
doença. O sofrimento, por sua vez, também possuía raiz na palavra pathos, que desde
os gregos clássicos era utilizada para identificada como tal, como uma doença, de onde
herdamos a palavra patologia.
A questão que se coloca aqui é fundamental, e será recorrente, especialmente
na estrutura paulina da doutrina cristã. A Sarx (carne/corpo/natureza humana) é o
habitat do pecado. A paixão, por sua vez, é ao mesmo tempo pecado, promotora do
pecado (desejo que impele/Epitumia),e punição, sofrimento. Logo, a punição
estabelecida por Paulo para a relação ilícita é que a Carne (através de Satanás), seja
destruída, de forma que o espírito seja salvo. Há, pois, uma relação
sarx/pathos/epitumia, ou seja Carne/pecado/desejo ardente, e, é este o trinômio, o alvo
ser atingido e destruído. Diz Paulo, escrevendo à Igreja em Colossos: “Exterminai, pois,
as vossas inclinações carnais; a prostituição, a impureza, a paixão (pathos), a vil
concupiscência(epitumia), e a avareza, que é idolatria”
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, a paixão – que está inclusa
na lista de pecados graves – precisava ser exterminada, isso porque ela era parte
constitutiva da natureza humana, da carne.
Os primeiros séculos da era cristã parecem ter sido palco de uma mudança no
conceito de paixão, especialmente, se comparada à proposta aristotélica. Em seu artigo
“Sobre o Medo”, Marilena Chauí aponta os principais motores dessa mudança:
Com o estoicismo (particularmente em sua versão romana) e com o cristianismo,
sobrevém a primeira mudança conceitual. Ethos transmuta-se num valor, a
virtude – enquanto pathos torna-se seu negativo – o vício. Identificada aos
poderes da razão para dominar corpo e ânimo, a virtude desenha a figura da
natureza humana ideal em que a paixão, identificada ao vício, deve ser
combatida porque contra a natureza.
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nos utilizamos desta bibliografia.
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Epístola aos Coríntios :Sétimo livro do Novo Testamento. Embora esta epístola seja denominada a
primeira aos Coríntios, evidentemente outra a precedeu, que não foi conservada. Corinto, a capital da
província romana da Acaia, era notável não apenas por suas riquezas e luxo, pois era uma fortaleza de
licenciosidade e depravação, alimentadas pelo culto à deusa Vênus. (BOYER ,Orlando. Pequena
enciclopédia bíblica. Pindamonhangaba/São Paulo: Instituto das Assembléias de Deus, 1966. p. 197). A
razão principal da carta foi atender às necessidades da jovem igreja em Corinto. Corinto era a principal
cidade da Grécia e era capital da província da Acaia. A cidade era famosa em dois aspectos: pela sua
cultura, comércio e riqueza, mas também por sua impiedade. A população era de cerca de 400.000 a
500.000 habitantes. Era tão “perversa” moralmente que o nome da cidade passou a ser usado finalmente
para descrever certa perversão sexual. O alcoolismo e a sensualidade estavam na ordem do dia. Grande
parte disso se devia à religião daquele lugar. A adoração centralizava-se na deusa do Amor, Afrodite, à
qual estavam associadas 3.000 sacerdotisas consagradas à pratica de relações sexuais.(WELCH, W.
Wilbert. Comportamento Adequado dos Santos. São Paulo: Imprensa Batista Regular,1985.p.8,9)
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CHAUI, Marilena. Sobre o Medo. In: CARDOSO, Sérgio. (et al.) Os sentidos da paixão. São
Paulo:Companhia das Letras, 2002, p.43.