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Débora, antes da monarquia, foi a única mulher a adquirir algum grau de
projeção militar. Mesmo as mulheres de estirpe nobre encontraram dificuldades em
ser aceitas, por seu direito de origem, como figuras públicas, ao passo que algumas
ocupações de natureza mais técnica como o luto, música e magia, que também
poderiam levar o praticante ao conhecimento público, estavam abertos tanto para
praticantes femininos quanto masculinos. Porém, essas profissões eram
consideradas inferiores àquelas proibidas para as mulheres. Com tudo isso, a
mulher, a instigadora da civilização humana, vê-se impossibilitada de participar das
lutas pelo poder e da tomada de decisões que determinam a forma dessa mesma
civilização, sendo confinada a uma função sociobiologica que é extremamente
importante para a continuidade da existência da sociedade, mas não é politicamente
significante.
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Neste estudo, podemos perceber que o lugar da mulher no judaísmo variou
segundo o contexto histórico, social, político e religioso. Ele se expressa em todos os
campos da vida cotidiana, desde as diferentes rezas da liturgia até a divisão das
tarefas no âmbito público e particular. Entretanto, não se deve generalizar, pois, nas
cortes governamentais, poucos se preocupavam com o costume. Basta pensar a
vida da rainha Alexandra que, durante nove anos, de 76 a 67 a.C, com prudência e
muita energia, manteve nas mãos as rédeas do poder, não se distinguindo, em
nada, das princesas dos ptolomeus ou dos selêucidos
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ou da irmã de Antígono
(último rei macabeu, de 40 a 37 a.C), que defendeu a fortaleza de Hircânia contra as
tropas de Herodes, o Grande. Lembramos também Salomé, dançando diante dos
visitantes de Herodes Antipas (Mc 6.22; Mt 14.6). Mesmo onde se conservavam
rigorosamente os costumes, havia exceções. Realizavam-se algumas danças nos
vinhedos das cercanias de Jerusalém; onde as moças se exibiam diante dos
rapazes.
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Porém, principalmente por razões econômicas, as mulheres dos meios
populares não podiam levar uma vida totalmente retirada como as da alta classe,
rodeadas de domésticos. Em muitos casos, a mulher precisa ajudar o marido em sua
36
BRENNER, Athalya. A mulher israelita: papel social e modelo literário na narrativa bíblica. São
Paulo: Paulinas, 2001. p. 195-197.
37
WILLRICH apud JEREMIAS, Joaquim. Jerusalém no tempo de Jesus: pesquisas de história
econômico-social no período neotestamentário. São Paulo: Paulinas, 1983. p. 476.
38
TA’AN, IV 8; b. TA’AN. 31ª bar queriam considerar estas danças como uma sobrevivência de ritos
dos mistérios dionisíacos; W. Witterkindt opinou contra, dizendo que essas danças no meio dos
vinhedos eram uma reminiscência dos ritos da festa do casamento de Marduc, celebradas em
Babilônia por ocasião da festa do Ano Novo. EISLER e WITTERKINDT apud JEREMIAS, 1983, p.
477.