
que a veste, em função das mesmas formas e volumes que, em suas variações, preenchem
e modelam tecidos e outros materiais. Estas proposições, pensadas e concebidas pelo
designer se materializam, em primeira instância, por meio dos desenhos de moda, que
representam as possibilidades de contornos desses corpos vestidos, ou seja, as silhuetas
de moda. Isto significa que o desenho de moda é a primeira expressão da imagem ideal da
figura humana em termos de aparência desejada em determinada época e lugar (figura 23).
Dessa forma, os desenhos revelam mais que a idéia do modelo da roupa uma vez que
consideram o individuo e sua imagem em função da vestimenta, ou ainda, a roupa e o
individuo em função de sua imagem. É o que explica Ana Claudia de Oliveira
12
na
apresentação do livro Moda e Linguagem, CASTILHO (2006):
Intimamente imbricada às feições do sujeito que cada época faz emergir como uma de suas
expressões, a moda é, dentre essas, talvez, a expressão mais significante, que faz circular o
sistema de valores partilhado pela coletividade com suas regras de conduta. Quer na moda
vestimentar, quer na moda das silhuetas, impõem essas um contingente de coerções que
presentificam os contextos ao lhe dar uma modelação que lhes confere existência. Na moda e por
ela, os sujeitos mostram-se, mostrando os seu s modos de ser e estar no mundo, o que os
posiciona neles. (p.09)
Concordamos com Oliveira na afirmação de que “corpo e roupa, por encontrarem-se
plasticamente fundidos, compõem conjuntamente a aparência final do sujeito. Será por
intermédio de decorar-se, ornamentar-se e vestir-se que se formarão concepções de
beleza, bom gosto, costumes e comportamentos próprios de cada sociedade” (p. 13). A
figura 24 ilustra a idéia de que a silhueta de moda revela no contorno de corpos e roupas
12
Ana Claudia de Oliveira é professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e orientou os trabalhos de mestrado e doutorado de Kathia Castilho na Pós-
Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP.
FIGURA 24
Ilustração de Caio Borges traduz em formas
e cor a imagem ideal da mulher jovem
contemporânea: características como
segurança e confiança podem ser
identificadas na postura da cabeça, apoiada
em longo pescoço e quase voltadas para
cima e nas pernas, ora apoiadas firmemente
ao chão e ora apontando para frente.
Liberdade e frescor, nos longos cabelos
esvoaçantes. As sacolas e telefones
celulares conferem o tom tecnológico e
consumista, típico do individuo urbano
contemporâneo. As silhuetas finas e
alongadas remetem á preocupação atual
com corpo e a cultura à magreza. O uso da
cor rosa remete ao padrão clássico de
identificação do feminino. Por outro lado, a
solidez e uniformidade da colorização nos
faz lembrar de somos mais um na multidão,
quase como uma sombra, sem identidade,
porém, fazendo parte do todo.