Joe Madureira, e o da direita, a baseada na escrita do capista
Travis Charest. Ambas foram feitas pelo estúdio especializado
em tipografia e design para quadrinhos Comicraft. O estúdio
foi fundado na década de 1990 por Richard Starkings, letrista
inglês com uma longa carreira no meio.
Todas as preocupações de um designer gráfico ou tipográfo
ao diagramar um texto também existem em um balão: espaço
entrelinhas, kerning, opções por caixa alta e baixa, viúvas e
alinhamento. Porém, a existência de alguns deles são menos
problemáticos nos quadrinhos, como as viúvas e o alinhamento
do texto, que nos balões de fala quase que exclusivamente é
central e nos balões de narrador alinhados à esquerda. Além
da fonte, a forma como o texto é escrito ajuda o entendimento
do leitor. Recursos como negrito, itálico e o tamanho da fonte
podem auxiliar a caracterizar uma frase ou uma fala.
Variando o estilo, tamanho e a espessura das letras é possível
sugerir tipos de discurso. Pra mim ISTO É UM GRITO,
ISTO É UM
SUSSURRO, isto é uma frase tensa, esta palavra é pronunciada
com ênfase, um pouco mais alto do que o normal. Antes era
uma prática comum dos editores rechear os balões de palavras
em negrito, muitas vezes sem se preocupar com o conteúdo
do diálogo. A idéia era de oferecer algo interessante para
o leitor visualmente – para variar a presumida monotonia
do letreiramento comum. Pode ter havido algo válido nesta
teoria, mas quando palavras ilógicas eram enfatizadas, a
prática causava mais danos à qualidade literária e narrativa
do trabalho do que benefícios (O’NEIL, 2001, p.20).
Além desses exemplos do uso de tipografia entre as funções
do letrista também estão as onomatopéias, que são palavras
usadas para representar algum efeito sonoro cujo visual
auxilia nessa função. Elas são tratadas de forma semelhante a
logotipos com sombras, diferentes fontes e soluções gráficas,
porém, elas muitas vezes servem para auxiliar a narrativa
visual. Em inglês, a grande maioria das onomatopéias
utilizam a palavra relacionada ao som que ela representa.
Por exemplo, a onomatopéia de uma chicotada é “whip”, que
em inglês significa chicote. A própria representação visual da
onomatopéia é condizente com o seu efeito sonoro na história.
Letras grossas e blocadas são utilizadas para o som pesado de
um impacto, cuja palavra em inglês é “thump”, que significa
pancada (figura 101). Letras finas e tremidas são para um grito
fantasmagórico e assustador (KLEIN, 2004, p.95). Expansivas e
grandes para uma explosão ou um impacto muito forte, como
mostra a figura 102, e assim por diante.
Onomatopéias são invenções visuais que você pode
improvisar como louco. Não há certo e errado, mas existem
algumas variações com as quais você pode improvisar,
incluindo altura, geralmente indicada pelo tamanho, pela
grossura das letras, inclinação e pontos de exclamação,
timbre, a qualidade do som, sua textura, ondulação, agudeza
e etc. Associação, o estilo da fonte e sua forma podem
remeter ou imitar a origem do som e integração gráfica, que
são considerações puramente relacionadas ao design como
a forma, a linha e a cor – assim como o efeito interage com
a imagem (McCLOUD, 2006, p.147).
Além da onomatopéia, quaisquer textos existentes nas páginas
e nos quadrinhos são função do letrista, a menos que elas
sejam feitas por outros. Textos inseridos na composição dos
quadros como outdoors, letreiros de lojas ou quaisquer outras
informações textuais em uma cidade, por exemplo, podem
ser feitos pelo desenhista. Se isso ocorrer, eles passarão pelo
restante do processo como qualquer outro desenho, sendo
arte finalizados e coloridos. Caso eles não sejam feitos pelo
desenhista, cabe ao letrista acrescentá-los ao espaço deixado
pelo desenhista. O título da história e os créditos também
são criados e aplicados na página pelo letrista. Tanto os
letreiros, outdoors quanto os títulos e créditos são criados
como qualquer produção gráfica que envolva letras de forma
semelhante a criação de um logo. A opção pela fonte, a
preocupação com a organização e a utilização do espaço, bem
como a legibilidade e a estética também são pontos relevantes
neste trabalho. Uma complicação para o letrista é ter que
realizar essa criação sobre uma página já preenchida que pode
ou não estar preparada para receber sua criação. No exemplo
da figura 103, o letrista uniu os créditos a imagem, dispondo-
os na placa da lanchonete mostrada nesta página. Os números
de página também podem ser feitos pelo letrista que, como já
foi dito, acaba atuando também com a finalização gráfica da
edição, ou seja, como um designer responsável pela publicação
que cuidará da finalização da mesma acrescentando os títulos,
créditos, números de página e quaisquer outras informações
necessárias ao gibi. Em muitos casos, os letristas ainda são
responsáveis por finalizar o contorno e a borda dos quadros.
Outro indicativo de que o letrista por vezes faz o trabalho
de um designer gráfico, são os logotipos das revistas e
personagens. Quando as revistas em quadrinhos surgiram,
os logotipos eram criados por funcionários das editoras,
geralmente responsáveis pela impressão ou com algum
contato com a parte gráfica do processo produtivo. Com a
entrada dos letristas no mercado para a assumir a função, a
criação ou remodelação dos logos passou a ser feita por eles.
Hoje, as editoras costumam contratar estúdios especializados
em design e tipografia para cuidar de seus logos. A figura
11, já mostrada antes, apresenta as mudanças sofridas pelo
logotipos da HQ do Batman, desde seu lançamento quando
ele ainda era feito por funcionários da empresa, até o
número 9, e o criado por Chip Kidd na década de 1990 para o
personagem, número 10, e o mais recente de todos.
Em 2005, a DC Comics realizou uma remodelação em seu logo,
que era o mesmo desde a década de 1970. A história do logo
da editora começou em 1940 quando apareceu pela primeira
vez em uma edição do Batman composto apenas pelas letras
“DC”. O logo passou por algumas pequenas mudanças desde
sua criação, até que na década de 1970, a editora contratou
Milton Glaser para reformular seu logo. Glaser é um dos mais
famosos designers gráficos americanos, tendo trabalhando em
inúmeros projetos. Ele é conhecido por sua prolífica produção
de capas de livro, por cartazes e publicações diversas como
New York Magazine, fundada por ele. O resultado, que teve
sua estréia em 1976, foi um logo forte, utilizando uma fonte
angulosa e com as letras “DC” dentro de um círculo cujas bordas
Figura 100 Fontes STARKIINGS, 2001.
Figura 101 Thump MIGNOLA, 2001.