Sistema Stanislavski: o processo criativo nas organizações
Revista de Ciências da Administração – v.8, n.15, jan/jun 2006
A ação, intenção ou objetivo é o principal elemento de uma interpretação, ela é “a
razão de ser em cena” (LEWIS, 1982, p. 37). O que quer que aconteça no palco deve ter um
propósito determinado, um objetivo, e este, por sua vez, deve estar estritamente ligado ao
superobjetivo.
[...] não pode haver, em circunstância alguma, qualquer ação cujo objetivo imediato
seja o de despertar um sentimento qualquer por ele mesmo. [...] Nunca procuram
ficar ciumentos, amar ou sofrer, apenas por ter ciúme, amar ou sofrer. Todos esses
sentimentos resultam de alguma coisa que se passou primeiro. Nesta coisa, que se
passou antes, vocês devem pensar com toda a força. Quanto ao resultado, virá por si
só (STANISLAVSKI, 1996, p. 90).
Assim, a ação está ligada a um objetivo e às circunstâncias que a antecedem e a
envolvem. Portanto, deve-se evitar realizar uma ação pelo simples fato de fazê-la, para que
esta não se torne supérflua. A ação deve ter justificativa, ser lógica e coerente.
O desenvolvimento do Senso de Verdade ou Fé Cênica refere-se ao aprimoramento
dos elementos de imaginação, memória e atenção do ator, pois estes elementos enriqueceram
a capacidade do ator de atuar com seriedade e segurança como se as circunstâncias da peça
fossem verdadeiras, realistas. “A fé cênica torna real e verdade das paixões postas em jogo,
não só pelo autor, através da verossimilhança das situações e da naturalidade do diálogo, mas
também pelo ator, através da credulidade da sua ação no palco” (SILVA, 2001, p. 108).
A análise ativa é o estudo da peça que, com o tempo, com a prática e reflexão, vai
possibilitando um maior entendimento da mesma, das suas circunstâncias e das personagens.
É basicamente o aprender fazendo, “é um exemplo de aprendizagem vivencial (fazer-refletir-
fazer)” (SILVA, 2001, p. 111). No teatro, é o estudar e entender a peça enquanto se interpreta,
enquanto se “disseca, descobre, examina, estuda, pesa, reconhece, rejeita, confirma”
(STANISLAVSKI, 1972, apud SILVA, 2001, p. 109) a peça. Essa proposta de análise vem
como uma alternativa aos estudos de mesa, comum nos grupos de teatros.
Por fim, o Superobjetivo (Espinha Dorsal) é o tema, a idéia norteadora da peça. Tudo
na peça (pensamentos, sentimentos e ações do ator), até mesmo os detalhes mais
insignificantes, deve estar relacionado a ele, ao seu cumprimento. “Se não tiver relação com o
superobjetivo, salientar-se-á, como supérfluo ou errado” (STANISLAVSKI, 1996, p. 285). O
necessário é um superobjetivo que “se harmonize com as intenções do autor e ao mesmo
tempo desperte repercussão na alma dos atores. Isso significa que temos de procurá-lo não só
na peça, mas, também, nos próprios atores”. (STANISLAVSKI, 1996, p. 313).