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A artista Milena Travassos
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também estranha o questionamento: “mas em
nenhum momento eu senti por ser uma mulher que estivesse produzindo estar
sendo vetada ou que alguém questionasse não, sempre foi super tranqüilo isso”.
Para Érica Zíngano
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: “não acho que tem essa relação de discriminação não, eu
acho que ela não existe”.
Waléria Américo considera que os tempos estão mais abertos para a
participação das mulheres, como um reflexo da própria abertura social, mas não
deixa de reconhecer que, na prática, falando em estatística, os números denunciam
que o acesso ainda não é igualitário:
Inclusive as mulheres estão em alta nas artes, a gente tem uma porrada de
artistas que estão produzindo, tem uma porrada de críticas, curadoras, de
mulheres interessadas, as bienais por aí é só mulher, o Itaú cultural teve
uma banca só de mulher, e eu não vejo, eu sei que historicamente se você
pegar e ver que existe um processo que acontece nas artes mas também
acontece em todas as escalas sociais também, então elas estão tendendo a
ficarem mais abertas, mas eu nunca tive nenhum problema, agora que na
lista é muito mais homem que mulher sempre é, se a gente fala de
números..., uma bolsa que é para dez pessoas três são mulheres, três ou
quatro mulheres, então sempre é assim, é uma minoria, mas isso é fato.
Referente a uma política de cotas para mulheres no campo das artes visuais é
freqüente a forte resistência à idéia, conforme salienta Èrica Zíngano:
Eu não sou de acordo, porque aí é aquela velha história, é quando você
reafirma que existe um preconceito, e aí é quando a gente vai trabalhar
essa questão, que é super mal resolvida essa questão de gênero, quando a
gente fez a exposição a gente pensava assim: não, tem que partir do
pressuposto que isso não era mais para ser discutido, a questão das cinco
mulheres porque sempre vem uma nomenclatura do tipo há eu sou mulher,
isso é poético, é feminino, é adolescente, pois são conceitos que remetem
ao feminino, mas a gente não gostaria que essa questão fosse colocada,
porque existe uma diluição, claro que existe, a gente não pode pensar eu
sou mulher ele é homem, digamos, existe realmente uma estrutura
corpórea, uma estrutura social, que demarca territórios, mas eu acho que a
gente tem que trabalhar a noção de que isso não existe mais, pra que isso
realmente se esgarce, para que isso realmente se afaste, para que não
exista mais essa noção de diferente, apesar de ter como eu disse, uma
relação primordial, física, que por si só já é diferente.
Maíra Ortins:
Eu acho que não tem sentido. Porque homem ou mulher quem faz a
diferença é a sociedade e as conveniências dela, essa questão de botar
cota para mulher já é uma maneira de dizer que ela não é artista, ela é
mulher, então isso aumentaria o estigma, é como se a mulher não fosse
capaz de concorrer com o homem, e isso é bobagem, isso é balela, isso não
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Entrevista concedida em 20 de dezembro de 2005.
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Entrevista concedida em 25 de janeiro de 2006.