma
ao longo de toda a trama. Aliás, a estratégia de manter várias protagonistas e não girar a
trama em torno de uma única personagem facilita, ao que tudo indica, a fidelização de
telespectadoras, que têm um leque de opções de identificação. Essa possível relação de
identificação talvez seja um dos componentes que colabore para intensificar os debates
entre as fãs, o que pode ser observado em sites de relacionamento como o Orkut.
Como seria, então, analisar a série e sua relação com as telespectadoras a partir dessas
personagens e seus estilos de vida? São muitos os estudos que buscam problematizar
a personagem, defini-las e elencar suas funções, especialmente na literatura. Segundo
Brait (2004), o modelo de concepção da personagem proposto por Aristóteles, o pri-
meiro a tratar do tema, vigorou até meados do século XVIII. Aristóteles teria considerado
dois aspectos com os quais devemos encarar a personagem: reflexo da pessoa humana
ou construção cuja existência obedece a leis particulares que regem o texto. Para Brait
(2004), ambos revelam que o filósofo estava preocupado não apenas com o que é imi-
tado ou refletido no texto, mas também com a maneira pela qual a obra é elaborada.
Para Aristóteles, não caberia à narrativa poética simplesmente reproduzir o que existe,
eLas por eLas 77
mas compor as inúmeras possibilidades que se oferecem. Ainda para o pensador grego,
mesmo a serviço da moral, a arte seria autônoma. Logo, não representa necessariamente
um modelo a ser seguido. Brait (2004) lembra que Horácio, um dos maiores poetas da
Roma Antiga e divulgador das ideias de Aristóteles, defendia que os seres ficcionais têm
laços estreitos com a ética e os coloca como modelo a serem seguidos, imitados pelos
interessados em atingir a excelência moral. Então, enquanto para Aristóteles a arte seria
fruto da imitação e da construção, para Horácio, seria uma representação de cunho
moralista do homem e do mundo. Como reforça Brait (2004), Horácio acredita que ao
entretenimento está associada a função pedagógica. Assim, ao mesmo tempo em que a
arte diverte também deve ensinar, o que enfatiza o aspecto moral das personagens. Essa
visão da personagem como instância para aprendizado ético prevalece por toda a Idade
Média e Renascimento, herdada, conforme Brait (2004), tanto de Horácio quanto de
Aristóteles, atendendo assim aos ideais cristãos que então predominavam. Brait (2004)
destaca que, na Renascença, tornou-se célebre a afirmação do poeta e crítico inglês
Philip Sidney, destacando que a personagem é melhor do que o ser humano. Conforme
destaca Brait (2004), ela deve ser a reprodução do melhor do ser humano. Porém, na
metade do século XVIII, cresce a importância do criador. A personagem passa a ser vista
como a representação do multifacetado universo psicológico do seu criador.
Ainda assim, Brait (2004) ressalta que “a personagem continua sendo vista como ser
antropomórfico cuja medida de avaliação ainda é o ser humano” (p. 37). Segundo Brait
(2004), a partir de 1920 os conhecimentos acerca da personagem avançam com
as novas proposições do Gyorg Luckács, em Teoria do romance, quando este coloca a
narrativa como lugar de confronto entre o herói problemático e um mundo de confor-
mismo e convenções. Mantém-se, ainda, a visão da personagem submetida ao modelo
humano.
As primeiras tentativas de classificação das personagens começam com Forster (1927),
que propõe serem planas ou redondas, conforme sua complexidade. As personagens
planas
são definidas em poucas palavras, estão imunes à evolução no trans-
correr da narrativa, de forma que as suas ações apenas confirmem a
impressão de personagens estáticas, não reservando qualquer surpresa
ao leitor. (…) [As personagens redondas] são aquelas definidas por sua
complexidade, apresentando várias qualidades ou tendências, surpre-
endendo convincentemente o leitor. São dinâmicas, são multifacetadas,
constituindo imagens totais e, ao mesmo tempo, muito particulares do
ser humano (BRAIT, 2004, p. 40).
eLas por eLas 78
Embora pareça um tanto quanto simplista, Brait ressalta que essa classificação ainda é
utilizada e retomada por diversos autores. Ela pontua que o romancista, poeta e crítico
inglês Edwin Muir, que, em 1928, publica The Structure of the Novel, apresenta a perso-
nagem como produto de determinado enredo e de determinada estrutura e não como
representação do homem. Brait (2004) explica que somente com os formalistas russos a
visão de personagem se desprende de sua relação com os seres humanos. Segundo ela,
em 1928, o formalista Wladimir Propp realizou um longo estudo de um conto analisando
a personagem a partir de sua funcionalidade. Conforme recupera Segolin (1978), Propp
concluiu que a personagem é um feixe de funções, ou seja, predicados de ação. A partir
daí, uma série de estudiosos do tema passam a propor classificações específicas, sejam
pela complexidade das personagens, sejam por sua função na trama. Ainda hoje, algu-
mas classificações são testadas, como fez Moreno (2001) em A personagem homossexual
no cinema brasileiro. No livro, o autor realiza uma retrospectiva da homossexualidade no
cinema brasileiro e cria uma classificação para as personagens se têm mais ou menos
trejeitos, por exemplo – para analisar o tipo de tratamento que recebem.
Frente ao nosso objeto, às nossas perguntas e à complexidade da questão sobre a perso-
nagem – ser que não é –, ainda apresentando mais perguntas do que respostas para os
estudiosos, optamos por “perseguir” cinco das protagonistas, elegendo como critério de
escolha aquelas que são lésbicas e participaram de todas as temporadas de The L Word.
São elas: Alice Pieszecki (Leisha Hailey), Bette Porter (Jennifer Beals), Jenny Schecter (Mia
Kirshner), Tina Kennard (Laurel Holloman) e Shane McCutcheon (Katherine Moennig).
Figura 17 – Da esquerda para a direita, Alice, Bette, Shane, Tina e Jenny
Nossa investigação pretende analisar de que forma se a composição das persona-
eLas por eLas 79
gens, respondendo, entre outras, a perguntas como: que personagens são? Como se
articulam? Como evoluem? Que referências de modelos da identidade lésbica acionam?
Ao respondermos a essas perguntas, automaticamente agregaremos à análise do produ-
to um olhar sobre o repertório social que a série incorpora, o que também nos ajudará a
alcançar nossos objetivos. Porém, ao pensarmos em como executar essa tarefa, pareceu-
nos estranho e por que não empobrecedor criar parâmetros para classificá-las, pois todas
são complexas e deslizantes o suficiente para não ficarem confortáveis em tabelas, gráfi-
cos e parâmetros, que muitas vezes podem ser camisas de força para o objeto e para o
pesquisador. Poderíamos cair na equivocada visão heterocentrista, que divide o mundo
em macho e fêmea, homem e mulher, masculino e feminino. Além disso, muitas ve-
zes, essas classificações exigem muito esforço para chegar a resultados que poderíamos
considerar redutores. Optamos, então, por partir apenas de uma hipótese em relação a
nossas personagens: acreditamos que são seres fluidos, que estão a todo momento pro-
movendo um fluxo entre produto e telespectadora, negociando e buscando revelar as
várias facetas da identidade lésbica, também mutante. Deixaremos, assim, que cada uma
delas nos mostre a que veio. Para investigar como isso se dá, priorizaremos as ações, falas
e estilos de vida das personagens, que, na avaliação de Rosenfeld (1995), “revelam-se
de um modo bem mais completo do que as pessoas reais, mesmo quando mentem ou
procuram disfarçar a sua opinião verdadeira. O próprio disfarce costuma patentear o seu
cunho de disfarce” (p. 29).
De certa forma, ao escolhermos esse caminho, privilegiamos também a telespectadora,
que parece ocupar um espaço de interação, participação, construção, negociação e de
intensa participação emocional. Em nossa análise, primeiro acionaremos uma das perso-
nagens e, depois, pensaremos a partir de suas ações e reações. Esse destaque à trajetória
das personagens é reforçado por Candido (1995):
(...) quando pensamos no enredo, pensamos simultaneamente nas per-
sonagens; quando pensamos nestas, pensamos simultaneamente na
vida que vivem, nos problemas em que se enredam, na linha do seu
destino traçada conforme certa duração temporal, referida a determi-
nadas condições de ambiente. O enredo existe através das personagens;
as personagens vivem no enredo (p. 53).
Além de acabarem por acionar estilos de vida, como propõe Candido (1995), elas tam-
bém acionam alguns paradoxos instigantes, entre eles sua própria existência: “A perso-
nagem é um ser fictício. (...) De fato, como pode uma ficção ser? Como pode existir o
que não existe?” (p. 55, grifo do autor). Perguntamos: a existência desse ser fictício não
eLas por eLas 80
acontece a partir do momento em que ele estabelece uma relação com o telespectador?
A partir do momento em que provoca recordação, amor, ódio, indignação, entre outros
sentimentos? E será que poderíamos ousar e pensar que, em determinados momentos,
não são esses mesmos seres fictícios que, ironicamente, tornam vivas as pessoas da não
ficção? Dão forma, voz, cor e limites ao que antes permanecia na invisibilidade? Seriam
seres que não existem, mas que talvez, a partir de relações de identidade, consigam in-
terferir e provocar atitudes na vida das pessoas que representam?
No caso específico de algumas séries de TV, especialmente nessas em que há um desen-
volvimento da trama e amadurecimento das personagens, existe ainda o fato de o teles-
pectador acompanhar, participar, opinar sobre a transformação dessa trajetória. Nesse
aspecto, a internet parece se destacar como um espaço importante que deixa mais a
ver essa conexão entre os telespectadores e a produção, conforme destacamos anterior-
mente. É fato que, diferentemente das telenovelas, que duram, em média, seis meses, as
séries têm um estilo diferente e acompanham e são acompanhadas pelos telespectadores
durante anos, como acontece com The L Word, que teve seis temporadas, uma exibida
a cada ano. Com isso, espaço para uma narrativa mais sofisticada do que as teleno-
velas, que não se limita ao uso de fórmulas tradicionais como dividir o elenco entre os
bons e os maus, provocar a redenção dos vilões ou puni-los. Numa rápida observação,
as personagens de The L Word se mostram fortes, em trânsito, e em processo de amadu-
recimento, ou não? Se esse movimento se confirma, talvez possa ser decisivo para que,
a cada temporada, o cotidiano lésbico seja construído e novos temas sejam abordados
também com a ajuda das telespectadoras. Nesse sentido, consideramos que a análise de
Tufte (2004) sobre as telenovelas é válida para refletirmos a relação entre as personagens
da série e as telespectadoras:
A “vida real” das personagens das telenovelas valida a vida diária dos es-
pectadores, fazendo com que reconheçam a si mesmos como atores em
suas histórias diárias. Embora frequentemente carregando um mundo
material longe da vida dos espectadores, as telenovelas tocam algumas
vidas do dia-a-dia que são fortemente reconhecidas por eles, conectan-
do uma identificação de sentimentos de satisfação e prazer, promoven-
do um senso de pertencimento cultural e social em uma variedade de
comunidades distintas, contrabalançando os muitos processos de margi-
nalização sociocultural e político-econômica experimentada por muitos
cidadãos de baixa renda do Brasil (p. 298).
Essa identificação comentada por Tufte (2004), segundo Buonanndo (2004), traz um
sentimento de familiaridade e inclusive de apego afetivo com as personagens, tendo-se
eLas por eLas 81
“a impressão de conhecê-los intimamente, de conversar com eles com o pensamento
e de consultá-los em voz alta; alguns acabam sendo percebidos como amigos reais”
(BUONANNDO, 2004, p. 343). Assim, partilhando das ponderações de Tufte (2004),
Buonanndo (2004) também ressalta a importância dessa interação entre telespectadores
e personagens como um alargamento das experiências de relações sociais.
A partir dessas observações, se pensarmos especificamente nas personagens da série The
L Word e ressaltando que são as primeiras na história da televisão a representar o coti-
diano de um grupo de amigas lésbicas, temos algumas pistas do quanto elas podem ter
sido impactantes para a telespectadora homossexual sempre relegada à invisibilidade ou,
quando muito, a se ver em papéis de pouca importância ou problemáticos. Talvez o fato
de a série oferecer às telespectadoras a oportunidade de se reconhecerem na televisão
pode ter-lhes provocado a manter um comportamento ativo, colaborando no desenvol-
vimento da trama. Teríamos, assim, a telespectadora afetando as personagens e as perso-
nagens afetando as telespectadoras - o que podemos chamar de dupla afetação.
Ao ponderar que a narrativa, suas diversas personagens e estilos são uma fonte inesgotá-
vel de informação sobre as práticas culturais em circulação na sociedade, Almeida (2003)
ressalta que essa dupla afetação, a qual prefere chamar reflexividade, acaba por provocar
uma constante revisão de valores. Com isso, mesmo os pontos de identificação entre te-
lespectadores e personagens estão sempre em negociação, em movimento.
A partir dessa dupla afetação e desse constante trânsito, as personagens nunca estariam
prontas, até porque demonstramos que não se pode falar de uma identidade lésbi-
ca fixa, mas se apresentariam como espaços de discussão e construção desse universo
lésbico. O debate em torno de suas atitudes, que acabam se voltando para a vida das
próprias telespectadoras, estende-se pelas listas de discussão e grupos de fãs nas diversas
redes sociais existentes na internet, entre elas Orkut, Leskut e Facebook. Paralelamente,
talvez as telespectadoras e atrizes vejam suas vidas mudarem, transformar-se junto com a
série. Como nos lembra Costa (2002), a capacidade dos produtos ficcionais de provoca-
rem essa dupla afetação não é invenção das mídias eletrônicas.
O folhetim havia mostrado o poder da ficção em gerar novas formas
de sociabilidade, instituindo valores e padrões de comportamento. Os
heróis pareciam desprender-se das páginas impressas e adquirir autono-
mia, passando a fazer parte do cotidiano dos leitores (p. 59).
Assim, afetada pelo leitor, como destaca Costa (2002), a personagem, ser intocável, está
sempre em trânsito, em transformação. Com isso, teria um lugar estático em The L Word?
eLas por eLas 82
Seria vilã? Heroína? Ou um elemento de atração da telespectadora? Consegue ser um
espaço para o fluxo de debates relativos ao estilo de vida lésbico? A complexidade dessas
indagações deixa mais clara a dificuldade de se classificar um espaço que, na verdade,
dispõe-se a questionar verdades, posturas, enfim, faz exatamente um trabalho oposto
ao de classificação, ao de engessamento. Passemos, então, a um olhar mais atento às
personagens lésbicas de The L Word.
4.1 Lupa: as personagens lésbicas de The L Word
Elas têm entre 25 e 40 anos. Todas são lindas, e a maioria é bem-sucedida profissional-
mente ou está, no mínimo, em ascensão na carreira. Moradoras de West Hollywood,
têm um forte senso de amizade e elegeram o café The Planet como ponto de encontro.
Vivem sob o lema “uma por todas e todas por uma”. Em geral bem humoradas, têm
gosto refinado e não dispensam um bom bate-papo regado a boa cerveja e bons vinhos.
Mesmo sendo muito próximas, morando na mesma cidade e tendo um padrão de vida
comum, cada uma apresenta características muito próprias. Complexas, elas amadure-
ceram e mudaram durante os seis anos da série. É Kit Porter (Pam Grier), irmã de Bette
Porter, quem melhor define a relação entre o grupo de amigas:
Kit Você nunca vai encontrar um grupo de pessoas que se amem mais.
E que se preocupem umas com as outras tão amavelmente como essas
amigas. Você pode me dar qualquer exército ou assembleia de Deus e
eu colocaria o meu passe contra porque elas são tão unidas e totalmente
leais.
The L Word, 6ª Temporada, Ep. 6.08: “Last Word”
Essa lealdade confere obviamente muita cumplicidade ao grupo. Quando necessário,
elas se unem para armar estratégias, fazer planos, discutir problemas, lutar por causas
que consideram importantes, dividir vitórias e momentos de dor ou mesmo para uma
boa e descontraída conversa entre mulheres.
Bette – Então clitóris a incomoda?
Tina – Sim, um pouco.
Bette – E xoxota, você não gosta?
Tina – Na verdade, gosto de buceta.
Carmen – Isso! Eu adoro buceta.
Dana – Do que vocês estão falando?
Bette Bom, Tina não gosta da palavra clitóris, o que eu acho preocu-
pante. E também não gosta muito de xoxota.
eLas por eLas 83
Lara – Nossa, eu adoro a palavra xoxota. Fico super excitada.
Dana – Não! Fica mesmo?
Lara – Fico. Você não?
Bette – Bem, que palavras vocês usam?
Shane – Buceta é bom para mim.
Carmen Xereca também é engraçado e eu gosto de xana. Sério, eu
gosto mesmo de xana.
Tina Olha, eu cresci num mundo de eufemismos. Tipo “lá embaixo”,
“regiões inferiores”, “partes íntimas”, não mexa na sua “coisinha”.
Dana Nossa, isso é horrível. Comigo foi a mesma coisa: “partes ínti-
mas”, “partes da menina”.
Tina – A filha de uma amiga na Inglaterra chama de bunda da frente.
Shane – Bunda da frente? Que perversão.
Alice Tive uma namorada... É, lembram-se de quando eu tinha uma,
mas ela chamava de PR, pérola rosa.
Carmen – Não confundam com Pierre...
Bette – Sabe o que é uma gracinha? Yumi. É sânscrito.
Alice – Não, eu gosto de uma coisa mais suja tipo prende-língua.
Shane – É.
Carmen – Ou um careca no barco.
Shane – Refeição de campeões.
Tina – Caixinha.
Bette – Xibiu.
Carmen – Haha
Alice – Xaninha.
Bette – Mimi.
Kit – Buraco. Que mais?
Alice – Calcunta.
The L Word, 3ª Temporada, Ep. 3.01: “Labia Majora”
Com esse diálogo descontraído, elas encerram o primeiro capítulo da terceira temporada,
e, enquanto sobem os créditos, permanecem revezando os apelidos para a vagina: boca
de baixo, aranha peluda, pastel cabeludo, ostra barbuda, esfiha, favo de mel, cocada
preta, beiçuda, palha de aço, perseguida, túnel do amor, bacalhau, pirâmide invertida,
cremosa, bolsa de pelúcia, caixa de cremes sortidos, racha, luva do amor, bolsa de sereia,
crina, cona, carteira de veludo rosa, bimba, capô de fusca, chavasca, cabeludinha, fenda
do amor, válvula fuc-fuc, carpete, triângulo das bermudas, toca do grilo, sorriso vertical,
moicana, bochechuda, chewbbaca, churro, sanduíche de rosbife, dedo de camelo.
Como são as personagens de The L Word que movem a série, optamos por estreitar
nosso olhar sobre o grupo a fim de entender um pouco mais os motivos que levaram o
seriado a conquistar fãs de todo o mundo. Analisar todas as personagens exigiria muito
mais espaço e tempo do que disponíveis neste texto. Logo, elegemos cinco delas, que
eLas por eLas 84
nos pareceram as mais significativas do grupo e também por serem as únicas que são
lésbicas e que participaram das seis temporadas da série. São elas: Alice Pieszecki (Leisha
Hailey), Bette Porter (Jennifer Beals), Jenny Schecter (Mia Kirshner), Tina Kennard (Laurel
Holloman) e Shane McCutcheon (Katherine Moennig). Nossa escolha parece acertada,
pois a importância das cinco foi confirmada posteriormente nos extras dos DVD originais
da quinta temporada lançados no Brasil. Neles, aparecem exatamente as cinco atrizes
que dão vida às personagens que elegemos para falar sobre os rumos da trama, o que
também contribuiu para respaldar a nossa análise.
Para melhor compreender cada uma das personagens e explorar os elementos de identi-
ficação que elas criam junto às telespectadoras, optamos por quatro operadores de aná-
lise que nos parecem dizer mais sobre a trama. São eles a trajetória, o papel na trama, o
corpo e a visualidade e a tematização.
Entendemos por trajetória o percurso que cada personagem desenvolve no desenrolar
da trama. Suas aventuras, encontros, alegrias, descobertas, mudanças, enfim, tudo aqui-
lo que faz com que a personagem se mova, construa, reconstrua, alegre-se ou se decep-
cione. Essa trajetória é logicamente composta por gestos, que, por sua vez, são expressos
por meio da conexão de diversos atos, ou seja, o seu comportamento, conforme destaca
Galard (1997):
É preciso entender aqui o gesto na maior extensão do termo: não
no sentido próprio (os movimentos do corpo, os usos corporais), mas
também na acepção figurada. Permanecer resolutamente exposto a um
perigo, enfrentar um adversário mais forte,lançar-se em nome da honra
numa aventura sem esperança, é agir pela beleza do gesto (p. 21).
Ao diferenciar o ato e o gesto, Galard (1997) acaba por ressaltar a importância de eles
serem observados. Segundo o autor, “o gesto nada mais é que o ato considerado na to-
talidade de seu desenrolar, percebido enquanto tal, observado, captado” (p. 27). Assim,
o ato personifica os efeitos do gesto ainda que tenha a intenção de passar despercebi-
do. Se observamos seguidos atos de uma personagem, a maneira como se comporta,
conduz as ações e reage, teremos, ao final, revelados seus gestos, que são sempre car-
regados de intenções ainda que não sejam intencionais. “O gesto é a poesia do ato”
(GALARD, 1997, p. 27).
Em seguida, observamos o papel que cada uma delas exerce na trama, pensando nesse
papel praticamente como sinônimo de função que a personagem exerce na narrativa.
Não exatamente uma grande heroína, nem uma protagonista, e o grupo se consolida
como algo coeso, harmônico – exceção talvez feita a Jenny, que na trama é aquela que
eLas por eLas 85
vem de fora e que de alguma forma coloca a harmonia em risco –, e cada uma das per-
sonagens parece responsável por apresentar uma faceta da lesbianidade e das mulheres,
independentemente da orientação sexual.
O corpo e a visualidade foram o próximo operador a ser analisado, pois sabemos que
a postura, as roupas, os cabelos, enfim, o aspecto imagético são muito importantes na
composição de uma personagem e no caso específico da série colaboram especialmen-
te para falar de um estilo lésbico de se colocar no mundo. Le Breton (2006) destaca a
importância do corpo, levando-se em conta que “antes de qualquer coisa, a existência é
corporal” (p. 7). Ele ressalta ainda que o corpo é indistinto do ser humano. No caso das
personagens, é curioso pensar que essa corporeidade é dada pelo corpo do ator, pois
caso contrário essa existência não conseguiria se materializar. Assim, esse corpo que mar-
ca o ponto de contato da personagem com o mundo e que também a distingue das de-
mais personagens, pois Breton (2006) nos lembra que ele distingue um dos outros, vem
de outro corpo, que é o do ator, emprestado temporariamente à personagem. Curioso
pensar que a corporeidade, conforme destaca Breton (2006), é socialmente construída.
Partindo desse princípio e pensando numa série como The L Word, que durou seis anos,
é possível pensar que houve interferência da estrutura social criada para a personagem
no corpo do ator? E se essa corporeidade é construída socialmente, o autor nos lembra
que o corpo se coloca assim como uma estrutura simbólica de onde se pode apreender,
verificar e conhecer aspectos de determinada sociedade ou grupo, pois carrega, perso-
nifica valores, costumes e em alguns casos pode dizer inclusive da sexualidade, embora
saibamos que as aparências também enganam. Torna-se, assim, elemento importante
numa pesquisa em que pretendemos direcionar o olhar para a maneira pela qual a les-
bianidade é apresentada.
A tematização fecha a nossa análise. Nesse operador, procuramos explorar assuntos espe-
cíficos da lesbianidade e, por extensão, alguns casos relativos às mulheres em geral e que
fizeram parte do percurso das personagens durante a série. Dessa forma, torna-se mais
fácil a identificação de elementos que possivelmente atraíram a atenção das telespecta-
doras e que podem ter colaborado na criação de um vínculo entre as fãs e o programa.
Se confirmado, isso talvez ajude a explicar o fato de The L Word ter se tornado um marco
na história da televisão, pelo menos da televisão dirigida ao público LGBT.
eLas por eLas 86
Alice Pieszecki (Leisha Hailey), a falante
Figura 18 – Alice Pieszecki
DanaNossa, Alice, quando vai se decidir entre pênis e vagina? Poupe
os detalhes bissexuais, por favor.
Alice – Bem, para sua informação, Dana, procuro as mesmas qualidades
num homem e numa mulher.
Dana – Peitões.
The L Word, 1ª Temporada, Ep.-piloto.
Dizendo-se bissexual na primeira temporada de The L Word, Alice é uma jornalista sem pa-
pas na língua e brincalhona. Agitada, diz o que pensa, tem ideias engraçadas e es sempre
animando o grupo. Até sua voz anasalada segundo Jenny, “voz de Pato Donald” ajuda
a torná-la um tipo ainda mais divertido. Ao descrever a personagem, a atriz Leisha Hailey
deixa registrado o quanto é agitada. “É animador ver alguém que se mexe e diz como está
se sentindo. Isso sempre cria confusão ou algo fantástico” (SHOWTIME , 2009a).
De sua família, conhecemos apenas a mãe, uma atriz decadente dona de tão bom hu-
mor quanto a filha e que não abre mão de aventuras sexuais com mulheres. No grupo,
Alice se mostra sempre disposta a ajudar as amigas, é observadora e especialista em
sugerir estratégias engraçadas para a solução de problemas. É bem direta e sincera.
Entre todas, é a que mais se permite relacionar sexualmente com pessoas diferentes de
seu métier. Mostra-se aberta a relacionamentos diversos quando está solteira, mas, ao se
comprometer, mantém a postura monogâmica. É um tipo leve. Dirige um Mini Cooper
azul, carro com estilo retrô e ao mesmo tempo contemporâneo. No início da série, tem
um programa na rádio KCRW e escreve para a L.A. Magazine. Nele, trata de assuntos
que interessam à cultura lésbica, falando de problemas pessoais ou do grupo. Com fre-
quência, alguns capítulos da série mostram Alice fazendo comentários em seu programa
eLas por eLas 87
enquanto concomitantemente mostra-se a imagem de outras personagens, quase como
se estivesse relatando em que as coisas estão, como na passagem abaixo, no último
capítulo da terceira temporada.
Quero acreditar, meus amigos. Creiam, quero mesmo. Porque minha
amiga Shane vai se casar no fim de semana. E quero acreditar pela Shane
e pelo resto de nós que flutuamos neste abismo tentando sentir o que
deveríamos para nos ligarmos de maneira significativa. Quero crer que
a ligação real, verdadeira entre seres humanos seja mesmo possível. E o
casamento, supostamente, nos conecta. Supõe-se que reforça nosso ca-
ráter moral e tal. O que nos leva a perguntar porque esses defensores da
família malucos e nojentos acham que é ruim para os gays. Por que não
podem apenas nos desejar o melhor? Hipócritas. Porque vamos para o
Canadá, pessoal, gostem ou não, para apostar tudo nessa ligação. E se
falharmos não é porque somos menos saudáveis que vocês. Por favor.
Vocês vêm falhando nisso miseravelmente desde o começo dos tempos.
E se tivermos sucesso e nossa ligação amorosa florescer e houver um
pouco menos de solidão no mundo, até eu posso começar a acreditar
em milagres.
The L Word, 3ª Temporada, Ep. 3.12: “A mão esquerda da deusa”
Figura 19 – Alice – 1ª temporada
Além de ser uma espécie de divulgadora dos acontecimentos, protagoniza cenas muito
engraçadas. Com seus envolvimentos afetivos, Alice sempre provocou risadas nas teles-
pectadoras. Depois de iniciar a série meio desanimada com o fracasso de seu último
relacionamento com Gaby Devaux, envolve-se com Lisa, um homem que se identifica
como lésbico. Em seguida, declara seu amor a Dana, sua melhor amiga, embora tenha
disparado, no capítulo-piloto, a seguinte afirmação ao chamar Dana para ir à sua casa,
após saírem de uma boate:
– Não, não estou tão desesperada. Não quero ser uma das pessoas que
dormem com os amigos. (...) Bem, então não vamos transar.
The L Word, 1ª Temporada, Ep.-piloto.
eLas por eLas 88
Figura 20 – Dana (de costas), Alice e as fantasias sexuais – 2ª temporada
As cenas de sexo entre ela e Dana são as mais divertidas da série, pois dão vazão a fan-
tasias sexuais, sempre atribuindo um tom cômico à situação. Elas são o único casal que
explicita o uso de sex toys – objetos e brinquedos para jogos sexuais –, dando espaço à
representação de papéis do tipo “comandante de navio se envolvendo com a camareira”.
Depois de sofrer muito e até se viciar em antidepressivos, porque Dana a deixa para voltar
a seu antigo relacionamento com Lara, Alice nos brinda com cenas hilárias ao se envolver
com a vampirologista Uta Refson
37
. Após cuidar de Dana durante toda a sua luta contra
um câncer de mama, Alice, na tentativa de manter a presença de seu primeiro grande
amor, tem um envolvimento com Lara, ex-namorada da tenista falecida.
Figura 21 – Lara e Alice – 3ª temporada
Separada de Lara, envolve-se sexualmente com Papi, uma das “pegadoras” da série, com
quem tem uma divertida cena de sexo em uma limousine. Na sequência, é a primeira
mulher com quem Phyllis Kroll reitora da Universidade da Califórnia, na faixa dos 50
37 O nome Uta Refson, de trás para a frente, é Nosferatu, um clássico filme de vampiro do cinema mudo,
dirigido por F.W. Murnau e baseado no romance Drácula, de Bram Stocker.
eLas por eLas 89
anos, casada mais de 20 anos e mãe de duas filhas se relaciona. Em sua primeira
noite fora do armário, Phyllis vai ao The Planet, onde é rapidamente seduzida por Alice.
Em seguida, Alice conhece Tasha, uma capitã negra do Exército americano que acaba de
chegar da Guerra do Iraque.
Figura 22 – Tasha e Alice – 4ª temporada
Com Tasha, ela vive um novo amor e enfrenta alguns problemas para manter o relacio-
namento, entre eles o desnível socioeconômico e o preconceito das Forças Armadas
americanas em relação aos homossexuais.
Figura 23 – Alice – 5ª temporada
Profissionalmente, é uma jornalista bem-sucedida, mas seu caminho para o The Look,
programa especializado em fofocas sobre celebridades e que marca o auge de sua car-
reira, tem um percurso duvidoso. Alice se torna famosa por exibir, no OurChart.com, a
gravação não autorizada de um famoso jogador de basquete com seu amante, em uma
festa privée em que era proibido fotografar ou filmar. Como o jogador é casado e publi-
camente homofóbico, a divulgação repercute nos principais noticiários de rede nacional
dos EUA, levando ao convite para que Alice trabalhe no The Look. Na última temporada,
entretanto, ela perde o emprego por ler a carta de uma adolescente lésbica que pensa
em se matar porque o irmão foi assassinado por homofóbicos, o que, no entendimento
eLas por eLas 90
da menina, mostrava que não havia alternativas para os homossexuais.
Figura 24 – Alice no The look – 6ª temporada
Papel na trama No grupo, assume também a função comunicadora, acompanhando
sua profissão. Não é à toa que é ela a dona do bordão “Olá, bem-vindas a Alice no País
da Lésbicas”. Em vários momentos da trama, é ela quem apresenta a situação em que
as personagens se encontram não só para as telespectadoras, mas também entre elas. É
a responsável pelo anúncio de novidades, pelo escapar de um segredo, pelos discursos
em grandes ocasiões e, em algumas aberturas, narra o que aconteceu na vida das per-
sonagens desde a última vez que a vimos. Chega até a dar à própria Tina a notícia de
sua gravidez, ao encontrar o resultado positivo de seu teste caseiro, no quarto capítulo
da primeira temporada. Coloca-se, dessa maneira, num espaço que se destina ao fluxo
de informações. Por assumir o papel de fazer com que as novidades circulem entre as
amigas, muitas vezes acaba ficando com certo ar de fofoqueira.
[No acampamento, durante um jogo da verdade, discutindo traição.]
Bette Não sei, só... Acho que julgar é uma armadilha. Acho que
situações diferentes, e não se pode categoricamente...
Alice Nossa, isso que é uma não-resposta de Bette, porque ela é uma
velha traidora.
Bette – Alice...
Shane – Deixe-a em paz, tenha dó.
Alice – Não estou julgando...
[Bette e Tina tentam mudar de assunto]
Alice Bette, vamos, você trai! Você era uma traidora gigante. Não é...
Foi uma fase. Não digo que ainda seja, mas você traiu a Tina, me traiu.
Quer dizer, você trai. Foi muita traição. Certo? Ora, pessoal! Vocês viram.
Estavam lá. Ela saiu com muitas. Tremenda traidora. Certo, deixem-me
em paz, desculpem.
Jodi [para Bette] Você era? Está me traindo? [Constrangimento geral.
Tina sai, Jodi sai, Bette sai.]
[Na barraca de Tina, alguns minutos depois.]
eLas por eLas 91
Alice – Tina, o que foi, o que está havendo?
Tina – Não quero falar nisso.
Alice – Está tendo um caso com Bette?
Shane – Desde quando?
Tina – Cerca de um mês.
Alice e Shane – Um mês?
Alice – Por que não me contou?
Tina – Porque você é linguaruda.
The L Word, 5ª Temporada, Ep. 5.10: “Ciclo da vida”
Não é à toa que, na quinta temporada, é convidada para ser uma das apresentadoras de
um programa de fofocas sobre celebridades, The Look.
Além de se caracterizar como o centro divulgador e captador de informações entre as
amigas, é Alice quem inicia a constituição do grupo. Se observarmos a forma como as ami-
gas se conheceram, Alice também foi responsável, ao que tudo indica, por boa parte das
conexões de amizade. Pelas histórias que recuperam de como a amizade foi estabelecida,
vemos que é ela quem junta as pessoas na formação que vemos na série. É responsável,
por exemplo, ainda que indiretamente, pelo primeiro encontro entre Bette e Tina consi-
deradas o casal mais estável da série, receberam enorme apoio das fãs para que permane-
cessem juntas. É ela, ainda, quem apresenta Jenny a Marina, evento que parece marcar o
início do rolar da trama.
Ela é uma espécie de ponto convergente e disseminador das informações do grupo e
sempre dá apoio a todas as amigas em dificuldades. Quando Tina Kennard se separa de
Bette Porter, é na casa de Alice que encontra apoio. Quando Helena Peabody se vê sem
sua fortuna da noite para o dia, também é na casa de Alice que começa a se adaptar
à nova vida. No papel desse centro agregador de amizades e difusor das informações,
tem, em casa, um grande quadro, onde começa a traçar as conexões entre as lésbicas
ou, em outras palavras, “quem já pegou quem”, explicitando as relações sexuais entre as
homossexuais. Esse quadro dá origem ao site de relacionamento lésbico OurChart.com,
que tem destaque no seriado e fora dele.
É um site de relacionamentos para lésbicas. Quando eu o criei esse era
o conceito central [transar antes], tipo Jenny que transou com Tina que
transou com Annie. Mas como lésbicas são lésbicas, começaram a entrar
e a falar de si mesmas e foi assim. Quer ver? O que me interessa é a pá-
gina das parceiras. [Alice explicando o que é o OurChart.com.]
The L Word, 4ª Temporada, Ep. 4.01: “Lenda em construção”
Na trama, cumpre então o papel daquela que anuncia boas e más notícias, resume his-
tórias, faz discursos, revela segredos, conecta personagens e telespectadoras, mantendo
eLas por eLas 92
sempre a postura de uma boa amiga. Além disso, assume, ainda, o papel da figura que
faz o grupo rir, ao propor brincadeiras ou tecer comentários.
Alice – Brincadeira. Uma fada madrinha aparece e diz que você terá um
pênis por 24 horas, o que fariam?
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.04: “ Aventuras”
Mesmo em momentos de sofrimento, como quando Dana a troca por Lara ou quando a
tenista morre de câncer de mama, Alice faz a telespectadora rir, seja porque se vicia em
barbitúricos e mantém em casa um display em tamanho natural de Dana ou porque rouba
as cinzas do corpo da tenista. Nesse sentido, opõe-se diretamente a Bette Porter, que con-
segue dar peso a momentos que poderiam ser apenas de descontração e alegria. Se Bette
reforça a caricatura na dor, Alice, ainda na dor, consegue ter ideias divertidas ou soltar péro-
las. Quando encontra Dana e Lara juntas, apesar do sofrimento, consegue desconcertar o
casal e fazer a telespectadora gargalhar ao expor a intimidade do antigo relacionamento.
Perereca, perereca, perereca, perereca, perereca... Pegue na minha
perereca, Al. Ninguém mexe na minha perereca como você. Olhe o que
acontece quando nossas pererecas se tocam. Elas ficam molhadas. É
uma perereca bem molhada. [Dana e Lara vão embora]. Perereca. [Num
ataque de ciúmes no The Planet, Alice começa a falar na frente das ami-
gas sobre como Dana falava com ela na intimidade.]
The L Word, 3ª Temporada, Ep. 3.01: “Labia Majora”
Corpo e visualidade Suas roupas, principalmente nas três primeiras temporadas, têm
estilo moderno e dão espaço para cores fortes. Depois que começa o último de seus
relacionamentos, fica evidente uma mudança no vestuário da jornalista, que migra para
modelos mais sérios, em tons mais sóbrios. Apesar disso, ela mantém o bom humor. Ali-
ce Pieszecki não chega a se vestir de modo extravagante, mas de todas as personagens
da série é a que mais se permite aparecer com estampas e cores, principalmente nas
primeiras temporadas. A combinação de cores e, muitas vezes, o jeito esportivo e tam-
bém feminino de se vestir harmonizam com a leveza e com os momentos cômicos que
a personagem proporciona pelo menos até o final da terceira temporada, com a morte
de Dana. A partir daí, ela permanece divertida, solta, mas se mostra mais contida quan-
do inicia seu relacionamento com Tasha Willians, do Exército americano. Esse momento
marca, ainda, a ascensão profissional da jornalista, marcada também pelo uso de roupas
mais conservadoras, menos coloridas e mais convencionais, que, em alguns momentos,
parecem ter sido feitas para outra personagem. O modo descontraído de se vestir acom-
panha o jeito leve, mesmo em momentos de dor, de Alice enfrentar a vida.
Tematização Por se relacionar e trazer muitas personagens para o desenrolar da trama
eLas por eLas 93
na série, Alice acaba por colocar em cena a discussão de uma série de temas ligados à
lesbianidade. Entre eles, destacam-se a identidade lésbica, a transexualidade e a bissexua-
lidade e o preconceito entre os LGBT, sexo sem compromisso, discussões de gênero, fan-
tasias sexuais e usos de acessórios de sex shops, preconceito no Exército, o se descobrir
homossexual na terceira idade, o sair do armário publicamente, gravação não autorizada
e o combate à homofobia, fidelidade, traição e câncer de mama.
Como boa parte das personagens, volta e meia Alice tem falas que buscam apresentar o
que seria uma lésbica e descrever formas de funcionamento do universo lésbico e, por con-
seqncia, acaba falando a respeito de sexualidade em geral. É assim que ela informa que
também se relaciona com homens, embora, na prática, isso quase não aconteça na série.
Está bem, posso dizer falando como quem gosta de você sabe o
quê, o que significa... (...) É, não queria lhe ofender, mas eu gosto de
pênis. (...) Eu sigo o coração, não a anatomia.
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.13: “Lacuna”
Essa fala de se apaixonar pelas pessoas e não pelo sexo que elas têm é recorrente no uni-
verso sbico, especialmente entre as pessoas mais jovens que ainda estão descobrindo a
própria sexualidade ou que se definem e praticam a bissexualidade. Embora de alguma for-
ma ela negue a anatomia, Alice também é uma personagem que vazão a fantasias sexu-
ais, inclusive com o uso de consolos, especialmente em seu relacionamento com Dana.
Alice – Capitão Stubing, quero tanto seu pau dentro de mim.
Dana – Espero que minha esposa Marion Ross não descubra.
Alice – Não, a Marion Ross era a atriz. A personagem era Emily.
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.13: “Lacuna”
A personagem parece assim se prestar a revelar de forma natural, sem preconceitos e
sem censura, nuances da sexualidade lésbica ainda pouco conhecida do telespectador
em geral. Os brinquedos sexuais são introduzidos na relação sem grandes polêmicas, de
forma natural e divertida.
O descolamento entre o gostar e a anatomia é reforçado por ela duas temporadas de-
pois, quando tenta explicar para o marido de Phyllis o porquê de ela tê-lo abandonado
para assumir sua lesbianidade.
– Leonard, não é o sexo. É muito mais que isso. [Tentando responder a
Leonard porque Phyllis se assumiu lésbica.]
The L Word, 4ª Temporada, Ep. 4.09: “Diferenças criativas”
Entretanto, e a exemplo de outras personagens, Alice também deixa escapar algumas
sentenças que demonstram o sentimento de uma certa superioridade ou um desejo de
eLas por eLas 94
maior valorização da mulher em relação aos homens.
Vê? Os homens deveriam tricotar e as mulheres controlar o mundo.
É minha opinião. Acho que daria um ótimo suporte para um consolo.
(Durante a aula de tricô.)
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.01: “Vida, perda e partida”
Assumindo na trama praticamente a posição de apresentar o universo lésbico à telespec-
tadora, Alice expõe também os senões de fazer parte de um mundo que acaba sendo
considerado pequeno, o que faz com que o ciclo de relações e de possibilidades afetivas
seja limitado.
– Porque são os mesmos rostos, noite após noite, semana após semana.
Clubes instáveis, garotas instáveis. (...) Vou ficar fora desse círculo vicioso.
[Explicando a Dana porque a noite lésbica é deprimente e se referindo a
uma mulher que está com duas de suas ex-namoradas.]
The L Word, 1ª Temporada, Ep.-piloto.
Essa fala dos mesmos rostos e da dificuldade de se encontrar alguém para relacionar tam-
bém é comumente ouvida nos ambientes lésbicos e provavelmente soou familiar à maioria
das telespectadoras, pelo menos das lésbicas, Alice a reforça dois capítulos à frente, o que
denuncia certa falta de opção para relacionamentos e mostra o quanto todos estamos
ligados, conectados e que essa condição extrapola o universo sbico. Isto é, apesar de a
personagem trazer à tona uma queso recorrente entre as lésbicas que estão cansadas de
encontrarem as mesmas caras nos bares, Alice reforça que de fato esse pequeno mundo é
refletido em interconexões, as quais, entretanto, não se limitam ao universo lésbico.
AliceSão atos sexuais aleatórios, ok? São encontros, romances, ficadas,
casamentos de 20 anos. Sempre que encontrar um grupo de lésbicas
juntas, é garantido que alguém dormiu com outra, que dormiu com
outra, que já dormiu com alguém ali. Cite uma lésbica que você conhe-
ce. Posso relacioná-la a mim em seis pessoas.
Marc – Christine Lee.
Alice Christine Lee. Fácil. Ok, ela estava com a Grace Partridge dois
anos. Grace ficou com Anya. Depois, Anya namorou Denise, que namorou
Catherina Claymore, que foi minha primeira namorada. É surpreendente,
certo? Tudo bem, Marc, não é coisa só de lésbicas. Posso te colocar nisto
aqui, provavelmente, em seis conexões, fácil. Então, a questão é que esta-
mos todos ligados, vê? Através do amor, através da solio, através de um
pequeno e lamenvel lapso de julgamento. Todos, em nosso isolamento,
buscamos sair da escuridão, da alienação da vida moderna para formar
essas conexões. Acho que é uma declaração profunda de existência da
natureza humana.
The L Word, 1ª Temporada, Ep.1.03: “ O desejo”
eLas por eLas 95
Sobre questões específicas e caras aos LGBT e pesquisadores da área, Alice surpreende
logo na primeira temporada ao se envolver com um homem que se autodefine como
lésbico e que prefere se relacionar sexualmente com ela utilizando um consolo do que
seu próprio pênis. Apesar de aparecer em apenas alguns capítulos, o namorado lésbico
de Alice já nos revela o quanto as questões de gênero são complexas, extrapolando em
muito referentes biológicos. Essa discussão se acentua com a chegada de Moira, tran-
sexual que se transforma em Max, e que trabalha para o OurChart de Alice. A jornalista
surpreende as telespectadoras ao censurar um post de Max sobre transexualidade em
seu site, o que mostra que mesmo entre os LGBT preconceito. Alice, por sua vez,
também sofre algumas críticas, ainda que sutis, de suas amigas, ao se dizer bissexual. No
universo lésbico, também é conhecido o preconceito que algumas homossexuais têm em
relação a mulheres bissexuais, sendo comum ouvir frases do tipo: Com bi, eu não fico.
Entretanto, a própria Alice critica Tina, quando esta se envolve em um relacionamento
heterossexual.
Alice – Ela virou heterossexual e isso é traição.
Papi – Lutamos para não ser julgadas por causa de quem transamos e é
exatamente o que estão fazendo com a Tina.
The L Word, 4ª Temporada, Ep. 4.07: “Licao Numero”
Não é possível, ainda, pensar na personagem Alice sem lembrar de fantasias sexuais. Ali-
ce, adepta de relações sérias, quando apaixonada, e também do sexo sem compromisso,
é a personagem que se permite relacionar com os tipos mais diversos, o que rende cenas
divertidas, seja pelo uso de acessórios, pela criação de historinhas ou pela performance
exótica de suas parceiras, como a que se intitula vampira. Em sua lista, que começa com
o homem lésbico, incluem-se negras, mulheres mais velhas, tipos comuns e tipos exóticos
e pessoas com ou sem o mesmo nível cultural e econômico. Com naturalidade, a perso-
nagem traz para as telas nuances da sexualidade lésbica até então praticamente ignora-
das ou muito pouco exploradas pela televisão. Fala abertamente sobre os mais diversos
temas: sexo, posições sexuais, fantasias e sex toys, a política americana conservadora do
governo Bush, que engloba desde a Guerra do Iraque...
– Não vou a uma festa que comemora a partida de quem eu gosto para
o lugar mais perigoso da Terra. Para lutar em uma guerra moralmente
falida e talvez possa voltar em um caixão. Isso seria loucura. [Sobre a festa
de despedida de Tasha, que volta à Guerra do Iraque.]
The L Word, 4ª Temporada, Ep. 4.12: “Partidas e desencontros”
...a uma política mais homofóbica por parte do governo, e ganha destaque na persona-
gem por meio de sua namorada Tasha, que, depois de servir no Iraque, sofre um proces-
eLas por eLas 96
so no Exército americano por conduta homossexual. Mesmo com a chance de permane-
cer na instituição, Tasha opta por sair, deixando, antes, algumas frases significativas em
torno da questão que criticam a hipocrisia proposta pela atual política e sugerem algo do
tipo: contanto que você não exista, pode existir.
Tasha Eu nunca decidi me tornar lésbica, mas eu decidi entrar para o
Exército. [Tasha para a promotora do seu caso].
The L Word, 5ª Temporada, Ep. 5.03: “A dama do lago”
Tasha Parece tão errado agora ter minha liberdade pessoal negada a
mim, no meu próprio país. Parece errado assistir à pessoa que amo sen-
do interrogada como criminosa quando não fez nada errado.
Coronel Davis A pessoa que você ama? A quem se refere, Capitã Wil-
liams?
Tasha Alice Pieszecki, Coronel. [Tasha, durante o julgamento, quando
decide que não quer mais ficar no Exército americano].
The L Word, 5ª Temporada, Ep. 5.03: “A dama do lago”
A hipocrisia que gira em torno da questão homossexual é trazida pela personagem de
Alice não só quando ela desmascara a Promotora, Coronel Davis, que é homossexual ao
mesmo tempo em que acusa Tasha desse tipo de conduta. Ao revelar publicamente a
homossexualidade do jogador de basquete Baryl Brewer, Alice desmascara a estrela do
esporte que, publicamente, mantém uma postura homofóbica.
É também por meio de Alice que o tema sair do armário na terceira idade vem à tona.
Ao estrear na noite lésbica, Phyllis, casada e entre 50 e 60 anos, apaixona-se por Alice,
que lhe as primeiras lições de sexo entre mulheres. Em torno do casal vem a discussão
sobre mulheres que só conseguem assumir sua homossexualidade bem mais velhas.
Os temas pertinentes a relacionamentos amorosos também estão presentes no percurso
da personagem, que, ao mesmo tempo em que nos faz rir, também consegue propor
reflexões, por exemplo, quando percebe o final de seu relacionamento com Dana e o
quanto as relações amorosas podem nos deixar dependentes e vulneráveis.
Talvez eu esteja me fazendo sentir mal, mas eu estou virando alguém
que não suporto. Olha, eu nem, não sabia que eu estava virando al-
guém sufocante e carente e tão dependente. Quero dizer, que nojo.
Não consigo imaginar nada pior. (…) Olha, as coisas entre nós ficaram
intensas demais, rápido demais. Eu nunca me senti assim. Eu não sei.
Está me fazendo agir de modo estranho. (…) Bem, me sinto como o
cara do camundongo e, sabe, ela ama o camundongo, e ele o segura,
sabe,… ele ama tanto o camundongo e fica …
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.13: “Lacuna”
eLas por eLas 97
E, ao final do relacionamento, expõe, sem constrangimento, sua dor de cotovelo em seu
programa de rádio.
Esta noite estamos falando da conexão entre o amor e os sentidos.
Sua amante a beija e você sente um tremor atrás dos joelhos. As sinap-
ses disparam, mandando ordens: Mexa as pernas, mexa os braços. Ela
é a pessoa certa para você. Ela é a garota dos seus sonhos. Ela é sua e
não há mais ninguém. E você sabe porque o cheiro dela faz sua cabeça
rodar, porque você tem um choque físico toda vez que ela olha em sua
direção. Ela te toca aqui e você sente aqui. É... você a toca em qualquer
lugar e sente no corpo todo. E aí, bum, seis meses se passaram e ela
está tocando outra pessoa. E você pode dizer, ei, Al, relacionamentos
acabam, amores se vão, deixando um labirinto de dor e de traição. Por
exemplo, meu primeiro namorado me deixou por uma ex-lésbica volup-
tuosa chamada April com quem acabei tendo um caso de transição. Mas
também podemos falar da Gabby, também conhecida como Lésbica X,
o ponto de origem de todo o substrato geográfico de conexões lésbicas,
inclusive Lara. (...) É a mesma Lara. Nós a amamos. Lara, a ladra. Lara,
a libertadora. Lara, o novo verdadeiro amor de Dana. É, Dana que me
disse que precisava de um encerramento com a Lara. se passaram seis
meses e ainda estou esperando isso se encerrar.
The L Word, 3ª Temporada, Ep. 3.01: “Labia Majora”
Após tanta exposição de suas emoções no final de seu relacionamento com Dana, Alice,
três anos depois, ao final de sexta temporada, mostra-se madura ao perceber seu interes-
se por Clea, que revela a crise de seu casamento.
Mas eu sei que o certo a ser feito é resolver as coisas com Tasha. É o que
eu deveria fazer (...) porque todos nós deixamos nossa relação ir para o
espaço ante a primeira tentação. Ninguém trabalha as relações mais. To-
dos parecem querer gratificações. Eu não quero ser assim. [Sobre a crise
de relacionamento com Tasha e o interesse por outra mulher.]
The L Word, 5ª Temporada, Ep. 5.12: “Loyal and true”
Essa maturidade se mostra verdadeira pois também se faz presente no momento em
que percebe o interesse mútuo entre Tasha e Jammie. Alice consegue ter a fimeza de se
afastar, permitindo que Tasha perceba de fato quem deseja. Essa capacidade de admitir
que a parceira olhe para outra mulher é um marco divisório no grupo. De um lado, es-
tão Alice, Shane e Bette que, pelo menos aparentemente, conseguem ser mais flexíveis
em questões relativas à fidelidade. Do outro lado, ficam Tasha, Jenny e Tina, que não
admitem deslizes das parceiras. Essa situação nos remete a discussões sobre lealdade e
fidelidade sempre presentes entre os casais, independentemente da sexualidade. Alice,
de certa forma, mostra amadurecimento ao lidar com o desejo do outro se comparar-
mos sua atitude em relação a Dana e a Tasha. Os anos mostraram a Alice que, apesar de
eLas por eLas 98
alguns desvios de percurso, suas parceiras ainda podem desejá-la, amá-la e prosseguir
no relacionamento sem dúvidas. Talvez esse seja um dos temas mais antigos e polêmicos
que se estabeleceu entre os casais desde que a monogamia foi eleita como modelo a ser
seguido.
Bette Porter (Jennifer Beals), a dominadora
Figura 25 – Bette Porter
Sofisticada, culta, elegante, aparentemente muito segura, dominadora e workaholic.
Essa pode ser a síntese de Bette Porter, se pensarmos em sua personagem na primeira
temporada. À medida que a trama se desenvolve, novos adjetivos a compõem. É boa
amiga, solidária, mas também é egoísta, controladora e bastante conservadora. Entretan-
to, sua característica que mais sobressai é o quanto gosta de chorar. Se faz sexo, chora;
se trai, chora; se é traída, chora; se nasce sua filha, chora; se perde o emprego, chora;
se ganha um novo emprego, chora. Difícil pensar uma temporada em que não vimos
Bette Porter chorar. Provavelmente, é a personagem mais emblemática do que popular-
mente conhecemos como “drama lésbico”. Talvez parte da explicação para esse excesso
de choro seja o fato de ser muito dura, exigente e controladora, tanto de seus próprios
sentimentos quanto da vida alheia, e de levar qualquer sentimento ao máximo ao invés
de amenizá-lo.
Na primeira temporada, Bette está casada com Tina seis anos e as duas se ancoram na
tentativa de ter um bebê para animar a relação, que já não anda tão quente assim. Com
Tina, forma um casal que segue os padrões heterossexuais do século passado. Bette tra-
balha e ganha dinheiro. É a provedora da casa e quem controla a situação. Tina ocupa-se
com ginástica, afazeres domésticos e se prepara para gestar o filho que pretendem ter.
De cara, impõe-se uma relação de dependência entre as duas. Como Tina perde o bebê
e resolve deixar o projeto maternidade para retomar sua carreira, começa sua indepen-
eLas por eLas 99
dência em relação a Bette, que cai nos braços da marceneira Candace Jewell, a despeito
das diferenças culturais e econômicas. Flagrada na traição, sofre, sofre, sofre.
Figura 26 – Bette e Candace na prisão – 1ª temporada
Profissionalmente, inicia a série como a importante diretora de um museu em ascensão
na Califórnia, mas, depois de parar na cadeia por realizar uma exposição que desagrada
aos republicanos americanos, seu emprego começa a sofrer interferências e não se mos-
tra tão seguro assim.
A segunda temporada é marcada pelas tentativas desesperadas de Bette para retomar
seu casamento com Tina, uma vez que seu romance com Candace dura bem pouco.
Ao mesmo tempo, inicia uma fase ruim no emprego, especialmente proporcionada por
Helena Peabody, nova namorada de sua ex-mulher. Após muito choro e sofrimento,
Bette consegue Tina de volta. Entretanto, se a situação amorosa melhora, perde o pai,
Melvin, e o emprego no mesmo episódio. Ao final da temporada, com o nascimento de
Angélica, o casal mais estável de The L Word parece formar uma família feliz, ao lado
também das amigas, como anuncia a irmã de Bette, Kit Porter, que finaliza a temporada
informando ao bebê:
Kit Ah, Angélica; ah, meu amor, você vai ter uma vida muito interessan-
te, sabia disso? Porque somos pessoas muito interessantes. É. E aqui está
sua mãe de novo Bette. Esta é a sua família, Angélica
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.13: “Lacuna”
eLas por eLas 100
Figura 27 – Bette e seu pai, Melvin – 2ª temporada
Sem emprego e depois de perder Tina para Henry, a terceira temporada é marcada por
muito sofrimento para Bette. Além disso, sua turma de amigas desfalcada com a morte
de Dana. Ela chega a fazer retiro num mosteiro budista, mas obviamente não consegue
chegar ao fim do ritual. Depois de muitos dias em silêncio, sai da meditação com um
verdadeiro grito de guerra e resolve contratar uma advogada para disputar a guarda de
Angélica. Na última cena da temporada, após um mal entendido com Tina, sequestra a
filha e dirige sem destino.
Figura 28 – Bette (com Angélica) e Tina – 3ª temporada
Depois, as coisas começam a melhorar. Além de conseguir manter uma convivência
pacífica com Tina, Bette consegue emprego como diretora na Universidade de Artes da
Califórnia. Acaba tendo um rápido envolvimento com Nadia, aluna da instituição e sua
secretária, seguido do início de um relacionamento sério com Jodi Lerner, artista plástica
e professora da instituição. Ao mesmo tempo, se reaproxima de Tina, o que nos dá sinais
de uma possível reconciliação. Dominadora, acaba por ter problemas em sua relação
com Jodi, que se mostra uma mulher forte, independente e muito difícil de ser domesti-
cada ao estilo Porter.
eLas por eLas 101
Figura 29 – Bette no trator, com um presente para Jodi – 4ª temporada
Na quinta temporada, Bette trai Jodi com Tina e acaba voltando para a ex-mulher. Na
última temporada, ela mais uma vez perde o emprego, dessa vez em função de seu
rompimento com Jodi, de seu envolvimento com Nadia, uma aluna, e de um inesperado
assédio de Phyllis, a reitora da universidade. Resolve então se tornar sócia, em uma gale-
ria de arte, de uma ex-colega da faculdade por quem já foi apaixonada, o que provoca
o ciúme de Tina. Chantageada por Jenny, que fotografa uma hipotética cena de traição,
Bette se torna uma das suspeitas de assassinar a escritora.
Figura 30 – Bette e Jodi – 5ª temporada
No último capítulo, mostra-se bem diferente da autoritária e egoísta personagem que
conhecemos nos primeiros episódios, dispondo-se até a abrir mão de sua galeria para se
mudar com Tina, que recebeu uma proposta de trabalho em Nova York, e manter suas
calças fechadas quando está longe da mulher, como faz questão de prometer.
eLas por eLas 102
Figura 31 – Bette e Tina – 6ª temporada
Bette Devido ao meu histórico, eu não queria ser leviana sobre a
promessa que fiz a você.
Tina – Mas você não me fez nenhuma promessa.
Bette Vou fazer uma promessa para você agora mesmo. Eu prometo
dividir com você valores sobre família, confiança, comprometimento. Eu
nunca mais trairei você de novo.
Tina – Uau.
Bette – Eu te amo.
The L Word, 6ª Temporada, Ep. 6.01: “Long Night’s Journey into Day”
Papel na trama – Na trama, Bette é aquela que parece querer dominar a própria vida
a qualquer custo, sendo muito exigente com ela mesma e com os que estão ao redor.
É uma lutadora pelas causas que lhe são mais caras. Se autointitula negra, embora seja
morena, e luta contra o racismo, colocando-se também sempre combativa em relação à
homofobia. É do tipo lutador que não abre mão de seus direitos, mesmo em momentos
emergenciais, como na doença de Angélica:
Atendente de hospital – Qual de vocês é a mãe?
Bette e Tina – As duas.
Atendente – Eu preciso colocar apenas um nome.
Bette – Você está brincando?
Atendente – Não posso processar a sua papelada.
Bette Aqui é Los Angeles. Existem seis famílias como a nossa logo nessa
droga de esquina. Ela nasceu nessa droga de hospital. E nos duas esta-
mos em seu registro de nascimento. Então, por que você não nos
um pouco de tempo e crédito e ajuda nossa filha a ver a droga de um
médico? Por favor...
The L Word, 6ª Temporada, Ep. 6.01, “Long Night’s Journey into Day”
É uma mulher de batalhas... batalha pelos direitos civis dos homossexuais, batalha pela
sua condição de afrodescendente, batalha para expor trabalhos artísticos mais ousados
eLas por eLas 103
e, contraditoriamente, batalha para inibir um aluno que mostra um trabalho mais crítico
na universidade em que é diretora, o que contraria sua posição vanguardista quando
dirigia o museu. Parece que se trata de uma democrata conservadora: na arte, super
moderna; na vida, extremamente dura e reacionária.
Mais reservada que Alice, mais tensa que Shane, mais intensa que Tina, é a mais centrali-
zadora e controladora do grupo. Ao mesmo tempo em que está sempre pronta a tentar
controlar os que estão ao seu redor, assumindo na maioria dos casos posições duras e
julgamentos conservadores, Bette muitas vezes pratica o que tanto condena. Intolerante
ao fiscalizar o relacionamento de Marina e Jenny e o de Angus e Hazel, ou em relação
ao alcoolismo da irmã, Kit, tem a carne fraca e acaba cometendo os mesmos atos con-
denáveis.
[No acampamento, Bette e Kit discutem o caso com Tina]
Bette – Sei que isto acabou mal e não queria que fosse assim. Sei que fiz
tudo errado, mas foi pelos motivos certos. Eu estava tentando fazer tudo
certo.
Kit Bem, parece que você está fazendo tudo certo para Bette. Sabe, o
certo para a Bette.
The L Word, 5ª Temporada, Ep. 5.10, “Ciclo da vida”
Age como uma supermãe que deseja os filhotes sempre debaixo de suas asas. Tudo e to-
dos sob controle e tolerância zero. Tem pavio curto, é impaciente e, em geral, não espera
o melhor momento para se colocar ou agir. Retruca na hora. Para a atriz Jennifer Beals, a
partir da quinta temporada, quando recupera Tina, Porter se esforça para mudar. “Bette
não é a pessoa mais paciente do mundo, apesar de estar tentando ser”, comenta a atriz.
(SHOWTIME, 2009a)
Sisuda, é de poucas brincadeiras. Muito menos se adapta facilmente a situações adversas
e que estejam fora de seu controle. Não relaxa no final de semana no campo, sempre
com um livro na mão, e entre as amigas é a que mais sofre ao se ver interpretada no filme
Lez Girls, o que rende um diálogo interessante com a atriz que a representa:
Bette [falando com Jodi] – Jenny pode fazer o que quiser com seu filme
estúpido. Estou completamente desapegada da noção de que tem qual-
quer coisa a ver com minha vida. É ficção. Ficção.
Bette [para Isabella Perkins, que interpreta Bev] Não sabia que seria a
interpretação distorcida de Jenny sobre mim?
Isabella Sim, deve ser difícil para você ver a sua vida e seus relaciona-
mentos examinados.
Bette – Tudo é ficção.
Isabella – É tão importante para as atrizes saberem as verdades. Eu tinha
esperança de que me ajudasse com os acertos.
eLas por eLas 104
Bette – Os acertos?
Isabella – Posso ver que é uma mulher incrivelmente apaixonada e reali-
zada. Você deu duro para ser quem você é. Você é corajosa e compro-
metida na sua visão e no jeito que leva a vida. E você tem um casamento
maravilhoso com uma doce e genuína parceira. Algo está errado. Por
quê? O que em Bev que procura sabotar tudo que ela construiu? E
por que ela traiu com a encanadora?
Bette Ela diz seguramente que as idiotices da Jenny são baseadas em
mim e minha vida. [...] Eu não posso responder a porra de sua pergunta.
Sabe por que? Porque não sou eu. Não sou eu. Além disso, estou fran-
camente indignada. Estou indignada que ela tenha escalado uma atriz
branca. Ela é branca. A porra da Mary Poppins não estava disponível? O
que diabos ela sabe sobre a minha vida? O que ela pode saber?
Isabella – Ela é negra?
The L Word, 5ª Temporada, Ep. 5.05: “Olhando para você”
E, apesar de ter sido combativa para talvez convencer a si mesma também de que Bev
não é Bette, ela acaba admitindo, minutos depois, para Tina:
Bette Sabe de uma coisa? Ela não estava errada. Eu ainda não tenho
resposta para nenhum dos “porquês”. Não tenho.
The L Word, 5ª Temporada, Ep. 5.05: “Olhando para você”
Se pensarmos na dupla, o casal Tibette, como são tratadas pelas fãs, funciona como uma
espécie de pilar, de porto seguro, de referência, de sustentação para o grupo de amigas,
tanto que a casa das duas é recorrentemente um ponto de encontro do grupo, configu-
rando o ambiente mais familiar e aconchegante se pensarmos nas demais casas. É um
casal que recebe, cede espaços e funciona, aparentemente, equilibrando o grupo. “Gos-
to muito de vê-las tentando ser boas uma com a outra e com as pessoas ao seu redor.”,
comenta a atriz Jennifer Beals (The L Word, Quinta Temporada, Extras).
Corpo e visualidade Sofisticação e tradição resumem o guarda-roupa de Bette Porter.
Com tipo altivo, dona de si, usa roupas em tons pastéis e mais sóbrios, que correspon-
dem ao seu estilo de mulher dominadora e com um jeito conservador. No trabalho, em
geral está com ternos femininos. Em ocasiões festivas, sai, de vez em quando, para tons
mais fortes, como o vermelho, o que realça seu lado mais sensual e seu apetite sexual.
Está sempre impecável, no melhor estilo mulher de negócios. A maquiagem também
é presença constante, e os cabelos, na maioria das cenas, parecem ter acabado de ser
comportadamente escovados. Está sempre impecavelmente vestida, ainda que de ho-
mewear. Sua presença não passa despercebida por onde entra, sempre com o queixo
levantado e um olhar determinado. Magra e elegante, faz sucesso entre as fãs do se-
riado: na enquete postada na comunidade The L Word-Brasil ORIGINAL, acessada em
eLas por eLas 105
25/8/2009, das 713 pessoas que responderam à pergunta “Qual atriz do The L Word
você namoraria?”, 131 (18%) escolheram a atriz Jennifer Beals, que ficou em segundo
lugar, perdendo apenas para Katherine Moennig (149 votos, 20%)
38
.
Tematização Em torno de Bette Porter, surgem sempre temas ligados ao casamento
lésbico, especialmente no que se refere a direitos civis, pelos quais ela não se cansa de
lutar. Ela e Tina compõem o casal mais estável da trama, têm uma filha e acabam tendo
que enfrentar uma série de questões burocráticas para o reconhecimento da relação de
ambas e da dupla maternidade. Assim, passam por um longo processo, que inclui visitas
e longas conversas com uma assistente social que passa a cuidar do caso de Angélica.
Além disso, enfrentam os percalços de escolher uma escola para Angélica que não tenha
problemas com o fato de a menina ter duas mães. Situações como essa trazem à tona o
quanto ainda pode existir discriminação em relação a casais homossexuais e seus filhos
e o quanto esse comportamento ainda se faz presente na sociedade, ainda que seja em
Los Angeles, considerada dos locais mais liberais dos Estados Unidos.
Essa dificuldade de reconhecimento da dupla como um casal não se limita a direitos ci-
vis. Dentro de sua própria casa, Bette convive com a indiferença do pai, que insiste em
destratar Tina e a não reconhecê-la como mulher de Bette, o que muitas vezes dificulta
a relação entre eles. Da irmã, Kit, ela tem o pleno reconhecimento e apoio em relação a
sua homossexualidade. Por outro lado, o sobrinho também se mostra preconceituoso em
relação ao casamento da tia. Ela é a personagem que mais a ver a questão familiar,
tanto por causa de seu casamento com Tina quanto porque seus parentes, especialmen-
te a irmã, são os de presença mais marcante na série. E de alguma forma, dos parentes
de personagem que são mostrados, apenas seu pai, o pai de Max e a mãe e o padrasto
de Jenny se mostram mais duros em relação à homossexualidade dos filhos, pois mesmo
os pais republicanos da tenista Dana, embora façam questão de manter as aparências
para a sociedade, acabam, entre quatro paredes, aceitando a opção da filha.
Em seu casamento com Tina, a questão familiar e como se esse formato entre casais
homossexuais também é uma das pautas da personagem. Como em qualquer outro re-
lacionamento, o casal passa por desgastes, faz terapia e tem idas e vindas acionadas por
uma das coisas que mais expõem a crise de um casal: a traição. Acaba, então, trazendo
à tona discussões em torno de fidelidade e lealdade. Bette, apesar de se colocar como
um pilar da moral e de insistentemente querer apontar os deslizes alheios, é a primeira
38 As informações da enquete foram retiradas do link www.orkut.com.br/Main#CommPollResults.aspx?
cmm= 52139&pct=12 11889892&pid=864081929
eLas por eLas 106
do casal que não resiste e trai. Entretanto, apesar de não ter resistido às cantadas da mar-
ceneira Candance, mantém-se leal a Tina até que a parceira descobre a traição, o que
deflagra a separação do casal. Depois, prova do próprio veneno e tem que enfrentar a
traição de Tina, desta vez com um homem, mas que na verdade culmina num afasta-
mento mais definitivo para o casal do que a aventura vivida por Bette. Parece-nos então
que Bette é do tipo que admite ter uma pequena aventura, cometer uma infidelidade,
embora mantenha a lealdade ao seu relacionamento.
No início da série, o casal apresenta um formato muito similar ao das relações heteros-
sexuais bem tradicionais, mas, ao final da série, mostra que evoluiu. Bette deixa de ser o
único elemento ativo da relação até na cama, Tina se mostra mais atuante –, passando
a dividir esse espaço com a parceira.
O preconceito em relação aos negros também é um tema trazido pela personagem. Ainda
que o seja exatamente negra, ela reivindica e faz questão dessa negritude durante toda
a série, tanto que não abre mão de que o doador de esperma para a inseminação em Tina
seja um afrodescendente, para que a criança também se pareça com ela. Com isso, ela
acaba polarizando em sua personagem três vítimas de preconceito: a mulher, a lésbica e
a negra.
Bette aciona, ainda, outros dois temas que integram não só o universo lésbico, mas são
comuns a qualquer orientação sexual. São eles: o relacionamento em ambiente de traba-
lho e com pessoas mais jovens. Ao acabar cedendo aos encantos de Nádia, Bette, que
dirige uma universidade, coloca em discussão um tema polêmico que é o relacionamen-
to com pessoas mais jovens e ao mesmo tempo com pessoas que são suas subordinadas
no local de trabalho, contrariando um velho ditado popular: onde se ganha o pão, não
se come a carne. Curioso notar que a personagem de Alice se envolve com uma mulher
mais velha, Phyllis, mas isso não chega a ser tema de discussão, muito provavelmente
porque Bette faz questão de viver com intensidade todos os sentimentos, inclusive o de
culpa, e Alice consegue levar a vida de uma forma mais amena. Essa diferença de com-
portamento talvez nos leve a um terceiro tema, a transparência. Talvez a forma franca,
honesta e transparente pela qual Alice se relaciona com as pessoas faça com que precise
dar menos peso a temas polêmicos, uma vez que ela não faz questão de esconder essa
ou aquela atitude, esse ou aquele envolvimento, enquanto Bette tem um jeito mais ca-
muflado, meio que às escondidas.
eLas por eLas 107
Jenny Schecter (Mia Kirshner), a desestruturadora
Figura 32 – Jenny Schecter
Considerada por Ilene Chaiken como a porta de entrada do olhar heterossexual para as
lésbicas de The L Word, a escritora Jenny Schecter (Mia Kirshner) muda-se para Los Ange-
les no episódio piloto da série para se casar com o namorado Tim Haspel. Tão logo che-
ga, flagra uma cena de sexo entre mulheres na piscina da casa de Bette e Tina, vizinhas
de Tim, e demonstra um olhar bem curioso ao observar Shane McCutcheon se divertindo
com mais uma de suas conquistas.
Figura 33 – Jenny, curiosa, vê mulheres fazendo sexo – 1ª temporada
Ainda nos primeiros episódios, é apresentada, numa festa, a Marina Ferrer, com quem
se envolve, tendo sua primeira relação homossexual. Depois de flagrada pelo noivo na
cama com Marina, ela se casa com Tim, mas, ainda na primeira noite, o marido a aban-
dona. Ao final da primeira temporada, se relaciona com Robin e Gene, respectivamente
uma mulher e um homem, mas não se envolve intensamente com nenhum dos dois.
Separa-se de Gene e nunca mais se envolve com homens, depois que ele faz questão de
dizer que ela é lésbica, no primeiro capítulo da segunda temporada.
eLas por eLas 108
Gene – Mas a gente não transa. Pronto. Falei. Quero transar com a mu-
lher para quem cozinho, para quem gravo fitas. Não quer transar, e eu
sei o porquê. Porque é gay, certo? Pronto. Desculpe te informar, mas
você é uma lésbica de mão cheia.
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.01: “Vida, perda e partida”
Na segunda temporada, Jenny passa a dividir casa com Shane e a amizade entre as duas
se consolida. Envolve-se afetivamente com Carmem, mas, ao constatar que a namorada
e Shane estão apaixonadas ao ver um diálogo entre as duas filmado por Mark, resolve
sair de cena para que as duas fiquem juntas. Depois de descobrir que Mark, um cineasta
que sublocou um quarto em sua casa, filmava sem autorização a rotina dela e a de Sha-
ne, Jenny resgata lembranças de abusos sexuais que sofreu quando era criança. Ao final
da temporada, é socorrida por Shane, após tentar se matar. A amiga promete ajudá-la
no que for preciso para que se recupere. Nas duas primeiras temporadas, Jenny luta por
reconhecimento no mercado editorial, mas ninguém se candidata a publicar seus textos.
Acaba trabalhando como caixa de supermercado e como stripper de uma casa de sado-
masoquismo.
Figura 34 – Jenny em crise – 2ª temporada
Na terceira temporada, após passar por um tratamento na casa da mãe em Skokie (Illi-
nois), convence Moira Sweeney, sua nova parceira sexual, a voltar com ela para Los
Angeles. Ela suporte a Moira, que se revela transexual, e a ajuda financeira e emo-
cionalmente no início de sua transição para Max. Após várias tentativas para que uma
editora publicasse seu trabalho, consegue, finalmente, um sinal verde para o livro “Some
of her Parts”, que trata na verdade do abuso sexual que ela sofreu quando criança. Na
véspera do casamento de Shane e Carmen, no Canadá, ela conhece a francesa Claude,
com quem passa a se relacionar, o que também marca o fim de seu namoro com Max.
eLas por eLas 109
Figura 35 – Jenny e Max – 3ª temporada
Após lançar seu livro e sofrer algumas críticas contundentes da jornalista Stacey Merkin,
Jenny resolve se vingar. Na quarta temporada, planeja metodicamente a sedução de
uma veterinária que namora a jornalista e consegue destruir o relacionamento. Ao mes-
mo tempo, recusa-se a participar de um ménage à trois com Claude e Marina, que volta
à série por alguns capítulos, após ter desaparecido ao final da primeira temporada.
Figura 36 – Jenny – 4ª temporada
No embalo de seu lançamento no mercado editorial, Jenny publica, no New Yorker Ma-
gazine, o primeiro capítulo de um drama chamado Lez Girls, que, depois, transforma-se
em livro. Na verdade, trata-se de recontar, sob seu ponto de vista, a primeira temporada
da série. Sua atitude causa indignação na maioria das amigas, pois Jenny amplia e expõe
as principais características de cada uma, especialmente os defeitos. Parece pretender
deixar todas as pessoas emocionalmente abaladas, embora, com seu jeito dissimulado,
tente transparecer que não fez nada intencional e que sequer está de fato recontando
histórias conhecidas. Ao mesmo tempo, possibilita momentos divertidos ao brincar com
o nome e a profissão de cada uma. Lez Girls faz enorme sucesso e começa a ser dispu-
tada pelos estúdios, que pretendem adaptá-la para um filme. Jenny, paralelamente, se
eLas por eLas 110
mostra cada vez mais arrogante e determinada a interferir em cada etapa do trabalho. A
Shaolim, produtora em que Tina Kennard trabalha, será a responsável pela execução do
filme. Ao final da temporada e depois de muitos conflitos para a escolha de diretores e
com a produção, Jenny é demitida da produção de Lez Girls.
Na quinta temporada, em que definitivamente está mais arrogante e autoritária, Jenny retor-
na a Los Angeles com um rico empresário que só financiará o filme caso ela seja a diretora.
Figura 37 – Jenny, o cachorro, a secretária e o produtor do filme – 5ª temporada
A própria Mia Kirshner, atriz que a interpreta, admite que esse foi o ano em que mais gos-
tou de interpretar a complexa escritora. “Ela está mais feliz do que nunca. Por isso, estou
contente de ela estar feliz, bem-sucedida e presunçosa. (...) Ela é tão bizarra e o que faz
é ultrajante.” (SHOWTIME, 2009a)
Antes mesmo do início das filmagens, envolve-se com Niki Stevens, uma jovem atriz que
representará a própria Jenny, no caso Jesse, em Lez Girls. Seu namoro com a jovem lhe
rende alguns problemas. Ao mesmo tempo, é paparicada e copiada pela assistente Adele,
que filma cenas de sexo entre ela e Niki. Durante as filmagens, Adele consegue expulsar
Jenny do próprio filme e conquistar a confiança do financiador. Ao deixar o set de filma-
gem, apenas Shane tem o gesto solidário de abandonar a produção. No lançamento do
filme, aparece inesperadamente na festa, discursa sobre o filme e suas amigas e se diz
apaixonada por alguém. Em seguida, flagra Shane e Niki transando na parte externa do
evento e diz a Shane que ela deveria ser a última pessoa a partir seu coração.
Por fim, na sexta temporada, Jenny se diz apaixonada por Shane que, por culpa, deixa que
a escritora faça dela o que bem entender. Paralelamente, esconde de Shane uma carta de
Molly e começa uma série de manipulações e intrigas que deixam todas as amigas tensas.
Provoca o transexual Max, que está grávido, chamando-o por nomes femininos, impede a
reconciliação de Helena e Dylan, rouba a ideia de Alice para o roteiro de um filme, ameaça
Bette de dizer a Tina que ela a está traindo, o que na verdade não aconteceu.
eLas por eLas 111
Figura 38 – Jenny morta. As amigas, consternadas, assistem – 6ª temporada
Depois de irritar tantas pessoas e provocar tantos desencontros, Jenny aparece morta na
piscina da casa de Bette e Tina, durante a festa de despedida do casal, que está de mu-
dança para Nova York. Estranho e, de certa forma, esperado desfecho. Antes de gravar
a última temporada e ao pensar no destino de Jenny, Kirschner afirmou que “Gostaria de
pensar que a boa obra é recompensada no final. Vamos ver o que acontece com a perso-
nagem.” (SHOWTIME, 2009a). De fato, o assassinato (?) da escritora rouba praticamente
toda a cena da sexta temporada, em que praticamente toda a trama gira em torno de
motivos que as amigas teriam para eliminá-la. Trata-se, assim, de um final consagrado
para uma personagem complexa e que ficou marcada exatamente por conflitos psicoló-
gicos e estratégias duvidosas para atingir seus objetivos.
Papel na trama Jenny é uma pessoa a cada ano da série. É difícil prever as atitudes
da personagem, estratégias e reações, A cada temporada, parece nos ser apresentada
uma nova Jenny. Ou seria uma nova faceta de uma velha conhecida? Como comenta
Mia Kirshner,
A questão é que a Jenny é quase um personagem novo a cada ano.
Nunca sei ao certo o que será escrito para mim. Nesse sentido, é mui-
to excitante. (...) Parei de lutar com os dilemas morais da personagem.
Apenas aceitei que ela é ultrajante e imprevisível e por isso é ótima (SHO-
WTIME, 2009a).
Se pensarmos em apenas um adjetivo para a personagem, certamente teremos um bem
diferente a cada temporada. Vejamos: primeira temporada Jenny, a inocente; segun-
da temporada Jenny, a frágil sofredora; terceira temporada Jenny, a incompetente;
quarta temporada Jenny, a revelação; quinta temporada Jenny, a arrogante; sexta
temporada – Jenny, a manipuladora.
Ao mesmo tempo em que cumpre o papel de aprendiz no mundo lésbico, Jenny, de cer-
eLas por eLas 112
ta forma, é uma das que mais protege e defende com afinco a homossexualidade, sendo
dona de algumas falas emblemáticas e mesmo com certo tom político, ao questionar, por
exemplo, o fato de Tina poder andar na rua de mãos dadas com o namorado. E, ainda
na segunda temporada, quando tinha poucas experiências sexuais com mulheres, deixa
claro que parece dominar o assunto.
Mark – Qual o ato sexual básico das lésbicas?
Jenny – Ato sexual básico das lésbicas?
Mark Sim, para os heterossexuais é transar. Quero dizer, tudo que fa-
zemos: beijar, acariciar, as preliminares, tudo leva ao resultado final pre-
visto.
Jenny – E o que o faz pensar que as lésbicas não transam?
Mark Não é posvel a o ser que usem consolos, o que é legal, mas
não é.
Jenny – Está de brincadeira? É totalmente possível.
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.05: “Labirinto”
E, dois capítulos depois, ao comentar o texto de um colega de aula de redação, sai mais
uma vez em defesa do sexo lésbico.
Jenny Sua personagem principal, Janine, abre o mundo de Madeleine,
dando-lhe os melhores orgasmos que teve, o que, não sei se você
sabe, é o ato sexual básico que duas mulheres podem fazer. E você
vai adiante e deprecia a coisa tanto, transformando-a em pornografia. E
acho que a razão disso é que os homens não suportam o fato de que
as mulheres conseguem esses orgasmos maravilhosos, estonteantes e
impressionantes sem nenhum pau.
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.07: “Luminosa”
De alguma forma, a fala de Jenny responde a uma pergunta que seu ex-namorado Tim
fez a Marina, ainda na primeira temporada, depois de flagrá-las juntas.
Tim – O que vocês fazem, garotas? Eu deveria me preocupar, heim? Isso
conta alguma coisa?
Marina – Você estava lá. Viu o quanto conta.
The L Word, 1ª Temporada, Ep. 1.05: “Legalmente”
No mesmo capítulo, ao ser abordado na estrada por um policial com quem acaba desa-
bafando, Tim também recebe uma resposta à sua pergunta.
Policial Sabe aquele cena em que duas mulheres estão transando? O
cara entra e ele está duro. Ele vai transar com elas, vai comê-las direiti-
nho. Nós achamos que é isso que elas querem, o pau, mas, da próxima
vez, olhe bem. Não é isso que elas querem. Elas estão se divertindo sem
ele. Elas estão se chupando, sabe. Elas estão se lambendo, e o cara
está pronto para gozar. Não é isso que elas querem. Estão com os olhos
eLas por eLas 113
meio fechados, como se alguém fosse derramar gasolina nelas. O aviso é
esse. (...) Quando se tem duas pessoas e elas têm o mesmo equipamen-
to e ambas sabem como tratá-lo, como alguém do sexo oposto pode
competir?
The L Word, 1ª Temporada, Ep. 1.05: “Legalmente”
Por outro lado, apesar do empenho em defender a lesbianidade, Jenny não demonstra
esse mesmo espírito ao lidar com as amigas. Se boa parte do grupo está muito empe-
nhada em proporcionar conforto às amigas, socorrendo-as em situações difíceis, Jenny
se mostra num movimento contrário, o que se consolida na última temporada. A todo
momento, seu jeito a princípio frágil, mimado, perturbado e posteriormente arrogante e
mesmo hostil sempre acaba por causar alguma confusão por onde passa. Para Kirshner,
mesmo nos momentos em que traz as verdades mais cruas à tona, ela está tentando
acertar. “Ela ainda tenta fazer o que é certo e ser boa para as amigas. Tenta, não quer
dizer que consiga. Mas é muito divertida de interpretar” (SHOWTIME, 2009a).
Como na série é a escritora e de alguma forma reconta a primeira temporada, Jenny
escancara as outras personagens, fazendo uma espécie de caricatura em seu recontar
e mostrando que há sempre outros pontos de vista em uma história. Entretanto, parece
sobrecarregar no que as amigas têm de pior ao reapresentá-las em seu texto.
A personagem parece um ser sem pele, que sente muito tudo o que lhe acontece e a
forma como as pessoas a tratam e parece pretender deixar todas as amigas na mesma
condição que ela. Especialmente na sexta temporada, Jenny cria situações, esconde,
manipula, revela segredos, tudo para deixar as pessoas em situações difíceis, ao mesmo
tempo que usa o discurso de que as relações devem se estabelecer da forma mais trans-
parente possível. Em contraponto a Shane, que sempre mantém uma presença discreta,
Jenny parece sempre pretender ser o centro das atenções, o que consegue causando
pena nas pessoas ou quando assume um temperamento autoritário e arrogante. Ao mes-
mo tempo em que se mostra frágil, também não mede ações e nem palavras, reagindo
imediatamente às situações. Um tipo nada contido: basta ver quando, ainda na primeira
temporada, ela quebra uma garrafa de vinho na janela da casa de Marina e Francesca
ou quando não hesita em disparar uma pistola de choque contra adolescentes que pro-
vocavam Moira por sua aparência masculina.
Se, a todo o momento, o grupo busca estar coeso, unido e se protegendo, Jenny provo-
ca a desunião. Faz isso por ser a única forasteira? Essa divisão provocada pela persona-
gem fica absolutamente materializada quando, no primeiro capítulo da sexta temporada,
ela resolve não se sentar na mesma mesa que Shane e divide um grupo. Tina e Tasha
eLas por eLas 114
se levantam para fazer companhia à escritora, deixando as respectivas mulheres, Bette e
Alice, com Shane. Uma personagem extremamente complexa e difícil de entender. Não
é à toa que na enquete “Qual a personagem mais ‘difícil’ de TLW?”, ela é a personagem
mais votada. Entre 42 votos, 52% 22 votos apontaram Jenny como a mais difícil,
sendo que a segunda colocada, Shane, ficou bem distante com 21% 9 votos. Em outra
enquete, “Qual o final perfeito para Jenny?”, a opção ‘morrer’, entre oito possibilidades
de escolha, conquistou o terceiro lugar na preferência dos 514 votantes, com 13% – 91
votos. Provavelmente, numa pesquisa de índice de rejeição ela figuraria em primeiro lu-
gar no ranking, o que em outras palavras é admitido pela própria Mia Kirshner: “Para a
decepção do público, ela está de volta.”, dispara. (SHOWTIME, 2009a)
Ao lado de Bette Porter, consolida o grupo de personagens que parece cultivar o lado da
dor, do sofrimento, do culto aos dramas individuais e que em geral tendem a se colocar
em posição de vítimas, ainda que sejam algozes.
Corpo e visualidade A personagem de Jenny foi a que mais se modificou entre to-
das que passaram por The L Word, seja na personalidade ou na aparência. Na primeira
temporada, conhecemos um tipo frágil, lembrando bonecas de porcelana. As roupas
em geral lembravam mais uma adolescente. Combinadas, roupas e estilo nos passavam
a imagem de uma menina inocente, bobinha e desprotegida, que acabava de cair na
boca da loba Marina Ferrer, um tipo sedutor e experiente. Esse conjunto, inclusive, fez
com que muitas telespectadoras morressem de pena da personagem, que perde o noivo
e se sente enganada pela mulher que a seduziu. Na segunda temporada, a cor preta
predomina nas roupas da escritora, acompanhando um momento de lembranças difíceis
da sua infância e momentos pesados como quando se apresenta numa casa de sadoma-
soquismo. Perto do restante do grupo, tende a usar roupas mais simples e muito femini-
nas. A partir da terceira temporada, começa a se apresentar mais como mulher e menos
como adolescente. Está sempre maquiada e com os cabelos arrumados. Estes mudam a
cada temporada, mas na maior parte dos casos são longos e com franja, o que compõe
parte do visual da menina indefesa, mas não deixa de servir à manipuladora que deseja se
passar por bem intencionada. Na quarta temporada, quando inicia também sua ascensão
profissional, passa a usar roupas mais sofisticadas. No grupo, é a que mais recorre a deco-
tes, estando sempre com aparência muito feminina e, mesmo além da aparência, parece
passar por heterossexual, como revela em uma conversa com seu roomate Mark.
Mark Se eu a visse num bar pensaria que era heterossexual, mas isso
não quer dizer nada.
Jenny – Não mesmo.
eLas por eLas 115
Mark – Hoje nunca se sabe, não é?
Jenny – É mesmo, mas você sabia que elas eram, certo?
Mark – Isso é verdade.
Jenny – Então, o que acha que é?
Mark – Não sei. Diria que tem a ver com a atitude delas. Não que sejam
masculinas porque de fato algumas delas são bem femininas, sabe? É
algo que elas transpiram. Vou tentar descobrir o que seria.
Jenny – Me diga quando conseguir, Mark.
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.04: “Aventuras”
Tematização A personagem de Jenny inicialmente traz a temática do se descobrir
homossexual. Especialmente na primeira temporada, ela se mostra muito curiosa em
relação aos relacionamentos homossexuais, desde que, logo no episódio piloto, flagra
uma cena de sexo entre mulheres e, ao que tudo indica pelo desenrolar da trama, já se
apaixona à primeira vista por Shane McCutheon. Como acontece com algumas mulheres
que vivem experiências homossexuais, num primeiro momento ela ainda mantém seu
relacionamento heterossexual e procura inclusive levá-lo adiante. Entretanto, o próprio
marido não conta de se manter casado e a união não chega a durar sequer uma
noite. Depois de se ver desiludida e se sentir enganada pela primeira mulher com quem
se envolve, ela insiste num relacionamento heterossexual, mas este também não vai para
a frente até porque o próprio namorado a alerta para o fato de que ela é homossexual.
Essa atitude de Jenny traz à tona discussões sobre muitas mulheres que têm dificuldade
de bancar sua homossexualidade e passar das primeiras experiências. Será que se Gene
não tivesse deixado Jenny, ela ainda estaria com ele, embora desejasse as mulheres?
Na série, ela é uma das personagens que mais busca definir a lesbianidade, defendê-la e
diferenciá-la de outras opções LGBT. Assim, ela faz questão de marcar que Tina, enquan-
to vive sua relação heterossexual, não é o mesmo que o resto do grupo, e também se
distancia de Max, ao perceber que sua transexualidade pedia, naquele momento, um
padrão de relacionamento heterossexual, o que não a interessava porque para ela era
diferente de um relacionamento homossexual. Além disso, seu relacionamento com Max
coloca em pauta discussões de gênero e confusões que uma aparência masculina pode
provocar. A personagem teve que sair em defesa de Moira, antes de sua transformação
para Max, quando ela vai usar o banheiro feminino em um bar na beira da estrada. Sem
hesitar, ela esclarece ao grupo de adolescentes que acreditava que Moira era homem.
– Não somos veados. Somos sapatões, seus babacas.
The L Word, 3ª Temporada, Ep. 3.02: “Fim de semana perdido”
Talvez, entre as cinco, seja a personagem que tem a trajetória mais complexa, pois tem
eLas por eLas 116
um trauma infantil causado por abuso sexual, outro tema que coloca em discussão e
que, como consequência, acarreta ainda outro: a saúde mental das pessoas. Em mo-
mento algum da série, Jenny se mostra uma pessoa equilibrada. As muitas facetas que
ela apresenta sempre têm um tom de desequilíbrio, ainda que em alguns momentos seja
mais discreto do que em outros.
Quando sua privacidade invadida por Mark, o cineasta amador, parece sofrer mais
que Shane, pois é como se sofresse uma nova violência, é como se o abuso sofrido na
infância se repetisse. A personagem expõe então o quanto as mulheres podem se sentir
fragilizadas frente aos homens, tanto que não consegue perdoar a invasão do inquilino
e responde ao seu pedido de desculpas.
Jenny Não é responsabilidade de uma mulher ser usada, invadida e
jogada fora para que a porra de um homem possa evoluir.
Mark – Não foi o que eu quis dizer.
Jenny Então, do que está falando, Mark? Me um bom motivo por
que acha que eu devo te perdoar.
MarkPorque, Jenny, cometi um enorme erro, mas, com isso, eu apren-
di o quanto é difícil ser mulher.
Jenny – Me poupe.
Mark (tirando toda a roupa) – Espere, Jenny, ei.
Jenny – O que está fazendo?
Mark – É isso que você quer?
Jenny (jogando uma caneta com raiva em Mark) Não. O que eu que-
ro é que você escreva “Me foda” no seu peito. Escreva isso. Faça isso. E
depois, quero que saia por aquela porta, e que ande pela rua. E para
qualquer um que queira te foder, você diga: claro, tudo bem. E quando
foderem, você tem de dizer: “Muitíssimo obrigado” E não se esqueça
de sorrir e aí, seu covarde de merda, você vai saber o que é ser uma
mulher.
The L Word, 2ª Temporada, 2.11: “Alto e com orgulho”
Esse é um dos diálogos mais fortes de The L Word e concretiza um sentimento pelo qual
as mulheres já passaram por muitos anos. De um lado, Mark personalizou a força mascu-
lina, ainda se achando no direito de violar e de achar que é o centro do desejo feminino.
Do outro Jenny, fragilizada pela violação de sua intimidade, ainda que não fisicamente,
tenta mostrar a Mark o quanto as mulheres foram subservientes aos homens. E, de
alguma forma, a maneira pela qual ela o escorraça de casa um basta nessa posição
de fragilidade.
Um dos grandes temas apresentados pela personagem, mas que não diz respeito exa-
tamente à lesbianidade, são os métodos utilizados por Jenny para atingir seus objetivos.
eLas por eLas 117
Assim, ela deixa escancarado o quanto é possível manipular, atravessar e enganar as
pessoas para conseguir o que deseja. Especialmente, quando inicia seu relacionamento
com Shane, também conseguido às custas de um forte jogo emocional, a personagem
intensifica aindas mais seus métodos pouco éticos e sua relação com Shane quase simbo-
liza sua tentativa de desestruturar o grupo de amigas. Pela primeira vez, em toda a série,
por exemplo, vemos Shane mais afastada das amigas, inclusive da mais próxima, que é
Alice Piesezcki.
Outros temas que ela aciona, mas que não chegam a ser os principais na trajetória da
personagem, são a homofobia na família, o relacionamento com pessoas mais jovens e
o sadomasoquismo.
Shane McCutcheon (Katherine Moennig), a cobiçada
Figura 39 – Shane McCutcheon
“Sexualidade é fluida, seja você gay, hetero ou bi... apenas siga o fluxo”
The L Word, 1ª Temporada, Ep. 1.03: “O desejo”
Algumas pessoas inspiram sexo por onde passam. Não que elas sejam exatamente aque-
las de formas esculturais ou de rosto mais perfeito. Elas simplesmente têm o que há mais
tempo se chamava sex appeal. Em outras palavras, fazem o tipo que todo mundo quer
39
.
Assim é, definitivamente, Shane McCutcheon. Para muitos, não é a mais bela da série,
mas, para a maioria, é a mais desejada. Dirige carros estilo pick-up ou jipe urbano. Seu
visual andrógino e estilo descolado e masculino de vestir, que inclui gravatas entre os
39 No dia 27/5/2008, a usuária do orkut Angelina postou a seguinte pergunta: “Qual atriz de The L Word
você namoraria?” Até 25/8/2009, 713 pessoas votaram. Entre as 12 opções oferecidas, Katherine Moennig
foi a mais votada, com 149 votos, 20% da preferência. É a atriz colhendo os frutos da personagem. Dados
acessados em www.orkut.com.br/Main#CommPollResults.aspx?cmm=52139&pct=1211889892&pid=864
081929. Sua popularidade também pode ser atestada nas centenas de comunidades dedicadas à perso-
nagem/atriz no site de relacionamento orkut.com.
eLas por eLas 118
acessórios, chegou a provocar um puxão de orelha da amiga Dana, na época ainda no
armário, logo no episódio piloto.
Dana – Tem que se vestir assim o tempo todo?
Shane – Assim como?
Dana – Não quero ser vista com você.
Shane – Sério?
Dana – O jeito como você se veste denuncia: sapatão.
The L Word, 1ª Temporada, Ep.-piloto
Sua androginia é tal que, na quarta temporada, é escolhida pela Calvin Klein para ser
modelo de uma campanha de cuecas. Por onde passa, Shane arranca primeiro suspiros,
depois prazer e, na sequência, lágrimas. Suspiros porque, por onde passa, sempre
alguém que a cobiça. Prazer, porque ela não é de recusar sexo com ninguém. Lágrimas
porque a maior parte das pessoas não consegue entender e muito menos conviver com
seu lema, que ela mesma faz questão de informar a uma de suas parceiras, logo no epi-
sódio piloto:
[Você] É linda. Gosto muito de você, mas gosto de muita gente (...)
Não me envolvo.
The L Word, 1ª Temporada, Ep.-piloto.
Figura 40 – Shane – 1ª temporada
Prova de que a personagem de fato faz jus ao título de maior “pegadora” de The L Word
está no seu número recorde de conexões no OurChart.com, ameaçado por Papi, per-
sonagem cuja participação se limitou a uma temporada. Mesmo com o extenso currículo
de “pegações”, nos seis anos da série Shane conseguiu estabelecer algumas relações du-
radouras, até sofreu, quase casou e, acreditam algumas pessoas, chegou a se apaixonar.
Será?
eLas por eLas 119
Figura 41 – Shane – 2ª temporada
As pessoas diziam que eu era louca por não aprender a sentir. Bem, me
diga o que de tão bom em sentir, Cherie, porque eu finalmente me
deixo ir e meu coração é totalmente despedaçado. Então, eu devo ser
louca por ter acreditado que você sentia o mesmo por mim. [Quando
acaba seu relacionamento com Cherie Jaffe, na 2ª temporada.]
The L Word, 1ª Temporada, Ep. 2.03: “O número mais solitário”
Ainda que tenha se apaixonado, é certo que ela não é do tipo que se enquadra num
modelo monogâmico e mais certo ainda que preza a individualidade, como deixa claro
no início do último capítulo de The L Word.
– Sabe o que realmente me chateia no fim das contas? É quando os ca-
sais dizem a palavra “nós”. Eu odeio! “Nós pensamos”. “Nós podemos”.
“Nós poderíamos”. Mas “nós sentimos”. Esse é o maior de todos. Senti-
mento é uma emoção solitária. Então, você pode se sentir talvez como
se estivesse apaixonado! E eu... eu! Meu sentimento pode ser o de en-
jaulamento!
The L Word, 6ª Temporada, Ep. 6.08: “Last Word”
Figura 42 – Shane – 3ª temporada
No início da série, é uma cabeleireira que logo conquista um espaço de destaque no
mercado de trabalho cortando o cabelo de socialites e estrelas de cinema de Hollywood.
eLas por eLas 120
Consegue uma sociedade e monta seu próprio salão, o Wax, destruído por um incêndio
criminoso na quarta temporada. A partir daí, cuida dos cabelos do elenco de Lez Girls,
filme de Jenny que conta a história de The L Word, e, ao final das filmagens, descobre
um novo talento: a fotografia.
Shane entrou para a turma por meio de Alice, sem dúvida sua melhor amiga. Se Alice
é a mais falante do grupo, a que se comunica, apresenta pessoas e leva informação,
Shane é o oposto. Sempre reservada nos assuntos pessoais e também de suas amigas,
mostra-se uma boa confidente, um bom ouvido. Apoia, ajuda, escuta, mas sempre com
discrição, lealdade e poucas palavras. Filha de Gabriel McCutcheon, perdeu a mãe muito
cedo, cresceu em um orfanato e chegou a se sustentar nas ruas fazendo trabalho de
michê garoto de programa –, pois muitos homossexuais que compravam seus serviços
acreditavam que ela fosse um garoto. Embora tenha, no passado, feito essa prestação de
serviços aos homens, Shane é exclusivamente lésbica e aceita com tranqüilidade e leveza
as opções dos que a rodeiam e deixa claro que rótulos são dispensáveis:
– Sexualidade é fluida, seja você gay, hetero ou bi... apenas siga o fluxo.
The L Word, 1ª Temporada, Ep. 1.03: “O desejo”
– Que diferença faz se alguém é machão ou mulherzinha? Não devería-
mos rotular. Deveríamos deixar as pessoas serem o que são. [Falando de
Moira, que mais tarde se torna o transexual masculino Max.]
The L Word, 3ª Temporada, Ep. 3.03: “Lagostas”
Figura 43 – Shane em campanha de cuecas – 4ª temporada
Entre seus relacionamentos que duraram mais de uma noite, o primeiro que se destaca é
com Cherie Jaffe, socialite casada com um milionário e que tem uma filha. Cherie é mais
uma das mulheres que cortam cabelo com Shane e que não resistem à sua androginia.
Shane se apaixona por Cherie e elas mantêm um caso que acaba com um mal enten-
dido envolvendo a filha de Cherie, que também se interessa pela cabeleireira. Shane é
abandonada pela socialite, que não quer perder as mordomias proporcionadas pelo ca-
eLas por eLas 121
samento. Na sequência, se envolve com a DJ Carmen de la Pica Morales, uma mexicana
radicada nos EUA, com quem marca casamento no Canadá, onde é permitida a união
de casais do mesmo sexo. Entretanto, depois de uma conversa com seu pai, Gabriel,
Shane não aparece para o casamento, pois parece acreditar não ser possível contrariar a
própria natureza.
[Shane flagra o pai com uma amante num bar]
Shane – Quem é ela?
Gabriel – Qual é o seu nome, meu bem?
Amante – Patty.
Gabriel O nome dela é Patty. Esta é Shane, minha filha. Pode nos dar
licença?
Gabriel [para Shane] – Sinto muito. Não tenho orgulho disso. É que sou
assim, ok? Sei que você sabe do que estou falando.
The L Word, 3ª Temporada, Ep. 3.12: “A mão esquerda da deusa”
Shane foge para a casa de Cherie, nessa época já separada do marido. Depois de muita
festa embalada a bebida e cocaína, tenta falar com Carmen, mas não consegue.
Sua próxima relação é com Paige Sobel. As duas se conhecem porque Shay, meio irmão
deixado pela mãe com a cabeleireira, é colega do filho de Paige. Shane chega a fazer
planos de longo prazo com Paige, o que obviamente causa estranhamento entre suas
amigas.
Alice – Não é Shane. É uma alienígena no corpo de Shane. [Alice comen-
ta sobre os planos de Shane de morar no subúrbio com Paige e os dois
garotos.]
The L Word, 4ª Temporada, Ep. 4.12: “Partidas e desencontros”
Exatamente quando procuram uma casa no subúrbio, Paige flagra Shane com a correto-
ra de imóveis em um dos quartos vazios da casa. Depois de Paige e depois que seu salão
pega fogo num incêndio criminoso, que obviamente todos supeitam ter sido provocado
por Paige, Shane opta por tentar canalizar sua energia para outras coisas – yoga, malha-
ção –, porque, como ela mesma diz, as mulheres estão causando muito drama lésbico
em sua vidinha simples. A atriz Kate Moennig admite que a ideia do celibato da perso-
nagem que mais tem parceiras sexuais na série trouxe momentos de muita diversão. “Há
muito humor nisso, porque o celibato não é para ser levado a sério. É mais pelas risadas
e foi divertido fazer isso” (SHOWTIME, 2009a).
eLas por eLas 122
Figura 44 – Shane. Ao fundo, Paige – 4ª temporada
Sua “síndrome de abstinência” de sexo é traduzida em momentos hilários, como em um
dia no The Planet, em que começa a enxergar as garçonetes nuas. Após a rápida tem-
porada de celibato, ela admite que gostou de a personagem ter voltado para a “vida de
festa de novo”. Seu jejum é quebrado quando é contratada para arrumar o cabelo de
uma noiva, a irmã, a mãe e a prima para a recepção de casamento. Todas, sem exceção,
jogam-se em cima de Shane, que se envolve, entre o começo e o final da cerimônia, com
três delas. Uma das cenas mais engraçadas de The L Word mostra a cabeleireira literal-
mente pulando em cima do carro de Jenny para fugir das devoradoras.
Figura 45 – Shane foge de carro – 5ª temporada
Depois da aventura, Shane conhece um novo desafio: Molly, uma estudante de Direito
até então heterossexual e filha de Phyllis Kroll, reitora da universidade em que Bette Porter
trabalha. Aos poucos, Molly Kroll também não resiste a Shane e, numa discussão com a
mãe, que percebe a proximidade das duas, solta a frase que virou estampa de camisetas
e bottons entre as fãs do seriado:
Molly – I’d go gay for Shane!
The L Word, 5ª Temporada, Ep. 5.10: “Ciclo de vida”
eLas por eLas 123
Figura 46 – Shane e Molly – 5ª temporada
Feliz com Molly, Shane, mais uma vez, seu relacionamento fracassar. Dessa vez, ela é
colocada na parede por Phyllis, que apesar de ter saído do armário, não acha que Shane,
“uma cabeleireira sem estudos”, esteja à altura da filha. Para Moennig, Shane procura
alguém estável, quieta, segura e encontra isso em Molly. “Acho que ela quer encontrar
segurança e não acho que saiba exatamente onde será” (SHOWTIME, 2009a).
Na última temporada e depois de fazer sexo com Niki Stevens, até então uma grande
paixão de uma de suas melhores amigas, Jenny Schecter, Shane, para surpresa dos fãs,
se envolve com a própria Jenny, numa relação doentia e em que ela mantém mais pa-
ciência do que havia demonstrado nos outros relacionamentos. No último capítulo, ela
descobre que Jenny a enganou, escondendo uma carta de Molly e termina só. Do jeito
que gosta?
Eu gosto da minha liberdade. Eu gosto! Pergunte a qualquer um dos
meus amigos. Eles vão dizer a mesma coisa.
The L Word, 6ª Temporada, Ep. 6.08: “Last Word”
Figura 47 – Shane – 6ª temporada
Papel na trama Boa amiga e a mais pegadora de todas. Essa é a impressão mais
eLas por eLas 124
óbvia que se tem de Shane McCutcheon. Um olhar mais atento mostra que Shane é
bem discreta, falando pouco dela mesma ou dos que a rodeiam. Em oposição a Alice,
que se mostra uma grande divulgadora, Shane se oferece como um bom ouvido para
as amigas. Não se autointitula nada. Talvez seja a mais “humilde” de todas, inclusive por
ter sido criada em um orfanato. Não é do tipo dramático, como Bette, mas também não
faz o tipo palhaço, como Alice. Na trama, além de funcionar como um bom ouvido, ser
a portadora das frases menos conservadoras, é quem menos impõe regras e normas às
pessoas, como se propusesse, quem sabe, um repensar ético entre as amigas. É a mais
transparente das personagens, pois age como fala e fala como pensa. Mantém tanto o
senso de responsabilidade e carinho que até se presta aos caprichos de Jenny na última
temporada, embora pareça, a princípio, não se prender às pessoas. Assim, contrapõe-se
a Bette Porter, personagem que, apesar de militar pela causa LGBT, mantém padrões evi-
dentemente heteronormativos na maneira pela qual se relaciona com suas parceiras.
Considerada a grande pegadora da série, dado o grande número de parceiras sexuais
que mantém ao longo das seis temporadas seja com sexo casual ou relacionamentos
mais sérios –, o poder de sedução de Shane é tamanho que ela sequer precisa dar o
primeiro passo, ou melhor, abraço. Basta que ela olhe e vêm as mulheres para pegá-la.
A combinação masculino-feminino parece exercer um magnetismo fatal entre mulheres
que vão de adolescentes a cinquentonas e de lésbicas a heterossexuais. A maioria não
se contém e, geralmente, são as mulheres que partem para cima de Shane, ou seja, até
no jogo de sedução, ela consegue ser extremamente delicada e sutil. Outro paradoxo
da personagem, pois, na verdade, a mais pegadora é a mais pegada. Não é à toa que a
personagem Molly (Clementine Ford) sentencia: “I’d go gay for Shane!”
Com tantas ofertas e mantendo sua máxima “I don’t do relationships”, Shane não se pro-
põe à fidelidade, mas é extremamente leal. Deixa sempre claro para todas as mulheres
exatamente como é, como se comporta. Na série, envolve-se em relacionamentos sérios
e chega a poucos momentos do altar. Na primeira vez em que se relaciona afetivamente,
decepciona-se, pois Cherie não abre mão de sua vida confortável por ela. É a única per-
sonagem que proporciona esse momento vestido de noiva, obviamente sendo o vestido
de sua parceira. Depois, revela-se uma mãe dedicada ao cuidar do irmão Shay e quase
monta uma família padrão, quando se envolve com Paige, que tem um filho. Por fim,
apaixona-se por Molly, quando esta ainda era heterossexual. Em seus relacionamentos
sexuais, assume a princípio. Cumpre, assim, um papel de mostrar o quanto é possível ser
misto dos gêneros masculino e feminino, o de um personagem que não julga, não ques-
tiona e não cobra e que, com suavidade, consegue realizar suas conquistas e se colocar
eLas por eLas 125
no mundo de maneira contida. Ao mesmo tempo, mostra-se também extremamente
autossuficiente, talvez até pela própria história de vida, cumprindo um papel de pessoa
independente, livre.
Corpo e visualidade: Alta e muito magra, seios mínimos, dona de um gingado único
ao andar, um jeito leve de chegar e sair de cena, sentar e se dirigir às outras persona-
gens. Pele clara e cabelos pretos que a cada temporada exibem um novo e moderno
corte, Shane McCutcheon, dona de um rosto com traços delicadíssimos, é confundida
com um homem no episódio 12, da primeira temporada, quando também somos infor-
mados de que ela trabalhou no passado como michê. Se o corpo magro, os seios qua-
se inexistentes e as roupas predominantemente masculinizadas enganam um olhar mais
desatento, que pode taxá-la de butch ou de homem, é no jeito de se colocar no mundo,
sempre com enorme doçura e um grande sorriso, que a cabeleireira, que posteriormente
se torna fotógrafa, mostra o quanto é feminina. Apesar da aparência andrógina, ela mes-
ma rejeita ser equiparada a um homem e revela isso quando estranha o fato de Moira
a tratar como “hey, man”, ou quando deixa claro o quanto não sente falta do principal
símbolo do masculino, o pênis, numa brincadeira proposta por Alice.
Alice – Brincadeira. Uma fada madrinha aparece e diz que você terá um
pênis por 24 horas, o que fariam?
Shane – Faria xixi de pé em cada moita que encontrasse.
Dana – É tudo que faria? Só urinar?
Shane – Sim.
Jenny – Não tentaria transar com muitas garotas?
Shane – Não preciso de pênis para isso.
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.04: “Aventuras”
Se está vestida com camisa, gravata, jeans, tênis e sentada com as pernas abertas, seu
conjunto se distancia de tantas referências masculinas a cada vez que se move, pois é
definitivamente uma das personagens com os movimentos e jeito de tratar as demais dos
mais delicados da série. Essa mistura de masculino e feminino, o jeito mais leve e despo-
jado de se vestir, se mantém na personagem da primeira à última temporada.
Tematização Entre as amigas, Shane é a que está mais próxima do que chamamos
submundo, drogas e prostituição. A personagem traz à tona esses temas, mas todos são
tratados de maneira tranquila e sem muitas polêmicas, ao contrário do que em geral
aparece na mídia. Se ela foi michê no passado para sobreviver, isso não é motivo de dis-
criminação ou mesmo de traumas. Naturalmente, a cada episódio vemos a personagem
cheirando uma carreira de cocaína, conversando com um ex-colega de prostituição ou
fazendo um bolo de maconha. Não na série um julgamento do caráter de Shane pelo
eLas por eLas 126
fato de ela eventualmente usar drogas e nem vemos sequer suas amigas a condenando
por isso, embora no grupo a única que também apareça usando drogas seja Bette Pot-
ter. Além disso, o uso de drogas é trazido pela personagem de forma natural e também
casual, não se tratando, então, de trazer a discussão sobre dependência química, mas
sim de mostrar o uso eventual.
Pelo seu comportamento leal às amigas e suas opiniões, a personagem nos leva a re-
fletir especialmente sobre a sinceridade nas relações. Ao contrário de Bette ou Tina, por
exemplo, que dão suas escorregadas fora do relacionamento, embora mantenham uma
proposta monogâmica, Shane, tão logo conhece alguém, já se dá a ver, mostrando que
não é nem pretende ser muito constante em seus relacionamentos. Não a vemos mentir,
dissimular, enganar, tendo, inclusive a coragem de desistir do próprio casamento minu-
tos antes de ele acontecer, quando talvez o mais fácil fosse se casar e manter relações
extraconjugais.
O aparecimento de seu meio-irmão, Shay, coloca em pauta as relações familiares. Mais
uma vez, Shane surpreende e a despeito de seu comportamento aparentemente indivi-
dualista ao menino o que nunca recebeu dos pais: carinho, atenção, dedicação. A
personagem mostra assim que o fato de uma criança ser cuidada por alguém de orien-
tação homossexual pode ser tão bom ou tão ruim quanto o ser por um heterossexual.
A série nos mostra que não é a orientação sexual que definirá se alguém será um bom
pai ou uma boa mãe, mas sim a sua capacidade de compreensão, carinho e doação.
Ao trazer esse tema à tona também com o casal Tina e Bette, The L Word colabora para
minimizar o preconceito em relação à adoção por parte de casais homossexuais. A série
de TV acaba mostrando como se dão as novas famílias, que se distanciam cada vez mais
do padrão um homem, uma mulher e seus filhos.
Por ser a mais leal entre as amigas, Shane mostra o quanto a amizade com os amigos é
importante. Ela configura essa lealdade na maneira sincera com que lida com as pessoas
e no fato de jamais virar as costas a nenhuma delas por pior que seja a situação em que
estejam. A cena mais emblemática de seu comportamento certamente é quando Jenny é
expulsa do set de filmagens de seu próprio filme e todos se negam a sair com ela, inclu-
sive a própria namorada, e Shane é a única a acompanhá-la. Coloca, assim, a lealdade
aos amigos acima de qualquer coisa.
Por ser a personagem que mais se relaciona sexualmente durante a série, também traz
à pauta os temas sexualidade e uso de drogas, tudo com muita naturalidade. Com a
mesma tranquilidade, tem relações sexuais com a namorada, com a entregadora de
eLas por eLas 127
flores, com a corretora de imóveis, com um casal de mulheres ou com uma mulher he-
terossexual. Isso, de certa forma, concretiza o quanto a sexualidade pode ser explorada,
indo além de relações convencionais, culturalmente formatadas. Ao personificar e ser a
autora de uma das frases que melhor traduzem The L Word, “a sexualidade é fluida”, a
personagem acaba nos levando a pensar também no quanto as identidades, os gêneros
são fluidos deslizantes. E, curiosamente, a menos letrada das personagens da série nos
remete diretamente ao pré-socrático Heráclito de Éfeso (HERÁCLITO DE ÉFESO..., s/d.),
o pai da dialética, que, partindo do princípio de que tudo está em movimento, afirma,
2.500 anos antes de Shane: “Tudo flui”.
Tina Kennard (Laurel Holloman), a coerente
Figura 48 – Tina Kennard
Tina Kennard é o tipo que passa despercebido, uma mulher normal, um tipo comum.
Discreta, feminina, sua personagem muda significativamente durante a série, especial-
mente no que se refere a trabalho e relações afetivas. “Acho que ela aprendeu muito
sobre si mesma, sexualmente, sobre tudo.”, comenta Laurel Holloman, que interpreta a
personagem. (SHOWTIME, 2009a)
Ela passa a demarcar melhor seu espaço ao longo dos anos, mas, ainda assim, sua pre-
sença é menos marcante se comparada à de outras personagens. No desenrolar da tra-
ma, também não apresentou grandes mudanças no estilo de roupa ou cabelos. Sempre
discretamente maquiada, cabelos compridos, veste-se de maneira feminina e discreta, o
que condiz com a postura de sua personagem.
eLas por eLas 128
Figura 49 – Tina – 1ª temporada
Na primeira temporada, Tina é apresentada como a esposa de Bette Porter, com quem está
casada há seis anos e, até onde sabíamos, com quem teve sua primeira relação homosse-
xual. É a todo momento atravessada pelos desejos de Bette, configurando um típico papel
da mulher submissa, que abre mão da carreira para cuidar da casa e dos filhos. Deixa o
trabalho em função de um projeto de gravidez que parece existir numa tentativa de salvar
o casamento das duas. Na primeira tentativa, acaba perdendo o bebê, o que a leva a vol-
tar ao mercado de trabalho, iniciando uma nova fase de sua personagem. As frustrações,
seguidas da descoberta de que está sendo traída por Bette, acabam culminando no final
do relacionamento.
Tina Kennard aparece mais determinada na segunda temporada. De volta ao trabalho,
está segura e mais voltada para suas necessidades. A cena que melhor personifica a mu-
dança é, sem dúvida, a do primeiro capítulo da segunda temporada, quando ela literal-
mente vira a mesa em cima de Bette, que tenta uma reconciliação.
Figura 50 – Tina vira a mesa, literalmente – 2ª temporada
Revela-se excelente profissional e conhece a sedutora e poderosa Helena Peabody, com
quem começa a se relacionar. O envolvimento acaba não indo para a frente, mas lhe
eLas por eLas 129
garante um alto cargo na indústria cinematográfica hollywoodiana. Ainda na segunda
temporada, volta a morar com Bette, mas, a princípio, apenas como amiga. Nesse mo-
mento, Bette fica sabendo que ela está grávida. Sem que ninguém soubesse, Tina voltou
ao banco de esperma e fez uma nova inseminação, também de um afrodescendente, o
que mostra que, no fundo, ela ainda preserva seu casamento. No último capítulo, dá à
luz Angélica. Vale registrar que a atriz que interpreta a personagem estava de fato grávi-
da, o que conferiu grande autenticidade ao papel.
Figura 51 – Tina grávida e a médica (de costas) – 2ª temporada
No início da terceira temporada, Tina parece Bette e Bette parece Tina. Os papéis estão
invertidos. Tina se firma como executiva de uma produtora de filmes, e Bette, desempre-
gada, cuida da casa. Tina resolve retomar relacionamentos heterossexuais e começa a
sair com Henry, embora permaneça dividindo a casa com Bette. Acaba indo morar com
Henry e inicia uma disputa com Bette pela guarda de Angélica. Por fim, no último capí-
tulo, fica sem a filha, que é sequestrada por Bette.
Figura 52 – Tina e Henry (com Angélica) – 3ª temporada
Depois de várias ameaças de processos por conta de Angélica, Bette e Tina voltam a con-
viver bem e compartilham os cuidados com a menina, o que marca o início da quarta
eLas por eLas 130
temporada. Ao ir a um jogo de basquete de lésbicas, Tina é questionada sobre sua sexuali-
dade e sua presença no local, uma vez que está vivendo uma relação heterossexual, o que
rende um diálogo interessante, relacionando a identidade lésbica a uma posição política.
Figura 53 – Tina no estúdio de Les girls – 4ª temporada
Tina – ... ainda me sinto lésbica.
JennySim, mas quando você anda na rua com seu namorado, pegan-
do na mão dele, curtindo seus privilégios heterossexuais, deixa de ser
lésbica.
Helena Não sei, mas se Tina quer se identificar como lésbica, não é
escolha dela?
Alice – Por que não é então bissexual?
Tina – Na verdade, acho que ser lésbica é uma identidade política.
Jenny – Não, não é. Não tem a ver em quem você vota. Tem a ver com
quem você transa.
The L Word, 4ª Temporada, Ep. 4.04: “Na cesta”
No final da temporada, Tina e Bette voltam a se dar muito bem. Ela resolve se separar do
namorado, pois reconhece que prefere o relacionamento com mulheres. Mesmo ficando
perceptível que voltou a se interessar por Bette, Tina ajuda a ex-mulher a conquistar Jodi.
Entre uma tentativa e outra de conhecer outra mulher, Tina está cada vez mais próxima
de Bette no início da quinta temporada. Profissionalmente, contorna a todo momento os
problemas de filmagem de Lez Girls. Tudo isso é comemorado por Holloman ao comen-
tar o quinto ano da série.
O melhor da quinta temporada para mim é que Tina está fora do armá-
rio de vez. Ela está dominante, muito agressiva. Ela se em situações
malucas da indústria do cinema. E muita da minha trama é sobre isso. É
muita coisa para equilibrar (SHOWTIME, 2009a).
No sexto episódio, quando Bette ainda mantém seu relacionamento com Jodi, elas tran-
sam. Os encontros às escondidas ficam mais freqüentes até que o casal mais querido da
eLas por eLas 131
série reassume seu relacionamento e começa a pensar em outro filho.
Figura 54 – Tina e Bette – 5ª temporada
Na última temporada, Tina e Bette estão juntas e tentando fazer com que problemas
passados não atrapalhem o casamento. Tina, bem sucedida profissionalmente, recebe o
apoio de Bette e as duas decidem ir morar em Nova York. O casal se mostra mais maduro
e tentando não repetir erros passados. A evolução do relacionamento deixou as partes
mais equilibradas, e as decisões deixam de ficar predominantemente nas mãos de Bette,
passando a serem divididas. Na primeira temporada, quem pensaria em Bette mudando
de cidade para acompanhar Tina?
Figura 55 – Tina – 6ª temporada
Um diálogo entre Bette e o analista do casal, depois de uma noite em que, já separadas,
fazem sexo, talvez seja o que melhor configure o início da mudança de Tina, bem como
a força da personagem, embora a aparência fosse de um papel mais passivo.
Bette Eu não sei como aconteceu. Não sei. Quero dizer, estamos nos
esforçando pra forjar essa amizade. Acha que estraguei tudo ao fazer
sexo com ela?
Analista – Acha que estragou tudo?
Bette Não sei. Digo, o que isso quer dizer? Não acho que ela queira
eLas por eLas 132
voltar comigo.
Analista – Você quer voltar com ela?
Bette – Não sei.
Analista – Como se sentiu fazendo sexo com ela?
Bette Foi maravilhoso. Foi simplesmente maravilhoso. Foi como se to-
das as razões para estarmos separadas tivessem desaparecido. E foi como
se eu tivesse minha vida de volta por um segundo. E também foi triste.
Analista – Triste? Como assim?
Bette Porque eu a perdi. Porque nós não... Como se ela não me per-
tencesse mais. Eu pude sentir que outra pessoa a tocou e fez amor com
ela... e senti essa outra pessoa e senti sua conexão com essa pessoa,
sabe? E ela fez coisas que nunca tínhamos feito juntas... e foi como se
ela estivesse tão livre!
Analista – Livre?
Bette É. Digo, eu sempre a tratei com tanto cuidado, sabe, como se
ela fosse uma coisa frágil, e agora, mesmo grávida, é como se ela fosse
indestrutível. Eu não... Foi chocante, acho. Foi chocante. Foi chocante
que ela estivesse tão segura de si.
AnalistaBette, Tina passou por grandes provações no último ano. Sua
separação, uma nova carreira, sua gravidez. Essas coisas podem mudar
uma pessoa, torná-la mais forte. Não acha que isso pode ser algo bom?
Bette – Claro que é bom. Só significa que ela não precisa mais de mim.
The L Word, 2ª Temporada, Ep. 2.09: “Depois, mais tarde, latente”
As surpresas em relação à personagem não param no final televisionado da série. Nos ví-
deos que prolongaram The L Word no site oficial da Showtime, Tina é a personagem que
traz a revelação mais surpreendente ao contar à detetive que Bette não foi sua primeira
mulher, informando que teve um caso com a própria irmã na adolescência.
Papel na trama Talvez o papel de Tina Kennard seja o mais marcado pela transforma-
ção do personagem. Em oposição a Jenny, que a cada momento se apresenta de um
jeito, mas com mudanças pouco coerentes ou desconectadas, Tina traça um percurso
coerente e de amadurecimento. Ao final da série, reconhecemos nela traços de sua
personalidade e comportamentos similares aos da primeira temporada. Tem um percur-
so claro de mudanças em relação a afetos e também profissionalmente. Essa trajetória
mostra o papel de uma mulher que, sem alarde e com discrição, consegue marcar sua
mudança e conquistar novas posições.
Sempre discreta, tem poucos grandes momentos na série. O personagem evolui, torna-se
mais seguro, menos manipulável, mas, ainda assim, não provoca grandes emoções. Faz
o tipo comum sem nenhum traço muito marcante na personalidade. Como as demais, é
boa amiga, sempre disposta a defender aqueles de quem gosta. De forma silenciosa, luta
pelos valores em que acredita. Entre eles, destacam-se o casamento e a fidelidade. Marca
eLas por eLas 133
nesse sentido o papel da mulher ligada à maternidade e à construção da família. E, se
no início da trama, repete um modelo heterossexual de submissão ao provedor, mostra
que é possível virar a mesa, ir à luta e passar a ser voz ativa, marcando assim um lugar de
conquista e de crescimento.
Ainda assim, ao lado de Bette, é a personagem que mais está ligada ao papel do rela-
cionamento duradouro, da manutenção do casamento. Esse perfil de personagem sem
grandes arrebatamentos pode ser confirmado junto às fãs da série. Na comunidade do
Orkut The L Word Brasil Original, observamos que não há sequer uma enquete destina-
da apenas à personagem e/ou à atriz. E naquelas enquetes gerais do tipo personagem
mais sexy ou mais difícil, as votações destinadas à atriz e/ou personagem são pouco
expressivas, mostrando que ela não sofre maiores rejeições e tampouco causa grandes
arrebatamentos. Os dois únicos momentos em que ganha votação expressiva são em en-
quetes que a relacionam diretamente ao seu envolvimento com Bette, pois, sem dúvida,
a permanência de seu casamento é um desejo quase unânime entre as fãs. Numa das
enquetes, a usuária ^^Poliane propõe a seguinte pergunta: “Se vc pudesse escolher entre
a tina e a jodi pra ficar com a bette, qual vc escolheria???” Até o dia 13/9/2009, 573 fãs
responderam à pergunta, sendo que 480 (83%) votaram em Tina e 93 (16%) votaram em
Jodi (SE VC PUDESSE..., s/d).
Foi a única das lésbicas que durante a série viveu uma relação assumidamente hete-
rossexual, embora tenha retomado sua homossexualidade e confessado saudades da
lesbolândia.
Tina Tenho saudades de estar rodeada por mulheres e de me sentir
parte de uma coisa secreta e especial.
The L Word, 4ª Temporada, Ep. 4.08: “Lexington e Concord”
Assim como as amigas, também levanta uma espécie de bandeira à lesbianidade. E, na
sequência, corrobora o lema de Shane, que é dos mais emblemáticos do seriado:
Tina – Não quero ser chamada de nada, minha sexualidade flui.
The L Word, 4 Temporada, Ep. 4.08: “Lexington e Concord”
Provavelmente, essa fala de Tina marca um traço de sua personalidade que vai além de
sua sexualidade. É uma mulher difícil de ser rotulada: não apregoa o jeito certo de viver
e fiscaliza todos como Bette; não fala demais como Alice; não sacaneia como Jenny e
não é pegadora como Shane. Podemos chamá-la de quê? Talvez Tina seja quem mais
se aproxima das mulheres da não ficção. Ela acredita no seu casamento e tenta mantê-
lo. Ao começar a trabalhar, constrói uma carreira bem-sucedida. Não a vemos bebendo
eLas por eLas 134
descontroladamente ou fumando um cigarro num momento de tensão, como acontece
com Bette. Não a vemos cheirar cocaína e bater o carro, como acontece com Shane. Não
a vemos obcecada e fazendo perseguições de carro como Alice. Não a vemos cortar os
pulsos como acontece com Jenny. Quando se novamente apaixonada por Bette seu
máximo excesso é um porre de uma noite.
Se pensarmos na trajetória da personagem, apesar da postura mais discreta, ela é uma
das que mais conquistou. De desempregada e dona de casa, consegue ganhar um bom
financiamento da Fundação Peabody, realiza o desejado projeto de maternidade, na-
mora a personagem mais poderosa financeiramente (Helena), termina a série com uma
proposta irrecusável de trabalho em Nova York e ainda leva com ela o amor de sua vida.
Será que de Tina, a coerente, temos Tina, a conquistadora?
Com relação à sexualidade, mesmo aberta a relacionamentos com homens, Tina defende
a visibilidade lésbica, reafirma-se como tal e reforça a importância de haver temas lésbicos
na mídia, ao brigar pelo filme Lez Girls.
Tina É como se a vida de Jesse estivesse apenas começando. E a Jenny...
oh, meu Deus. Quem imaginaria? Mas ela juntou tudo e escreveu esse
final incrível. Uma mensagem tão positiva para tantas lésbicas jovens.
É ótimo. (...) Nós trabalhamos duro em um filme que acreditamos. E o
marketing vem mudando o final inteiro? O cara fica com a garota e fim?
Esse era o filme que deveria mudar isso tudo.
The L Word, 5ª temporada, Ep. 5.12: “Leal e verdadeira”
Corpo & visualidade Sempre com roupas em tons mais claros, sem decotes e bem
discretas, nem modernas, nem tradicionais, Tina Kennard, interpretada por Laurel Hollo-
man, atriz assumidamente bissexual, não chama a atenção pelas roupas que usa, nem
pelos cabelos, maquiagem ou postura. Faz um tipo elegante, mas comum. Não tem
grandes gestos, nenhum jeito de andar marcante ou mesmo de falar ou vestir. Essa visu-
alidade condiz com o seu personagem, sendo mais uma marca de sua coerência. Suas
roupas, sempre discretas, mudam apenas de um estilo mais dona de casa para executiva,
mas mantêm a discrição. Os cabelos também estão sempre bem penteados, mas nada
que chame atenção.
Tematização A maternidade na relação homossexual é, sem dúvida, o grande assunto
que gira em torno de Tina Kennard, especialmente nas primeiras temporadas da série. As-
sim, instalam-se questões sobre dificuldades civis para que uma criança possa legalmen-
te ter duas mães. Além disso, por algum momento vemos que a própria personagem
coloca em questão se não seria melhor para a criança estar num ambiente familiar mais
eLas por eLas 135
tradicional, ou seja, convivendo com um pai, mãe e irmãos, além de estar próxima a ou-
tras famílias heterossexuais. Essa questão não é exatamente explicitada pela personagem,
mas pelo seu jeito de olhar e pela sua forma de agir, mostra que parece ter contribuído
em muito para sua opção, ainda que passageira, por Henry. Por outro lado, ela mesma
também traz à tona o quanto essas famílias heterossexuais podem ser preconceituosas
em relação ao mundo LGBT e também o quanto o casamento heterossexual pode ser
mais desinteressante que uma relação homossexual. Apesar de sua incursão à família
heterossexual, percebemos o quanto a série mostra a capacidade de duas mães constitu-
írem uma família. Esta se materializa nas pequenas discussões travadas entre o casal para
discutir a escola que a filha vai estudar, passando pela preocupação com a saúde até por
buscar uma criança que carregue traços também de afrodescendente para que possa se
identificar com as duas mães. Parece demonstrar assim que uma família composta por
duas mães apresenta todas as condições para cuidar, educar e zelar pela saúde de suas
crianças.
Ao lado da maternidade, o desejo de manter um casamento sólido é tema recorrente ao se
falar de Tina. A personagem não mede esforços para manter seu relacionamento, os quais
vão de procurar um analista até ter um bebê, e manm uma postura bem tradicional no
modo de ver as relações, ou seja, é uma árdua defensora da monogamia. Mostra-se, na
verdade, uma lutadora e defensora das relações pelas quais opta, seja com Bette ou com
Henry.
De qualquer forma, a personagem traz à tona a possibilidade de transitar, de fluidez,
que é uma das propostas-chave da série e também ressalta o preconceito que muitos
homossexuais têm em relação a pessoas que permitem explorar diversas nuances de
sua sexualidade, como é mostrado no diálogo em que uma pessoa que nunca fez sexo
heterossexual é chamada estrela de ouro.
Carmen está com ciúmes porque meu bem e eu somos duas estrelas
de ouro unidas.
Kit – O que é uma estrela de ouro?
Bette – É alguém que é gay e nunca fez sexo com pessoas do sexo oposto.
Carmen – É, pessoas que batem xoxota com xoxota.
Jenny – Posso ser uma estrela de ouro mesmo se já dormi com homem?
Shane – Jen, você é uma estrela judia.
Carmen – Sim, e eu uma estrela de ouro latina.
Tina – Coberta de moedas douradas ciganas.
Bette – Quantas estrelas de ouro temos aqui?
Alice – Helena, você é uma estrela de ouro?
Helena Bem, mais ou menos. Os meninos da escola pública inglesa
eLas por eLas 136
com quem fiz sexo foram experimentos e eram tão afeminados que
não conta.
The L Word, 3ª Temporada, Ep. 3.07: “Estrela solitária”
Como a personagem trabalha na indústria cinematográfica, tem de lidar, a todo momen-
to, com a homofobia presente na área, seja em relação a esconder a verdadeira orien-
tação sexual de atores ou a coragem para bancar um filme verdadeiramente homosse-
xual. Mesmo com uma atuação talvez mais discreta que a das demais personagens, Tina
aciona um importante repertório do universo lésbico que passa, necessariamente, pela
construção da família homossexual e pela necessidade de se quebrar um padrão hete-
ronormativo.
Ligadas pelo desejo?
Após um olhar atento sobre cada uma, arriscamos dizer que há dois pontos que são co-
muns a todas as cinco: a amizade e a lesbianidade, pensando aí não só no estilo de vida
lésbico, mas também na defesa deste. E, a partir daí, retomamos nossa questão: de que
forma a apresentação de temas da lesbianidade e do estilo de vida lésbico por meio das
cinco personagens traz a telespectadora para dentro de The L Word? De que forma The
L Word vai para o mundo das telespectadoras? A análise das cinco personagens a partir
desses quatro operadores ajuda a explicar o sucesso da série? Estaria a telespectadora
atenta à apresentação isolada de cada uma das personagens? Estaria a telespectadora se
vendo representada com o que é apresentado pelo grupo? Afinal, de que forma o tema
recorrente a todas as personagens - amizade e lesbianidade - consegue criar a união do
grupo na série, a união da série com as telespectadoras e a união entre as telespectado-
ras?
eLas por eLas 137
LAPIDANDO – CONCLUSÃO
Kit Fico feliz de ver essas pessoas aqui rindo e se divertindo,
vivendo a vida que amam e amando a vida que vivem.
The L Word, 3ª Temporada, Ep. 3.02: “Fim de Semana Perdido”
Alice, Bette, Jenny, Shane e Tina. É possível falar de uma identidade lésbica? Como afir-
mamos no início deste trabalho, não podemos definir a identidade lésbica, reduzindo-a
a sentenças que passem por orientação sexual, gênero ou mesmo luta política. As cinco
personagens analisadas da série The L Word confirmam essa impossibilidade e nos aju-
dam a entender e constatar, mais uma vez, o quando as identidades são fluidas. A série
nos apresenta questões caras ao universo lésbico, que vão desde a luta política, passam
por aceitação familiar até alcançar temas mais amenos, como estilo de vida, de se vestir,
de se comportar e que também dizem respeito a traços dessa identidade. Entretanto, nem
um seriado sem fim poderia esgotar o tema da lesbianidade, uma vez que falamos de
uma identidade sempre em trânsito. Ao compararmos a performance das personagens
à chamada vida real, tornou-se possível identificar questões familiares a realidades que,
a princípio, parecem distantes. As histórias de cada uma falam de amor, ódio, sacrifícios,
tristezas, reivindicações, desencontros, alegrias, encontros, fracassos, aprendizagens e
triunfos. Nenhuma das personagens é exemplo de santidade ou de maldade. Na trama,
cometem deslizes, umas mais, outras menos. Lutam por suas verdades, transformam-se,
casam-se, separam-se, enfim, cometem erros e acertos como, em geral, acontece na vida
das pessoas.
Na narrativa, as personagens têm funções que se complementam, o que torna o grupo
coeso, harmônico. Mesmo Jenny, a que vem de fora e acaba morta, cumpre seu papel,
que é, em muitos casos, o de desestabilizar e provocar as amigas. Alice se destaca pelo
seu jeito descontraído e falante, é a mulher que leva e traz novidades. Bette tem um
jeito sofredor, intenso, e se revela uma grande batalhadora pelas questões do dia a dia,
além, é claro, de primar pela sua profissão. Em Jenny, a marcas são o desequilíbrio emo-
cional, as constantes mudanças, traumas passados, embora, ao mesmo tempo, passe a
ser aquela que aponta a verdade nua e crua ou pelo menos pretenda apontar –, como
faz com Lez Girls quando apresenta uma caricatura das amigas. Shane é uma presen-
ça doce, o objeto de desejo, que traz a sexualidade à pauta. Um grande sorriso, uma
voz gostosa, um jeito de corpo. Tina personaliza a construção de uma família, de um
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relacionamento, além de mostrar a capacidade que as pessoas têm de crescer e virar o
jogo. Com estilos tão distintos, as personagens apresentam às telespectadoras um amplo
leque de identificação. Acionam um repertório que é possivelmente comum às mulheres
que integram o universo lésbico. Esse reconhecimento provavelmente não se exclu-
sivamente com uma personagem isolada. Posso me identificar com o bom humor de
Alice, com a gostosura de Shane, com a sensibilidade de Jenny, com o jeito batalhador
de Bette ou com a maternidade presentificada em Tina. Entretanto, há dois aspectos que
são comuns a todas.
A lesbianidade e a amizade se mostram os dois grandes temas a que se vinculam as cinco
personagens analisadas de The L Word. Se pensarmos no formato do produto, a mesma
fluidez e a conexão, que sustentam a trama, também modelam sua forma. Desde o início
deste trabalho, várias indagações a respeito do sucesso da série e de como ela articula
elementos que apresentem a mulher homossexual fazem parte de nossos questionamen-
tos. Estes podem ser sintetizados em duas grandes perguntas. A que se deve o sucesso
de The L Word? Como a série consegue criar vínculo com as fãs homossexuais?
Uma resposta simplista à primeira pergunta diria que o ineditismo é responsável pelo su-
cesso. Após a análise do programa e especialmente das personagens, observamos que o
ineditismo é de fato importante, mas esconde, por trás dele, algo ainda mais especial e
caro ao público a que se destina. Ao longo deste trabalho, por diversas vezes nos questio-
namos sobre quem era a protagonista da série, para, quem sabe, a partir daí, acharmos
um fio condutor para nossos estudos. Ao ler, ver, reler, pensar e observar o núcleo de
cinco personagens, quem parece surgir como a grande protagonista da série é a mulher
lésbica, daí a pulverização de papéis principais entre as personagens. Não importa, as-
sim, qual personagem estava em foco em determinado episódio ou temporada, mas sim
o fato de que a todo momento a mulher lésbica era quem estava em primeiro plano na
trama.
Parece-nos que está a chave do sucesso da série, que consegue trazer essa mulher
para a visibilidade e, com ela, muitas de suas angústias, dificuldades, alegrias e proble-
mas, alguns também comuns às mulheres de orientação heterossexual. O grande vín-
culo da série com a telespectadora é o fato de ela finalmente trazer o universo lésbico
para a televisão. Nossa análise pretende mostrar que a tematização acionada por cada
personagem acaba por criar elementos de identificação junto às telespectadoras, que,
em muitos casos, dirão que têm problemas similares aos vividos pelas personagens ou
que, pelo contrário, diferenciam-se delas. Seja pela semelhança ou pela diferença, a série
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traz, pelo menos, a possibilidade da comparação.
Ao trazer as lésbicas de maneira coletiva e não apenas em um único personagem, como
acontece frequentemente nas telenovelas da Rede Globo ou em séries como Ellen, The
L Word consegue apresentar a força do universo lésbico, ou poderíamos dizer várias de
suas nuances num mesmo conjunto. Quando as lésbicas aparecem apenas em papéis
isolados, vemos apenas uma pequena faceta desse universo, como sexualidade ou pro-
blemas com a família, o que dá uma visão simplificadora desse coletivo. Na série, não se
esgotaram todos os temas que dizem respeito a esse universo lésbico, mas há um movi-
mento fluido e de conexões e interseções, materializando o quanto o universo lésbico é
complexo. The L Word mostrou que os temas, dilemas e tipos lésbicos são inesgotáveis.
Ainda que seja um produto de entretenimento e de não ter a intenção primeira de pro-
por debates na agenda política, ao tratar de sexualidade, de lesbianidade, acaba por se
posicionar politicamente, pois nos dá a ver temas da contemporaneidade. Ou seja, não
tem o debate como mote principal, mas não se recusa a tratar de temas delicados, a fazer
críticas a dirigentes e nem à própria indústria que a abriga, mostrando que, apesar de
entretenimento, uma consciência política que permeia o programa. Além de trazer
temas caros ao universo lésbico, a série tem como pano de fundo três outros grandes
temas: a fluidez, a conexão e a amizade. Deixa uma indagação para a militância LGBT.
Será que por meio do entretenimento não seria possível articular novas formas de luta,
quem sabe até com mais resultados que outros tipos de articulações?
Talvez por meio da força e da capacidade agregadora de programas de entretenimento
seja possível de fato criar um espírito de corpo lésbico e, consequentemente, novas mo-
dalidades de reivindicações políticas. Parece que, de certa forma, The L Word conseguiu
isso. Ao acionar temas do universo lésbico por meio de um grupo de amigas, ou seja, de
maneira coletiva, o programa parece criar pela primeira vez na televisão e especialmente
para além dela o sentimento de espírito de corpo da lesbianidade, que começa nas rela-
ções estabelecidas entre as personagens, passa pelas relações entre as personagens e te-
lespectadoras e chega nas relações entre as telespectadoras. Pela primeira vez na história
da televisão, é dada às lésbicas uma visibilidade coletiva que, consequentemente, traz o
espírito de pertencimento a um grupo, a uma coletividade. O vínculo entre as persona-
gens, feito a partir da amizade, faz com que os temas trazidos pelo programa não fiquem
dispersos, soltos, mas se integrem num universo que é comum à identidade lésbica, que
não é única, mas que é composta por todas as mulheres de orientação homossexual.
Parafraseando Sanfeliu, The L Word fala da L de mil estilos.
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Desses mil estilos, alguns foram apresentados pelas personagens, sempre ligadas por um
forte vínculo de amizade. Esse vínculo parece ter extrapolado a ficção e foi para a não
ficção por meio das redes sociais, inclusive no site oficial da própria série, graças ao es-
pírito de coletividade que os vários temas tratados pelo programa conseguiram acionar.
Parece que se criou uma grande rede, como se as personagens dessem as mãos às teles-
pectadoras, sem que fosse possível identificar o limite entre ficção e não ficção. Nas redes
sociais, em alguns casos pela primeira vez, mulheres puderam tirar dúvidas a respeito da
própria sexualidade, sobre temas comuns como problemas familiares e afetivos e senti-
ram esse mesmo espírito de corpo, ao mesmo tempo em que se entretinham debatendo
o destino de suas personagens prediletas. A naturalidade com que a lesbianidade foi
tratada na série, não sendo, em episódio algum, vista como algo negativo, prejudicial ou
que inferiorizasse as mulheres, foi importante para a criação desse vínculo, desse espírito
coletivo, pois trouxe uma sensação de pertencimento orgulhoso às lésbicas.
Em outras palavras, The L Word diz que a lesbianidade é bonita. E quem não quer fazer
parte disso? Nesse sentido, é importante pensar que, além de servir para deixar esse senti-
mento de orgulho entre seus profissionais e fãs, a série também mostrou ao telespectador
heterossexual que não há necessariamente uma marca que identifique uma lésbica, mas
que ela pode ser qualquer uma. Nesse sentido e pensando também na importância da
série ao criar pela primeira vez na televisão um espírito de corpo lésbico, reforça-se a im-
portância do veículo, já apontada por Buonanndo (2004), Lacalle (2001) e Tufte (2004),
na expansão de mensagens sociais e no entendimento e na construção da sociedade.
É certo e importante frisar que, apesar de sua audiência se dar principalmente fora da
televisão, foi de fundamental importância a sua exibição nesse veículo, ainda que em
canais de tv a cabo. Apesar do avanço das facilidades tecnológicas, que disponibilizam
programas na rede imediatamente após sua exibição, a tv, conforme já pontuamos, ain-
da exerce grande fascínio no telespectador. Além disso, a exibição de um programa em
canais conhecidos como a Warner, no caso a responsável pelo seriado no Brasil, acaba
pautando a mídia em geral e a crítica especializada, o que é fundamental para ampliar
a visibilidade do programa, para fomentar o debate. Podemos considerar, ainda, que os
produtores de The L Word souberam aproveitar e conjugar o que chamamos de con-
vergência de mídias, criando um diálogo constante entre internet e televisão, sabendo,
ainda, aproveitar das redes sociais virtuais que se criaram em torno do programa para
reforçar os conteúdos trazidos pela série.
Se a exibição na telinha foi fundamental para o sucesso de The L Word, podemos dizer
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que os avanços tecnológicos, que disponibilizaram downloads do seriado em todo o
mundo, tiveram o mesmo peso. Por meio da tecnologia, a série angariou fãs em países
em que sequer foi exibida a primeira temporada na televisão; estas fãs foram para as
redes sociais a fim de trocar ideias sobre os temas acionados pelo programa e sobre os
rumos da trama. Ou seja, foi uma feliz conjunção de fatores para o universo lésbico.
The L Word cumpriu o seu papel de, pela primeira vez, apresentar traços do universo
lésbico na televisão e para além dela. Basta um breve olhar nas redes sociais virtuais de-
dicadas ao programa para constatar o quanto ele impactou as telespectadoras lésbicas
e criou um sentimento de coletividade, orgulho e pertencimento. É certo que surgirão
vários trabalhos acadêmicos sobre a série, que levanta questões instigantes para os pes-
quisadores. Seria importante, por exemplo, realizar uma pesquisa junto às fãs dos seria-
dos, pois nas redes sociais não é raro encontrar depoimentos que atestam o quanto The
L Word mudou a vida de algumas delas. Resta saber se também colaborou para diminuir
a lesbofobia. É certo, ainda, que seu ineditismo o tornou um marco na história da televi-
são, que renderá frutos, servindo de inspiração e de parâmetro para futuras produções.
Com a promessa da realização do filme e do reality show, consideramos que seus impac-
tos ainda permanecerão por um bom tempo.
Exemplo disso é o fato de Jennifer Beals, uma das atrizes heterossexuais da trama, mas
que durante os seis anos militou fora das telas pela causa lésbica, ter feito o que ela cha-
ma de um jornal fotográfico sobre os bastidores de The L Word. Durante os seis anos de
gravação, fotografou o elenco e demais profissionais da equipe. Parte do material está
disponível nos extras da sexta temporada, cujos DVD foram lançados nos Estados Uni-
dos. Ela também guardou os roteiros e pretende lançar um livro com fotos e textos ainda
em 2010. A renda da publicação será doada a diversas fundações ligadas aos direitos
humanos.
Particularmente, a série me impactou tanto que rendeu, por hora, esta dissertação, cuja
ideia surgiu desde a primeira vez em que vi o programa e pensei: “Nossa, como seria
bom que eu tivesse visto algo assim aos 15 anos e que bom ainda estar viva para ver isso
na televisão”. Longe de ser uma visão definitiva do universo lésbico, a série parece ter
se mostrado um bom começo para a visibilidade de tão diversificadas realidades. The L
Word abriu armários.
eLas por eLas 142
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LIGAÇÕES – ANEXOS
Anexo 1 – Outras personagens de The L Word
Figura 56 – Outras personagens de The L Word
eLas por eLas 151
Carmen de la Pica Morales (Sarah Shahi) Quase se casa com Shane. Ia conseguir o
impossível, mas fica esperando a moça, vestida de noiva, a caminho do altar. É mexicana,
DJ e, antes de Shane, tem um romance rápido com Jenny. Entra na série na segunda
temporada e fica até o final da terceira.
Figura 57 – Carmen, abandonada no altar – 3ª temporada
Cherie Jaffe (Rosana Arquette) É a primeira mulher que consegue de fato chamar a
atenção de Shane. Entra na série na primeira temporada como uma das inúmeras clien-
tes da cabeleireira que querem ir bem mais além que o corte. Casada com um milionário,
tem uma filha que também se apaixona por Shane. Após um desentendimento entre elas
provocado pela filha, acaba abandonando Shane por não querer deixar as mordomias
proporcionadas pelo casamento. Faz uma pequena participação na quarta temporada,
já separada do marido, quando recebe Shane numa festa em sua casa.
Figura 58 – Cherie, penteada por Shane – 1ª temporada
eLas por eLas 152
Dana Fairbanks (Erin Daniels) A melhor amiga de Alice que se torna seu grande
amor. Essa é Dana, uma campeã de tênis, que assume publicamente sua lesbianidade,
inclusive por meio dos outdoors da Subaru, empresa que a patrocina. Filha de pais repu-
blicanos, também consegue, depois de alguns problemas, o apoio dos pais em relação
à sua orientação sexual. A personagem fica na série até a terceira temporada, quando
morre de câncer de mama. Além de Alice, que a acompanha durante toda a luta contra
o câncer, Dana se relaciona com Lara e Tonya.
Figura 59 – Dana, a tenista – 1ª temporada
Helena Peabody (Rachel Shelly) A personagem é uma milionária que entra na
trama, ainda na segunda temporada, e atrapalha a vida de Bette Porter: consegue sua
cabeça no emprego e sua mulher Tina. Alice se torna uma de suas melhores amigas e lhe
apoio quando a mãe resolve lhe tirar toda a fortuna para que ela aprenda a se virar
sozinha e pare de distribuir dinheiro para as pessoas. Envolve-se com Dylan, uma cineasta
que ameaça processá-la por assédio sexual.
Figura 60 – Helena se exercita – 4ª temporada
eLas por eLas 153
Ivan Aycock (Kelly Lynch) Apesar da pida participação, sua personagem, uma
drag king, é inesquecível. Mantém um relacionamento de cinco anos com a dançarina Iris.
Apaixonada por Kit, Ivan responde por uma das cenas mais inesquecíveis da série ao can-
tar “I’m your man”, de Leonard Cohen, enquanto faz uma performance para a amada na
garagem do Centro de Artes da Califórnia CAC. Mesmo após o rompimento da amizade
com Kit, que a enfurece quando a vê sem roupas, Ivan, que é mecânica, torna-se sócia do
The Planet. Na quinta temporada, vende sua parte para Dawn Denbo, concorrente de Kit
nos negócios.
Figura 61 – Ivan, que ama Kit – 1ª temporada
Jodi Lerner (Marlee Matlin) A artista plástica surda-muda Jodi Lerner é a única mu-
lher, além de Tina, com quem Bette mantém um relacionamento na série. Fica em The L
Word nas temporadas 4 e 5. Por ter um temperamento forte, ela e Bette sempre batem
de frente, porque nenhuma admite que a outra dê as cartas. Sai de cena magoada por-
que Bette retoma seu relacionamento com Tina. Escancara toda a sua dor numa exposi-
ção em que usa a imagem de Bette e falas que faziam parte da intimidade das duas.
Figura 62 – Jodi, a artista plástica – 5ª temporada
eLas por eLas 154
Joyce Wischnia (Jane Lynch) Toda vez que alguém tem um problema judicial recorre
a Joyce Wischnia, advogada especializada em questões LGBT. Aparece na série pela pri-
meira vez na segunda temporada, quando Tina resolve se separar de Bette. Joyce chega
a tentar seduzir Tina, mas não consegue. Volta na terceira temporada, dessa vez como
advogada de Bette, que pensa em lutar pela guarda de Angélica. Por fim, ao conhecer
Phyllis, apaixona-se por ela e as duas mantêm o romance até o final da série.
Figura 63 – Joyce, especialista em causas LGBT – 2ª temporada
Kit Porter (Pam Grier) – É a única personagem heterossexual presente nas seis tempo-
radas da trama. É irmã de Bette Porter e amiga de todas as lésbicas. Depois de encerrar
sua carreira como cantora e passar por problemas de alcoolismo, compra o The Planet,
uma mistura de café e bar lésbico onde acontece boa parte da trama.
Figura 64 – Kit, a única heterossexual da trama – 6ª temporada
eLas por eLas 155
Lara Perkins (Lauren Lee Smith) É uma chefe de cozinha assumidamente lésbica
e, por isso, enfrenta problemas com Dana, que demora a “sair do armário”. Participa da
primeira e da terceira temporadas da série, quando reata com a tenista. Entretanto, elas
se separam com o câncer de Dana e Lara tem uma breve aparição quando tem um es-
tranho caso com Alice, após a morte da tenista.
Figura 65 – Lara, sous-chef
Marina Ferrer (Karina Lombard) Na primeira temporada é a dona do The Planet.
Na trama, tem papel fundamental para que Jenny se descubra homossexual. Entretan-
to, desilude a escritora quando esta descobre que Marina vive com a estilista Francesca.
No final da primeira temporada, sem Jenny e sem Francesca, volta para a Itália e para o
marido. Na quarta temporada, aparece numa homenagem a Jenny e seduz a namorada
francesa da escritora.
Figura 66 – Marina Ferrer, seduzindo Jenny e flagrada por Tim – 1ª temporada
eLas por eLas 156
Moira/Max Sweeney (Daniela Sea) – Entra na trama na terceira temporada e fica até o
final por meio de Jenny, com quem tem um romance e de quem recebe apoio para se assu-
mir como transexual. Traz para a trama discussões relativas a cirurgias de mudança de sexo,
ao uso de hormônios e os conflitos decorrentes dessa situação. Após assumir um corpo mas-
culino, acaba tendo um envolvimento com um homem homossexual de quem fica grávido,
numa refencia praticamente explícita ao transexual masculino Thomas Beatie (Tracy), que
chamou atenção de todo o mundo ao dar a luz a um bebê em julho de 2008.
Figura 67 – Moira/Max, transexual e grávido – 6ª temporada
Molly Kroll (Clementine Ford) A série acabou sem confirmar, mas tudo indica que
Molly é o verdadeiro amor de Shane. Surge na trama na quinta temporada, como a estu-
diosa e heterossexual filha de Phyllis. Shane se apaixona por ela e acaba por conquistá-la.
As duas vinham felizes até que Phyllis, e depois Jenny, conseguem separá-las. No último
capítulo, alguns mal entendidos são desfeitos, dando a entender que, se a história conti-
nuasse, as duas ficariam juntas. Curioso lembrar que, logo após o término da série, a atriz
Clementine Ford, na vida real filha de Cybill Shepherd, que interpreta sua mãe na série,
assumiu publicamente sua lesbianidade.
Figura 68 – Molly, que se tornou “gay por Shane” – 5ª temporada
eLas por eLas 157
Niki Stevens (Kate French) – Aparece nas duas últimas temporadas e é uma atriz que
faz o papel de Jesse o alterego de Jenny em Lez Girls. Na trama, tem um romance
com Jenny, envolve-se também com o colega de trabalho e se interessa por Shane. Além
disso, seu papel propõe a discussão sobre uma jovem estrela de cinema em ascensão que
tem de driblar a mídia para esconder sua orientação sexual. Por ter sido humilhada por
Jenny, torna-se uma das suspeitas do assassinato.
Figura 69 – Niki, o alterego de Jenny – 5ª temporada
Paige Sobel (Kristanna Loken) Paige quase consegue levar Shane para morar na
mesma casa e constituir de fato uma família. Na quarta temporada, a garçonete, mãe
do colega de escola de Shay, irmão de Shane, apaixona-se pela cabeleireira e as duas
iniciam um romance. Disposta a levar uma vida familiar com Paige e os dois garotos,
Shane decide procurar uma casa para que todos morem juntos. Ao visitar um dos imó-
veis, é flagrada por Paige transando com a corretora em um dos quartos. Mesmo após
o flagrante, Paige procura Shane e diz que ainda assim deseja manter a relação, mas é
rejeitada pela cabeleireira.
Figura 70 – Paige queria ter uma família com Shane – 4ª temporada
eLas por eLas 158
Papi (Janina Gavankar) – Latino-americana, é a única na trama que disputa com Sha-
ne a popularidade entre as mulheres. Sua primeira aparição é na quarta temporada, no
OurChart de Alice, ao causar um verdadeiro congestionamento tamanha a quantidade
e a velocidade com que as mulheres se conectam a ela. Transa com várias mulheres por
dia, uma espécie de atleta da conquista, e anda numa limousine, que rapidamente se
transforma em cama. Está presente apenas em uma temporada e faz uma pequena par-
ticipação no último ano da série. Comporta-se como homem em relação às mulheres.
Figura 71 – Papi, colecionadora de mulheres – 4ª temporada
Phyllis Kroll (Cybill Shepherd) A reitora da Universidade da Califórnia entra na tra-
ma, na quarta temporada, como a chefe de Bette Porter. Casada, com estilo conservador,
dois filhos adultos, acaba achando em Bette a amiga certa para lhe abrir as portas do uni-
verso lésbico. Em sua noite de estreia no The Planet, conhece Alice, com quem tem um
romance. Acaba se separando do marido e depois de levar um fora de Alice, vai namorar
a advogada Joyce Wischnia, com quem permanece até o final da trama.
Figura 72 – Phyllis descobre-se gay depois dos 60 – 4ª temporada
eLas por eLas 159
Tasha Williams (Rose Rollins) Entra na série na quarta temporada, envolve-se com
Alice, com que fica até o final, apesar de discussões, altos e baixos e uma rápida separa-
ção. Começa, na quarta temporada, como a capitã Tasha, mas acaba optando por deixar
o Exército americano após sofrer um exaustivo processo por conduta homossexual.
Figura 73 – Tasha, capitã do Exército e lésbica – 4ª temporada
Anexo 2 – Tabelas de temporadas e episódios
TEMPORADA 1
A 1ª temporada tem 13 episódios, incluindo o piloto.
Prefácios: pequena história, muitas vezes aparentemente sem vínculo com as personagens da série. Utilizada frequentemente para apresentar o passado de uma personagem que aparecerá no episódio.
No primeiro, cap. 2, Alice aparece mostrando as conexões. Na verdade, exatamente o que ocorre com os prefácios, estão a todo momento revelando conexões com as personagens da série e criando
um link com a história a ser contada no dia.
Estrutura narrativa – Mesmo centrando os primeiros acontecimentos na chegada de Jenny e sua descoberta homossexual, desde o início The L Word mostra que não tem uma personagem principal.
A cada episódio, as personagens se revezam na história a receber mais foco. Ou seja, não se trata de uma série de apenas um herói, o que parece favorecer seu sucesso , conforme foi dicustido na lista
de discussão The L Word Brasil.
Apesar da série manter a continuidade das tramas entre os episódios, estes também podem ser vistos de maneira independente, pois cada capítulo mantém uma unidade de sentido. Na apresentação
do que houve “Antes em The L Word”, recapitula-se não só cenas do capítulo anterior, o que facilita, ainda, mais o entendimento de alguém que nunca tenha visto a série. No início, aparecem as perso-
nagens em sequências paralelas, mostrando quais irão protagonizar as tramas do dia. As sequências são rápidas. Depois, retomam-se as personagens para desenvolver as história, dessa vez com cortes/
planos/transições mais demoradas.
Entre os episódios a elipse é utilizada com freqüência. Há referência a episódios reais, acentuando o realismo da trama. Citam-se grupos de cantoras lésbicas, ONGs
Todos os episódios terminam com música sempre diferente –, em geral mais lenta, que começa ainda no desenrolar da cena. Os atores saem de cena, vem um fundo preto, sobem os créditos, a música
aumenta. Parece que deixa o telespectador um pouco só, meio que a pensar sobre o que acabou de assistir.
Duração dos episódios entre 45’e 55”(piloto – 1h30’)
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
1X1 – Pilot (Piloto)
Bette Porter e Tina Kennard vivem
juntas 7 anos e querem começar
uma família. Seu vizinho Tim Haspel vai
se casar com a jovem e talentosa Jenny
Schecter, que se muda para a sua casa.
Mas, ao conhecer as amigas lésbicas de
Bette e Tina, Jenny descobre que sua
formação numa universidade no interior
dos EUA não a preparou para o que ela
ainda descobrirá sobre a vida, o desejo e
o amor em Los Angeles.
identidade lés-
bica, gravidez
por insemina-
ção artificial,
armário lésbi-
co, descoberta
lésbica
Alice mostra as conexões dos rela-
cionamentos e as coloca em rede.
Meninas em missão para saber se
Lara é sapa (testes: penteado, sa-
patos, brinco, beijo na frente, an-
dar, cantada de Shane)
10’30”– Shane a
loura na piscina
(Jenny observa)
37” – Tim e
Jenny
1h19’ – Marina e
Jenny
1h30’ – Bette e
Tina
14’24” – Dana - Tem que se vestir assim o tempo todo?
Shane – Assim como?
Dana – Não quero ser vista com você.
Shane – Sério.
Dana – O jeito como você se veste denuncia: sapatão.
24’03” Há um cientista na National Enquirer que diz que, se seu dedo anular for maior
que seu dedo indicador, você é lésbica.
Tim – Isso pode ser contrasenso, mas acho que posso ser lésbica também.
1X2 – Let’s do it (Vamos nessa!)
Bette e Tina aguardam ansiosas para
saber se Tina vai engravidar, enquanto
ela fica preocupada em ter um doador
negro. Tim, sem saber do encontro dela
com Jenny, convida Marina para um
jantar, o que deixa Bette ultrajada. Alice
reencontra uma ex-namorada que está
espalhando boatos sobre ela. E Kit, mais
uma vez, tenta acertar seu relacionamen-
to com sua irmã.
inseminação,
traição (Jenny
e Marina, alco-
olismo)
14’ – Bette e
Tina (insemina-
ção e sexo)
(antes da abertura) Alice São atos sexuais aleatórios, ok? São encontros, romances,
ficadas, casamentos de 20 anos. Sempre que encontrar um grupo de lésbicas juntas, é
garantido que alguém dormiu com outra, que já dormiu com outra, que já dormiu
com alguém ali. Cite uma lésbica que você conhece. Posso relacioná-la a mim em seis
pessoas.
Marc – Christine Lee.
Alice Christine Lee. Fácil. Ok, ela estava com a Grace Partridge dois anos. Grace
ficou com a Anya. Depois, a Anya namorou Denise, que namorou com Catherina Clay-
more, que foi minha primeira namorada. É surpreendente, certo? Tudo bem, Marc, não
é coisa de lésbicas. Posso te colocar nisto aqui, provavelmente, em seis conexões,
fácil. Então, a questão é que estamos todos ligados, vê? Através do amor, através da
solidão, através de um pequeno e lamentável lapso de julgamento. Todos, em nosso iso-
lamento, buscamos sair da escuridão, da alienação da vida moderna para formar essas
conexões. Acho que é uma declaração profunda de existência da natureza humana.
9’45” Shane “A sexualidade é fluida. Se for lésbica, ou hétero, ou bissexual, cabe
seguir o fluxo”.
TEMPORADA 1
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
1X3 – Longing (O desejo)
Bette briga com o presidente do conse-
lho da galeria e toma uma atitude deses-
perada. Jenny luta contra os seus senti-
mentos por Marina. Alice tenta recuperar
seu respeito e reconsidera seu relaciona-
mento com Gabby. E Dana finalmente
consegue um encontro com Lara.
Dana começa a namorar Lara.
Bette começa a luta para trazer
“Provocações”
Final do episódio
– Marina e Jenny
25” Shane É linda. Gosto muito de você, mas gosto de muita gente (...) Não tenho
relacionamentos.
46’33” (Jenny para Marina) Toda vez que olho para você fico completamente transtor-
nada.
1X4 – Lies, Lies, Lies (Mentiras, Mentiras, Mentiras)
Bette fica contente com a gravidez de
Tina, apesar de seus problemas no tra-
balho. O relacionamento de Jenny com
Marina ameaça a sua vida com Tim. A
insegurança de Dana continua quando
ela tenta conciliar sua carreira e seu rela-
cionamento com Lara. E os problemas de
Alice com sua mãe aumentam quando
ela chega para uma visita.
Problemas
profissionais
Tina grávida. Aparece o homem
lésbico – LIS. Alice se diz “bi”e fala
em mudar de lado. Dana tem eja-
culação precoce. Cita-se a série
“Dinastia”.
21’46”– Jenny
e Tim (Jenny
não está a fim)
41’50” – Marina e
Jenny (banheiro)
6’ Alice Tive muitas experiências e fui enganando, e as mulheres são loucas. ...sexo
homem-mulher, chato, sem complicações, mascarado de amor.
10’(6) Lis – Sou uma lésbica no corpo de um homem.
1X5 – Lawfull (Legalmente)
Tim fica chocado ao flagrar Marina e
Jenny numa comprometedora situação
e os dois decidem se casar o mais rápido
possível. Bette conta para o seu pai so-
bre a gravidez de Tina, mas fica chatea-
da com a reação dele. Lara fica chateada
quando Dana a troca por seu parceiro de
tênis durante uma festa com um provável
patrocinador. E Alice tenta resolver seus
problemas com a mãe.
Pais X Homos-
sexualidade
(Melvin e
Lenora)
Conflitos nos
relacionamen-
tos
Flagrante (Tim Marina e
Jenny);
TIm propõe casamento a Jenny
13’55” – Marina e
Jenny
39’ – Dana e Lara
41’ – Tentativa de
Tim e Jenny
35’37”Tim – O que vocês fazem, garotas? Eu deveria me preocupar , heim? Isso conta
alguma coisa?
Marina – Você estava lá. Viu o quanto conta.
36’47” (Dana para Alice) O cara lésbico está saindo com a falsa bissexual? Queria
saber, está como ele como lésbica ou como homem? Talvez devesse se chamar de tris-
sexual.
49’12” (policial ao questionar Tim se ele vê filme pornô) – Sabe aquela cena em que as
duas mulheres estão transando, o cara entra e ele está duro, sabe, mas ele vai transar
com elas, vai comê-las direitinho. Nós achamos que é isso que elas querem, o pau, mas
da próxima vez olhe bem. Não é isso que elas querem. Elas estão se divertindo sem ele.
Elas estão se chupando, sabe. Elas estão se lambendo tudo e o cara entra pronto para
gozar. Não é isso que elas querem. Estão com os olhos meio fechados como se alguém
fosse derramar gasolina nelas. O aviso é esse.
50’02 Quando se tem duas pessoas e elas têm o mesmo equipamento e ambas sabem
como tratá-lo, como alguém do sexo oposto pode competir com isso?
1X6 – Losing It (Perdendo a linha)
Bette viaja para Nova York para a estréia
de uma exposição e seu relacionamento
com Tina é testado quando a namorada
do doador delas encontra Tina solitária
em casa e começa a assediá-la. Voltando
para casa, Tim se preocupa ao descobrir
que Jenny desapareceu, enquanto ela
inicia uma longa viagem ao pegar carona
com dois adolescentes nada amistosos.
Jenny some, conquistas de Sha-
ne, Brigas de Bette e Tina
TEMPORADA 1
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
1X7 – L’Ennui (O tédio)
Tina e Bette se surpreendem quando
as amigas lhes dizem que sua iminente
maternidade as transformou em duas
chatas. Enquanto Tina não muita
importância, Bette se preocupa com a
possibilidade de tudo dar certo. Jenny
vai para a casa de Marina, quando Tim a
coloca para fora, mas descobre algo que
a deixa abalada. Quando seu patrocínio
está em perigo, Dana se afasta de Lara.
Pink Money
(Subaru)
Lis e seu pinto
lésbico
Tim expulsa Jenny. Dana termina
com Lara por não dar conta de
ficar à vontade no restaraunte.
Subaru diz a Dana que pretende
patrociná-la como gay. Jenny,
sabendo de Francesca, vai morar
na garagem de Tim. Amigas recla-
mam da chatura das grávidas.
34’- Jenny e
Marina
1X8 – Listen Up (Ouça bem)
Quando sua antiga companheira de
quarto da universidade chega, Jenny
decide aproveitar a oportunidade para
lhe revelar os detalhes sobre seu roman-
ce com Marina. Bette e Tina se unem
a um grupo de preparação para futuras
mães e Dana enfrenta um momento difí-
cil, quando precisa ser sincera com seus
pais conservadores.
Sair do armário
em relação a
pais, conser-
vadores (mãe
de Dana,
republicana, e
pessoas contra
a exposição)
Francesca chega de viagem e con-
vida Jenny para jantar. Publicida-
de da Subaru: Get out and stay
out. Mãe de Dana se recorda de
desejo lésbico quando adolescen-
te.
1X9 – Luck, next time (Melhor sorte na próxima)
Shane tem oportunidade de fazer o ca-
belo de uma cliente rica, mas descobre
que a mulher está procurando mais do
que simplesmente um tratamento para
o cabelo. Bette e Tina recebem notí-
cias devastadoras. Jenny vai jantar com
Marina e Francesca, e Alice decide que
seu relacionamento com Lisa é complexo
demais.
relacionamen-
to aberto,
mulheres hete-
ros e casadas
que transam
com lésbicas,
traição (Cherie
Jaffe)
Francesca flagra beijo de Marina e
Jenny, Tina aborta (natural), Ali-
ce conhece Andrew
22’ – Jenny e
Tim
35”58” – Shane
e Cherie
1X10 – Liberally (Liberdade ou liberTinagem?)
Bette se preocupa por Tina quando ela
mergulha de cabeça em um trabalho vo-
luntário por causa do aborto que sofreu.
Marina e Francesca discutem. Alice achar
que pode estar grávida de Lisa. Dana e
Jenny tentam consolar-se mutuamente,
tornando-se amigas.
pessoas con-
servadoras e
posicionamen-
to político
Marina rompe com Francesca,
Tina começa a trabalhar.
11’45”– Shane e
Cherie
34’ – Dana e
Jenny (tentativa)
1X11 – Looking back (Olhando para trás)
Tina, Jenny, Shane, Alice e Dana via-
jam juntas para Palm Springs. Pelo ca-
minho compartilham histórias sobre seu
primeiro amor. Em Los Angeles, Bette
contrata Candance, uma marceneira
atraente, para que organize a inaugura-
ção de “Provocations” na galeria.
Militância
lésbica (citam-
se ONGs e o
Olívia Dinah
Shore We-
ekend)
Viagem para Palm Springs – todas
contam como se descobriram lés-
bicas (homenagem para Dana).
Candance Jewel começa a paque-
rar Bette. Jenny conhece Robin
38’ – Tonya e
Dana
TEMPORADA 1
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
1X12 – Locked up (Presas)
Depois de quase acontecer um motim
na galeria, Bette é presa com Candance.
Shane resiste às investidas de Clea. Tim e
Jenny discutem sobre divórcio e Marina
faz uma tentativa com Robin, enquanto
ela se prepara para a noite de Rey Travesti
no The Planet.
Shane apaixonada por Cherie.
Mostra o passado dela, revelando
que foi “prostituto”. Tina come-
ça a mudar com o novo trabalho.
Ivan Aycok começa a paquerar Kit,
meninas são presas por defender
“Provocações”.
Na prisão,
Bette e Can-
dance. Cada
uma se mastur-
ba enquanto
descrevem o que
fazem.
Jenny – Sabia que era lésbica?
Robin – Nào, só sabia que não gostava de meninos.
1X13 – Limb from limb (Aos pedaços)
Na medida em que se aproxima a inau-
guração da “Provocations”, Bette luta
contra a tentação de ficar com Candan-
ce. Depois da morte de seu gato, Dana
recorre à Tanya e Alice não está feliz.
Shane tenta gentilmente se afastar de
Clea, mas o tiro sai pela culatra.
rompimentos,
lésbicas que
namoram e fi-
cam parecidas,
como gêmeas
Flagrante de adultério (Tina X
Bette e Candance), Tina sai de
casa, Jenny está na companhia
de Robin e Gene. Alice beija Dana
e diz que ela não pode se casar
com Tonya, Funeral de Mr. P.
Jenny e Robin
(Tim vê)
5’– Bette e Can-
dance
19’– Jenny e
Gene
33”– Bette e
Candance
52’ – Bette e
Tina (com brigas)
TEMPORADA 2
A 2ª temporada tem 13 episódios com duração em média de 50`
A abertura muda. Os “prefácios” se concentram em personagens que estão na série ou antecipam novas caras que irão entrar para The L Word naquele episódio. De certa forma, sempre mostrando as
conexões que existem entre eles, ainda que não convivam exatamente no momento da ação da série. Ex. Joyce transando com a noiva de Robin, Claybourne, no dia do casamento delas. Depois que
Joyce aparece, mas sem conviver com nenhuma das duas. As últimas histórias giram em torno de Jenny e sua apresentação em um clube de sadomasoquismo.
O The Planet, localizado em West Holywood (a city in Los Angeles County, California, was incorporated on November 29, 1984. The lastest residential population estimate was 34,675. The city is well-kno-
wn for its nightlife, celebrity culture, and gay-friendly atmosphere. The area is also referred to as “WeHo”.) , sob a direção de Kit, passa a se tornar point de bandas de lésbicas, muitas das quais se tornaram
conhecidas após a aparição em The L Word, entre elas Betty, responsável pela música tema da série que começa a partir da segunda temporada. A série traz vários links com questões reais, ligadas ao dia
a dia, inclusive com a participação especial de Gloria Steinem, jornalista e feminista americana, com publicação de vários artigos e livros, em que atuou como ela mesma. Começam, ainda, críticas mais
freqüentes aos setores conservadores da sociedade americana, os republicanos, especialmente ao governo Bush e à Guerra do Iraque. Citam, ainda, programas como Saturday Night Life, filmes como
Thelma e Louise. Acontece, ainda, a Gay Parade 2005. A série recorre ainda, por várias vezes, à elipse citada por Ana Maria Balogh.
Merchandising aumenta: LG, Heineken, Apple, Subaru, Perrier, Marlboro, Absolut, The Advocate, Dove, Adidas.
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
2x01 – Life, loss, leaving (Vida, perda e partida)
Bette implora pelo perdão de
Tina, que esconde um segre-
do. Alice e Dana escondem
seus encontros românticos de
todas. Jenny despede-se de
Tim, que vai se mudar.
Tim muda de cidade, supõe-
se que Marina tentou suicídio.
Alice e Dana, velhas amigas,
descobrem-se apaixonadas,
Kit flagra Ivan como mulher
29’47” Shane e Car-
men (no estúdio)
51’53” Tim e Jenny
(*praticamente um es-
tupro)
11’53”(??) (Gene para Jenny) - Mas a gente não transa. Pronto. Falei. Quero transar com a mulher
para quem cozinho, para quem gravo fitas. Não quer transar, e eu sei o porquê. Porque é gay, certo?
Pronto. Desculpe te informar, mas você é uma lésbica de mão cheia.
22’ (Jenny escrevendo) - Como toda vez em que uma pessoa transa com outra cada um dos XXXX
encontros sexuais anteriores é invocado. Como isso liga todos nós a uma rede infinita de conexões
humanas.
37’35” - (Kit para Bette) - A meu ver Ivan é quem decide se é homem ou mulher e para mim parece
ser mais homem.
2x02 – Lap dance (Dança sensual)
Seguindo o conselho de Alice,
Tina contrata uma advogada
famosa. Dana e Alice lutam
para manter distância uma da
outra. Ivan ignora Kitty. Jenny
resolve ter uma conversa séria
com ela sobre a relação delas.
putas para mu-
lheres, separa-
ção legal lésbi-
ca, casamento
lésbico, casais
lésbicos e filhos
Retomando o passado, des-
cobrem que Marina é casada
12 anos com MAnfredi
della Francesco Ferrer, Alice
namorou Bette 6 semanas
16’29”- Carmen e Sha-
ne (na igreja enquan-
to gravam um vídeo)
48’40”- Tina se mas-
turbando
8’ Tonya - Não, mas ela gosta do que eu gosto. Ela sempre quer o que eu quero mais do que o que
ela quer.
24’40” Sharon (mãe da Dana) - Sabe, eu realmente não entendo. Quero dizer, olho para vocês duas.
São garotas bonitas. E nenhuma das duas teria dificuldade em arrumar um homem.
Dana - Ah, Deus. Não queremos arrumar um homem, mãe.
2x03 – Loneliest number (O número mais solitário)
Jenny quer persuadir sua as-
sustadora professora a aceitá-la
nas aulas de redação. Tina des-
cobre um email de Candance
no computador de Bette. Kit
procura um quadro musical de
abertura para seu restaurante.
separação de
casais não re-
c o n h e c i d o s ,
casamento de
celebridades
Carmen beija Jenny, deca-
dência de Bette, inaugura-
ção do novo The Planet
15’25” Carmen e Sha-
ne
TEMPORADA 2
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
2x04 – Lynch Pin (Aventuras)
Bette vai para Nova York a tra-
balho. Tina fica furiosa e cho-
cada com as verdadeiras inten-
ções da advogada. Jenny e
Shane procuram alguém para
dividir o aluguel. Kit faz amiza-
de com um orador de palestras
motivacionais para pessoas de
negócios.
Shane e Jenny escolhem
Mark para dividir casa. Kit co-
nhece Benjamin, Helena
o tombo profissa em Bette,
Tina deixa a casa de Joyce
depois de ser cantada, Pea-
body e Nikolas na cama en-
quanto Bette fala.
3’09” Helena e Isabel,
sua terapeuta, ainda
no prefácio
Início – Alice - Brincadeira. Uma fada madrinha aparece e diz que você terá um pênis por 24 horas,
o que fariam?
Shane- Faria xixi de pé em cada moita que encontrasse.
Dana - É tudo que você faria? Só urinar?
Shane - Sim.
Jenny - Não tentaria transar com muitas garotas?
Shane - Não preciso de pênis para isso.
Tina - Qual o tamanho do meu tênis (riso cúmplices de todas)?
Alice - Ok. Incline-se. Muito bem, eu vejo um bem grande aí. É longo. Não muito grosso. Sem muitas
veias.
Dana - Que nojo.
Alice - Eu por outro lado tenho uma linguiça gigante.
Jenny - Acho que provavelmente eu tenho um pênis bem pequeno.
Kit - Amiga, você precisa tratar sua auto-estima.
Shane - Estamos tentando, Kit.
Jenny - Não, não. Eu gosto de homens com paus pequenos porque eles fazem de tudo para tentar
nos agradar, sabe? Certo?
Tina - Jenny, estou começando a pensar que você é realmente lésbica.
52’40” – Mark - Você é lésbica?
2x04 – Lynch Pin (Aventuras) – continuação
Jenny - Não sei. O que você acha?
Mark - Se eu a visse em um bar pensaria que era heterossexual, mas isso não quer dizer nada.
Jenny - Não mesmo. Mark - Hoje em dia, nunca se sabe, não é?
Jenny - É mesmo, mas você sabia que elas eram, certo?
Mark - Isso é verdade.
Jenny - Então o que acha que é?
Mark - Não sei. Diria que tem a ver com a atitude delas. Não que sejam masculinas porque de fato
algumas delas são bem femininas, sabe? XXXXXXX É algo que elas transpiram. Vou tentar descobrir
o que seria.
Jenny - Me diga quando conseguir, Mark.
Mark - E direi, quando conseguir.
2x05 – Labyrinth (Labirinto)
Bette tenta consertar sua re-
lação com Tina, mas tem más
notícias de casa e do trabalho.
Alice e Dana querem levar a
relação para outro nível. Sha-
ne começa a trabalhar com
Verônica Bloom e Jenny sente-
se mais confiante com o novo
cabelo.
invasão de pri-
vacidade
Tina volta a morar com Bet-
te. Helena conhece Tina,
Bette fica sabendo da gravi-
dez de Tina, Mark esconde
câmera na casa de Jenny e
Shane, Despedida de Soltei-
ra de Dana e Tonya, Helena
começa a sair com Tina
25’58”Dana e Alice (
no chão da casa, 69,
chantily, morangos,
34’06”- Alice e Dana
57’48” Shane e uma
loura (pela câmera do
Mark)
10’40” - Mark (entrevistando) - Qual é o ato sexual básico das lésbicas?
Jenny - Ato sexual básico das lésbicas?
Mark - Sim, para os heterossexuais é transar. Quero dizer tudo que fazemos: beijar, acariciar, as preli-
minares, tudo leva ao resultado final previsto.
Jenny - E o que o faz pensar que as lésbicas não transam?
Mark - Não é possível a não ser que usem consolos, o que é legal, mas não é.
Jenny - Está de brincadeira? É totalmente possível.
TEMPORADA 2
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
2x06 – Lagrimas de Oro (Lágrimas de Ouro)
Alice insiste para Dana ter-
minar com Tonya, mas Dana
ainda se choca quando Tonya
revela seu próprio segredo.
Tina reflete sobre a nova atra-
ção que sente por Helena. Kit
começa a se relacionar com
Benjamin, e Jenny e Carmen
continuam a gostar da compa-
nhia uma da outra.
d e s l e a l d a d e
(amizade)
Dana ia terminar com Tonya
para ficar com Alice, e desco-
bre que Tonya estava com
outra. Leo Herrera vai para o
CAC sem Bette saber
Kit e Benjamin (no pre-
fácio)
21’27”- Shane transa
com a entregadora de
flores
23’16” (Shane con-
tinua com Kel, Mark
e Gomey olham pela
câmera)
46’29” Tina e Helena
Nas preliminares
47’50” Helena e Tina
transam na piscina
2x07 – Luminous (Luminosa)
Shane procura apaziguar o
próprio sofrimento na esperan-
ça de conseguir se abstrair da
florescente relação entre Car-
men e Jenny. Tina põe-se en-
tre Helena e a ex pela custódia
das crianças , trazendo, assim,
um vislumbre de esperança
para Bette. Dana e Alice con-
vidam todo mundo para ir ao
The Planet para contar-lhes so-
bre a sua nova relação.
h o m o f o b i a ,
v o u y e r i s m o ,
traição no tra-
balho, materni-
dade lésbica,
22’28” Helena e Tina
no terraço (ex de Hele-
na Winnie Mann flagra
oral)
30’40”- Dana e Alice
36’25”- Shane leva
duas mulheres para a
cama, sexo, mas ela só
olha, Mark olha pela
cam.
4’20” - (Alice para Dana) - É a maldição das lésbicas. Quando duas pessoas do mesmo grupo de
amigas começam a namorar, isso interfere no equilíbrio geral do grupo.
8’10” Verônica Bloom - Então por que eu não deveria virar uma lésbica?
Shane - Porque as mulheres são intensas. Dão muito trabalho. Podem te esgostar. (...)
Verônica - O que não sabe de mim é que gosto de intensidade. Quando as coisas não são intensas
fico entendiada. E quando estou entediada fico com vontade de matar.
34’12” (?)
44’13” - (aluno da profa. de Jenny ) - Qual o significado de travesti brasileiro?
45’ - Jenny (comentando o texto de Hunter?) Sua personagem principal, Janine, abre o mundo de
Madeleine, dando-lhe os melhores orgasmos que já teve, o que, não sei se você sabe, é o ato sexual
básico que duas mulheres podem fazer. E você vai adiante e deprecia a coisa tanto, transforman-
do-a em pornografia. E acho que a razão por isso é porque os homens não suportam o fato de que
as mulheres conseguem esses orgasmos maravilhosos, estonteantes e impressionantes sem nenhum
pau.
2x08 – Loyal (Leal)
Quando Alice sem querer en-
contra a sua ex, tem a surpre-
sa de descobrir que ela está
saindo com a ex-namorada de
Dana. Bette e Tina chegam
a um acordo sobre a relação.
Jenny está preocupada com a
possibilidade de perder o em-
prego de escritora e Shane en-
contra consolo em uma igreja.
Tony Goldwyn
Helena e Tina olham a casa
como casal, sem constran-
gimentos, Mark se apaixona
por Shane
14’10” Helena e Tina
(na sala da casa que
estão olhando para
alugar) 22’49”Alice e
Dana
10’50” - Mark - O lance desse filme é que ele tem mais que isso. É fascinante. E dá às pessoas acesso
a um mundo que elas nunca viram antes. Sabe! Deja-vu. Como jornalistas que se infiltram nas mes-
quitas. É testemunhal.
TEMPORADA 2
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
2x09 – Late, Later, Latent (Depois, Mais Tarde, Latente)
Dana fica estupefata quando
Alice pede-lhe um favor sexu-
al ousado. Burr Connor revela
um segredo a Jenny, que des-
cobre os sentimentos verdadei-
ros de Carmen por Shane. Kit
planeja uma noite romântica
para Benjamin. Bette e Tina
têm um encontro íntimo quan-
do procuram criar um vínculo
com o bebê que ainda não
nasceu.
Brinquedos se-
xuais, dinheiro e
poder, relações
extra-conjugais
Ao final Alice e Dana
vão transar com um
pinto de borracha
(Mark exibindo as primeiras cenas)
3’38” Dana - Sou Dana Fairbanks. Achei que isso destruiria minha carreira, mas não destruiu. As pes-
soas me agradeceram.
Carmen - Meu nome é Carmen de LaPica Morales. Eu tinha 16 anos e me apaixonei loucamente por
Lucia Torres. Ela era namorada do Pablo Pleuntes. Você simplesmente...você não transa com uma
garota do Pablo, mas eu transei.
Alice - Não sinto falta, não. Há jeitos e coisas.
4’59” Mark - Olha, o que é ótimo nesse projeto é que não se trata só de sexo. Essas mulheres têm um
estilo de vida, uma cultura própria, é revelador, é antropológico. Se nós fizermos isso direito podemos
ir facilmente para o Sundance.
Produtor - Homens americanos, de sangue vermelho, cheios de testosterona, não se importam com
esse tipo de porcaria antropológica. Queremos sexo quente entre lésbicas.
17’27” - O fato é que se um ator sair do armário e disser XXXX Sou gay. Seria um grande presente para
o mundo, mas isso destruiria sua carreira.
2x10 – Land Ahoy (Mar Adentro)
Um cruzeiro para lésbicas pelo
Caribe termina sendo cheio de
acontecimentos para Dana,
Alice, Shane, Jenny e Car-
men. Bette e Kit lutam para se
reconciliar com o pai distante,
Melvin, durante a sua visita.
Elas vão para um cruzeiro
Olívia e debatem sexo grupal
com escritora, Melvin Ignora
Tina
47” Alice e Dana (na
cabine do navio, fan-
tasia)
26’37”- Bette - Sabe, pai, estou abismada com o fato de ter convidado o namorado da Kit para
jantar conosco que são namorados de pouco. Mas ainda não disse uma palavra sobre a Tina.
36’51”(Bette para Melvin) Não tem consideração pelo que estou passando. Nenhuma. Até que
reconheça que meu relacionamento de oito anos foi tão especial quanto seu casamento com minha
mãe, até ver que estou de coração partido porque falhei com a mulher que amo, talvez do mesmo
modo como falhou com a mamãe, realmente não tenho nada a dizer. que, sabe, não desistirei.
Não acabarei triste, sozinha e cheia de remorso.
41’31” (Spankle?) – A maioria das mulheres neste cruzeiro não tem esse tipo de liberdade. É o único
lugar onde estão completamente livres para se expressarem.
47” (Alice e Dana, cabine do navio) – Alice – Cap. Stubing, quero tanto seu pau dentro de mim.
Dana – Espero que minha esposa Marion Ross não descubra.
Alice – não, a Marion Ross era a atriz. A personagem era Emily.
2x11 – Loud & Proud (Alto e Com Orgulho)
Dana fica impressionada ao
descobrir um grande segre-
do sobre seu irmão Howie na
Parada Gay 2005. Mark tentar
acertar com Jenny e Shane.
Kit e Bette descobrem que o
pai recusa-se a tratar da sua
doença, e uma lembrança cho-
cante da infância de Jenny é
revelada.
sadomasoquis-
mo
passado de Shane se revela.
9 anos no orfanato, mãe era
viciadas em drogas. GAY Pa-
rade 2005, Kit conta a Melvin
que Benjamin é casado e ele
a manda lutar por ele.
17 (Melvin para Bette, depois de chamar a enfermeira para não ver Bette e Tina conversando) Eu
não entendo. E você é uma mulher tão bonita. Não pensa no dia em que será julgada perante deus?
O que dirá a ele quando abrir o tora e ler seus pecados?
Bette Eu direi: sou sua criação e me orgulho disso.
34 (velha bêbada para Jenny na comemoração do pride) A maioria de nós tem mas vergonha do
que orgulho.
2x12 – L’Chaim (L’Chaim)
Bette pede ajuda de Tina
quando decide levar o pai
para casa para passar os seus
últimos dias. Jenny sofre ao
recordar um episódio compli-
cado da infância, e Alice sente
ciúmes quando Dana concor-
da em jantar com a ex-namo-
rada Lara.
p e r t u r b a ç ã o
mental, relação
paix x filhos, ci-
úme, morte
Peaches toca no The Planet,
morte de Melvin
38’50”Carmen e Sha-
ne (começam na
varanda, vão para a
mesa da sala e depois
para o quarto)
TEMPORADA 2
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
2x13 – Lacuna (Lacuna)
Aparece uma pessoa surpresa
em um acontecimento triste e
Bette recebe novidades cho-
cantes sobre o seu trabalho.
Tina entra em um trabalho
de parto surpreendentemente
difícil. Jenny tem um colapso
nervoso devido às dolorosas
lembranças do tempo de in-
fância. Alice luta contra o ciú-
me. Peggy Peabody muda as
regras com a filha Helena.
Após o strip, Jenny sai da
casa sado, No outro dia, ca-
belo diferente. Tina volta a
morar com Bette. Velório de
Melvin, Bette é demitida no
velório.Carmen e Shane jun-
tas. Jenny corta as pernas.
Nasce Angélica.
2’ Glória Steinem – É uma loucura. Pelo que sei são mulheres que vivem com eles que os odeiam. As
lésbicas não se importam realmente. São amigas dos homens, certo?
Jenny Outra idéia erradíssima é a de que ser lésbica é ser automaticamente feminista enquanto que
muitas lésbicas que conheço não são nada feministas, não é? (povo ri e olha para Shane)
Shane – Que foi? Eu gosto de mulher.
Carmen - Nada.
GS – Está bem, mas tem de admitir que é isso que os homens dizem: eu amo as mulheres.
Shane – É.
Alice – Está bem, posso dizer, falando como quem gosta de você sabe o quê.
GS – Você sabe o que significa sexo com homens, certo?
Alice – É, não queria lhe ofender, mas eu gosto de pênis.
GS não, não. Não me ofende. Também gosto de ter sexo com homens. Vamos apenas dizer que
sou predisposta. Aposto que muitas aqui são predispostas. Talvez dizem que sim, mas...
Alice – Eu sigo o coração, não a anatomia.
Jenny – É sempre tão complicado, não é? Algumas pessoas escolhem e outras não a respeito disso,
certo?
GS – Certo e brindam à escolha.
24”(Helena pra Leigh) – Você já engravidou alguma garota?
Leigh – Não, você já?
Helena – Acho que vai ficar linda grávida. Talvez devêssemos ter um bebê juntas.
Ültima fala da temporada (Bette, Kit, Dana, Alice, Carmen, Jenny e Shane juntas)
Kit - Ah, Angélica; ah, amor, você vai ter uma vida muito interessante, sabia disso? Porque somos pessoas
muito interessantes. É. E aqui está sua mãe de novo Bette. Esta é sua família, Angélica.
TEMPORADA 3
A 3ª temporada tem 12 episódios.
Prefácios Até o sexto capitulo, os prefacios iniciam uma rede de conexoes que começa no passado,basta ver a caracterização de roupas e cabelos. Uma a uma as personagens vão se ligando e o gráfico
vai sendo formado até chegar em Bette Poter, em 1986, no sexto episódio, quando ela e um amigo que transam se descobrem homossexuais. A partir daí, as pequenas histórias mostram o envolvimento
de Bette com Alice, no passado e até então desconhecido. Na verdade, percebe-se, no último capítulo da temporada, que toda o movimento é para fechar o gráfico com a morte de Dana. No último
capítulo, o prefácio traz Alice tomando remédio e transando com Lara, após a morte de Dana. A última cena do capítulo mostra o “fechamento”do gráfico. Episódio encerra mostrando o gráfico de toda
a temporada.
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
3x01 - Labia Majora (Labia Majora)
Bette e Tina procuram reacen-
der seu envolvimento sexual,
depois de terem tido uma filha.
A fúria urbana toma conta de
Alice que persegue Dana pelas
ruas de Los Angeles. Helena
compra um estúdio de cinema;
e Jenny desiste do interior e vol-
ta para L.A.
menopausa, lega-
lização de adoção,
queda de libido
entre casais, dor
de cotovelo,
Abertura com Alice no programa de rádio,
mostrando que 6 meses se passaram. Dana
está com Lara. Alice sofre. Helena compra
uma produtora de filmes. Shane vai à casa
da família de Carmen. Jenny é expulsa pelo
padrasto que a pega transando com Moira
(Max).
46’38” Dana e
Lara
Jenny e Moira
(flagradas pelo
padrasto Warren)
20’15” - Bette – Então, clitoris a incomoda?
Tina – Sim, um pouco.
Bette – E xoxota você não gosta?
Tina – Na verdade, gosto de buceta.
Carmen – Isso! Eu adoro buceta.
Dana – Do que vocês estão falando?
Bette Bom, Tina não gosta da palavra clitóris, o que eu acho preocupante. E
também não gosta muito de xoxota. Lara Nossa, eu adoro a palavra xoxota. Fico
super excitada.
Dana – Não. Fica mesmo?
Lara – Fico. Você não?
Bette – Bem, que palavras vocês usam?
Shane – Buceta é bom para mim.
Carmen – Xereca também é engraçado e eu gosto de xana. Sério, eu gosto mesmo
de xana.
TinaOlha, eu cresci num mundo de eufemismos. Tipo “lá embaixo”, “regiões infe-
riores”, “partes íntimas”, não mexa na sua “coisinha”.
Dana – Nossa, isso é horrível. Comigo foi a mesma coisa: “partes íntimas”, “partes da
menina“.
54’13”- Tina – A filha de uma amiga na Inglaterra chama de bunda da frente.
Shane – Bunda da frente? Que perversão.
Alice Tive uma namorada... É lembram-se de quando eu tinha uma, mas ela cha-
mava de PR, pérola rosa.
Carmen – Não confundam com Pierre.
Bette – Sabe o que é uma gracinha? Yumi. É sânscrito.
Alice – Não, eu gosto de uma coisa mais suja tipo prende-língua.
Shane – É.
Carmen – Ou um careca no barco.
Shane – Refeição de campeões.
Tina – Caixinha.
Bette – Xibiu.
Carmen – Haha.
Alice – Xaninha.
Bette – Mimi. Kit – Buraco. Que mais?
Alice – Calcunta
Várias delas revezando nomes no encerramento da série enquanto sobem os créditos
– boca de baixo, aranha peluda, pastel cabeludo, ostra barbuda, esfiha, favo de mel,
cocada preta, beiçuda, palha de aço, perseguida, túnel do amor, bacalhau, pirâmide
invertida, cremosa, bolsa de pelúcia, caixa de cremes sortidos, racha, luva do amor,
bolsa de sereia, crina, cona, carteira de veludo rosa, bimba, capô de fusca, chavasca,
cabeludinha, fenda do amor, válvula fuc-fuc, carpete, triângulo das bermudas, toca
do grilo, sorriso vertical, moicana, bochechuda, chewbbaca, churro, sanduíche de
rosbife, dedo de camelo.
TEMPORADA 3
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
3x02 - Lost Weekend (Fim de Semana Perdido)
Billie Blaikie monta uma loja no
The Planet. Alice não deixa que
Helena jogue fora a boneca de
papelão tamanho natural de
Dana. Jenny quer ser mais que
amiga de Moira. Bette tem a im-
pressão de que perdeu o contro-
le de sua vida.
transexual
Moira não deixa Jenny comê-la, inversão de
papéis com Bette mais dona de casa e Tina
executiva. Confusão de gênero: menina no
banheiro acha que Moira é homem e seus co-
legas que seja veado. Billie é o novo gerente
de Kit. Shane coloca vestido de 15 anos.
46’40” Shane e
Carmen
17’18”- Jenny – Não somos veados. Somos sapatões seus babacas.
25’27”- Kit – Fico feliz de ver essas pessoas aqui rindo e se divertindo, e vivendo a vida
que amam e amando a vida que vivem.
40’40” Carmen Imagine quem vai comer quem porque você estava bem feminina
naquele vestido.
3x03 - Lobsters (Lagostas)
Shane monta seu salão na nova
e descolada loja de skate da
praia de Venice, chamada WAX.
Jenny leva Moira para L. A. e
a apresenta às meninas. Kit fica
amiga de Angus, babá de Bet-
te e Tina. Alice segue caindo no
precipício emocional, depois de
perder Dana. Bette recusa-se a
diminuir os gastos. Tina vai tra-
balhar para Helena.
críticas ao Gover-
no Bush, à indús-
tria cinematográ-
fica, ao mau uso
de drogas psicote-
rápicas. Câncer de
mama. Dificuldade
de aceitação da
diferença: as sapas
sofisticadas X a cai-
pira Moira
8’56”- Bette – Esse governo é criminoso (falando de Bush)
41’ (Falando de Moira) Dana Talvez seja machão nas ruas e mulherzinha nos len-
çóis.
Shane Que diferença faz se alguém é machão ou mulherzinha? Não deveríamos
rotular e deixar as pessoas serem o que são.
3x04 - Light My Fire (Acenda Meu Fogo)
Jenny fica preocupada porque
Moira some a noite inteira. Bet-
te vai para Washington. Carmen
vai ser DJ em uma festa de Rus-
sell Simmons. Billie Jean King (in-
terpretando a si mesma) entre-
vista Dana em um jogo de tênis.
Kit pensa se acertou ao escolher
Billie para ser a nova encarrega-
da de negócios do The Planet.
Helena sente-se atraída por uma
documentarista.
crise de identidade
(trans, Moira), rela-
cionamento com
pessoas mais jo-
vens (Kit x Angus),
crítica à guerra do
Iraque.
Tina começa a trabalhar com cinema, Bette
dona de casa, Jenny vai trabalhar como gar-
çonete no The Planet
11’10” Billie Pessoas como nós que mudaram seus corpos para combinar com
suas mentes e alguns que mudaram suas mentes para combinar com os corpos.
13’34”- Acho que é um pouco prematuro por parte das lésbicas presumir que toda
mulher forte, articulada, seja automoticamente sapatão.
3x05 - Lifeline (A Linha da Vida)
Dana pega os resultados da bi-
ópsia; Alice conhece Uta, uma
lésbica vampiro, no encontro
de bissexuais. Bette descobre
uma coisa perturbadora na sala
de bate-papo on-line de Tina.
Cherie aparece na WAX. Jenny
é informada que uma editora
está interessada no seu traba-
lho. Ao mesmo tempo, procura
dar apoio na transição de Moira
para Max.
Moira tenta emprego na Intechmode. Cherie
volta separada. Alice conhece UTAREFSON,
vampiróloga. Moira passa a se chamar Max.
Dylan beija Helena. Tina na pegação ht na
internet.
45’- Alice e Uta
(Amarrada)
47’30” Dana e
Lara
56’Cherie e Sha-
ne (dentro e fora
da piscina, com
pinto de borra-
cha)
“EU NÃO ME ENCAIXO”- fala recorrente de Moira que usa pinto nas calças e faixa no
peito.
25’ Entrevistador - Então, não tinha problemas por ser...Sabe, difícil de classificar? (...)
Não se encaixa em nenhuma categoria, Moira, se é que me entende. Não quero
dizer que a discriminaríamos porque é uma das coisas que não fazemos na Intechmo-
de, mas estamos procurando alguém que trabalhe em equipe.
Moira – Sim, eu trabalho em equipe.
Entrevistador E de que lado joga, Moira? Estou brincando. Desculpe. Era boa de-
mais para resistir.
TEMPORADA 3
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
3x06 - Lifesize (Tamanho Real)
Tina continua lutando contra
a atração que sente pelos ho-
mens. Kit aceita a paquera de
Angus. As garotas correm para
o hospital para ficar ao lado de
Dana. Jenny continua a analisar
como publicar seu trabalho. Moi-
ra descobre que existe um cami-
nho mais curto para conseguir
hormônios masculinos.
amizade, legislação
(não ser da família
por não poder ca-
sar), gostar de mu-
lher HT, câncer de
mama
Pais mentem para Dana e mandam Lara ir
embora do hospital. Shane e Carmem bri-
gam porque Shane transou com Cherie. To-
dos ficam sabendo da gravidade do estado
de Dana.
35’20” Helena e
Dylan (no escritó-
rio)
Billie chupa o pin-
to de borracha de
Max
Angus e Kit
29’ Dr. Shapiro – Acho que não posso compartilhar essa informação com você.
Lara – Do que está falando? Por que não?
Dr. Shapiro – Porque, tecnicamente, não é parente de Dana.
Lara – Sou companheira dela. Ela lhe disse isso.
Dr. Shapiro – Infelizmente, por lei, só posso divulgar informação médica para a famí-
lia.
31’ (pais de Dana) Pode ir embora. Assumimos a partir de agora.
45’ (Moira/Max explicando a transa com Billie) Max Ele me fez sentir como um
homem de verdade, sabe? Não só uma garota com uma coisa dentro das calças.
3x07 - Lone Star (Estrela Solitária)
Jenny injeta hormônios em Moi-
ra. Dana passa pela quimiotera-
pia e grita com Lara. Shane e
Carmen fazem tatuagens combi-
nadas. Desesperadamente, Ali-
ce procura pela boneca de pa-
pelão de Dana. A banda B’52’s
sobem ao palco do The Planet.
Kit despede Billie, e Tina dá mais
um passo na direção de Josh.
B-52´s
Jenny injeta hormônio em Max, Dana come-
ça quimio, Uta termina com Alice, Max beija
Billie, Dana rompe com Lara
5’45” - Jenny e
Max
34’ - Shane e Car-
men
Max e Billie (Max
come com pinto
de borracha)
21’ Carmen Só está com ciúmes porque meu bem e eu somos duas estrelas de ouro
unidas.
Kit – O que é uma estrela de ouro?
Bette – É alguém que é gay e nunca fez sexo com pessoa do sexo oposto.
Carmen – É, pessoas que batem xoxota com xoxota.
Jenny – Posso ser uma estrela de ouro mesmo se já dormi com homem?
Shane – Jen, você é uma estrela judia.
Carmen – Sim, e eu uma estrela de ouro latina.
Tina, coberta de moedas douradas ciganas.
Bette – Quantas estrelas de ouro temos aqui?
Alice – Helena, você é uma estrela de ouro?
Helena – Bem, mais ou menos. Os meninos da escola pública inglesa com quem fiz
sexo foram só experimentos e eram tão afeminados que não conta.
39’ Max Sempre me senti desconfortável neste corpo. Então, resolvi fazer a transição
de mulher para homem.
3x08 - Latecomer (Apoio e Meditação)
Moira comunica a todo mundo
que quer ser chamada de Max.
Nona Hendryx ajuda Kit. Hele-
na leva Dana e as garotas a um
jogo de basquete. Jenny quer
dar uma festa beneficente para
Max. Tina sai da cama de Bet-
te. Dana muda o visual.
Hormônios mu-
dam corpo e per-
sonalidade de Max
Cabelo de Dana começa a cair, Bette e Tina
se separam ainda na mesma casa, Dana raspa
a cabeça, Kit começa a gravar cd, Bette vai
meditar, Max começa a ficar agressivo com
jeito de machão, Max faz xixi no banheiro
masculino, Helena leva todos num jato para
o jogo de basquete, Homenagem para Dana
no jogo
30’ - Helena e
Dylan Noreland
33’29” Helena e
Dylan (casa de
Helena)
39’41” Helena e
Dylan
Música Bette e Kit “Irmãs, de uma irmã do funk para a outra. Tudo se resume
a transformação, se resume a mudança. É algo que a mulher conhece. Cons-
tante mudança é a única constante. Sangramos e não morremos. Transpira-
mos quando está 10 fora. Guerreamos lado a lado na batalha. É coisa de ir-
mãs. É coisa de mulher e estamos nos encontrando, estamos nos organizando.
Irmãs, tudo se resume a transformação. Change your mind, change your skin
Transformations, variations, alternations
TEMPORADA 3
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
3x09 - Lead, Follow or Get Out of the Way (Liderar, Seguir ou Sair do Caminho)
Dana conhece a Dra. Susan
Love e parece entrar em recupe-
ração. Carmen conta tudo para
a sua família. Helena é processa-
da. Jenny procura um grupo de
apoio a transexuais de gênero
feminino para masculino para
lidar com Max. Bette continua
lutando na busca de paz inte-
rior.
Comportamento de Max agressivo e machis-
ta, Festa para arrecadar fundo para Max tirar
peito onde casais se vestem utilizando várias
possibilidades de gênero, Tina fica com Mi-
key, Dylan Moreland ameaça Helena de pro-
cesso por assédio sexual, Dana tem infecção
e vai para hospital, Kit se recusa a se casar
porque não quer participar de um sistema
que discrimina seus amigos
51’ - Tina e Mikey
8’44” Max – Não entende? Nunca me senti confortável no corpo de mulher.
Kit – Então, retirar os seios e transformar-se em um homem vai resolver todos os seus
problemas?
Max – Não, sei que não é assim, mas as pessoas começarão a me ver pelo que sou.
Kit Fico triste ao ver tantas de nossas mulheres fortes e másculas desistindo de ser
mulher para virar homem. Estamos perdendo nossas guerreiras, nossas melhores
mulheres, e não quero perdê-la.
Max – Não estou acompanhando um modismo.
Kit E se vivesse a minha vida sentindo que sou branca e, um dia, acordasse e pu-
desse mudar a cor da minha pele e os traços do rosto para virar branca? Você me
encorajaria a fazer isso?
Max – Não sei. Você se sente branca por dentro?
Kit – O que é “ser branca por dentro”? O que é “ser mulher por dentro”? Por que não
pode ser a maior máscula do mundo e manter seu corpo?
Max – Porque quero sentir-me inteiro. Quero que o que sou por fora combine com o
que sou por dentro.
Kit – Vai estar abrindo mão da coisa mais preciosa do mundo.
Max – O quê? Minhas tetas?
Kit – não. Ser mulher.
37’53” Mãe da Carmen – Melhor puta que lésbica
3x10 - Losing the Light (Perdendo a Luz)
Alice fica ao lado de Dana quan-
do seu estado de saúde piora.
Carmen tem uma atitude ines-
perada com Shane. Apesar das
tentativas, não é fácil para Bette
achar a paz interior. Lara liga
da França à procura de Dana.
Jenny encontra-se com o ex-
marido Tim e o apresenta para
Max. Peggy Peabody voa para
salvar Helena e as amigas. Tina
se acerta com Henry.
PEPSi
tempo passa em relação ao episódio anterior
, Dana está no hospital há 5 dias, Tim Haspel
volta casado com a mulher grávida. Todas as
ex de Dana aparecem no episódio. Episódio
acompanha a hora dos acontecimentos, a
hora pontua o seriado. Dana morre, sequ-
ências paralelas do que cada amiga fazia na
hora da morte
37´30” Carmen e
Shane
45’59” Shane e
Carmen
3x11 - Last Dance (A Última Dança)
Alice rouba um pouco das cinzas
de Danna. Bette considera lutar
pela custódia exclusiva de Angé-
lica. Lara chega tarde demais em
casa. Max acha um trabalho no
qual Moira não foi aceita.
disputa de guarda
de criança, pre-
conceito racial
episódio abre sem vinheta (antes passam ce-
nas da vida de Dana, fade e música lenta.
Culto para Dana, que foi cremada. Discurso
como se ela fosse ht. Amigas gays isoladas e
não são convidadas para ir a casa dos pais.
Alice rouba as cinzas de Dana. Max se candi-
data a emprego como homem e consegue.
Dylan vai a casa de Helena e devolve fita e di-
nheiro, Dylan em conflito com a sexualidade,
Shane pede Carmen em casamento. Todas
contam como conheceram Dana em cenas
de flashbacks divertidas. A Juíza que vai casar
Shane e a Carmen é a que foi assediada por
Teri nos prefácios anteriores.
TEMPORADA 3
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
3x12 - Left Hand of the Goddess (A Mão Esquerda da Deusa)
As garotas fazem planos para o
casamento de Shane e Carmen,
apesar de ainda sentirem a dor
pela perda de Dana. Shane vai
para Oregon encontrar o pai
com quem nao fala anos. Kit
descobre que está grávida. Bet-
te continua considerando ter
sozinha a custódia de Angélica e
para isso contrata Joyce Wisch-
nia como advogada. Jenny des-
cobre que a luta de Max para se
adaptar não é o que ela quer.
Música de sapas 2 god a she
ANTES NO THE L - mostra cenas não apenas
de episódio imediatamente anterior
Passam seis semanas (aparece escrito). Alice
no programa de rádio. Preparativos para o
casamento de Shane e Carmen, que será no
Canadá, onde é permitido. Shane vai ver o
pai Gabriel. Carmen veste de noiva. Kit está
grávida. Família de Carmen vai ao casamen-
to de surpresa e a mãe pede perdão. Pai da
Shane trai Carla com Paty. Shane não vai ao
casamento. Pai da Shane se manda com a
mulher. Peggy corta o dinheiro de Helena.
Peggy beija Marylin (Juiza), Bette rouba An-
gélica.
18’ (Alice no programa de rádio) - E o casamento, supostamente, nos liga, supõe-
se que reforce nosso caráter moral e tal. O que nos leva a perguntar porque esses
defensores da família, malucos e nojentos, acham que é ruim para os gays? Por que
não podem apenas nos desejar o melhor? Hipócritas. Porque vamos para o Cana-
dá, pessoal, gostem ou não, para apostar tudo nessa ligação. E se falharmos não
é porque somos menos saudáveis que vocês. Por favor. Vocês vêem falhando nisso
miseravelmente desde o começo dos tempos. E se tivermos sucesso e nossa ligação
amorosa florescer e houver um pouco menos de solidão no mundo eu posso come-
çar a acreditar em milagres.
23’ Todos os lugares deveriam ser destinos de viagens para gays. Nós nos limitamos
com esses estúpidos rótulos.
51’46” Max (para Jenny e a namoradinha)– Pessoal, é uma boate hétero. Vão deixar
as pessoas desconfortáveis.
TEMPORADA 4
4ª temporada – 12 episódios
Vinheta - novas personagens
Os prefácios da 4ª temporada estão centrados nos principais personagens da trama. Em geral, abrem com uma cena que Não se compreende imediatamente, para logo depois entender com quem e
o que se passa. No primeiro capítulo, por exemplo, Alice em seu programa de rádio pontua a vida de personagens, enquanto vê-se um corpo no fundo do mar, que é de Shane. Há espaço para acon-
tecimentos que virão ou que aconteceram, alguns apresentados em atmosfera de sonho. Existe, ainda, a apresentação de trechos de sonho, como o de Jenny com a cadela sounder. Parece que as
roteiristas optam, em boa parte dos prefácios, por trazer temas importantes nas pequenas histórias para a vida dos personagens e que serão a tônica do capítulo em questão, antecipando assim, sobre
qual delas recairá a luz naquele capítulo.
Prefácio: retrospectiva das personagens. Alice pontua pelo programa de rádio. Imagem de um
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
4x01 - Legend in the making (Lenda em construção)
Bette seqüestra Angelica até
que seja acertado um acordo
de guarda com Tina. Shane
abandona Carmen no altar e
fica totalmente perdida. Jenny
se encontra com Marina. A mãe
de Helena decide parar de sus-
tentá-la.
Transexual e o uso
ilegal de testoste-
rona, disputa pela
guarda de filhos
(Angélica), aborto,
menage a tròis.
Elas se tratam por família enquanto tentam achar
Bette. Bette tem um novo trabalho. Shane está
com Cherie em baladas de bebida e drogas. Rompi-
mento entre Max e Jenny (concluem que ele é ht e
ela lésbica). Kit encontra Bette. Helena sem dinhei-
ro vai morar com Alice. Papi aparece no sistema
solar de Carmen. Claude Mondrian vai ver Jenny.
Papi é o fenômeno do ourchart. Kit vai à clínica de
aborto, que é falsa. Shane tenta falar com Carmen.
Não consegue. Bate o carro bêbada. Marina reapa-
rece (fala de 1 coisa e é outra, como no caso Mel-
vin) na noite de comemorar o sucesso de Jenny.
Carla, ex-mulher do pai de Shane, deixa Shay na
casa dela e vai embora.
33’46” - Jenny e
Claude
33’50” (sadôma-
sô)
46’40” - Marina,
Claude e Jenny
(Jenny pula fora)
4x02 - Living la vida loca (Vivendo ‘la vida loca’)
Bette se adapta ao novo empre-
go na universidade e tem uma
nova e determinada chefa (Cy-
bill Shepherd). O livro de Jenny
recebe uma crítica arrasadora.
Tina precisa despedir Helena,
deixando-a sem ter para onde
ir, então Helena aceita a oferta
de Alice para dividir seu aparta-
mento.
indústria do cine-
ma (hollywood),
preconceito em
relação a HT´s,
mulher madura
revendo a vida e
pensando no que
não viveu.
Prefácio: Alice em sonho como se todos dissessem
que são papi, várias caras e sexos.
Papi “pega” Alice. Shane tenta achar o pai. Novo
emprego de Bette como diretora da Universidade
da Califórnia. Max começa a namorar Brooke, filha
do chefe que nao sabe que ele é trans. Jenny se
abre com a repórter Stacey Merkin (repórter da Cur-
ve, referência a uma das mais importante revistas
para o público lésbico americano. Papi “pega He-
lena. Phyllis se abre com Bette sobre sua sexualida-
de. Shay, 9 anos, foge.
35’25” Papi e Ali-
ce ( na limousine
que vira cama)
4x03 - Lassoed (No laço)
Bette se envolve um relaciona-
mento impróprio com uma assis-
tente, e sua chefa Phyllis sai do
armário. Jenny tenta descobrir
podres para se vingar da jornalis-
ta que criticou seu livro. Tina
uma festa. Shane contrata Hele-
na para trabalhar no WAX.
Nádia dá em cima de Bette. Shane consegue ma-
tricular Shay. Helena desempregada. Bette e Tina
voltam à boa convivência. Angus vai gravar cd.
Tina faz jantar e não convida Max. No jantar: ht´s
olham as lésbicas estranhando.. Phyllis Krohl vai a
festa no The Planet sair do armário para ela mes-
ma. Jogo ht´s x homo´s- hts mostram entender
de esportes. Caras tiram Angus da banda. Nádia e
Bette se beijam.
24’53” Alice - Graças a Deus existe meu planetinha lésbico
TEMPORADA 4
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
4x04 - Layup (Na cesta)
Bette lida com uma artista (Mar-
lee Matlin), cujo trabalho é politi-
camente incendiário e teme um
desastre no relacionamento en-
tre Phyllis e Alice. Tina é rejeita
por suas amigas em um jogo de
basquete, mas acabam permitin-
do que ela fique na equipe.
Após a primeira transe, Phyllis passa a olhar as mu-
lheres diferente. Jenny marca consulta com Scolt
com o nome de Debbie. Max conta a Brooke que
é trans e leva um fora. Phyllis está apaixonada por
Alice. Shane conhece Paige na escola de Shay. Ha-
zel em cima de Angus. Jogo de basquete das
meninas. Polêmica por causa da ida de Tina ao
basquete lésbico. Shay quebra o braço. Shane faz
comercial da cueca Hugo Boss para pagar o trata-
mento do menino. 4 temporada OurChart criado
no mesmo layout do verdadeiro, Alice começa a
postar entrevistas.
4’ Alice e Phyllis
(sequência do pre-
fácio)
(Polêmica porque Tina vai ao basquete lésbico) 40’20”- Tina “... ainda me sinto
lésbica”.
Jenny – Sim, mas quando anda na rua com seu namorado, pegando na mão
dele, curtindo seus privilégios heterossexuais, deixa de ser lésbica.
Helena – Nào sei, mas se Tina quer se identificar como lésbica, não é escolha
dela?
Alice – Por que não é então bissexual?
Tina – Na verdade, acho que ser lésbica é uma identidade política.
Jenny Não, não é. Não tem a ver em que você vota. Tem a ver com quem
você transa.
4x05 - Lez Girls (Lez Girls)
O caso entre Bette e sua assis-
tente ameaça sua nova carreira.
Alice termina com Phyllis após
conhecer o marido desta. Tina
flagra Angus com sua babá Ha-
zel. Jenny publica um conto no
The New Yorker que enfurece
Alice.
Sair do armário de-
pois de mais velha,
relação entre ida-
des diferentes.
Helena faz o buffet de Phyllis. Tina e o namorado
flagram Hazel e Angus. Tina conta para Bette so-
bre Angus. New Yorker publica artigo falando sobre
cada uma das personalidades de Lez Girls do livro
da Jenny. Jesse, Tod, Bev, Nina, Elise. Paige dá em
cima de Shane. Alice conhece o marido de Phyllis.
Bette e Jody fumam maconha e rola um clima. Ali-
ce rompe com Phyllis. Papi apresenta Tasha
31’03” Jennyedição de ficção da The New Yorker. É óbvio que realmente é
um trabalho de ficção. Alice – Ah, issoé bobagem. Você não leu essa “história”?
Shane – Evidentemente que não. Jenny – Você leu. Diga a ela.M(?) – Sim, eu
li. Bem, ela diz que não é você. Jenny – Não é. Extrato da minha vida – e uso
minhas amigas e minhas experiências como inspiração, mas no final de tudo
é ficção. Alice Certo. Certo. Sim, tem uma personagem chamada Shaun,
Shane, e ela é uma maquiadora? Certo? Correto? Sim, e ela dorme com vá-
rias garotas. Shane Nada mal. Jenny Ei, Alice, sabe tem uma coisa louca
que acontece quando você escreve. Como escritora.AliceEspere, isso é uma
XXX?? Jenny Sim. Alice De Jenny Schecter? XXX deixa-me pegar uma
caneta e papel também. JennyEntão o que acontece quando você escreve
é que você extrai da própria vida. E depois você pega essas experiêncis e usa
algo chamado imaginação, Alice. Alice Ah, imaginação. Jenny Sim. Ali-
ce Ah, então era o que estava faltando a você quando mal mudou nossos
nomes, heim? Jenny um momento. Vocês ouviram isso? Ah, meu deus
é Monet. Monet ressuscitou dos mortos e quer que eu te dê essa mensagem.
Ele disse: sinto muito por sentar de frente ao meu lago na França e desenhar
aqueles lírios-d’água e usar os lírios d’água como inspiração real. Desculpe pela
ofensa, Alice. Alice – Certo. Ah, ele está falando comigo. Estranho (...) ele disse
para você nunca se comparar a ele.
4x06 - Luck be a lady (A sorte de ser mulher)
Bette curte seu novo romance,
mesmo em meio a desentendi-
mentos com TIna sobre a escola
de Angélica e ouve as confidên-
cias de Alice e Phyllis depois que
terminaram. Helena, Shane e
Alice aprendem a jogar pôquer.
crítica à guerra do
Iraque, preconcei-
to em relação á
mulher e ao trans
no trabalho.
Vários quadros, conversas paralelas por telefone.
Bette e Tina brigam por causa da escola de An-
gélica. Bette dá uma dura em Angus por causa de
Hazel. Mulheres brigas por causa de Papi. Jenny
consegue viajar com a namorada de Stacey. Stacey
flagra Lindsey e Jenny. Max se assume trans no
trabalho para defender Megan. Catherine Rothberg
conhece Helena na festa. Shane sai da festa para
casa de Paige. Helena joga pôquer. Alice e Tasha
iniciam romance e encontram Phyllis que anuncia o
divórcio. Megan não é promovida.
24’42” - Bette e
Jodi (na instala-
ção)
TEMPORADA 4
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
4x07 - Lesson number one (Lição número 1)
O conto de Jenny sobre suas
amigas desperta o interesse de
Hollywood. Helena luta para pa-
gar suas dívidas de jogo. A nova
namorada de Alice tem flashba-
cks da guerra no Iraque. Bette
e sua nova namorada consolam
Phyllis.
ind. do cinema,
ficção x realidade
(meninas putas
com Lez Girls), mu-
lheres no exército.
Shane e Paige são chamadas na escola por causa
das meninos que sofrem preconceito por elas serem
gays. Dono da Shaolim quer comprar os direitos de
Lez Girls. OurChart começa a valer dinheiro e a fi-
car sofisticado. Max começa a trabalhar com Alice.
Alice vai ao exército ver Tasha. Helena Vai a casa
de Catherine pagar a aposta. Paige e Shane vão
falar sobre homossexualidade e tolerãncia para pais
e alunos colegas dos meninos (jared e shay).
5’35” Jodi e Bette
(acordando)
48’ Paige e Shane
(sala)
26’20”- Alice – ela virou heterossexual e isso é uma traição.
Papi – Lutamos para não ser julgadas por causa de quem transamos e é exata-
mente o que estão fazendo com a Tina.
28’ Jenny – É um livro sobre relacionamento de pessoas.
Tina Jenny, o cinema atinge um público enorme. Pode fazer uma grande
diferença. Uma adolescente no meio oeste que tem medo de sair do armário.
Ela poderia ver seu filme. Isso poderia mudar a vida dela. Poderia mexer com
as pessoas.
4x08 - Lexington and Concord (Lexington e Concord)
A vingança de Jenny contra a
jornalista que a criticou sai pela
culatra em frente a seus agentes.
Alice e Tasha discordam sobre
a guerra no Iraque, mas se en-
tendem em termos de romance.
Tina conhece a nova namorada
de Bette. Kit desabafa em públi-
co sobre a traição de Angus.
relação aberta
(Bette não
conta), ciúme, al-
coolismo, relações
de dominação (Ca-
therine e Helena)
Bette e Tina falam que se amam. Jodi chega e
Tina a conhece. Helena está envolvida com o jogo
e com a misteriosa Catherine. Grace é a nova esta-
giária do OurChart. Kit dá um show com Angus no
palco. Kit chapa o melão. Papi leva Kit para a farra.
Kit não gosta de sexo com mulheres. Kit acorda no
ressacão. O pai de Shane e Shay aparecem.
18’40” Shane e
Paige (carro)
21’45” Shane e
Paige
25’13” Shane e
Paige
37’ Catherine e
Helena
38’20” Alice e
Tasha (mesa)
40’30” Papi e Kit
(só começo)
4’43” (Tina para Bette) - Tenho saudades de estar rodeada por mulheres e de
me sentir parte de uma coisa secreta e especial. 6’47” Tina - Não quero ser
chamada de nada, minha sexualidade flui
4x09 - Lacy lilting lyrics (Diferenças criativas)
Tina e Jenny têm diferenças
criativas sobre a condução do
filme. Alice e suas amigas con-
solam o inconsolável marido de
Phyllis. A personalidade domi-
nante de Bette põe em perigo
seu relacionamento com Jodi.
Jenny inicia seleção para a direção do filme. Bette
flagra Jodi conversando com a ex Amy. Kit bebe.
Papi fica cantando Phyllis. Leonard, marido de
Phyllis, vai a casa de Alice. Phyllis chega também.
Gabriel leva Shay embora. Mãe de Max morre e
irmã pede que ele não vá. Shane sofre com a perda
de Shay. Outdoor de Shane está nas ruas. Marina
apresenta o musical Lez Girls
(Marina dançando com mulheres) - Texto da “música” Ágeis, sedutoras devas-
sas, maliciosas, o amor está no ar. Talvez não um amor a que estamos acos-
tumados, mas esse é um amor que abrirá suas mentes, tocará seus corações,
alternará seu mundo.
23’30”(Leonard para Alice e demais meninas) Como a transformou em uma
lésbica? O que vocês, senhoras, podem fazer com uma mulher que eu não
possa? Me expliquem qual é o grande segredo.
Alice- Leonard, não é o sexo. É muito mais que isso.
4x10 - Little boy blue (Tristezas e fossas)
Kit volta a beber apesar de An-
gus tentar pedir perdão por sua
infidelidade. Alice encontra in-
vestidores para seu blog. Jenny
encontra a pessoa ideal para di-
rigir seu filme. A personalidade
controladora de Bette deixa-a
em má situação.
volta de Max fa-
mília x trans, falta
de grana, dor de
cotovelo, jogos,
exército x homos-
sexualidade, ciú-
me, acoolismo
Max vai à casa dos pais. Cara do exército Tasha
na corrida de cavalo com as meninas. Bette prepa-
ra jantar. Enterro de Fiona Sweeney (mãe de Max)
Kit vai beber no jantar, e Bette briga. Bette e Jodi
brigam. Max é expulso pelo pai e pela irmã. Jenny
escolhe Kate como diretora. Pai procura Max e li-
bera para velório disfarçado, é apresentado como
filho de uma prima.
1’22” Catherine
brinca de corrida
de cavalo em He-
lena.
2’30’ volta a
cena?
26’45” Catherine
e Helena (no ca-
marote do hokey,
parede de vidro).
Kate Arden (diretora p/Jenny) – Sua história me tocou muito porque eu pensei:
sou eu, são pessoas que conheço, com quem fui para a cama. Sabe, não gosto
de mentira. Não estou interessada em deixar as pessoas confortáveis. Sabe?
Quero fazer filmes que digam algo.
TEMPORADA 4
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
4x11 - Literally license to kill (Licença literária para matar)
Os contos de Jenny perturbam
Bette, que está prestes a perder
Jodi para um trabalho na costa
leste. Os flashbacks da luta no
Iraque assombram Tasha, a na-
morada de Alice, que recebeu
ordens de seu comandante para
ocultar sua opção sexual.
Preconceito no tra-
balho, Max cede o
corpo de mulher
para Grace
Shane alerta que Catherine é uma armadilha. Jodi
decide ir embora para NYC. Max pede demissão.
Leonard tenta a volta de Phyllis. Tina separa do na-
morado. Jodi se despede da universidade, e Bette
chega atrasada. Shane finge esquecer o niver da
Paige e faz surpresa. Bette chora as mágoas com
Tina. Tasha comunica que, em duas semanas, vol-
tará para o Iraque.
26’34” Max e Gra-
ce
6’42” (Phyllis lendo o livro) ”A sexualmente predatória e emocionalmente abusi-
va “Bev”, que usa seu status profissional para dormir com toda garota e mulher
que cruza seu caminho.
18’31”(Tina para Bette) – Veja, não é você. É uma personagem. Somente uma
personagem. Não é você.
4x12 - Long time coming (Partidas e desencontros)
Tina volta à vida lésbica, en-
quanto Bette lhe pede conse-
lhos sobre como conseguir Jodi
de volta. O relacionamento de
Shane com uma mãe solteira
torna-se sério. Tasha precisa vol-
tar para o Iraque. Phyllis decide
se divorciar. Jenny pode ser des-
pedida do seu próprio filme.
Tina ajuda Bette a reconciliar com Jodi. Jenny vai
a reunião mesmo com a mentira de Tina. Bette,
Tina e Shane vão roubar a placa para Jodi. Max
começa a ter dúvidas sobre retirar o peito. Shane
começa a falar de família. Shane olha casa para alu-
gar para morar com Paige. Catherine que obrigar
Helena a ir a um jogo. “Fantasma” de Dana manda
Alice para a despedida de Tasha. Jenny é demitida
do próprio filme. A negra do prefácio canta na praia,
na despedida de Tasha. Helena rouba o dinheiro de
Catherine. Jenny vai navegar com landeur. Alice
vai à despedida. Jenny acorda no bote no meio da
água. O cachorro dela está na praia. Bette chega
com a escultura para Jodi. Tasha e Alice abraçadas.
Fim da 4ª temporada.
39’20” Shane e
Paige (com cenas
paralelas de vida
doméstica ameri-
cana, décadas de
50/60)
29’50” - Alice - Não é Shane. É uma alienígena no corpo de Shane.
31’27” Vá sem mim. Podem me deixar. Salvem-se.
TEMPORADA 5
5ª temporada, 12 capitulos
Os prefácios da 5ª temporada são todos voltados para as gravações de Lez Girls. Acompanham o andamento da trama, No primeiro, por exemplo aparece Jenny ainda escrevendo o roteiro sob seu ponto
de vista. Há alguns muito engraçados como na 2 temporada em que o careca começa a brincar de misturar os casais. Shane e Bette. Tina e Shane. Bette e Shane. Bette e Jenny. Em alguns casos, a cena
do prefácio tem continuidade após a vinheta/vídeo de abertura. E também o que Alice tem sonhos com as filmagens pensa que elas são As Panteras, no terceiro episódio. Ela imagina que elas são As
Panteras. Alice, Helena e Shane. Bette era Charlie ( My name is Bev). O telephone tem adesivo gay. As armas são “gaydar”par ver se Jenny é gay. Ao apontarem para Jenny, dá: confuso. Outros mostram
o making of de Lez Girls. Em alguns, mostra Jenny mudando os fatos da vida real (Bette, tina e Candance) deixar seu desejo sobre os acontecimentos no filme.
A temporada gira muito em torno das gravações do Lez Girls, tem cenas cômicas (Shane fugindo das mulheres no casamento) e a reunião de mafiosas no SheBAr.
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
5X01 – LGB Tease (Provocaçao GLS)
Shane abandona os planos de
morar com Paige, e depois so-
fre as consequências, enquanto
Jenny volta das férias no Méxi-
co com um bilionário a tiraco-
lo para financiar seu filme.
Phyllis repentinamente fica em
dúvida sobre a exclusividade
em seu romance com Joyce.
Assumir-se mais
velha (podcast
de Phyllis), tran-
sexual, sexo na
terceira idade.
Jenny notícias por postal. Shane trai Paige. Jenny volta por
cima reescreveu Lez Girls. Jenny vira diretora do filme (afetada
e ditadora) . Phyllis fica com Joyce. Bette demonstra recaída por
Tina. Tina, Alice e Shane visitam Helena na cadeia. Shane vai ao
bar cobrar as promessas de Shane, tenta ficar com ela e leva um
fora. Jodi chega. Salão de Shane pega fogo. Shane poupa Paige
(não registra queixa do incêndio criminoso). Tasha volta de surpre-
sa. Alice está de vento em popa com o Alice na Lesbolândia”,
podcats no OUrChart. Diz que é para lésbicas, gays e simpatizan-
tes, mas não gosta da explicação de Max sobre trans.
18’50” Shane a
corretora (no chão
do quarto, traindo
Paige)
48’ Jodi e Bette
(Bette vendada,
preliminares)
52’Tasha e Alice
(sala)
5X02 – Look Out, Here They Come (Atenção, elas estão chegando)
A afeição óbvia e persisten-
te de Tina por Bette afeta as
perspectivas de seus encontros;
Shane salva no último minuto
os cabelos das participantes de
uma cerimônia de casamento,
o que leva a uma série cômica
de encontros eróticos. Tasha
revela o motivo pelo qual não
foi enviada ao Iraque: ela está
sendo investigada por conduta
homossexual.
homofobia exér-
cito, mulheres
heteros curiosas
com sexo lésbi-
co, gangues em
presídios.
Shane vai arrumar cabelos num casamento. Tina tenta conhecer
alguém (Denise).Tom, assistente de Jodi, acha que Max é gay e se
interessa por ele. Shane come a noiva. Bette e Alice contam para
Tom que Max é trans. Adele conhece Jenny no The Planet. Phyllis
termina com Jyce. Adele começa a trabalhar para Jenny. Dusty,
colega de cela de Helena, protege-a. Mulheres assediam Shane
no casamento. Adele puxa o saco de Jenny. Hasley, a mãe da noi-
va, também seduz Shane. Filhas ouvem gritos e flagram mãe com
Shane. Shane foge no carro de Jenny e as três correm atrás.
11’57” Shane e a
noiva
17’57” Shane e
a irmã da noiva
(Gina)
43’45”- Helena e
Dusty ( na cela)
47’ Shane e Hasley
5X03 – Lady Of The Lake (A dama do lago)
Shane entra em jejum de sexo
e procura desfrutar dos benefí-
cios para a sua saúde com nova
energia e novo foco. As tenta-
tivas de Tina no sentido de
encontrar alguém finalmente
dão resultado; Max analisa uma
atração mútua pelo intérprete
de Jodi; assaltantes entram no
The Planet e Kit é atacada de-
pois do expediente.
vida na prisão,
transexualidade,
homofobia no
exército, pre-
conceito entre
LGBTs (Alice x
Max).
Shane malha para ficar longe de sexo. Alice entrevista Jodi para
o OurChart. Beech resolve defender Tasha mas propõe negarem
tudo. Peabody vai tirar Helena da cadeia. Bette tem problemas
com os amigos de Jody. Shane medita para se livrar de sexo. Kit
é assaltada. Tina são com Brenda. Helena sai da cadeia (Os Pe-
abody não vão para a cadeia, vão para a Europa). Helena foge
da mãe, pega o dinheiro que roubou de Catherine, tira Dusty da
cadeia e some. (segredo contado apenas para Shane)
41’45”- Tina e Bren-
da (sofá da sala
43’34”)
18’47”(Tasha para Beech) Eu nunca “decidi” me tornar lésbica, mas
eu “decidi” entrar para o exército.
TEMPORADA 5
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
5X04 – Lookin’ At You, Kid (Vamos começar essa festa)
O ciúme de Bette em relação
à nova namorada de Tina é
a causa provável de um mo-
mento surpreendente; a mais
recente Bondgirl quer o papel
principal no filme de Jenny; a
turma comparece à inaugura-
ção de um novo clube lésbico,
o SheBar, que compete com
The Planet.
gays enrustidos
e com facha-
da homofobia,
defesa pessoal,
gravação não
autorizada, Cita
fatos reais como
Colombine, Vir-
gine Atack; Our-
Chart como no
real.
Max faz pod. Alice que deixar em espaço separado. Militares pro-
curam Alice para interrogá-la. Alice apaga o gráfico. Shane joga
videogames para substituir sexo. Shane começa a ver as funcio-
nárias do The Planet peladas (síndrome de abstinência). Mulher
de Curtz Beech o convence de defender Tasha. Tasha e Alice vão
a festa gay fechada. SheBar é inaugurado. Niki vai ao SheBAr, ar-
mado por Adele,e se insinua para Jenny. Alice grava Daryl Bore ,
defensor de NBA, na festa. Adele espia Niki e Jenny.
42’21” Shane,
Dawn Deebo e
Cindi
44’10”- Shane,
Dawn e Cindi
5X05 – Lookin’ At You, Kid (Olhando para você)
Jenny uma festa suntuosa
para apresentar suas amigas
às atrizes que as interpretam
em “Lez Girls”, causando tanto
satisfação quanto desagrados;
Bette e Tina tentam lidar com
o que é claramente um reaviva-
mento dos sentimentos de am-
bas; Alice, irritada, divulga que
um esportista famoso é gay
depois que ele fez declarações
homofóbicas. Tal atitude causa
uma tempestade na mídia.
Baryl Brewer mete o pau em gay na tv e Alice assiste. Niki conta
a Shane que sua garato a traiu com uma drag. Shane faz bolo
de maconha para a festa do elenco. Max pega mentira de Adele.
Alice faz um post entregando Daryl. SheBAr iniciar concorrência
ao The Planet. Tv’s repercutem post de Alice – 500 mil acessos ao
Youtube nas primeiras duas horas. Max tenta alertar Jenny em re-
lação a Adele. Aliceentrevista em rede nacional sobre o post e
é questionada eticamente. Jennya festa em que personagens
encontram personagens. Bette fica puta na festa, tem ciúmes de
Jodi e vai embora. Todas comem bolo de maconha e a festa bom-
ba! Dawn e Cindi chegam à festa e fazem ameaças. Jenny e Niki
encenam Jenny e Karina se conhecendo. Jenny e Niki vão tran-
sar no armário. Todas vão para a piscina de Bette. Adele vê Niki e
Jenny transando. Jodi leva Tina bêbada para dormir no sofá de
Bette.
17’ Shane e Cindi
49”Jenny e Niki
(no armário)
Prefácio Nina Eu acho que nós vamos fazer algo muito impor-
tante.
29`54”(Bette para Jodi ) Jenny pode fazer o que quiser com o
seu filme estúpido. Estou completamente desapegada da noção de
que tem qualquer coisa a ver com minha vida. É ficção. Ficção.
(Bette para Isabella Perkins, que faz Bev) Não sabia que seria a
interpretação distorcida de Jenny sobre mim.
Isabella – Sim deve ser difíci para você ver a sua vida e seus relacio-
namentos examinados.
Bette – Tudo bem, é ficção.
sabella – É tão importante para as atrizes saberem as verdades. Eu
tinha esperança de que me ajudasse com os acertos.
Bette – Os acertos?
Isabella Posso ver que é uma mulher incrivelmente apaixonada
e realizada. Você deu duro para ser quem você é. Você é corajosa
e comprometida na sua visão e o jeito que leva a vida. E você tem
um casamento maravilhoso com uma doce e genuína parceira.
Algo está errado. Por quê? O que há em Bev que procura sabotar
tudo que ela construiu? E porque ela traiu com a encanadora?
Bette Ela diz seguramente que as idiotices da Jenny são base-
adas em mim e minha vida . (...) eu não posso responder a porra
de sua pergunta . Sabe por quê? Porque não sou eu. Não sou eu.
Além disso, estou francamente indignada. Estou indiganada que
ela tenha escalado uma atriz branca. Ela é branca. A porra da Mary
Poppins não estava disponível? O que diabos ela sabe sobre minha
vida? O que ela pode saber?
Isabelle – Ela é negra?
32’22” (Bette para Tina ) Sabe de uma coisa? Ela não estava
errada. Eu ainda não tenho respostas para nenhum dos “porquês”.
Não tenho.
46’27”- Niki – Nós vamos transar no armário.
Jenny - A ironia não me escapou.
TEMPORADA 5
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
5X06 – Lights! Camera! Action! (Luzes! Câmera! Ação!)
A produção de “Lez Girls” final-
mente é iniciada e a diretora
Jenny tem que lidar com os
problemas costumeiros de uma
filmagem... incluindo uma re-
calcitrante estrela e amante:
Niki, Bette e Tina lutam com a
chama reavivada entre elas; as
proprietárias do SheBar levam a
guerra contra as garotas para o
próximo nível de ataque.
Shane tenta fazer as pazes com Deebo. Deebo pede cenas no
filme e ameaça. Tina vai a casa de Bette e a agarra. Jenny repa-
gina Adele com verba do filme. Alice chora a separação de Tasha.
Ratos aparecem no The Planet que é fechado. Kit faz aula de tiro.
Festa lésbica na casa de Phyllis com sapas mais velhas. Molly che-
ga. Bette sai da festa com Tina. Phyllis chama Molly para conhe-
cer Bette e Jodi. Jodi se demite por causa de aluno com arma.
Começam as filmagens. Jenny e Niki transam com microfones, o
áudio vaza e todos do set escutam. Adele resolve a situação. Alice
faz post sobre Lez Girls. Dawn tenta melar o filme. Adele corta o
cabelo = a Jenny. A mentira do cabelo é descoberta.
12’27”- Tina e Bet-
te (cama, Tina co-
manda 13’59”)
32’14”- Tina e Bet-
te (34’35”)
45’20”Jenny e Niki
(trailler)
9’27” Alice para Tasha – Não. Eles querem que eu seja assumida e
extravagante. Eu não sei se eu quero ser gay para o mundo todo.
5X07 – Lesbians Gone Wild (Lésbicas selvagens)
Tasha conhece a Coronel Gillian
Davis, uma advogada militar
durona que cuidará da acusa-
ção em seu caso. De volta ao
set de filmagem de “Lez Girls”,
Bette e Tina vivem um mo-
mento apaixonado e clandes-
tino nos bastidores, enquanto
Adele convence Niki Stevens a
faltar ao trabalho para ir parti-
cipar de uma luta na lama no
SheBar.
Alice participa do The Look. Bette fica de babá de Molly para
mostrar que lésbicas são respeitáveis. Alice entra no clima de fo-
foca do programa e revela Niki como lésbica. O empresário vai ao
set reclamar. Bette, Molly e Kit visitam o set. Tina leva Bette ao
quarto de Bev e Nina.A Alice é banida do set pelo que fez com
Niki. Adele arma para Niki querer ir ao SheBar. Niki sai achando
que tem tempo. Adele acusa Niki de sumir do set e ir ao SheBAr.
Niki participa da luta de óleo turca. Dawn liga para a imprensa. Kit
chama a polícia para o SheBar.Jenny luta com niki. Molly adora
a luta e entra na roda.Shane leva foras de Molly. Alice vai depor
para a promotora do caso de Tasha. Pessoal do programa diz que
quer Alice entregando o povo gay. Shane vai ao ringue. A polícia
chega. Enquanto isso, Adele está só, no set, na cadeia de Jenny.
24’50”Jenny e Niki
(meio fim)
33’10”Bette e Jodi
(34’10”)
5X08 – Lay Down The Law (Lidando com a lei)
A estrela Niki Stevens está em
ascensão em Hollywood com
a estréia de seu filme de ação.
Quando a fofoca de que Niki
pode ser lésbica ganha des-
taque, os agentes da atriz en-
tram em pânico. Enquanto isso,
Shane se envolve com Molly,
uma garota hétero. Jodi convi-
da todas para um jantar com
o objetivo de deixar Shane ao
lado de sua pretendida. Mas
para desespero de Bette, Jodi
também convida Tina que vem
acompanhada por Sam, da
produção de “Lez Girls” e sua
paquera do momento.
homofobia no
exército.
Shane diz a Jodi que gosta de Molly. Niki sai nas revistas de fofo-
cas. Empresário puto. Tina da idéia de que Niki tenha um falso
namorado. Cammie (Shawn) agarra Shane (Você sou eu!). Co-
meça o julgamento de Tasha. Molly muda tudo (cabelo, estudos e
dispensa Richard) Phyllis puta detona Shane por Não ter estudos.
Jenny fica de fora da estréia do lançamento do filme de Niki, que
vai com Greg. Adele entra. Molly beija Shane. Alice depõe no
julgamento e vira o jogo pois insinua revelar a Cap. Williams, pro-
motora do caso. Esta propõe um acordo para calar Alice. Tasha
escancara tudo no julgamento, beija Alice dentro do exército e
vai embora.
23’Phyllis – Graças a Deus que você não é lésbica.
49’ (Tasha no julgamento) Parece tão errado agora ter minha
liberdade pessoal negada a mim, no meu próprio País. Parece er-
rado assistir a pessoa que amo sendo interrogada como criminosa
quando não fez nada errado.
DAVIS A pessoa que você ama? A quem se refere, Cap. Willia-
ms?
Tasha - Alice Pieszecki, Coronel.
TEMPORADA 5
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
5X09 – Liquid Heat (Calor líquido)
Em meio a uma terrível onda
de calor em Los Angeles, Jenny
sente sua própria temperatura
subindo no set de filmagem
de “Lez Girls”. Após um rápido
mergulho na piscina, Jodi tenta
reavivar as chamas com Bette,
mas é rechaçada porque esta
prefere enfrentar o calor com
Tina. Shane convence Jenny
a acompanhá-la a um evento
das donas do SheBar, Dawn
Denbo e Cindi.
Preconceito de
Phyllis (Sö pq
é lesbica ou so
pela classe social
ou pelos dois?)
Jenny saca que Niki transou com Fallon. SheBAr propõe uma reu-
nião com as meninas. Jenny demite Fallon, mas Adele consegue
reverter. Bette recusa sexo com Jodi. Jenny pede a Adele que
marqueum encontro com Niki. Shane consola Jenny. Reuião no
SheBar tem ambientação de encontro de mafiosos. Alice chama
de “Família Soprano”. Rola um bate-boca. Bette um basta e
estabelece as negociações. Alice faz um podcast com Max e se
desculpa por ter sido preconceituosa. Molly leva Richard ao The
Planet. Apagão pára elevador de Bette e Tina. Molly chama Sha-
ne para protegê-la do apagão. Niki vai ver Jenny, mas é Adele.
Ela chega a beijá-la no escuro. Molly diz a Shane que quer tran-
sar. Max fica com Tom. Molly agarra Shane. Phyllis flagra Molly e
Shane
47’ Molly e Shane;
Jenny e Niki,
Tasha e Alice,
Tina e Bette (no
elevador),
Max e Tom,
Niki e Jenny,
Molly e Shane,
Alice e Tasha,
Molly e Shane,
Tasha e Alice
39’35”- Bette Tenho medo porque sou destrutiva, porque se te-
nho alguma coisa boa me vejo praticamente obrigada a destruir.
5X10 – Lifecycle (Ciclo de vida)
Quando as garotas se prepa-
ram para a Corrida da Subaru,
Tina percebe que Niki Stevens
está embarcando em algo mais
do que um passeio de bicicleta
com Jenny. Shane é seguida
por sua nova admiradora, ou
melhor dizendo, perseguidora:
Molly. Tina vive momentos deli-
cados ali entre Jodi e Bette.
traição, fantasia
sexual,
Adele observa Jenny e Niki transando pela sombra da barraca.
Meninas brincam de uma espécie de jogo da verdade. Alice fica
falando que Bette é uma grande traidora. Bette stressa, Jodi per-
gunta se ela a está traindo. Bette ri. Tina levanta. Jodi saca. JOdi
se tranca na barraca. Alice e Shane vão falar com Bette que con-
ta tudo. Tina diz a Kit que ama Tina. Jenny e Niki trocam juras de
amor. Adele a gravação da transa de Jenny e Niki. Bette chora.
Meninas voltam de bicicleta.
33’ Sexo Jenny
e Niki (brincando
com acessórios, câ-
meras, pintos, )
36’10” Jenny e
Niki (tudo sendo fil-
mado)
5X11 – Lunar cycle (Ciclo lunar)
Adele choca os produtores de
“Lez Girls” quando reúne todos
para expor um vídeo de sexo ar-
dente entre a diretora do filme
e a atriz principal. Com a repu-
tação do filme em jogo, ela in-
forma aos presentes o que quer
com sua chantagem. Jodi pede
respostas a Bette, que sofre
para terminar o relacionamento
de ambas. E, no The Planet, as
garotas ficam furiosas quando
as donas do SheBar anunciam
sua compra mais recente.
final de relação,
traição de ami-
ga, armas
Meninas na mesa do The The Planet tomando café. Chegam as
SheBar, todas meio mal humoradas, referências a TPM. Deboo vai
ai The Planet dizer que achou Ivan e comprou os 51% do SheBar
e comunica que compraram o bar. Jodi vai ao The Planet. Jodi
intima Bette para um conversa e ignora Tina.(roupas parecidas).
Adele vai a reunioes no lugar de Jenny. Jodi coloca Bette na
parede, mas diz que vai lutar por ela. Alice e Tasha olham casas
para alugar (problema de rendas diferentes). Careca chama Tina
a sala de conferências. Adele coloca o tape da cena de sexo de
Jenny e Niki para todos verem, inclusive Shane. Adele diz que fez
25 copias prontas para enviar para a grande mídia. Diz que o com-
portamento de Jenney é indesculpável e que já mostrou o vi’deo
a Wilian. Jenny vai contar a Niki. Todos abandonam Jenny a ex-
ceção de Shane. Adele é a nova diretora. Tina garante a Jenny
que fica para cuidar do filme.Kit prepara a arma. Alice conhece
Clea Mason, estilista, no programa The Look. Rola um clima. Kit vai
ao SheBAr disposta a atirar. Jemmy diz não estar mais apaixonada
por Niki e desabafa com Shane, enquanto fumam maconha. Jodi
leva as coisas da casa de Bette. Kit vai pegar Angie e se esquece
da arma no casaco. Acha a menina brincando com a arma.
19’22’Jodi e Bette
(jodi força e Bette
não dá conta)
TEMPORADA 5
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
5X12 – Loyal and true (Leal e verdadeira)
Shane e Molly compartilham
uma manhã de paixão antes
de encontrar Phyllis, a mãe de
Molly, e Joyce para o café da
manhã. Helena Peabody vol-
ta a Los Angeles para visitar
sua mãe no hospital e recebe
de volta a fortuna da família.
Quando fica sabendo que Kit
perdeu The Planet na sua au-
sência , Helena apresenta uma
proposta tentadora à Cindi,
uma das donas do SheBar. “Lez
Girls” é finalmente terminado e
todos chegam para a festa de
encerramento das filmagens.
Bette e Tina juntas. Alice famosa em outdoor do The Look.
a impressão de ter passado algum tempo. Não se sabe quanto.
Peagy Peabody chega de helicóptero em maca. Helena reapare-
ce. Shane e Molly juntas. Tasha e Alice morando modestamen-
te. Deebo leva decorador para mudar o The Planet. Helena situa
que passaram dois meses desde que foi embora. Cindi diz que
não concorda com a coisa de Dawn. Alice vai conhecer as ami-
gas de Tasha. Pelas roupas e jeito percebe-se que são de outra
classe econômica. Adele manda tirar Tina do set. Peagy sugere
que Helena compre o The Planet para salvar Kit até porque foram
amigas quando ela não tinha nenhum centavo. Alice passeia de
lambreta com Clea. Climão. Bette e Tina começam a falar em
outro filho. Tasha quer ser policial e Alice acha estranho. Helena
faz uma proposta secreta para Cindi. Na exposição de Jodi todas
se encontram. Phyllis diz a Shane que ela não merece Molly e
humilha Shane “O passado é um ensaio”. E diz para ela não ferrar
com Molly. A escultura de Jodi é apresentada por Bette. A peça se
chama “centro: amor lealdade honestidade e comprometimento
(valores centrais) – São imagens de Bette super enormes e o som
de “I Love You” Fuck Me. sem mim. Me deixe sozinha. Pare.
Helena vai ao clube com as meninas. Dawn quer expulsá-las. Kit
dá a notícia de que compraram o SheBar e também que sabe de
ilegalidades no bar. Dawn percebe que foi traída por Cindi. Kit hu-
milha Dawn. Dia do lan;camento do Lez Girls. Adele faz discurso
e anuncia que está casa da com Begônia. Jenny invade a festa. É
aplaudida por alguns e discursa. Agradece aos amigos. Enquanto
isso, Shane e Niki estão sem pegando no jardim sem saber Jenny
está lá. Alguém diz que Niki está lá fora. Jenny diz que está apai-
xonada por alguém. Vai abraçar os amigos. Jenny flagra Shane
fazendo oral em Niki. Eles mudam o final do filme para Jesse voltar
para Jim. Todos sacam o flagra de Jenny (enceerra a temporada
com Welcome Bye)
SEXO 1h01’- Shane
e Niki
28’59”(Tina para Bette sobre o final do filme) É como se a vida
de Jesse estivesse apenas começando. E a Jenny...Oh, meu Deus.
Quem imaginaria? Mas ela juntou tudo e escreveu esse final in-
crível. Uma mensagem tão positiva para tantas lésbicas jovens. É
ótimo. 1h03’ TinaIsso é besteira! Nós trabalhamos duro em um
filme em que acreditamos. E o marketing vem mudando o final
inteiro? O cara fica com a garota e fim? Este era o filme que deve-
ria mudar isso tudo! Adele Olha, Tina, se o filme for muito gay
vai restringir as audiências. Tina Muito gay? É um filme sobre
lésbicas! Williams E o filme está cheio de lésbicas. Tem um quadro
cheio delas. Careca – Bev é lésbica, Nina é lésbica, Shann, Donna,
qual sua parceira, a bissexual? Adele Alice. Careca – Ela não tem
interesse em homem, Estamos falando de um personagem aqui.
Não é tão grande coisa. Tina Eu quero saber uma coisa.
Como você lida, como você vive consigo mesma? Bette _ Que
diabos está acontecendo? Tina – O estúdio quer mudar o final do
filme. Querem que Jesse volte com o Jim. Kit, Bette e Alice O
quê? Tina Eles acham que é muito gay! BetteMuito gay! Alice
– Você não vai deixá-los se livrarem assim, vai? Kit – Eu digo que é
homem que faz essas merdas.
TEMPORADA 6
6ª temporada – tem oito episódios.
A 6ª e última temporada dedica boa parte dos episodios para levantar possiveis motives para que algumas das meninas matasse Jenny. Apenas no primeiro capítulo, há o antes no The L Word. Depois a
estratégia é a de fazer os prefácios já no ritmo, ou seja, após as vinhetas a cena de abertura dá sequência ao que apareceu antes, sem maiores revelações nas pequenas histórias. Destaque para a aber-
tura do último capítulo em que não é usada a vinheta que acompanha a série desde a segunda temporada e nem a música tema. O último capítulo é todo fragmentado entre presente (depoimentos) e
episódios anteriores à festa em que ocorre o possível assassinato.
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
6X01 – Long Night’s Journey Into Day
Last season’s spontaneous
steamy moment betwe-
en Shane and Nikki leads
Jenny to confess the iden-
tity of her true love and
complicates the group’s fu-
ture dynamics. On the six-
th and final season of THE
L WORD®, careers evolve,
relationships are tested and
friendships end in mur-
der. It begins with Jenny
found dead! As a result,
everyone’s lives are turned
upside down leaving all
the friends despondent but
also suspects — who did
it and how did it happen?
Flashbacks of the months
leading up to the murder
will be the only way to put
the pieces together to learn
why.
Lealdade na
a m i z a d e ,
conceito de
traição,
Abertura – corpo de Jenny achado na piscina, seguido de vinheta.
Volta o tempo ao aparecimento do corpo. Repetição da última parte do último capí-
tulo de 5ª temporada – discurso de Jenny, flagrante Shane e Niki. Polêmica sobre o
final do filme. Jenny liga para Niki e a chama. Novas cenas: Shane e Niki perseguem
Jenny tentando se explicar. Alice e Tasha brigam. Jenny acaba deixando as duas
entrarem. Shane pede perdão e diz que faz o que ela quiser, que será sua escrava.
Jenny expulsa as duas. Angelica está doente. Shane procura lugar para domir. Tasha
e Alice se reconciliam. Niki canta Shane na saída da casa de Jenny. Helena e Kit são
sócias do The Hit Club. Molly vai atrás de Shane e Jenny insinua que ela tinha um
caso com Niki desde a corrida. Molly deixa uma carta para Shane e Jenny esconde.
Papi , sumida desde a 4 temporada, aparece transando com a ex de Alice, Gaby
Devaux. Jenny pega NIki e transa com ela. Shane de ressacão com Kit falando sobre
Jenny. No dia seguinte, Jenny mete o pau em Niki e confessa que não foi ela quem
partiu seu coração (showmance) Jenny chega ao Planet. Jenny, Tina, Tasha levan-
tam da mesa; Ficam Bette e Alice. Kit fique pasma com a cena (vocês podem estar
brincando!)
36’24Jenny e
Niki
42’30Papi e
Gaby
42’31Jenny e
Niki
30’- Atendente do hospital - Qual de vocês é a mãe?
Bette e Tina – As duas.
Atendentente – Eu preciso colocar apenas um nome.
Bette Você está brincando? Atendente Não posso
processar sua papelada.
Bette _ Aqui é Los Angeles. Existem seis famílias como
a nossa logo nessa droga de esquina. Ela nasceu nessa
droga de hospital. E nós duas estamos em seu registro
de nascimento. Então por que você não nos dá um pou-
co de tempo e crédito e ajuda nossa filha a ver a droga
de um médico? Por favor...
(Nisso Tina já foi para dentro do hospital).
40’08- Bete – Só quero me desculpar.
Tina – Você agiu bem.
Bette - Não, por defender Shane essa noite.
Tina Apenas fomos para lados opostos nisso. isso.
Tudo bem.
Bette Devido ao meu histórico, eu não queria ser
casual sobre a promessa que fiz a você.
Tina – Mas você não fez nenhuma promessa.
Bette Vou fazer uma promessa para você agora mes-
mo. Eu prometo dividir com você valores sobre família,
confiança, comprometimento. E nunca mais trairei você
de novo.
Tina – Uau.
Bette - Eu te amo.
TEMPORADA 6
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
6X02 – Least Likely
Bette and Tina talk about
expanding their family and
beginning a new life but
the plan could be ruined
when Bette bumps into an
old friend with dangerous
potential; Alice and Tasha
ponder their compatibility
as they seek counseling; an
old flame appears sending
Helena reeling; and Max is
faced with an extraordinary
situation.
Homem grá-
vido
Antes no the l word. Prefacio - Niki puta com Jenny expulsa todo mundo. Jenny
Shecter mente e usa. Mas pode acreditar, você não vai se safar dessa. Você está morta,
Schecter. Morta! Vinheta.
Helena e Ki contratam a transformista Boulevar Sunset. Shane fica puxando o saco de
Jenny, que a despreza. Shane Bette continuam dividindo mesas (sofredoras x traido-
ras). Alice está escrevendo um roteiro Tina aconselha que peça ajuda a Jenny. Tina
e Bette anunciam que adotarão outro bebê. Jenny reclama da obra que farão para o
quarto do bebê. Jenny continua destratando Shane. Cartaz de The Girls não mais Lez
Girls é um casal hétero. Tina fica puta. Jodi começa a bater de frente com Bette na
faculdade. Max está de barba para marcar a cirurgia de tirar peitos, mas a médica avisa
que está grávido, logo cirurgia adiada. Joyce aparece pelada no escritório de Phillys
para pedi-la em casamento, vínculo com o real quando a California passa aceitar o
casamento gay. (gavin Newson, Prefeito de são Francisco? Fará o casamento). Phyllis
aceita. Alice e Tasha vão ao mesmo terapeuta de Bette e Tina e Alice não deixa Tasha
abrir a boca. Jenny escreve tudo que acontece com ela como um roteiro. Shane lava
o carro de Jenny. O terapeuta diz que Tasha e Alice não combinam. Na hora, elas
melhoram. Max não consegue o aborto já está de 4 meses. Max briga com Tom, que
não se acha preparado para a situação. Bette e Kelly Wentworth se reencontram.
Mesmo com as divergências (lista de prós e contras), Alice e Tasha fazem tudo para
ficar juntas. Dylan aparece dançando no The Hit. O namorado de Max o procura e
propõe que tenham o filho. Tina se mostra com ciúme de Bette por causa de Kelly.
Tina compara Bette a uma vampira. Alice vai brigar com Dylan, mas Helena impede.
Depois, Helena empurra Dylan na saída da boate e solta os cachorros. Depois que
Shane meio desiste e vai pegar as coisas dela, Jenny confessa seu amor.
NOVIDADE : chama para as novidades, mostrando cenas do próximo capítulo.
26’01 – Tasha e
Alice no carro
(só começo)
40’27- Bette e
Tina
22’11 (Max no ginecologista) - Oi, eu sou Max Sweeney.
Eu marquei uma consulta.
Secretaria - Para sua namorada ou ...
Max – Não, é para mim. Preciso fazer um aborto!
Secretaria – Se você está querendo fazer piada, isso não
é engraçado.
Max – Eu não estou brincando, eu estou grávido!
Secretaria – Senhor, se você não sair agora, eu vou cha-
mar o segurança.
Max Eu sou um transexual feminino para masculino,
tá bom?
Max se vira para os outros pacientes É isso aí, olhem
bem. Eu sou um homem e estou grávido. Acontece, vo-
cês não lêem jornal?
6X03 – LMFAO
The negative of Lez Girls
goes missing; Shanes guilt
from her intimate moment
with Niki leads to her inces-
sant apologizing to Jenny;
Alices feelings are hurt
when Jenny denounces
her desire to write a scre-
enplay; Phyllis lets Bette in
on a suppressed secret; and
it’s opening night at Kit and
Helena’s new club, HIT!
Relaciona-
mento com
pessoas no
t r a b a l h o ,
censura na
tv(carta de
Alice, demi-
tida), homo-
fobia
ABERTURA: Começa direto, sem antes no The L Word, Tina indo falar com Aaron.
Aaaron diz que o negativo do filme foi roubado e que suspeita de Jenny e ameaça
Tina. VINHETA.
Shane na cama com Jenny (tipo rolou). Alice chega e saca o clima entre Shane e
Jenny, e rapidamente espalha a história entre as meninas. Elas tentam esconder. As
reações são super engraçadas, tipo Helena cai da esteira. Jenny pede que não co-
mente . Bette propõe que Jodi se demita. Ela se recusa. Alice conta seu roteiro para
Jenny, que o detona e ainda diz que Alice deveria fazer vozde desenhos animados.
Tina chega na casa de Jenny para falar do filme. Jenny nega o roubo e sugere Adele.
Alice alerta Shane sobre Jenny. Bette vai falar com Phillis sobre Jodi, mas a encontra
na sala. Phillis fala que não pode porque pode caracterizar assédio sexual. Alice lê no
ar uma carta sobre um menino assassinado por homofobia). O programa não aprova.
Alice faz um mea culpa por ter exposto pessoas levando-se em conta que pessoas
morrem por homofobia. Aaron tem um fax assinado por Tina mandando entregar o
negativo do filme. Phillis pede a Bette para se demitir em em seguida se declara para
ela, pedindo uma chance. Bette d£ o fora. Dylan manda flores para Helena. Alice
£ chamada ao Centro de Refer£ncia L£sbica porque a menina que mandou a carta,
Marie, quer ser matar. Kit v£ Alice e Shane se pegando. Todas riem da situação.
4’58- Shane e
Jenny (só ame-
aça)
25’12Shane e
Jenny (só come-
ço)
TEMPORADA 6
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
6X04 – Leaving Los Angeles
Shane and Jenny are still
melting over each other;
Bette and Tina go to Ne-
vada to meet a potential
birth mother; Max is trying
to deal with being preg-
nant; Alice and Tasha play
matchmaker; and Kelly
Wentworth may have what
Bette needs.
PREFACIO: Jenny provoca Max o chamando de mãe. Vinheta.
Jenny acusa William de ter roubado os negativos. Dylan arma uma reunião com Tina
para pedir ajuda junto à Helena. Bette se oferece como sócia de Kelly na galeria de
arte. Jenny fique pentelhando Shane para jogar fora coisas do passado, primcipal-
mente que eram de ex. Shane não deixa jogar fora a de Carmen (deixa de Paige e
Cherie). Tina fica enciumada com a sociedade de Bette. Jenny começa a perseguir
Shane e a viajar se ela está fumando. Tipo super sufocando. Bette e Tina viajam para
conhecer a mãe do possível bebê que adotarão. A mãe e o padrasto de Marcy não
aceitam que as duas adotem o bebê e as manda embora. Tasha e Alice introduzem
Jammie para Helena, mas não cola. Tom paquera Gerard numa boate e Max flagra.
Helena vai a casa de Dylan e diz que vai chamá-la para jantar. Jenny transforma o
quarto de Shane num escritório. MArcy procura Bette e Tina no hotel e diz quer que
elas adotem o bebê. Max acorda e vê que Tom o deixou.
(PREFACIO) 1’43 Max Eu a odeio!Eu odeio essas dro-
gas de hormônios, odeios esses hormônios! Odeio esses
peitos, odeio essa droga de cintura e eu odeio Jenny
Schecter!
35’43- Max Todas essas coisas estão acontecendo no
meu corpo. E elas vão contra o que sinto sobre mim. Eu
acho que só estou com um pouco de medo, ok?
48’20 Marcy - Eles não são tão interessantes. Este bebê
terá uma vida interessante. (...) essa é a outra razão pela
qual eu quero que sejam as mães dele. O mundo preci-
sa de meninos que façam as coisas diferentes e eu que-
ro muito que meu bebê tenha essa chance. Fazer esse
mundo sabe, um pouco melhor.
6X05 – Litmus Test
Jenny writes another script
that sells; Bette and Kelly
go into business; Alice and
Tasha have a third-person
crush in their relationship;
the girls plot a sting ope-
ration to test Dylan; and,
Jenny encroaches more on
Shane.
PREFACIO: Alice fica sabendo que Jenny vendeu seu roteiro por meio milhão de
dólares. Só que a idéia é roubada de Alice ( que é inspirada no relacionamento dela
com Tasha). Vinheta.
Alice vai reclamar com Jenny o roubo da idéia. Jenny nega. Jammie esquenta a
relação de Alice e Tasha. Meninas alertam Alice sobre o perigo da terceira pessoa.
Helena diz às meninas que vai jantar com Dylan. As meninas armam um teste para
testar o caráter de Helena e usam Niki para isso. Jenny fica com ciúmes de Shane
e Niki. Kelly provoca Tina sobre paquerar Bette. Tina que foi traída por Aaron e
William e que será demitida. Todas observam pela câmera o teste de Dylan, que resiste
a Niki. Helena vai a casa de Dylan. Shane se mostra de saco cheio de Jenny. Shane
conta a Niki que está com Jenny. Niki se decepciona. Shane discute com Jenny por
causa do ciúme dela.
42’- Helena e
Dylan.
49’46- Dylan e
Helena.
6X06 – Lactose Intolerant
Jenny throws a baby sho-
wer for Max; Bette and
Tina hit a roadblock in the
adoption process; Bette
goes solo to her gallery’s
opening night celebration
leading Kelly to go in for
the kill; Shane is feeling bo-
xed in by Jenny; and Alice
starts to feel like three is a
crowd.
PREFACIO: Jenny conta a Dylan que todos viram o teste enquanto todas preparamum
chá de bebê para Max. Dylan vai embora. Max chega. Vinheta.
Jenny frita todo mundo no chá e cerca Shane todo o tempo. Todas dão presentes
para o bebê. Max nada animado. Helena está puta com Jenny. Alice detona Jenny
no discurso para o bebê de Max. Max pede que Tina e Bette adotem o bebê. Jenny
insiste em chamar Max de elae ele fica puto. Max se olha no espelho, barrigão, seios,
barba e resolve tirar a barba. Tina e Bette discutem como adotarão o bebê uma vez
que pode ser feito na Califórnia e Marcy mora em Nevada. Tasha e Alice transam
incentivadas pela presença de Jammie que a cena. Wizzi empreiteira das meninas
tem todo o estereótipo de sapa – gorda, cabelo curto -, mas diz ser ht. Jenny dá um
super estúdio de fotografia para Shane. Helena bebe e sofre com a perda de Dylan.
Sunset descobre que Kit não é lésbica.Tina tem que ir a NY a trabalho e não vai a
exposição de Bette. Boulevard paquera Kit na galeria, mas ela não o reconhece de
homem. Jenny frita dizendo que Bette e Kelly formam um belo casal.Wentworth
Porter Projects é o nome da galeria.Shane o fora da exposição com Niki. Shane
leva Niki para o Studio.Shane revela uma foto de Molly. Shane e Niki se beijam, mas
Shane começa a passar mal e vomita. Niki vai embora. Kelly vai trás de Bette na casa
dela com uma garrafa de champanhe para comemorarem o sucesso. Jenny procura
Shane e a acha passando mal/ Jenny cuida de Shane. Kelly tenta pegar Bette, mas
Bette sai fora. Jenny filma uma cena que sugere Bette fazendo oral em Klly, mas não
rolou na verdade.
22’- Tasha e Alice
no sofá enquan-
to Jammie toma
banho
TEMPORADA 6
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
6X07 – Last Couple Standing
The Los Angeles Gay &
Lesbian Center dance ma-
rathon is on; someone is
moving to the Big Apple;
rumors fly fast around the
dance floor that Alice and
Tasha may be in couple
trouble and the HIT!’s new
MC makes a shocking reve-
lation to Kit.
PREFACIO: começa na maratona beneficente de dança do Centro de Gays e Lésbicas.
Todas vão competir com danças em dupla à exceção de Alice, Jammie e Tasha. E to-
das colocam roupas a caráter para dançar.Jenny ameaça Bette dizendo que viu ela
e diz que ela deve contar a Tina. Vinheta.
Tina conta a Bette que foi chamada para trabalhar na Focus Pictures em NYC. Rola
clima entre Tasha e Jammie. Bette tenta contar a Tina sobre a ameaça de Jenny, mas
Alice corta. Alice saca o clima entre Tasha e Jammie. Jodi encontra com Bette no
banheiro e conta que Jenny falou sobre seu envolvimento com Kelly. Bette está puta
com Jenny, que pressiona se ela contou para Tina. Shane flerta com Niki. Shane
pega Niki no banheiro. Dylan procura Helena durante o concurso e reatam. Jenny
sugere a Niki que faça uma doação oferecendo um encontro com ela pelo maior
lance, conforme Jenny sugeriu. Jenny oferece 25 mil dólares. Jenny fala em público
que comprou ela para Shane para que não precisasse a foder em público. Alice ques-
tiona Jammie sobre Tasha. Sunset aparece de homem e diz a Kit que era o homem
da galeria que se chama Sony Benson e é hetero. Bette e Tina vão buscar Marcy na
rodoviária, mas ela não vai. Alice conversa com Tasha sobre Jamie
28’20- Shane e
Niki
29’44
43’59- Sunset/Sony Eu sou um cara hétero que ama
essa família de gays e lésbicas. E eu espero que ainda
me aceitem. (...) Eu não contei, você deduziu. (...) O que
achou que eu era? Um vestido não mudou o fato de eu
ser homem! E você confiou em mim porque achou um
em quem poderia confiar.
SUNSET -
TEMPORADA 6
sinopse temas acontecimentos cenas de sexo diálogos
6X08 – Last Word
In the final episode of the
series, what starts out as a
celebration of friendship
quickly ends in a web of
betrayal and deceit; the
girls find themselves being
investigated about Jennys
untimely death by Sergeant
Duffy.
PREFACIO Depoimento de Shane na polícia. Mostram as cenas, elas gravando a
cena de despedida para o vídeo. Não vinheta, aparece apenas o fundo escuro com
o the LWord bem grande e claro.
Alice conversa com Tasha e Jamie. Alice deixa as duas para que vejam o que rola.
Depoimento de Alice. Helena e Dylan discutem. Jenny chega pedindo depoimento
das duas. Depoimento de Max. Casa de Bette, ela conversa com Kit. Bette conta a
Kit sobre a chantagem de Jenny.Depoimento de Kit. Alice e Shane conversam so-
bre suas vidas amorosas. Depoimento de Alice. Shane e Alice conversam. Helena e
Dylan discutem. Depoimento de Helena. Dylan e Helena discutindo. Depoimento de
Helena.Helena e Dylan se se beijam e Dylan usa uma faca para rasgar a roupa de He-
lena. Jenny assiste o depoimento de Helena, de Phillis e Joyce. Tina e Bette na cama.
Depoimento de Bette. Shane conversando com Tina e Bette chegando em casa
cedo pela manhã, como no episódio piloto(?). Depoimento de Tina.Helena vê Dylan
no telefone, ciúme. Alice conversa com Shane tensa porque Tasha ainda não apare-
ceu. Jenny chega em casa está atribulada com o tributo. Shane oferece ajuda. Bette
e Tina em casa. Chegam Sony, Kit e Angelica Shane chega com comida para Jenny.
Dylan vai a casa de Jenny. James se despede de Bette e Tina. Alice no telefone
com Helena preocupada com Tasha e falando do vídeo. Alice conta que Dylan foi ao
Studio de Jenny. Helena não sabia. Jenny discute com Dylan que quer que ela conte
que já sabia da armadilha. Helena escuta e termina tudo pois não consegue confiar.
Shane encontra Molly numa loja de presentes. Molly fala com Shane e ela percebe
que Jenny escondeu que ela a procurou e que deixou a carta. A festa de despedida
começa. Depoimento de Max. Festa, elas se propõem a tentar agüentar Jenny por
Shane. Depoimento de Helena. Jenny chega na casa de Bette e diz a Kit que sabe
que ninguém quer saber dela só porque ela está querendo fazer a coisa certa. Jenny
mostra a prova de Bette e Kelly para Kit. Depoimento de Bette. Shane revira a casa e
acha a carta de Molly no sótão e acha os negativos do Lez Girls. Depoimento de Tina.
Meninas na festa. Há um problema nos degraus da escada, Tina alerta. Depoimento
de Tasha. Kit na festa pede para falar com Bette.e diz que viu o vídeo. Shane chama
Tina para ver os negativos.
Depoimento da Niki. Jenny chama a todos para ver o vídeo, que tem quase 3 horas
de duração. Tina fica passada ao ver os negativos. Jenny procura Bette no andar de
cima. Bette aparece atrás dela. Elas conversam em frente à fita crepe que para a
piscina. Bette diz a ela que não vai deixar que ela destrua a família dela. Depoimento
da Bette. Depoimentos de amigos para Bette e Tina, começa com Tim. Tina procura
Jenny e está puta. Alice e Shane conversam sobre Jenny. Shane diz que não está
mais com ela. Depoimento de Alice. Bette encontra Tina e conversam. Max chega.
Todos meio tensos. Souder anda na beira da piscina e chora.Vídeo de Angus. Vídeo
de Ivan. Vídeo da Peabody. Vídeo de Jodi. Vídeo de Marina. Sentem falta da Jenny.
Depoimento de Carmem. Alice vai procurar Jenny. Depoimento de Jenny e Shane.
Depoimento de Kit. Depoimento de Shane. Depoimento de Alice, Todas juntas dizen-
do que as amam. Depoimento Jenny e Shane. Alice chega apavorada. Fala final de
Jenny no depoimento. Polícia chega. Corpode Jenny tirado da piscina. Acham Niki
escondida no jardim. Tasha chega. Detetive chama todas para ir depor na Delegacia.
Vídeo rolando , Jenny ainda falando. Sai do vídeo e mostra ela falando, depois vídeo
de novo. Música lenta da trilha e início de créditos. Carros chegando no pátio da
Delegacia. Elas saem sérias dos carros e vão andando. Aos poucos, ritmo da musica
muda e elas começam a sorrir, mudam a expressão. Aparece Jennyao lado de Shane
no final. Elas vão se aproximando. Sorrindo. Elas se juntam, saem do vídeo e somem.
Los Angeles à noite ao fundo.
19’54 - Tina e
Bette.
12’27- Você nunca vai encontrar um grupo de pessoas
que se amem mais. E que se preocupem umas com as
outras tão amavelmente como essas amigas. Voce pode
me dar qualquer exército ou assembléia de Deus e eu
colocaria meu passe contra porque elas são tão unidas
e totalmente leais.
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