45
Nessas circunstâncias, valho-me em primeiro lugar de um pequeno artifício técnico.
Informo ao paciente que, um momento depois, farei pressão sobre sua testa, e lhe
asseguro que, enquanto a pressão durar, ele verá diante de si uma recordação sob a
forma de um quadro, ou a terá em seus pensamentos sob a forma de uma idéia que
lhe ocorra; e lhe peço encarecidamente que me comunique esse quadro ou idéia,
quaisquer que sejam.(...) Não deve haver nenhuma crítica, nenhuma reticência, quer
por motivos emocionais, quer porque os julgue sem importância.
Esse método muito me ensinou e também nunca deixou de alcançar a sua
finalidade. Hoje não posso mais passar sem ele. Naturalmente, estou ciente de que a
pressão na testa poderia ser substituída por qualquer outro sinal, ou por algum outro
exercício de influência física sobre o paciente, mas, já que o paciente está deitado
diante de mim, pressionar sua testa ou tomar-lhe a cabeça entre minhas mãos
parece ser o modo mais conveniente de empregar a sugestão para a finalidade que
tenho em vista. Ser-me-ia possível dizer, para explicar a eficácia desse artifício, que
ele corresponde a uma “hipnose momentaneamente intensificada”, mas o
mecanismo da hipnose me é tão enigmático que eu preferiria não utilizá-lo como
explicação. (FREUD, 1893–1895/1987, p.265–266).
O que este estudo fez até aqui foi seguir a trajetória evolutiva das opiniões técnicas de
Freud em direção ao estabelecimento da associação livre como regra fundamental. Notórios
são o esforço e as tentativas de Freud para conseguir uma aplicação mais ampla do método
investigativo de Breuer diante da dificuldade de que muitos pacientes não eram hipnotizáveis.
Seu propósito foi o de contornar a hipnose ao criar estratégias ou procedimentos técnicos que
lhe permitissem alcançar, não somente a lembrança patogênica “esquecida” mas também
seguir as representações que seriam um “elo intermediário” na cadeia das associações entre as
“representações da qual partimos” e a “representação patogênica” que procurava alcançar.
Neste ponto do seu trabalho clínico, Freud partia de uma representação considerada apenas
como ponto inicial “de uma nova série de pensamentos e lembranças” que, se não o levariam
à representação dita “real” ou “verdadeira”, apontavam o caminho ou demonstravam em que
sentido deveria conduzir suas investigações. Porém, na Nota de Introdução o Editor afirma:
Não é possível saber com precisão a época em que Freud abandonou esses
diferentes métodos. Numa conferência proferida no final de 1904 (1905a), ele
declarava (ibid., Vol. VII, pg. 270, Imago Editora, 1972): “Ora , há uns oito anos
não tenho usado a hipnose com fins terapêuticos (exceto para algumas experiências
especiais)” – portanto, desde mais ou menos 1896. Talvez seja esse o período que
marca o fim da “técnica da pressão”, pois, na descrição de seu método, no começo
de A Interpretação dos Sonhos (1900
a [1899]), ibid., v. IV, p.108, Imago Editora,
1972, não faz qualquer menção a semelhante contato com o paciente, embora, nessa
passagem, ainda recomendasse ao paciente manter os olhos fechados. (NOTA DO
INTRODUTOR INGLÊS, 1888–1892/1987, p.115).
Importante ressaltar que além de todas as dificuldades enfrentadas por Freud, o
contexto científico que envolvia a teoria do hipnotismo e da sugestão abrigava uma
controvérsia com respeito a correntes que poderiam ser esquematicamente polarizadas como
“Charcot versus Bernheim”. Adversários contundentes trocavam recorrentes acusações,
perante às quais Freud oscilava de posição. Hippolyte Bernheim freqüentemente acusava