O Sr. João Andrade, irmão por parte de pai de Edmílson, teve uma história diferente.
Vive atualmente em Novo Airão e é um dos regatões que atua no rio Unini até os dias de hoje.
A minha história é um pouco longa, mas é muito verdadeira. Eu sou filho de cearense,
o cearense sempre foi uma pessoa muito digna, trabalhadora. O meu pai era soldado
da borracha, se instalou acima de São Paulo de Olivença. Eu não conheço pra lá que
eu vim de lá com oito anos, o meu registro é de Atalaia do Norte. Eu sei que é dessas
proximidades lá. Inclusive a gente veio pra Benjamim Constant por conta dos índios
que atacaram. O meu pai sabia fazer canoa e nós fomos quase os últimos a sair,
porque não tinha condução. Ficamos um ano lá em Benjamim. Tinha um amigo do
papai lá em cima que era padrinho do meu pai, Seu Josias, pai do Seu Wilson Batista.
O Wilson foi buscar o pai [dele] lá no alto e conheceu o pai e achou por bem convidar
meu pai pra Manaus, aí foi que a gente veio de navio, pagou passagem e tudo. Ele
tinha uma fábrica de móveis e eu ainda menino comecei a trabalhar lá, juntando
serragem. Aí continuei em Manaus estudando até os catorze anos; aí foi quando meu
pai veio pro Jaú cortar seringa com S. Antonio Moraes, que era um patrão que tinha.
Como ele demorou muito a voltar, minha mãe se enfezou, ela era uma trabalhadeira,
trabalhava em fábrica de castanha em Manaus e ela não aceitou ele. Aí ele quis voltar
pro interior e eu resolvi acompanhar ele, eu e meu irmão José Andrade. Aí com isso
cresci pra cá, já foi pro Unini, não, foi pro Jaú, porque ele achou que esse homem foi
o responsável pela separação, porque ele escrevia carta pra ela e ele não entregava, e
ela pra ele. Aí vim pra cá quebrar castanha com o irmão do Antonio Moraes,
Carminho Moraes. Aí fomos pro [lago do] Caranguejo, depois pro [rio] Guariba,
dentro do [rio] Paunini, cortamos seringa no Tapiira, paranã do Anamari, cortamos
sorva dentro do igarapé do Anamari, voltamos de novo dentro do Guariba, aonde eu
fiquei até os dezoito anos. Meu pai falou que ia atrás de uma mulher, D. Arlete, mãe
do Edmílson e do Antonio (que ele tinha morado em Tapiira), e eu fiquei trabalhando
por minha conta, tomei a responsabilidade de ficar adulto. Aí fiquei até os 23 anos
aqui e depois fui pra Manaus, eu trabalhei um ano todinho juntando dinheiro, que eu
queria arrumar uma mulher. Eu sou daquele tipo de pessoa que se prepara para
arranjar as coisas, eu programava as coisas. Então eu fui morar pro Jaú, lá eu me
casei, aí construí família, sempre trabalhando cortando sorva, balata. Aí comprei
barco, fui pagando aos poucos, adquirindo recurso. Arranjei uma colocação pra cortar
seringa, que era de um seringalista antigo do Jaú, Seu Nenas Barros, que ele tinha
abandonado, como eu conhecia ele que eu tinha trabalhado aqui no Unini. No igarapé
do Quixuri produzi doze toneladas de seringa, não é pra qualquer um, não. Aí foi que
eu comecei a comprar barco, levei meu pai pra lá, foi com muita luta, com muito
sacrifício, teve um senhor em Manaus que me deu crédito. Eu já tava situado lá, meu
pai já tava situado, tinha muitas frutíferas. Aí foi quando o IBAMA apareceu por lá
proibindo tudo e foi quando eu resolvi ir pra Novo Airão, que meus filhos já tavam
crescendo e precisavam estudar, e eu comecei a trabalhar aqui no Unini. Já tô com 22
anos aqui. No começo eu estranhei muito.
Cortei seringa novamente, cortei sorva já com freguês, oito a dez... Aí chegou a época
que proibiram, as fábricas suspenderam e não compravam mais sorva nem borracha.
Aí foi quando eu fui pescar, em 1992 eu me cadastrei na Colônia Z-12 de Manaus, aí
vim pescar aqui. Só que naquela época enchia muito, chovia demais e também o
pessoal sentiu falta que eu trazia rancho pra vender, só que não tinha mais agricultura
aqui no Unini, que o pessoal fazia roça e banana, e quem não fazia começou a fazer.
Aí hoje o pessoal vive disso, farinha, banana, cipó. [...] Agora tô querendo pescar de
novo. Eu tenho duas opção, trabalhar com o turismo ou trabalhar. Regateio não quero
mais porque tá muito concorrido, e plantar é muito sacrificoso, eu já tenho 57 anos.
[...] Primeiramente, pra gente ter lucro aqui é preciso plantar e eu não quero mais
plantar, não quero derrubar mais uma árvore. Só o regateio é muito difícil, não vale a
pena. Agora eu não vou deixar nunca de vir pra cá. Se for possível eu vou vir pescar,
trabalhar com o turismo, se for possível eu vou vir pro meu sítio tomar o vinho de