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Revista de Ciências da Administração – v.8, n.15, jan/jun 2006
SISTEMA STANISLAVSKI: O PROCESSO CRIATIVO NAS ORGANIZAÇÕES
Lessandra Scherer Severo
1
Edinice Mei Silva
2
Resumo
Grande parte dos problemas enfrentados pelas organizações, no atual quadro econômico e
comercial, já não aceita soluções anteriormente utilizadas. Isso impõe à sociedade a
necessidade de desenvolver a criatividade na busca de diferenciação profissional e
organizacional. Dito isto, o presente artigo busca, através de pesquisa teórica, explorar de
forma interdisciplinar a interação de duas áreas: Artes Cênicas e Ciências da Administração.
Seu foco é “
o processo criativo de Stanislavski nas organizações”, sendo assim, aborda a
criatividade nas organizações, em específico o potencial criativo e processo criativo do
indivíduo, o Sistema Stanislavski propriamente dito e finaliza com um entendimento da
aplicabilidade deste sistema nas organizações. Para tornar mais clara a abordagem adotada
realizou-se uma analogia dos elementos que compõem o mencionado sistema com elementos
do âmbito organizacional.
Palavras-chave: Criatividade. Organizações. Sistema Stanislavski.
1 INTRODUÇÃO
A conjuntura organizacional atualmente enfrenta um quadro bastante competitivo e
dinâmico. A permanência no mercado de empresas, independente de seu ramo de atividade ou
tipo de organização, exige destas, entre outros fatores: flexibilidade, agilidade, eficiência,
capacidade de adaptação e inovação, tecnologia e qualidade.
Por conseguinte, a gerência e a administração tomaram novos rumos. O que se observa
é uma nova percepção do papel do indivíduo e da organização na sociedade. As organizações
se reestruturam, modificam seus processos e valorizam mais seu pessoal, na busca por maior
competitividade e equilíbrio com as aspirações da sociedade. Dentro desta perspectiva, os
gestores percebem que as respostas de ontem já não servem mais para os problemas de hoje e
que o ideal é não se manterem “habituados ao nosso modo mundano de pensar em soluções
(GOLEMAN; KAUFMAN; RAY, 1992, p. 14).
1
Mestranda em Administração pela Escola de Administração da UFRGS. Rua Cruz Alta 473, Centro, Esteio,
RS, CEP 93280-280 - schere[email protected].
2
Diretora do Departamento de Pós-Graduação lato sensu /PRPG. Professora Adjunta IV do Departamento de
Ciências da Administração da UFSC. UFSC/CSE - Campus Universitário, Trindade, Florianópolis, SC, CEP
88040-900 - edin[email protected]. Artigo recebido em: 07/10/2005. Aceito em: 19/05/2006.
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Sistema Stanislavski: o processo criativo nas organizações
Revista de Ciências da Administração – v.8, n.15, jan/jun 2006
No meio acadêmico, diversos estudiosos vêm se dedicando a pesquisas sobre
criatividade nas organizações. As abordagens mais tradicionais são provenientes da
Psicologia, entretanto, a presença de estudiosos das Teorias Administrativas neste campo de
estudo tem se destacado, especialmente quanto ao tema inovação.
A criatividade é, portanto, colocada como fator fundamental para a sobrevivência e
desenvolvimento das organizações. Stoner (1999) menciona que uma organização não criativa
e inovadora pode não sobreviver ao mercado. Da mesma forma, Bono (
apud CORREIA;
DORNELES, 2003) entende a criatividade e a inovação, no futuro, como fatores
indispensáveis e determinantes do sucesso das organizações. Alencar (1996, p. 5-6) defende
que “a criatividade tem sido apontada como a habilidade de sobrevivência para o próximo
milênio” e como um valioso recurso para lidar com os problemas que surgem.
A criatividade é, portanto, um diferencial competitivo para as organizações e deve
estar presente nas tomadas de decisões, nos processos de desenvolvimento de novos produtos
e processos e nas relações de trabalho. Assim, de forma a estimular a expressão da
criatividade, crescem os incentivos a novas idéias, aos horários flexíveis e aos momentos de
confraternização. Enfim, a administração em vez de controlar, passa a favorecer o despertar
da criatividade nas pessoas (PERRY PASCARELLA,
apud HARMAN; HORMANN, 1990).
Sendo a criatividade um importante elemento para auxiliar as organizações a lidarem
com um ambiente organizacional repleto de mudanças, conflitos e altamente competitivo, a
maior justificativa deste artigo está em trazer uma nova abordagem, trabalhando um tema
contemporâneo de forma interdisciplinar, por meio da interação de duas áreas: Artes Cênicas
e Ciências da Administração.
Com base nas reflexões anteriores, o presente artigo tem o propósito de trabalhar os
aspectos teóricos do processo criativo, como desenvolvido por Stanislavski, nas organizações.
O Sistema Stanislavski elaborado por Constantin Stanislavski objetiva, entre outras coisas, o
desenvolvimento do potencial criativo do indivíduo para que este possa envolver-se com a
atividade teatral e, com isso, expressar toda a sua potencialidade ética e artística para formar-
se como homem de teatro, e indivíduo completo.
Trata-se, portanto, de um estudo teórico de caráter exploratório, pois pretende
caracterizar um tema ainda pouco explorado que é a relação entre a proposta de Stanislavski e
as organizações, ou seja, a inserção de questões desenvolvidas na pedagogia teatral nas
discussões sobre criatividade na área de Ciências Administração. Tem-se conhecimento de
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apenas dois estudos que realizaram essa relação: “A organização excelente: diretrizes para o
grupo teatral” (SILVA, 2001) e “Stanislavski para Administradores: o processo criativo na
tomada de decisão da Cooperunião” (SEVERO, 2004).
2 CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES
As pessoas em geral aceitam suas rotinas, os métodos e técnicas que lhe são
apresentados sem maiores questionamentos, criando ao seu redor uma zona de conforto
difícil, quando não impossível, de ser modificada. O medo das mudanças e a inércia são
características dessas pessoas. A busca por métodos diferenciados de se realizar tarefas
diárias, ou por novos produtos e posicionamentos inexiste, muito pelo contrário, nessas
pessoas a crítica ao “não tradicional” é grande.
Por outro lado, permanecer inerte às mudanças e manter as coisas como estão não são
alternativas viáveis diante da dinâmica que o mercado globalizado tem apresentado. Tal
atitude levará o indivíduo e a organização ao fracasso e à obsolescência. O mercado, as
pessoas e o mundo pedem por novidades, querem a diferença e requerem agilidade.
Criatividade: eis a questão!
A criatividade constitui-se em um tema interdisciplinar, necessário e presente em
muitos momentos despercebidos do nosso dia-a-dia. No geral, a criatividade resulta de uma
necessidade, de uma urgência não satisfeita pelo o que até então é conhecido, usual. É uma
nova idéia que, de acordo com Alencar (1996), apresenta utilidade e valor significativo para
determinada população em algum momento.
Alencar (1996) apresenta ainda, na sua concepção de criatividade, conceitos
subjetivos, imensuráveis, associados aos processos de pensamentos, como imaginação,
intuição, invenção. Oech (1995) coloca a criatividade de forma mais simples: é ver o que
todos vêem e perceber ou pensar algo diferente. Stein (
apud STOLTZ, 1999, p. 15) entende a
criatividade como “um processo que tem como resultado uma obra pessoal, aceita como
satisfatória por um grupo social num momento determinado”.
Para Ostrower (1978), a criatividade é inerente ao homem e sua prática uma de suas
necessidades. Sendo que o ato criador abrange “a capacidade de compreender; e esta, por sua
vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar” (OSTROWER, 1978, p. 9). Ostrower,
assim como Alencar (1996), também trabalha variáveis subjetivas do indivíduo como
intuição, imaginação, memória, tensão psíquicas, entre outros.
Sistema Stanislavski: o processo criativo nas organizações
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Em seu livro
Capacidade de Criação Stoltz (1999) faz um apanhado de teorias sobre
criatividade, discutindo a criatividade como: inspiração divina, loucura, intuição, processo
evolutivo, força cósmica, conflitos do consciente, entre outras.
A literatura apresenta diversos posicionamentos com relação à criatividade, sendo esta
associada a questões como originalidade, novidade, aspectos culturais, pessoais e ambientais.
Para Alencar (1996) a criatividade envolve uma interação dinâmica entre elementos relativos
à pessoa (personalidade, habilidades de pensamento) e ao ambiente (clima psicológico,
cultura organizacional e oportunidades para a expressão de novas idéias).
De outra forma, Ostrower (1978) identifica três dimensões do ser humano que,
integradas e desenvolvidas, são essenciais para o processo criativo. São elas: sensibilidade,
cultura e consciência (da sua existência e da sua realidade). O ser humano é, portanto, um ser
consciente-sensível-cultural e tem na cultura uma referência para tudo o que ele é e realiza.
A natureza criativa do homem se elabora no contexto cultural. Todo indivíduo se
desenvolve em uma realidade social, em cujas necessidades e valorações culturais se
moldam os próprios valores de vida. No indivíduo confrontam-se, por assim dizer,
dois pólos de uma mesma relação: a sua criatividade que representa as
potencialidades de um ser único, e sua criação que será a realização dessas
potencialidades já dentro do quadro de determinada cultura (OSTROWER, 1978, p.
5).
Em suma, a criatividade consiste em formar algo novo ou tornar novo o que já existe,
sendo estes tangíveis ou não, apresentando, em um dado momento, utilidade e valor para
determinada população. O processo criativo ocorre no contexto social e está fortemente ligado
aos aspectos culturais e pessoais do indivíduo podendo, com base nestes aspectos, ser mais
desenvolvido, favorecido ou reprimido.
2.1 Potencial criativo e processo criativo
Se a criatividade é intrínseca ao ser humano e exercitá-la uma necessidade, como se
explica então o fato de a desenvolvermos tão pouco? Como podemos explicar que diante da
necessidade de adaptações e inovações neste ambiente competitivo continuamos a agir com
cautela, quando não com oposição, a novidades? Enfim, o que nos impede de sermos
criativos?
Entende-se, pois, criatividade como resultado da interação de aspectos culturais e
pessoais dentro de um determinado contexto social. Portanto, ao questionar os empecilhos à
nossa criatividade deve-se considerar a nossa conjuntura social, não só aquela em que
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vivemos, mas também aquela em que crescemos. Percebe-se então que a sociedade e sua
cultura não ensinam e nem estimulam as crianças e jovens a criar, embora, posteriormente, no
mercado de trabalho, a criatividade será cobrada.
Os fatores que limitam ou estimulam a criatividade são colocados por autores
diversos, entretanto, tento em vista a complexidade do tema, apostar numa receita única é
perigoso, as contingências devem ser sempre consideradas. Essa dificuldade é esclarecida por
Stein (1974) da seguinte forma:
Estimular a criatividade envolve não apenas estimular o indivíduo, mas também
afetar o seu ambiente social e as pessoas que nele vivem. Se aqueles que circundam
o indivíduo não valorizam a criatividade, não oferecem o apoio necessário, não
aceitam o trabalho criativo quando este é apresentado, então é possível que os
esforços criativos do indivíduo encontrem obstáculos sérios, senão intransponíveis
(apud ALENCAR, 1996, p. 24).
Oech (1995) expõe duas razões para não sermos criativos, a primeira é que não é
preciso ser criativo para fazer boa parte do que fazemos, desenvolvemos rotinas e métodos
que nos orientam em tudo no dia-a-dia. A segunda razão é que a maioria de nós tem uma
postura que bloqueia o pensamento no esquema de
status quo e que nos mantém pensando
mais no mesmo.
Paralelamente a essa afirmação uma série de pressupostos cultivados em nossa
sociedade também contribui para não sermos criativos. São fatores como disponibilidade de
acesso a meios culturais e físicos, discriminação sexual, racial e social, intolerância ao
diferente, impossibilidade de interação entre pessoas significativas de uma determinada área,
falta de reconhecimento social, entre outros (ARIETI,1976); SCHWARTZ, 1992,
apud
ALENCAR, 1996).
Entraves, obstáculos e barreiras à criatividade são colocados por Oech (1995) e
Alencar (1996) como “bloqueios mentais” que devem ser identificados e evitados pelo
indivíduo que busca a criação. Os bloqueios mentais são frutos de repressões por parte da
sociedade e de suas regras e acompanham o indivíduo desde sua infância, limitando suas
formas de expressão. Um exemplo neste caso é a metodologia utilizada nas escolas
tradicionais que prima por métodos estritamente racionais, analíticos e instrumentais.
Este quadro resulta em sentimentos de insegurança, medo do “parecer ridículo”, do
fracasso e de erros, relutância em experimentar e correr riscos e sentimentos de inferioridade.
Estes, juntamente com a dificuldade em refletir sobre as próprias idéias e a inabilidade para
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relaxar, compõem, segundo Alencar (1996), as barreiras ao desenvolvimento da criatividade,
à criação.
Além dos bloqueios mentais, Alencar (1996) também sugere algumas barreiras
organizacionais, como:
a) as barreiras estruturais – excesso de formalização, burocratização, centralização;
b) as barreiras sociais e políticas – normas e influências de poder dentro da
organização;
c) barreiras processuais – excessos de regras, passos, rotinas que desestimulam a
realização das tarefas de forma diferente das usuais;
d) as barreiras de recursos e;
d) as barreiras individuais – características individuais e relações interpessoais.
Por outro lado, existem certos fatores organizacionais e individuais que contribuem
para a expressão da criatividade. Esses fatores interagem entre si, proporcionando um
ambiente com condições favoráveis ao desenvolvimento da criatividade. Os aspectos
organizacionais são relações interpessoais positivas, pequeno número de níveis de autoridade,
liberdade e estímulo à participação, desafios constantes, entre outros. Quanto às
características do indivíduo têm-se: curiosidade, gosto pelo trabalho e pelo ambiente de
trabalho, dedicação, atração por desafios, autoconfiança, espontaneidade e outros aspectos.
Outro papel importante da organização no processo de criação é o suporte às novas
idéias apresentadas, para que estas consigam se desenvolver e obter os resultados esperados e
para seus criadores sentirem-se seguros durante o processo de implementação da idéia.
Em suma, as pessoas criativas não são conformistas e utilizam atributos diversos como
suporte para a criação. Estas pessoas consideram importante fazer parte de uma organização
que as respeite, desafie e que as apóie e eso constantemente questionando o papel da
organização e de seu trabalho na sua vida e na sociedade.
É importante realçar que todos esses elementos vistos no potencial criativo da pessoa e
da organização interferem no processo de criação. Em geral, as abordagens sobre processo
criativo não se diferenciam muito entre si. De acordo com Oech (1995), no decorrer do
processo criativo existem dois momentos (fases) importantes para o desenvolvimento de
novas idéias. O primeiro consiste na fase germinativa quando as idéias são geradas e
trabalhadas (desenvolvidas), num segundo momento as idéias são avaliadas e executadas.
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Goleman, Kaufman e Ray (1992) entendem o decorrer do processo criativo da
seguinte forma: inicialmente a pessoa toma conhecimento do seu problema e investiga dados
relevantes, examinando minuciosamente a situação: esta é a fase de preparação do caminho. A
incubação é a fase seguinte e consiste na digestão do que se levantou na fase anterior. Com os
dados compreendidos a pessoa “leva ao inconsciente, desse modo a resposta pode aparecer
quando menos se espera” (p. 14).
Um terceiro momento é caracterizado pelo “devaneio”, quando em um momento de
desconcentração, fora da pressão do processo, a pessoa fica receptiva às sugestões do
inconsciente. O último momento, descrito pelos autores, é o da iluminação, o momento em
que a resposta surge, como que do nada.
Conclui-se, deste modo, que o processo de criação nasce com a identificação de uma
necessidade que estimula uma pessoa ou um grupo de pessoas a buscar uma forma de
satisfazer esta necessidade. Logo, surge a fase de busca e criação de diversas alternativas
novas e diferenciadas e, posteriormente, a análise e implementação dessas alternativas. Essas
fases assemelham-se às fases de processos de tomada de decisão propostos por muitos autores
(SIMON, 1960; STONER, 1999), todavia diferenciam-se quanto à necessidade de novidade
(inovação), requisito do processo criativo, e quanto às competências das pessoas envolvidas.
2.2 Sistema Stanislavski
Quando se fala em criatividade facilmente direcionamos nossos pensamentos ao meio
artístico: atores, cantores, pintores, entre outros. Por certo, é o meio no qual mais encontramos
a expressão e o exercício da criatividade. O método apresentado neste capítulo foi
desenvolvido a partir do trabalho de Constantin Stanislavski para auxiliar atores no exercício
de interpretação e possibilita uma assimilação de seus procedimentos para utilização destes no
processo criativo organizacional. Trata-se de um método que trabalha o aprimoramento do ser
humano a partir da disciplina ética e comportamental, individual e em grupo.
Constantin Stanislavski nasceu na Rússia, em 1863. Dedicou-se ao teatro desde cedo,
fundando em 1897, com Vladimir Danchenko, o Teatro Popular de Arte, posteriormente
Teatro de Arte de Moscou. Stanislavski “é reconhecido como fundador da pedagogia teatral,
tendo sido professor, diretor e ator consumado” (SILVA, 2001, p. 95), é também um dos
nomes mais importantes quando se fala em pedagogia teatral.
Sistema Stanislavski: o processo criativo nas organizações
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A descrição de seu sistema pode ser encontrada em seus livros:
A preparação do ator
(1964),
A construção da personagem (1970) e A criação de um papel (1972). Outros atores
dedicaram-se ao estudo de seu Sistema como, por exemplo, Robert Lewis em
Método ou
loucura
(1982). O objetivo geral das obras do autor foi ajudar o ator a desenvolver suas
habilidades intelectuais, físicas, espirituais e emocionais.
O Método ou Sistema, como Stanislavski preferia chamar, consiste em uma técnica
para desenvolver a interpretação do ator de forma que esta seja uma criação orgânica e inteira.
Contudo, Stanislavski (1996) defendia que seu sistema não equivalia a um estilo de
representação e nem consistia numa receita, onde basta seguir seus passos para obter um
resultado satisfatório. “Ninguém garante que se você seguir a notação você será um bailarino;
os passos estarão todos anotados, mas ainda terão de ser dançados” (LEWIS, 1982, p. 33).
Conseqüentemente, seu sistema é simplesmente um meio para determinado fim e
funciona como uma mola propulsora do processo criativo. Stanislavski (1996) lembra que
despertar a vontade criadora é difícil, porém, matá-la é facílimo. Por isso, deve-se observar e
desenvolver todos os aspectos contemplados no sistema, lembrando que se trata de um
sistema cujas partes levam ao processo de criação, ou seja, deve-se manter visão sistêmica do
processo.
O Sistema Stanislavski trata de um trabalho profundo que mexe principalmente com a
natureza das pessoas envolvidas, nem tanto com o seu ambiente. Pois, trata-se de um método
para desenvolver o ser humano. Para Stanislavski (1996) o trabalho criador, em parte, é
realizado sob controle do nosso consciente, mas em proporção maior é inconsciente e
involuntário.
Lewis (1982) apresentou o Sistema na forma como mostra a Figura 1 (p. 9), segundo
ele, esse sistema teria sido criado pelo próprio Stanislavski. O organograma é bastante
complexo com quarenta elementos descrevendo o processo, além de cinco grupos no topo do
organograma representados pelas letras A, B, C. D, E.
a menos caprichosa
Transição
Total expressão
exterior
A B
C D
E
Total
emoção
interior
O papel
8 - MENTE 9 -VONTADE 10 - EMOÇÃO
a mais caprichosamenos caprichosa
Os motores de nossa vida psíquica três
sicos que tocam o órgão de 11 a 40
6 O processo de emoção (interior) 7 – O processo de expressão (exterior)
4 – Crião da vida, de
natureza ou emoções
aunticas, com o auxilio de
técnicas conscientes que
estimulam o subconsciente.
2 – Ação
3 Autenticidade
da emoção
ou paixão
5 – Criação no
palco de uma
vida da alma
1 ADEST RAME NTO DO INDI DUO
11 -ão propriamente dita (intenção ou objetivo)
12 - O condicional mágico
13 - Circunstâncias dadas
14 - Batidas
15 - Problema (escolha de pequenas ações - atividades contínuas)
16 - Imaginação
17 - Memória emocional
18 - Atenção (ao objetivo) (Concentração)
19 - Sentimento de verdade (Fé no que se tem que fazer)
20 - Reciprocidade de sentimentos (falar aos olhos dos companheiros)
21 - Recriação da emoção para dar variedade ao colorido
22 - O fluido da troca de emoção entre atores
23 - Controle para evitar o efeito esteriotipado (autocrítica)
24 - Acabamento dos problemas (batidas) e domínio dos movimentos (interiores)
p(ç q
personalidade)
26 - Disciplina ética (cuidado com o material cênico e pessoal etc.)
27 - Tempo e ritmo (interior)
28 - Relaxamento
29 - Tempo e ritmo exteriores
30 - Empostação da voz
31 - Dião (compreensão do epírito da língua pelo conhecimento da natureza dos sons)
1. Entonação 2. Pausas 3. Inflexão
32 - Regras de prosódia (fraseado e aproveitamento da significação das línguas)
33 - O sentimento da língua
34 - Movimento
35 - Dança
36 - Esgrima
37 - Esportes
38 - Acrobacias
39 - Plástica
40 - Modo de andar
( Espinha Dorsal ou Superobjetivo )
Figura 1 - Stanislavski por Lewis
Fonte: Lewis 1982, s/p.
A base do organograma (nº 1) é o “adestramento do indivíduo”, basicamente seu
aprimoramento, pois este passa a conhecer-se mais e ter mais controle de seus pensamentos,
sentimentos e atitudes. Este processo de aprimoramento é resultado do desenvolvimento e do
uso dos demais aspectos trabalhados no sistema (2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 desenvolvidos com
o trabalho dos demais elementos – 11 a 40). O trabalho, controle e uso destes aspectos levam
a total emoção interior e expressão da emoção, proporcionando a criação da personagem da
forma mais íntegra e completa.
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Sistema Stanislavski: o processo criativo nas organizações
Silva (2001) propõe um esquema mais simplificado (Figura 2, p. 10) para apresentar
seu entendimento do Sistema Stanislavski. Nesse, o processo criativo sucede o
autodesenvolvimento pessoal e consiste, principalmente, no exercício da memória,
imaginação, concentração, ação (objetivo), do senso da verdade e das circunstâncias dadas.
Este processo é envolvido por reflexão (análise ativa) em cima dos elementos envolvidos e
com base no Superobjetivo do processo.
Figura 2 - Stanislavski por Silva
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Fonte: SILVA, 2001a, p. 103
[c1] Comentário: Juntar
psicofísica, não posso mexer na
fig.
Para entender o processo criativo segundo Stanislavski é preciso compreender a
amplitude dos elementos trabalhados no sistema. Assim, a memória é colocada em duas
dimensões: a memória externa ou fotográfica, que é a memória dos fatos, situações e
pormenores do ambiente; e a memória das emoções, que é a memória dos sentimentos e
emoções de um dado momento. Stanislavski (1996, p. 186) esclarece a diferença entre esses
dois tipos de memória com a seguinte história:
Revista de Ciências da Administração – v.8, n.15, jan/jun 2006
Dois viajantes ficaram encalhados nuns rochedos por causa da maré alta. Depois que
foram salvos, narraram suas impressões. Um deles lembrava-se de tudo o que fizera,
nos menores detalhes: como, porque e aonde fora; onde subira e onde descera; onde
pulara para cima e onde pulara para baixo. O outro homem não tinha a menor
lembrança do lugar. Só se recordava das emoções que sentira. Sucessivamente,
surgiram: encantamento, apreensão, medo, esperança, dúvida e, por último, pânico.
A imaginação é a criação de imagens e circunstâncias nas quais nunca se havia
pensando antes, por outro lado, não estão distantes da realidade. Ela estimula os pensamentos,
idéias e emoções. Lewis (1982, p. 41) entende que “seja em coisas materiais, seja em idéias; é
preciso saber imaginar situações e acreditar nelas”. Stanislavski (1996) entende que todo o
invento da imaginação do ator deve ser minuciosamente elaborado e erguido sobre uma base
de fatos, isso porque a imaginação deve permitir uma realização/execução dos fatos.
O elemento concentração ou concentração da atenção refere-se à capacidade de, por
escolha, e a qualquer momento que o ator queira, centralizar a atenção em qualquer coisa. Ele
ajuda a “determinar a importância do que está acontecendo numa cena” (LEWIS, 1982, p.
43). Stanislavski (1996) sugere que para se colocar a criatividade em prática temos que ter
alguma coisa que nos interesse no objeto de nossa atenção.
Há dois tipos de concentração: a exterior e a interior. A primeira consiste em um ponto
ou foco num determinado objeto do ambiente, esta “leva-nos à capacidade de agir, interagir
com os objetos, coisas e pessoas”. A segunda está relacionada à focalização de “coisas que
vêem, ouvem, tocam e sentem em circunstâncias imaginárias” (SILVA, 2001, p. 108). Sendo
assim, a concentração, é basicamente a atenção que se dá a um objeto determinado, podendo
este ser um objeto real ou imaginário.
A concentração interior deve ser utilizada para se exercitar a técnica do “se mágico”.
O “se mágico” desperta uma atividade interior, instigando a imaginação a emoção e a
concentração do ator. A técnica é pegar as
circunstâncias dadas e, por meio de diferentes
questionamentos, “brincar” com elas, levantando varias hipóteses do que poderia ser e de
como seria tudo
se assim fosse. “O ‘condicional mágico’ é o trampolim da imaginação, e uma
das armas mais fortes do ator” (LEWIS, 1982, p. 39).
As circunstâncias dadas são as circunstâncias prévias que podem influenciar o trabalho
do ator e a criação de sua personagem, podem ser também as circunstâncias particulares de
cada cena, que acabam por determinar o ritmo e as características da situação. Por exemplo, a
circunstância de “um táxi esperando lá fora com o taxímetro correndo pode perfeitamente
fazer com que o ritmo cênico do ator se apresse” (LEWIS, 1982, p. 40).
Sistema Stanislavski: o processo criativo nas organizações
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A ação, intenção ou objetivo é o principal elemento de uma interpretação, ela é “a
razão de ser em cena” (LEWIS, 1982, p. 37). O que quer que aconteça no palco deve ter um
propósito determinado, um objetivo, e este, por sua vez, deve estar estritamente ligado ao
superobjetivo.
[...] não pode haver, em circunstância alguma, qualquer ação cujo objetivo imediato
seja o de despertar um sentimento qualquer por ele mesmo. [...] Nunca procuram
ficar ciumentos, amar ou sofrer, apenas por ter ciúme, amar ou sofrer. Todos esses
sentimentos resultam de alguma coisa que se passou primeiro. Nesta coisa, que se
passou antes, vocês devem pensar com toda a força. Quanto ao resultado, virá por si
só (STANISLAVSKI, 1996, p. 90).
Assim, a ação está ligada a um objetivo e às circunstâncias que a antecedem e a
envolvem. Portanto, deve-se evitar realizar uma ação pelo simples fato de fazê-la, para que
esta não se torne supérflua. A ação deve ter justificativa, ser lógica e coerente.
O desenvolvimento do Senso de Verdade ou Fé Cênica refere-se ao aprimoramento
dos elementos de imaginação, memória e atenção do ator, pois estes elementos enriqueceram
a capacidade do ator de atuar com seriedade e segurança como se as circunstâncias da peça
fossem verdadeiras, realistas. “A fé cênica torna real e verdade das paixões postas em jogo,
não só pelo autor, através da verossimilhança das situações e da naturalidade do diálogo, mas
também pelo ator, através da credulidade da sua ação no palco” (SILVA, 2001, p. 108).
A análise ativa é o estudo da peça que, com o tempo, com a prática e reflexão, vai
possibilitando um maior entendimento da mesma, das suas circunstâncias e das personagens.
É basicamente o aprender fazendo, “é um exemplo de aprendizagem vivencial (fazer-refletir-
fazer)” (SILVA, 2001, p. 111). No teatro, é o estudar e entender a peça enquanto se interpreta,
enquanto se “disseca, descobre, examina, estuda, pesa, reconhece, rejeita, confirma”
(STANISLAVSKI, 1972, apud SILVA, 2001, p. 109) a peça. Essa proposta de análise vem
como uma alternativa aos estudos de mesa, comum nos grupos de teatros.
Por fim, o Superobjetivo (Espinha Dorsal) é o tema, a idéia norteadora da peça. Tudo
na peça (pensamentos, sentimentos e ações do ator), até mesmo os detalhes mais
insignificantes, deve estar relacionado a ele, ao seu cumprimento. “Se não tiver relação com o
superobjetivo, salientar-se-á, como supérfluo ou errado” (STANISLAVSKI, 1996, p. 285). O
necessário é um superobjetivo que “se harmonize com as intenções do autor e ao mesmo
tempo desperte repercussão na alma dos atores. Isso significa que temos de procurá-lo não só
na peça, mas, também, nos próprios atores”. (STANISLAVSKI, 1996, p. 313).
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Por conseguinte, o ator deve ter sua mente, vontade e emoção trabalhando
paralelamente às necessidades do superobjetivo e deve estar atento e desconfiar de todo
propósito alheio ao superobjetivo.
2.3 Entendendo Stanislavski nas organizações
Você deve estar se perguntando: qual a relação de atores, cenas, personagens e teatro
com uma organização? Ou ainda, de que forma utilizar estes elementos do processo criativo
em uma organização? De forma a responder essas questões e atender o objetivo proposto,
esta seção dedica-se a realizar a relação entre os elementos da proposta de processo criativo
de Stanislavski com as organizações, transformando sua proposta originalmente direcionada à
pedagogia teatral em um instrumento de desenvolvimento da criatividade no meio
organizacional.
Para tanto, propõe-se a seguinte correlação: como ator deve-se imaginar o trabalhador,
aquele que está buscando a criatividade, que (como ator) age com propósito e objetivo
determinado e não simplesmente se comporta em relação às normas e procedimentos. Como
diretor da peça tem-se o líder do grupo em uma organização, aquele que está dirigindo o
grupo ou o processo de criação; esses processos ou as atividades realizadas pelo grupo são as
cenas da peça; e, finalmente, a peça ou o autor da peça é a organização.
Que criativa seria uma organização cujos atores fossem tão motivados e apaixonados
por aquilo que realizam, não é mesmo? Essa é a idéia proposta: trabalhar os elementos do
processo criativo de Stanislavski de forma que os atores da organização busquem o seu
aprimoramento contínuo. Por conseguinte, os atores organizacionais, atentos às circunstâncias
que os cercam, refletiriam sobre as condições e necessidades da organização, buscando a
expressão de suas emoções com a criação de suas personagens (entende-se: idéias, novos
produtos e novas formas de organização, estrutura e processos). Resultando em uma solução
(interpretação) de qualidade e em perfeita harmonia com os objetivos da organização (peça).
Portanto, a proposta é identificar como os elementos do processo (exercício da
memória, imaginação, concentração, ação (objetivo), do senso da verdade e das circunstâncias
dadas) estão sendo desenvolvidos na organização e seus atores. Esse processo visa ao
desenvolvimento do trabalhador, através do exercício e do trabalho de sua emoção,
concentração, imaginação, atitude, mente, vontade. O trabalhador uma vez tendo
desenvolvido essas habilidades agirá com um propósito determinado (objetivo), considerando
as circunstâncias do momento e a meta da organização (superobjetivo). O exercício dessas
Sistema Stanislavski: o processo criativo nas organizações
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características e o entendimento da relação entre o passado e o futuro permitem um maior
entendimento da importância de se conhecer as circunstâncias dadas “para uma profunda e
verdadeira recreação das idéias do ator no cenário” (KNÉBEL, 1996, p. 35).
Em suma, se alcança o processo criativo por meio do exercício dos elementos do
sistema por parte do trabalhador e dos grupos, que, após esse exercício, atuarão de forma a
alcançar o superobjetivo da organização. Entretanto, salienta-se que o exercitar dos elementos
do processo criativo, de acordo com Stanislavski, requer rigorosa disciplina por parte dos
atores para realizar sua permanente necessidade de crescimento, de um contínuo
aprimoramento. Barba (1991) coloca a disciplina como uma ciência do aprendizado contínuo.
A autora leva o ator e o conjunto (equipe) a um constante treinamento das habilidades, a
exaustão da rotina dos exercícios, incorporando no dia-a-dia do ator o hábito de trabalhar o
corpo e a mente. Assim, o entendimento dado a disciplina é o de sempre buscar a superação
da técnica para não ser dominado por ela.
Adicionalmente, durante o desencadear do processo criativo um dos recursos
apresentados por Stanislavski (1996) para o exercício do controle da emoção, atenção e
imaginação é o uso do “se mágico” que atua como um energético para a pessoa sair do seu
modo mundano de pensar e fugir dos fatos concretos da situação, levando-a ao nível do
inconsciente. Portanto, o
se também estimula o subconsciente criador, estimulando a
“criatividade inconsciente, por meio de técnica consciente” (STANISLAVSKI, 1996, p. 77).
Quanto a essa técnica, a brincadeira com suposições e construção de diferentes
quadros para uma situação, pode ser beneficiada com uma técnica bastante conhecida na
Administração: a técnica do
braimstorm é a criação de alternativas pelo grupo com
espontaneidade, sem preocupação com a realidade ou viabilidade dos fatos (STONER, 1999).
Uma observação importante a ser feita é que, ao contrário do que muitos acreditam, o
ator não conta só com a inspiração ou talento e nem pode contar só com a técnica. O talento
sem o trabalho ou a técnica sem o exercício de aperfeiçoamento, isto é, sem disciplina, nada
mais é do que matéria-prima em estado bruto.
Finalmente, o ator (trabalhador) e o autor (organização) não podem se apegar ou guiar
por detalhes, este cuidado é fundamental na atual conjuntura, onde tudo ocorre e muda com
grande rapidez, não sendo, portanto, de interesse do autor (organização), que as cenas
ocorram de forma morosa. O caminho para a criação da personagem, pelo ator organizacional,
deve ser demarcado por linhas rígidas e sólidas, ou seja, com elementos ligados ao objetivo de
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sua ação, pois só assim se conservará na linha criadora correta, obtendo um resultado
expressivo. Contudo, deve-se pensar nas ações que levarão a este resultado e não no resultado
propriamente dito. Stanislavski (1996) alerta que os atores têm tendência a cair no desvio,
aplicando suas energias em problemas à margem do objetivo primordial, o que é perigoso e
exerce uma influência deletéria nos trabalhos.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criatividade no meio organizacional tem sido colocada como fundamental para a
competitividade e desenvolvimento das organizações. Taylor (1976) destaca que com
criatividade os indivíduos de uma organização podem realizar muito mais com muito menos.
Entendendo a criatividade como, basicamente, formar algo novo, um bem ou serviço,
aceito como necessário, útil, satisfatório ou de valor por uma parcela significativa da
população em um determinado período de tempo e o processo criativo como os atos e
variáveis que originam essa nova forma, buscou-se transferir as idéias colocadas no Sistema
Stanislavski para o processo criativo das organizações.
A criatividade foi abordada sob o entendimento de autores como Alencar, Goleman,
Kaufman e Ray, Ostrower, Oech e outros. No geral, ela é tida como um processo que envolve
uma interação entre características relativas às pessoas e ao ambiente em que esta se encontra
e que resulta em algo novo. Essa interação pode ser visualizada no Sistema trabalhado,
constituído por Stanislavski, onde as características pessoais estão representadas pela
memória, imaginação, capacidade de concentração, fé cênica e análise ativa e as
características do ambiente representadas pelo elemento circunstâncias dadas.
Para melhor compreensão do sistema Stanislavski nas organizações, como ator deve-
se imaginar o trabalhador, aquele de quem se espera a criatividade; como diretor da peça tem-
se o líder do grupo ou aquele que está dirigindo o processo de criação (no caso o processo de
discussão e busca de solução de problemas); esses processos ou as atividades realizadas pelo
grupo, por sua vez, são as cenas da peça; e, finalmente, a peça ou o autor da peça é a
organização.
A criatividade, sob o ponto de vista do sistema, não é um truque de técnica, é a
concepção e nascimento de um novo ser, que consegue expressar-se interior e exteriormente,
por meio de um controle de sua mente, vontade e emoção. E é resultado de um conjunto, de
uma equipe. No processo de criação todos têm importância e são essenciais para um resultado
Sistema Stanislavski: o processo criativo nas organizações
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final favorável. Assim, todos os participantes da peça contribuem para resolver uma única
tarefa criativa e estão todos voltados para alcançar um objetivo comum.
Para Stanislavski a equipe não deve existir somente para propor a montagem de um
espetáculo, mas também, e principalmente, para transformar a existência de si próprio e do
próprio teatro (organização). Isso é necessário para estabelecer uma perfeita organização e
uma perfeita ordem nas tarefas coletivas, referindo-se ao aspecto administrativo da
representação teatral, a parte externa. A parte interna – intrínseca do individuo – também é
fundamental para esse processo e ambas estão correlacionadas no trabalho criativo coletivo.
Finalmente, é importante ressaltar que o sistema desenvolvido por Stanislavski foi por
um longo tempo, e ainda o é, utilizado na formação e treinamento de atores, contudo, com o
decorrer dos anos a essência mudou para um ponto onde, em muitos casos, existe um
substancial desentendimento sobre a verdadeira natureza do método. Se na esfera teatral a
desfiguração do Sistema de Stanislavski trouxe discussões relevantes e novos estudos e
pesquisas foram realizados para resgatar o que hoje é vital para sua aplicação cênica, acredita-
se que em outras áreas sua aplicação poderia ser verificada com sucesso, a exemplo da
administração.
STANISLAVSKI’S SYSTEM: THE CREATIVE PROCESS IN ORGANIZATIONS
Abstract
Many of the problems facing organizations today, considering the economic and commercial
context, do not accept solutions previously used. Therefore, the necessity to develop creativity
is imposed on society in order to obtain professional and organizational differentiation.
Having said that, the present article, through a theoretical research, aims to explore, in an
interdisciplinary way, the interaction between two areas: Scenic Arts and Administrative
Science. Its focus is “
Stanislavski’s creative process in organizations”, in this sense it
approach creativity in organizations, mainly the individual creative potential and process, the
Stanislavski’s System and concludes with an understanding of the applicability of such
system in organizations. To elucidate the approach taken an analogy of the elements which
makes up the mentioned system and those pertaining to organizations was accomplished.
Keywords: Creativity. Organizations. Stanislavski’s System.
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