Download PDF
ads:
Ivan Fagundes Batista
OS NOMES ITALIANOS EM
ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DE
BELO HORIZONTE E A RELAÇÃO
IDENTITÁRIA BRASIL-ITÁLIA
Dissertação a ser apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos da
Faculdade de Letras da UFMG.
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Lingüística
Aplicada
L
INHA DE PESQUISA
: F (Estudos em Línguas
Estrangeiras: Ensino/Aprendizagem, Usos e
Culturas).
ORIENTADOR: Prof. Dr. Tommaso Raso
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
A memória viva e pegada de Sara Ribeiro
Azalini Máximo
ads:
3
Agradecimentos
Ao Prof. Dr. Tommaso Raso, pela forma brilhante e incansável com que conduziu
este trabalho; pela maneira peculiar de impor seriedade sem perder a generosidade;
pelas diversas reuniões em horários e dias pouco adequados e por acreditar, mesmo sem
me conhecer e desde o primeiro contato, “que eu seria capaz”.
À Profa. Dra. Ana Maria Chiarini, pela disponibilidade com que me orientou no
primeiro pré-projeto desta pesquisa e por despertar em mim o desejo de trabalhar com
as representações culturais das línguas.
À Profa. Dra. Glaucia Renate Gonçalves, que tanto apoio carinhoso durante
esse trabalho.
Ao Prof. Dr. Seung-Hwa Lee, que entre outras coisas, me ensinou a
importância de ser ter um espírito forte.
Aos Profs. doutores Dimitri Fazito, Francisco Vinhosa e Federico Croci, pelas
contribuições textuais e orais para este trabalho.
Aos proprietários de todos os estabelecimentos comerciais os quais visitei, de
igual maneira aos que foram rudes como àqueles que me convidaram para um café e
revelaram olhos brilhantes ao tomarem conhecimento da proposta desta pesquisa.
Ao Programa de Pós-graduação em Estudos Lingüísticos (PosLin) da Faculdade
de Letras da UFMG, ao qual me endereço enfatizando a proficiência dos docentes que
me iluminaram nas disciplinas que cursei.
À colega de mestrado e doutoranda Cynthia Elias Vilaça, que amparou, de
maneira nobilíssima e sem qualquer possível comparação, as minhas angustias e
desafios durante a realização deste trabalho, conquistando, por isso e por outros
predicados, lugar cativo em meu coração.
4
Aos amigos queridos do Judô do Minas Tênis Clube, pela atenciosidade em
vários momentos desta pesquisa.
Ao meu irmão Igor, por me auxiliar na execução dos gráficos presentes neste
trabalho, e a Mariana, irmã preferida, por suportar os freqüentes incômodos noturnos
ocasionados pelo barulho das teclas do computador.
Aos meus pais que, mesmo sem terem a noção do que este trabalho representou
na minha vida, já possuem méritos bastantes por me conduzirem e incentivarem desde
as palavras mais pueris. A vocês, a minha gratidão eterna.
A Deus, que por sinais simples e eloqüentes, me mostrou, por diversas vezes,
que era preciso continuar e acreditar e, nunca, desistir de sonhar.
5
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou
terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?
Carlos Drummond de Andrade
6
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo mapear e analisar os nomes italianos em
estabelecimentos comerciais da cidade de Belo Horizonte quer possuam significante
total ou parcial desse idioma. A intenção é descobrir o que leva os comerciantes a
colocarem nomes com esse tipo de constituição em seus estabelecimentos, assim,
contribuindo para o campo maior que investiga as relações identitárias Brasil-Itália. Os
dados foram coletados principalmente na região da Savassi, mas também se estenderem
por meio de uma busca randômica pela cidade. Esses nomes levantados passaram por
análises de cunho gráfico, sintático e semântico, a fim de localizarmos os tipos de
desvios que apresentavam. Além disso, questionários foram aplicados aos proprietários
das lojas com a intenção de eliciar dados que nos levassem a compreender melhor suas
motivações. Percebeu-se que os desvios nos nomes chegavam a quase ¾ do número
total analisado e que a italianidade presente nas práticas dos comerciantes é ampla,
entretanto de caráter superficial. Aliado a isso, foi possível também notar que a relação
atual que a Itália apresenta com a cidade e com o Estado de Minas Gerais acende, nas
classes privilegiadas, esse substrato de italianidade.
7
ABSTRACT
This study aims at mapping and analysing the Italian names in commercial shops in
Belo Horizonte City no matter with complete or partial signifier in this idiom. The
intention is to discover what drives the shop owners to choose names like these for their
businesses, thus, contributing for the major field which investigates the relation of
identities between Brazil and Italy. The data were collected mainly at Savassi
neighbourhood, but were also spread through a random search. These collected names
have undergone graphic, syntactic and semantics analyses, with the desire to spot the
types of deviation they contained. Moreover, questionnaires were applied to the shop
owners willing to elicit data which demonstrated their motivations. It was noted that in
¾ of the whole amount of names analysed the deviations were located and that
Italianate traces in the shop owners practices were ample, however depicted
characteristic of shallowness. Linked to this fact, it was also possible to perceive that
the current relationship that Italy establishes both with the city and the State of Minas
Gerais lights up, in the privileged economic classes, this Italianate substract.
8
Lista de Figuras
GRÁFICO
1
: Ranking das principais origens de importação de Minas Gerais
GRÁFICO 2: Divisão das lojas em categorias de produto
GRÁFICO 3: Shopping Pátio Savassi por idioma
GRÁFICO 4: Shopping 5ª Avenida por idioma
GRÁFICO 5: Comparação do número total de lojas por idioma e da categoria
vestuário
GRÁFICO 6: Comparação do número total de lojas por idioma e da categoria
vestuário/ Soma dos idiomas estrangeiros
GRÁFICO 7: Constituição e posicionamento dos nomes
GRÁFICO 8: Nome x Produto
GRÁFICO 9: Nome x Público alvo
GRÁFICO 10:
Consultoria lingüística
GRÁFICO 11: Motivação lingüística
GRÁFICO 12: Repetição de um nome italiano em outro estabelecimento
QUADRO 1: Nomes da região da Savassi
QUADRO 2
: Nomes advindos da busca estendida
QUADRO 3: Nomes do shopping Pátio Savassi: idioma e categoria do produto
QUADRO 4: Nomes do shopping 5ª Avenida: idioma e categoria do produto
QUADRO 5: Análise da constituição dos nomes quanto à presença e
posicionamento dos idiomas
QUADRO 6: Desvios gráficos
QUADRO 7: Desvios sintáticos
QUADRO 8: Desvios semânticos
QUADRO 9: Comparação geral dos desvios
9
QUADRO 10: Nomes sem desvio
10
SUMÁRIO
Capítulo I Introdução
1.1 Contextualização e hipótese………………………… 12
1.2 Objetivos do trabalho…………………………………19
1.3 Justificativa para realização do trabalho……………. .20
1.4 Organização do trabalho…………………………….. 21
Capítulo II Brasil e Itália – Uma relação privilegiada
2.1
A antiga presença de italianos no Brasil......................
22
2.2 O período da grande emigração...................................27
2.3 Os italianos e o Estado de Minas Gerais.....................35
2.4 A construção da nova capital...................................... 40
2.5 Minas e Itália – parceria que se destaca .....................45
Capítulo III Metodologia e apresentação do corpus coletado
3.1 Participantes e contexto da pesquisa
3.1.1 Método de coleta de dados...................................................52
3.2 Plano de análise dos dados
3.2.1 Apresentação dos nomes levantados .......................................54
3.2.2 Apresentação dos nomes coletados na busca estendida pela cidade... 58
3.2.3 Apresentação dos nomes coletados em principal avenida e shopping no
Barreiro........................................................................................................ ...............63
3.2.4 Divisão dos nomes das lojas da Savassi em categorias de produto...... 64
3.2.5 Levantamento dos nomes de diversos idiomas em dois shoppings da
Savassi ........................................................................................................................72
3.2.6 Comparação gráfica do percentual dos idiomas no número total de
estabelecimentos..........................................................................................................74
11
3.2.7 Análise da vinculação dos idiomas a certos tipos de produto ............74
3.2.8 Análise da constituição dos nomes quanto à ordem das palavras.......76
Capítulo IV Análises Lingüísticas
4.1 Desvios gráficos .........................................................................90
4.2 Desvios sintáticos .....................................................................101
4.3 Desvios semânticos ...................................................................105
Capítulo V Discussão dos dados dos questionários...........136
Capítulo VI Considerações conclusivas
................................
148
Referências bibliográficas ......................................................................151
Anexos - Questionário apresentado aos comerciantes
12
Capítulo I Introdução
Por meio de um tratamento que busque contemplar a necessidade e a importância
de uma análise que vincule os fenômenos atuais com suas raízes históricas, essa
pesquisa terá como foco “a análise dos nomes italianos (quer seja com significante total
ou parcial desse idioma) de um grupo de lojas de Belo Horizonte”. A nossa intenção é
perceber as motivações que levam a língua italiana a ser usada na caracterização desses
estabelecimentos, na tentativa de compreender melhor as razões do sucesso dessa língua
no nosso território, mesmo diante da carência de investimentos diretos relativos ao
ensino dengua e cultura italianas.
Muitos lingüistas e historiadores demonstram uma tendência em reconhecer a
importância real da língua apenas após esse país ter se tornado um Estado Nacional.
Contudo, como destaca Bruni (1999:77), a preocupação em se evidenciar a existência e
o domínio dos diversos dialetos orais que se espalhavam pelo território, fez os lingüistas
e historiadores perderem de vista a relevância de uma forma intermediária de
comunicação que se posicionava entre os dialetos e a língua italiana nascente. Fato é
que o peso que a língua italiana instrumental teve após o Renascimento nos domínios do
Império Turco, no Norte da África e nos Bálcãs permaneceu ignorado por muitos anos.
Se pensarmos, desde o século XIII, na importância que as cidades de nova e
Veneza tinham tanto no comércio mediterrâneo como nas trocas comerciais com os
territórios do oriente, o fica difícil perceber a magnitude que a língua italiana deveria
ter na realização dessas trocas comerciais e o quanto esse influxo lingüístico atingia os
povos árabes, bizantinos e turcos.
13
Bruni (1999:66), objetivando sustentar uma linha de pensamento que,
inegavelmente, nos leva a tomar consciência desses aspectos, ressalta que a língua
italiana na Grécia, por volta da segunda década do século XIX, era quase tão importante
como o próprio grego. Segundo ele, o italiano adquire uma nova dimensão,
transformando-se em uma língua de comunicação pública dentro daquele território e em
geral, após o Renascimento, em toda a extensão do Império Turco até a segunda metade
do século XIX. Além disso, angua italiana não se restringia aos poliglotas e era usada
também por grande parcela da população comum grega. Diante disso, Bruni (1999:70)
revela que a língua italiana era código corrente não apenas entre os gregos e os
indivíduos de outras nacionalidades, mas entre os gregos e os próprios turcos.
que se ter atenção para o fato de que: o panorama que se apresenta não é um
reflexo direto da importância que a língua italiana adquiriu quer seja pela imponência da
sua literatura nos séculos XIII ao XVI ou mesmo pelo prestígio alcançado por meio da
música, da arte e do teatro. Como salienta Bruni (1999:72), o que emerge é um italiano
como língua de transação comercial, diplomática, política ou seja, uma nova faceta
que nos Bálcãs e no Norte da África demonstra uma força e uma dispersão imensas.
Para Bruni (1999:73), o que explicaria a escolha da língua italiana para figurar
esse papel de mediadora entre diferentes etnias seria o seu caráter de “neutralidade”.
Isso se realizaria uma vez que por detrás da língua não se observava nenhuma
imposição de cunho político e esse código era sentido pelos falantes como uma
verdadeira simbologia “franca” entre os interlocutores. Diante disso, percebe-se que a
veiculação do italiano no exterior não foi nunca sustentada pela força das armas ou por
um processo coercivo, mas, sim, pelas virtudes próprias que a língua passava a carregar.
Essa justificativa apresentada por Bruni (1999) acaba, de fato, adquirindo sustentação se
14
pensarmos que após a criação do Estado Nacional Italiano provas de uma queda da
utilização da língua italiana no mundo e até nas próprias colônias italianas.
Nesse sentido, é interessante trazer esse retrospecto histórico a fim de se tentar
compreender melhor a dispersão da ngua italiana no mundo atual e vislumbrar
explicações para o seu sucesso. Na América do Sul e no Brasil do século XXI, o se
percebe uma rede governamental de apoio e de veiculação da língua italiana como se
verifica para outros idiomas. Embora Turchetta (2005:107), procure demonstrar que,
nos últimos 15 anos, houve uma intensificação de medidas do governo italiano em prol
da criação de institutos que difundam a língua e a cultura italiana no exterior, essas
medidas parecem não ter o efeito que supostamente se esperava. Se é indiscutível a
força do Instituto Goethe para a veiculação da cultura e do idioma alemão; do British
Council e do American Center para o inglês; do Cervantes para o Espanhol; do Camões
para o português; do Grenoble e da Aliança Francesa para o francês, não ainda
nenhum instituto italiano que assuma um papel com semelhante envergadura.
Entretanto, vale observarmos que a língua italiana demonstra uma dinâmica
destacada e peculiar diante das demais. Se pensarmos no Francês, é fácil constatarmos
uma queda evidente da sua veiculação desde a última década do culo XX. O alemão
também decaiu bastante após a redução dos investimentos do Instituto Goethe, o qual
decidiu privilegiar áreas no leste europeu. Em relação ao Espanhol não cabe uma
comparação tão direta, posto que essa é a língua materna de quase a totalidade dos
países da América do Sul, além de ser a língua oficial do Mercosul. Fica, pois, a
indagação de como a língua italiana consegue ser tão difundida mesmo sem
investimentos. Uma justificativa prematura seria atribuir esse fato exclusivamente ao
grande contingente migratório que se deslocou para o nosso território. Contudo,
15
percebemos que a língua italiana também apresentou quedas bruscas em tempos pós-
imigração, principalmente nas décadas de 1950 a 1980.
Diante disso, acredita-se neste trabalho que, entre as várias justificativas que
poderão nos levar a compreender as razões da notável difusão da língua italiana aqui no
Brasil e na América do Sul, haveria também uma que estaria ancorada em um processo
de repetição, tempos depois pelo menos em parte do fenômeno discutido acima por
Bruni (1999). Acreditamos que a língua italiana seduz e encanta, até hoje, inclusive pelo
fato de ainda estar desvinculada de uma “idéia de poder”.
Se focarmos nossa observação para o Brasil, constataremos que, ao longo do
tempo, o país peninsular passou a representar um ponto de referência singular para a
nossa nação. Como observa Hollanda (2002:51), mesmo o Brasil tendo sido colonizado
por portugueses, não incidência contundente o bastante que nos faça assumir uma
identificação comum com esse país. Além disso, percebe-se que, mesmo os Estados
Unidos da América exercendo uma notável influência nos países de 3° mundo, o Brasil
não poderia se espelhar totalmente em uma nação que não compartilha das suas mesmas
raízes latinas.
Raso (1999:112), ao tentar enfrentar essa mesma questão, aborda a
intensificação da valorização dos símbolos italianos no Brasil a partir da década de 1990
e apresenta uma combinação de fatores que explicariam essa atenção especial do Brasil
em relação à Itália. Entre esses fatores podemos citar alguns como: a presença histórica
italiana no Brasil pela imigração; a afirmação da Itália como país de destaque na
economia mundial; a recente penetração econômica italiana no Brasil; a busca do
governo brasileiro por uma alternativa ao modelo norte-americano; a possibilidade de se
obter uma dupla nacionalidade pelas leis desses dois países e a recente reforma
educacional brasileira que favorece o estudo de outras línguas.
16
Vale ter em mente, como salienta Tullio-Altan (1999:17), que o que deve ser
colocado em confronto não são as nações como entidades ontológicas, mas como êxito
de processos históricos longos que fizeram com que esse quadro atual nos seja
apresentado.
1
Isto posto, objetiva-se realizar nessa pesquisa a investigação dessa relação
levando em consideração um viés diacrônico uma vez que seria impossível
compreender o panorama atual sem valorizar os aspectos históricos que unem os dois
países mas objetivando focar principalmente a conjuntura do presente, que mostra ser
a Itália um modelo de referência relevante para as práticas e comportamentos dos
brasileiros, no nosso caso com ênfase aos habitantes de Belo Horizonte (BH).
Devido ao fato, como foi colocado acima, dessa pesquisa pretender contemplar
uma análise diacrônica dos fatos, cabe neste momento uma reflexão sobre um aspecto
histórico da formação da identidade brasileira que afeta sobremaneira a leitura do
panorama atual. Conforme discute Croci (no prelo), queira-se ou não, a constituição da
identidade nacional brasileira foi, inegavelmente, formada por constituintes multi-
étnicos. Essa clareza de análise foi, por muitas décadas, negada pela oligarquia local e
silenciada, até a década de 1970, pelos mais imponentes sociólogos brasileiros. A fábula
das três raças, sustentada na crença de que identidade brasileira era forjada apenas sob
três pilares brancos, negros e índios manteve o imigrante à margem de qualquer
contribuição para a formação da identidade nacional e, com isso, acabou subestimando
demasiadamente o peso e a importância dessa contribuição.
Se de um lado a oligarquia dominante via no imigrante um instrumento que iria
ajudar no controle do território, agregar capital cultural e melhorar a raça, por outro lado
ela negava os méritos desse componente, pois o seu papel poderia colocar em risco
1
“[...] ciò che deve essere posto a confronto non sono le nazioni intese come entità ontologiche, ma come
esito dei processi storici di lunga durata che le hanno fatte diventare quello che oggi appaiano ai nostri
occhi.”
17
toda a estratégia de exploração do proletariado e de perpetuação de seus privilégios
(Croci, no prelo).
Assim, diante dessa intenção de pesquisa, é valiosíssima a reflexão que: estudar
aspectos de italianidade em Minas Gerais exige um cuidado e um desafio bem maiores
que se o mesmo objetivo fosse posto em relação ao Sul do Brasil ou à cidade de São
Paulo. Nessas duas últimas regiões, os traços de italianidade são imediatamente visíveis,
visto que os italianos que chegaram participaram da formação de uma sociedade não
anteriormente constituída. Cabe salientar que ao se expor essa afirmação, não se deseja,
de maneira alguma, vincular traços de italianidade exclusivamente a efeitos da
imigração. O que se procura mostrar é que esses traços advindos do processo migratório
são bem evidentes e de fácil reconhecimento na cultura local dessas regiões.
A região Sul quando olha para sua constituição identitária, enxerga muito
componente italiano, bastante componente alemão e um pouco de diversas outras etnias
européias. São Paulo, claramente o componente italiano e o componente japonês.
Minas Gerais, por já possuir uma sociedade formada anteriormente à chegada dos
imigrantes italianos, uma própria” cultura mineira, composta por um amálgama
feito de misturas complexas. O componente italiano aqui é, indiscutivelmente, presente,
apesar de não ter sido tão preservado como em outras regiões citadas. Assim, em Minas
Gerais é impossível perceber o peso de uma contribuição como percebemos ao olhar
para a Bahia e, instantaneamente, nos remetermos à África. A parcela italiana se
esconde e a sua identificação fica bem difícil. Conseqüentemente, como recebemos
contribuições de diversos componentes e essa dificuldade em reconhecê-los, parece
que aqui menos África que na Bahia, menos Portugal do que no Nordeste ou menos
Itália do que no Sul. Percebemos, também, que além da composição da identidade
mineira apresentar características bem peculiares, a relação que nos últimos anos Minas
18
Gerais estabeleceu com a Itália apresenta sinais diferenciados do restante do Brasil.
Haja vista, com ênfase para Belo Horizonte, o papel que o grupo Fiat tem
desempenhado nos últimos 40 anos na cidade.
Apesar da “camuflagem” coloquemos assim que os sinais de italianidade
apresentam em nosso estado, se nos dispormos a uma observação mais aguçada,
perceberemos que diversos signos que remetem à Itália encontram-se ao nosso redor.
Em Belo Horizonte, por exemplo, não é tarefa difícil identificar dentro do nosso círculo
de relacionamentos alguém que possua ascendência italiana. Ademais, inúmeras
construções urbanas seguem padrões arquitetônicos italianos e várias expressões de
língua italiana nomeiam estabelecimentos comerciais da cidade.
Vale expor neste ponto uma ilustração de como a língua italiana é usada
extensivamente, dentre outros locais, em certo segmento desse município. Refiro-me
aqui aos nomes de edifícios e condomínios que existem na cidade, mas,
principalmente, aos que tem sido lançados desde os últimos cinco anos. Incorporadoras
e construtoras de destaque como Patrimar, Líder, MRV, Canopus e Tenda, possuem
mais de 2/3 de seus empreendimentos imobiliários nomeados em língua italiana. Em um
panfleto distribuído por uma dessas construtoras poucos meses atrás, observa-se que
dos 6 edifícios em fase de incorporação, tínhamos 5 deles: Villaggio Monterosso,
Cinecittà, Duo, Villaggio Monticiello e Spazio Dell’Acqua, nomeados em língua
italiana. A prevalência dos nomes italianos no produto dessas construtoras é tão alto que
acredito que caberia um estudo individualizado para investigar esses dados.
No caso deste trabalho, temos como foco “os nomes de estabelecimentos
comerciais” e essa escolha ocorreu pela razão clara desses nomes aparecerem também
em número expressivo dentro da região analisada, assim como em outras partes da
cidade. Raso (no prelo) expõe que a cultura e a identidade brasileiras têm a
19
característica de absorver, com extrema rapidez, qualquer símbolo que não seja nacional
e transformá-lo em signo novo e original. Diante desse apanágio, ainda segundo ele, fica
muito mais difícil reconhecer e recuperar os ingredientes originários a partir de um
resultado tão inesperado. Assim, advindo desse posicionamento, hipotetiza-se nesse
trabalho que a relação Itália, Brasil e língua italiana perpasse um vínculo muito mais
profundo e intricado do que se imagina. Busca-se, pois, por meio da análise dos nomes
das lojas, elementos que nos levem a uma melhor compreensão desse panorama.
1.1 Objetivos do trabalho
Este projeto apresenta como objetivo geral:
1. Contribuir para os estudos que abordam a influência da cultura italiana
na construção da identidade brasileira por meio da análise de nomes de
estabelecimentos comerciais em Belo Horizonte
Para isso têm-se os seguintes objetivos específicos:
1. Quantificar os nomes italianos nas áreas selecionadas
2. Comparar quantitativamente a presença de nomes italianos com
a presença de nomes em outras línguas
3. Analisar as motivações dos proprietários das lojas
4. Verificar se os nomes de lojas em italiano se vinculam a certos
tipos específicos de produtos, comparando essa vinculação com
aquela de outras línguas
5. Analisar o que é percebido como italiano pelos comerciantes
brasileiros
20
6. Compreender como se cria uma italianidade brasileira por meio
de:
6.1 Uma análise grafo-fonológica desses nomes
6.2 Uma análise morfossintática desses nomes
6.3 Uma análise léxico-semântica desses nomes
1.2 Justificativa para a realização do trabalho
Esse estudo é relevante por três razões principais. Em primeiro lugar, ele i
contribuir para o campo maior que investiga as relações identitárias Brasil-Itália, pois
objetivará elencar as atuais representações que os comerciantes carregam em torno da
noção de italianidade, dessa forma aprofundando o conhecimento de intercessões
histórico-culturais entre os dois países.
Em segundo lugar, uma vez que o estudo abrange a análise de línguas em
contato num ambiente contemporâneo, julgo que ele poderá iluminar, ainda mais, as
relações entre alguns padrões da língua portuguesa e da língua italiana.
Em terceiro lugar, observa-se que o estudo da imigração italiana e de
fenômenos possivelmente advindos dela, ficou restrito a algumas poucas localidades do
Brasil. Se uma quantidade razoável de estudos sobre as colônias italianas no Sul ou
sobre os reflexões da imigração italiana em São Paulo foram feitos, pouquíssimos
trabalhos existem sobre as características da imigração e seus prolongamentos em
Minas Gerais. Dessa forma, esse estudo também pretende ajudar a suprir uma lacuna
inegável de estudos sobre a presença italiana em nosso estado.
.
21
1.3 Organização do trabalho
Essa dissertação se divide em cinco capítulos. O capítulo I consta desta
introdução, na qual são apresentados a contextualização, os objetivos e a justificativa da
pesquisa. O capítulo II, denominado “Brasil e Itália uma relação privilegiada”,
apresenta uma recomposição histórica do processo e das políticas imigratórias italianas
para o Brasil com ênfase para Minas Gerais. No capítulo III, especifica-se a
metodologia e apresenta-se o corpus coletado. No capítulo IV, realiza-se as análises
lingüísticas desses dados. O capítulo V traz a discussão dos questionários aplicados aos
proprietários das lojas. E, no capítulo VI, expõe-se as conclusões que puderam ser
alcançadas.
22
Capítulo II Brasil e Itália – uma relação privilegiada
2.1 A antiga presença de italianos no Brasil
A presença italiana no Brasil remonta à época do próprio descobrimento do país.
Além do financiamento de banqueiros genoveses e florentinos à expedição de Pedro
Álvares Cabral, as contribuições cartográficas de Ámérico Vespúcio foram
fundamentais para a realização da viagem, assim como para a compreensão da imensa
grandiosidade da terra recém-descoberta.
Os italianos, devido principalmente à rivalidade entre as potências marítimas da
época, eram especialistas no estudo da geografia e da cartografia dos mares. Diante
disso, atribuí-se a eles a confecção do primeiro mapa onde constava o nome e as
delineações do nosso país. Além disso, foi o navegador Antonio Pigafetta, o primeiro a
fornecer, em seu diário de bordo, informações sobre a língua indígena tupi-guarani
(Jacobucci, 1999:15).
Nesse fluxo de viajantes que partiu da Itália em direção ao Brasil no início do
século XVI, há que se ressaltar a vinda dos frades franciscanos capuchinhos, que
disseminaram a religião católica entre os índios e se opuseram à escravização dos
mesmos. Paralelamente, notava-se também a vinda de diversas famílias italianas para o
Brasil, as quais eram compostas de profissionais das mais variadas formações técnicas e
artísticas. Devido ao papel importante dos genoveses e venezianos na exportação do
açúcar brasileiro para a Europa, as notícias dos atributos e oportunidades brasileiras
chegavam sem embargo à Europa (Jacobucci, 1999:16).
no século XVII, com as expedições militares contra os holandeses situados na
Bahia e em Pernambuco, aporta-se no país mais um leva considerável de italianos. De
fato, participam da expedição tropas do reino de poles e muitos homens não deixam
23
as terras brasileiras mesmo depois da retirada do contingente napolitano. Junto deles,
Trento (1988:16), faz menção à presença de italianos também entre os bandeirantes que
buscavam desbravar o interior do nosso território em busca de riquezas.
Em linhas gerais, segundo Trento (1988:16), entre o século XVI e fins do século
XVIII a emigração italiana para o Brasil é pequena e limitada a personalidades de
cultura e erudição. Por outro lado, a partir do início dos anos de 1840, se nota um
crescimento da emigração italiana para o Brasil.
Nesse período, Giuseppe Garibaldi é claramente um dos protagonistas mais
importantes na relação entre os dois países. Se na Itália ele teve papel destacado no
Risorgimento , aqui no Brasil, essa personagem, alcunhado “héroi de dois mundos”,
tornou-se uma figura importante na guerra dos farrapos, na qual os republicanos do sul
combateram o Império do Brasil. Aliado a isso, o Brasil e o chamado reino das Duas
Sicílias aprofundam suas relações pelo casamento de D. Pedro II com D. Teresa Cristina
Maria (1843), filha de Francesco di Napoli – rei das Duas Sicílias.
Cabe ressaltar que o papel da imperatriz na disseminação da cultura italiana no
Brasil foi inconteste. Somado ao fato dela ter trazido consigo uma comitiva de número
expressivo, trouxe também várias personalidades expoentes da cultura e da arte
napolitanas, além de diversas obras e documentos importantes provindos de seu país.
Nas palavras de Avella (2004:99), “é inegável a importância de Teresa Cristina na
construção da imagem da Itália no Brasil”.
Contudo, a chegada da imperatriz ao Brasil não teve o efeito de aumentar a
imigração para o país. As condições do Brasil permaneciam pouco atraentes para uma
imigração de braços, uma vez que as necessidades de mão-de-obra eram quase
totalmente satisfeitas pela força de trabalho escrava.
24
Será mesmo a partir dos anos de 1875, que a emigração italiana começará a
assumir um aspecto mais preciso e de dimensões apreciáveis, até se transformando em
fenômeno de massa, principalmente, entre 1887 e 1902 (Trento, 1988:18). Vale ressaltar
que nesse período, os italianos constituíram 60% do total de imigrantes recebidos pelo
Brasil (Trento, 1988:34). Essa onda migratória irá atingir o seu ápice com a abolição da
escravatura no nosso país e a conseqüente abertura do mercado à mão-de-obra
estrangeira. Os novos imigrantes encontrarão trabalho principalmente nas fazendas
cafeeiras, nas atividades agrícolas no Sul, mas também se inserirão rapidamente nas
camadas urbanas dos principais centros produtivos da nação, centros esses que se
destacavam mais na região sudeste e sul do país.
Seria presunçosa a intenção de tentar citar, a partir desse período de enorme afluxo
italiano para o Brasil, os nomes de personalidades que influenciaram, com suas atitudes
e com seu trabalho, a formação de uma identidade nacional brasileira. Não que nas
linhas anteriores tenha-se vislumbrado tal desejo, mas, agora, parece tarefa impossível,
posto que a presença italiana no Brasil assume uma característica que passa de
coadjuvante à motriz delineadora dos contornos identitários da nossa nação.
Hoje, os brasileiros descendentes de italianos, segundo o
último Rapporto Italiani
nel Mondo, realizado pela Fondazione Migrantes (escritório pastoral da Conferenza
Episcopale Italiana), são 31 milhões, fato que faz do Brasil o país fora da Itália com o
maior número de descendentes italianos no mundo.
2
É interessante observarmos que a componente italiana na composição identitária
brasileira é muito forte, contudo parece não haver uma consciência tão clara desse fato
por parte da população em geral. Segundo Vangelista (2007)
3
, na busca por uma
formação digamos “pura” da identidade nacional, seria impossível ser negada a
2
Dados extraídos em 18 de novembro de 2006 do site www.permear.com
3
Comunicação individual no XII Congresso Nacional de Professores de Italiano (USP, 2007)
25
contribuição portuguesa, negra e indígena. Diante desse fato, o mais conveniente e
plausível seria remover a parcela destinada à contribuição de outros povos estrangeiros,
incluindo o grupo italiano. Tal fato pode ser talvez explicado pela maneira como se
via o imigrante no Brasil. Esse grupo, como retratado por Tarsila do Amaral na tela
Operários (1933), era visto como uma massa única, sem diferenciação de nacionalidade
ou gênero e, assim, tudo que fosse “estrangeiro”, seria avaliado e negado com o mesmo
peso. Somado a isso, sociólogos e antropólogos brasileiros, no início dos anos de 1930,
se desdobravam para alcançar a fórmula-chave da identidade nacional e muitos se
alinhavavam ao “mito das três raças”, mito esse, que excluía rios grupos étnicos
também contribuintes da formação da identidade nacional e legitimava,
subentendidamente, uma amplo processo de discriminação racial no Brasil.
Além disso, Vangelista (2007) também traz à tona um aspecto bem interessante
que parte agora da visão dos próprios italianos em relação ao Brasil. Segundo ela, os
italianos também não m uma noção acertada de como há uma “italianidade” tão rica e
difusa no Brasil. Aliado a isso, ela sustenta que, apesar de haver um estudo considerável
sobre o processo de emigração italiana para outros continentes, tende-se a não se falar
tanto dos imigrantes que se dirigiram para países hoje subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento, como daqueles que se encaminharam para os Estados Unidos, para a
Austrália ou Canadá.
Apesar desse debate que envolve a ponderada conscientização de traços italianos
em nossa identidade, o fato é que as referências italianas estão espalhadas por toda
parte. Uma curiosidade histórica que poderia ilustrar essa “osmose cultural”
(Ambasciata D’Italia, 1999:24), seria uma análise do hino nacional brasileiro. O autor
Francisco Manuel da Silva foi contemporâneo de Rossini (grande compositor italiano)
e, apesar de o se poder comprovar tal influência, uma vez que o músico brasileiro
26
poderia ter se baseado no estilo vibrante da época, especulam os críticos musicais que o
hino brasileiro tenha, sim, traços “rossinianos” (Jacobucci, 1999:24).
Somada a essa curiosidade, são enormes as influências italianas sobre outros
expoentes da cultura brasileira, que inclusive dedicaram muito do seu trabalho à
valorização da contribuição italiana no Brasil. Como exemplo, podemos citar: Sérgio
Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, Antônio Callado, Murilo Mendes, Carlos Gomes,
Cecília Meireles, Vinícius de Moraes e Oscar Niemeyer.
Numa outra vertente, não menos importante, mas que não privilegia essa
componente interna, há que se ressaltar a importância das várias empresas italianas que,
desde a segunda década do culo XX, se inseriram no mercado brasileiro, tendo aqui,
por muitas vezes, um volume de investimento e negócios maior do que na própria Itália.
São elas: a Fiat, a Parmalat, a Tim maxitel, a Pirelli, a Agip, a Benetton, a Ferrari, a
Ferreiro, a Grimaldi e várias outras (Jacobucci, 1999:23).
É essa presença italiana aqui descrita, o somente mensurada em termos
quantitativos, que influenciou e vem influenciando de maneira duradoura os traços
identitários brasileiros. Passado e presente cruzam-se e parecemos voltar às nossas
‘raizes’ mais profundas, como postulou em metáfora fitomórfica Sérgio Buarque de
Hollanda. Também Darcy Ribeiro, numa alusão à parcela italiana que nos compõe,
sustenta que: “Encarnada em lusitanidade, Roma nas Américas vestiu-se de carne índia
e de carne negra para construir esta enorme latinidade” (Avella, 2004:103).
Assim, é diante desse panorama tão rico de influências italianas que remontam o
início do descobrimento desse país, que essa pesquisa deseja se inserir, ao tentar
identificar, por meio dos nomes de estabelecimentos comerciais da nossa cidade, os
novos símbolos criados pela moderna Itália do século XXI.
27
2.2 O período da grande emigração
A partir do final dos anos de 1875, a emigração italiana para o Brasil aumenta de
modo vertiginoso. Segundo Alvim (2000:383), “o grupo italiano chega a ser
considerado ‘o imigrante’, tais as marcadas deixadas por essa nacionalidade na cultura
brasileira”. De todos os grupos que se dirigiram para o Brasil entre 1870 e 1920, os
italianos com cerca de 1,4 milhões de indivíduos representavam 42% do total de
imigrantes. Percentual que sobe para 57,4% se examinarmos apenas o período 1880-
1904 (Trento, 1988:18). O Brasil se apresentava, assim, como país em receber mais
emigrantes italianos entre os anos 80 e a Primeira Guerra Mundial, depois dos Estados
Unidos (5 milhões entre 1875 e 1913) e da Argentina (2.400.000 no mesmo período).
que se ressaltar que o Brasil, apesar de perder em números de imigrações para esses
dois países latinos, se configurou, antes deles, como a primeira meta da imigração
italiana e que, hoje, existem debates que discutem se o componente italiano que aqui
aportou não foi mais numeroso que o próprio português.
Dois motivos se destacavam muito quanto razões para a intensa atração de
imigrantes para o Brasil. Em primeiro lugar, podemos falar da escassíssima densidade
demográfica que o Brasil apresentava. O governo, desde o período imperial, já
apresentava políticas de apoio à imigração, quer fossem oriundas dos erários públicos
ou estimuladas pelo capital particular. Até a proclamação da república, a maioria das
tentativas de colonização não deu certo, devido principalmente à desorganização
inerente ao sistema de parceria entre o governo e os particulares e à falta de um
financiamento adequado para tal política colonizadora.
28
Aliado a isso, a vinda de imigrantes seria importante para afastar a cobiça dos
vizinhos platinos sobre nosso território e, de alguma forma, amenizar a manutenção do
binômio senhor/escravo.
Em segundo lugar, destaca-se a motivação econômica de atração para o país, uma
vez que, a partir dos anos 40, o café passa a substituir o açúcar como mercadoria de
exportação. Vinculado à ascensão do café, é extinta, em 1888, a escravidão no Brasil,
fato que vem impulsionar ainda mais a necessidade de mão-de-obra no país. Diante
desse panorama, a política imigratória do governo teve de se confrontar com duas
posições: a que tendia a transformar o imigrante em proprietário e a que queria
braços para as plantações de café. “Deste modo, o imigrante podia optar por empregar-
se nas fazendas ou instalar-se nos núcleos coloniais, onde obtinha um lote de terreno
pagável à prestação” (Trento, 1988:27).
Assim, nesse período, observou-se um notável apoio do governo e dos estados no
que tange à imigração, que muitos definiram como estimuladaou “artificial”. Essa
imigração subvencionada encontrou amplo sucesso na Itália, precisamente pelas
vantagens que oferecia:
As facilidades (de modo particular, a viagem gratuita) tiveram a função de tornar concretamente
realizável o êxodo em massa do Vêneto, de proporcionar efetivamente a oportunidade de partir ao
camponês e ao lavrador assalariado, em particular a esse último, que dificilmente teria podido conseguir o
dinheiro para pagar a viagem” (Lazzarini, 1981:292).
Em linhas gerais, essa oscilação política entre, de um lado, o anseio de pequenos
proprietários e, de outro, a mão-de-obra em larga escala, determinou o tipo de emigrante
que procurou o Brasil (Alvim, 2000:385). Contudo, esse fluxo o teria acontecido
dessa maneira, se a Península não apresentasse sérios problemas econômicos pós-1860.
29
A passagem do sistema de produção feudal para o início da produção em moldes
capitalistas criou um forte desarranjo nas relações de trabalho. Os pilares desse
desequilíbrio foram: a concentração de terras nas mãos de poucos agricultores; as altas
taxas de impostos; maior endividamento pelos pequenos proprietários e a necessidade
deles terem de, muitas vezes, vender sua propriedade e se tornar assalariados nas
indústrias nascentes (Alvim, 2000:385).
À medida que se implantava esse processo, um grande excedente de mão-de-obra,
que a industrialização tardia de países como a Itália e a Alemanha não conseguiam
absorver, era liberado na sociedade. Ademais, que se notar também o crescimento
demográfico vultoso que ocorreu na Europa no século XIX – que aumentou a população
européia em duas vezes e meia -, o avanço da tecnologia das máquinas e as difíceis
condições naturais do território italiano.
Se, como sustenta Galli della Loggia (1998:7) o entendimento de uma identidade
italiana perpassa uma compreensão fundamental da posição geográfica e das
características do território desse país, podemos, entre várias outras conclusões,
perceber que o excesso de áreas de montanhas e colinas de cultivo penoso somado a
reduzidas planícies boas para a plantação, foram fatores que contribuíram para que a
Itália se tornasse um país emigratório.
De qualquer forma, entre todos os fatores que explicam uma Itália expulsora, era
“a miséria a verdadeira causa da emigração transoceânica entre 1880 e a Primeira
Guerra Mundial” (Trento,1988:30). A emigração italiana constituiu, assim, um
fenômeno essencial de equilíbrio socioeconômico. De um lado, porque aliviava a
pressão sobre as cidades e a indústria nascente, incapazes de absorver o excedente de
mão-de-obra, e, de outro, porque o dinheiro enviado pelos emigrados afastava a
possibilidade de revoltas sociais (Alvim, 2000:386).
30
Outra análise interessante, para o período da grande emigração, pode ser obtida
por meio dos dados que contemplam a proveniência regional. O componente
Lombardo-Trivêneto, da região setentrional, foi o grupo que mais contribui para a
imigração italiana, pelo menos até os primeiros anos da década de 1890, desmontando,
assim, o estereótipo de que os italianos do sul representavam a maioria dentro desse
contingente (Alvim, 2000:386). Conforme dados apresentados por Trento (1988:39), de
1878 a 1902 os emigrantes setentrionais, compostos principalmente por Vênetos e
Lombardos, representavam 49,9% no total das emigrações para o Brasil.
A análise da proveniência geográfica também mostra que a emigração se
diversifica quanto à composição profissional. Os Vênetos e os Lombardos – grupo mais
representativo da primeira onda migratória constituíam o componente seguramente
camponês, enquanto os meridionais grupo que se tornou majoritário somente após
1898 – emigravam preferencialmente sem família e privilegiavam as ocupações urbanas
(Trento, 1988:60).
Nesse notável êxodo de italianos para o Brasil, muito se falou sobre as péssimas
condições de tratamento que os imigrantes encontravam aqui. Nos vários periódicos de
cunho italiano que se espalhavam pelo nosso território, encontravam-se várias críticas
descabidas contra o governo e particulares, assim como acusações profusas de
legitimidade. Nota-se também a criação de vários grupos oposicionistas ou apoiadores
da emigração dentro da península. Dentre eles, é interessante observar o grupo defensor
do mito da più grande Italia, que preconizavam a formação de fortes unidades étnicas
na terra americana, por meio das quais seriam transmitidas as tradições, a língua e a
cultura italianas (Trento, 1988:57).
No que toca a imigração italiana para o Brasil em relação às destinações regionais,
é clara a preponderância que a região Sudeste e a região Sul tiveram em comparação a
31
outras áreas do país. De fato, localidades do Norte
4
e Nordeste receberam um número
menos expressivo de imigrantes italianos se comparados às duas primeiras regiões
citadas acima. Contudo, apesar da literatura presente sobre imigração italiana no Brasil
normalmente dar pouquíssima ênfase para a imigração no Norte e Nordeste, sabe-se
hoje que houve uma expressiva imigração secundária para a região Norte e que o
turismo italiano para o Nordeste do Brasil vem causando um impacto relevante desde o
início da década de 80. Diante desses fatos, pode-se perceber a complexidade do
quadro que se formou por meio do espalhamento dos imigrantes italianos no território
brasileiro e, consecutivamente, notar a carência de estudos que contemplem os diversos
deslocamentos desses imigrantes, as contribuições feitas por eles e os efeitos dessas
contribuições nas populações as quais se destinaram.
Baseando-se no que foi mais pesquisado, sabemos que, no Brasil, foi a região
Sul Paraná, Santa Catarina e, sobretudo, Rio Grande do Sul a primeira região a
receber imigrantes italianos. A tentativa de trazer imigrantes para a região teve início
em 1840 e, entre 1846 e 1860, 96 colônias forma criadas (Trento, 1988:77). Nessa
época, o governo imperial já sentia a premência de povoar o imenso território brasileiro.
Especificamente as colônias do Sul, se mostravam demasiadamente inabitadas e
poderiam ser uma solução para incrementar as receitas nacionais. Além disso, como se
tratavam de áreas de fronteira, seria fundamental um povoamento marcante e compacto,
a fim de se evitar possíveis investidas de Uruguaios e Argentinos sobre o local.
No entanto, mesmo com o incentivo do governo central e do apoio de particulares
esse processo de ocupação não prosperou. Na visão de Trento (1988:77), as causas
foram múltiplas, mas se destaca entre elas a total carência de capitais e de capacitação
4
Vale ressaltar a existência de números que mostram uma antiga e significativa imigração primária para a
Amazônia durante o ciclo da borracha.
32
para um povoamento daquela envergadura. Isso é facilmente percebido pelo fato de que:
das 96 colônias citadas acima, 66 desapareceram rapidamente sem deixar sinal.
Contudo, a partir de 1875 – data que marca um processo oficial de colonização no
Sul um grande contingente de imigrantes chega à região. È fato que entre todas as
regiões brasileiras, o Sul possuía o clima mais semelhante ao das regiões européias e
com isso favorecia o cultivo dos produtos aos quais os emigrantes estavam
acostumados. que se ressaltar também a presença de imigrantes alemães, que entre
as etnias européias presentes na região, eram muito representativos numericamente.
Devido ao espalhamento dos imigrantes italianos pela região Sul, vários núcleos
coloniais foram criados e eram majoritariamente compostos por italianos. A colônia de
Caxias, por exemplo, em 1898 tinha 25.000 italianos, que perfaziam 9/10 da população
total
5
. De acordo com Trento (1988:95), o que mais chama a atenção no Sul do Brasil é
“a reprodução de um tipo de sociedade vêneta de fins do culo XIX”. Tanto o padrão
arquitetônico, quanto a alimentação, as práticas católicas e o modelo familiar, remetiam
a um padrão típico do interior do nordeste italiano.
Um aspecto interessante de ser analisado é a abundância de dialetos italianos que
foram transplantados para a região Sul. Uma vez que a ocupação do nosso território não
obedeceu a critérios étnico-lingüísticos, percebeu-se a coexistência de registros dialetais
diversos (Frosi & Mioranza, 1975:62). Considerando-se que os imigrantes que se
estabeleceram no Sul provinham majoritariamente de diferentes regiões do Norte da
Itália, Mioranza ressalta que dialetos lombardos, trentinos, friulianos e vênetos foram
transplantados para a região (apud De Boni, 1990:597). Mesmo após a campanha de
nacionalização” – de 1937 a 1945 –, período no qual Getúlio Vargas proibiu o uso tanto
do italiano escrito como das variedades orais no Brasil, a presença dos dialetos italianos
5
Vide FRANZINA, E., Merica ! Merica! Cit., p. 131
33
continuava a ser notada. Ainda assim, segundo Oro, os dialetos se mantiveram e o
“talian” – expressão que designa o dialeto vêneto riograndense
6
- foi sendo construído e
se tornou um dos mais importantes sinais diacríticos de afirmação da identidade étnica
dos descendentes de italianos do Rio Grande do Sul (apud De Boni, 1990:614). Ainda
segundo Oro, em uma pesquisa realizada nos municípios de Nova Pádua e Otávio
Rocha, 89% dos entrevistados afirmaram que podiam tanto falar quanto compreender o
“talian”. Ademais, observa-se nos últimos anos da década de 1980, o ensino formal do
“talian” em algumas escolas municipais da rede italiana do Estado ( apud De Boni,
1990:615). Vale ressaltar, conforme estudos de Mioranza, que na maioria das áreas da
imigração antiga não se fala um dialeto específico, mas uma “koiné” ou fala
supradialetal que foi se impondo paulatinamente (apud De Boni 1990:597). Esse fato
gera grandes conseqüências na região Sul, onde se percebe uma alta taxa de
empréstimos lingüísticos entre os habitantes das antigas colônias de imigrantes.
Mas será sobretudo para o Estado de São Paulo, com um território quase tão
grande quanto à Itália, que se dirigirá a maior parcela da imigração italiana. Segundo
Trento (1988:107), o Estado de São Paulo foi meta de 67% da emigração italiana no
período entre 1889 e 1919, atingindo seu ponto máximo na década de 1900 a 1909, com
79%. Gozando de um vultoso desenvolvimento da lavoura cafeeira e contando com
políticas de imigração mais organizadas e financeiramente mais balizadas, São Paulo
atraiu um contingente imigratório italiano excepcional. Conforme sustenta Alvim
(2000:396), mesmo sem exteriorizações tão marcantes como as que ocorreram em
Caxias do Sul, Farroupilha ou Garibaldi, São Paulo, no fundo, consegue ser mais
6
Segundo R. Costa, O Dialeto do Rio Grande do Sul é um idioma proveniente de vários dialetos italianos
(especialmente vêneto, lombardo, trentino, friulino e piemontês), mas também do italiano e do português.
Trata-se , pois, no Rio Grande do Sul , de uma nova língua (Costa, 1987:384). A questão da classificação
lingüística dos dialetos e do sentido que os mesmos cumprem junto aos descendentes dos imigrantes não
faz, porém, a unanimidade dos estudiosos. Ver, por exemplo, Frosi e Mioranza (1977), Bunse (1977) e
Mioranza (1990).
34
italiana que as localidades meridionais. Dentre as razões que justificariam esse fato,
Alvim (2000:396), sustenta que em São Paulo a tônica impressa pelo café e o cultivo
em propriedades de maiores dimensões acabou disfarçando a imponência dos similares
naquela região.
Além disso, vale ressaltar que os italianos em São Paulo se mostraram vinculados
a vários setores produtivos. Criou-se uma Itália cafeicultora, uma pequeno-proprietária,
uma de trabalhadores da indústria e ainda uma Itália ligada ao setor terciário, onde
comerciantes, costureiras, alfaiates, garçons, músicos, mascates, entre outros, se
tornaram figuras obrigatórias em todas as cidades paulistas.
Apesar das difíceis condições em que muitas vezes os imigrantes encontravam nas
lavouras de cae em outras atividades as quais se propunham a realizar, o imigrante
italiano se destacou, indubitavelmente, na região pela sua capacidade de trabalho”. Os
italianos sempre foram reconhecidos pelo seu dinamismo nas atividades produtivas, fato
que os levou a primeira posição como proprietários de terras e comércio entre o número
total de estrangeiros.
Assim, foi no período da grande emigração, que de fato as regiões brasileiras, com
ênfase para o Sul e Sudeste do país, sentiram mais intensamente o peso da imigração
italiana. A partir dos anos 20, “a emigração da península diminuirá sensivelmente e
sofrerá mutações significativas na composição profissional” (Trento, 1988:282). Devido
ao forte desenvolvimento industrial que o Brasil conheceu durante os anos 30, os
imigrantes que se dirigiam ao país se mostravam mais qualificados e eram conduzidos a
aumentar a crescente indústria brasileira.
No período entre guerras, a porcentagem de italianos que entraram no Brasil caiu
drasticamente. Depois de ter representado 56,9 % entre 1886 e 1900, reduziu-se para
10,6%, entre 1921 e1940 (Trento, 1988:268). Mas foi mesmo nos primeiros anos da
35
década de 40 que o imigrante italiano sofreu as maiores dificuldades em nossa pátria.
Em agosto de 1942, o Brasil declarava guerra aos países do Eixo e as mais variadas
retaliações, como a proibição de se falar italiano aqui e o confisco dos bens, foram
sentidas pelos italianos.
Após o fim da guerra, observa-se novamente um crescimento da emigração
italiana para o Brasil, principalmente após 1950. O fluxo poderia ter sido mais
consistente, não fosse a manutenção do bloqueio dos bens dos imigrantes e os diversos
pedidos de indenização exigidos pelo governo brasileiro. A Itália, entretanto, continuava
a figurar em segundo lugar como fornecedora de força de trabalho para o Brasil (Trento,
1988:408). Cabe ressaltar que, se as cifras de imigrantes foram muito inferiores àquelas
alcançadas, o perfil do imigrante italiano que se dirigia para o nosso país foi muito
diferente. Nesse período a imigração destinava-se potencialmente aos centros urbanos,
era de cunho espontâneo e os imigrantes procuravam se inserir como força produtiva
dentro de setores onde tinham dotes profissionais. Dessa forma, visto à instável situação
política e econômica da Itália no pós-guerra, a imigração para o Brasil foi percebida
novamente como uma alternativa. Cabe ressaltar, como coloca Andrade, que nesse
período as universidades brasileiras adotavam uma política de ampliação dos quadros de
professores em busca da valorização do ensino e da tecnologia e a chegada de italianos
aqui foi substancial para o desenvolvimento desses segmentos (apud De Boni,
1990:110).
2.3 Os italianos e o Estado de Minas Gerais
A imigração de italianos para o Estado de Minas Gerais é considerada a ‘terceira’
em ordem de importância no Brasil, somente ficando atrás da região Sul e do Estado de
São Paulo (Trento, 1988:100). Contudo, ao contrário dessas duas últimas regiões, o
36
cenário que se apresentou em Minas com a imigração revela um molde diferente e sofre
com a carência de dados concretos, dificultando o pesquisador a compreender e esboçar
sua dimensão. Além disso, potencializando essa dificuldade, Fazito
7
argumenta que
Minas Gerais possui a singularidade, que remonta ao período da extração de ouro e
diamante no século XVIII, de ser um ‘território de passagem’. Ele acrescenta que, ainda
hoje, Minas está entre os três estados do Brasil com a maior dinâmica e dispersão
migratória interna (Fazito, 2001:11).
De qualquer maneira, apesar da escassez dos dados e de algumas estatísticas que
parecem o contemplar muitas entradas no estado, é necessário o estudo da imigração
aqui, a fim de se suprir essa notável carência e desvendar a conjuntura atual dos
descendentes italianos que vivem em Minas.
O período compreendido entre o início da república e a revolução de 1930 é o de
maior significado para a imigração e colonização em Minas Gerais (Monteiro, 1973:10).
Sabe-se que Minas foi o estado com o maior contingente de população escrava do país
e, naturalmente, esse contigente foi sendo substituído pelo trabalhador livre, muitos dos
quais, imigrantes italianos. Foi a grande lavoura do café penetrando em terras da zona
da mata e do Sul, que lançará o estado no mercado internacional.
A adaptação ao novo processo produtivo não foi fácil. Além da técnica precária e
da falta de capital para investimentos, a província era central, isolada, distante dos
pontos exportadores, servida por vias de comunicação escassas e transportes deficientes
(Monteiro, 1973:13). O impulso da lavoura cafeira só se dará, no entanto, com o
aparecimento das ferrovias que, modificando fundamentalmente o transporte, irá causar
repercussão na economia do estado.
7
Dimitri Fazito, prof. da UFMG em comunicação pessoal no 3º Seminário sobre Imigração Italiana. Juiz
de Fora, out/2007
37
A partir da segunda metade do século XIX, enquanto São Paulo adotava o sistema
de parceria, Minas, refletindo a política do governo do império, volta-se para a iniciativa
de atração de imigrantes por meio da criação de núcleos coloniais. Da parceria entre
governo, província e particulares foram constituídos núcleos coloniais que se situavam,
preferencialmente, às margens de ferrovias e de estradas de rodagem em construção.
Segundo Monteiro (1973:17) “propunha-se o governo chegar a dois resultados: mão-de-
obra disponível e povoamento de Minas, através da contribuição estrangeira”.
Não obstante a preocupação do governo provincial, a política de povoamento em
Minas, através de colônias, passou por várias fases e, por um bom tempo, pode ser
considerada modesta. Havia uma clara falta de preparo tanto da iniciativa pública
quanto da iniciativa privada. Muitas vezes, a falta de recursos financeiros e a inabilidade
para transformar o novo operário em força produtiva em meio ao grande latifúndio,
levava à ineficiência das políticas imigrantistas.
Contudo, é com a abolição da escravatura em 1888, que a parceria entre governo e
particulares se faz notar com maior relevo. A inauguração de uma nova política
aconteceu com a fundação em Juiz de Fora, da Associação Promotora de Imigração. A
partir daí, foi criado nos municipios de São João Nepomuceno e Mar de Espanha, o
Centro Mineiro de Imigração e o Centro Municipal de Imigração.
Em 1894, o Presidente Bias Fortes, criava o cargo de Superintendente do Serviço
de Imigração de Minas na Europa, nomeando o senhor David Campista para ocupá-lo
(Monteiro, 1973:69). A sede da superintendência foi fixada, inicialmente, em nova,
não por ser somente importante porto emigratório europeu, mas por ser a Itália a maior
fornecedora de homens para o estado. A primeira medida tomada pela superintendência
foi a de veicular as vantagens oferecidas pelo Estado de Minas nos diversos jornais
italianos, inclusive com a distribuição de um folheto intitulado Lo Stato di Minas
38
Gerais Brasile” Informazioni utili agli Emigranti, Operari e Capitalisti (Monteiro,
1973:95). Era a prosperidade econômica no início da república, que fez com que do ano
de 1895 para o ano de 96, a imigração no estado aumentesse mais que o triplo.
Em 1893, era determinado pelo Congresso Mineiro, num prazo máximo de quatro
anos, a mudança da capital de Ouro Preto para Belo Horizonte e tal medida estimulou as
autoridades e os particulares a manter os investimentos nas políticas imigrantistas.
Segundo Monteiro (1973:76), “foi a corrente italiana a que mais se impôs em
Minas”. O imigrante italiano era considerado excelente trabalhador e realizava bem
tanto a função de operário quanto a de colonizador da área a ele destinada. A
preponderância dos italianos era tanta, que, num relatório das autoridades do Serviço de
Terra e Colonização, o governo aconselhava que se evitasse o exclusivismo dessa
nacionalidade na imigração, temendo ameaças à soberania nacional.
No entanto, entre 1894 e 1897, fase áurea da imigração, entraram em Minas
Gerais 65.153 italianos para um total de 70.817 imigrantes
8
. Com o crescente aumento
das correntes imigratórias, o governo decidiu centralizar a entrada de imigrantes na
hospedaria Horta Barbosa em Juiz de Fora. Inaugurada em maio de 1889, a hospedaria
passou os primeiros cinco anos muito carente do investimento governamental. Foi
apenas em 1894, que a hospedagem recebeu uma nova reestruturação. De acordo com
Monteiro (1973:103), “além de um administrador, foram incluídos médicos,
farmacêuticos, enfermeiro, intérprete, porteiro e dois guardas”. Aliado a entrada desses
profissionais, a hospedaria era obrigada a realizar a matrícula dos imigrantes e a
controlar todas as movimentações de entrada e saída em registros oficiais.
Por outro lado, apesar de um maior investimento na hospedaria desde 94, dois
graves problemas assolaram o local. O primeiro se relacionou à disseminação de
8
PRATES, Carlos. Ouro Preto, Imprensa Oficial.
39
epidemias e doenças entre os internos; e o segundo se referiu à entrada de criminosos e
partidários do anarquismo. Esses problemas resultaram em enorme preocupação para o
governo e prejudicaram, de certa forma, a imigração para o estado.
Entretanto, foi em 1895 que a crise do ca abalou a política imigrantista para
Minas Gerais, que recuperará novamente seu curso – mesmo que bem inferior ao
período de 1892 a 1898 somente em meados de 1907. Nesse período, continuava
necessária a presença do imigrante aqui, agora com o intuito de não só atender à lavoura
e ao povoamento das terras devolutas, mas também de servir de mão-de-obra para a
indústria nascente.
Diante desse quadro, o Estado, a União, a iniciativa particular e empresas de
viação, estimularam novamente a imigração para o estado. Inclusive o governo ofereceu
lotes, sem ônus, para fomentar o casamento entre estrangeiros e nacionais. que se
ressaltar que foi insignificante a imigração espontânea em Minas, tendo ela sido
majoritariamente subvencionada em todos os períodos (Monteiro, 1973, p.77).
A criação de núcleos coloniais e a concessão de terras devolutas foram alternativas
para fixar o imigrante em solo brasileiro. Todavia, devido a um conjunto de regras que
impedia que o colono se tornasse efetivamente dono da terra e à incapacidade do
governo de utilizar as terras em benefício do desenvolvimento econômico do estado
(Monteiro, 1973:163), os resultados dessa nova fase da política imigratória podem ser
considerados modestos. Mesmo assim, foram confirmadas as criações de 29 núcleos
coloniais até o ano de 1930.
Pode-se perceber dessa forma, que muito se vislumbrou nas políticas imigrantistas
do estado, muito capital e esforços foram empregados pelo governo e também por
particulares; no entanto, parece-nos ficar a impressão de que pouco resultado foi obtido
em cotejo aos grandes investimentos. Apesar de ser evidente que a entrada do imigrante
40
deixou marcas indeléveis na vida regional, nos traços de comportamento, nas técnicas
de trabalho e na própria constituição étnica do povo mineiro, as políticas imigratórias
em Minas Gerais, que foram tão expressivas nas legislações no seu caráter quantitativo,
não conseguiram obter o sucesso de retenção de outras partes do país.
2.4 A construção da nova capital
A cidade de Belo Horizonte foi erigida sob a égide de um projeto modernizante,
liderado pelas elites que acabavam de instaurar o regime republicano no Brasil. A
transferência da capital para o antigo Arraial do Curral Del Rey, deveria ser o símbolo
de uma nova configuração sócio-política, deixando para trás os traços do império que se
incrustavam na velha Ouro Preto. Dessa forma, a idéia que sustenta a criação da cidade
se coloca em alinhamento com as concepções positivistas da época, na qual a
racionalização e homogeneização do espaço urbano eram buscadas com rigor.
Diante desse panorama, chegava-se ao período das construções e era necessário
reunir mão-de-obra em número suficiente e que apresentasse qualidade para a execução
das obras. Nos primeiros meses dos trabalhos da comissão construtora, algumas
medidas tomadas pelo Dr. Aarão Reis conseguiram remediar a falta de operários, mas
pouco tempo depois, a 12 de agosto de 1895, o Dr. Francisco Bicalho se viu obrigado a
dirigir à Secretaria da Agricultura o seguinte ofício:
“Tendo os serviços incumbidos a esta Comissão entrado na época de maior desenvolvimento e sendo
evidentemente insuficiente o número de trabalhadores que atualmente procuram esta localidade, tomo a
liberdade de lembrar a V. Exª a conveniência de estabelecer aqui uma hospedaria de imigrantes, fazendo a
Inspetoria de Terras e Colonização dirigir para ela principalmente imigrantes solteiros, que queiram
dedicar-se a serviços por salários (...)”.
41
Deferido o pedido, foi iniciado o serviço de imigração para Belo Horizonte com a
construção da primeira hospedaria na cidade, que, depois de muita discussão no que
aludia a sua localização, foi acomodada em lote próximo à margem da linha férrea
provido de água abundante e de boas condições de salubridade (Barreto, 1936:398).
Contudo, devido ao encaminhamento de uma quantidade vultosa de imigrantes
para a cidade, a antiga população do arraial foi afastada de suas moradias e os
imigrantes encaminhados para núcleos coloniais na região suburbana da cidade, com
condições que nada se assemelhavam às da primeira hospedaria. Foram criados, assim,
cinco núcleos coloniais na perifeira da cidade, sendo eles: “Carlos Prates”, “Afonso
Pena”, “Ámerico Werneck”, “Bias Fortes”, além do núcleo do “Barreiro” que veio a ser
fundado pouco depois.
Nesses núcleos encontravam-se imigrantes de várias nacionalidades européias,
mas com predominância absoluta de elementos italianos. Apesar da falta de registros
exatos sobre a entrada desses grupos na cidade de Belo Horizonte ser um fato
indiscutível e lamentável, segundo dados do Consulado da Itália em Belo Horizonte,
47.000 italianos chegaram à cidade entre 1894 e 1901, representando, assim, 90% de
todos os imigrantes que aportaram aqui nesse período e, de forma impressionante,
representavam também parcela majoritária na própria população da cidade. Segundo
dados presentes em estudo feito pela Fundação João Pinheiro (Belo Horizonte & O
Comércio, 1997:45), a população de Belo Horizonte na sua inauguração, em 12 de
dezembro de 1897, era de 12.000 habitantes. Cabe salientar que, diferentemente da
presença italiana no sul do país, em Minas predominou a incorporação dos núcleos
pelos centros consumidores. Desse modo, com o crescimento urbano, as cidades
passaram a absorver os núcleos situados na sua periferia, haja vista a capital, que
42
constitui os bairros: Carlos Prates; Horto; Santa Efigênia; Lagoinha; entre outros, a
partir de antigas colônias.
Os imigrantes italianos que chegaram à cidade eram, em sua maioria, provindos da
região Sul da Itália. Esse fato é interessante de ser apontado, uma vez que existia uma
clara diferenciação entre a inclinação funcional dos italianos setentrionais e meridionais.
Como sublinha Trento (1988:60), os italianos provindos do sul emigravam
preferencialmente sem família e privilegiavam as ocupações urbanas, envolvendo-se
potencialmente com o artesanato, com comércio e com as construções nas cidades.
Essa grande massa de italianos além de contribuir sobremaneira para a construção
da cidade formou grupos de profissionais liberais de enorme importância para os
serviços prestados na nova capital. Segundo ressalta José Paulo das Neves em seu
estudo sobre a presença italiana em Belo Horizonte de 1894 a 1907, na lista dos
impostos de indústrias e profissões de 24 de abril de 1898, entre os oito arquitetos
desenhistas registrados, quatro eram italianos. O único bombeiro e os três funileiros
eram cidadãos italianos. Dos vinte três botequins da cidade, doze pertenciam a italianos
(...)”.
No que toca às obras arquitetônicas em Belo Horizonte, sem sombra de dúvida,
faz-se necessária uma menção ao legado artístico que o arquiteto italiano Raffaello Berti
deixou em nossa cidade. É patente em sua obra a presença da cultura arquitetônica
italiana do início do século: a manutenção de um classicismo vigoroso aliado a uma
abertura ao modernismo crescente (Fonseca, 2000:20). Via-se em Berti uma admirável
sintonia entre tradição e modernidade. E foi com esse equilíbrio artístico de mesclagem,
que ele marca a configuração da capital mineira com mais de 500 projetos. Entre eles: a
sede do Minas Tênis Clube, a Santa Casa de Misericórdia, o prédio da Prefeitura, o
colégio Marconi e o prédio da reitoria da UFMG.
43
O que se observa é que nas mais variadas ocupações profissionais o grupo italiano
era destaque, fato que levou esse grupo a instituir as primeiras formas de organização de
trabalhadores da capital. Assim, nasce a Sociedade Operária Italiana de Beneficência e
Mútuo Socorro em 1897, que, somada a idéia de ser um veículo de proteção aos
interesses dos italianos aqui, também representava uma unidade de instrução intelecto-
moral na cidade, haja vista a manutenção pela associação da Scuola Coloniale Italiana
na capital.
A presença do que poderíamos chamar de uma “colônia” italiana na cidade
também é fortificada pela criação de jornais em língua italiana que circulavam por todo
o distrito. O Operario, Un Fiore, Il Martello e La Voce del Cuore, foram alguns dos
jornais que representaram os ideais de uma imprensa italiana na cidade. Ainda que,
como salienta Costa (2005:18), muitos dos exemplares tenham tido uma vida curta, eles
se mostram fundamentais para compreendermos a inserção do grupo italiano nas
relações sociais nascentes na capital. Aqui, vale uma referência também a fim de
contribuir mais para a compreensão da importância do componente italiano na cidade
à fundação do colégio Marconi por imigrantes italianos ligados os movimento
integralista. Essa instituição, por mais de 30 anos, foi símbolo de qualidade na educação
e foi freqüentada pela elite intelectual belo-horizontina.
Tal inserção era tão forte, que algumas curiosidades podem revelar-se muito
significativas. Segundo Neves, o jantar comemorativo da inauguração da capital,
ocorreu no restaurante italiano La Stella di Italia” e o primeiro casamento civil e o
primeiro crime registrado na cidade envolviam imigrantes italianos. Além disso, como
coloca Biasutti (2003:88), nosso hino oficioso, Ó Minas Gerais, é estruturado sobre a
melodia de uma canção napolitana.
44
Ainda refletindo sobre a influência da cultura italiana em Minas Gerais, Biasutti
(2003:184) acrescenta que não deixa de ser curioso notarmos que a pérola da arquitetura
barroca em São João del-Rei, tenha sido dedicada a São Francisco de Assis; que o
grande marco da Belo Horizonte moderna, a igrejinha de São Francisco, tenha em seu
retábulo a figura disforme mais imponente e grandiosa do mesmo santo italiano; e que,
talvez por algum mistério do destino, o grande rio genuinamente brasileiro em cuja
bacia repousam Belo Horizonte e mais de um terço do território mineiro seja
igualmente nomeado São Francisco.
Cabe ressaltar que, impulsionada por essa grande representação italiana na cidade,
observa-se um temor quanto aos pensamentos anarquistas e socialistas muito difundidos
entre a massa operária italiana naquela época. Havia também o temor de que a
superioridade numérica desse grupo nacional pudesse levar à insubordinação e à
desordem, assim como pudesse ameaçar uma organização nacional brasileira.
Entretanto, ainda que se confirmem expressivos números de procurados políticos
italianos junto a pesquisas em andamento que investigam os arquivos do DOPS em
Minas Gerais, não se pode sustentar que o imigrante italiano tenha criado problemas em
sua participação na cidade. Ao contrário, Monteiro (1973:143), nos revela que “de todos
os movimentos, foi o anti-italiano o de menor expressão. Soube o italiano evitar
resistências diluindo-se ou adaptando-se aos ambientes brasileiros com grande rapidez,
o que não aconteceu com as demais nacionalidades”.
Contudo, ainda que saibamos da imensa contribuição do grupo italiano na
construção de Belo Horizonte, fica-nos a sensação clara de que a inserção italiana na
cidade apresentou um caráter extremamente peculiar. Se hoje é facilmente identificável
na cidade, por exemplo, uma construção cuja arquitetura remeta aos padrões italianos,
carecemos de um monumento, de um nome de rua ou praça que lembre à população da
45
cidade os trabalhadores que aqui, principalmente, labutaram. Não que o existam
marcas. Elas estão por todos os lugares, mas talvez mais enconsas do que em outras
partes do país. Talvez isso ocorra porque a diluição do imigrante com o nosso povo
tenha ocorrido na mais alta proporção e justique as palavras do historiador Anísio
Ciscotto Filho, quando ele sustenta que: “os italianos se tornaram muito mais brasileiros
em Minas Gerais do que em qualquer outro Estado do Brasil”.
9
2.5 Minas e Itália – parceria que se destaca
No que concerne ao estado de Minas Gerais, a relação com a imigração italiana é
peculiar. Em nosso estado, o ocorreu a formação de “pequenas itálias”, como se
observa no estado de São Paulo e em localidades no sul do país. Entretanto, baseado em
dados do Arquivo Público Mineiro de Belo Horizonte, constatamos que, de 1898 a
1926, 38 núcleos de imigração italiana foram fundados no estado, com ênfase para a
cidade de Barbacena, cujo desenvolvimento se deu a partir de um desses núcleos de
colonos italianos.
Sobre esse aspecto, o historiador Emilio Franzina ressalta que, em números
absolutos, Minas Gerais foi o segundo estado brasileiro a receber o maior número de
imigrantes italianos
10
, o que nos possibilita perceber que: se a distribuição italiana no
estado é menos visível, longe está de ser considerada menos significativa.
Além disso, observa-se que a relação de Minas Gerais com os italianos se iniciou
anteriormente a qualquer outro estado do Brasil, principalmente pela penetração
precursora no interior do estado de um grande número de missionários capuchinhos - já
9
NETO, Anísio Ciscotto. Em comunicação individual no 3º Seminário sobre Imigração italiana em MG.
10
Dado apresentado pelo historiador Emilio Franzina no 2° Seminário sobre Imigração Italiana.
Brabacena, out/2006.
46
citados anteriormente - no culo XVIII. Aliado a isso, observa-se também um aspecto
diferenciado da imigração italiana para Minas, posto que os imigrantes que se dirigiram
para nosso território apresentavam um nível sócio-cultural relativamente mais alto do
que aqueles que migraram para outros pontos do país. Segundo Neves, muitos deles -
principalmente os que se dirigiram para a capital - se quer passaram pelas hospedarias e
núcleos e vieram se fixar direto no centro urbano da cidade.
Após 1907, quando o concluídos por completo os trabalhos de edificação da
capital, a imigração italiana que se dirigia ao estado se reduz drasticamente. Somente
depois da Segunda Guerra Mundial, poderá ser notada uma elevação dos números, mas
que nem de longe se aproximam do montante observado durante o final do século XIX.
Contudo, a partir dos anos de 1970, se observa um tipo diferente de imigração
italiana para Minas Gerais, especificamente para a Grande BH. É um tipo de imigração
ligada ao processo de internacionalização das empresas estrangeiras e sua subseqüente
procura por mercados emergentes. De acordo com análise do cônsul Alberto Pieri
(Ambasciata D’Italia:113), “talvez (o movimento) não seja muito relevante do ponto de
vista quantitativo em respeito aos movimentos migratórios precedentes, mas certamente
significativo pelo impacto gerado na região”
11
.
Diante disso, hoje podemos dizer que Minas Gerais oferece o modelo mais
original e de maior sucesso para a expansão da parceria da Itália com o Brasil, tendo se
transformado no segundo pólo industrial brasileiro após a chegada do Grupo Fiat e de
outras empresas internacionais.
A intensa atividade do grupo Fiat no estado, que é composto pelas empresas: Fiat
Automóveis; Iveco; Case New Holland; Teksid; Magneti Marelli; Cofap; Comau; FPT
Powertrain Technologies; entre outras, contribuiu para motivar a vinda de cerca de 130
11
(...) forse non molto rilevante dal punto di vista quantitativo rispetto ai movimenti migratori
precedenti, ma certamente significativo per l’impatto avuto nella regione (...)
47
outras empresas para o estado, onde cabe ressaltar a presença da Telecom Italian Mobile
(TIM-MAXITEL), que é a operadora de telefonia celular mais abrangente nos
municípios mineiros.
Por meio do gráfico abaixo
12
, percebemos que a Itália é nosso segundo parceiro
econômico depois dos Estados Unidos. O grupo Fiat, maior consórcio industrial da
Itália, tem em Betim, região da Grande BH, a maior fábrica de automóveis Fiat fora da
Itália e a maior da América Latina. Ao todo, o 18.500 trabalhadores que geraram no
ano de 2005 um faturamento de 13,1 bilhões de reais
13
. Somado a isso, no final de 2007,
o Grupo Fiat e o Governo do Estado assinaram investimentos de 5 bilhões de reais até o
ano de 2010.
GRÁFICO 1
RANKING DELLE PRINCIPALI ORIGINI DELLE
IM PORTAZIONI DI MINAS GERAIS - 2006
12
Dados fornecidos pelo sistema FIEMG/FAEMG a Câmara de Comércio Italo-Brasileira de MG
13
Dados de http://www.fiat.com.br/br/afiat/perfil_apresentacao.jsp
http://www.fiat.com.br/br/afiat/grupofiat.jsp e http://www.fiat.com.br/br/afiat/fabrica_apresentacao.jsp
48
O conjunto de projetos anunciados no final do ano passado, o maior da história do
grupo Fiat no Estado, foi saudado pelo governador Aécio Neves como um fato histórico
na consolidação do parque industrial de Minas, com a forte expansão do seu pólo
automobilístico e efeitos multiplicadores não apenas na cadeia produtiva do setor, mas
em toda a economia. Ele enfatizou ainda que o aumento da capacidade produtiva da Fiat
e as demais expansões produtivas irão atrair mais qualificação para o Estado, com a
conseqüente elevação da renda e da qualidade de vida.
14
Aliada à expressiva receita que essas cifras refletem para Minas, a empresa ainda
exerce um papel muito importante no patrocínio de atividades sociais, culturais e
educacionais no Estado.
A Fundação Torino da Fiat, instituto bicultural localizado em Nova Lima, age no
sentido de ser referência no ensino da língua e cultura italiana, se propondo a veicular
uma imagem moderna da Itália e ser ponto de encontro entre as duas culturas. Desde
1992, a Fundação deixa de ser uma escola puramente italiana e passa a ser bicultural,
com reconhecimento oficial pela Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais e
pelo governo da Itália. No mesmo ano, começa a oferecer a escola materna, para
crianças até cinco anos, com formação bilíngüe. Ademais, um protocolo de colaboração
técnico-científico com a Universidade de Perugia é assinado no mesmo ano com a
Fundação para aplicação dos títulos de proficiência no idioma Celi III e Celi V.
Atualmente, a Fundação Torino possui 820 alunos inscritos nos níveis regulares de
educação e mais outros 500 alunos inscritos no Centro de Língua e Cultura. Desses
alunos apenas 20% possuem alguma ascendência italiana, fato que nos revela a grande
influência cultural italiana em nossa cidade. Além disso, a Fundação contribui com
14
Disponível em: http://www.fiatpress.com.br/fiatpresssite/Release/Release.aspx?Codigo=574. Acesso
em 22/01/2008.
49
várias instituições dando apoio material e oferecendo o conhecimento pedagógico de
que dispõe.
Ainda no que remete à influência do Grupo Fiat em áreas que fogem ao setor
econômico, cabe salientar: a inauguração da “Casa Fiat de Cultura” em Belo Horizonte;
o Projeto Árvore da Vida em Betim onde é realizado um amplo conjunto de ações
voltadas para o desenvolvimento humano, social e econômico da comunidade; o
programa esportista cidadão em parceria com a PBH e ONGs - ; e o amplo incentivo
ao esporte por meio do patrocínio de atletas individuais, assim como das equipes de
futebol do Cruzeiro, Atlético, Ipatinga, Vila Nova e da equipe de vôlei do Minas nis
Clube.
Assim, diante de um panorama que contempla tanto as influências italianas à
época das imigrações para a América como as expressões contemporâneas da
italianidade em nosso estado, por meio da forte relação Minas-Itália, é que se baseia este
trabalho. Nosso objetivo é compreender o elo fluído que parece haver entre os
habitantes de BH e os símbolos italianos. Pretende-se, desse modo, um melhor
entendimento dos traços de italianidade que se revelam nas representações de um grupo
de comerciantes da cidade, tendo como foco os nomes de seus estabelecimentos
comerciais.
50
Capítulo III Metodologia e apresentação dos dados
3.1 Participantes e o contexto da pesquisa
Esta pesquisa se norteia pela categoria metodológica da “pesquisa de
levantamento de dados”. O presente estudo almeja a realização de um levantamento de
nomes de estabelecimentos comerciais da cidade de Belo Horizonte que possuem
significante ou componente de significante em língua italiana.
Os participantes da pesquisa são os proprietários desses estabelecimentos
comerciais, os quais receberam questionários com o intuito de levantarmos dados para
quantificação e descrição de suas motivações. O objetivo é alcançarmos uma maior
compreensão das motivações identitárias ou pragmáticas que os levaram a atribuir um
nome italiano para suas lojas.
A principal região em que ocorreu a pesquisa foi a zona que compreende a
Savassi e algumas regiões adjacentes. Em princípio, objetivou-se neste trabalho
restringir a área apenas ao bairro da Savassi, contudo, depois de parte da coleta de
dados realizada, percebeu-se que algumas ruas e avenidas que se situam adjacentes à
região referida parecem ser “um prolongamento comercial dessa região” e possuíam
um número expressivo de ocorrências. Dessa forma, foi utilizada na coleta de dados
uma inclinação preferencialmente “comercial” a uma orientação estritamente
geográfica”. De qualquer maneira, é importante deixar claro que as adjacências as quais
me referi anteriormente, não excedem, em nenhuma direção, a 400 metros do limite
geográfico do bairro. Isso significa que, utilizando um raciocínio aproximado, a busca
foi estendida em pontos do bairro em, no máximo, 4 quarteirões. Isso posto, optarei
doravante a me referir a essa região apenas como Savassi.
51
Observa-se que a escolha desse bairro localizado na região Sul de Belo Horizonte
como foco deste estudo, o foi aleatória. Nesta pesquisa, parte-se do pressuposto que,
pela região da Savassi ser um centro comercial e de atração sócio-cultural da cidade,
ela congregaria o acesso de pessoas com maior padrão econômico, e acreditamos,
assim, que as possibilidades de contato dessas pessoas com uma língua estrangeira são
mais fortes e plausíveis do que em outras regiões da cidade. Além disso, pelo fato da
região ser freqüentada preferencialmente pelas classes A e B da sociedade belo-
horizontina, acredita-se que os comerciantes alvos desejem transmitir nesse local a
sensação de estarem oferecendo um produto ou serviço similar a de um
estabelecimento italiano.
que se expor que na região da Savassi foram realizados dois tipos de coleta: o
primeiro no qual se buscou identificar os nomes dos estabelecimentos que possuíam
significante total ou parcial em italiano e, uma segunda coleta, que focou dois
shoppings da região, com o intuito de se comparar a porcentagem de nomes italianos
com a porcentagem de nomes em outros idiomas.
Além disso, foi realizado também um levantamento de nomes num bairro de
periferia, situado na região Oeste de BH, a fim de percebermos se a quantidade de
ocorrências encontradas e os aspectos de italianidade veiculados se comparam à região
da Savassi. Diante disso, para essa comparação, foi escolhido o bairro do Barreiro, uma
vez que essa região possui três atributos fundamentais para o cotejamento: em primeiro
lugar, se situa numa região na qual o poder aquisitivo das pessoas é bem mais baixo
que o da Savassi; em segundo lugar, também se configura como um centro de
referência comercial da cidade e, por fim, é um bairro que caracteristicamente recebeu
imigrantes italianos no período da construção da cidade, inclusive tendo um núcleo
colonial com o mesmo nome. No caso do Barreiro, essa busca o foi tão extensa
52
quanto a da Savassi, limitando-se à avenida Sinfrônio Brochado principal avenida
comercial do bairro – e ao Via Shopping – shopping de referência comercial da região
Ademais, após a coleta dos dados da região comercial compreendida pela Savassi
e pelo Barreiro, decidiu-se realizar uma outra coleta. Essa coleta se configurou de
forma randômica em pontos diversos da cidade e objetiva demonstrar o relevante
espalhamento dos nomes italianos em estabelecimentos comerciais ao redor da cidade,
assim como contribuir para o aumento da base de dados que serão utilizados nas
análises lingüísticas propostas.
3.1.2 Método de coleta de dados
Esta pesquisa contou com três métodos de coleta de dados:
1) O mapeamento
O mapeamento teve como objetivo realizar um inventário dos nomes dos
estabelecimentos comerciais que possuem significantes em italiano, totais ou parciais,
nas regiões mencionadas acima e também verificar a incidência desses nomes na cidade.
Uma dificuldade inicial que se colocou para esta pesquisa ocorreu exatamente nessa
etapa. Em um primeiro momento, buscou-se o levantamento desse inventário de nomes
pelas páginas amarelas do catálogo telefônico da cidade. Contudo, tal empreitada não se
apresentou bem sucedida, posto que mais de 60% das ocorrências não eram
referenciadas nesse veículo de consulta. O segundo passo adotado, consistiu no contato
com a Câmara de Diretores Lojistas de Belo Horizonte (CDL), vislumbrando-se a
análise de um banco de dados digitalizado que enumerasse os nomes das lojas das
referidas regiões. De fato, a entidade possui esse banco de dados, entretanto, assim
como em muitas ocorrências das ginas amarelas, a referência da loja é dada pela
“razão socialdo estabelecimento e não pelo nome fantasia da loja. Diante disso, uma
53
vez que o nosso foco o os próprios nomes fantasia das lojas, a única alternativa foi
mesmo visitar pessoalmente cada logradouro inserido nas regiões e realizar a anotação
de todos os significantes que se incluíam no nosso escopo investigativo.
2) A aplicação de questionários
A aplicação dos questionários aos proprietários das lojas teve como objetivo a
eliciação de aspectos que nos levassem a compreender as motivações que os
conduziram para a escolha dos nomes. Optou-se por um questionário misto – composto
por questões abertas e fechadas – a fim de que esse permitisse tanto a quantificação das
respostas, como a possibilidade dos respondentes terem mais liberdade para expor seus
pensamentos, julgamentos, impressões, crenças e interações. Foi ponto assentido no
começo do processo, que o pesquisador estaria junto aos respondentes durante o
momento de preenchimento das respostas. A idéia objetivava fomentar um maior
comprometimento e completude das respostas por parte dos proprietários. Todavia, tal
objetivo foi alcançado em não mais do que cerca de 25% dos questionários, uma vez
que era enorme a dificuldade de se achar os proprietários nas lojas. Muitos deles
possuíam outras atividades profissionais e passavam pela loja em momentos
esporádicos. Já os outros que permaneciam mais constantemente nos estabelecimentos,
muitas vezes se encontravam no atendimento a clientes ou pediam um prazo para o
preenchimento das respostas. Sendo assim, a solução encontrada, não menos
trabalhosa, foi a de deixarmos os questionários nas lojas na expectativa de uma
devolução posterior. No capítulo V, os questionários serão discutidos de forma
aprofundada e uma cópia do modelo apresentada será em anexo.
54
3) Diário de campo
Esse método de coleta de dados tinha por objetivo reter informações e detalhes
relevantes extraídos durante a aplicação dos questionários. De qualquer forma, apesar
dos obstáculos colocados acima, ainda foi possível registrar informações que puderam
enriquecer a análise dos questionários.
3.2 Plano de análise de dados
3.2.1 Apresentação dos nomes levantados
Após a busca pela região da Savassi foram elencados os 145 nomes de lojas citados
abaixo:
QUADRO 1: Nomes da região da Savassi
15
1
Adesso & Domani
2
Alessa gelato & caffè
3
Alessandra Bartolozzi
4
Allegra
5
Allegra Recreação Infantil
6
Allegria Artigos Femininos ltda
7
Amadeu Scarpelli
8
Animale
9
Arezzo
10
Avanti Carpetes
11
Bambino Moda Jovem e Infantil ltda
12
Bel Paoliello
13
Bella Carne
15
Cabe ressaltar que a busca das lojas mencionadas neste quadro foi realizada entre feveiro de 2007 e
março de 2008. Após esse período, nota-se que algumas delas foram fechadas. Contudo, outras lojas com
nomes italianos surgiram na região analisada mantendo um equilíbrio numérico ao que é apresentado
aqui.
55
14
Bella Carta
15
Belle Saúde e Beleza
16
Bonatto Banheiros e Acessórios
17
Bruschi Cabeleireiros
18
Buona Restaurante & Lanchonete
19
Buona Tavola
20
Caffè Vitruvio
21
Capelli Salão de Beleza
22
Capezio
23
Cappuccini
24
Casa Bonomi
25
Casitta Lancheteria Ltda
26
Chianelli
27
Comini Fasano
28
Condotti Viagens e Turismo Ltda
29
Cozinella
30
Creato Oficina de Roteiros Ltda
31
Cristalli
32
Detagli
33
Dettaglio
34
Differenza
35
Divina Scarpe
36
Donatelli
37
Donna [moda feminina]
38
Donna [salão de beleza]
39
Fabbrica spaghetteria
40
Fantini presentes
41
Fatali
42
Fatalita
43
Fioretto Sorvetes
44
Galliggiare
45
Gelatto
46
Geração Bella
47
Germinare Homeopatia
48
Giò Parrucchiere
49
Ibizza Calçados
50
Ideale Calçados
51
Il Pane
56
52
Impellizieri Móveis de Escritório
53
In fatto
54
Inovarti Soluções em Informática
55
Inovatto Atelier de Bolsas e Calçados
56
L’acqua di Fiori
57
L’uomo (Made in Italy)
58
La Casa di Irene
59
La Luna Calçados ltda
60
La Perla
61
Lanchonete e Caffe della Pepina
62
Lazio
63
Linea D'oro
64
Loja Probel Dormire
65
Lumini Adornos e Presentes
66
Marcato (móveis)
67
Marietta
68
Mattiello’s buffet
69
Milano
70
Minerale Projetos e Consultoria
71
Modo di Vivere
72
Morini
73
Mulino Pizzeria
74
Oggi Ind. Com. Ltda
75
Organizzata
76
Originalle
77
Ornare
78
Panetteria Padaria e Lanchonete
79
Papelaria Picoli
80
Pappone self-service massas
81
Permanenza
82
Persona cabeleireiros
83
Pieta Tatuagem e Body Piercing
84
Piú Belle
85
Più Pizza & Birra
86
Pizza Pazza
57
87
Pizzaria La Traviata
88
Pizzaria Pomodori
89
Portante
90
Portobello Shop
91
Prima Donna Comercial Ltda
92
Prima Linea Colchões
93
Primo Passo Calçados
94
Primo Sapore
95
Priore Negócios Imobiliários
96
Punto Bianco
97
Qualittà Lavanderia
98
Ravello decorações
99
Ravello Kids e Teens
100
Regalo
101
Restaurante La Scaletta
102
Restaurante Monticielo
103
Restaurante Pallato
104
Restaurare restaurante
105
Rommanel
106
Rondinella
107
Saatore Ristorante
108
Saccaro Móveis
109
Salão Spazzio
110
Scala
111
Scatto Lampadario
112
Scintillare
113
Scritto Agência de Comunicação
114
Scuola gastronomia
115
Sfoggiato
116
Skapulario
117
Spasso Imóveis Administração e Vendas Ltda
118
Spazio Collection
119
Speciali Pizza
120
Splendido Restaurante
121
Splendore
58
122
Spoleto culinária italiana
123
Stórica Pizza
124
Stratta Soluções Interativas
125
Studio Primori
126
Trattoria Trastevere
127
Trovatore Ristorante
128
Tutto Italia
129
Un’Altra Volta
130
Una Donna
131
Uno & Due Padaria Expresse
132
Valore Cobrança e Fomento Mercantil
133
Vanitá
134
Vero Negócios Imobiliários
135
Via Tornaberoni Fashion
136
Via della Spiga
137
Via Lusso
138
Via Mia
139
Villa Due
140
Villa Madalena Pizzaria
141
Villa Maria
142
Villa Verde restaurante
143
Villa Vittini
144
Vitale delivery de carnes
145
Vitale Studio
3.2.2 Apresentação dos nomes coletados na busca estendida por regiões da
cidade
59
que se ressaltar que os nomes referentes à busca estendida pela cidade
apresentam ora referência à rua ou à avenida, ora referência apenas ao bairro que se
localizam. Esse fato se justifica pela dificuldade e, muitas das vezes, impossibilidade de
se anotar as referências completas do local durante a coleta. Se para uma grande parte
desses nomes a verificação pode ser feita de maneira tranqüila, para outros foi realizada
quando eu passava de ônibus pelos diversos locais e a rapidez com que isso acontecia
me impedia de anotar os dados completos. Não obstante, todos os nomes listados abaixo
foram conferidos posteriormente e se localizam nas regiões especificadas.
QUADRO 2: Nomes advindos da busca estendida
16
NOME DO ESTABELECIMENTO LOGRADOURO
1
Alegretto lanches Rua Piauí com Aimorés
2
Allegretto bijouterias Avenida Bandeiras/Mangabeiras
3
Allegro Tavola Avenida Mário Werneck/ Buritis
4
Approbare Curso Preparatório para
Concursos
Rua Piauí com Aimorés
5
Aromi Restaurante Av. Afonso Pena / Funcionários
6
ArtCapellli Salão de Beleza Bairro Serra
7
Atualle Salão de Beleza Rua Catumbi/Caiçara
8
Auto Belli Avenida Pedro II
9
Baratello Móveis Rua Pará de Minas/ Padre Eustáquio
10
Bellitia Beleza e Estética Rua Marechal Hermes/ Gutierrez
11
Beggiato Instrumentos Musicais Rua Montes Claros/ Anchieta
12
Bel Corpore cabeleireiro e manicure Rua Curitiba/ Centro
13
Bellaggio Avenida Mário Werneck/ Buritis
14
Bella Gula Coração Eucarístico
15
Belle Pelli Avenida Barão Homem de Melo
16
Belle Scarpe Avenida Prudente de Morais/ São Bento
17
Benne Farma Rua Curvelo/ Floresta
18
Bonna Pizza Avenida Augusto de Lima/ Centro
16
A busca estendida dos nomes foi realizada entre março de 2008 e dezembro desse mesmo ano.
60
19
Bonno Café Avenida Álvares Cabral/ Centro
20
Brevità delivery de comida italiana Avenida do Contorno
21
Capelli Centro de Estética Buritis
22
Casa Bella Tintas e Acabamentos Avenida Amazonas/ Centro
23
Corporale Pilates e Fisioterapia Rua Fernandes Tourinho
24
Decoralle Av.Silviano Brandão/ Floresta
25
Dê Sapore Avenida João Pinheiro
26
Del Pani Pães & Confeitos Rua Rio grande do Sul
27
Di Maria Avenida Guaicuí/ Luxemburgo
28
Di Napoli Comida Inteligente Avenida Mário Werneck/ Buritis
29
Due Bairro Ouro Preto
30
Elaborare Móveis Planejados Av. Pedro II / Carlos Prates
31
Essenziali Beauty Clinique Shopping São Bento / São Bento
32
Eterni Móveis Planejados Avenida Mário Werneck/ Buritis
33
Eternità BH Shopping/ Belvedere
34
Extravaganza Rua Dr. Lucídio Avelar/Buritis
35
Fatiolli delivery de Pizza Avenida Ressaca/ Minasbrasil
36
Federalle Negócios Imobiliários Avenida Pedro II
37
Felicitá Colchões Rua Tamóios/ Centro
38
Finale automóveis Avenida Raja Gabaglia
39
Fogliare Rua Rio Pomba/ Padre Eustáquio
40
Franccino Giardini Rua Marília de Dirceu/ Lourdes
41
Gabbinetto Avenida Raja Gabaglia
42
Gelato D'Itália Gula Gelada Avenida Mário Werneck/ Buritis
43
Ideale acabamentos Avenida do Contorno
44
Il Mobile Bairro Ouro Preto
45
Implantare - Implantodontia e Estética
Bucal
Avenida do Contorno/ Serra
46
Italia Motori Bairro Caiçara
47
La Cucina BH Shopping
48
La Fenice recepções Avenida Ressaca/ Minasbrasil
49
La Greppia Rua da Bahia/ Centro
50
La Pizzabella Avenida Francisco Sá/ Prado
51
La Prima Casa Avenida Francisco Sá/ Prado
52
L'acquarella Rua Rosinha Sigaud/ Caiçara
61
53
Lojas Móbile Avenida Catalão
54
Lúmini jóias BH Shopping
55
Marelli Avenida do Contorno
56
Marra Tratore Avenida Pedro II
57
Masseria di Terni Avenida Raja Gabaglia
58
Mobiliare Avenida Silviano Brandão
59
Modelli Avenida Teresa Cristina
60
Naturale Detetização Rua Chapecó/Prado
61
Nonna Olimpia Trattoria & Caffè Bairro Santo Agostinho
62
Nostra Pizza Rua Vila Rica/ Caiçara
63
Oculare Centro de Oftalmologia Rua Maranhão
64
Ótica Occhio Bello Avenida Mário Werneck/ Buritis
65
Padaria Panemio Rua Rio Pomba/ Padre Eustáquio
66
Panificadora Panneminas Avenida Ressaca/ Minasbrasil
67
Pastele Lanches Rua Tupis/ Centro
68
Peças e Molas Fabrini Pampulha
69
Persona Roupas de 41 a 48 Avenida Uruguai/Sion
70
Piace Tele-Pizza Rua Padre Eustáquio
71
Piacere Avenida Raja Gabaglia
72
Piarese Pizzaria Avenida Mário Werneck/ Buritis
73
Piccolino sanduíches Avenida Ressaca/ Minasbrasil
74
Piu Braziliano Avenida Mário Werneck/ Buritis
75
Pizza Pezzi – Um pedaço da Itália Rua Rio de Janeiro com Tamóis/ centro
76
Pizzadere Pizzaria Belvedere
77
Prima Pizza Avenida Bandeiras/Mangabeiras
78
Restaurare Construtora Avenida João Pinheiro
79
Rubens Poggiali Negócios Imobiliários Rua Manhumirim/ Caiçara
80
Salão Unissex Novo Stillo Rua Dom Silvério/ Coração Eucarístico
81
Salute Locadora de Veículos Avenida Catalão
82
Salute Self-service Light Rua Uberaba/ Barro Preto
83
Skalla Malas Avenida Mário Werneck/ Buritis
84
Sorelle Rua do Ouro/ Serra
85
Spazi Móveis para Escritório Avenida Teresa Cristina
86
Spazio Brasil Móveis para escritório Avenida do Contorno/Funcionários
62
87
Splendida Fisioterapia e Dermatologia
Funcional
Avenida Bandeiras/Mangabeiras
88
Splendore jóias Avenida Augusto de Lima/ Centro
89
Stile Avenida Raja Gabaglia
90
Stilo Imóveis Avenida Mário Werneck/ Buritis
91
Studio Capelli Rua Rio Pomba/ Padre Eustáquio
92
Studio Capelli Avenida Prudente de Morais/ São Bento
93
Tortellini Avenida Raja Gabaglia
94
Tumiatti massas Avenida Guaicuí/ Luxemburgo
95
Tutti Veículos Avenida Bias Fortes
96
Tutto Avenida Bandeiras/Mangabeiras
97
Valore Imóveis Avenida Bandeiras/Mangabeiras
98
Vanità Hair Make Rua Minerva/ Caiçara
99
Vecchio Sogno Bairro Santo Agostinho
100
Veneto decorações Buritis
101
Venetto Instituto de Beleza Rua Padre Eustáquio
102
Veracità Bairro Belvedere
103
Vero automóveis Avenida Raja Gabaglia
104
Vitta Lanches Avenida Amazonas/ Centro
105
Gustare Buffet
Rua Ludgero Dolabela / Bairro
Gutierrez
106
Laminare Laminados de Madeiras
Tropicais Ltda
Rua Tamóios / Centro
107
Manipulatta Farmácia de Manipulação Av. Brasil / Sta. Efigênia
108
Mobiliare Av. Silviano Brandão
109
Moveletto Interiores Av. Silviano Brandão
110
Persialle Av. Silviano Brandão
111
Padaria Panino Av. Brasil
112
Organizzata Av. do Contorno
113
Ricci e Capricci Barroca
114
Solucionne Av. Silviano Brandão
115
Immobile Negócios Imobiliários R. Rio Verde / Anchieta
116
Pane d’Oro R. do Ouro / Serra
117
Villagio R. André Cavalcanti / Gutierrez
118
Tornare Turismo Av. Silva Lobo / Barroca
119
Venetto Instituto de Beleza R. Padre Eustáquio / Padre Eustáquio
63
120
Vitalle
R. Dom Joaquim Silvério/ Coração
Eucarístico
121
Vivace Clínica Médica Av. do Contorno/ Santa Efigênia
122
Innamorare Lingerie R. André Cavalcanti / Gutierrez
123
Restaurante Mangiare Av. Mario Wernek / Buritis
124
Dentare Saúde Av. Álvares Cabral / Centro
125
Trigopane Panificadora Rua Grão Mogol/ Anchieta
3.2.3 Apresentação dos nomes coletados em principal avenida e shopping no
Barreiro
Neste estágio esperava-se, num primeiro momento, aventar dados que pudessem
ser comparados com os dados colhidos na região da Savassi. Isso foi imaginado pelo
fato de o bairro do Barreiro ter se desenvolvido a partir de um núcleo colonial de
imigrantes italianos em Belo Horizonte e também ser uma região comercial muito
importante na cidade . Em uma das visitas ao bairro, tive contato com a edição especial
do jornal Correio Barreirense, datada de agosto de 2007, na qual uma coluna inteira do
periódico presta homenagem às famílias que foram pioneiras nessa localidade. Dentre as
14 (quatorze) famílias referenciadas na matéria, 5 (cinco) delas famílias Gatti, Rossi,
Aganetti, Pongeluppe e de Moro eram italianas, a maioria entre as nacionalidades
apresentadas. Todavia, ao analisarmos as ocorrências concernentes ao nosso foco de
pesquisa na principal avenida do bairro e no principal shopping da região, constatamos
que o número de ocorrências se mostrou insignificante em relação a áreas similares da
Savassi. Em toda a extensão da avenida Sinfrônio Brochado, trecho composto por 19
(dezenove) quarteirões e de prolongamento que se inicia no logradouro de número 13
até o logradouro de número 1577, foram encontradas apenas 2 (duas) ocorrências que
nos interessariam, sendo elas: Pizzaiolo Barreiro Delivery e Scalla Recepções e
Eventos. Similarmente no ViaShopping, foram notificadas apenas duas ocorrências:
64
L’acqua di Fiori e Pizza Pazza. Esse baixíssimo número de ocorrências nos leva a
presumir que a motivação para a colocação de um nome italiano, em um
estabelecimento comercial em BH, não estaria tão ligada a laços genéticos dos
proprietários com a Itália e seria moldada por outras razões mais determinantes. No
capítulo V, onde os questionários serão discutidos, perceberemos como funciona essa
situação para a região da Savassi e veremos se é a dinâmica sócio-econômica que,
realmente, é a principal propulsora na motivação dos proprietários.
3.2.4 Divisão dos nomes das lojas da Savassi em categorias de produto
Uma primeira categorização realizada nos nomes presentes na Savassi foi a sua
divisão baseada nas categorias abaixo:
G Gastronomia
(Chocolataria/ doceria,
sorveteria, padaria, restaurante, lanchonete, cafeteria e delicatessen)
V Vestuário (Moda masculina, feminina e infantil, calçados, acessórios
[bolsas, cintos, jóias, bijouterias, relógios], artigos esportivos e para atividades físicas
específicas)
E – Eletrônicos (Celulares, informática e eletrodomésticos)
B Beleza (Beleza, salões de beleza, saúde e bem-estar, cosméticos e
perfumaria)
I (Imobiliárias e corretoras de imóveis)
D Decoração (Decoração, design, artigos para decoração, móveis e
presentes)
O – Outros setores
65
GRÁFICO 2
33,00%
30,60%
15,00%
11,50%
4,70%
3,00%
2,20%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
G
a
s
t
r
o
nom
i
a
Ve
s
t rio
Dec oraç ã o
B
e l
e za
I
m
obili
á
ri
as
O
ut
ro s
E le t
r
ô
n
ic os
Divis ão das lojas em c ateg orias de produto
O objetivo dessa categorização foi verificar a quais produtos os nomes de lojas
em italiano se vinculam e identificar as incidências em cada grupo. Após a inclusão dos
nomes nas categorias, chegou-se ao seguinte resultado ilustrado no gráfico, no qual os
produtos vinculados às categorias “vestuário” e “gastronomia” – com um número muito
semelhante de ocorrências se apresentam como os destinos mais representativos dos
nomes coletados nesta pesquisa. Além disso, mostram-se significativos também, mesmo
que em menor número, as categorias “decoração” e “beleza”.
3.2.5 Levantamento de nomes de diversos idiomas em 2 shoppings da região
analisada
66
Essa segunda categorização teve como intuito compararmos, em uma área
menor dentro da região principalmente analisada, a incidência de nomes italianos com a
incidência de nomes em outras nguas. Isso foi feito a fim de observarmos
numericamente qual a diferença existente entre os idiomas no que toca à presença nos
nomes das lojas. Para tanto, foram escolhidos dois shoppings centers que se localizam
dentro da área da Savassi, sendo eles: o Shopping Avenida e o Shopping Pátio
Savassi. Os nomes das lojas foram classificados por idiomas a que faziam referência e
também passaram pela classificação de produto mencionada acima.
QUADRO 3: Nomes do shopping Pátio Savassi: idioma e categoria do produto
17
NOME DO ESTABELECIMENTO IDIOMA
CATEGORIA
PRODUTO
1
Chen Chinês C
2
Morana Coreano V
3
Kopenhagen Dinamarquês G
4
Parrilla del Patio Espanhol G
5
Equipage Francês V
6
Patachou Francês V
7
Trousseau Francês O
8
AD(Alain Delon) Francês V
9
Ah Bon! Francês G
10
Le
Lis Blanc
Francês V
11
Mont Blanc Francês V
12
Coupon Francês V
13
Zion Hebraico V
14
Toli Hindi V
15
FullDarinn Indeterminado G
16
Colcci Indeterminado V
17
Taren Indeterminado C
17
ERROR: syntaxerror
OFFENDING COMMAND: --nostringval--
STACK:
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo