estão presentes em praticamente todos os povos desde a
Babilônia antiga aos povos Carajás da Ilha do Bananal. Neles, é o
sagrado que assume a condição preeminente de realidade.
18
O
mito de Marduc e Tiamat da Babilônia,
19
por exemplo, procurava
explicar o surgimento dos céus e da terra por meio da luta entre
duas divindades. A nação Carajá, segundo seu mito, nasceu da
curiosidade pela exuberância da natureza.
20
A temática
explorada pela inventividade dos povos primitivos influenciou
substancialmente os primeiros pensadores. A metafísica
naturalista dos pré-socráticos tinha como tema central de seus
estudos o problema da origem, da evolução e da estrutura do
universo. Estudavam, portanto, a phisis, ou seja, o elemento
constitutivo do mundo natural, podendo ser a água, o fogo ou
algum outro, como origem e substrato de todas as coisas. Tales
de Mileto (séc. VI a. C.), considerado o primeiro filósofo, sai um
pouco das construções míticas e não procura explicar a origem
do Universo pela ação direta da divindade, mas por uma
substância material e bem determinada: a água.
21
O pensamento deixa o universo mítico e evolui
para o estudo dos princípios gerais. Os últimos pré-socráticos e
18
Cf. ELIADE, M. O prestígio do mito cosmogônico. Revista Diógenes, p. 6.
19
“Marduc enfrentou um monstro marinho, que também era uma divindade e
conseguiu vencê-lo. Proeza notável, se se levar em linha de conta que Tiamat
tinha apavorado os outros deuses e só Marduc teve a coragem de lhe fazer
frente. Após a morte do seu adversário, Marduc cortou o corpo em duas
partes e de uma fez o céu e de outra a terra.” Mito cosmogônico surgido na
Babilônia antiga e fazia parte do poema Enuma Elis. Apud: PENEDOS, A. J.
Introdução aos pré-socráticos, pp. 9/10.
20
No princípio, os Carajás eram imortais e viviam como peixes na água. Não
conheciam a natureza fora dos rios e lagos, mas havia em cada rio um buraco
de onde saía uma luz intensa no qual, pela ordem do Criador, não poderiam
entrar senão perderiam a imortalidade. No entanto, tomados de intensa
curiosidade, optam pela mortalidade e, adentrando o buraco, caem nas praias
do Araguaia e passam a desfrutar da beleza e tranqüilidade de um mundo
harmônico e natural. Apud BOFF, Leonardo. Tempo de transcendência, pp.
31-34.
21
Cf. PENEDOS, A. J. Introdução aos pré-socráticos, p. 28.