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dos folhetins, e muitas vezes junto com as variedades.
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O surgimento dos suplementos
instaura um espaço próprio para os assuntos literários e culturais, assim como dá a
oportunidade de expressão a inúmeros intelectuais, a novas tendências, a debates, a uma
crítica mais “acadêmica” e menos impressionista. Entre os diversos suplementos culturais que
despontaram naquele momento, encontram-se: o “Suplemento Literário” d’O Estado de São
Paulo, o “Letras & Artes” do jornal carioca A Manhã e o “Suplemento Dominical” do Jornal
do Brasil (RJ).
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Com o passar do tempo, as inovações tecnológicas, as mudanças na dinâmica
do mercado, a espetacularização na mídia, e a crescente profissionalização no campo do
jornalismo foram afetando e transformando novamente os jornais e seus suplementos. A
literatura que até certo momento estava entrelaçada com a vida cotidiana e cultural, via-se
limitada ao conhecimento de poucos, os especialistas. Ascende uma noção de “cultura” mais
abrangente, que não se restringe, como o fizera até então, às “belas artes”. Os suplementos
que tinham um caráter predominantemente literário são reformulados para dar lugar às
ciências, aos avanços tecnológicos e aos eventos culturais; e o próprio tratamento dispensado
à matéria literária sofre diferenciações, como o detecta Alzira de Abreu:
Os suplementos literários [os dos anos 50] deixam então de ser o espaço da crítica e do debate de idéias
para se tornar o que são hoje, resenhadores dos novos lançamentos editoriais. É possível acompanhar,
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Aliás, é interessante reproduzir um comentário tecido por Nelson Werneck Sodré sobre a atuação literária na
imprensa com a crescente especialização do jornalismo: “As colaborações literárias, aliás, começam a ser
separadas, na paginação dos jornais: constituem matéria à parte, pois o jornal não pretende mais ser, todo ele,
literário. Aparecem seções de crítica de rodapé, e o esboço do que, mais tarde, serão os famigerados suplementos
literários. Divisão de matéria, sem dúvida, mas intimamente ligada à tardia divisão do trabalho, que começa a
impor as suas inexoráveis normas.” (SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Edições do Graal, 1977, p.340.)
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O “Suplemento Literário” do Estadão, criado em 1956, é concebido por Antonio Candido e dirigido por Décio
de Almeida Prado. Segundo entrevistas concedidas por Candido e Almeida Prado a Marilene Weinhardt, o
suplemento tinha ligações com a USP, com o grupo da revista Clima, e tinha como pressuposto “preencher um
pouco a função de uma revista” literária (p.450). (Cf. WEINHARDT, Marilene. O Suplemento Literário d’O
Estado de S. Paulo: 1956-67. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1987, Vol. II.) Em outubro de 1976, passa a
ter outro nome e tem, também, seu foco modificado, converte-se no “Suplemento Cultural” e abre caminho para
as seções de “Ciências naturais”, “Ciências exatas e tecnologia” e “Ciência humanas”. Na década de 90, abole do
título a palavra suplemento, ficando apenas “Cultura”; e atualmente é chamado de “Caderno 2”. “Letras &
Artes”, suplemento cultural do jornal A Manhã, era “orientado” pelo jornalista Jorge Lacerda e circulou de maio
de 1946 a junho de 1953. Este suplemento não era exclusivamente literário, mas tinha uma carga fortemente
literária. (Cf. DEMARCHI, Ademir. Cultura em busca de vitrines: literatura & mercado, morte do modernismo
& populismo. (Uma leitura do suplemento “Letras & Artes”, de A Manhã (Rio, 1946/53)). 1991. 345 f.
Dissertação (Mestrado) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis.) E o “Suplemento Dominical” do Jornal do Brasil, lançado em 1956, foi criado por Reinaldo
Jardim e “começou misturando vários assuntos e depois se transformou num suplemento literário” (p.151).
Foram chamados para trabalhar no SDJB Mário Faustino (que assinava a coluna “Poesia e experiência”, cujos
textos foram reunidos em livro), Ferreira Gullar, entre outros, que trouxeram para as páginas do suplemento a
discussão concretista. Em 1960, surge o “Caderno B”, dedicado às artes em geral. (Cf. ABREU, Alzira Alves de
(org.). A imprensa em transição: o jornalismo brasileiro nos anos 50. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getulio
Vargas, 1996.) E hoje em dia o suplemento do JB é “Idéias & Livros”, que circula aos sábados.