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comunistas ou mais, quer dizer, a el
ite do Partido estava ali, naquele momento.
E o que que eu tenho de memória desse momento? Apesar da divergência,
havia um respeito ao Prestes, apesar de todos os companheiros, a maioria em
absoluta a ser contrário ao Prestes, contrária ao Comitê Central. E naquele
momento, nós estávamos rompendo com o Partido, rompendo com o Comitê
Central, havia um respeito. E essa coisa, eu achei admirável. Havia um
respeito. Quando Prestes fala no Congresso, nós já estávamos exaustos. E já
tínhamos tido 4 ou 5 dias de r
euniões e era alto da noite e o cansaço era muito
grande, mas se fez um silêncio absoluto. Um silêncio que me marcou muito no
momento porque todos nós éramos contrários ao Prestes. A platéia inteira era
contrária. Meia dúzia ali o apoiava. O resto não o apoiava, mas, independente
disso, se fez um silêncio assim eloqüente quando Prestes fala. Marighella foi a
grande voz do Congresso, da Conferência. Ele foi a grande voz. A figura que
girava todo Congresso, que girava todo o debate, se centralizava no
Marighe
lla. Mas, quem organizava silenciosamente tudo isso era o Toledo.
Então, o Toledo articulava. Na medida que o Marighella falava em grupo ou se
reunia no almoço, no café, enfim, nos momentos que ficavam sem trabalho na
Conferência que era o almoço, o café, o jantar, a hora de fazer uma higiene
pessoal muito limitada, e também não tinha como tomar banho ali, pela......., o
local era pequeno e tinha que ser altamente seguro porque podia ser
denunciado por vizinho, enfim, o, trocando idéias etc, era o Toledo. Então, o
Toledo era esse homem que conhecia o Partido. Acho que ninguém conhecia
tão bem o Partido como o Toledo. Ninguém sabia amarrar tanto o Partido como
o Toledo fazia. Eu vejo nesse, eu não vejo o Toledo, assim, nesse momento,
essa grande figura, embora fosse, embora fosse, sem dúvida. Mas a presença
do Prestes, a presença do Marighella. Ele não era essa figura de força, da
massa do Partido, da massa tal, mas era aquele homem que articulava, que
sabia articular e que fazia esse trabalho de uma forma per
feita.”
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Carlos Eugênio Paz definiu também de maneira bem clara os tipos de liderança
que exerciam Joaquim Câmara Ferreira e Marighella, e que iriam continuar após a
criação da ALN. Conforme ele:
“(...) só que o Toledo era um homem de liderança também, mas era liderança
mais discreta, aquele homem de conversa miúda, pra pouca gente, formadora.
O que eu sentia com o Toledo é que eu sempre estava aprendendo alguma
coisa. O Toledo abria a boca para falar , ele estava sempre me ensinando
alguma coisa. Eu estava para ouvir, aquela coisa da conversa ao pé do ouvido,
daquela vida clandestina, dentro de uma organização, sempre clandestino,
tendo que falar baixo. Ele era um homem muito contido, assim, era todo
elegante não sei o quê. Era uma personalidade bem diferente ele e o
Marighella, mas ele também era um tipo de liderança, só que uma liderança
mais interna, mais partidária, mais organizacional, mais de organização, mais
de contato pra pouca gente.Já o Marighella era não, é um cara que chegava
numa assembléia, ele já monopolizava as atenções. (...) Então os dois na
verdade, um foi ajudando o outro a chegar nessa posição, um foi influenciando
o outro e é um angu de dois que acabou formando, esses dois personagens
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Conforme depoimento de Tarcísio Sigrist, em março de 2004, em Campinas.