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seminômades de Canaã, tais como representados nas figuras de Abraão, Sara,
Agar, Isaac, Rebeca, Jacó, Lia, Raquel. Com relação à divindade, pode-se dizer:
é o Deus da benção (Gn 12,1-3), da promessa de água e pasto para os
rebanhos, bem como de herdeiro (Gn 15;17) [...] os pastores não tem
templo. Seu lugar de culto é junto a árvores frondosas (Gn 18,1), a colunas
(Gn 28,18.22; 31,13; 35,14), ou em qualquer lugar. O altar é de terra ou de
pedras não lavradas (Ex 20,22-26). Não há sacerdotes especializados. As
funções sacerdotais são realizadas pelos membros das famílias, isto é, pelo
pai (Gn 17,23) e por mulheres (Gn 31,19s; Ex 4,24ss) (GASS, 2005, p. 42).
Essa ligação com a família é expressa em Ex 3,6: “Eu sou o Deus de seus
antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó”. Existiam
também os ‘terafins’, deuses dos lares (Gn 31,19-42) e as deusas da fecundidade,
ou seja, pequenas imagens usadas nos cultos domésticos ou nos pequenos
santuários (GASS, 2005, p. 44). Diferente destes havia os pastores de Cades,
região considerada um oásis e por isto permeada de lutas pela água (SCHWANTES,
2008, p. 23).
Outro grupo teria sido composto por trabalhadores forçados vindos do Egito,
também representados nas figuras de Moisés, Aarão e Miriam. Sua divindade era
chamada de ‘Deus dos hebreus’ (Ex 3,18; 5,3; 7,16; 9,1.13; 10,3).
A divindade Javé teria sido trazida de fora do contexto cananeu. O Deus El
ocupava o topo do panteão divino quando Javé passou a integrar o contexto
israelita, sem contudo negar a existência e a diversidade de outras divindades
(REIMER, 2006, p. 116).
Os pastores seminômades vindos do Sinai, em Madiã, são aqueles que
possivelmente trouxeram a divindade Javé para o contexto cananeu. Conforme Gass
(2005, p. 58-59), Javé estava ligado a fenômenos climáticos. Um texto egípcio
anterior a 1400 a.C. refere-se ao culto a divindade do Sinai. Jetro é o sacerdote
deste culto (Ex 3,1; 18,1-12).
Os espaços religiosos dos seminômades são as árvores sagradas (Gn
12,6ss; 21,33; 35,4; cf. Jz 4,5; 9,6), pedras sagradas (Gn 28,10-22), passagens de
rios (Gn 32, 22-32) e montanhas (Gn 22). Os primeiros santuários de Javé começam
a surgir, como o de Silo, administrados por sacerdotes masculinos (SCHROER,
2008, p. 105-106). “Os sacerdotes atuavam em santuários espalhados pelo interior:
em Tabor (Jz 4,6.14), em Silo (1Sm 1,3; 3,1ss), em Betel (Jz 20,26ss), em Guilgal
(Jz 3,19; 1Sm 11,15)” (GASS, 2005, p. 85).