47
ela não irá constituir-se como tal e possivelmente assumirá um papel passivo
nas interações dialógicas.
Bakhtin critica ainda a visão de língua restrita à noção de código. Para
ele, a língua é um idioma, ou seja, a língua é composta por códigos que
configuram idiomas diferentes e que são postos em funcionamento pela
linguagem. Portanto, a língua não pode ser apartada do sujeito e muito
menos analisada fora do contexto em que se dá a enunciação, isto é,
desvinculada das condições sociais e históricas de produção.
O código existe como sistema de referência e, ao mesmo tempo em
que o modifico, tenho que tê-lo como já existente. A língua é vista em
movimento e não como um código fixo e acabado. Logo, para o autor, a
linguagem (ou discurso) é a própria língua em funcionamento. Um bom
exemplo são as subversões ao código encontradas nos usos que se faz da
própria língua e relacionadas às metáforas, ironias e subentendidos.
Se, para Bakhtin, a interação verbal constitui a realidade fundamental
da língua, seja no diálogo consigo, com o outro, com o texto, em silêncio, na
escrita..., entendemos que, no tocante à CSA, é imperativo ultrapassar a
noção de código oriunda das concepções estruturalistas em linguagem para
chegar à língua. É essencial considerar o processo enunciativo que carrega
em si todo o contexto e formas de produção, tanto oral, gestual, mímica facial
ou corporal. Concluímos, portanto, que o problema não está no instrumento –
a CSA – mas no uso que se faz dele.
Bakhtin não concorda também com a descrição de signo como relação
significado x significante proposta por Saussure (1972), mas sim como
resultado da interação. “Falar” envolve um texto carregado de ideologias e
cultura, cujo sentido é buscado tanto por quem fala como por aquele(s) que
escuta(m), dialética e dinamicamente.
Portanto, a unidade de análise passa a ser o enunciado – portador de
sentidos. Para ele, não existe um significado, e sim um espaço de
significação – polissêmico por natureza – cujo sentido é dado pelo contexto
da enunciação, via atividade interpretativa.
Em relação à natureza semiótica da linguagem, o símbolo pode ser
tomado como signo, uma vez que está dentro da interação discursiva. O
signo contém o significado e o sinal, por ser mais estável, não permite a