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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E RECURSOS NATURAIS
Bioecologia de espécies do Gênero Stellifer (Pisces, Sciaenidae)
acompanhantes na pesca artesanal do camarão sete-barbas, na
Armação do Itapocoroy, Penha, Santa Catarina, Brasil.
JORGE LUIZ RODRIGUES FILHO
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-graduação em
Ecologia e Recursos Naturais do
Centro de Ciências Biológicas e da
Saúde da Universidade Federal de
São Carlos, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Mestre em
Ecologia e Recursos Naturais.
SÃO CARLOS - SP
2008
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Milhares de livros grátis para download.
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
R696be
Rodrigues Filho, Jorge Luiz.
Bioecologia de espécies do gênero Stellifer (Pisces,
Sciaenidae) acompanhantes na pesca artesanal do camarão
sete-barbas, na Armação do Itapocoroy, Penha, Santa
Catarina, Brasil / Jorge Luiz Rodrigues Filho. -- São Carlos :
UFSCar, 2008.
92 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2008.
1. Ecologia. 2. Fauna acompanhante. 3. Pesca artesanal.
4. Camarão. 5. Santa Catarina (Estado). 6. Ecologia de
peixes. I. Título.
CDD: 574.5 (20
a
)
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Jorge Luiz Rodrigues Filho
Bioecologia de espécies do Gênero Stellifer (Pisces, Sciaenidae) na Pesca
Artesanal do Camarão Sete-Barbas, na Armação do Itapocoroy, Penha,
SC, Brasil
Dissertação apresentada à Universidade Federal de São Carlos, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em Ecologia e Recursos Naturais.
Aprovada em 04 de abri I de 2008
BANCA EXAMINADORA
Presidente
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ProL Dr. José Roberto Verani
(Orientador)
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10 Examinador
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Profa. Dra. Odete Rocha
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C.
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Pro ,IDr. Joaquim Olinto Branco
UNIV ALI/tajaí-SC
20 Examinador
~MQ~
Prata. Ora. DaNa MariadaSilvaMatos
Coordenadora
PPGEItN/UFSCar
"Hay artistas que
transforman el sol en una
mancha amarilla; y otros
que transforman una
mancha amarilla en un sol”
Pablo
Picasso
AGRADECIMENTOs
- Ao programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais e seus
funcionários por todas as condições e facilidades oferecidas.
- À CAPES, pela bolsa durante os dois anos de mestrado.
- Ao Prof. Dr. José Roberto Verani, pela amizade, incentivo e conhecimentos
transmitidos durante toda a minha formação acadêmica e cientifica.
- Ao Prof. Dr. Joaquim Olinto Branco, pela amizade, orientação e a disponibilidade
dos subsídios indispensáveis a realização dessa dissertação.
- Ao Prof. Dr. Alberto de Carvalho Peret, pela amizade e paciência durante minhas
perguntas incessantes a respeito de sua opinião sobre os mais diversos assuntos.
- À Prof. Dra. Nelsy Fenerich Verani pela amizade e pelas sugestões para a
realização desse trabalho.
- À Prof. Dra. Maria José Lunardon-Branco pela receptividade em seu laboratório e
por todas as facilidades oferecidas.
- Á Fran, Tuca, Bolinha, Seu Anilton, Pepeca, Fernando, Gaúcho e Irece, amigos do
laboratório de Biologia do CTTMar/UNIVALI e, principalmente, ao Fernando Decker,
Hélio e Jurandir, pela realização das coletas, amizade e convívio que auxiliaram
muito meu trabalho.
- Aos companheiros do laboratório de Dinâmica de Populações de Peixes da
UFSCar, Lia, Alê, Jussara, Aline, Bia, Marcela, Dona Amábíle, Claudinei e,
principalmente, a Tati pelo auxilio no processamento do material biológico.
- À todos os meus queridos amigos pela força e companheirismo
- Às minhas irmãs e seus maravilhosos filhos por toda a alegria e momentos de
descontração que me proporcionam
- À minha noiva e, em breve, futura esposa Mariana, por todo amor, compreensão e
por toda a nossa caminhada juntos.
- Aos meus pais, meus exemplos de vida, por todos os ensinamentos repassados de
formas características por cada um, sempre remetendo a princípios de garra,
determinação, coragem, altruísmo e amor.
- E, por fim, mas não menos importante, a DEUS, por ter colocado em minha vida
todas essas pessoas maravilhosas e por me acompanhar e me proteger em toda a
minha existência.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Vista geral da Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC.......................4
Figura 1.1 - Mapa da Armação Itapocoroy, Penha, SC (26°40’- 26°47’ S, 48°36’- 48°38’
W) com os três pontos tradicionais da pesca de camarão sete-barbas onde se realizaram
as coletas do presente estudo.....................................................................................12
Figura 1.2 - Embarcação (baleeira) utilizada nos arrastos mensais para a pesca do
camarão sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri realizados em Armação do Itapocoroy,
município de Penha, SC.......................................................................................................12
Figura 1.3 – Coleta de água no fundo para registro da temperatura e salinidade nos
pontos de amostragem na Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC..................13
Figura -1.4 – Exemplar fêmea de Stellifer stellifer fêmea (Lt = 6cm) capturada na
Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC, em Jan/07 com gônada no estádio
“A”...................................................................................................................................................14
Figura -1.5 – Gônada feminina no estádio “B” de Stellifer brasiliensis ( Lt = 9,3 cm)
capturada na Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC, em Nov/2006................15
Figura -1.6 – Gônada feminina no estádio “C” de Stellifer brasiliensis (Lt = 11,5 cm)
capturada na Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC, em Nov/2006................15
Figura 1.7 – Gônadas de Stellifer stellifer e Stellifer brasiliensis femininas no estádio “D”
capturadas na Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC em Out/06.....................16
Figura 1.8 - Gônadas masculinas de Stellifer rastrifer coletados em Nov/06 na Armação
do Itapocoroy. Da esquerda para a direita, nos estádios de maturação “C”, “B” e “A”
respectivamente................................................
......................................................................16
Figura 1.9 – Variação mensal dos valores médios e respectivos valores de desvio padrão
da temperatura registrada em Armação do Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de
Abr/06 a Mar/07...........
...........................................................................................................20
Figura 1.10 – Variação mensal dos valores médios e respectivos valores de desvio
padrão da salinidade registrada em Armação do Itapocoroy, Penha, SC, durante o
período de abril/06 a março/07...............................................................................................21
Figura 1.11 – Freqüência de ocorrência das quatro espécies pertencentes ao gênero
Stellifer capturadas em Armação Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abr/06 a
Mar/07.......................................................................................................................................22
ii
Figura 1.12 – Exemplares das três espécies do gênero Stellifer analisadas no presente
estudo. Na ordem, de cima para baixo: Stellifer brasiliensis ( Lt = 8,3 cm), Stellifer stellifer
(Lt =8,6 cm) e Stellifer rastrifer ( Lt = 8,3 cm)............................................................................22
Figura 1.13 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer rastrifer
capturada em Armação Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abr/06 a
Mar/07.....................................................................................................................................23
Figura 1.14 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer rastrifer para
fêmeas, machos e indeterminados, capturados em Armação Itapocoroy, Penha, SC,
durante o período de abril/06 a março/07...................................................................................24
Figura 1.15 – Distribuição da freqüência (%) de comprimento total de Stellifer rastrifer nos
meses de outono (A) – inverno (B) – primavera (C) e verão (D), capturados em Armação
Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abr/06 a Mar/07............................................27
Figura 1.16 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer stellifer
capturados em Armação do Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abrl/06 a
Mar/07....................................................................................................................................28
Figura 1.17 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer stellifer para
fêmeas, machos e indeterminados, capturados em Armação Itapocoroy, Penha, SC,
durante o período de Abr/06 a Mar/07..................................................................................29
Figura 1.18 – Distribuição da freqüência (%) de comprimento total de Stellifer stellifer nos
meses de outono (A) – inverno (B) – primavera (C) e verão (D), capturados em Armação
Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abrl/06 a Mar/07............................................31
Figura 1.19 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer brasiliensis
capturada em Armação Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abr/06 a
Mar/07........................................................................................................................................32
Figura 1.20 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer brasiliensis
para fêmeas, machos e indeterminados, capturados em Armação Itapocoroy, Penha,
SC, durante o período de Abr/06 a Mar/07...........................................................................33
Figura 1.21– Distribuição da freqüência (%) de comprimento total de Stellifer brasiliensis
nos meses de outono (A) – inverno (B) – primavera (C) e verão (D), capturados em
Armação Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abr/06 a
Mar/07......................................................................................................................................35
iii
Figura 1.22 - Freqüência dos estádios de maturação gonadal e variação mensal dos
valores de IGS médio das fêmeas de Stellifer rastrifer capturadas na Armação de
Itapocoroy, Município de Penha, Santa Catarina.................................................................37
Figura 1.23 - Freqüência dos estádios de maturação gonadal e variação mensal dos
valores de
IGS
médio das fêmeas de Stellifer stellifer capturadas na Armação de
Itapocoroy, Município de Penha, Santa Catarina................................................................38
Figura 1.24- Freqüência dos estádios de maturação gonadal e variação mensal dos
valores de IGS médio das fêmeas de Stellifer brasiliensis capturadas na Armação de
Itapocoroy, Município de Penha, Santa Catarina................................................................40
Figura 1.25 – Índice de atividade reprodutiva de Stellifer rastrifer capturados em Armação
do Itapocoroy durante o período de Abr/06 a Mar/07.........................................................41
Figura 1.26 – Índice de atividade reprodutiva de Stellifer stellifer capturados em Armação
do Itapocoroy durante o período de Abr/06 a Mar/07.........................................................42
Figura 1.27 – Índice de atividade reprodutiva de Stellifer brasiliensis capturados em
Armação do Itapocoroy durante o período de Abr/06 a Mar/07.........................................42
Figura 1.28 – Curva de tamanho de primeira maturação de Stellifer rastrifer na Armação
do Itapocoroy, Penha, SC.......................................................................................................44
Figura 1.29 – Curva de tamanho de primeira maturação de Stellifer stellifer na Armação
do Itapocoroy, Penha, SC.......................................................................................................44
Figura 1.30 - Curva de tamanho de primeira maturação de Stellifer brasiliensis na
Armação do Itapocoroy, Penha, SC..........
............................................................................45
Figura 1.31 - Distribuição de freqüência (%) de comprimento de Stellifer rastrifer e o
tamanho de primeira maturação de fêmeas........................................................................46
Figura 1.32 - Distribuição de freqüência (%) de comprimento de Stellifer stellifer e o
tamanho de primeira maturação de fêmeas........................................................................46
Figura 1.33 - Distribuição de freqüência (%) de comprimento de Stellifer brasiliensis e o
tamanho de primeira maturação de fêmeas......
....................................................................46
Figura 1.34 – Variação mensal do número de “jovens” e “adultos” pertencentes à espécie
Stellifer rastrifer......................................................................................................................47
Figura 1.35 – Variação mensal do número de “jovens” e “adultos” pertencentes à espécie
Stellifer stellifer..........................................................................................................................47
Figura 1.36 – Variação mensal do número de “jovens” e “adultos” pertencentes à espécie
Stellifer brasiliensis..................................................................................................................48
iv
Figura 1.37– Freqüência de ocorrência por sexos de Stellifer rastrifer nos meses de
amostragem em Armação do Itapocoroy. (*) indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05).................................................................................................................................49
Figura 1.38 – Freqüência de ocorrência por classes de comprimento total de machos e
fêmeas de Stellifer rastrifer durante o período de estudo em Armação do Itapocoroy. (*)
indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05)......................................................50
Figura 1.39 – Freqüência de ocorrência por sexos de Stellifer stellifer nos meses de
amostragem em Armação do Itapocoroy. (*) indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05).............................................................................................................50
Figura 1.40 – Freqüência de ocorrência por classes de comprimento total de machos e
fêmeas de Stellifer stellifer durante o período de estudo em Armação do Itapocoroy. (*)
indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05)......................................................51
Figura 1.41 – Freqüência de ocorrência por sexos de Stellifer brasiliensis nos meses de
amostragem em Armação do Itapocoroy. (*) indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05)...............................................................................................................................52
Figura 1.42 – Freqüência de ocorrência por classes de comprimento total de machos e
fêmeas de Stellifer brasiliensis durante o período de estudo em Armação do Itapocoroy.
(*) indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05)..................................................53
Figura 1.43 – Relação peso/comprimento da população de Stellifer rastrifer capturados
em Armação Itapocoroy........................................................................................................54
Figura 1.44 – Relação peso/comprimento linearizada da população de Stellifer rastrifer
capturados em Armação Itapocoroy.....
.................................................................................54
Figura 1.45 – Relação peso/comprimento da população de Stellifer stellifer capturados
em Armação Itapocoroy........................................................................................................55
Figura 1.46 – Relação peso/comprimento linearizada da população de Stellifer stellifer
capturados em Armação Itapocoroy....................................................................
.................55
Figura 1.47 – Relação peso/comprimento da população de Stellifer brasiliensis
capturados em Armação Itapocoroy......................................................................................56
Figura 1.48 – Relação peso/comprimento da população de Stellifer brasiliensis
capturados em Armação Itapocoroy.
.....................................................................................56
Figura 1.49 – Variação do valor médio do fator de condição total de Stellifer rastrifer nas
estações do ano....................................................................................................................58
v
Figura 1.50 – Variação do valor médio do fator de condição total de Stellifer stellifer nas
estações do ano....................................................................................................................58
Figura 1.51 – Variação do valor médio do fator de condição total de Stellifer brasiliensis
nas estações do ano...............................................................................................................59
Figura 1.52 – Variação do valor médio do fator de condição gonadal de Stellifer rastrifer
nas estações do ano.............................................................................................................59
Figura 1.53 – Variação do valor médio do fator de condição gonadal de Stellifer stellifer
nas estações do ano.............................................................................................................59
Figura 1.54 – Variação do valor médio do fator de condição gonadal de Stellifer
brasiliensis nas estações do ano............................................................................................60
Figura 2.1 - Mapa da Armação Itapocoroy, Penha, SC com os três pontos tradicionais da
pesca de camarão sete-barbas onde se realizaram as coletas do presente
estudo......................................................................................................................................73
Figura 2.2 - Variação mensal média de temperatura da água de fundo, durante o período
de agosto de 1996 a julho de 2006, na Armação do Itapocoroy, Penha, SC. (a barra
vertical indica o desvio padrão da variável).........................................................................74
Figura 2.3 – Variação mensal média da salinidade da água de fundo das três áreas de
coleta, durante o período de agosto de 1996 a julho de 2006, na Armação do Itapocoroy,
Penha, SC. (a barra vertical indica o desvio padrão da variável).......................................75
Figura 2.4- Biomassa total mensal dos organismos pertencentes ao gênero Stellifer
capturada nas três áreas de coleta em Armação do Itapocoroy, no Município de Penha,
SC, no período de agosto de 1996 a julho de 2006............................................................76
Figura 2.5 - Número total mensal dos organismos pertencentes ao gênero Stellifer
capturado nas três áreas de coleta em Armação do Itapocoroy, no Município de Penha,
SC, no período de agosto de 1996 a julho de 2006............................................................76
Figura 2.6 - Biomassa média e erros da média para organismos do gênero Stellifer
capturados nos meses de coleta do estudo realizado durante os anos de 1996 a 2006,
em Armação Itapocoroy, Penha, SC...................................................................................77
Figura 2.7 – Número médio e erros da média para organismos do gênero Stellifer
capturados nos meses de coleta do estudo realizado durante os anos de 1996 a 2006
em Armação Itapocoroy, Penha, Santa Catarina................................................................77
vi
Figura 2.8 - Biomassa média anual das três áreas de coleta e erro da média de peixes
pertencentes ao gênero Stellifer capturados em Armação Itapocoroy durante o período
de agosto de 1996 a julho de 2006......................................................................................81
Figura 2.9 - Número médio anual das três áreas de coleta e erro da média de peixes
pertencentes ao gênero Stellifer capturados em Armação Itapocoroy, durante o período
de agosto de 1996 a julho de 2006..........................................................................................81
Figura 2.10 - Biomassa total de Stellifer capturada (1996 a 2006) nas três áreas
tradicionais da pesca de camarão sete-barbas em Armação Itapocoroy..........................82
Figura 2.11 - Número total de Stellifer capturados (1996 a 2006) como fauna
acompanhante nas três áreas tradicionais da pesca de camarão sete-barbas em
Armação Itapocoroy...............................................................................................................83
Figura 2.12 – Biomassa anual dos peixes pertencentes ao gênero Stellifer spp e da
espécie-alvo, Xiphopenaeus kroyeri, oriundos das pescarias realizadas em Armação
Itapocoroy, durante os anos de 1996 a 2006........................................................................84
Figura 2.13- Representação gráfica da Análise de Componentes Principais (PCA)
aplicada aos meses de coleta realizada em Armação do Itapocoroy, Penha, SC, durante
o período de 1996 a 2006.....................................................................................................86
Figura 2.14 – Valores médios mensais de captura de Stellifer spp. e da espécie-alvo,
Xiphopenaeus kroyeri, decorrentes da pesca de arrasto realizada em Armação do
Itapocoroy, Penha, SC, durante os anos de 1996 a
2006..........................................................................................................................................87
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1 - Número total, freqüência de ocorrência em relação ao total dos meses (%)
e freqüência em relação ao total do mês (%relativa) de Stellifer rastrifer............................25
Tabela 1.2 - Número total, freqüência de ocorrência em relação ao total dos meses
(%) e freqüência em relação ao total do mês (%relativa) de Stellifer
stellifer.........................................................................................................................29
Tabela 1.3 - Número total, freqüência de ocorrência em relação ao total dos meses (%) e
freqüência em relação ao total do mês (%relativa) de Stellifer brasiliensis..........................34
Tabela 1.4 – Número e freqüência (%) de ocorrência mensal dos estádios de maturação
gonadal de Stellifer rastrifer coletados em Armação do Itapocoroy, Penha,SC, no período
de Abr/06 a Mar/07..................................................................................................................37
Tabela 1.5 – Número e freqüência (%) de ocorrência mensal dos estádios de maturação
gonadal de Stellifer stellifer.coletados em Armação do Itapocoroy, Penha,SC, no período
de Abr/06 a Mar/07..................................................................................................................39
Tabela 1.6 – Número e freqüência (%) de ocorrência mensal dos estádios de maturação
gonadal de Stellifer brasiliensis coletados em Armação do Itapocoroy, Penha, SC, no
período de Abr/06 a Mar/07.....................................................................................................40
Tabela 1.7 - Classificação dos resultados do Índice de Atividade Reprodutiva das
espécies pertencentes ao gênero Stellifer spp. capturados em Armação do Itapocoroy
durante o período de Abr/06 a Mar/07...................................................................................42
Tabela 2.1 - Resultado da comparação entre os valores mensais de biomassa capturada
de Stellifer spp realizados pelo teste de Kruskal–Wallis..
......................................................78
Tabela 2.2 - Resultado da comparação entre os valores de número de capturas mensais
de Stellifer spp realizados pelo teste de Kruskal –Wallis.............................
.........................79
Tabela 2.3. Peso médio de peixes pertencentes ao gênero Stellifer capturados como
fauna acompanhante da pesca direcionada ao câmara sete-barbas em Armação
Itapocoroy, Penha, SC...........................................................................................................80
Tabela 2.4. Valores dos coeficientes de Pearson entre as variáveis biomassa de Stellifer
spp., biomassa de camarão sete-barbas, salinidade e temperatura analisadas no
estudo......
......................................................................................................................87
viii
SUMÁRIO
Introdução 1
Área de estudo 4
Refêrencias Bibliográficas 6
Capitulo 1 8
Abstract 8
Resumo 9
1.1. Introdução 10
1.2 Material e métodos 11
1.3 Resultados e Discussão 20
-Temperatura e salinidade 20
- Estrutura de comprimento 22
- Aspectos reprodutivos 36
- Recrutamento de jovens 47
- Proporção sexual 48
- Relação peso/comprimento 53
- Fator de condição. fator de condiçao gonadal e fator de condição
relativo 57
1.4. Conclusões 61
1.5 Refêrencias Bibliográficas 63
Capitulo 2 69
Abstract 69
Resumo 70
2.1. Introdução. 71
2.2. Material e métodos 72
2.3. Resultados e Discussão 74
2.4. Conclusões 88
2.5. Referências Bibliográficas 89
RESUMO
A pesca de arrasto com redes-de-porta praticada pela frota artesanal, dirigida ao
camarão sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri no litoral brasileiro é considerada
eficiente na captura da espécie-alvo. Entretanto, apresenta baixa seletividade e
incidentalmente captura grande contingente da fauna demersal e bentônica,
agrupados sobre a denominação de fauna acompanhante. Dentre esses, destacam-
se, devido ao fato de possuírem o mesmo habitat que a espécie-alvo, os peixes do
gênero Stellifer. Tendo por base esta constatação objetivou-se, no presente
trabalho, determinar as características bioecológicas de espécies do gênero Stellifer
ocorrentes na pesca artesanal realizadas em Armação do Itapocoroy, Penha, Santa
Catarina, abordando dois aspectos: no primeiro capitulo, analisando a estrutura das
populações e os aspectos reprodutivos das espécies Stellifer rastrifer, Stellifer
stellifer e Stellifer brasiliensis, capturadas no período de abril/2006 a março/2007 e,
no segundo capitulo, avaliando as distribuições mensais e anuais da abundância das
populações de Stellifer spp. capturadas durante os anos de 1996 a 2006.
ABSTRACT
The fishery of sea-bob-shrimp Xiphopenaeus kroyeri with over-trawl nets with doors
used by artisanal fishery is considered an efficient method for the capture of the
target specie along the Brazilian Cost. However, it presents a low selectivity and
captures a high amount of the demersal and benthonic fauna that are know as
accompanying fauna. Among these, is frequently found that they of the target
species, the fish of the genus Stellifer. Therefore, this study, aimed to determine the
bioecological characteristics of fishes of this captured in fishing held in the Armação
Itapocoroy, Penha, Santa Catarina, in two ways: in the first chapter, analyzing the
population structure and the reproductive aspects of the species Stellifer rastrifer,
Stellifer stellifer e Stellifer brasiliensis exploited in in the period of from april/2006 to
march/2007 and, in the second chapter, assessing the annual and monthly
abundance distributions of the exploited Stellifer spp. populations during the years
of 1996 2006.
1
INTRODUÇÃO
A Agenda 21 é um plano de ação para ser adotado global, nacional e
localmente, por organizações do sistema das Nações Unidas, pelos governos e pela
sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio
ambiente. Contendo 40 capítulos, a Agenda 21 Global
1
foi construída de forma
consensuada, com a contribuição de governos e instituições da sociedade civil de
179 países, em um processo que durou dois anos e culminou com a realização da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CNUMAD) no Rio de Janeiro, em 1992, também conhecida por Rio 92.
O capitulo 17 desse documento é intitulado “PROTEÇÃO DOS OCEANOS, DE TODOS
OS TIPOS DE MARES
- INCLUSIVE MARES FECHADOS E SEMIFECHADOS - E DAS ZONAS COSTEIRAS,
E PROTEÇÃO
, USO RACIONAL E DESENVOLVIMENTO DE SEUS RECURSOS VIVOS e aborda as
bases para ação, objetivos, atividades e meios de implementação para o
gerenciamento integrado e desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e
marinhas, para a proteção do meio ambiente marinho e para o uso sustentável e
conservação dos recursos marinhos vivos de alto mar e também aqueles sob
jurisdição nacional.
Entretanto, dados recentes referentes à situação da pesca mundial (FAO,
2007) indicam contradição entre o que se norteia no capitulo 17 da Agenda 21 e a
real situação dos mares e oceanos mundiais. Segundo o documento da FAO (2007),
que monitora o estado dos estoques pesqueiros mundiais, cerca de metade desses
estoques (52 %) são explorados no seu limite máximo sustentável e um quarto são
sobreexplorados (17%), empobrecidos (7%) ou estão se recuperando de
esgotamento (1%) devido ao excesso de pressão da pesca exercida no passado.
Ainda de acordo esse documento, o recurso mais importante em termos econômicos
é o camarão, que representa 16,50 % do valor total dos recursos pesqueiros
comercializados em todo o mundo.
A pesca voltada à exploração do camarão sete barbas Xiphopenaeus kroyeri
é conhecida por capturar grande quantidade de organismos não alvo, considerados
como fauna acompanhante ou “bycatch”, e o descarte desses organismos gera
1
(AGENDA 21 - http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575)
2
impactos biológicos e ecológicos como alterações na cadeia trófica e nas interações
entre os organismos (no nível de comunidade) e mudanças nas transferências de
energia no nível ecossistêmico, além de desperdiçar valiosos recursos vivos e
ameaçar populações de grande valia econômica e/ou ecológica (KOTAS, 1998;
DIAMOND, 2005; HARRINGTON et al 2005).
Devido à importância do assunto, o “by-catch” tornou-se uma questão
prioritária na atividade pesqueira, sendo sua gestão e a mitigação de suas
conseqüências, um dos principais desafios enfrentados pela indústria da pesca
comercial no mundo. A preocupação com esse tema foi acompanhada também por
um aumento no número de publicações cientificas sobre o assunto (HALL &
MAINPRIZE 2005).
No Brasil, alguns autores trataram sobre o assunto da fauna acompanhante e,
quando focado o “by-catch” oriundo da pesca direcionada a um dos principais
recursos pescado no litoral brasileiro, o camarão sete-barbas, Xiphopenaeus kroyeri,
observaram que os peixes do gênero Stellifer têm grande representatividade em sua
composição (COELHO et al 1986; PAIVA-FILHO et al, 1987; GIANNINI & PAIVA-FILHO,
1990; BRANCO & VERANI, 2006a).
Os peixes pertencentes ao gênero Stellifer são conhecidos como cangoá,
canganguá, cangulo ou cabeça-de–coco e sua distribuição geográfica ocorre desde
a Venezuela ao litoral sul do Brasil, no estado do Rio Grande do Sul (MENEZES &
FIGUEIREDO, 1980; IBAMA , 2000; Haimovici et al , 2005).
Em relação aos hábitos alimentares, M
ENEZES & FIGUEIREDO (1980) relatam
que na região sudeste o gênero é reconhecidamente “carcinofagista”. C
HAVES &
VENDEL (1998) constataram que a dieta de Stellifer rastrifer na baia de Guaratuba
(PR) é composta principalmente por Decapodas, Brachyura e Polychaeta e,
secundariamente, por vegetais superiores, Copepoda, Gammaridae e Mollusca.
As espécies do gênero Stellifer enfocadas neste estudo, mesmo
sofrendo um elevado esforço de pesca por parte da grande frota
camaroeira que atua no litoral brasileiro, são ainda pouco estudadas com
relação a seus aspectos ecológicos e aos impactos que sofrem devido a
essa atividade.
3
O presente trabalho é formado por dois capítulos, o primeiro abordando a
estrutura populacional e os aspectos reprodutivos das espécies Stellifer rastrifer,
Stellifer stellifer e Stellifer brasiliensis capturadas em Armação do Itapocoroy,
município de Penha, Santa Catarina e, o segundo, apresentando uma análise dos
dados históricos de oito anos de captura dessas espécies do gênero Stellifer, como
fauna acompanhante da pesca artesanal do camarão sete barbas, X. kroyeri, na
referida região.
4
ÁREA DE ESTUDO
O município de Penha, com área de 60,3 km
2
, temperatura média anual de
20,2°C e precipitação média anual de 1.690 mm (ARAÚJO et al, 2006), está
localizado no litoral Centro-Norte do Estado de Santa Catarina, e a área de estudo
encontra-se entre a Praia de Armação e o distrito da Armação do Itapocoroy, entre
as coordenadas 26°40’ - 26°47’ S e 48°36’ - 48°38’ W (BRANCO & VERANI, 2006a),
cercada por morros, sendo abrigada dos ventos do quadrante Sul e exposta aos
ventos predominantes do quadrante norte que atuam com moderada intensidade.
Está situada na divisão morfoclimática das vertentes orientais da Serra do Mar, com
clima super-úmido a úmido e temperatura variando anualmente entre 8 a 35°C
(GUSMÃO, 1990).
Figura 1 – Vista geral da Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC.
5
A vegetação na região costeira de Penha é constituida de Floresta umbrófila
densa, tornando-se uma paisagem notadamente xerófita, à medida que se aproxima
do mar (BRANCO & VERANI, 2006b).
O trecho de litoral pertencente ao município caracteriza-se pela presença de
diversas baias e enseadas, resultado da intercalação de praias e costões rochosos
originários de projeções menores da Serra do mar em direção ao oceano (MARENZI,
2002).
Uma característica oceanográfica importante da região é a penetração da
massa de Água Central do Atlântico Sul (ACAS) na camada inferior da plataforma
continental durante o verão, formando uma termoclina numa profundidade de
aproximadamente 10 a 15 m. Com o retrocesso da ACAS durante o inverno, a
distribuição da temperatura na zona costeira torna-se homogênea com águas entre
20 e 23°C e salinidade de 35 ‰ (MATSUURA, 1986).
As áreas de coleta foram estabelecidas em função dos locais de atuação da
frota artesanal que atua na captura do camarão sete-barbas, com a profundidade
variando de 5 a 18 metros (BRANCO & VERANI 2006a). De acordo com BRANCO
(1999), 76 embarcações atuam na pesca camaroeira em Armação do Itapocoroy,
sendo a produção anual de 1227,9 toneladas de ictiofauna acompanhante
decorrente dessa prática.
A constituição do fundo nas áreas de pesca é areno-lodosa, porém as praias
próximas são constituídas por areia grossa (BRANCO & VERANI, 2006b).
Na região, além do destaque para atividade pesqueira, está localizado o
maior parque de cultivo de mexilhões da América Latina, concentrando
aproximadamente 25% da produção do estado de Santa Catarina e colocando o
município como o maior produtor nacional de mexilhões (PANORAMA DA AQUICULTURA,
2001). Apesar da queda na produção nos últimos cinco anos pela falta de sementes,
o município de Penha continua sendo um dos líderes nacionais no cultivo de
mexilhões, com uma produção de 1900 toneladas no ano de 2004, distribuída em
cinco parques aqüícolas que, juntos, ocupam uma área de 255,5 hectares (MARENZI
& BRANCO, 2006).
6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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climatológica do município de Penha, SC., 11-28p. In JOAQUIM OLINTO BRANCO &
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sustentável: estudo de caso em Penha, SC. Editora da UNIVALI, Itajaí, SC., 292p
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Doutorado. Universidade de São Carlos, SP, 147 p.
BRANCO, J. O.; VERANI, J. R. 2006(a). Análise Quali-Quantitativa da ictiofauna
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Penha, Santa Catarina. Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, PR. 23 (2): 381-391
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fauna acompanhante, na Armação do Itapocoroy, Penha, SC. In: BRANCO, Joaquim
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sustentável: estudos de caso em Penha, SC. 291. Editora da UNIVALI, Itajaí, SC. p.
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DIAMOND S. L. 2005. Bycatch quotas in the Gulf of Mexico shrimp trawl fishery:
can they work? Reviews in Fish Biology and Fisheries (2004) 14: 207–237.
FAO Fisheries and Aquaculture Department 2007 - The state of world fisheries
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USMÃO, R.P. 1990. Diagnostico-Brasil: a ocupação do território e o meio
ambiente. Rio de Janeiro; IBGE. Diretoria de Geociências. 170 p.
7
HALL S. J. & MAINPRIZE B. M.. 2005. Managing by-catch and discards: how
much progress are we making and how can we do better? Fish and Fisheries,6, 134–
155
IBAMA 2000. Boletim Técnico Cientifico CEPENE Tamandaré vol.8 n.1 p. 7-
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WWW.IBAMA.GOV.BR/CEPENE/MODULOS/BOLETIM/VISUALIZA.PHP?ID_ARQ=83
Acesso em: 04 de fevereiro de 2008
HARRINGTON J. M. MYERS. R. A. & ROSENBERG A. A.2005. Wasted fishery
resources: discarded by-catch in the USA. Fish and Fisheries, 6, 350–361.
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MALACULTURA BRASILEIRA. 2001. Panorama da Aqüicultura. 64: 25-31.
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(Org.). Bases ecogicas para um desenvolvimento sustentável: estudos de caso em
Penha, SC. 291. Editora da UNIVALI, Itajaí, SC. p. 227-244.
8
CAPITULO 1
Aspectos reprodutivos e dinâmica da população das espécies ictiicas Stellifer
rastrifer, Stellifer stellifer e Stellifer brasiliensis capturadas como fauna
acompanhante da pesca camaroeira artesanal no litoral sul do Brasil.
Rodrigues-Filho
1
, Jorge Luiz; Branco
2
, Joaquim Olinto; Verani
1
,José Roberto
1
Departamento de Hidrobiologia, Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luis, km
235, 13565-905 - São Carlos, São Paulo, Brasil
2
Centro de Ciências Tecnológicas, da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí. Caixa Postal
360, 88301- 970 - Itajaí, Santa Catarina, Brasil.
ABSTRACT
Armação Itapocoroy located in Penha, county of the state of Santa Catarina, is an
important acting area of the shrimp fleet in the south of Brazil. The fishing aimed to
the capture of the Xiphopenaeus kroyeri shrimp are characterized by the accidental
capture of a great amount of fish from the Sciaenedae family, where it stands out
mainly due to the fact of having the same habitat that the target resource, those of
the Stellifer spp gender. Even though it does not have an economical importance
nowadays, the knowledge about the biological aspects of populations from these fish,
in environments exploited by the fishing activity is of great value for the
understanding of how it works, and also to provide information that might be used
later on for the correct handling of these ecosystems. That way, the present paper
aimed to analyze the population dynamics and the reproductive aspects of the
Stellifer rastrifer, Stellifer stellifer and Stellifer brasiliensis captured through the
monthly rafting during a year in three different fishing areas in Armação Itapocoroy.
The following parameters were estimated and analyzed: IGS (gonadsomathic index),
macroscopic gonads analysis,
I
AR (Reproductive Activity Index) length of the first
sexual maturation, distribution of length frequency, sexual proportion of the
population, weight/length relation, total condition factor (
), gonadal condition factor
(K
gonadal
) and the relative condition factor (
r
K ). In general the populations of the
three species had similar results in the evaluated parameters, allowing a higher
easiness in the handling for the conservation and sustainability of the shrimp fishing
and its exploited resources in the studied region.
KEY –WORDS: reproductive aspects; population dynamics; bycatch; conservation of
species
9
RESUMO
A Armação do Itapocoroy localizada em Penha, município do estado de Santa
Catarina, é uma importante área de atuação da frota camaroeira no sul do Brasil. As
pescarias voltadas para a captura do camarão sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri
são caracterizadas pela captura acidental de uma grande quantidade de peixes da
família Sciaenedae, onde se destacam principalmente, devido ao fato de possuírem
o mesmo habitat que o recurso alvo, os pertencentes ao gênero Stellifer .Mesmo não
possuindo importância econômica atualmente, o conhecimento dos aspectos
biológicos das populações destes peixes em ambientes explorados pela atividade
pesqueira é de grande valia para a compreensão do funcionamento e também para
fornecer informações que possam ser usadas para o correto manejo destes
ecossistemas. Dessa forma, o presente trabalho visou analisar a dinâmica
populacional e os aspectos reprodutivos das espécies Stellifer rastrifer, Stellifer
stellifer e Stellifer brasiliensis capturadas por meio de arrastos mensais durante um
ano em três diferentes áreas de pesca em Armação do Itapocoroy, Penha, SC. Os
seguintes parâmetros foram estimados e analisados: IGS (índice gonadossomatica),
análise macroscópica das gônadas,
IAR
(Índice de Atividade Reprodutiva),
comprimento de primeira maturação gonadal, distribuição de freqüência de
comprimento, proporção sexual, relação peso/comprimento, fator de condição total
(
), fator de condição gonadal (K
gonadal
) e o fator de condição relativo (
r
K
). De
modo geral, as populações das três espécies apresentaram resultados semelhantes
nos parâmetros avaliados, permitindo uma maior facilidade no momento de
aplicação de planos de manejo para a conservação e para a sustentabilidade da
pesca camaroeira e de seus recursos explotados na região estudada.
PALAVRAS-CHAVE: aspectos reprodutivos; dinâmica da população; “bycatch”;
conservação de espécies
10
1.1 - INTRODUÇÃO
Os peixes integrantes do gênero Stellifer, conhecidos como cangoás ou
cangulo, apresentam uma ampla distribuição geográfica, ocorrendo em águas
litorâneas e estuarinas com fundos de areia ou lama (MENEZES & FIGUEIREDO 1980),
características semelhantes às encontradas nas áreas de atuação da frota do
camarão sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri no Brasil (BRANCO & VERANI 2006).
A pesca de arrasto com redes-de-portas que tem como recurso alvo o
camarão sete-barbas no litoral brasileiro é responsável por capturar incidentalmente
grande diversidade e abundância de peixes, onde predominam os Sciaenidae do
gênero Stellifer, sendo tal prática considerada predatória e pouco seletiva, uma vez
que danifica substancialmente as comunidades bentônicas, além de ser
freqüentemente realizada em criadouros de espécies de interesse econômico
(RUFFINO & CASTELLO 1992/93; ALVERSON 1994; COELHO et al. 1986; PAIVA-FILHO et
al. 1987; GIANNINI & PAIVA-FILHO 1990b; CUNNINGHAM & DINIZ-FILHO 1991; BRANCO &
VERANI 2006).
No litoral norte catarinense, a pesca artesanal do camarão sete-barbas vem
sofrendo impactos ao longo de sua existência, onde a falta de fiscalização correta, a
ausência de uma política de apoio à pesca, a falta de cooperativas de pesca e a
diminuição gradativa das capturas ao longo dos anos levam a um declínio dos
pescadores atuantes (MEDEIROS et al. 1997; BRANCO et al 2006).
O entendimento de como a pesca direcionada aos camarões atua sobre os
recursos marinhos é fundamental para a sustentabilidade deste ecossistema. Apesar
da pequena importância econômica no momento e da conseqüente falta de
interesse nas espécies do gênero Stellifer, rejeitadas e dominantes, merecem ser
estudadas quanto à sua biologia, ressaltando a importância desse conhecimento na
compreensão do encadeamento trófico das áreas de pescas e do equilíbrio do
ecossistema em explotação (COELHO et al. 1986; ALVERSON 1994; BRANCO & VERANI
2006).
Para L
ONGHURST & PAULY (2007) o progresso na compreensão da dinâmica
populacional de peixes tropicais foi muito prejudicado pela limitada capacidade de
pesquisa de muitos paises tropicais, dispondo de relativamente poucos cientistas
marinhos e ainda menos investimento em pesquisa, bem como a ausência de longas
11
series temporais de dados de captura, esforço e composição etária de seus
estoques pesqueiros.
Estudos abordando aspectos populacionais e ecológicos do gênero foram
realizados com as populações de Stellifer rastrifer (JORDAN, 1889) e de Stellifer
brasiliensis (SCHULTZ, 1945) no litoral de São Paulo (COELHO et al. 1985; COELHO et
al. 1987; GIANNINI & PAIVA-FILHO 1990a; GIANNINI & PAIVA-FILHO 1995), do Paraná
com Stellifer rastrifer (CHAVES & VENDEL 1997 e 1998) e de Santa Catarina com S.
stellifer (BLOCH, 1790) (ALMEIDA & BRANCO 2002). Quanto maior o conhecimento dos
padrões biológicos das espécies num determinado ambiente, mesmo das
aparentemente inexpressivas para a pesca, mais seguras serão as previsões sobre
o impacto ambiental das atividades pesqueiras que ali ocorrem (COELHO et al 1985).
Dessa forma, no presente trabalho, são analisados os aspectos populacionais
e reprodutivos das espécies ictiícas Stellifer stellifer, Stellifer rastrifer e Stellifer
brasiliensis objetivando compreender suas características biológicas, gerando
informações e condições para o manejo e a sustentabilidade econômica da atividade
pesqueira camaroeira na região de Armação do Itapocoroy, município de Penha,
SC, com vistas à aplicação em outras regiões.
1.2 - MATERIAL E MÉTODOS
As coletas de peixes do gênero Stellifer ocorreram em três áreas tradicionais
de atuação da pesca artesanal do camarão sete-barbas na Armação do Itapocoroy,
Penha, Santa Catarina (26°40’- 26°47’ S, 48°36’- 48°38’ W) (Fig.1.1), no período de
amostragem que se estendeu de abril de 2006 a março de 2007.
Em cada coleta foram empregados arrastos com portas (doublé rigged), com
malha de 3,0 cm na manga e corpo e de 2,0 cm no ensacador, tracionadas por uma
embarcação (baleeira) com velocidade média de 2,0 nós (Fig. 1.2). A duração do
arrasto em cada área foi de 30 minutos
12
Figura 1.1 - Mapa da Armação Itapocoroy, Penha, SC (26°40’- 26°47’ S, 48°36’-
48°38’ W) com os três pontos tradicionais da pesca de camarão sete-barbas onde se
realizaram as coletas do presente estudo.
Figura 1.2 - Embarcação (baleeira) utilizada nos arrastos mensais para a pesca do
camarão sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri realizados em Armação do Itapocoroy,
município de Penha, SC.
13
Todo o material capturado nos arrastos foi colocado em sacos plásticos e,
após ser devidamente etiquetado com as informações da data e da área de coleta,
acondicionado em caixas térmicas e resfriado com gelo para ser triado
posteriormente em laboratório. Paralelamente às coletas dos peixes, realizaram-se
amostragens de água do fundo (Fig. 1.3) para mensuração dos valores de
temperatura (termômetro manual) e salinidade.
Figura 1.3 – Coleta de água no fundo para registro da temperatura e salinidade nos
pontos de amostragem na Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC.
Os exemplares de peixes das espécies do gênero Stellifer foram separados
dos demais e identificados até o nível de espécie com o uso de chaves dicotômicas
conforme MENEZES & FIQUEIREDO (1980). A característica morfológica que permitiu a
diferenciação das espécies pertencentes ao gênero foi o número de espinhos na
margem do pré – opérculo. De acordo com essa característica, Stellifer sp. tem mais
que 4 espinhos; Stellifer stellifer possuem 3, muito raramente 4 espinhos; Stellifer
brasiliensis de 4 a mais espinhos e Stellifer rastrifer possui apenas 2 espinhos
(MENEZES & FIGUEIREDO, 1980). Outra característica visual que diferencia somente
Stellifer brasiliensis das outras espécies é o formato de seu focinho, um pouco mais
fino que os demais, possibilitando uma seleção prévia sem a observação da
quantidade de espinhos.
14
Em laboratório os exemplares foram submetidos à biometria, com tomada dos
comprimentos padrão e total (em mm), empregando-se um ictiômetro com precisão
de 1 mm, e do peso total (g), obtido por meio de balança de precisão “Gehaka” BG
1000, com precisão de 0,01g. Após esse procedimento os indivíduos foram
seccionados por meio de um corte longitudinal, a partir do orifício urogenital, e
aqueles que possuíam gônadas observáveis a olho nu foram identificados de acordo
com o sexo e o estádio de maturação gonadal. Os indivíduos sem gônadas
observáveis a olho nu foram classificados como indeterminados.
A metodologia empregada para classificação das gônadas masculinas e
femininas quanto ao grau de desenvolvimento foi uma adaptação da proposta por
VAZZOLER (1996), onde são observadas características morfológicas das gônadas
como o tamanho em comparação à cavidade celomática, coloração, tamanho e
aspectos dos ovócitos, presença de vasos sanguíneos e grau de turgidez do órgão.
Os exemplares foram então classificados nos seguintes estádios:
Estádio “A” ou “imaturo”
Estádio “B” ou “em maturação”
Estádio “C” ou “maduro”
Estádio “D” ou “esvaziado”
Exemplos de gônadas dos representantes do gênero Stellifer podem ser
vistos nas figuras 1.4 a 1.8.
Figura -1.4 – Exemplar fêmea de Stellifer stellifer fêmea (Lt = 6cm) capturada na Armação
do Itapocoroy, município de Penha, SC, em Jan/07 com gônada no estádio “A”.
15
Figura -1.5 – Gônada feminina no estádio “B” de Stellifer brasiliensis ( Lt = 9,3 cm)
capturada na Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC, em Nov/2006.
Figura -1.6 – Gônada feminina no estádio “C” de Stellifer brasiliensis (Lt = 11,5 cm)
capturada na Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC, em Nov/2006.
16
Figura 1.7 – Gônadas de Stellifer stellifer e Stellifer brasiliensis femininas no estádio “D”
capturadas na Armação do Itapocoroy, município de Penha, SC em Out/06.
Figura 1.8- Gônadas masculinas de Stellifer rastrifer coletados em Nov/06 na Armação do
Itapocoroy. Da esquerda para a direita, nos estádios de maturação “C”, “B” e “A”
respectivamente.
17
O peso das gônadas foi determinado na balança “Sciencetech“ SA210 com
precisão de 0,0001 e, de acordo, com SANTOS (1978), calculou-se o índice
gonadossomatico ( IGS ), pela seguinte equação:
100.
t
g
W
W
IGS
=
onde:
g
W = peso da gônada;
t
W = peso total.
Os valores de
IGS das fêmeas foram utilizados no cálculo do Índice de
Atividade Reprodutiva (
I
AR ), desenvolvido por AGOSTINHO et al. (1993), de acordo
com a seguinte equação:
+
+
=
ni
imm
ni
eiiiiii
nnN
IGSIGSNnnnN
IAR
1:
1:
)1(ln
/)).()((ln
100
sendo:
i
N o número de indivíduos na unidade amostral 'i',
i
n o número de indivíduos
em reprodução na unidade amostral 'i',
m
N o número de indivíduos na maior unidade
amostral,
m
n o número de indivíduos em reprodução (estádios “C” ou “D”) na maior
unidade amostral,
i
IGS o valor médio de IGS dos indivíduos em reprodução na
unidade amostral 'i', e
e
IGS o valor mais alto de IGS na unidade amostral 'i'.
Seguindo essa proposição, a atividade reprodutiva foi classificada em cinco
categorias: "nula" quando
I
AR < 2, "incipiente" quando 2 <
I
AR < 5, "moderada"
quando 5 <
I
AR < 10, "intensa" quando 10 <
I
AR < 20, e "muito intensa" quando
I
AR > 20.
Analisando as variações mensais dos valores médios do IGS e dos valores
de freqüência de ocorrência das fêmeas efetivamente em reprodução (estádios “B”,
“C” e “D”), assim como dos valores do
I
AR , foi possível determinar o período de
reprodução para cada uma das espécies
18
A análise dos aspectos reprodutivos foi complementada pela estimativa do
tamanho de primeira maturação gonadal das fêmeas de cada espécie, empregando-
se a técnica descrita por SANTOS (1978), baseada na freqüência de ocorrência (%)
de jovens e adultos em relação às classes de comprimento total (intervalos de 1 cm).
Essas freqüências quando plotadas com suas respectivas classes de comprimento
possibilitaram o ajuste de uma curva do tipo sigmóide de onde foi possivel estipular
os valores de
50
L e
100
L , correspondentes aos comprimentos nos quais 50 e 100%
da população iniciam sua participação efetiva no ciclo reprodutivo.
O calculo do
50
L permitiu avaliar a incidência da pesca nos diferentes estratos
populacionais (jovens e adultos) das três espécies do gênero Stellifer explotadas
pela atividade pesqueira na Armação do Itapocoroy.
A análise da evolução anual e sazonal da estrutura populacional para o
período de estudo foi realizada por meio das distribuições de freqüência de
ocorrência das classes de comprimento total (intervalo de 1,0 cm). Na análise
sazonal, os meses foram agrupados da seguinte maneira: outono (abril, maio,
junho); inverno (julho, agosto, setembro); primavera (outubro, novembro, dezembro)
e verão (janeiro, fevereiro, março).
Nas distribuições de freqüência de ocorrência das classes de comprimento
total das espécies estudadas, analisando-se a ocorrência das classes de indivíduos
de pequeno porte, pode-se estimar o período de entrada de jovens na população
(recrutamento). Para complementar essa análise, os indivíduos considerados como
indeterminados e que apresentaram comprimento total inferior a 6,0 cm
(comprimento mínimo de diferenciação sexual), em conjunto com os classificados no
estádio de maturação gonadal “A”, foram considerados como jovens e seus valores
totais de captura mensal foram comparados aos valores dos indivíduos adultos
(exemplares classificados nos estádios “B”, “C” e “D”).
A proporção sexual das espécies foi estimada pela obtenção da razão entre
os valores de captura total de fêmeas e machos em todo período de estudo e
também dessa razão nos diferentes meses e, ainda, nas diferentes classes de
comprimento.
19
O teste “Qui-quadrado” (
2
X
) com nível de significância de 5% e 1n graus
de liberdade (VAZZOLER, 1996) foi utilizado para verificar a ocorrência de diferença
significativa em relação à razão sexual de 1:1.
A relação peso-comprimento foi calculada para cada uma das espécies
(S
ANTOS 1978), e, nesse calculo, foram empregados os dados referentes ao peso e
comprimento total, por sexos agrupados, durante todo o período.
Após lançar em gráfico os valores de peso e comprimento total, ajustou-se a
curva expressa pela equação potencial representada por:
b
t
aLtW =
onde:
t
W = peso total (g);
t
L = comprimento total (cm); a = fator de condição;
b = coeficiente de alometria.
A equação foi linearizada para estimativa dos coeficientes linear e angular ( A
e
B
) e do coeficiente de determinação (
2
r
) entre
t
LnW e
t
LnL , pelo método dos
mínimos quadrados, originando a seguinte equação:
tt
LBALnW ln+=
O fator de condição total (
K
) das espécies de Stellifer foi estimado, para
machos e fêmeas, de acordo com LE CREN (1951), a partir da expressão:
b
tt
LWK =
onde:
t
W = peso total;
t
L = comprimento total;
b
= coeficiente alométrico calculado
pela relação peso-comprimento.
O fator de condição gonadal (
gonadal
K ) das fêmeas das três espécies de
Stellifer foi estimado, de acordo com B
ARBIERI & VERANI (1987), a partir da
expressão:
b
tggonadal
LWK =
onde:
g
W = peso da gônada;
t
L = comprimento total; b = coeficiente alométrico
calculado pela relação peso-comprimento.
Por fim, foi determinado o fator de condição relativo (
r
K ) para cada espécie,
segundo LE CREN (1951):
20
espobsr
WWK =
onde:
obs
W = peso observado obtido da pesagem de cada individuo;
esp
W
= peso
teoricamente esperado, determinado por meio da curva da relação peso-
comprimento obtida no período.
As comparações das séries de valores estimados do fator de condição
relativo foram efetuadas pelo teste de KRUSKAL-WALLIS complementado pelo teste de
agrupamento não paramétrico de DUNN, de acordo com ZAR (1999).
1.3 - RESULTADOS e DISCUSSÃO
- TEMPERATURA E SALINIDADE
A temperatura da água no fundo apresentou variação no decorrer do ano (Fig.
1.9) e sua média foi de 20,42 ± 2,65 °C. Nos meses de outono e inverno foram
registrados os menores valores, destacando-se julho com 17,16 °C. Nos meses de
primavera, houve um acréscimo dos valores, sendo atingido o maior valor do ano
(24,33°C) no final desse período, dezembro de 2006. Nos meses de verão foram
registrados altos valores de temperatura, com um decréscimo continuo entre o inicio
(janeiro/07 - 24,0°C) e o final da estação (março/07 - 23,0 °C).
15
17
19
21
23
25
27
A/06 M J J A S O N D J/07 F M
meses
C °
Figura 1.9 – Variação mensal dos valores médios e respectivos valores de desvio
padrão da temperatura registrada em Armação do Itapocoroy, Penha, SC, durante o
período de Abr/06 a Mar/07.
21
A variação dos valores médios mensais da salinidade apresentou
comportamento antagônico ao registrado pela temperatura (Fig. 1.10), fato também
observado por CHAVES & VENDEL (1997) na baia de Guaratuba, PR. Os maiores
valores de salinidade ocorreram durante os meses mais frios (outono e inverno),
sendo o maior valor registrado de 35,66 p.s.u em junho de 2006. Os menores
valores foram registrados na primavera e no verão, com destaque para os 31,66
p.s.u em novembro de 2006. As variações de salinidade ocorridas em Armação do
Itapocoroy não estão de acordo com o observado por MATSUURA (1986) para a
região sul do país. Para BRANCO et al (1999) essas flutuações na região são típicas
de zonas costeiras e determinadas, provavelmente, por períodos de maior
pluviosidade e grande contribuição fluvial do rio Itajaí-Açu, cuja foz encontra – se a
20 km ao sul da área de estudo.
30
31
32
33
34
35
36
37
A/06 M J J A S O N D J/07 F M
meses
p.s.u
Figura 1.10 – Variação mensal dos valores médios e respectivos valores de desvio
padrão da salinidade registrada em Armação do Itapocoroy, Penha, SC, durante o
período de abril/06 a março/07.
O efeito das diferentes características das estações do ano, decorrente da
variação desses parâmetros da água, sobre as populações do gênero Stellifer, será
analisado posteriormente nesse capitulo quando abordada a estrutura populacional,
o desenvolvimento e a reprodução destes organismos.
22
- ESTRUTURA EM TAMANHO E ABUNDANCIA RELATIVA DAS ESPECIES DO GÊNERO STELLIFER
Foram coletados 2828 indivíduos do gênero Stellifer durante as amostragens.
Desse total, foram registradas 1396 capturas de Stellifer rastrifer (49,36% do total),
839 de Stellifer brasiliensis (29,67 %), 570 de Stellifer stellifer (20,16 %) e somente
23 capturas de Stellifer sp. ( 0,81 %) (Figura 1.11).
0
10
20
30
40
50
60
S. sp. S. stellifer S. brasiliensis S. rastrifer
espécies
%
Figura 1.11 – Freqüência de ocorrência das quatro espécies pertencentes ao gênero
Stellifer capturadas em Armação Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abr/06 a
Mar/07.
Figura 1.12 – Exemplares das três espécies do gênero Stellifer analisadas no presente
estudo. Na ordem, de cima para baixo: Stellifer brasiliensis ( Lt = 8,3 cm), Stellifer stellifer
(Lt =8,6 cm) e Stellifer rastrifer ( Lt = 8,3 cm).
23
Os baixos valores de captura obtidos para Stellifer sp. impossibilitaram a
análise das características populacionais e reprodutivas desta população e, portanto,
somente os dados das outras três espécies foram analisados neste estudo (Fig.
1.12).
A confiabilidade de uma amostra de peixes para análise de sua distribuição
da freqüência de comprimento depende do numero de peixes capturados e da
quantidade de meses em que essa foi acumulada (PAULY 1984). Seguindo esse
critério, numa escala de 0 a 5, as amostras das populações aqui analisadas
apresentaram uma confiabilidade alta, com Stellifer stellifer e Stellifer brasiliensis
atingindo o valor 4 e Stellifer rastrifer o valor 5.
O número total de capturas da espécie Stellifer rastrifer foi o maior entre as
estudadas, computando um total de 1396 indivíduos durante todo o período. Seus
representantes tiveram o comprimento médio de 8,09 cm e foram os que atingiram
os maiores valores de comprimento total. A amplitude de comprimento da população
variou de 3,6 a 20,2 cm, sendo que a grande maioria (74,07 %) encontra-se entre o
intervalo de 5,0 a 9,0 cm (Fig. 1.13). A moda principal ocorreu na classe que contém
indivíduos entre 5,0 e 6,0 cm.
n = 1396
0
5
10
15
20
34567891011121314151617181920
Lt (cm)
%
Figura 1.13 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer rastrifer
capturada em Armação Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abr/06 a Mar/07.
Em estudo realizado em cinco diferentes localidades do litoral de São Paulo,
COELHO et al (1985) relataram que a amplitude de comprimento de Stellifer rastrifer
foi de 3,5 a 17 cm, sendo a moda principal mais baixa (7,0 cm) em locais mais rasos
24
do que em mais profundos (9,0 cm). Ainda no litoral paulista, mais precisamente na
Baia de Santos, GIANNINI & PAIVA-FILHO (1990a) encontraram uma amplitude bem
próxima à do presente trabalho, com os valores de comprimento total variando de
3,8 a 20,9 cm e a moda principal ocorrendo na classe de 8,0 cm. Mais recentemente
Haimovici et al (2005) capturaram no litoral do Rio Grande do Sul uma maior
freqüência de Stellifer rastrifer com valores de comprimento total abaixo de 10 cm.
Em estuários, os valores da distribuição de comprimento de Stellifer rastrifer
divergiram aos do presente estudo. Na Baia de Guaratuba, o tamanho médio de
captura foi em torno de 12,0 cm e a amplitude variou de aproximadamente 5,5 cm a
17,2 cm (CHAVES & VENDEL, 1997) e no estuário do Rio Tibiri foi observada uma
amplitude menor para Stellifer rastrifer, variando de 7,0 a 15,0 cm (BATISTA E REGO,
1997). Tais variações nos resultados podem ser creditadas às diferentes condições
bióticas e abióticas nos ambientes de coleta e às diferenças nas metodologias de
amostragem empregadas em cada um dos estudos.
A moda principal para sexos separados foi de 9,0 cm para machos e fêmeas
e a amplitude de comprimento foi maior para as fêmeas, variando de 6,0 a 20,2 cm,
do que para machos, onde variou de 6,3 até 17,9 cm (Fig. 1.14). Nota-se que as
classes de 6,0 cm a 9,0 cm para ambos os sexos foram as que tiveram a maior
representatividade durante o estudo. CHAVES e VENDEL (1997), no litoral paranaense,
encontraram o tamanho máximo de comprimento total para fêmeas de 17,2 cm e
para machos de 15,8 cm, valores inferiores ao do presente estudo.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
34567891011121314151617181920
Lt (cm)
%
Fem n = 485
Mac n = 239
Ind n = 672
Figura 1.14 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer rastrifer para
fêmeas, machos e indeterminados, capturados em Armação Itapocoroy, Penha, SC,
durante o período de abril/06 a março/07.
25
A identificação dos sexos pelas características morfológicas macroscópicas
das gônadas só foi possível de ser realizada, para as três espécies do gênero
Stellifer, em exemplares com comprimento total acima de 6,0 cm, acarretando numa
grande quantidade de organismos que não foram classificados sexualmente e,
portanto, considerados como indeterminados.
O número total de Stellifer rastrifer da categoria sexual dos indeterminados foi
de 672 (48,14 % das capturas) e na maioria dos meses tiveram freqüência acima de
20,0 %, destacando-se os meses de maio (77,45%), agosto (62,50%) e junho
(62,06%). Os meses de outubro e fevereiro, respectivamente com 12,50% e 24,13%,
foram os de menor ocorrência de indeterminados (Tab. 1.1). COELHO et al (1985)
também encontraram dificuldades ao classificar sexualmente Stellifer rastrifer no
litoral paulista e a freqüência de indeterminados foi 50,26% do total capturado. No
presente trabalho, foram obtidas para as classes de 4,0 a 8,0 cm altos valores de
ocorrência de indeterminados, sendo que a classe modal para esses indivíduos foi a
de 5,0 cm e, o maior e menor espécime coletado, apresentaram, respectivamente,
15,0 cm e 3,6 cm de comprimento total (Fig. 1.14 e Tab. 1.1)
Tabela 1.1 - Número total, freqüência de ocorrência em relação ao total dos meses (%) e
freqüência em relação ao total do mês (%relativa) de Stellifer rastrifer.
Fêmeas Machos Indeterminados
Mês N % %relativa N % %relativa N % %relativa
Abril 75 15,46 29,07 39 16,32 15,65 144 21,43 55,28
Maio 28 5,78 16,18 11 4,60 6,37 134 19,94 77,45
Junho 7 1,44 24,14 4 1,67 13,80 18 2,68 62,06
Julho 52 10,72 40,00 25 10,46 19,23 53 7,89 40,77
Agosto 3 0,62 37,50 0 0 0 5 0,74 62,50
Setembro 28 5,78 40,58 15 6,27 21,73 26 3,87 37,69
Outubro 34 7,01 53,12 22 9,20 34,38 8 1,19 12,50
Novembro 10 2,06 27,27 15 6,28 45,46 8 1,19 27,27
Dezembro 64 13,19 29,22 19 7,95 9,13 136 20,24 61,65
Janeiro 35 7,22 29,41 24 10,04 20,17 60 8,93 50,42
Fevereiro 12 2,47 41,39 10 4,18 34,48 7 1,04 24,13
Março 137 28,25 51,70 55 23,03 20,75 73 10,86 27,55
total 485 100,00 34,74 239 100,00 17,12 672 100,00 48,14
26
Analisando-se a distribuição sazonal das freqüências de comprimento total
dos Stellifer rastrifer capturados, notam-se diferenças entre as estações do ano.
No outono, as classes mais representativas foram as de 5,0 e 9,0 cm.
Entretanto, além dessas, outras três classes (6,0, 7,0 e 8,0 cm) tiveram freqüências
acima de 10 % (Fig. 1.15)
No inverno, a distribuição de classes foi polimodal, com quatro classes (6,0,
7,0, 8,0 e 9,0 cm) tendo valores muito semelhantes, sendo o maior valor (18,36 %)
alcançado na classe de 9,0 cm (Fig. 1.15). Somadas, tais classes representaram 72,
46 % das capturas. Nessa estação foi capturado o maior espécime de Stellifer
rastrifer medindo 20,2 cm.
As classes com maiores freqüências na primavera foram as de 7,0 cm, de 6,0
e de 8,0 cm. Nessa estação, registrou-se a maior freqüência (19,77%) de indivíduos
capturados com valores acima de 11,0 cm de comprimento total (Fig. 1.15).
No verão, a classe modal foi a de 5,0 cm, registrando-se também altos
valores nas classes de 6,0, 7,0 e 4,0 cm, respectivamente. Nesse período, ocorreu
a maior freqüência de indivíduos de pequeno porte, sendo que as classes de 3,0, 4,0
e 5,0 cm representaram 44,30 % do total das capturas (Fig. 1.15). Esse evento
supostamente está relacionado com o recrutamento de jovens no período de estudo.
Na Baia de Santos, Stellifer rastrifer teve seu período de recrutamento
representado pela entrada de uma massa de jovens nos meses de verão-outono
(GIANNINI & PAIVA-FILHO, 1990a), coincidindo, em parte, com o encontrado no
presente estudo.
A população da espécie Stellifer stellifer coletada em Armação do Itapocoroy
teve uma amplitude variando de 3,4 a 17,2 cm, valores muitos semelhantes à de 3,7
a 17,7 cm registrada por ALMEIDA & BRANCO (2002) para a mesma região. Entretanto,
comparando-se os valores de captura total e os de tamanho médio de captura dos
dois estudos, considerando que tiveram o mesmo esforço de captura durante o
mesmo tempo de amostragem, pôde-se notar uma discrepância entre tais
resultados, pois anteriormente foram capturados 1459 exemplares com tamanho
médio de 8,3 cm (1996-1997) contra os 570 indivíduos com média de 6,53 cm do
presente estudo (2006-2007) que, por sua vez, correspondem aos mais baixos
valores dentre as três espécies aqui estudadas.
27
Figura 1.15 – Distribuição da freqüência (%) de comprimento total de Stellifer rastrifer nos
meses de outono (A) – inverno (B) – primavera (C) e verão (D), capturados em Armação
Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abr/06 a Mar/07.
n=460
0
5
10
15
20
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Lt (cm)
%
A
n=207
0
5
10
15
20
3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920
Lt (cm)
%
B
n=316
0
5
10
15
20
25
3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920
Lt (cm)
%
C
n=413
0
5
10
15
20
25
30
35
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Lt (cm)
%
D
28
No presente trabalho, a pesca de arrasto destinada à captura do camarão
sete-barbas incidiu principalmente nos exemplares de Stellifer stellifer com tamanho
total abaixo de 8,0 cm, com a moda ocorrendo na classe de 5,0 cm, seguida pelas
classes de 6,0 e 7,0 cm (Fig. 1.16).
n = 570
0
5
10
15
20
25
30
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
Lt (cm)
%
Figura 1.16 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer stellifer
capturados em Armação do Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abrl/06 a
Mar/07.
Analisando a distribuição de freqüência por sexo separado, Stellifer stellifer
apresentou amplitude de comprimento total para fêmeas de 6,0 a 17,0 cm e, para
machos, de 6,1 a 14,9 cm. A classe modal na distribuição de freqüência foi, tanto
para machos quanto para fêmeas, de 7,0 cm de comprimento total (Fig. 1.17).
ALMEIDA e BRANCO (2002) relataram que o maior indivíduo do sexo feminino atingiu
17,7 cm e o de sexo masculino 16,0 cm e, também, que as maiores freqüências
ocorreram nas classes de 11,0 cm (fêmeas) e 9,0 cm (machos), valores superiores
aos do presente estudo.
Quanto aos indivíduos indeterminados, os mesmos autores registraram a
maior freqüência na classe de 7,0 cm e que o número total de indeterminados
correspondeu a 52,78 % das capturas no período, com os meses de primavera
alcançando as menores porcentagens. Já no presente estudo, os indeterminados
representaram 57,89 % das capturas, sendo essas concentradas principalmente na
classe de 5,0 cm (Fig. 1.17) e tendo uma amplitude de 3,3 a 10,5 cm. Os meses que
29
tiveram as maiores freqüências de indeterminados foram maio, setembro e fevereiro
e os que tiveram as menores freqüências foram novembro e agosto (Tab. I.II).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920
Lt (cm)
%
Fem n = 172
Mac n = 68
Ind n = 330
Figura 1.17 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer stellifer para
fêmeas, machos e indeterminados, capturados em Armação Itapocoroy, Penha, SC,
durante o período de Abr/06 a Mar/07.
Tabela 1.2 - Número total, freqüência de ocorrência em relação ao total dos meses (%) e
freqüência em relação ao total do mês (%relativa) de Stellifer stellifer.
Fêmeas Machos Indeterminados
Mês N % %relativa N % %relativa N % %relativa
Abril 15 8,72 28,30 5 7,35 9,43 33 9,94 62,26
Maio 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00 58 17,47 100,00
Junho 14 8,14 32,50 0 0,00 0,00 25 7,53 64,10
Julho 13 7,56 32,50 5 7,35 12,50 22 6,33 55,00
Agosto 6 3,49 42,86 4 5,88 28,57 4 1,81 28,57
Setembro 7 4,08 20,00 1 1,47 2,85 27 8,13 77,15
Outubro 3 1,74 42,86 1 1,47 14,28 3 0,90 42,86
Novembro 10 5,81 58,82 3 4,41 17,65 4 1,20 23,53
Dezembro 22 12,79 43,14 6 8,82 11,76 23 6,93 45,10
Janeiro 65 37,79 34,04 32 47,06 16,75 93 28,31 49,21
Fevereiro 2 1,16 28,56 0 0,00 0,00 5 1,51 71,44
Março 15 8,72 25,42 11 16,18 18,65 33 9,94 55,93
Total 172 100,00 30,07 68 100,00 11,89 330 100,00 58,04
30
De acordo com NIKOLSKII (1969), essas variações na composição de uma
população em classes de comprimento é uma característica que responde ao
ambiente, podendo variar de ano para ano e também de acordo sua fecundidade.
Tais informações podem fornecer subsídios para o estudo da determinação do
equilíbrio dessa população, envolvendo estimativas das taxas de mortalidade,
reprodução, recrutamento e crescimento.
Nas capturas de Stellifer stellifer nas diferentes estações do ano, verificou-se
que, no outono, as classes de 6,0, 5,0 e 7,0 cm, respectivamente, destacaram-se
das demais e, somadas, representaram 74,75 % do total no período. No mesmo
período, as classes de 9,0, 4,0 e 8,0 cm apresentaram-se com freqüências acima de
5 % (Fig. 1.18) e ainda foram capturados o menor (3,4 cm) e o maior (17,2 cm)
representantes de Stellifer stellifer de todo o período de estudo.
O inverno foi o de menor ocorrência de Stellifer stellifer e, assim como no
outono, houve um predomínio das classes de 6,0, 5,0 e 7,0 cm, respectivamente
(Fig. 1.18). A classe modal (5,0 cm) na primavera foi bastante representativa,
atingindo a freqüência de 38,36 %. As classes acima de 9,0 cm somadas atingiram
nessa estação as maiores freqüências para Stellifer stellifer durante o estudo,
representando um total de 8,22 % das capturas (Fig. 1.18). Como poderá ser
observado adiante nesse capitulo, a freqüência de indivíduos maiores na primavera
coincide com época de aumento de IGS para a população, fato que também foi
observado por ALMEIDA & BRANCO (2002) nessa mesma área de estudo.
As capturas durante o verão somaram um total de 211 exemplares, o maior
volume de capturas de Stellifer stellifer do ano. A classe onde mais se concentrou as
capturas foi a de 5,0 cm, seguida pelas de 4,0, 6,0 e 7,0 cm, respectivamente, que
juntas somaram quase 90 % das capturas (Fig. 1.18). Assim como no estudo de
ALMEIDA & BRANCO (2002), o verão caracterizou-se por ser um período onde há uma
maior presença de indivíduos de pequeno porte, indicando que pode estar ocorrendo
o recrutamento dos jovens nesses meses.
31
Figura 1.18 – Distribuição da freqüência (%) de comprimento total de Stellifer stellifer nos
meses de outono (A) – inverno (B) – primavera (C) e verão (D), capturados em Armação
Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abrl/06 a Mar/07.
n = 150
0
5
10
15
20
25
30
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Lt (cm)
%
A
n = 88
0
5
10
15
20
25
30
35
3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920
Lt(cm)
%
B
n
= 121
0
5
10
15
20
25
30
35
40
3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920
Lt(cm)
%
C
n = 211
0
5
10
15
20
25
30
35
3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920
Lt(cm)
%
D
32
Stellifer brasiliensis apresentou um total de 839 espécimes coletados com
média de comprimento total de 7,59 cm. A amplitude variou entre 3,3 e 17,0 cm e as
classes mais representativas foram as de 4,0 a 9,0 cm, correspondendo somadas a
87,72 % das capturas. A classe de maior porcentagem nas capturas foi a de 6,0 cm,
com 21,33 %, seguida por a de 7,0 cm, com 20,86 % (Fig. 1.19).
Quando comparadas aos estudos que focaram populações de Stellifer
brasiliensis em outras localidades, as freqüências relativas (%) de indivíduos nas
classes de maior comprimento total foram menores, indicando que a pesca de
arrasto em Armação Itapocoroy parece estar atuando de forma mais intensa sobre a
população de jovens no período. Exemplo disso são os estudos realizados por
COELHO et al (1985) que, coletando em quatros diferentes localidades do litoral
paulista, registraram as classes mais representativas variando de 6,0 a 11,5 cm e as
modas de 7,0 a 8,5 cm de comprimento total. Outro exemplo que pode ser citado é o
trabalho de GIANNINI & PAIVA –FILHO (1995) onde a amplitude variou de 3,5 a 22,6 cm
e a moda foi mais evidente na classe de 9,5 cm.
n = 839
0
5
10
15
20
25
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
Lt (cm)
%
Figura 1.19 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer brasiliensis
capturada em Armação Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abr/06 a Mar/07.
Na distribuição da freqüência de ocorrência de Stellifer brasiliensis por sexos
separados constata-se que a classe modal de fêmeas (7,0 cm) foi menor que a de
machos (8,0cm) (Fig. 1.20). A amplitude também diferiu entre os sexos, com limites
superiores maiores para fêmeas (6,1 a 17,0 cm) do que para machos (6,5 a 14,9
cm). Os indeterminados tiveram o menor valor de freqüência entre as espécies do
33
gênero Stellifer no presente trabalho, representando 45,65 % do total, sendo o
menor espécime com 3,3 cm e o maior com 10,5 cm de comprimento total. A
distribuição da freqüência das classes de comprimento total dos indeterminados foi
bimodal, com a classe de 5,0 cm atingindo 30,29 % e a de 7,0 cm com 24,02 % (Fig.
1.20). Todos os meses do estudo tiveram porcentagens de indeterminados acima de
30,00 %, sendo que os menores valores foram observados nos meses de junho,
agosto e setembro (Tab. 1.3). COELHO et al (1987) constataram que no litoral paulista
36,20 % das capturas eram compostas por Stellifer brasiliensis indeterminados e
que a classe modal para fêmeas e para machos foi de 9,0 e 8,5 cm,
respectivamente.
0
5
10
15
20
25
30
35
34567891011121314151617181920
Lt (cm)
%
Fem n = 319
Mac n = 137
Ind n = 383
Figura 1.20 – Freqüência (%) das classes de comprimento total de Stellifer brasiliensis
para fêmeas, machos e indeterminados, capturados em Armação Itapocoroy, Penha, SC,
durante o período de Abr/06 a Mar/07.
34
Tabela 1.3 - Número total, freqüência de ocorrência em relação ao total dos meses (%) e
freqüência em relação ao total do mês (%relativa) de Stellifer brasiliensis.
Fêmeas Machos Indeterminados
Mês N % %relativa N % %relativa N % %relativa
Abril 13 4,07 41,94 0 0 0 18 4,70 58,06
Maio 25 7,84 34,72 9 6,57 13,01 38 9,92 52,77
Junho 52 16,30 52,52 16 11,68 16,68 31 8,09 31,31
Julho 0 0 0 0 0 0 11 2,87 100
Agosto 16 5,01 35,56 15 10,95 33,33 14 3,65 31,11
Setembro 27 8,46 49,10 10 7,30 18,19 18 4,70 32,73
Outubro 22 6,90 40,00 8 5,84 14,55 25 6,53 45,45
Novembro 36 11,28 22,79 28 20,44 17,72 94 24,54 59,49
Dezembro 27 8,46 46,55 12 8,75 20,68 19 4,96 32,77
Janeiro 7 2,19 29,16 4 2,92 16,67 13 3,39 54,17
Fevereiro 40 12,54 37,38 15 10,95 14,02 52 13,60 48,30
Março 54 16,95 43,09 20 14,60 16,25 50 13,05 40,66
Total 319 100,00 38,02 137 100,00 16,34 383 100,00 45,65
Analisadas as distribuições de freqüência das classes de comprimento total
nas diferentes estações do ano, a classe com maior freqüência no outono foi a de
7,0 cm, correspondendo a 30,58 % das capturas. As classes de 6,0 e de 8,0 cm
também se destacaram das demais, registrando freqüências acima dos 20,00 %
(Fig. 1.21).
No inverno, assim como para S. rastrifer e S. stellifer, foi onde se coletou a
menor quantidade de Stellifer brasiliensis, computando-se somente 111 exemplares.
Nessa estação nas classes de 4,0 a 9,0 cm foram registradas freqüências de
captura acima de 5 %, sendo que destas, a classe de 8,0 cm destacou-se por
apresentar 24,32 % do total (Fig. 1.21).
Os Stellifer brasiliensis coletados na primavera tiveram a maior amplitude
entre as estações com variação de 4,3 a 17,0 cm. As classes onde se concentram
os maiores indivíduos registraram porcentagens de captura superiores às de outras
estações, fato também observado nas populações de S. rastrifer e S. stellifer, o que
aparenta estar relacionado com o período reprodutivo das espécies (Fig. 1.21).
A classe modal no verão foi a de 6,0 cm (Fig.1.21). As classes inferiores a
5,0 cm representaram 33,60 % das capturas, colaborando para que o verão seja a
estação com maior freqüência de exemplares de pequeno porte, do mesmo modo
35
que o observado para as duas outras espécies analisadas (S. rastrifer e S. stellifer),
podendo, dessa maneira, ser considerada a época onde ocorre o recrutamento.
Figura 1.21– Distribuição da freqüência (%) de comprimento total de Stellifer brasiliensis
nos meses de outono (A) – inverno (B) – primavera (C) e verão (D), capturados em
Armação Itapocoroy, Penha, SC, durante o período de Abr/06 a Mar/07.
n = 202
0
5
10
15
20
25
30
3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920
Lt (cm)
%
A
n = 111
0
5
10
15
20
25
3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920
Lt (cm)
%
B
n = 271
0
5
10
15
20
25
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Lt (cm)
%
C
n = 255
0
5
10
15
20
25
34567891011121314151617181920
Lt (cm)
%
D
36
- ASPECTOS REPRODUTIVOS
A caracterização do ciclo reprodutivo de uma espécie é importante para a
compreensão da dinâmica da reprodução da população alvo de estudo e
estabelecimento de programas de conservação. O índice gonadossomatico ( IGS ),
que expressa à porcentagem que as gônadas representam no peso total do
individuo, pode ser um indicador eficiente do estado funcional dos ovários dos
peixes e, conseqüentemente, auxiliar na caracterização do ciclo reprodutivo das
espécies. Esse índice sofre variações em seu valor a partir do primeiro período
reprodutivo, sendo que após cada desova há uma redução no peso das gônadas e
dos valores de
IGS
, que só voltarão a aumentar no inicio do próximo ciclo
reprodutivo (VAZZOLER et al 1989; VAZZOLER, 1996).
Analisando as variações de IGS das fêmeas da espécie Stellifer rastrifer
observa-se que pode ocorrer um período reprodutivo iniciando no mês de setembro,
atingindo seu pico nos meses de primavera (outubro e novembro) (Fig. 1.22). A
queda dos valores de IGS nos meses seguintes a esse período indica a ocorrência
da desova. Um segundo aumento nesse índice pode ser observado no verão (a
partir de janeiro), e o comportamento da curva obtida por meio desses valores indica
que ocorre, em menor proporção, outra desova no final do verão (março),
estendendo-se até começo do outono (abril).
A análise macroscópica das gônadas das fêmeas demonstrou que nos meses
de maiores valores de
IGS
há uma maior freqüência de indivíduos no estádio de
maturação gonadal “C” na população (Tab. 1.4 e Fig. 1.22). Os meses posteriores
aos picos de valores de IGS (novembro/dezembro e março/abril) caracterizam-se
por apresentarem uma maior freqüência de indivíduos no estádio de maturação “D”,
indicando a ocorrência de desova nesses meses. Ainda segundo essa análise, o
mês de janeiro, juntamente com os meses de outono, apresentou a maior freqüência
de indivíduos no estádio “B” de maturação.
Entretanto, indivíduos com características gonadais que indicam participação
ativa no ciclo reprodutivo ocorrem durante quase todo o ano para ambos os sexos
(Tab. 1.4). Em estudo realizado na baia de Guaratuba, mesmo encontrando
indivíduos com características de estarem em reprodução durante vários meses do
ano, CHAVES & VENDEL (1997) registraram maiores valores de
IGS
e uma maior
37
freqüência de Stellifer rastrifer com características que denotam atividade
reprodutiva maior durante os meses de primavera. Já GIANINI & PAIVA-FILHO (1990a)
observaram que a reprodução de Stellifer rastrifer ocorre principalmente nos meses
de verão e inverno. Essas constatações assemelham-se com às do presente estudo,
onde se verificou ser a primavera e parte do verão o período de reprodução da
espécie.
0
20
40
60
80
100
abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar
meses
%
0
1
2
3
4
5
6
IGS
Estádio B
Estádio C
Estádio D
IGS
Figura 1.22- Freqüência dos estádios de maturação gonadal e variação mensal dos
valores de IGS médio das fêmeas de Stellifer rastrifer capturadas na Armação de
Itapocoroy, Município de Penha, Santa Catarina.
Tabela 1.4 – Número e freqüência (%) de ocorrência mensal dos estádios de maturação
gonadal de Stellifer rastrifer coletados em Armação do Itapocoroy, Penha,SC, no período
de Abr/06 a Mar/07.
Estádio “A” Estádio “B” Estádio “C” Estádio “D”
N % N % N % N %
Total
%
A
bril 62 54,39 4 3,51 18 15,79 30 26,31 114 100,00
Maio 28 71,79 11 28,21 0 0 0 0 39 100,00
Junho 7 63,63 4 36,37 0 0 0 0 11 100,00
Julho 52 67,54 16 20,78 9 11,68 0 0 77 100,00
Ag
osto 1 33,33 1 33,33 1 33,33 0 0 3 100,00
Setembro 15 34,88 21 48,84 7 16,28 0 0 43 100,00
Outubro 13 23,22 8 14,28 27 48,22 8 14,28 56 100,00
Novembro 4 16,00 4 16,00 8 32,00 9 36,00 25 100,00
Dezembro 52 62,65 20 24,10 0 0 11 13,25 83 100,00
Janeiro 44 74,57 12 20,34 3 5,09 0 0 59 100,00
Fevereiro 6 27,27 6 27,27 10 45,46 0 0 22 100,00
Mar
ç
o 27 14,06 27 14,06 65 33,86 73 38,02 192 100,00
Total 311 42,96 134 18,51 148 20,44 131 18,09 724 100,00
38
A curva de variação dos valores médios mensais do IGS para Stellifer stellifer
sugere que essa espécie apresenta um período reprodutivo que se estende do final
do inverno/inicio da primavera até o verão, com maior intensidade na primavera
(Fig. 1.23). De maneira geral, esse período corresponde ao apresentado para
Stellifer rastrifer no presente estudo. Fora desses períodos, Stellifer stellifer
apresentou altos valores de freqüência de indivíduos com gônadas com
características morfológicas de estarem efetivamente em inicio de maturação, ou
seja, estádio “B” ( Fig. 1.23 e Tab. 1.5).
ALMEIDA & BRANCO (2002) citam que o índice gonadossomático mostrou-se
adequado como um estimador da época de desova de Stellifer stellifer, indicando
que a reprodução da espécie ocorreu na primavera e com menor intensidade no
outono.
0
20
40
60
80
100
abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar
meses
%
0
1
2
3
4
IGS
Estádio B
Estádio C
Estádio D
IGS
Figura 1.23 - Freqüência dos estádios de maturação gonadal e variação mensal dos
valores de IGS médio das fêmeas de Stellifer stellifer capturadas na Armação de
Itapocoroy, Município de Penha, Santa Catarina.
39
Tabela 1.5 – Número e freqüência (%) de ocorrência mensal dos estádios de maturação
gonadal de Stellifer stellifer.coletados em Armação do Itapocoroy, Penha,SC, no período
de Abr/06 a Mar/07.
Estádio “A” Estádio “B” Estádio “C” Estádio “D”
N % N % N % N %
Total %
Abril 14 70,00 5 25,00 1 5,00 0 0 20 100,00
Maio 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,00
Junho 14 100,00 0 0 0 0 0 0 14 100,00
Julho 8 44,44 10 55,56 0 0 0 0 18 100,00
Agosto 2 20,00 3 30,00 5 50,00 0 0 10 100,00
Setembro 5 62,50 0 0 0 0 3 37,50 8 100,00
Outubro 2 50,00 1 25,00 0 0 1 25,00 4 100,00
Novembro 3 23,08 4 30,77 6 46,15 0 0 13 100,00
Dezembro 15 53,57 0 0 4 14,28 9 32,15 28 100,00
Janeiro 56 57,73 2 2,06 15 15,47 24 24,74 97 100,00
Fevereiro 1 50,00 1 50,00 0 0 0 0 2 100,00
Março 14 53,85 8 30,77 4 15,38 0 0 26 100,00
Total 134 55,83 34 14,16 35 14,58 37 15,43 240 100,00
A distribuição dos valores médios mensais do IGS das fêmeas de Stellifer
brasiliensis apresenta variações (Fig. 1.24) indicando que o período reprodutivo
inicia-se no final do inverno/inicio da primavera prolongando-se até o verão,
corroborada pela maior freqüência de ocorrência de fêmeas nos estádios de
maturação gonadal mais avançados (estádios “C” e “D”) nesses períodos (Fig. 1.24).
De acordo com os dados da Tabela 1.6, registram-se de maneira geral, no final de
verão, no outono e inicio de inverno, somente valores de ocorrência de indivíduos no
inicio de maturação gonadal (estádio “B”). CUNNINGHAN & DINIZ-FILHO (1991),
analisando os estádios de maturação gonadal de Stellifer brasiliensis, observaram
que, no litoral de Ubatuba-SP, esses indivíduos tinham altas freqüências de gônadas
em processo de maturação na primavera e no verão, indicando que o período de
desova ocorre no outono/inverno. Mais recentemente, SOUZA E CHAVES (2007)
observaram que Stellifer brasiliensis tem uma maior atividade reprodutiva no verão,
porém há também atividade intensa no inverno e, um pouco mais branda, na
primavera. De maneira geral, tais resultados assemelham-se aos obtidos no
presente estudo, desenvolvido na Armação do Itapocoroy, SC.
40
0
20
40
60
80
100
abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar
meses
%
0
1
2
3
4
5
6
IGS
Estádio B
Estádio C
Estádio D
IGS
Figura 1.24- Freqüência dos estádios de maturação gonadal e variação mensal dos
valores de IGS médio das fêmeas de Stellifer brasiliensis capturadas na Armação de
Itapocoroy, Município de Penha, Santa Catarina.
Tabela 1.6 – Número e freqüência (%) de ocorrência mensal dos estádios de maturação
gonadal de Stellifer brasiliensis coletados em Armação do Itapocoroy, Penha, SC, no
período de Abr/06 a Mar/07.
Estádio “A” Estádio “B” Estádio “C” Estádio “D”
N % N % N % N % Total %
Abril 10 76,92 3 23,08 0 0 0 0 13 100,00
Maio 23 67,64 11 32,36 0 0 0 0 34 100,00
Junho 52 76,47 14 20,59 2 2,94 0 0 68 100,00
Julho 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Agosto 9 29,03 9 29,03 13 41,94 0 0 31 100,00
Setembro 23 62,16 9 24,32 4 10,81 1 2,70 37 100,00
Outubro 5 16,67 0 0 11 36,67 14 46,66 30 100,00
Novembro 19 30,16 21 33,33 16 23,81 8 12,70 64 100,00
Dezembro 5 12,82 10 25,64 21 53,85 3 7,69 39 100,00
Janeiro 5 45,46 0 0 2 18,18 4 36,36 11 100,00
Fevereiro 43 76,78 5 8,93 6 10,72 2 3,57 56 100,00
Março 56 76,71 17 23,29 0 0 0 0 73 100,00
Total 250 54,94 99 21,76 75 16,26 32 7,03 456 100,00
41
As observações dos aspectos reprodutivos das três espécies analisadas no
presente estudo indicam de maneira geral, que a maioria dos indivíduos concentra
suas atividades reprodutivas em dois do ano, neste caso, primavera e verão, fato
que corrobora o citado por LONGHURST & PAULY (2007) com relação à reprodução
das espécies de peixes pertencentes a regiões tropicais.
Analisando as tabelas e os gráficos de distribuição de freqüências (%) de
estádios de maturação para as três espécies estudadas, observou-se que nos
meses onde ocorrem os maiores valores de
IGS e as maiores freqüências de
exemplares nos estádios mais avançados de maturação ocorre também uma menor
freqüência de indeterminados, indicando que a analise da variação de freqüência de
ocorrência dos estádios de maturação gonadal, macroscopicamente caracterizados,
associada à analise da variação dos valores médios do
IGS
, mesmo com um alto
número de indivíduos não identificados sexualmente, foram métodos adequados
de avaliação para se determinar a periodicidade reprodutiva das espécies.
O Índice de Atividade Reprodutiva (AGOSTINHO, 1993) também foi aplicado às
espécies abordadas no presente estudo, o que veio a confirmar uma maior atividade
reprodutiva na primavera (Figs. 1.25, 1.26 e 1.27 e Tab. 1.7) indicada nas análises
anteriores.
Figura 1.25 – Índice de atividade reprodutiva de Stellifer rastrifer capturados em Armação
do Itapocoroy durante o período de Abr/06 a Mar/07.
0
2
4
6
8
10
12
14
outono inverno primavera verão
Estações
IAR
42
0
2
4
6
8
10
outono inverno primavera verão
Estões
IAR
Figura 1.26 – Índice de atividade reprodutiva de Stellifer stellifer capturados em Armação
do Itapocoroy durante o período de Abr/06 a Mar/07.
0
2
4
6
8
10
12
outono inverno primavera verão
Estões
IAR
Figura 1.27 – Índice de atividade reprodutiva de Stellifer brasiliensis capturados em
Armação do Itapocoroy durante o período de Abr/06 a Mar/07.
Tabela 1.7 - Classificação dos resultados do Índice de Atividade Reprodutiva das
espécies pertencentes ao gênero Stellifer spp. capturados em Armação do Itapocoroy
durante o período de Abr/06 a Mar/07.
espécie/estação Outono Inverno Primavera Verão
S. rastrifer incipiente
nula
INTENSA moderada
S. stellifer
nula
incipiente INTENSA
nula
S. brasiliensis
nula nula
INTENSA
nula
43
Recentemente, SOUSA e CHAVES (2007), aplicando o
I
AR em teleósteos
oriundos da pesca de arrasto no litoral de Santa Catarina, estando entre estes as
espécies Stellifer rastrifer e Stellifer sp., constataram que na primavera ocorre a
maior atividade reprodutiva para essas duas espécies
De acordo com todos os indicadores reprodutivos observados no presente
estudo, pode-se afirmar que a principal época de reprodução para as espécies
analisadas ocorre durante os meses de primavera, coincidindo com o período em
que é proibida a pesca de arrasto direcionada ao camarão sete-barbas na região sul
e sudeste do Brasil (IBAMA, 2006). Tal fato, apesar de parecer estar protegendo os
estoques do gênero Stellifer na região da Penha, pode estar agindo de forma
negativa para o ecossistema, acarretando numa dominância de algumas espécies e
na diminuição de outras que não têm seu período reprodutivo nos meses de defeso.
Por ser uma informação associada à dinâmica de reprodução, fundamental à
proteção dos peixes juvenis e à administração racional dos estoques em explotação,
o tamanho de primeira maturação gonadal foi determinado. Em práticas de manejo
da pesca determina-se, de acordo com esse parâmetro, o tamanho mínimo de
captura e, conseqüentemente, o dimensionamento das malhas das redes (HARLEY et
al. 2000; BRANCO et al. 2002). Analisando-se as curvas de distribuição de freqüência
de comprimento, à luz dessa informação, determina-se o estrato da população em
que a pesca vem atuando com maior intensidade (BRANCO et al. 1999).
No presente estudo, estimou-se o tamanho de primeira maturação gonadal
(
50
L ) e o tamanho onde todos os indivíduos da população estão em condições de se
reproduzir (
100
L ) para as fêmeas das três espécies do gênero Stellifer, considerando
que apesar de VAZZOLER (1996) sugerir que se faça uma média dos valores de
50
L
entre machos e fêmeas para se determinar os estratos da população em que a
pesca mais atua, como será visto posteriormente nesse capitulo, as proporções
sexuais nas populações aqui estudadas refletem a alta freqüência de fêmeas em
detrimento à dos machos, o que acarretaria erros de análise. Associa-se a isto, a
observação de que os menores machos com potencial para reprodução
encontravam-se com comprimentos semelhantes aos das fêmeas.
44
0
0,5
1
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920
Lt(cm)
%
As fêmeas de Stellifer rastrifer, em Armação do Itapocoroy, apresentaram o
50
L
estimado em 8,4 cm e o
100
L
,
em 16,4cm (Fig. 1.28). No litoral paulista, Coelho
et al (1985) encontraram uma variação no tamanho de primeira maturação gonadal
de Stellifer rastrifer entre 9,5 e 9,7 cm para fêmeas.
0
0,5
1
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Lt(cm)
%
Figura 1.28 – Curva de tamanho de primeira maturação de Stellifer rastrifer na Armação
do Itapocoroy, Penha, SC
No caso de Stellifer stellifer, os valores de
50
L e
100
L estimados foram ,
respectivamente, de 7,7 e 11,8 cm (Fig. 1.29). ALMEIDA & BRANCO estimaram, para
fêmeas de S. stellifer, o tamanho médio de primeira maturação gonadal em 7,5 cm
de comprimento total, sendo
100
L
em torno de 10,0 cm.
Figura 1.29 – Curva de tamanho de primeira maturação de Stellifer stellifer na Armação
do Itapocoroy, Penha, SC
45
O valor de
50
L estimado de Stellifer brasiliensis no presente estudo foi de
9,4cm (Fig. 1.30), maior do que os 7,3 cm relatado por Coelho et al (1987) e os 9,0
cm
,
obtido por CUNNIGHAN & DINIZ-FILHO (1991), ambos no litoral do estado de São
Paulo. O valor de
100
L ficou em torno de 13,2 cm (Fig.1.30)
0
0,5
1
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Lt (cm)
%
Figura 1.30– Curva de tamanho de primeira maturação de Stellifer brasiliensis na
Armação do Itapocoroy, Penha, SC
Essas diferenças registradas nos valores de
50
L
e
100
L
para as populações
das três espécies de Stellifer da Armação do Itapocoroy quando comparadas às de
outras localidades, podem estar relacionadas a variações intraespecíficas em função
de condições ambientais, como temperatura e dispobinilidade de alimento.
A atuação da pesca sobre as populações do gênero Stellifer em Armação do
Itapocoroy ocorre com maior incidência nos indivíduos que ainda não atingiram o
tamanho estimado de primeira maturação gonadal, ou seja, em jovens que ainda
não se reproduziram (Figs. 1.31, 1.32, 1.33), agravando ainda mais a prática da
pesca artesanal de arrasto do camarão sete - barbas na região, podendo
comprometer futuramente os estoques dessas espécies.
46
n = 1396
0
5
10
15
20
34567891011121314151617181920
Lt (cm)
%
Lt = 8,4 cm
juvenis adultos
Figura 1.31 - Distribuição de freqüência (%) de comprimento de Stellifer rastrifer e o
tamanho de primeira maturação de fêmeas.
n = 570
0
5
10
15
20
25
30
34567891011121314151617
Lt (cm)
%
L
50
= 7,7 cm
adultosjuvenis
Figura 1.32 - Distribuição de freqüência (%) de comprimento de Stellifer stellifer e o
tamanho de primeira maturação de fêmeas.
n = 839
0
5
10
15
20
25
34567891011121314151617
Lt (cm)
%
L50 = 9,4 cm
juvenis adultos
Figura 1.33 - Distribuição de freqüência (%) de comprimento de Stellifer brasiliensis e o
tamanho de primeira maturação de fêmeas.
47
- RECRUTAMENTO DE JOVENS
Com o intuito de se checar a veracidade dos resultados apresentados na
distribuição de classe de tamanho nas diferentes estações do ano que permitiram
afirmar que o principal período de recrutamento ocorre no verão, comparou-se os
valores absolutos de capturas dos indivíduos “jovens” com os dos adultos das
espécies pertencentes ao gênero Stellifer. De acordo com esses resultados, pode-se
constatar para as três espécies que há uma maior freqüência de indivíduos jovens
sendo capturados durante os meses de verão, período posterior à estação de maior
atividade reprodutiva das espécies (Tab. 1.4, 1.5 , 1.6 e Figs. 1.34, 1.35, 1.36).
Além de corroborar com os resultados encontrados referentes ao
recrutamento, a presente análise permitiu estender também para o outono o período
em que ocorre a entrada de jovens nas populações do gênero Stellifer.
0
50
100
150
200
abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar
mes es
n
jovens
adultos
Figura 1.34 – Variação mensal do número de “jovens” e “adultos” pertencentes à espécie
Stellifer rastrifer.
0
50
100
150
abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar
mes es
n
jovens
adultos
Figura 1.35 – Variação mensal do número de “jovens” e “adultos” pertencentes à espécie
Stellifer stellifer.
48
0
10
20
30
40
50
60
abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar
mes es
n
jovens
adultos
Figura 1.36 – Variação mensal do número de “jovens” e “adultos” pertencentes à espécie
Stellifer brasiliensis.
- PROPORÇÃO SEXUAL
A proporção entre fêmeas e machos é uma informação importante para
caracterização da estrutura de uma espécie ou população, além de fornecer
subsídios para o estudo de outros aspectos bioecológicos como a avaliação do
potencial reprodutivo e estimativas do tamanho do estoque (VAZZOLER 1996).
Ainda segundo a autora, este parâmetro para populações de peixes varia
durante o ciclo de vida em função de eventos sucessivos, que atuam de modo
distinto sobre os indivíduos de cada sexo, constituindo as táticas reprodutivas.
A população de Stellifer rastrifer coletada no presente estudo foi
principalmente composta por indivíduos do sexo feminino, sendo que a proporção
macho/fêmea total do período foi de 1: 2,03 em favor das fêmeas (Fig. 1.37).
Analisando as coletas mensais de Stellifer rastrifer, observa-se que, quando
aplicado o teste
2
X
para testar diferença significativa (p<0,05) na composição das
amostras, houve diferença na grande maioria dos meses, exceto janeiro e fevereiro
e agosto, onde não ocorreram machos (Fig. 1.37). O mês de novembro foi o único
no qual as capturas constituíram-se de uma maior fração de indivíduos machos.
Todos os demais apresentaram maior quantidade de fêmeas, destacando-se
dezembro, que atingiu a maior proporção.
49
Figura 1.37– Freqüência de ocorrência por sexos de Stellifer rastrifer nos meses de
amostragem em Armação do Itapocoroy. (*) indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05)
Na distribuição de freqüência relativa (%) por classes de comprimento total,
as fêmeas dominaram na maioria das classes, sendo exceções as classes de 11,0 e
13,0 cm com machos tendo maiores valores de ocorrência e a classe de 12,0 cm,
onde as capturas foram proporcionais (Fig. 1.38). As classes acima citadas de 11,0
e 12,0 cm, juntamente com as de 15, 16, 18,19 e 20 cm não apresentaram
diferenças significativas (p0,05). C
OELHO et al (1985) registraram proporção sexual
de 1:1 para toda a população capturada de Stellifer rastrifer no litoral paulista,
mesma proporção encontrada por Cunnighan & Diniz-Filho (1991) no litoral de
Ubatuba. Entretanto, quando analisadas as diferentes classes de tamanho no estudo
de COELHO et al (1985) observa-se que as classes de 7,5 a 11,5 cm apresentaram,
de um modo geral, uma maior proporção de machos e, a partir de 12,0 a 15,0 cm,
uma maior proporção de fêmeas.
50
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
67891011121314151617181920
Lt (cm)
%
Fêmeas
Machos
**
*
*
*
*
*
*
Figura 1.38 – Freqüência de ocorrência por classes de comprimento total de machos e
fêmeas de Stellifer rastrifer durante o período de estudo em Armação do Itapocoroy. (*)
indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05)
A população de Stellifer stellifer em Armação Itapocoroy apresentou a maior
quantidade de fêmeas em relação a machos dentre as três espécies analisadas,
atingindo razão sexual de 1 : 2,53 (Fig. 1.39). As fêmeas desta espécie dominaram
as coletas em todos os meses do ano, destacando-se o mês de setembro onde a
proporção foi de 7 fêmeas para cada macho capturado. Em maio não foram
coletados indivíduos sexualmente diferenciados. Quando aplicado o teste de
2
X
,
observou-se que somente em março não houve diferença significativa entre os
valores de machos e fêmeas
Figura 1.39 – Freqüência de ocorrência por sexos de Stellifer stellifer nos meses de
amostragem em Armação do Itapocoroy. (*) indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05)
51
As fêmeas de Stellifer stellifer contribuíram com as maiores freqüências
quando analisada a distribuição por classe de comprimento em quase a totalidade
das classes (Fig. 1.40). Somente na classe de 12 cm, onde as freqüências de
indivíduos do sexo feminino foram iguais às do sexo masculino, e nas classes
posteriores, nas quais não ocorreram indivíduos machos, não foram registradas
diferenças significativas (p 0,05).
ALMEIDA & BRANCO (2002), analisando população de Stellifer stellifer coletada
na mesma área que a do presente trabalho, registraram uma razão sexual de 1:
3,2 em favor das fêmeas, sendo que em todos os meses (exceto julho) e em todas
as classes (exceto 9,0 cm) houve dominância das fêmeas com diferença
significativa. Comparando-se ainda esses resultados com os obtidos no presente
estudo, nota-se que, além da redução na razão sexual a favor das fêmeas, houve
também uma diminuição acentuada no número de capturas totais no estudo mais
recente.
O que pode estar influenciando tais diferenças é o fato da pesca direcionada
ao camarão sete-barbas em Armação do Itapocoroy estar atuando de forma
diferenciada sobre as populações de machos e fêmeas. Supõe-se que devido a uma
maior concentração de fêmeas nos períodos reprodutivos, há uma maior captura dos
representantes deste sexo nessa época. Esses maiores valores de captura para as
fêmeas irão, como citaram COELHO et al. (1987), acarretar ao longo dos anos em
maior dano à população, por ser a abundância dessas um dos principais fatores do
qual depende o potencial reprodutivo de uma população.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
6 7 8 9 1011121314151617
Lt (cm)
%
Fêmeas
Machos
*
**
*
*
*
Figura 1.40 – Freqüência de ocorrência por classes de comprimento total de machos e
fêmeas de Stellifer stellifer durante o período de estudo em Armação do Itapocoroy. (*)
indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05)
52
A proporção sexual de Stellifer brasiliensis foi de 1: 2,33 a favor das fêmeas
no decorrer do ano de coleta (Fig. 1.41) com a maioria dos meses apresentando
diferença significativa (p<0,05) a favor destas. Os meses de agosto e novembro
tiveram valores de razão sexual semelhantes ao esperado (1 : 1) e, assim como abril
e julho, não apresentaram diferença significativa.
Figura 1.41 – Freqüência de ocorrência por sexos de Stellifer brasiliensis nos meses de
amostragem em Armação do Itapocoroy. (*) indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05).
Quanto às diferenças nas proporções sexuais relacionadas às classes de
tamanho, observa-se predomínio de fêmeas de Stellifer brasiliensis, com o teste
2
X
verificando diferença significativa (p <0,05) nas classes de 6,0 a 11,0 cm e nas
classes de 14,0 e 15,0 cm (Fig. 1.42).
Na classe de 17,0 cm, que não apresentou diferença significativa, obteve-se a
razão de 1 macho para 1 fêmea. As demais classes tiveram predomínio de machos,
sendo que a de 13,0 cm apresentou diferença significativa e as classes de 12,0 cm,
com proporção semelhante ao esperado, e 16,0 cm, com a presença somente de
indivíduos machos, não apresentaram diferença significativa.
Em estudo realizado no litoral de São Paulo, COELHO et al (1987) observaram
um predomínio das fêmeas de Stellifer brasiliensis durante as estações do ano,
atingindo a razão de 1: 3,1 a favor das fêmeas em todo o período de amostragem.
No mesmo estudo, quando observadas às diferentes classes de tamanho, observa-
se que a maioria dessas teve maiores valores de captura de fêmeas. Já CUNNIGHAN
& DINIZ-FILHO (1991), ao analisar a razão sexual de S. brasiliensis, registraram no
53
inverno uma maior proporção de machos e, no restante do ano, uma maior
predominância de fêmeas.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
Lt (cm)
%
Fêmeas
Machos
*
**
*
*
*
*
*
*
Figura 1.42 – Freqüência de ocorrência por classes de comprimento total de machos e
fêmeas de Stellifer brasiliensis durante o período de estudo em Armação do Itapocoroy.
(*) indica que houve diferença significativa
2
X
(p < 0,05)
As análises realizadas acerca das variações nas razões sexuais das classes
de maior comprimento total para as espécies do gênero Stellifer abordadas no
presente estudo, principalmente da espécie Stellifer stellifer , podem ter sido
prejudicadas devido à baixa quantidade de indivíduos representantes dessas
classes, o que leva a crer que a proporção observada não reflete de forma confiável
o que ocorre no ambiente natural de estudo.
- RELAÇÃO PESO/COMPRIMENTO
As relações entre o peso e comprimento de uma espécie são importantes na
determinação de sua condição de sobrevivência em um determinado habitat e sua
analise fornece informações essenciais para projeções de biomassa em aqüicultura,
além de favorecer a exploração e manejo de espécies com importância pesqueira
(S
ANTOS 1978, ANDERSON & GUTREUTER 1989).
VAZZOLER (1996) comenta que é de importância para o estudo do ciclo de vida
de uma população conhecer a forma de crescimento de uma espécie, pois
54
populações distintas de uma espécie podem apresentar taxas diferentes de
crescimento.
Os valores de peso total em relação ao comprimento total dos 1396 Stellifer
rastrifer foram plotados em um gráfico, resultando na equação potencial:
2613,3
0065,0
tt
LW = (Fig. 1.43). Linearizando-se a equação, obteve-se boa aderência
aos pontos empíricos com
2
r
alcançando o maior valor entre as espécies estudadas
(Fig. 1.44).
n = 1396
Wt = 0,0065Lt
3,2613
0
20
40
60
80
100
120
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Lt (cm)
Wt (g)
Figura 1.43 – Relação peso/comprimento da população de Stellifer rastrifer capturados
em Armação Itapocoroy.
n = 1396
ln Wt = - 5,041 + 3,2613 ln Lt
R
2
= 0,9763
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
00,511,522,533,544,5
ln Lt
ln Wt
Figura 1.44 – Relação peso/comprimento linearizada da população de Stellifer rastrifer
capturados em Armação Itapocoroy.
55
A relação peso/comprimento para Stellifer stellifer gerou a equação potencial
1752,3
0073,0
tt
LW = (Fig. 1.45), sendo que o coeficiente de correlação da equação
linearizada foi
2
r
= 0,952 (Fig. 1.46).
n = 570
Wt = 0,0073Lt
3,1752
0
10
20
30
40
50
60
70
80
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Lt (cm)
Wt (g)
Figura 1.45 – Relação peso/comprimento da população de Stellifer stellifer capturados em
Armação Itapocoroy.
n = 570
Wt = 3,1752Lt - 4,9135
R
2
= 0,952
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
00,511,522,533,544,5
ln Lt
ln Wt
Figura 1.46 – Relação peso/comprimento linearizada da população de Stellifer stellifer
capturados em Armação Itapocoroy
A relação peso/comprimento de Stellifer brasiliensis também apresentou
tendência exponencial, com a equação
1283,3
0079,0
tt
LW = , que linearizada,
apresentou o coeficiente de determinação
2
r
= 0,9451 (Fig. 1.47 e 1.48).
56
n = 840
Wt = 0,0079Lt
3,1283
0
10
20
30
40
50
60
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Lt (cm)
Wt (g)
Figura 1.47 – Relação peso/comprimento da população de Stellifer brasiliensis
capturados em Armação Itapocoroy.
n = 840
y = - 4,8471 + 3,1283x
R
2
= 0,9451
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
00,511,522,533,544,5
ln Lt
ln Wt
Figura 1.48 – Relação peso/comprimento da população de Stellifer brasiliensis
capturados em Armação Itapocoroy
As três espécies do estudo apresentaram padrão de crescimento do tipo
alométrico positivo (b >3,0). O mesmo padrão de crescimento foi encontrado para S.
rastrifer, S. stellifer e S. brasiliensis em trabalhos de C
OELHO et al. (1985), GIANINNI &
PAIVA-FILHO (1990A), GIANINNI & PAIVA-FILHO (1995), CHAVES & VENDEL (1997) e
ALMEIDA & BRANCO (2002).
57
- FATOR DE CONDIÇÃO TOTAL (
), FATOR DE CONDIÇAO GONADAL (
gonadal
K ) E FATOR DE
CONDIÇÃO RELATIVO (
r
K
)
O fator de condição pode ser definido como o estado de bem estar do peixe,
ou seja, como o animal aproveita os recursos disponíveis existentes numa
determinada época do ano e é um índice bastante utilizado no estudo da biologia de
peixes, variando em função do teor de gordura e com o desenvolvimento gonadal,
indicando o grau de adequação da espécie ao meio ambiente e fornecendo
importantes informações sobre o estado fisiológico desses animais, a partir do
pressuposto de que indivíduos com maior massa em um dado comprimento estão
em melhor condição (LE CREN, 1951; BARBIERi et al. 1996; LIMA-JUNIOR & GOITEIN,
2006). Com base nesse conceito, a variação desse índice ao longo do ano pode ser
utilizada como dado adicional ao estudo dos ciclos sazonais dos processos de
alimentação e reprodução (BRAGA, 1986; LIMA-JUNIOR et al., 2002). Complementando
esse conceito, a utilização conjunta do fator de condição gonadal que, por sua vez,
expressa a condição das gônadas em relação ao tamanho dos indivíduos, permite
avaliar o período de reprodução de uma espécie, em corroboração à curva de
maturação obtida pela variação dos valores médios de IGS.
O fator de condição relativo (Kr) (LE CREN, 1951) também foi utilizado no
presente estudo, pois além de possibilitar a comparação estatística dos valores
estimados de Kr com o valor centralizador 1,0, independe da espécie e do
comprimento do exemplar, como citado por ANDERSON & GUTREUTER (1983),
possibilitando a comparação dos valores das três espécies analisadas.
As três espécies apresentaram comportamentos semelhantes quando
observadas as variações nos valores do fator de condição total e do fator de
condição gonadal no ano de coleta. Observa-se que nas estações que antecederam
os períodos reprodutivos os maiores valores de
foram atingidos ( Figs. 1.49, 1.50
e 1.51). No caso de Stellifer stellifer e Stellifer brasiliensis, esses acréscimos foram
nos meses de outono e para Stellifer rastrifer nos meses de inverno. Durante os
períodos reprodutivos houve uma diminuição no fator de condição, como observado
na primavera e verão para Stellifer rastrifer e no inverno e primavera para as outras
duas populações. No entanto, para todas as espécies, os menores valores
de
ocorreram no verão, após o principal período reprodutivo (primavera). Pode-se
58
pressupor, observando tais fatos, que exemplares do gênero Stellifer têm um maior
ganho de peso nos períodos que antecedem a reprodução e que após esse processo
há uma perda de gordura ou peso devido aos gastos metabólicos envolvidos.
Analisando-se as variações sazonais dos valores do
gonadal
K
, constata-se que
os maiores valores registrados ocorrem no próprio período reprodutivo que, para as
três espécies, é a primavera ( Figs. 1.52, 1.53 e 1.54).
De fato, BARBIERI & VERANI (1987) e VAZZOLER (1996) já mencionaram as
associações entre a reprodução e as oscilações dos valores de fator de condição
total e gonadal em peixes teleósteos, assumindo que os maiores valores deste
último são associados à maturação das gônadas, enquanto os menores
caracterizam sua reorganização logo após a desova. CHAVES & VENDEL (1997), em
trabalho realizado com Stellifer rastrifer, constataram variações do fator de condição
semelhantes às deste estudo.
0,0066
0,0068
0,0070
0,0072
Outono Inverno Primavera Verão
estações
K
Fêmeas
Machos
Figura 1.49 – Variação do valor médio do fator de condição total de Stellifer rastrifer nas
estações do ano.
0,006400
0,006600
0,006800
0,007000
Outono Inverno Primavera Verão
estações
K
Fêmeas
Machos
Figura 1.50 – Variação do valor médio do fator de condição total de Stellifer stellifer nas
estações do ano.
59
0,0078
0,008
0,0082
Outono Inverno Primavera Verão
estações
K
Fêmeas
Machos
Figura 1.51 – Variação do valor médio do fator de condição total de Stellifer brasiliensis
nas estações do ano.
0,0000
0,0001
0,0002
0,0003
0,0004
outono inverno primavera verão
estão
Kgonadal
Figura 1.52 – Variação do valor médio do fator de condição gonadal de Stellifer rastrifer
nas estações do ano.
0,00005
0,00010
0,00015
0,00020
0,00025
outono inverno primavera verão
estação
Kgonadal
Figura 1.53 – Variação do valor médio do fator de condição gonadal de Stellifer stellifer
nas estações do ano.
60
0,00000
0,00005
0,00010
0,00015
outono inverno primavera verão
estão
Kgonadal
Figura 1.54 – Variação do valor médio do fator de condição gonadal de Stellifer
brasiliensis nas estações do ano.
Os valores de
r
K (fator de condição relativo) das três espécies por sexos
separados foram comparados pelo teste de KRUSKAL-WALLIS complementado pelo
teste de agrupamento não-paramétrico de DUNN e, segundo essa análise estatística,
houve diferença entre os valores das fêmeas de Stellifer brasiliensis, que tiveram o
maior valor médio de
r
K (1,021), com as demais espécies. Stellifer rastrifer (
r
K
médio de 1,001) e Stellifer stellifer (
r
K
médio de 0,9852) não apresentaram
diferença estatística entre si. Comparando-se os valores de
r
K
dos
indivíduos
machos pertencentes ao gênero Stellifer, verificou-se novamente que a espécie
Stellifer brasiliensis apresentou o maior valor médio de
r
K
(1, 043) e
,
quando
comparado com os outros valores das outras duas populações analisadas,
apresentou diferença estatística com ambas. As espécies Stellifer rastrifer (
r
K
médio
de 1,006) e Stellifer stellifer (
r
K médio de 1.006) não apresentaram diferença na
comparação de suas series de dados referentes aos
r
K de toda a população.
O fator de condição relativo indica o grau de bem estar do organismo frente
ao meio em que vive, fornecendo indicações quando se deseja comparar duas ou
mais populações vivendo em determinadas condições ambientais, e acompanhar o
grau de atividade alimentar de uma espécie, verificando se ela está ou não fazendo
bom uso de seus recursos alimentares (LE CREN 1951; WEATHERLEY 1972;
WEATHERLEY & GILL 1987; VERANI et al 1998)
De acordo com os resultados apresentados, pode-se inferir que a população
de Stellifer brasiliensis tem um melhor aproveitamento dos recursos alimentares
61
disponíveis no ambiente estudado. A população de Stellifer rastrifer obteve valores
de
r
K
acima de 1, indicando também estar submetida a condições favoráveis de
crescimento e, quanto á Stellifer stellifer, observam-se valores inferiores a 1,
indicando que tais indivíduos estão submetidos a condições desfavoráveis de
crescimento ou mesmo de estresse na região estudada.
1.4 - CONCLUSÕES
Houve grande captura dos peixes do gênero Stellifer como fauna
acompanhante da pesca artesanal de camarão sete-barbas em Armação do
Itapocoroy no período de estudo, sendo Stellifer rastrifer a de maior captura (49,36%
do total), seguida de Stellifer brasiliensis e de Stellifer stellifer (29,67 % e 20,16 %,
respectivamente).
A temperatura apresentou variação sazonal no decorrer do ano e a
salinidade registrou variação não esperada para a região sul do país.
As capturas do gênero Stellifer em Armação Itapocoroy incidiram
principalmente sobre as menores classes de comprimento nas três populações
estudadas, sendo a maioria dos indivíduos com comprimento total inferior a 10 cm.
No caso de Stellifer rastrifer, 80 % dos indivíduos capturados estavam abaixo desse
comprimento, enquanto que para Stellifer brasiliensis e Stellifer stellifer a
representatividade foi ainda maior, atingindo, respectivamente, 87,84 % e 95,61 %
das capturas totais.
Os indivíduos do gênero Stellifer spp. foram identificados, de acordo
com o sexo, pela analise morfológica das gônadas somente a partir de 6,0 cm de
comprimento total
As espécies apresentaram um período reprodutivo mais acentuado na
primavera. A correspondência desse período principal de reprodução para o gênero
Stellifer com a época em que ocorre o defeso para as populações de Xiphopenaeus
kroyeri pode estar auxiliando a manutenção dos estoques desse gênero na região
de Penha em Santa Catarina.
O período de recrutamento para as três espécies analisadas ocorre
principalmente no verão e com uma menor intensidade no outono.
62
O tamanho de primeira maturação permitiu verificar a alta incidência da
pesca sobre o estrato de jovens para as três espécies.
A proporção sexual das espécies do gênero Stellifer foi revertida em
favor das fêmeas durante o período de estudo.
A relação peso/comprimento evidenciou que as espécies estudadas
apresentaram crescimento do tipo alométrico positivo (b>3,0).
A variação do fator de condição total das espécies do gênero Stellifer
apresentou comportamento semelhante para as três populações, sendo que nas
estações que antecederam a reprodução ocorreram os maiores valores de
K
e,
durante tal processo, houve uma queda nos valores desse parâmetro. O fator de
condição gonadal, por sua vez, apresentando maiores valores na primavera,
corroborou com a indicação do período reprodutivo das três espécies nessa estação
do ano, dada pela curva de maturação obtida com os valores do IGS.
O fator de condição relativo, utilizado para comparar o bem estar das
três espécies no ambiente de estudo, foi maior, tanto para machos quanto para
fêmeas, nas populações de Stellifer brasiliensis, intermediário para Stellifer rastrifer e
inferior para Stellifer stellifer, indicando estar esta última em condições menos
favoráveis para o seu desenvolvimento na área de estudo.
63
1.5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGOSTINHO, A.A.; V.P. MENDES; H.I. SUZUKI & C. CANZI. 1993. Avaliação da atividade
reprodutiva da comunidade de peixes dos primeiros quilômetros a jusante do
reservatório de Itaipu. Unimar 15 (Supl.): 175-189.
ALMEIDA, L. R. & BRANCO, J. O. 2002. Aspectos biológicos de Stellifer stellifer na
pesca artesanal do camarão sete-barbas, Armação do Itapocoroy, Penha, Santa
Catarina, Brasil. Revista Brasileira Zoologia. Curitiba, 19 (2): 601-610.
ALVERSON, D.L.; M.H. FREEBERG; J.G. POPE & S.A. MURAWSKI. 1994. A global
assessment of fisheries bycatch and discards. FAO Fisheries Technical Paper,
Rome, 339: 1-233.
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indices, p. 283-300. In: L. NIELSEN & D. JOHNSON (Eds) Fisheries Techniques.
Columbus, American Fisheries Society Publications, 468p
BARBIERI, G.; S. HARTZ & J.R. VERANI. 1996. O fator de condição e índice
hepatossomático como indicadores do período de desova de Astyanax fasciatus
Cuvier, 1819, da Represa do Lobo, São Paulo (Osteichthyes, Characidae). Iheringia,
Serie Zoologia. Porto Alegre, (81): 97-100.
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desova em Hypostomus aff. plecostomus (Linnaeus, 1758)(Osteichthyes,
Loricariidae), na represa do Monjolinho (São Carlos, SP). Ciência e
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estuário do Rio Tibiri, Maranhão. Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v.56,
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64
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para alguns peixes marinhos. Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, 46: 339-
346.
BRANCO, J. O.; LUNARDON-BRANCO, M. J.; SOUTO, F. X. & GUERRA, C. R. 1999.
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69
CAPITULO 2
O impacto da pesca de camarão sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri (Heller
1862, Pennaidae) sobre as populações de Stellifer spp. na Armação do
Itapocoroy, Penha, SC.
Rodrigues-Filho
1
, Jorge Luiz; Branco
2
, Joaquim Olinto; Verani
1
,José Roberto
1
Departamento de Hidrobiologia, Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luis, km
235, 13565-905 - São Carlos, São Paulo, Brasil
2
Centro de Ciências Tecnológicas, da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí. Caixa Postal
360, 88301- 970 - Itajaí, Santa Catarina, Brasil.
ABSTRACT
The low selectiveness of trawling nets used in the sea-bob shrimp fishing is
responsible for the bycatch of a variety of organisms which are not commercially
used, being then discarded by the fishermen. Studies that monitor the bycatch
variance of more frequent organism in this fauna are necessary in order to elaborate
proceedings to handle of this fishing practice aiming guaranteeing the sustainability
of the marine ecosystem. Thus, this study had the objective of evaluate the impact
caused by the bycatch with trawling nets into the Stellifer population, analyzing
seasoning and annual fluctuations of historicos data of the bycatch in three different
areas of artisanal fishing in the Armação of Itapocoroy besides estimating the
relations among the bycatch of Stellifer and Xiphopenaeus kroyeri with temperature
and salinity variables. Sampling was performed monthly with the use of dragging nets
during August 1996 and July 2002, followed by a two year interruption and starting
again in August 2005. There was great variation between the monthly and the annual
captures. The principal component analysis evidencied that the captures carried out
during the summer were characterized by the temperature associated with high
values abundance of Stellifer spp. and during the fall the salinity values were
associated to his shrimps abundance.
KEY-WORDS: discard; fisheries; marine ecosystem; trawling nets
70
RESUMO
A baixa seletividade das redes de arrasto utilizadas na pesca do camarão sete-
barbas (Xiphopenaeus kroyeri) é responsável pela captura de uma variedade de
organismos que não são aproveitados comercialmente, sendo então descartados
pelos pescadores. Estudos que monitorem as variações das capturas dos
organismos mais freqüentes nessa fauna acompanhante são necessários para que
seja possível elaborar técnicas de manejo dessa prática pesqueira, com vistas à
manutenção da integridade do ecossistema marinho. Assim, esse estudo objetivou
avaliar o impacto causado pela pesca com redes de arrasto nas populações do
gênero Stellifer, analisando variações sazonais e anuais de dados históricos de
capturas em três diferentes áreas de pesca artesanal na Armação do Itapocoroy
além de estimar as relações entre as capturas de Stellifer. e Xiphopenaeus kroyeri
com as variáveis temperatura e salinidade. As coletas ocorreram mensalmente com
o uso de redes de arrasto com portas durante o período de agosto de 1996 a julho
de 2002, sendo interrompidas por dois anos e reiniciando em agosto de 2005 indo
até julho de 2006. Houve grande variação nas capturas das espécies mensalmente
e anualmente. A análise de componentes principais demonstrou que os meses de
verão são caracterizados por altos valores de captura de Stellifer spp. associados a
altos valores de temperatura da água, enquanto os de outono por altos valores de
abundância do camarão sete-barbas associados ao aumento de salinidade.
PALAVRAS-CHAVE: descarte; pescarias; ecossistema marinho; redes de arrasto.
71
2.1 - INTRODUÇÃO
O camarão sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri (Heller 1862, Pennaidae)
distribui-se por grande parte da costa geográfica do Atlântico Ocidental, ocorrendo
desde a Carolina do Norte (USA) até o estado brasileiro do Rio Grande do Sul
(D'INCAO et al. 2002). Em 2004 a produção brasileira desse recurso foi de 12184,5 t
e essa atividade possui uma significativa importância econômica, histórica, social e
cultural. Dentre os estados que mais pescam o sete-barbas destacam-se:
Bahia (2943,5 t); São Paulo (1749,5 t); Alagoas (1502 t); Sergipe (1397
t) e Santa Catarina (824 t) (IBAMA 2004, BRANCO 2005).
Entretanto, a pesca de camarão, feita a partir de redes de arrasto com portas,
captura grandes quantidades de organismos não alvo, chamados de fauna
acompanhante ou “bycatch” (KOTAS, 1998).
EAYRS (2007) define “bycatch” como todos os itens que o pescador não tem a
intenção de capturar, incluindo peixes, tartarugas, partes de coral, esponjas, outros
animais e material não-vivo. A fauna acompanhante constitui-se somente da fração
composta por organismos vivos do “bycatch”.
Atualmente, estima-se que esse recurso contabilize cerca de 7 milhões de
toneladas rejeitadas em todo o globo (KELLEHER 2004). O aproveitamento desses
organismos para diferentes finalidades, tais como produtos alimentícios ou ração
usada em pisciculturas, já foi amplamente estudado, contudo, devido à dificuldade
em manusear esse recurso a bordo, carência de tecnologia para transformação do
produto, falta de incentivo governamental e inviabilidade econômica, ainda continua
ocorrendo uma grande perda de proteína animal, sobretudo e paradoxalmente nos
paises em desenvolvimento onde grande parte das pescarias é feita de forma
artesanal (Y
OUNG ET AL 1979; POULTER & TREVINO. 1983; YAMAGUTI, 1984; ALMEIDA ET
AL
1987; MORAIS et al 1995)
No Brasil, as pescas dirigidas ao camarão sete barbas caracterizam-se pela
captura acidental de uma grande quantidade de peixes pertencentes à família
Sciaenidae e, dentre esses, os do gênero Stellifer estão entre os mais abundantes
(C
OELHO et al 1986; PAIVA-FILHO et al, 1987; GIANNINI & PAIVA-FILHO, 1990; BRANCO &
VERANI, 2006). Essa predominância na captura dos Sciaenidae e,
72
conseqüentemente, dos representantes do gênero Stellifer spp, que são Stellifer
stellifer (Bloch, 1790), Stellifer brasiliensis (Schultz, 1945) e Stellifer rastrifer (Jordan,
1889), decorre do fato de que essas espécies habitam águas rasas sobre fundos de
areia ou lama, coincidindo com o tipo de substrato da área de atuação da frota
camaroeira do “sete-barbas” (MENEZES & FIGUEIREDO, 1980).
Para GRAÇA LOPES et al (2002) o estudo qualitativo da composição da fauna
acompanhante deve ser realizado em razão de sua importância para o equilíbrio
ambiental, para a sustentabilidade dos estoques sob explotação e para os ciclos
econômicos das pescarias.
Paralelamente, um estudo quantitativo focado nas variações da abundância
dos recursos mais presentes nas pescarias de camarão sete-barbas pode colaborar
com subsídios ao manejo dessa prática.
Assim, esse estudo teve por objetivo avaliar a pesca de arrasto direcionada
ao camarão sete-barbas sobre populações de Stellifer, quantificando as capturas
destas e da espécie alvo e analisando as flutuações sazonais e anuais em oito anos
de amostragem em três diferentes áreas de pesca artesanal na Armação do
Itapocoroy e, também, estimar as correlações entre as capturas de Stellifer spp. e
Xiphopenaeus kroyeri e as variáveis abióticas temperatura e salinidade.
2.2 - MATERIAL E MÉTODOS
As coletas foram realizadas mensalmente durante o período de 1996 a 2003,
sendo interrompidas por dois anos e reiniciadas em agosto de 2005 com término em
julho de 2006. Essas ocorreram em três áreas tradicionais de atuação da pesca
artesanal do camarão sete-barbas na Armação do Itapocoroy, Penha, Santa
Catarina (26°40’- 26°47’ S, 48°36’- 48°38’ W): Ponta da Vigia com profundidade
entre 10 a 15 metros, nas proximidades da Ilha Feia entre 8 a 12 metros e entre
essa e as Ilhas de Itacolomis com 12 a 18 metros (Fig. 2.1) (BRANCO & VERANI,
2006).
73
Figura 2.1 - Mapa da Armação Itapocoroy, Penha, SC com os três pontos tradicionais da
pesca de camarão sete-barbas onde se realizaram as coletas do presente estudo.
Em cada coleta foram empregados arrastos com portas (doublé rigged),
malha de 3,0 cm na manga e corpo e de 2,0 cm no ensacador, tracionadas por uma
embarcação (baleeira) com velocidade média de 2,0 nós. A duração do arrasto em
cada área foi de 30 minutos. Todo o material capturado no arrasto foi acondicionado
em caixa de isopor e resfriado com gelo. Em laboratório foram feitas as
identificações dos componentes da fauna acompanhante de acordo com a
bibliografia específica.
Os peixes do gênero Stellifer e todo o camarão-sete-barbas capturados foram
separados do restante da fauna acompanhante, sendo registradas suas freqüências
de ocorrência e as biomassas por arrasto, estimando-se, desse modo, as médias
mensais das CPUE em biomassa (kg/h) e em número de exemplares (N/h).
Devido às características morfológicas semelhantes das três espécies do
gênero Stellifer e a ocorrência conjunta nas áreas de coleta ( 2006a), os dados das
três espécies capturadas S. stellifer, S. rastrifer e S. brasiliensis foram agrupados e
apresentados nesse trabalho como representantes do gênero Stellifer.
Paralelamente às coletas, realizaram-se medidas de temperatura e a
salinidade da água no fundo. A ANOVA não paramétrica (teste de Kruskall–Wallis),
74
complementada pelo agrupamento de Dunn, foi aplicada aos dados, comparando -
se os valores obtidos de CPUE dos Stellifer entre as áreas de coleta a fim de se
verificar possíveis diferenças entre essas. Os os valores de CPUE anuais e mensais
foram comparados na expectativa de se evidenciar possíveis alterações provocadas
pela pesca de camarão nas capturas de Stellifer no decorrer dos anos e a influencia
da sazonalidade nessas capturas
Técnicas de estatística multivariada (Análise de Componentes Principais)
foram empregadas para análise das relações entre as variáveis salinidade,
temperatura, biomassa de Stellifer spp. e biomassa de camarão sete-barbas e
estimativa dos respectivos valores das correlações de Pearson.
2.3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
A temperatura média da água foi de 22,0 ± 3,1 °C, apresentando uma típica
variação sazonal durante o estudo. Os maiores valores ocorreram na primavera
(23,0 ± 2,0°C) e no verão (25,2 ± 1,9°C), com o máximo atingido 28,3 °C em março
de 1999 e de 2000, e ,as temperaturas mais baixas, registradas nos meses de
outono (20,7± 2,5°C) e inverno (19,2 ± 1,7°C), destacando-se julho de 2000 com
15,6 °C (Fig. 2.2).
15
20
25
30
A/96 F/97 A/97 F/98 A/98 F/99 A/99 F/00 A/00 F/01 A/01 F/02 A/02 F/03 A/05 F/06
meses
Figura 2.2 - Variação mensal média de temperatura da água de fundo, durante o período
de agosto de 1996 a julho de 2006, na Armação do Itapocoroy, Penha, SC. (a barra
vertical indica o desvio padrão da variável).
75
A amplitude de variação na temperatura da água foi de 12,7°C durante os 8
anos do deste estudo. Oscilações semelhantes às ocorridas foram encontradas em
trabalhos realizados por BRANCO et al (1999) e por ALMEIDA & BRANCO (2002),
estando de acordo com o esperado para a região (MATSUURA, 1986).
O valor médio de salinidade foi de 33,8±1,8 p.s.u, com o menor teor de 28
p.s.u registrado nos meses de agosto e outubro de 1998 e agosto de 1999 e o maior
valor de 37 p.s.u no mês de abril de 1998 e 1999. (Fig. 2.3).
27
30
33
36
A/96 F/97 A/97 F/98 A/98 F/99 A/99 F/00 A/00 F/01 A/01 F/02 A/02 F/03 A/05 F/06
meses
p.s.u
Figura 2.3 – Variação mensal média da salinidade da água de fundo das três áreas de
coleta, durante o período de agosto de 1996 a julho de 2006, na Armação do Itapocoroy,
Penha, SC. (a barra vertical indica o desvio padrão da variável).
Essa variação encontrada não era esperada, pois segundo MATSURA (1986), a
região sul do país apresenta certa regularidade com relação a tal parâmetro. Para
BRANCO et al (1999) essas flutuações são típicas de zonas costeiras, sendo
determinadas provavelmente por períodos de maior pluviosidade e grande
contribuição fluvial do rio Itajaí-Açu, cuja foz encontra – se 20 km ao sul da área de
estudo.
Nesse estudo, os maiores valores alcançados de biomassa total (42,35 Kg) e
do número de exemplares capturados (3596 indivíduos) do gênero Stellifer
ocorreram em fevereiro de 2000, quando a média de temperatura foi de 25,3 °C e a
de salinidade de 33,7 p.s.u (Fig. 2.4 e 2.5).
76
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
A/96 F/97 A/97 F/98 A/98 F/99 A/99 F/00 A/00 F/01 A/01 F/02 A/02 F/03 A/05 F/06
meses
Kg
Figura 2.4- Biomassa total mensal dos organismos pertencentes ao gênero Stellifer
capturada nas três áreas de coleta em Armação do Itapocoroy, no Município de Penha,
SC, no período de agosto de 1996 a julho de 2006.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
A/96 F/97 A/97 F/98 A/98 F/99 A/99 F/00 A/00 F/01 A/01 F/02 A/02 F/03 A/05 F/06
meses
N
Figura 2.5 - Número total mensal dos organismos pertencentes ao gênero Stellifer
capturado nas três áreas de coleta em Armação do Itapocoroy, no Município de Penha,
SC, no período de agosto de 1996 a julho de 2006.
Estudos realizados no litoral de São Paulo demonstram a importância das
variáveis físicas e químicas na distribuição, estruturação populacional e no
desenvolvimento dos organismos. G
IANINNI & PAIVA-FILHO (1995) relataram que as
maiores abundâncias de Stellifer brasiliensis ocorreram em salinidade de 34 p.s.u e
temperatura em torno de 23,0 °C e que os menores indivíduos foram capturados em
águas mais rasas, mais quentes (temperatura média de 25,0°C) e de menor
salinidade (28 p.s.u). No caso da espécie Stellifer rastrifer, as maiores abundancias
77
ocorreram em temperaturas entre 23,0 e 25,0 °C, sendo mais abundantes em águas
com salinidade de 26,0 p.s.u (GIANNINI & PAIVA-FILHO, 1990). Entretanto, ALMEIDA &
BRANCO (2002), em trabalho realizado no mesmo local do presente estudo, não
encontraram relação direta das capturas de Stellifer stellifer com os parâmetros
físico e químicos da água de superfície.
No presente trabalho, os maiores valores de captura ocorreram
principalmente nos meses de verão (Figs. 2.6 e 2.7).
0
1
2
3
4
5
6
ASONDJFMAMJ J
meses
Kg
Figura 2.6 - Biomassa média e erros da média para organismos do gênero Stellifer
capturados nos meses de coleta do estudo realizado durante os anos de 1996 a 2006,
em Armação Itapocoroy, Penha, SC.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
ASONDJFMAMJJ
mes es
N
Figura 2.7 – Número médio e erros da média para organismos do gênero Stellifer
capturados nos meses de coleta do estudo realizado durante os anos de 1996 a 2006 em
Armação Itapocoroy, Penha, Santa Catarina.
78
A biomassa média capturada foi maior no mês de fevereiro, entretanto, em
janeiro, março e abril também foram registrados altos valores. Todos os demais
meses tiveram valores bem abaixo, sendo os de inverno com os menores valores. O
teste de DUNN demonstrou que os meses de inverno (julho e agosto) diferem
significativamente (p < 0,05) com relação à biomassa dos demais meses do estudo
e, ainda que, o mês de abril difere significativamente dos meses de setembro e
outubro (Tab. 2.1).
Tabela 2.1 - Resultado da comparação entre os valores mensais de biomassa capturada
de Stellifer spp realizados pelo teste de Kruskal–Wallis.
Mês fev mar abril mai jun jul ago set out nov dez
Jan ns ns ns ns ns * * ns ns ns ns
Fev ---- ns ns ns ns ns * ns ns ns ns
mar ---- ---- ns ns ns * * ns ns ns ns
abri ---- ---- ---- ns ns *** *** * ** ns ns
mai ---- ---- ---- ---- ---- ns ns ns ns ns ns
Jun ---- ---- ---- ---- ---- ns ns ns ns ns ns
Jul ---- ---- ---- ---- ---- ---- ns ns ns ns ns
Ago ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ns ns ns *
Set ---- ---- ---- ---- ---- ---- ns ns ns
Out ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ns ns
nov ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ns
ns
não apresentam diferença significativa (p 0,05); * apresentam diferença
significativa (p < 0,05); ** apresentam alta diferença significativa (p < 0,01); ***
apresentam altíssima diferença significativa (p < 0,001).
O número de indivíduos capturados foi maior nos meses de verão e outono e,
desses, o mês de março foi o de maior valor, seguido de abril, fevereiro e janeiro. O
teste de K
RUSKAL–WALLIS complementado pelo teste de agrupamento não–
paramétrico de DUNN, aplicados para testar as diferenças dos meses com relação ao
numero de indivíduos capturados, demonstraram diferença estatística entre os que
atingiram valores baixos (inverno e primavera) de captura e aqueles que obtiveram
os maiores valores (outono e verão) (Tab. 2.2).
79
Tabela 2.2 - Resultado da comparação entre os valores de número de capturas mensais
de Stellifer spp realizados pelo teste de Kruskal –Wallis.
Mês fev mar abril mai jun jul ago set out nov dez
jan ns ns ns ns ns ** ** *** *** ns ns
fev ---- ns ns ns ns ns ns ** ** ns ns
mar ---- ---- ns ns ns *** *** *** *** ns ns
abri ---- ---- ---- ns ns ** ** *** *** ns ns
mai ---- ---- ---- ---- ns ns ns ns ns ns ns
jun ---- ---- ---- ---- ---- ns ns ** * ns ns
jul ---- ---- ---- ---- ---- ---- ns ns ns ns ns
ago ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ns ns ns ns
set ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ns ns ns
out ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ns ns
nov ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- ns
ns
não apresentam diferença significativa (p 0,05); * apresentam diferença
significativa (p < 0,05); ** apresentam alta diferença significativa (p < 0,01); ***
apresentam altíssima diferença significativa (p < 0,001).
Observa-se que em alguns meses foram registrados valores de captura em
número e biomassa distintos com relação à sua importância no estudo. Como
exemplo, no mês de março registrou-se um maior valor médio de organismos
capturados (Fig. 2.7), mas correspondendo a uma biomassa total inferior àquela
registrada em fevereiro e janeiro (Fig. 2.6). Em outros meses, como, por exemplo,
em fevereiro, constatou-se o inverso, ou seja, ocorreram altos valores de biomassa
comparativamente á quantidade de organismos capturados. De fato o que ocorre
entre esses meses é uma diferença no peso médio dos indivíduos capturados (Tab.
2.3). O recrutamento dos jovens na região de Armação Itapocoroy no período de
verão foi observado por ALMEIDA e BRANCO (2002) e é um dos fatores que
seguramente influencia essa alteração no peso médio dos peixes ao longo dos
meses. Outro fator que pode ocasionar alterações no peso dos indivíduos é a
atividade reprodutiva desses organismos, pois durante e, principalmente, após a
atividade reprodutiva, há uma perda de peso devido ao gasto energético envolvido
nesse processo (VAZZOLER, 1996)
80
Tabela 2.3. Peso médio de peixes pertencentes ao gênero Stellifer capturados como
fauna acompanhante da pesca direcionada ao câmara sete- barbas em Armação
Itapocoroy, Penha, SC.
Mês Jan Fev Mar Abril Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
peso médio (g) 11,34 12,77 7,57 7,58 10,33 11,25 15,01 15,86 17,45 16,86 12,11 10,56
As estações do ano causam alterações nas condições dos ecossistemas, o
que acarreta em variações quantitativas e qualitativas na captura da ictiofauna
acompanhante da pesca do camarão (CARRANZA- FRASER & GRANDE, 1982; PAIVA-
FILHO & SCHIMEGELOW, 1986; BRANCO & VERANI, 2006)
Alguns trabalhos relataram a variação sazonal dos peixes representantes da
família Sciaenidae na pesca de arrasto direcionada ao camarão sete-barbas.
BRANCO et al (2006a) encontraram as maiores abundâncias em número de
exemplares e CPUE da ictiofauna acompanhante do camarão sete-barbas entre os
meses de verão e primavera, enquanto que, na região Sul, alternaram-se entre a
primavera e outono (HAIMOVICI et al. 1996) e, no Sudeste, as maiores CPUE da
população de Sciaenidae da Baía de Santos foram registradas durante o outono
(GIANNINi & PAIVA-FILHO 1990).
Em estudo realizado no litoral paulista, (C
OELHO et al. 1986) relataram a
presença de Stellifer rastrifer e Stellifer brasiliensis durante todo o ano na ictiofauna
acompanhante na pesca do Xiphopenaeus kroyeri, sendo os períodos de maior
captura de Stellifer rastrifer na primavera e inverno e Stellifer brasiliensis na
primavera e verão. Ainda no mesmo estudo, no que diz respeito a outras duas
espécies do gênero Stellifer spp. (Stellifer stellifer e Stelifer sp.), a ocorrência não foi
regular durante as amostragens e o número de capturas foi muito baixo.
No decorrer do presente estudo foram registradas diferenças significativas
entre os anos, tanto em relação ao número de indivíduos quanto à biomassa dos
Stellifer. A biomassa capturada foi maior no período de 1996 a 1997, porém os anos
de 1999 a 2000 e 2002 a 2003 também apresentaram elevados valores de biomassa
(Fig. 2.8).
81
0
10
20
30
40
50
60
96-97 97-98 98-99 99-00 00-01 01-02 02-03 05-06
Anos
Kg
Figura 2.8 - Biomassa média anual das três áreas de coleta e erro da média de peixes
pertencentes ao gênero Stellifer capturados em Armação Itapocoroy durante o período de
agosto de 1996 a julho de 2006.
Já com relação ao número médio de exemplares capturados nas três áreas
de estudo, o período de 1999 a 2000, o terceiro maior em biomassa, foi o que
apresentou o maior valor, seguido do período de 1996 a 1997. As diferenças entre
os períodos anuais citados com os demais deste estudo estão bem visualizadas
graficamente na Fig. 2.8.
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
96-97 97-98 98-99 99-00 00-01 01-02 02-03 05-06
Anos
N
Figura 2.9 - Número médio anual das três áreas de coleta e erro da média de peixes
pertencentes ao gênero Stellifer capturados em Armação Itapocoroy, durante o período
de agosto de 1996 a julho de 2006.
82
O teste de KRUSKAL –WALLIS complementado pelo agrupamento de DUNN
demonstrou que a maioria dos períodos não apresentou diferença significativa ( p
0,05) entre seus grupos de dados. Quando comparados os dados referentes às
biomassas, somente o período de 1996 a 1997 apresentou diferença significativa (p
< 0,05) com outros períodos, sendo esses os períodos de 1997 a 1998??, 1998 a
1999, 2000 a 2001 e 2001 a 2002. Quando realizadas comparações com os
números de indivíduos capturados somente houve diferença entre os períodos de
1999 a 2000 e 2000 a 2001. De acordo com esses resultados obtidos pelo teste
estatístico de KRUSKALL-WALLIS, pode-se afirmar que as capturas anuais do gênero
Stellifer não apresentam variações significativas que indiquem que a pesca esteja
diminuindo seus estoques.
A biomassa das espécies de Stellifer spp. correspondeu a 39,33 % de toda a
ictiofauna capturada durante este estudo, computando um total de 535,72 kg. A Área
I respondeu por 20,95% da biomassa do gênero, a Área II por 23,2% e a Área III por
55,85% (Fig. 2.10).
0
50
100
150
200
250
300
350
Área 1 Área 2 Área 3
Kg
20,95%
23,2%
55,85%
Figura 2.10 - Biomassa total de Stellifer capturada (1996 a 2006) nas três áreas
tradicionais da pesca de camarão sete-barbas em Armação Itapocoroy.
O número total de peixes do gênero Stellifer capturados no estudo foi de
52.238 indivíduos ( 46,30 % de toda a ictiofauna no período), sendo que 29,9 %
ocorreram na Área I, 20,5 % na Área II e os 49,6 % restantes na Área III (Fig. 2.11).
83
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
Área 1 Área 2 Área 3
N
20,5 %
29,9 %
49,6 %
Figura 2.11 - Número total de Stellifer capturados (1996 a 2006) como fauna
acompanhante nas três áreas tradicionais da pesca de camarão sete-barbas em
Armação Itapocoroy.
Em ambas as situações, quando comparados os grupos de dados de
biomassa e numero de capturas nas diferentes áreas pelo teste KRUSKAL-WALLIS,
não houve diferença significativa (p 0,05), em relação as área I e II, porém, a área
III diferenciou-se significativamente (p < 0,05) dessas duas áreas. Como observado,
na área III registraram-se os maiores valores de captura, contudo houve uma maior
diferença nos valores de biomassa do que com relação aos de numero de indivíduos
capturados. Essa diferença pode ser creditada ao fato que a área em questão é
mais profunda do que as outras duas, acarretando na presença de peixes com
valores maiores de comprimento e peso. COELHO et al (1987), estudando populações
de Stellifer brasiliensis em quatro diferentes localidades do litoral do estado de São
Paulo, notaram que o aumento da moda de comprimento ocorreu paralelamente ao
aumento da profundidade do ponto de coleta. Ainda segundo os autores, essa
correlação pode induzir à hipótese de que os indivíduos de Stellifer brasiliensis à
medida que crescem apresentam uma tendência de se afastarem da costa.
L
ONGHURST & PAULY (2007) citam que o fato que pode influenciar no maior tamanho
dos peixes que vivem em ambientes mais profundos é a diminuição do metabolismo
de rotina devido à queda na temperatura na água, fazendo dessa forma que haja um
menor gasto energético para a manutenção do organismo, restando assim mais
energia voltada para o crescimento desse organismo.
84
A produção total da espécie-alvo (X. kroyeri) durante os oito anos de estudo
foi de 385,278 kg e o numero de capturas foi de 161.798 indivíduos. A biomassa
total do gênero Stellifer spp. no decorrer do estudo atingiu valores bem superiores
do que da espécie alvo X. kroyeri (Fig. 2.12), atingindo a proporção de 1 : 1,40 kg a
favor de Stellifer spp. Estimou-se que a biomassa de toda ictiofauna capturada seja
de 1,363 t, alcançando a proporção de 1 kg de camarão para cada 3,54 kg de
peixes capturados. Esta razão ficou abaixo do esperado para regiões tropicais, onde
os valores, segundo SLAVIN (1983), atingem a proporção de 1: 10 Kg. Talvez pelo
fato da área de estudo estar localizada em uma região com clima mais frio, esse
valor aproximou-se do relatado por SLAVIN (1983) para regiões temperadas (1: 5 kg).
0
20
40
60
80
100
120
140
96-97 97-98 98-99 99-00 00-01 01-02 02-03 05-06
anos
Kg
X. kroyeri
Stellifer spp
Figura 2.12 – Biomassa anual dos peixes pertencentes ao gênero Stellifer spp e da
espécie-alvo, Xiphopenaeus kroyeri, oriundos das pescarias realizadas em Armação
Itapocoroy, durante os anos de 1996 a 2006.
Esses resultados corroboram com vários estudos realizados que demonstram
a grande representatividade da biomassa da fauna acompanhante quando
comparada à da espécie alvo (S
LAVIN 1983; CONOLLY 1986; ALVERSON et al 1994) e
alertam para a problemática ambiental e social das conseqüências oriundas da
pesca de arrasto direcionada aos camarões.
A capacidade de sustentação de uma população perante a pesca é
proporcional à sua abundância e à suscetibilidade de ser capturada, que por sua vez
estão relacionadas às estratégias de ciclo de vida apresentadas pela espécie. Assim
85
espécies componentes da fauna acompanhante podem estar mais sujeitas à
sobrepesca que a espécie-alvo (VIANNA & VERANI, 2002).
Mecanismos de redução do “bycatch” (BRDs) são ferramentas eficientes para
diminuir o impacto sobre as espécies e, conseqüentemente, manter a diversidade
ecológica e a resiliência das comunidades bióticas. Há uma série desses
mecanismos e alguns têm relativamente um baixo custo para implementação
(BREWER et al 1998; EARYS 2007). Entretanto, faltam incentivos por parte dos
governos, principalmente no que se refere à pesca artesanal, e a adequação das
praticas pesqueiras continuam a ser um objetivo longe de ser atingido.
A análise de componentes principais aplicada as variáveis: biomassa de
Stellifer spp., biomassa de X. kroyeri, temperatura e salinidade, revelou que os 2
principais eixos somados , F1 e F2, explicam 88% da variabilidade total dessas
variáveis (Fig. 2.13). Os vetores gerados pela salinidade e biomassa de camarão
sete-barbas fazem com que os meses mais fortemente influenciados por essas
variáveis sejam atraídos para os quadrantes superiores e principalmente para o
quadrante do lado direito (Fig 2.13). Portanto os meses de julho, junho, maio e abril
são caracterizados por altos valores dessas variáveis comparados com os demais.
Os vetores gerados pelas variáveis temperatura e biomassa de Stellifer têm
comportamento inverso do citado acima. Esses vetores atraem os meses para os
quadrantes inferiores, principalmente para os do lado direito. Ainda pode se afirmar
que todos os meses que se localizam nos quadrantes direitos têm valores altos das
variáveis estudadas quando comparados com os do lado esquerdo.
86
Figura 2.13- Representação gráfica da Análise de Componentes Principais (PCA)
aplicada aos meses de coleta realizada em Armação do Itapocoroy, Penha, SC, durante
o período de 1996 a 2006.
Essa técnica de estatística multivariada aplicada aos valores médios mensais
das variáveis mostrou que os meses de verão são mais influenciados pelas variáveis
biomassa de Stellifer spp. e temperatura. Portanto, para esses meses são
esperados altos valores de captura de Stellifer spp. associados a elevados valores
de temperatura. No entanto, o mês de março tem uma posição intermediaria com
relação a influencia dos vetores, sendo caracterizado por ter altos valores de
biomassa de Stellifer spp e também de biomassa de Xiphopenaeus kroyeri. Ainda de
acordo com essa análise, os meses de outono, principalmente abril, caracterizam-se
por altos valores de biomassa de Xiphopenaeus kroyeri associados a elevados
valores de salinidade. Os meses de primavera possuem valores intermediários das
variáveis temperatura e biomassa de Stellifer e valores mais baixos de salinidade e
biomassa de camarão sete-barbas. Os meses de inverno apresentam baixos valores
de temperatura e biomassa de Stellifer. Nota-se que há um agrupamento dos meses
de acordo com as estações do ano, indicando que as variáveis sofrem influências da
sazonalidade (Fig. 2.14).
Variables and observations (axes F1 and F2: 87 %)
Jul
Jun
Mai
Abr
Mar
Fev
Jan
Dez
Nov
Out
Set
Ago
Btotal(stellifer)
Btotal(7 barbas)
Temperatura
Salinidade
-1
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
-1-0,500,5 11,5
-- axis F 1 (70 %) -->
87
0
2
4
6
8
ASONDJFMAMJ J
meses
Kg
Stellifer
X. kroyeri
Figura 2.14 – Valores médios mensais de captura de Stellifer spp. e da espécie-alvo, X.
kroyeri, decorrentes da pesca de arrasto realizada em Armação do Itapocoroy, Penha,
SC, durante os anos de 1996 a 2006.
Os valores estimados dos coeficientes de Pearson entre as variáveis
estudadas foram, em sua maioria, acima de 0,5, indicando existir correlação positiva
entre essas (Tab. 2.4). Entretanto, entre as duas variáveis abióticas, o valor do
coeficiente foi de 0, 404, demonstrando não haver correlação positiva entre essas.
Tabela 2.4. Valores dos coeficientes de Pearson entre as variáveis biomassa de Stellifer
spp., biomassa de camarão sete-barbas, salinidade e temperatura analisadas no estudo.
Variáveis Biomassa sete-barbas Temperatura Salinidade
Biomassa Stellifer
0, 619 0, 809
0, 530
Biomassa sete-barbas ------- 0, 548
0, 655
Temperatura ------- ------- 0, 404
88
2.4 - CONCLUSÕES
A biomassa das três espécies pertencentes ao gênero Stellifer capturadas
não intencionalmente durante a pesca de camarão realizada na Armação Itapocoroy
superou os valores registrados da espécie-alvo (Xiphopenaeus kroyeri) sustentando
os efeitos negativos nas populações de fauna acompanhante decorrente dessa
modalidade de pesca. Entretanto, os dados referentes ao gênero Stellifer,
demonstraram que essas populações sofrem oscilações anuais irregulares em sua
biomassa, não havendo grandes alterações nas taxas de captura no decorrer dos
anos. Tal fato pode indicar que a pesca não esteja atuando de forma predatória nos
estoques desta espécie na região.
A análise de componentes principais realizada com as variáveis bióticas,
biomassa capturada de Stellifer ssp. e de Xiphopenaeus kroyeri, e com as abióticas,
temperatura média e salinidade média, demonstrou que , apesar dos picos anuais
das populações estudas ocorrerem em anos diferentes, há uma correlação positiva
entre a abundancia mensal dessas populações, que são claramente influenciadas
pelas variáveis abióticas temperatura e salinidade.
As variações de temperatura e salinidade influenciam nos valores de
abundancia das duas populações estudadas, entretanto não se pode afirmar que
essas oscilações sejam diretamente responsáveis pela variação verificada no
período, pois tais oscilações podem exercer uma influência de forma indireta nas
populações, como, por exemplo, com o aumento do oxigênio e/ou alimento
disponível no ambiente.
Portanto, devido à sobreposição da ocorrência das populações, planos de
manejo direcionados ao camarão-sete-barbas devem levar em consideração os
aspectos biológicos e ecológicos dos representantes do gênero Stellifer, pois mesmo
não sendo um recurso aproveitado comercialmente, a depleção de seus estoques
pode vir a prejudicar o ecossistema estudado, acarretando em mudanças na
composição das espécies da região e prejudicando a pesca da espécie-alvo.
89
2.5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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