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social” (MUSSALIM, 2001, p. 102). Sobre isso, informa-nos Maingueneau (1997, p.
10-11):
A conjuntura intelectual é aquela que, nos anos 60, sob a égide do
estruturalismo, viu articularem-se, em torno de uma reflexão sobre a
“escritura”, a lingüística, o marxismo e a psicanálise. A análise do
discurso na França é, sobretudo, − e isto desde 1965,
aproximadamente − assunto de lingüistas [...], mas também de
historiadores [...] e de alguns psicólogos [...].
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A análise do discurso depende das ciências sociais e seu aparelho
está assujeitado à dialética da evolução científica que domina este
campo.
A voz de Maingueneau, mesclada à de Pêcheux, mostra o desafio que a AD
se propõe de interpretar textos de um modo diferente do realizado até então.
Observam-se daí as condições de produção
4
sob as quais os textos
5
são
elaborados.
Tendo em vista as três fases da AD, segundo Pêcheux (1993), a posição
teórica da AD1 caracteriza-se ainda pela influência do estruturalismo e, desse modo,
sua metodologia se orienta para um corpus fechado de textos políticos de arquivos
selecionados “num espaço discursivo supostamente dominado por condições de
4
De acordo com Charaudeau e Maingueneau (2004, p. 114), a noção de condições de produção
pode ser entendida por duas vertentes: (i) a da Escola Francesa de Análise de Discurso e (ii) a da
Teoria da Comunicação. Portanto, esse verbete coexiste em ambos os quadros teóricos: o da Análise
de Discurso e o da Pragmática. Neste trabalho, enfatizamos seu uso segundo a AD, a partir da noção
apresentada por Pêcheux (1969) e conceituações subseqüentes. Assim, para a AD, esse termo se
fundamenta na expressão marxista condições econômicas de produção, sob a “hipótese de que a um
estado determinado das condições de produção (discursivas) correspondem invariantes semântico-
retóricas, estáveis, no conjunto dos discursos suscetíveis de serem produzidos”. Portanto, o analista
reúne vários textos em função de suas hipóteses sobre a estabilidade de suas condições de
produção. Porém, “a correlação muito mecanicista entre o discurso e as classes sociais foi criticada
pelos especialistas da microssociologia das interações”, sob a influência de Michel Foucault, cedendo
lugar “a uma visão mais complexa das instituições discursivas e da relação entre o interior e o exterior
do discurso”. Ver também a reflexão que Rocha e Deusdará (2005) desenvolvem sobre o termo
condições de produção.
5
Segundo Orlandi (2004, p. 54), a distinção texto/discurso está na seguinte relação: “do ponto de
vista de sua apresentação empírica, [o texto] é um objeto com começo, meio e fim, mas que, se
considerado como discurso, instaura-se sua incompletude. Assim, na perspectiva do discurso, o texto
não é uma unidade fechada, por ter “relação com outros textos (existentes, possíveis, imaginários),
com suas condições de produção (os sujeitos e a situação), com o que chamamos sua exterioridade
constitutiva (o interdiscurso: a memória do dizer)”.