
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
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Foi tomado em primeiro logar o Depoimento do Dr. Heitor de Mello, que vai em
seguida reproduzido:
[...] Não forneceu [Heitor de Mello] a cantaria, que era mandada dar pelo Club de
Engenharia, de accordo com as clausulas de contracto.
Atribue as causas do desastre as más condições do apparelho da cantaria
[...]Ao ver do declarante, não é o Dr. Frontin, como presidente do Club de
Engenharia [e também da Comissão Construtora da Avenida], o responsável por
qualquer modo pelo desabamento da fachada do edifício em construcção,[...]
Na sua opinião, o responsável é o fiscal, que obrigou a collocar a cantaria em
condições desvantajosas, a ponto de, na sua opinião, ser a causa única do
desastre.[...]
Em seguida foi ouvido o Dr. Raphael Rebecchi, que prestou as seguintes
declarações:
[...] É o auctor do projecto e foi incumbido pelo Club de Engenharia de fiscalizar as
obras. Estão sendo feitas por empreitada, sendo empreiteiro o Sr. Dr. Heitor de
Mello e mestre das obras o Sr. Bernardino de tal.
O Club de Engenharia reservou-se o fornecimento da cantaria, que é collocada
pelo mesmo empreiteiro.[...] A cantaria procede da pedreira de Irajá e o fornecedor
é Antonio Affonso Cardoso.[...]
Nestes últimos tempos, o seu principal cuidado como fiscal, foi apromptar
desenhos de detalhe para a construcção; mas na manhã de 13 do corrente,
chamou attencção do mestre Bernardino para a qualidade dos tijolos que
estavam empregando, declarando que não eram de qualidade acceitavel.[...]
É possível que as chuvas continuadas e torrenciais que cahiram durante quase
dous mezes tenham sido a causa do desastre.
Bernardino Huche Ivela, mestre de obras, declarou o seguinte: “Cerca de 11 horas
da manhã, notou uma fenda na parte interna na cantaria de espelho, de cima
para baixo, desde o segundo vigamento até quasi ao solo, na altura de dous
metros, caso esse que lhe pareceu grave. Assim, mandou escamar e tapar
novamente a fenda. Mais tarde, antes de decorrido duas horas, deu-se o
desabamento da fachada.
Attribuiu logo o desastre ás condicções da cantaria, por julgar que a mesma
não supportou o peso, pois não tinha ella a grossura necessária.
A cimalha da porta grande que dá para a Avenida e que têm quatro metros de
comprimento e 40 centimentros de altura por 31 de balança, somente
pousava pela parede a dentro de 8 a 10 centimetros, tanto que para reforçar
a mesma foi preciso auxiliar o supporte da referida cimalha com dous
pedaços de trilhos. [...]
Com relação á argamassa, sabe que é feita com cal e areia, sendo que nos
pontos mais resistentes empregavam-se areia e cimento. Para balancear a
cimalha de tijollos e ferros, empregavam-se areia, cimento e cal (GAZETA DE
NOTICIAS, “Mais desgraças”, 15 fev. 1906, apud BRENNA, 1984, p.441 - 442).
“[...] A opinião do Sr. Jannuzzi:
O Sr. Commendador A. Jannuzzi apresentou-se no local, as 10 horas da manha,
já encontrando ahi o Sr. Dr. Paulo de Frontin e os engenheiros cujos nomes
damos em outro logar.
[...] Entabolada a conversação para a verdadeira causa do desastre, esse
conhecido architecto constructor disse [...] : o desabamento para mim não foi uma
surpresa, elle se deu e se dará toda a vez que se empregar em obras de tal
natureza essa argamassa. A que eu tenho empregado é de 1 por 3 de cal e saibro
das Laranjeiras. É inegável que é superior a essa aqui empregada que é de cal e
área em partes iguaes. Nesse caso a alvenaria não poderá ter a resistência