RESUMO
A ocorrência de espécies reófitas está vinculada à presença de corredeiras nos rios. Devido à
perda destes hábitats, principalmente pela construção de represas, e a inexistência de estudos
com reófitas, a geração de dados é imprescindível para dar embasamento à conservação deste
grupo. Assim, o presente estudo objetivou gerar informações sobre a reófita Dyckia brevifolia
Baker (Bromeliaceae), bem como propor estratégias para sua conservação. A determinação da
distribuição geográfica da espécie foi feita por meio de caminhamento ao longo das margens do
Rio Itajaí–Açu, Santa Catarina, Brasil. Para caracterizar sua estrutura demográfica foi realizado
um censo em 12 locais, onde as rosetas foram classificadas quanto ao seu estádio de
desenvolvimento (plântulas, imaturas ou reprodutivas). As rosetas também foram classificadas
em isoladas ou agrupadas. Em cinco locais foi avaliada a emissão clonal e a mortalidade de
indivíduos, exceto plântulas. Para caracterizar o sistema reprodutivo foram conduzidos cinco
tratamentos: agamospermia, autopolinização espontânea, autopolinização manual, polinização
cruzada e controle. As características florais, a produção de néctar e os visitantes florais também
foram estudados. A caracterização da diversidade genética (oito populações) e da taxa de
cruzamento (quatro populações) foi feita através de marcadores alozímicos. A extensão de
ocorrência de D. brevifolia corresponde a cerca de 80 km ao longo do Rio Itajaí-Açu, desde
Lontras até Blumenau. Porém, as populações são disjuntas e nos 12 locais estudados sua área de
ocupação correspondeu a menos de um hectare, o que se deve a alta seletividade ambiental
apresentada pela espécie. O número de rosetas por local variou de 204 a 7.185, havendo uma
correlação positiva entre a área ocupada pela espécie e o número total de rosetas (r = 0,82;
p<0,05). A densidade média encontrada foi de 3,5 rosetas por m
2
(s ± 1,9). Apenas 2,4% das
rosetas ocorreram isoladas e 97,6% ocorreram agrupadas, em 2.254 grupos. Nos 12 locais
avaliados foram registradas 30.443 rosetas, destas 1.789 (5,9%) eram plântulas, 24.426 (80,2%)
eram imaturas e 4.228 (13,9%) eram reprodutivas. A taxa média de mortalidade foi de 5,3%. As
plântulas corresponderam, em média, a 3,7% dos indivíduos, enquanto os clones a 6%. A
propagação vegetativa foi considerada a principal forma de recrutamento. Cada inflorescência
apresentou, em média, 60,4 flores (s ± 14,5; n = 30) e 58,3 frutos (s ± 13,3; n = 30), sendo a
relação fruto/flor de 0,97. O número médio de sementes por fruto foi de 129,6 (s ± 24,3; n = 90).
A abertura das flores ocorreu no sentido da base para o ápice da inflorescência e o número de
flores abertas/dia por inflorescência foi, em média, de 6,8 (s ± 1,2; n = 30). Suas flores
apresentaram antese ao longo do dia e duração de um dia e meio. Com relação ao sistema
reprodutivo, os resultados indicaram que D. brevifolia é autocompatível e que a agamospermia
pode ocorrer. O volume e a concentração médios do néctar (n = 30) foram de 30,5µl e de 25,7%,
respectivamente. O beija-flor Amazilia versicolor Vieillot e as abelhas Xylocopa brasilianorum
Linnaeus e Bombus spp. foram considerados os principais polinizadores de D. brevifolia. A taxa
de cruzamento foi de 8,2%, indicando que a espécie é predominantemente autógama. Com
relação à diversidade genética, as populações apresentaram, em média, 1,4 alelos por loco, 27%
de polimorfismo e heterozigosidade esperada foi de 0,067, em 13 locos analisados. O valores
médios encontrados para a relação
NG /
e para a diversidade genotípica foram de 0,22 e 0,612,
respectivamente. As populações a jusante no Rio Itajaí-Açu apresentaram os maiores índices de
diversidade, o que foi atribuído à hidrocoria visto que o rio apresenta fluxo unidirecional.
Grande parte da diversidade genética está distribuída entre suas populações (
=0,376) e a
espécie apresenta, ainda, alelos raros e exclusivos. Com a construção da represa da Hidrelétrica
Salto Pilões, Lontras, algumas populações poderão ser atingidas, sendo recomendada a
conservação
ex situ. Desta forma, no percurso de ocorrência da reófita D. brevifolia, a instalação
de outras hidrelétricas não é recomendada, pois poderia inviabilizar a conservação in situ desta
espécie.
Palavras-chave -
reófita, bromélia, conservação, isoenzimas, demografia, biologia reprodutiva.