
A representação pictórica da natureza sempre acompanhou a humanidade
desde os seus primórdios, como atesta, por exemplo, a arte rupestre que se pode
observar em Altamira, na Cantábria (Espanha). Ao longo da história, evidentemente,
ocorreram modificações na forma de conceber a natureza em função do
desenvolvimento da técnica pictórica e, sobretudo, como consequência da mudança
de atitude do homem em relação ao seu meio ambiente. É nesse contexto que a
representação pictórica da natureza, como apreensão dos aspectos individuais
reconhecíveis do entorno, se transforma em pintura de paisagem, constituída pelo
conjunto dos elementos naturais e arquitetônicos concebidos no processo de
interação entre o homem e a natureza.
O conceito de paisagem
passa por diversas modificações, desde o século
XV, até a nossa contemporaneidade. Atravessando várias fronteiras desde a sua
origem, a cada adição, ganhou um sentido mais amplo. Nos dicionários brasileiros
Aurélio e Houaiss, por exemplo, a palavra paisagem possui dois sentidos principais:
tanto significa ―espaço de terreno que se abrange num lance de vista‖, quanto,
―pintura, gravura ou desenho que representa uma paisagem natural ou urbana‖.
Mas, a polissemia do termo aí não se encerra, pelo contrário, se amplia quando se
analisa a sua utilização pelas inúmeras disciplinas: ―se um geógrafo, um historiador,
um arquitecto se debruçarem sobre a mesma paisagem, o resultado dos seus
trabalhos e a maneira de conduzi-los serão diferentes, segundo o ângulo de visão
de cada um dos que a examinam‖ (BLANC-PAMARD; RAISON, 1986, p. 138). O
traço de união entre as diversas definições é a sua conotação humana, sendo a
paisagem entendida como ―a natureza vista através do olhar humano, transformada
pela intervenção e pelos olhos do homem‖ (BLANC-PAMARD; RAISON, 1986, p.
138). Em outras palavras, assim como Maximiano, entende-se paisagem como
Do latim pagus, significando aldeia, povoação, povoado, surgiram vários derivados desde
pagonalia (paganais, festas aldeãs) até Pagensis, empregado no sentido de ―habitante de uma
pagus‖, acumulado ao francês pays com os sentidos de ―habitante‖ e ―território‖, havendo uma
derivação no século XVI para paysage (paisagem), passando para paysagiste, no século XVII, como
termos de pintura tomando um sentido mais amplo no século XVIII, e no século XIX o sentido
geográfico. As línguas espanhola, italiana e portuguesa tomam de empréstimo as palavras
francesas: pays, paysage e paysagiste, obtendo o mesmo significado, resultando em italiano
paesaggio, em espanhol paisaje e, em português, paisagem. Na língua alemã e inglesa surge land,
com o mesmo significado de pagus, formando em seguida as palavras landschaft para o alemão e
landscape para o inglês, para traduzir o termo holandês landskip empregado para se referir à
representação pictórica.