
33
continuava a ser notada. Ainda assim, segundo Oro, os dialetos se mantiveram e o
“talian” – expressão que designa o dialeto vêneto riograndense
6
- foi sendo construído e
se tornou um dos mais importantes sinais diacríticos de afirmação da identidade étnica
dos descendentes de italianos do Rio Grande do Sul (apud De Boni, 1990:614). Ainda
segundo Oro, em uma pesquisa realizada nos municípios de Nova Pádua e Otávio
Rocha, 89% dos entrevistados afirmaram que podiam tanto falar quanto compreender o
“talian”. Ademais, observa-se nos últimos anos da década de 1980, o ensino formal do
“talian” em algumas escolas municipais da rede italiana do Estado ( apud De Boni,
1990:615). Vale ressaltar, conforme estudos de Mioranza, que na maioria das áreas da
imigração antiga não se fala um dialeto específico, mas uma “koiné” ou fala
supradialetal que foi se impondo paulatinamente (apud De Boni 1990:597). Esse fato
gera grandes conseqüências na região Sul, onde se percebe uma alta taxa de
empréstimos lingüísticos entre os habitantes das antigas colônias de imigrantes.
Mas será sobretudo para o Estado de São Paulo, com um território quase tão
grande quanto à Itália, que se dirigirá a maior parcela da imigração italiana. Segundo
Trento (1988:107), o Estado de São Paulo foi meta de 67% da emigração italiana no
período entre 1889 e 1919, atingindo seu ponto máximo na década de 1900 a 1909, com
79%. Gozando de um vultoso desenvolvimento da lavoura cafeeira e contando com
políticas de imigração mais organizadas e financeiramente mais balizadas, São Paulo
atraiu um contingente imigratório italiano excepcional. Conforme sustenta Alvim
(2000:396), mesmo sem exteriorizações tão marcantes como as que ocorreram em
Caxias do Sul, Farroupilha ou Garibaldi, São Paulo, no fundo, consegue ser mais
6
Segundo R. Costa, O Dialeto do Rio Grande do Sul é um idioma proveniente de vários dialetos italianos
(especialmente vêneto, lombardo, trentino, friulino e piemontês), mas também do italiano e do português.
Trata-se , pois, no Rio Grande do Sul , de uma nova língua (Costa, 1987:384). A questão da classificação
lingüística dos dialetos e do sentido que os mesmos cumprem junto aos descendentes dos imigrantes não
faz, porém, a unanimidade dos estudiosos. Ver, por exemplo, Frosi e Mioranza (1977), Bunse (1977) e
Mioranza (1990).