
desenho e conceito
“Desenho é linguagem e enquanto linguagem é acessível a todos” (ARTIGAS, 1986,
p.48), e é também uma forma de conhecimento. Uma ação interativa do olho, olhar para ter
conhecimento do mundo. Diversos elementos caracterizam um desenho, traços, linhas,
enquadramento, técnicas e escalas utilizadas. O traço do desenho, os tipos de linha
identificam o artista, o sujeito operante, como na caligrafia, cada pessoa tem a sua e pode
ser identificada por ela. O olho do observador, o enquadramento da cena, o recorte do fato
ou da paisagem selecionada, em todos essas ações há o sujeito que olha. O olhar é
cognitivo, primeiro selecionamos o que nos interessa, enquadramos, e daí, registramos com
croquis. Cada homem vê sob sua própria ótica. Segundo Kahn (1981, p.77), o puro prazer
que se sente no ato de desenhar fica refletido no próprio desenho, e é a relação própria do
sujeito e a sua abstração pessoal o seu pensamento no ato do desenho; de forma que não
podemos copiá-lo como uma imitação, pois essa é uma qualidade única do sujeito. Nesse
sentido, Oliveira (2000) enfatiza o envolvimento do corpo na experiência do desenho:
Modo de expressão e reconhecimento do mundo, o desenho é uma
linguagem que realiza-se mediante uma operação expressiva do corpo que
visa algo. Todo movimento, todo olhar, todo tato, efetua nossa comunhão
com as coisas e faz com que cada gesto que esboçamos no papel para
representá-las seja ao mesmo tempo uma tomada de consciência do mundo
e a elaboração de um mundo. Ao desenhar, o corpo associa-se ao
espetáculo para descobrir novamente a coexistência das coisas percebidas,
para encontrar aquilo que já sabia mas que, paradoxalmente, ignorava e
que a contingência daquele momento lhe trouxe à presença. A coluna do
templo que olhávamos distraidamente, adquire sentido por nossa intenção
significativa e revela-nos sua materialidade pulsante, transmite-nos essa
maneira de ser que é a do vertical e que nos fará, mesmo na sua ausência,
trazer novamente ao papel a emoção daquele encontro. Porque entramos
em contato com ela, estabeleceu-se ali uma nova dimensão da experiência
na qual realizamos tal objeto em nós, e por esse motivo podemos dizer,
enfim, que nosso desenho a diz. Não importa que tipo de desenho, se de
observação, se técnico, algo assim só ocorre se nos abrimos à experiência
(OLIVEIRA, 2000, p.56).
Pela sua capacidade de interferir na reflexão do sujeito, o desenho se torna um
importante método de análise da arquitetura. Quereremos dizer que o desenho é uma forma
de apreensão de um conceito e de uma idéia. Desenho é o instrumento primário, mas não
único, da comunicação arquitetônica e da análise de seus objetos. Estudar os desenhos
iniciais e originais geradores do projeto é fazer a ligação direta com a concepção, uma vez
que os caminhos que o pensamento do autor percorreu podem ser claramente ser traçados