
realizaram, tendo “(...) a cidade com objeto de múltiplos discursos e olhares, que não se
hierarquizam, mas se justapõem”.
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Também foi bastante utilizado o recurso metodológico da História Oral. Naturalmente, como
todo pesquisador, elaborei as perguntas, visto que os entrevistados também compõem suas
agendas na memória. Porém, no percurso da conversa, senti que as coisas se ajustam e os
entrevistados acabam falando de memórias, de assuntos que surpreendem e de início parecem
irrelevantes, mas suscitam outros interesses e valores. Assim, procurei entender e aprender
com suas falas e também com os seus silêncios. Percebi que os silêncios dos narradores a
rigor não demonstravam esquecimento; todavia deixava implícito um certo sentimento de
insegurança, um certo ímpeto da importância ou não de comunicar o vivido, de transmitir a
verdade e do que seria ou não importante comunicar. Nesse sentido, apesar de entender a
história oral como metodologia;
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pela quantidade de entrevistas elaboradas e por se tratar de
um tema inédito, fui levado a uma dimensão técnica da história oral como fonte de
informação, assim, foi conseguido entender melhor as trajetórias desses atores: seus
envolvimentos políticos, os espaços dentro da Universidade, os lares, os bares, o rádio, a
televisão, Festivais e o desejo de liberdade para alguns.
O recurso da oralidade foi de grande valia para que eu pudesse entender e perceber as suas
contradições discursivas envolvendo a feitura, a criação das músicas, procurando identificar o
lugar social dessas diversas falas, suas representações e construções vividas. Segundo Portelli:
“(...) uma das coisas que faz a história oral diferente é seu potencial democrático, que pode, ao
mesmo tempo, produzir um projeto de história acadêmico relevante e acessível ao público em
geral (...)”.
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Assim, com as entrevistas, consegui entender melhor a trajetória desses artistas, a transição do
rádio para a televisão, a importância da TV Ceará Canal 2 e dos seus programas de auditórios,
“Porque Hoje é Sábado” e “Show do Mercantil”. Passei a entender melhor como foram
criadas algumas canções e as contradições dos seus autores, das canções censuradas pelo
regime militar, o desejo de liberdade, de transgressão e a percepção dos artistas que
intencionalmente buscavam o sucesso e os que não se empenharam tanto, por um motivo ou
outro. Para tanto, segui a canção, a Música Popular Cearense e os Festivais de Música como
pano de fundo para fazer essa reflexão social. “Explicar, da parte do historiador, quer dizer:
mostrar o desenvolvimento da trama, fazer compreende-lo... o historiador procura fazer
compreender as tramas”..
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Para construir a trama, fui em busca das fontes necessárias e possíveis. Para tanto, no trabalho
de especialização comentado antes, já havia feito doze entrevistas com os artistas: Rodger
Rogério, Ricardo Bezerra, Fausto Nilo, Aderbal Freire-Filho, Augusto Pontes, Cláudio
Pereira, Jorge Mello, Teti, Ednardo, Ieda Estergilda, Francis Vale e Raimundo Fagner.
Todavia, diante da reflexão do trabalho atual tendo em vista a música, os Festivais e a
condição social dos músicos, senti necessidade de realizar mais entrevistas com os sujeitos
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PESAVENTO, Sandra Jatahy. O Imaginário da Cidade: visões literárias do urbano. Rio de Janeiro: Editora da
Universidade, 1999, p. 9.
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FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO. Janaína (Orgs). Usos & Abusos da História Oral. 5ª Edição. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2002, p. 8-12. Segundo Marieta de Moraes Ferreira, a concepção de história oral é
entendida como metodologia, a história oral remete a uma dimensão técnica e a uma dimensão teórica. (...) Aos
defensores da história oral como técnica interessam as experiências com gravações, transcrições e conservação
de entrevistas (...) Alguns defensores dessa posição (...) utilizam as entrevistas como fontes de informação
complementar.
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PORTELLI, Alessandro. História Oral Como Gênero. Proj. História, São Paulo, (22), JUN. 2001, P. 31-32.
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VEYNE, Paul. Como se escreve a História e Foucault Revoluciona a História. 4ª Edição. Brasília: Ed. UNB,
1998, p. 82.