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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
s-Graduação em Enfermagem - Mestrado
Mulheres em Idade Reprodutiva Infectadas pelo HIV: Contribuição para a
prática da Enfermagem
Isabel Catarina Correia Braga
Rio de Janeiro
Mar/ 2009
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1
Isabel Catarina Correia Braga
Mulheres em Idade Reprodutiva Infectadas pelo HIV: Contribuição para a
prática da Enfermagem
Orientador (a):
Professora Doutora Célia Antunes Chrysóstomo de Sousa
Co-Orientador (a):
Professora Doutora Sônia Regina de Souza
Rio de Janeiro
Mar/ 2009
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Isabel Catarina Correia Braga
Mulheres em Idade Reprodutiva Infectadas pelo HIV: Contribuição para a
prática da Enfermagem
Dissertação do curso de Pós-Graduação
Mestrado em Enfermagem, Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro,
apresentada a banca examinadora para
obtenção do tulo de Mestre em
Enfermagem. Linha de Pesquisa
Enfermagem e a Saúde da População:
Conhecimentos, atitudes e práticas em
saúde. Orientadora: Professora Doutora
Célia Antunes Chrysóstomo de Sousa. Co-
Orientadora: Professora Doutora Sônia
Regina de Souza.
Rio de Janeiro
Mar/ 2009
Braga, Isabel Catarina Correia.
B813 Mulheres em idade reprodutiva infectadas pelo HIV : contribuição para
a prática da enfermagem / Isabel Catarina Correia Braga, 2009.
92f.
Orientador: Célia Antunes Chrysóstomo de Sousa.
Co-orientador: Sônia Regina de Souza.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Universidade Federal do Es-
tado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
1. AIDS (Doea) em mulheres. 2. Infecções por HIV. 3. AIDS
(Doença) na gravidez Aspectos sociais. 4. Maternidade Aspectos psi-
cológicos. 5. Cuidados em enfermagem Planejamento. I. Sousa, Célia
Antunes Chrysóstomo de. II. Souza, Sônia Regina de. III. Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (2003-). Centro de Ciências Biológi-
cas e da Saúde. Mestrado em Enfermagem. III. Título.
CDD 616.978
Isabel Catarina Correia Braga
Mulheres em Idade Reprodutiva Infectadas pelo HIV: Contribuição para a
prática da Enfermagem
Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora na Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro EEAP/ UNIRIO, como
parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Enfermagem, na linha
de Pesquisa - Enfermagem e a Saúde da Populão: Conhecimentos, atitudes e práticas em
saúde.
Aprovado por:
Presidente/Orientadora: Pro. Dr.ª Célia Antunes Chrysóstomo de Sousa EEAP/ UNIRIO
1ªExaminadora: Pro. Dr.ª cia Helena Garcia Penna FACENF / UERJ
2ª Examinadora: Profª. Dr.ª Florence Romijn Tocantins - EEAP/ UNIRIO
Suplente: Prof Dr. Octávio Muniz da Costa Vargens - FACENF / UERJ
Suplente: Pro Drª. Terezinha de Jesus Espírito Santo da Silva - EEAP/ UNIRIO
DEDICATÓRIA
Dedico este estudo primeiramente aos meus pais Luíz Robson da Silva
Braga e Irene Correia Braga, meus primeiros incentivadores e mestres. São
para mim sinônimos de força, generosidade, responsabilidade e cuidado. Com eles
aprendi os mais importantes valores da vida: Amar a Deus, cultivar laços afetivos,
respeitar ao próximo e buscar a sabedoria. Obrigada pela honra de ser filha de
vocês!
Ao meu esposo, amigo e grande incentivador Marcelo Henrique Ferreira
Lemos Silva por caminhar comigo lado a lado, me impulsionar para saltar
obstáculos e sempre me fazer sorrir. Ao nosso lindo filho Luiz Henrique Braga
Lemos, pela ternura e alegria que me contagiam.
Obrigada por completarem minha felicidade!
AGRADECIMENTOS
Ao Deus soberano e fiel, por mais esta oportunidade que concedeu em
minha vida.
À todos os meus familiares, que contribuíram direta ou indiretamente
para essa conquista.
À minha avó materna Maria Angélica Correia (in memorian) e ao meu
tio e padrinho José Mendes dos Santos, por terem participado da minha
criação.
Às minhas “amigas de infância”: Minhas irmãs - Eunice Maria Correia
Braga e Ana Luíza Braga Vincler, pelo apoio emocional e espiritual.
À minha amiga Carmem Lúcia de Paula, que me incentivou ao mestrado
e me pegou pela mão para me mostrar “o caminho das pedras”.
À minha amiga Helen Regina do Nascimento, pelo apoio através de
palavras de ânimo e motivação.
À amiga e Orientadora Professora Doutora Célia Antunes Chrysóstomo
de Sousa, que além da sabedoria e tranquilidade com que conduziu esta
caminhada, concretizou um dos meus sonhos ao viabilizar a publicação
deste estudo, mesmo enquanto ainda era projeto, no âmbito
internacional.
À amiga e Co-Orientadora Professora Doutora Sônia Regina de Souza,
que acreditou no meu potencial desde os primeiros contatos enquanto
aluna especial do mestrado, e desde então tem compartilhado comigo
seu conhecimento, sua generosidade e competência para que enfim eu
pudesse alcançar a linha de chegada.
À Coordenadora da linha de Pesquisa Enfermagem e a Saúde da
População, Professora Doutora Florence Romijn Tocantins, pelas
palavras de sabedoria e também pelo seu silêncio que estimula a
pensar.
À todos os Professores e colaboradores do Programa de Pós-Graduação
do Mestrado em Enfermagem UNIRIO
Aos profissionais do ambulatório DST/AIDS do Hospital Geral de Nova
Iguaçu pela colaboração na coleta de dados.
Aos colegas de turma, pelo compartilhar dos sorrisos, das descobertas,
dos abraços e também das lágrimas.
Às mulheres que fazem parte do cenário desse estudo que na expressão
da sua vivência me ensinaram mais uma lição.
Obrigada a todos!
Bem aventurado o homem que
encontra
sabedoria e o homem que adqüire conhecimento”.
(Pv. 3:13)
SUMÁRIO
Capítulo I : Introdução e Contextualização............................................................
1.1Objeto......................................................................................................................
1.2 Objetivos ...............................................................................................................
1.3 Contribuições do Estudo ....................................................................................
Capítulo II : Fundamentação Teórica ....................................................................
2.1 O Contexto da Epidemia HIV/AIDS e a Mulher ................................................
Capítulo III : Considerações Metodológicas ..........................................................
3.1 Tipo do Estudo ......................................................................................................
3.2 Validação do Instrumento de Pesquisa ............................................................
3.3 Estratégia Metodológica ....................................................................................
3.4 Caracterização do Cenário ...............................................................................
3.5 Aspectos Éticosa da Pesquisa ............................................................................
3.6 Sujeitos e Critério de Elegibilidade .....................................................................
3.7 Processo de Coleta de Informações .................................................................
3.8 Caracterização dos Sujeitos ...............................................................................
3.9 Análise ...................................................................................................................
3.10 Classificação Temática ....................................................................................
Capítulo IV: Unidade de Análise A Maternidade para a Mulher HIV positiva:
Enfrentamento diante das Vulnerabilidades ..........................................................
4.1 A Maternidade para a Mulher HIV Positiva: Representações das
Vulnerabilidades.........................................................................................................
4.1.1 Sob o Olhar do Outro: Estigmatização, HIV e Maternidade .................
4.1.2 Face Obscura: As Representações do Medo .........................................
4.2 A Maternidade para a Mulher HIV Positiva: Enfrentamentos .........................
4.2.1 Fé e Esperança no Convívio com o HIV/ AIDS e a Maternidade .........
4.2.2 Mudança de Atitude: Disposição para aManutenção da Vida .........
Considerações Finais .................................................................................................
Referências .................................................................................................................
Anexos .........................................................................................................................
RESUMO
BRAGA, Isabel Catarina Correia: Mulheres em Idade Reprodutiva Infectadas
pelo HIV: Contribuição para a prática da Enfermagem
Orientador (a): Professora Doutora Célia Antunes Chrysóstomo de Sousa. Rio de Janeiro:
UNIRIO/ EEAP, 2009. Dissertação de Mestrado.
Co-Orientador (a): Professora Doutora Sônia Regina de Souza.
O presente estudo tem como objeto a maternidade para a mulher HIV positiva.
Apresenta como objetivos identificar, a partir das representações sociais, o sentido atribuído à
maternidade pela mulher hiv positiva e analisar como as representações da maternidade se
fazem presentes na vida da mulher hiv positiva. Trata-se de uma pesquisa de natureza
qualitativa, descritiva e exploratória. O referencial metodológico está vinculado aos conceitos
de representações sociais de Moscovici (2004). O cenário de estudo compreende o
ambulatório de DST/ Aids do Hospital Geral de Nova Iguaçu, situado no município do Rio de
Janeiro. Os sujeitos foram 22 mulheres em idade reprodutiva, entre 19 e 45 anos de idade,
soropositivas para o HIV, que tiveram filhos após o diagnóstico, em acompanhamento no
cenário referido. Os dados foram coletados através de entrevista semi-estruturada com
pergunta aberta e pré-categorias. Ao analisar os dados pode-se constatar que a mulher
soropositiva que vivencia a maternidade, experimenta momentos de grande vulnerabilidade
devido a situações, tais como, a estigmatização social, o medo da transmissão vertical, o medo
da morte e do abandono dos filhos. Contudo, adotam uma atitude resiliente, buscando apoio
na fé, na esperança trazida pela terapia anti-retroviral e no cuidado dos filhos. Mudam o
comportamento na direção da promoção do auto-cuidado. As representações acerca da
maternidade revelaram vulnerabilidades e enfrentamentos. Conclui-se que existe para a
enfermagem um desafio voltado para a prática do cuidado, no que concerne a atenção
integral da mulher hiv positiva, principalmente enquanto vivencia ou deseja vivenciar a
maternidade.
Palavras Chave: Maternidade, HIV/ Aids, Representação Social, Mulher.
ABSTRACT
BRAGA, Isabel Catarina Correia: Women of reproductive age infected with
HIV: Contribution to the practice of nursing
Orientation: lia Antunes Chrysóstomo de Sousa, Doctor. Rio de Janeiro: UNIRIO/ EEAP,
2009.
Co-orientation: Sônia Regina de Souza, Doctor. Rio de Janeiro: UNIRIO/ EEAP, 2009.
This study has as its object maternity for women HIV positive. Presents as objectives to
identify, from the social representations, the meaning assigned to the maternity by women
HIV positive and to analyze how the offices of maternity are present in the life of women HIV
positive. This-is a qualitative research nature, descriptive and exploratory. The theory
methodological is bound by the concepts of social representations of Moscovici (2004). The
study scenario includes the ambulatory of STD/AIDS in the General Hospital of New Iguaçu,
situated in the municipality of Rio de Janeiro. The subjects were 22 women of childbearing
age, between 19 and 45 years of age, seropositive for HIV, which had children after the
diagnosis, monitoring in the scenario said. Data were collected through semi-structured
interviews with open question and pre-categories. When analysing the data may-is found that
the woman soropositiva that embodies the maternity, experience moments of great
vulnerability due to situations, such as, the social stigmatization, the fear of vertical
transmission, the fear of death and the abandonment of children. However, adopt an attitude
resiliente, seeking support in faith, hope brought by anti-retroviral therapy and care for
children. Change the behavior toward the promotion of self-care. The representations about
the maternity revealed vulnerabilities and copings. Concludes-that there is for nursing a
challenge facing to the practice of care, as regards the integral care of women HIV positive,
especially as experience or wishes experience motherhood.
Key Words: Maternity, HIV/Aids, Social Representation, Women.
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO
Feliz aquele que transfere o que sabe e
aprende o que ensina”.
Cora Coralina
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INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO:
Trajetória Profissional
O interesse por estudos e a busca pelo conhecimento sempre estiveram presentes ao
longo da minha trajetória de vida e me motivaram também a crescer como ser humano.
Iniciei minha história acadêmica no ano de 1991, cursando Psicologia pela
Universidade Gama Filho (UGF). Em 1995 concluí a Licenciatura e em 1996 o Bacharelado.
Estudar a mente humana foi fundamental para que eu pudesse compreender as relações e as
dimensões das complexidades emocionais geradas no corpo, bem como suas inflncias no
processo saúde / doença na vida do indivíduo e da coletividade.
Advinda de uma família composta por vários profissionais de enfermagem sabia que
minha formação ainda não estava completa. No ano de 2002, pela mesma instituição de
ensino, alcancei o grau de Enfermeira. Ainda no período da graduação, iniciei o curso de
especialização em Enfermagem de Alta Complexidade, pois sentia-me fortemente atrda para
prestar assistência ao cliente grave. Diante deste fato, concluí a especialização no segundo
semestre de 2002, pela UGF, iniciando, em seguida, minha atuação como enfermeira
intensivista.
Durante a prática do exercício de enfermagem, constatava a importância da assistência
de forma hostica, percebendo o ser humano como um todo orgânico, dinâmico, indivisível e
integralizado em seu aspecto biopsicosocial. Desta forma entendo que o ser humano, sujeito
do trabalho do enfermeiro, deve ser considerado em sua natureza física, social, psicológica e
também em suas aspirações espirituais (SIQUEIRA, 2000).
Enquanto Docente do Ensino Superior da Faculdade de Enfermagem da UGF, (2003/
2006), ministrei disciplinas como: Relacionamento Enfermeiro Cliente e Assistência de
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Enfermagem aos Portadores de Doenças Infecto-contagiosas (DIC). Como Preceptora de
Estágio Supervisionado em um hospital de referência para DIC, pude participar, com os
alunos, do cuidado às mulheres e crianças infectadas pelo Vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV) no processo de tratamento das doenças oportunistas decorrentes da Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS).
A cada internação, observava o aumento da síndrome entre mulheres e crianças. Essa
observação foi retratada, na época, pelo Boletim Epidemiológico Aids e DST (doenças
sexualmente transmissível) apresentado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2004), onde 650
mil brasileiros estavam infectados com o hiv, sendo 410 mil homens e 240 mil mulheres.
Apesar de haver mais homens que mulheres infectadas, o crescimento da infecção na
população feminina explodiu na última década. Entre 1994 e 2004 o crescimento foi de 29%
para os homens e 175% para as mulheres. A pandemia tende para uma paridade de gênero,
determinando um profundo impacto na saúde da mulher em todo o mundo e
conseqüentemente na população infantil (UNAIDS, 2002).
Muitas mulheres acreditavam estar imunes à infecção pelo hiv por terem parceiros
fixos. Entretanto, seus parceiros a expunham a uma situação de risco para a infecção como,
por exemplo, pelo uso de drogas injetáveis, múltiplas parceiras e bissexualidade, dando início
dessa forma ao crescimento da epidemia entre mulheres. Apesar da participação fundamental
da mulher na sociedade, esta continua fazendo parte de um grupo vulnerável, justificando
assim, sua expressiva representação no contexto da aids (PAULA, 2005).
Algumas vulnerabilidades da epidemia na vida de mulheres são destacadas no Plano
de Enfrentamento da Feminização da Aids e outras DST:
Mulheres hiv positivas sofrem discriminação, abandono e violência. O mesmo
acontece com mulheres cujos parceiros ficam doentes ou morrem devido a doenças
oportunistas relacionadas à aids. Elas perdem seus lares, herança, posses, meios de
subsistência e mesmo suas crianças (BRASIL, 2007, p. 13).
13
Mesmo com evidências assertivas para fatores que revelam grande vulnerabilidade em
se viver com hiv/ aids, o risco de transmissão materno-infantil ainda é bastante considevel.
Um estudo relativo à sexualidade e questões reprodutivas, com 148 mulheres hiv positivas,
demonstrou que 76% dessas mulheres tinham filhos e que 21% pensavam em tê-los
(SANTOS et al, 2002).
Os direitos reprodutivos / direitos humanos, apresentam um vínculo que proporcionam
a mulher o direito de decidir livremente a respeito das questões relativas à sexualidade,
envolvendo saúde sexual e reprodutiva, sem se verem sujeitas à coerção, discriminação ou a
violência (GIFFIN, 1999).
As diferentes dimensões que determinam uma pessoa infectar-se pelo hiv acontece de
forma ampla e complexa, envolvem questões objetivas e subjetivas, em nível tanto social
quanto individual, exigindo que nós enfermeiros pensemos em formas diferenciadas e
eficazes de intervenção, em particular, no que se refere saúde da mulher.
Sendo assim, a partir do exposto, comecei a me interessar por temáticas relacionadas à
feminização do hiv/ aids e a debater com outros profissionais que lidavam com este público.
Colegas enfermeiros, atuantes em consultas de pré-natal, enfatizavam que muitas mulheres
descobriam a infecção com o hiv através de exame diagnóstico durante a gestação, sendo que
outras, já conhecedoras de seu status sorológico para o hiv e com experiência anterior
relacionada à maternidade, continuavam por várias vezes a engravidar.
As necessidades reprodutivas são marcadas por contextos sociais, culturais e morais.
O desejo de ter filhos, por exemplo, é parte de um determinado papel social esperado para as
mulheres e ameaçado pela condição sorológica (KNAUTH, 1999),
A valorização da procriação, principalmente em função de uma necessidade intrínseca
da mulher, é antiga. Muitos povos, desde a antiguidade, valorizavam e enalteciam as mulheres
que eram capazes de reproduzir, enquanto as inférteis eram excluídas na sociedade como um
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castigo (TANAKA; ALVARENGA, 1999). Ainda hoje, mesmo com os novos valores
adotados por uma sociedade s-moderna, acredito que algumas condições sociais como, por
exemplo, gerar um filho, ainda permanecem presentes no ideal de muitas mulheres.
Tubert (1996) aponta que a valorização da maternidade modifica-se ao longo da
história em função dos interesses ecomicos, demográficos, poticos e outros. Está
relacionada à completude, ou seja, para ser uma mulher de verdade, deve dar a luz a um filho.
Entre parênteses, vale ressaltar que a maternidade, no sentido de qualidade de ser mãe,
significa o estado da mulher que vivenciou o ato de gerar um filho e apresenta comportamento
materno.
A maternidade representa parte identitária da estrutura da mulher. Por outro lado, vejo
que a maternidade tida como uma face da expressão da sexualidade feminina, ganha outra
dimensão em tempos de aids: a do medo, da estigmatização e da culpa.
Inquieta com esta realidade, minhas reflexões buscavam vislumbrar sobre os elos”
existentes entre: Mulher, maternidade e hiv/ aids. Sendo assim, elegi essa temática ao
ingressar em 2007 no curso de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (UNIRIO). Entendo que o enfermeiro enquanto profissional da saúde traz
consigo o compromisso de promover uma assistência integral e ética voltada a todos os
sujeitos do seu cuidado e, no que diz respeito à mulher acometida pela infecção do hiv/ aids,
que vivencia ou deseja vivenciar a maternidade, sua forma de cuidar não deverá ser diferente,
mas pautada em (re) conhecer as variantes biopsicossoais envolvidas neste contexto.
De acordo com Bachelard (2001), quando estamos diante do real, aquilo que cremos
saber com clareza ofusca o que deveríamos saber. A elaboração do presente estudo surgiu a
partir da seguinte questão norteadora: O que representa a maternidade para a mulher hiv
positiva? Sendo assim, apresento a seguir a delimitação do objeto de estudo.
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1.1 Objeto do Estudo
Configura-se como objeto deste estudo - A Maternidade para a Mulher HIV Positiva .
Tal objeto, no meu entendimento, nos situa para a busca das representações que expressam
uma gama de sentidos da maternidade para a mulher soropositiva.
São mulheres e mães, além de estarem infectadas com o hiv dando vida a um
fenômeno de representação. A sociedade concebe, em meu entendimento, que mãe é aquela
que protege seus filhos de todos os males e por eles é capaz de abdicar-se de benefícios e que,
se possível fosse, daria por eles sua própria vida. Mas, as representações sobre a maternidade,
considerando as singularidades e pluralidades de determinados grupos, podem ser diferentes
das representações idealizadas pela totalidade social. Para tanto, elaborei os objetivos do
estudo que apresento na seqüência.
1.2 Objetivos
Identificar, a partir das Representações Sociais, o sentido atribuído à
maternidade pela mulher hiv positiva.
Analisar como as representações da maternidade se fazem presentes na vida da
mulher hiv positiva.
1.3 - Contribuições
Acreditamos que o estudo é relevante para maior conhecimento sobre a realidade da
maternidade na perspectiva das mulheres portadoras do hiv e para a valorização dos seus
sentimentos e subjetividades, facilitando a compreensão dos aspectos concretos diretamente
observáveis pela sociedade.
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O conhecimento não é algo acabado, mas uma construção que se faz e refaz de forma
dinâmica. Além de possibilitar o desenvolvimento de novas pesquisas - importantes para o
conhecimento em saúde - esperamos que o estudo represente um instrumento para fornecer
subsídios, onde acadêmicos e profissionais de enfermagem possam refletir sobre a condição
da maternidade vinculada ao hiv/aids e seu impacto no cotidiano, possibilitando um novo
olhar no que diz respeito à assistência a saúde da mulher.
A pesquisa integrada ao cuidado aliada a prática assistencial, proporciona uma visão
mais crítica da ação do cuidar, ou seja, de como cuidamos e ensinamos na enfermagem.
Cuidar e ensinar são atividades essenciais do enfermeiro, e por isso mesmo, precisam ser cada
vez mais interrelacionadas para o avanço da enfermagem, na qual estão inseridas e
socializadas diversas formas de conhecimento. Entendo que os resultados encontrados
contribuirão para que, nós enfermeiros, possamos promover atividades extensivas (cursos,
palestras, seminários e debates) que abordem os aspectos envolvidos nessa problemática.
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CAPÍTULO II
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
É preciso deter uma epidemia que atinge a todos
nós, pois seu impacto não se resume a dimensão
biológica: vai além ao coloca-nos, frente a frente
com questões sociais e comportamentais, como o
preconceito, o estigma e o abandono”.
José Gomes Temporão, Ministro da Saúde, 2008.
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2.1 - O Contexto da Epidemia HIV/AIDS e a Mulher
No Brasil, de acordo com a Assembléia Geral das Nações Unidas em HIV/ Aids
(UNGASS HIV/ Aids), de 1980 a junho de 2007, identificou-se um total de 474.273 casos
de aids. Utilizando-se as taxas médias de incidência de aids para o país e macrorregiões dos
anos de 2004 e 2005 e a população estimada para os anos de 2006 a 2011, obteve-se uma
estimativa de 220.730 casos novos de aids para o Brasil. Estima-se que, em 2011, 638.000
pessoas estejam vivendo com hiv/aids no país (BRASIL, 2008).
Sabe-se que muitas mudanças ocorreram, em quase 30 anos de epidemia de aids, no
Brasil e no mundo. Na década de 80, o início dos primeiros casos de aids no nosso país, os
casos de infecção com o hiv ocorriam principalmente entre homossexuais. Começaram em
seqüência os casos entre usuários de drogas injetáveis, no compartilhar das seringas e entre
mulheres de comportamento promíscuo, ou seja, indivíduos que participantes do chamado
grupo de risco (PINTO et al, 2007).
A adoção deste conceito no campo do hiv/ aids culminou com o preconceito e a
estigmatização de determinados grupos com comportamento socialmente reprovados, bem
como constituiu-se em um aspecto a dificultar a adoção de medidas preventivas pelos grupos
sociais ditos como fora do risco (AYRES et al, 1997).
Ainda hoje, como na seqüência dos fatos, nem as crianças, mulheres em condição
conjugal estável ou pessoas da terceira idade conseguiram escapar da voracidade da epidemia.
(PINTO et al, 2007).
No Brasil, do total de casos notificados até junho de 2006 , 67,2% (290.917 casos)
foram do sexo masculino, e 32,8% (142.138) do sexo feminino (BRASIL, 2007). Esses
dados, no meu entendimento, apontam para o constante crescimento da epidemia da aids entre
as mulheres e a diminuição da razão de infecção entre os sexos.
19
Indicadores apresentados na Área Técnica de Saúde da Mulher do Ministério da
Saúde, através do Plano Integrado de Enfrentamento da Feminização da Epidemia da Aids e
outras DST, demonstram que em todo o mundo, 17,3 milhões de mulheres com 15 anos ou
mais estão vivendo com o hiv. (BRASIL, 2007).
Em um breve resgate histórico, vale destacar que em 1984 o Ministério da Saúde,
atendendo às reivindicações do movimento de mulheres, elaborou o Programa de Assistência
Integral à Saúde da Mulher (PAISM). As áreas de atuação do PAISM foram divididas em
grupos baseados nas fases da vida da mulher, que englobam: a assistência ao ciclo gravídico
puerperal: pré-natal (baixo e alto risco), parto e puerpério; assistência ao abortamento;
assistência à concepção e anticoncepção; prevenção do câncer de colo uterino e detecção do
câncer de mama; assistência ao climatério; assistência às doenças ginecológicas prevalentes;
assistência à mulher tima de violência e no tocante ao estudo, prevenção e tratamento das
dst/ aids.
Entretanto, entendo que o conceito de integralidade fundamentado no PAISM à época,
o contemplou em seus critérios de ação toda a gama de contextos, nos quais a mulher
precisa de atenção dentro da sociedade. Sua atuação estaria concentrada somente nos
problemas de saúde decorrentes da atividade sexual e reprodutiva da mulher, ou seja, focada
apenas na mulher enquanto sujeito da reprodução.
Em maio de 2004, após 20 anos de PAISM, o Ministério da Saúde lançou a Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) - Princípios e Diretrizes -
construída a partir da proposição do Sistema Único de Saúde (SUS), em parceria com
diversos setores da sociedade. A PNAISM tem como compromisso implementar ações de
saúde que contribuam para a garantia dos direitos humanos das mulheres e reduzam a
morbimortalidade por causas preveníveis e evitáveis (BRASIL, 2004).
20
Tal política incorpora, num enfoque de gênero, a integralidade e a promoção da saúde
como princípios norteadores e busca consolidar os avanços no campo dos direitos sexuais e
reprodutivos, com ênfase na melhoria da atenção obstétrica, no planejamento familiar, na
atenção ao abortamento inseguro e no combate à violência doméstica e sexual. Agrega,
também, as portadoras de doenças crônicas não transmissíveis e de câncer bem como a
prevenção e o tratamento de mulheres vivendo com hiv/aids.
Entendo que, neste aspecto, o direcionamento a saúde da mulher tornou-se mais
amplo, pois abrange situações existentes no cenário social passíveis de aumentar a
morbimortalidade entre as mulheres. O conceito de integralidade proposto pelo PNAISM
reforça o sentido de entendermos a mulher como sujeito cidadão.
No que diz respeito à questão da maternidade e o hiv/aids, torna-se importante
destacar que o Ministério da Saúde, no ano de 2003, instituiu O Projeto Nascer Maternidades,
como uma medida política cuja meta principal era capacitar as equipes multiprofissionais das
maternidades conveniadas, com vista à reorganização do processo de trabalho para melhoria
da qualidade do atendimento à gestante, puérpera e recém nascido, redução da transmissão
vertical (TV) do hiv e da sífilis congênita (BRASIL,2003, p.8).
Tal projeto destaca que as gestantes e parturientes devem ser acompanhadas por
equipe multiprofissional, visando cobrir as diferentes necessidades do ciclo gravídico-
puerperal, inclusive as de origem social, familiar e emocional. Acrescenta ainda, a
importância do enfoque hostico, incluindo o aspecto humano e não somente médico-
científico.
O sucesso do projeto é considerado proporcional à responsabilidade compartilhada
entre os diversos atores participantes, destacando a importância da adesão das maternidades e
principalmente das equipes de saúde pela ação direta realizada na prestação de serviços de
saúde de qualidade e pela capacidade de promover mudanças sociais (BRASIL, 2003).
21
Em contrapartida, Barroso e Galvão (2007), destacam que numa pesquisa realizada em
Fortaleza, para avaliar o atendimento prestado por profissionais de saúde a puérperas com
hiv/aids - observou que, dos critérios considerados sobre as recomendações para redução da
TV na assistência pós-parto, os profissionais não cumpriram totalmente aqueles avaliados, ou
seja, nenhuma puérpera recebeu todas as intervenções preconizadas no puerpério, ações
necessárias para redução da TV. Deste modo, os profissionais realizaram as intervenções e
orientações apenas parcialmente.
Segundo dados informados pelo Boletim Epidemiológico DST/ Aids do Ministério da
Saúde no período entre 2000 e 2007, o mero de parturientes infectadas pelo hiv, foi de
34.315 casos, compreendendo faixa etária entre15 a 40 anos de idade, de todas as regiões do
país. No tocante a infecção por TV, de janeiro de 1983 a junho de 2006, foram notificados
13.171 casos de aids em menores de 13 anos de idade (BRASIL, 2007). Consiste, portanto,
em um relevante desafio para a saúde pública.
O progressivo aumento de casos de TV, principal responsável pelos casos de infecção
pelo hiv em crianças no Brasil constitui-se em uma das maiores conseqüências diretamente
relacionadas à exposição de mulheres em idade fértil ao vírus. Vale destacar que esta
transmissão pode ocorrer no período pré-natal, intra-parto e pós-parto (através do aleitamento
materno).
Verifica-se, contudo, uma tendência à redução progressiva de casos de TV devido à
adoção sistemática do Protocolo ACTG 076 (que demonstrou a efetividade da zidovudina
AZT - na redução da transmissão vertical do hiv), e a utilização da Terapia Anti-retroviral
(TARV) combinada à associação a outras medidas preventivas (BRASIL, 2008).
Para buscar o atendimento, a gestante/ puérpera necessita encontrar na rede de atenção
a Saúde, profissionais que estejam capacitados e comprometidos em prestar assistência de
22
forma adequada, para a qual é imprescindível conhecer, entender e intermediar as ações de
saúde que garantam os direitos e o bem-estar da mulher.
Acredito, porém, que as dimensões geográficas existentes em nosso país e as grandes
variações sócio-demográficas, sejam fatores que contribuem para o difícil acesso a
informações e serviços de saúde, os quais se apresentam ainda em número insuficiente para
atender as demandas concernentes a realidade de muitos brasileiros.
De certo modo, como podemos verificar, o governo tem criado estratégias e programas
para alcançar metas que visam melhorar a qualidade de vida da mulher no âmbito
biopsicossocial, mas ainda existem lacunas neste caminho.
A problemática que a infecção pelo hiv/ aids acarreta para a saúde da mulher e da
criança vai muito além das complicações clínicas: a decisão sobre engravidar, amamentar,
relacionar-se sexualmente, dentre outras, são questões que a mulher deve buscar
compreender para decidir de forma consciente e esclarecida.
23
CAPÍTULO III
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
Mulheres em idade reprodutiva
infectadas pelo hiv: Onde encontrá-las? De que
forma abordá-las? Qual a sua face? O que pensam?
O que sentem? O que falam? Elas choram? Têm
motivos para sorrir? Alguém as vê? Alguém as
ouve? Elas se mostram? Escondem-se? Querem ser
descobertas? Têm sonhos? Desejos? Estão vivendo?
Ou morrendo? Como se percebem diante desta
realidade? O que na estrada em que caminham
estas mulheres, luz ou sombra?
Isabel Catarina Braga, 2008.
24
3.1 - Tipo de Estudo
O estudo configurou-se como descritivo e exploratório, pois pode-se dizer que, estas
pesquisas têm como principal objetivo o aprimoramento de iias ou descoberta de intuições.
Seu planejamento é, portanto, bastante flexível de modo que possibilite a consideração dos
mais variados aspectos relativos ao fato estudado (GIL, 2002). Estas pesquisas são
habitualmente utilizadas por pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática.
Para encontrarmos estas mulheres e compreendermos suas falas, certamente marcadas
por uma diversidade de sentidos, tracei um planejamento metodológico - uma bússola capaz
de nortear e conduzir-me ao destino. Minayo (1998, p.16) nos diz que a metodologia é o
caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”.
Utilizou-se o método de pesquisa qualitativa que, de acordo com Minayo (1994,
p.22), surge diante da impossibilidade de investigar e compreender por meio de dados
estatísticos alguns fenômenos voltados para a percepção, a intuição e a subjetividade. Está
direcionada para a investigação das relações humanas, onde suas ações são influenciadas
pelas emoções e/ ou sentimentos aflorados diante das situações vivenciadas no dia-a-dia.
Em associação a pesquisa qualitativa, utilizei conceitos vinculados a Teoria das
Representações Sociais (TRS) para aproximar-me da realidade da maternidade para a mulher
hiv infectada. As Representações Sociais (RS) vêm sendo bastante utilizadas na enfermagem
para o desenvolvimento de estudos científicos estando relacionadas à valorização do senso
comum e a intensificação dos estudos voltados à subjetividade, às emoções ou respostas do
corpo humano frente ao cuidado.
25
Os estudos efetivados a luz desta teoria contribuem para a identificação de uma teoria
do senso comum, constituída através das diversas dimensões do hiv/aids, permitindo
compreender as diferentes formas dos grupos sociais em lidarem com um fenômeno.
AS RS m suas raízes firmadas na sociologia e na antropologia. O termo
“Representação Social” foi introduzido em 1961, por Serge Moscovici, com a publicação da
obra A Representação Social da Psicanálise. Na perspectiva da pesquisa social, a
representação social afirma que as representações expressam-se por meio da comunicação
social, que ocorre nas relações, nas intuições, nas propagandas, difundindo conceitos
formadores de atitudes, opiniões e comportamentos” (TAVARES e TEIXEIRA 1998, P. 52).
A estrutura teórica das Representações Sociais surgiu de uma cultura profissional que
procurava soluções coletivas para problemas comuns, relativos a experiências cotidianas e por
tradição num determinado grupo.
Segundo Moscovici (1978), a RS consegue incutir um sentido ao comportamento,
integrá-lo numa rede de relações, a qual está vinculada ao seu objeto, fornecendo ao mesmo
tempo as noções, as teorias e os fundos de observação que tornam essas relações estáveis e
eficazes. Sua reflexão compreende a produção de conhecimentos plurais, constitui e reforça a
identidade dos grupos, como influi em suas práticas e como estas reconstituem seu
pensamento.
“A representação toma o lugar da ciência por um lado, e por outro, a constitui (ou a
reconstitui) a partir das relações sociais envolvidas. De um lado, portanto, através da
representação, uma ciência recebe uma duplicação, sombra colocada sobre o corpo da
sociedade, e, de outro lado, ela se desdobra - na medida em que está fora do ciclo e no
ciclo das transações e dos interesses correntes da sociedade(MOSCOVICI, 1978, p.
78).
As RS podem ser evidenciadas no dia-a-dia de uma sociedade através de várias formas
de comportamentos, referem-se a objetos ou questões socialmente relevantes. dois
processos centrais na formação das RS: a objetivação e a ancoragem. A objetivação é a
transformação de algo abstrato em algo fisicamente reconhecível, subdivide-se em
26
naturalização e classificação. A ancoragem é a associação de algo desconhecido com
categorias e imagens diárias reconhecíveis, ligando-as em um referencial posteriormente
decodificável (MOSCOVICI, 2004).
Segundo Moscovici (2004), a ancoragem e a objetivação são os processos pelos quais
uma ciência penetra numa sociedade, mostrando como o social transforma um conhecimento
em representação e a forma pela qual essa representação transforma o social.
A seguir apresento um esquema de como o objeto de estudo se relaciona com os
conceitos das Representações sociais.
27
Esquema I Relação objeto de estudo /conceitos das Representações sociais.
Fonte: Elaborado pela autora, 2009.
O femeno social, alvo desta pesquisa, é relativo a questões de maternidade e
soropositividade para o hiv/ aids. A objetivação faz com que se torne real um esquema
conceitual. Traz para a luz da observação o que outrora era apenas símbolo. Durante a
objetivação ocorre a naturalização e a classificação. A naturalização torna o símbolo real,
trazendo-o para o concreto. A classificação é quando as pessoas fazem escolhas entre sistemas
de categorias, localizando e fixando condutas, ordenando-as, dando à realidade um ar
simlico. Na ancoragem ocorre a integração do cognitivo, afetivo e social do objeto
Objetivação
Naturalização
Classificação
Afetivo
social
cognitivo
Ancoragem
Representação
Social/
mulher
HIV/AIDS
Maternidade
28
representado no sistema de pensamento pré-existente e às transformações provenientes da
sociedade.
3.2 - Validação das estratégias de pesquisa
É importante ressaltar que no mês de fevereiro de 2008, foi realizada uma validação da
proposta metodológica. O cenário utilizado para a validação do instrumento de pesquisa foi
concedido pela chefia de enfermagem de uma unidade de saúde, localizada na zona oeste do
Rio de Janeiro, onde é desenvolvido um Programa de Saúde da Família. Inicialmente cinco
mulheres da comunidade foram convidadas a participar da atividade, as quais foram
devidamente informadas e esclarecidas. Para tanto, nos reservaram uma sala ampla e arejada,
com mobiliário essencial para a acomodação de todas as participantes e para a disposição do
material que foi utilizado.
A validação objetivou conhecer a representação social da maternidade para estas
mulheres, através de dinâmica de grupo e entrevista semi-estruturada. Os sujeitos
apresentavam faixa etária entre 19 e 45 anos e eram, na sua maioria, multíparas. Para a
dinâmica houve o preparo do ambiente com estímulos visuais (cartazes e frases), que
evocavam emocionalmente a temática abordada. Outros materiais disponíveis compreendiam:
revistas, papel pardo, lápis de cor, canetas hidrocor, lápis de cera, tesouras, cola e fita adesiva.
Os resultados obtidos durante a validação metodológica evidenciaram que a estratégia
metodológica atendia parcialmente aos objetivos do estudo, o que nos direcionou a novas
pesquisas para a construção do instrumento de coleta das informações que está apresentado a
seguir.
29
3.3 - Estratégia Metodológica Utilizada
Considerando as RS como proposta metodológica, buscou-se estabelecer uma relação
em que fosse possível às mulheres realizarem uma imersão nos seus pensamentos e
sentimentos a respeito do fenômeno, ou seja, entre o subjetivo e o objetivo. Para tanto,
considerou-se duas pré-categorias: “Luz” e “Sombra”.
A pré-categoria utilizada para designar os aspectos positivos envolvidos na
representação da maternidade para a mulher HIV positiva foi denominada LUZ. A pré-
categoria “Sombra” para designar os aspectos negativos. Esta relação, entre as pré-categorias
e o objeto da pesquisa, foi retratada no esquema a seguir.
Esquema II- Luz e Sombra: as duas faces do mesmo objeto
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
O esquema pretende apresentar uma analogia entre o objeto estudado, a luz e a
sombra, considerando que diante das situações que permeiam o ser/estar mulher-mãe-
soropositiva, existem condições vivenciadas pelo grupo de mulheres que podem representar
luz e outras que podem representar sombra, a partir da perspectiva das mesmas. Segundo
O
B
J
E
T
O
LUZ
SOMBRA
30
Nóbrega (1999), toda representação é sempre uma representação de alguma coisa ou de
alguém, para isso, utiliza-se da iia do mbolo.
Ao observarmos o esquema, podemos perceber que luz e sombra caminham lado a
lado, pois entendo, representam as faces do mesmo objeto. As mulheres que vivenciam a
maternidade e a infecção pelo hiv.
3.4 - Caracterização do cenário
O cenário para o desenvolvimento da pesquisa foi o ambulatório de DST/ Aids do
Hospital Geral de Nova Iguaçu. O processo para minha inserção neste cenário iniciou-se
mediante encaminhamento da pesquisa ao Comide Ética do Hospital Geral de Nova Iguaçu.
O Hospital Geral de Nova Iguaçu está localizado no município de Nova Iguaçu no
bairro da Posse, próximo à Rodovia Presidente Dutra, que liga Rio de Janeiro a São Paulo e
presta serviços de saúde à população da Baixada Fluminense. Por ser o único hospital com
perfil de alta complexidade, é referência na Baixada Fluminense e abrange uma população de
quase quatro milhões de habitantes, em sua maioria de baixo poder econômico e social.
Foi inaugurado no segundo trimestre de 1982. A unidade era uma entidade autárquica
federal do ex-INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social).
Com a extinção do INAMPS, o HGNI passou a pertencer ao Ministério da Saúde até 2002
quando foi municipalizado, passando a ser gerido pelo município de Nova Iguaçu, através do
Termo de Cessão de Uso
1
.
O hospital possui 15 mil metros quadrados de área construída e é dividida em cinco
blocos: Bloco A (ambulatório e laboratório), Bloco B (direção, raio-x e CPD), Bloco C
1
Informações obtidas atras do site: www.hgni.saude.gov.br
31
(emergência), Bloco D (refeitório, cozinha, UTI, centro cirúrgico, RPA e esterilização) e
Bloco E (enfermagem e prédio da subestação elétrica). Em anexo, está o Centro de Referência
Parteira Mariana Bulhões (CRMB).
O Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis do HGNI, é uma das
referências no combate à aids e o único que assiste na Baixada Fluminense a pacientes
infectados. A unidade ainda é um centro de referência para atendimento integral à mulher
infectada pelo HIV, dispondo de um ambulatório de pré-natal especializado na assistência à
gestante de alto risco e portadoras do hiv.
O hospital tem cadastrado 1300 pacientes e por dia, chegam a ser atendidos 80 a 100
pessoas no ambulatório. É o único hospital que tem leitos específicos para portadores do hiv/
aids na Baixada Fluminense. São oito leitos para internação e seis leitos/dia que são ocupados
enquanto os pacientes recebem transfues ou medicamentos. Realiza ainda, atendimento
odontológico específico para portadores do rus, onde as consultas podem ser marcadas no
ambulatório da unidade.
O setor de dst/ aids recebe fomento de instituições nacionais e internacionais para a
realização de pesquisas com portadores do hiv/aids, os quais recebem auxílio para transporte,
no trajeto residência-ambulatório-resincia, e alimentação afim de não faltarem às consultas.
O setor é composto por 08 consultórios modernos e equipados, para atendimentos de
consultas previamente agendadas com a equipe, e 01 sala de aconselhamento. Na secretaria
estão arquivados os prontuários, organizados por ordem alfabética, em estantes móveis. A sala
de espera possui assentos confortáveis, uma televisão, purificador de água e ar condicionado.
A equipe é composta por 10 infectologistas, 02 pediatras, 02 enfermeiros, 03 auxiliares de enfermagem,
02 assistentes sociais, 02 biólogos, 01 psicólogo, 01 farmacêutico, 02 técnicos de laboratório, 03 agentes
administrativos. Sendo assim, caracterizo e justifico a minha escolha pelo referido campo.
32
3.5 - Aspectos éticos da pesquisa
Primeiramente estabeleci contato com o secretário do Comide Ética e Pesquisa do
HGNI, onde obtive todas as informações pertinentes para meu ingresso no mesmo e percebi
que seria o lugar ideal para a realização da pesquisa. Dentre os documentos requeridos
constavam o protocolo da pesquisa, a folha de rosto do SISNEP, o Termo de consentimento
Livre e Esclarecido, Carta de solicitação à Direção do CEP/ HGNI, declaração orçamentária
da pesquisa e o roteiro da entrevista.
A entrada do protocolo de pesquisa no CEP/ HGNI ocorreu no dia 30 de julho e a
aprovação ocorreu no dia 11 de setembro de 2008, sob o nº 018/2008 (anexo III).
Ao ser informada sobre a aprovação, agendei uma visita no setor de dst/aids da
instituição para conhecer a Enfermeira Chefe. Fui apresentada a equipe como Enfermeira e
Mestranda da UNIRIO, conheci a planta física e a rotina de atendimento, e assim elaborarmos
a minha dinâmica de atuação junto aos sujeitos da pesquisa.
3.6 - Sujeitos e critérios de elegibilidade
Os sujeitos da pesquisa foram 22 mulheres em idade reprodutiva, entre 19 a 45 anos de
idade, soropositivas para o hiv, que tiveram filhos após o diagnóstico, em acompanhamento
no Hospital Geral de Nova Iguaçu.
33
3.7 - Processo de Coleta de Informações
As minha inserção no setor de dst/ aids do hospital Geral de Nova Iguaçu, pude
identificar os dias em que as mulheres estavam agendadas para as consultas de pré-natal,
puerpério ou de acompanhamento pediátrico.
Inicialmente optei por ler alguns prontuários para saber quais atendiam aos critérios de
inclusão preestabelecidos, ou seja, com idade entre 19 e 45 anos, hiv positivas e que tiveram
filho depois de conhecerem o seu diagnóstico. Posteriormente, observei que se mantinham
numa sala de espera e enquanto aguardavam pelo momento da consulta, compartilhavam entre
si suas histórias.
Aproximei-me dos sujeitos, individualmente. Após me apresentar como Enfermeira,
Mestranda e Pesquisadora, perguntava-lhes sobre a sua condição de maternidade de acordo
com os critérios estabelecidos pelo estudo: Esta criança foi gerada antes ou depois de você
conhecer seu diagnóstico sobre o hiv? E qual a sua idade?
Ao identificar as mulheres que poderiam participar do estudo, procurei manter
uma comunicação baseada em atenção e respeito. Todas as mulheres, que apresentavam o
perfil procurado, aceitaram participar da entrevista, antes ou após a consulta médica, fator
decidido por elas. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi disponibilizado
em duas vias onde, em ambas, os sujeitos assinavam seu nome por extenso, declarando que
foi voluntária a sua participação na pesquisa. Neste processo, pude utilizar um dos
consultórios do setor, mantendo a privacidade e a segurança das mulheres.
34
Dinâmica de Coleta das informações
“Muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, braço que envolve, palavra que
conforta, silêncio que respeita. Alegria que contagia, lágrima que corre,
olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove”. Cora Coralina
Para fins de maior objetividade a dinâmica de coleta das informações foi dividida em
dois momentos subseqüentes. A partir de uma listagem com a ilustração colorida e nominal de
33 pedras preciosas, as mulheres, sujeitos da pesquisa, puderam escolher um codinome
através do qual foram denominadas. Escolhi utilizar codinomes de pedras preciosas, para
designar, simbolicamente, o valor das mulheres entrevistadas, seres humanos, ricas em suas
histórias de vida.
Em um primeiro momento, na entrevista inicial, foram questionados elementos que
correspondem à identificação cio-demográfica dos sujeitos. Estas informações permitiram
conhecer as variáveis referentes ao perfil das mulheres sujeitos da pesquisa. Dessas
informações foi elaborado um quadro comentado que apresento a seguir.
35
3.8 - Caracterização dos sujeitos
Quadro 1 - Mulheres entrevistadas de acordo com as variáveis sócio-demográficas e
situação relacionada à maternidade.
Codinome
Idade
Ocupação
Situão
Civil
Escolaridade
Religião
Filhos
Pré
diag
TV
s
diag
TV
Brilhante
36
Do lar
separada
5ª série
Não tem
3
-
2
D -1
Esmeralda
19
Doméstica
amasiada
8ª série
Católica
3
-
1
Ad-1
Rubi
34
Do lar
amasiada
1ª série
Católica
5
-
2
Ad -1
Pérola
Negra
41
Do lar
solteira
2ª série
Evangélica
3
1
1
-
Água
Marinha
23
Do lar
casada
4ª série
Evangélica
4
-
3
Ad-1
Safira
28
P. vendas
solteira
1ª ano 2º g.
Não tem
2
-
3
D-1
Turmalina
negra
30
Do lar
amasiada
5ª série
Evangélica
3
-
3
-
Berilo
verde
21
Do lar
amasiada
8ª série
Evangélica
1
-
1
-
Ágata
24
Do lar
solteira
5ª série
Umbanda
1
-
1
D-1
Alexandrita
22
Do lar
solteira
8ª série
Católica
1
-
3
-
Ônix
23
Do lar
solteira
4ª série
Católica
3
-
3
Ad -1
Aventurina
24
Do lar
solteira
3ª série
Não tem
2
-
2
Ad -1
Topázio
23
Do lar
solteira
Analfabeta
Não tem
2
-
1
Ad-1
Berilo
amarelo
32
Do lar
amasiada
6ª série
Evangélica
2
-
2
-
Ametista
27
Cozinheira
amasiada
4ª série
Católica
4
-
2
-
Granada
24
Do lar
divorciada
2ª ano 2º g.
Católica
3
-
1
-
Rubilita
38
Do lar
solteira
3ª série
Evangélica
4
-
1
-
Olho de
tigre
23
Do lar
amasiada
2ºgrau Compl.
Ecumênica
1
-
1
-
Citrino
27
Do lar
solteira
5ª série
Evangélica
1
-
2
Ad-1
Lápis lazuli
24
Do lar
solteira
3ª série
Católica
1
-
1
-
Quartzo
rosa
21
Do lar
solteira
6ª série
Católica
3
-
1
Ad -1
Turquesa
25
Do lar
amasiada
8ª série
Católica
1
-
1
-
LEGENDA
D-1
Desconhece o diagnóstico de 1 filho, por estar ainda gestante.
AD-1
Aguarda Diagnóstico de 1 filho, por este ser recém-nato e ainda submetido ao tratamento com AZT.
FONTE: questionário e roteiro de entrevistas do estudo
Em relação ao Quadro I, verifica-se que, das 22 mulheres entrevistadas, a faixa etária
encontrada variou entre 19 a 41 anos. Predominam as mulheres entre 19 e 28 anos (72,7%) e
as demais compreendem a faixa etária entre 30 a 41 anos (27,3%). De acordo com o Boletim
Epidemiológico do Ministério da Saúde, o número de casos de gestantes infectadas pelo
HIV/AIDS segundo faixa etária, por ano do parto, nos revela que entre os anos de 2000 a
2007, 19.936 tinham entre 20 e 29 anos de idade. São mulheres bastante jovens na plenitude
de sua idade reprodutiva (BRASIL, 2007).
36
A ocupação, dado importantíssimo para a caracterização cio-econômica destas
mulheres, indica que 19 se ocupam do lar, representando um percentual de 86,4% , o que
demonstra o afastamento destas mulheres do mercado de trabalho e sua dependência
econômica do companheiro ou de outros.
Parece pouco provável que, diante da crise econômica que o país atravessa, e sendo
nossa população de mulheres constituída em grande parte por pessoas de baixa
renda, uma porcentagem tão grande de mulheres permaneça no lar, sem qualquer
atividade remunerada. É possível que estas mulheres nem sequer estejam inseridas
formalmente no mercado de trabalho (PARKER e GALVÃO, 1996 p.55).
Apenas 13,63%, tem outro tipo de ocupação, porém ligada a funções de menor
qualificação devido a baixa escolaridade da população em estudo.
Na busca ou na manutenção de uma ocupação formal os portadores do hiv esbarram
numa série de dificuldades. Desempregados, muitos são barrados nos exames médicos e têm o
direito ao sigilo de sua condição violado. O tratamento anti-retroviral exige idas freqüentes
aos serviços de assistência médica, que implicam em faltas ou atrasos no trabalho. A
apresentação de atestados médicos para justificar ausência no trabalho, mesmo sem indicar
aids, pode resultar em demissão (GARRIDO et al, 2007).
Em relação à situação civil, 50% são solteiras, 40,9% são casadas ou amasiadas e
11,11% são separadas ou divorciadas. Estes dados demonstram uma instabilidade conjugal e
o aumento do número de mulheres que criam seus filhos sozinhas.
Analisando-se a escolaridade como variável indicadora de condição sócio-econômica
dos casos de aids, verifica-se que 81,81% tem apenas o ensino fundamental, 13,63%
cursaram alguma etapa do ensino médio e 4,54% são analfabetas. Percebemos que a grande
maioria apresenta somente o grau ou ensino fundamental incompleto. Sabe-se que a
epidemia de aids no Brasil se iniciou na população de maior condição sócio-econômica, em
indivíduos de mais de oito anos de escolaridade, mas hoje, como o maior número de casos se
37
encontra em indivíduos com menor escolaridade, tem sido denominada de pauperização
(PINTO et al, 2007).
Dados demonstram que a valorização religiosa entre as mulheres está presente, onde
40,9% são católicas, 31,81% são evangélicas, 9,09% participam de outras e 18,18% não
professam nenhuma religião. A população brasileira em geral é exemplo de uma cultura
extremamente religiosa. No que se refere aos dados informados por tipo de religião, houve
consonância com levantamentos que mostram o crescimento das religiões evangélicas no país,
mas ainda mantendo-se hegemônica a afiliação ao catolicismo, conforme dados do IBGE
citados por Gwercman (2004). Não somente através dos dados sociodemográficos declarados,
mas também nos depoimentos, a fé indica a importância da religião na vida destas mulheres
no processo de enfrentamento do hiv/ aids.Mesmo as que não declararam participar de
nenhuma religião pronunciaram questões relativas à fé em algum momento da entrevista.
Pertinente a questão da maternidade 100% das mulheres são multíparas, 63,6%
tiveram de 2 a 4 filhos e 36,4% tiveram de 5 a 7 filhos. Em relação ao número de filhos
nascidos pós diagnóstico do HIV, 50% tiveram apenas 1 filho e 50% tiveram de 2 a 3 filhos.
Em relação à transmissão vertical (TV), apenas uma criança apresentou-se
soropositiva, infectando-se no pré-diagnóstico materno. 50% das mulheres entrevistadas ainda
desconhecem o status sorológico de um de seus filhos (D-1) pelo fato de estarem gestantes ou
aguardam pelo diagnóstico (Ad-1), por terem dado à luz recentemente e os recém-natos
estarem utilizando a terapia anti-retroviral por um prazo de 6 semanas.
A probabilidade de transmissão perinatal está diretamente relacionada com a carga
viral no momento do parto. Outros riscos são os usos de substâncias psicoativas, ruptura
prematura das membranas, co-infecção pelo vírus da hepatite C e gestação pré-termo
(BARTLETT e GALLANT, 2004).
38
As características sócio-demográficas nos apresentam mulheres jovens, com um perfil
de grande fragilidade devido a poucas oportunidades socioeconômicas e de formação
educativa. Esses achados evidenciam a vulnerabilidade das mulheres em vários aspectos e
como agravante, a infecção pelo hiv que certamente as exclui de muitas situações pertinentes
à vida, como por exemplo: facilidade de acesso aos serviços de saúde para fins de diagnóstico,
tratamento e principalmente controle da doença, enfim, direito à vida como todo cidadão tem
por direito.
No segundo momento, após os questionamentos que geraram a caracterização dos
sujeitos, prosseguiu-se a coleta das informações através entrevista semi-estruturada (anexo I),
elaborada com pré-categorias (LUZ e SOMBRA) em pergunta aberta, pois esta possibilita aos
sujeitos do estudo a liberdade para responderem sobre a temática de acordo com seu próprio
entendimento.
Concomitante à pergunta do roteiro de entrevistas - O que representa para vo a
maternidade sendo HIV positiva, luz ou sombra? ( Por quê?) - foram apresentadas às
mulheres duas placas: uma na cor amarela, escrito Luz” e a outra na cor cinza, escrito
“sombra”, conforme apresentado no esquema a seguir.
39
Esquema III Pré-categorias: Luz ou Sombra?
Fonte: Elaborado pela autora, 2008.
Iniciei a entrevista composta por uma pergunta aberta (anexo I), que deu margem a
emersão de conteúdo temático relevante. As respostas obtidas através deste questionamento
foram apresentadas num quadro a seguir.
LUZ
SOMBRA
O que
representa a
maternidade
para você sendo
HIV positiva?
ou
ou
40
Quadro 2 O que representa a maternidade para você sendo HIV positiva, luz ou
sombra? Por quê?
Codinome
Respostas
Brilhante
Não sei, pra mim é luz, não é sombra né? Uma coisa que não é bom ser hiv positiva,
eu tenho medo, assim, de morrer e deixar meus filhos, entendendo?
Esmeralda
”Não pela gente, mas saber que pode ter um filho assim, com HIV é ruim”.
Rubi
“Porque é muito ruim e eu nunca pensei de ter, quando eu descobri eu quase fui a
loucura, bem dizer eu quase me matei, por que eu não acreditava que eu tinha...
rola Negra
“Quando eu descobri que estava grávida da G, eu fiquei desesperada Senhor Deus, eu
vou ter uma filha doente! Eu vou ter mais uma?!
Água Marinha
“Ah, por que eu acho que eu vô morrê a qualqué hora, qualqué tempo, aí vô deixar
meus filhos”.
Safira
“Luz por que Deus sabe o que faz e sombra por que não é aquilo que a gente imagina e
a gente nunca sabe o que vem depois”.
Turmalina
negra
“Por que é uma experiência nova, uma experiência nova na minha vida, e o me
atrapalha em nada, não atrapalha nada na minha família ? Nem com meus filho, nem
com meu esposo ...é isso”.
Berilo verde
Ah, é porque é uma coisa na nossa vida assim que a gente nunca teve, sabê assim
que tem né?o mundo não acabou né? Mas fica sem graça, de vivê assim com meu
parceiro, tem assim minhas filha, minhas filha fica sabendo..ah, pra mim é sombra, é
destruição, dá vontade de morrer, sumir”.
Ágata
“no começo de tudo, assim pra mim foi muito difícil, mas você nunca pode perder a
esperança, porque lá no final tem uma luz”.
Alexandrita
“Por que uma mãe HIV poder ter filho, então pode ter e os filho nasce negativo eno
pra mim é luz”.
Ônix
“Luz porquê eu vou ter um filho e sombra porquê meu filho poderia vim doente
também. Era a felicidade e a tristeza”.
Aventurina
“Ah, mais uma criança...assim...sei lá. É muita dificuldade, pra mim é sombra”.
Topázio
“Por que não sai da minha cabeça, tem hora que eu não paro de pensá, não sai da
minha cabeça de jeito nenhum o que que eu tenho”.
Berilo amarelo
“Porque eu sempre fico pensando assim no amanhã no que pode acontecer”.
Ametista
“No começo o mundo caiu, hoje em dia tá mais tranqüilo”.
Granada
“Por que no meu caso, na maternidade eu descobri que eu sou soropositiva, por que
assim, se eu não tivesse engravidado eu não ía saber que eu sou soropositiva, podia
ficar mais complicado do que tava e de repente não ía dar tempo de fazer todos os
tratamentos. A gravidez, quer dizer, meu filho foi que salvou a minha vida. Então é
luz, claro”.
Rubilita
“Por que eu achei que ía sê assim mais complicado né? E não foi. Eu achei que ía ter
um neném assim com defeito, deformado e não foi nada disso que eu pensava”.
Olho de tigre
“Porque assim graças a Deus meu primeiro filho não teve nada, meu segundo eu tenho
fé em Deus que não vai ter nada...”
Citrino
“Porque filho é sempre uma bença na nossa vida”.
Lápis lazuli
“Não sei, por que tudo é muito difícil...não tem apoio, sacrifício...”
Quartzo rosa
“Ah, porque eu amo meus filho né? Apesar das dificuldade eu sei que não é sombra
não, é luz...”
Turquesa
“Por que Deus sabe o que faz na vida da gente. Porque primeiro eu não aceitava muito,
mas agora eu já me acostumei...”
FONTE: questionário e roteiro de entrevistas do estudo
41
Todo este processo de coleta de dados foi gravado em mídia digital através de um
gravador portátil, findando numa posterior transcrição e análise de dados coletados.
Ao ouvir as palavras emitidas, observar suas expressões, perceber seus sorrisos e suas
grimas, pude mergulhar, mesmo que por alguns instantes, no universo daquelas mulheres e
me confrontar com a visão do todo, de caráter profundo e compreensível, diferente dos
fragmentos obscuros e superficiais que outrora me impulsionavam ao preconceito velado e a
estigmatização por quem engravida sabendo-se infectada pelo HIV.
3.9 - Análise
Para análise das informações foi utilizada a técnica de Análise Temática de Conteúdo
(BARDIN, 2006), com o objetivo de descrever os significados, sentimentos, relações sociais
e a situação das mulheres entrevistadas. A análise de conteúdo emerge de um conjunto de
técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens. O tratamento dos resultados obtidos e interpretação
(inferências e interpretações previstas no referencial teórico) permitiram estabelecer um
quadro preliminar de resultados, os quais destacaram as informações fornecidas pela análise.
3.10- Classificação Temática
Após a leitura de todas as entrevistas respectivamente numeradas e codificadas pelos
pseudônimos, recapitulei as frases que poderiam corresponder às descrições pertinentes ao
objeto de estudo, possibilitando a verificação das semelhanças de respostas. Para Minayo
(1994), essas frases podem ser chamadas de unidades de registro.
42
Durante a análise, prossegui agrupando os temas emergentes por semelhança de
sentido para facilitar a leitura para estabelecer as temáticas sendo necessário refazer, por
diversas vezes a leitura de cada entrevista. De acordo com os dados obtidos os temas foram
agrupados em Luz, aspectos considerados positivos na maternidade pós-diagnóstico do hiv e
Sombra para designar os aspectos negativos. Após as fases organizacionais, correspondentes à
pré-análise e ao tratamento do material, atribuí a cada grupo de significados um nome que
representasse a unidade temática.
Esse tipo de análise, o mais generalizado e transmitido, foi cronologicamente o
primeiro, podendo ser denominado análise categorial. Esta pretende tomar em
consideração a totalidade de um texto, passando-o pelo crivo da classificação e do
recenseamento, segundo a freqüência de presença (ou ausência) de itens de sentido.
(...) É o método de categorias, espécie de gavetas ou rubricas significativas que
permitem a classificação dos elementos de significação constitutivas da mensagem
(BARDIN, 1977 P. 36-37).
A partir do quadro a seguir, podemos conhecer os temas que surgiram no decorrer das
entrevistas, onde o senso comum foi capaz de construir os sentidos que objetivam a
representação do fenômeno estudado.
43
Quadro 3 Freqüência dos Temas:
Temas por Unidade de Registro
Medo
10
Negativo
05
Morte, morrer
11
Negação
05
Deixar, abandonar, o ver mais
07
Aborto, tirar
08
Remédio, tratamento
25
Afastamento, isolamento,
discriminação, preconceito
16
Abalada, desesperada, revoltada
06
Futuro
07
Força, esperança
13
Ligadura
15
Vida, viver, sobreviver, nascer
43
Camisinha, injeção, prevenção
08
Desistir, se entregar
04
Nova, novidade
05
Lutar persistir, tentar, conseguir,
realizar, superar
17
Filho, filha, bebê, criança, neném
75
Saúde
04
Família, marido, esposo
21
Difícil, dificuldade, complicado,
problema,
sacrifício
29
Mãe, maternidade, mãezinha, mulher
14
Preocupação
05
Gravidez, engravidar, grávida
23
Deus
27
Orientação médica
08
Tristeza, desânimo, arrepender,
depressão, baixo astral
20
Vontade, querer, não querer
15
Alegria, felicidade
07
Crescer, crescimento
04
Cabeça, mente, psicológico
10
Normalidade, normal
05
Sofrer, sofrimento
02
Responsabilidade, amadurecimento
09
Doença, doente, sentir mal
15
Bem, bom, gostar, amar, melhorar
16
Cuidado, carinho, atenção,
necessidades, proteção, paciência, criar
48
Pensamento, pensar, imaginar,
sonhar, reflexão
28
Dor, doer
02
Descobrir
09
Ruim, mal
05
Cura
03
FONTE: questionário e roteiro de entrevistas do estudo
O esquema a seguir apresenta a construção dos sentidos atribuídos pelas mulheres
entrevistadas frente à maternidade e a infecção pelo hiv, a partir de um reagrupamento
temático.
44
Esquema IV - Reagrupamento das Unidades Temáticas.
Fonte: Elaborado pela autora, 2009.
Aspectos
Positivos
Enfrentamentos
Fé e Esperança
Mudança de
atitude: preservar/
manter a vida.
M
A
T
E
R
N
I
D
A
D
E
H
I
V
Aspectos
Negativos
Vulnerabilidades
Estigmatização,
medo
dos sintomas,
da medicalização,
do diagnóstico e
desamparo dos
filhos perante sua
morte.
45
CAPÍTULO IV
UNIDADE DE ANÁLISE
A Maternidade para a mulher hiv positiva:
Enfrentamento diante das vulnerabilidades
Ser mãe é mais do que uma função; é um
modo-de-ser que engloba todas as dimensões da
mulher-mãe, seu corpo, sua psique e seu espírito.
Com seu cuidado e seu carinho a mãe continua a
gerar os filhos e filhas durante toda a sua vida. (...)
nos momentos de perigo são invocadas como
referência de confiança e de salvação. É através das
mães que cada um aprende a ser mãe de si mesmo,
na medida em que aprende a aceitar-se, a perdoar
as próprias fraquezas e a alimentar o sonho de um
grande Útero acolhedor de todos”.
Leonardo Boff, 1999.
46
4.1 - A Maternidade para a Mulher HIV Positiva: Vulnerabilidades
Nesta subunidade de análise apresento para discussão aspectos encontrados nas
representações que expressam vulnerabilidades no contexto da maternidade para a mulher hiv
positiva, uma das faces dessa representação.
Em se tratando de vulnerabilidade, Ayres et al (1997) a define como:
“[...]a chance de exposição das pessoas ao adoecimento como a
resultante de um conjunto de aspectos não apenas individuais, mas coletivos,
contextuais, que acarretam maior suscetibilidade a infecção e ao adoecimento
e, de modo inseparável, maior ou menor disponibilidade de recursos de todas
as ordens para se proteger de ambos”.
Através dessa atividade de representar, o indivíduo constrói uma nova realidade de
seu mundo, dando-lhe novos significados que o conduzem. Essa interpretação da realidade é
traduzida como um conjunto lógico de pensamento que vai constituir a visão de mundo para
uma determinada coletividade (JOVECHLOVITCH, 2000).
A maternidade representa um modelo social que normatiza a experiência feminina,
o qual significa que é da natureza da mulher ser mãe (CARVALHO e PICCININI, 2008).
Mas para essas mulheres foi possível constatar que a maternidade, apesar de ser valorizada,
traz consigo uma sobrecarga biopsicossocial que lhes proporcionam sentimentos de angustia
e de grande tensão. Neste sentido as representações obtidas foram: Sob o Olhar do Outro:
Estigmatização, HIV e Maternidade e Face Obscura: As Representações do Medo.
47
4.1.1 - Sob o Olhar do Outro: Estigmatização, HIV e Maternidade
Foi possível verificar que para as mulheres, sujeitos desse estudo, constatarem-se hiv
infectadas gerou muitas incertezas e sentimentos como, por exemplo, a ansiedade, o medo do
desconhecido, a insegurança e sentimentos de perda. É no confronto com essa nova realidade
que essas mulheres passaram a conviver com o fato de portarem um vírus que carrega consigo
um estigma ainda nos dias de hoje, produtor de vários significados. Os trechos abaixo
demonstram essa afirmativa:
“Eu mesmo me sinto arrasada por que aconteceu isso comigo, eu me sinto muito mal, mas eu
tenho que me acostumar e saber que agora não tem mais jeito, eu já tenho o vírus e não tem mais jeito
dele sair assim de mim (choro)”. (Alexandrita)
“(...) é muito ruim e eu nunca pensei de ter, quando eu descobri quase fui a loucura, bem
dizer eu quase me matei, por que eu não acreditava que eu tinha...” (Rubi)
“Eu não sabia, eu descobri porque minha filha ficou doente. (...) Eu fiquei quase maluca,
quase doida”. (Pérola Negra)
Deparam-se, portanto, com um cotidiano marcado por situações que perpassam por
questões de discriminação e a estigma social, e por vezes falta de apoio como nos trechos que
se seguem:
“(...) e quando eu falo assim com alguém, parece que... as pessoas se afastam. Por que
onde eu moro eu já não falei nada pra ninguém, pras pessoas não se afastar”. (Rubi)
“(...) minha família toda contra, minha mãe não liga muito pra mim, minha idosa também,
a gente não pode contá muito, então a gente não tem muito apoio...caminha sozinho”. (Safira)
48
“(...) minha família tem um preconceito horrível. A minha tia fala que se souber de alguém
que tem aids, não deixa nem os filho chegar perto, nem respirá, e nem na casa daquela pessoa ela
vai”. (Alexandrita)
“O meu cunhado tem preconceito de mim por que tudo o que eu faço ele não come, ele não
bebe (risos), aí eu me sinto diminuída, aí eu conto pra minha mãe, que ele pergunta: quem que fez o
café? Aí eu digo: fui eu, aí ele não toma. (Ônix)
As falas asseveram o incômodo trazido pelo preconceito e pelo estigma social de estar
infectada com o hiv. Acredito que o preconceito, a falta de informão e a credulidade de que
a epidemia atinge somente ao outro, consubstanciam características importantes que podem
contribuir para o aumento da vulnerabilidade à infecção pelo hiv.
Ao vivenciarem a maternidade, essa rejeição social pode adquirir dimensões maiores,
como demonstram os depoimentos que se seguem:
“Eu não sei... hiv positivo com gravidez, fica difícil, as coisa dificulta mais. Vai ser difícil, (...)
por que ser portador é difícil, muitas porta se fecha, né, é lugar que a gente tem que ir, é o
trabalho, então gravidez, não vai facilitar tanto, mas o que é que eu posso fazer?”(Brilhante)
“Depois vai vim o preconceito que é grande né? Mulher grávida com HIV? As pessoa vai
julgar muito, né?” (Citrino)
De acordo com Parker e Aggleton (2006), a parte da epidemia da aids considerada
como mais explosiva e deletéria, seria a das respostas sociais, culturais, econômicas e
políticas, que têm se caracterizado por níveis excepcionalmente altos de estigma,
discriminação e também de negação coletiva.
49
O estigma da aids passou a ser um dos grandes obstáculos que impedem as pessoas de
revelarem seu status sorológico pelo medo do abandono, do julgamento e de reações hostis ou
negativas por parte dos outros (ALMEIDA; LABRONICI, 2006).
O medo de sofrer o preconceito e a estigmatização ainda se faz presente quando as
mulheres soropositivas são expostas a situações conflitantes vinculadas ao fato de serem
orientadas a não amamentar
2
. Batista e Silva (2006), descrevem que os sentimentos relatados
devido à proibição de amamentar o de impotência, inutilidade, tristeza e inveja das es
que podem amamentar. Tal impossibilidade causa também desgastes físicos.
De acordo com Moreno et tal (2006), a lactação da puérpera soropositiva pode ser
inibida por métodos farmacológico e/ ou mecânico. Quando a escolha é o método
farmacológico, a puérpera ingere uma medicação específica que atua no organismo coibindo
os hormônios produtores do leite materno. Entretanto, o método mecânico, ainda muito
utilizado, que consiste na compressão das mamas (enfaixamento) produz ansiedade na
puérpera, pois no silêncio da sua condição de soropositividade, busca subterfúgios para
explicar aos alheios os motivos do enfaixamento e da não-amamentação.
Desta maneira, esta mulher pode sentir-se constrangida e sofrer preconceito por o
amamentar, principalmente no alojamento conjunto
3
, onde essa prática é incentivada à
maioria das puérperas (BATISTA e SILVA, 2006).
Entendo que, para o senso comum, o ato de não amamentar pode indicar um sinal de
que algo está errado com a mulher. Falta de zelo, sentimentos de desamor, quebra de um elo
entre o binômio mãe e bebê ou até mesmo negligência aos direitos da criança, estão
2
Destaco que essa problemática não foi evidenciada nos depoimentos deste estudo, mas considero importante
ressaltar à enfermagem a necessidade da observação do estado emocional da puérpera frente a esta situação.
3
Sistema hospitalar em que o recém-nascido sadio, logo após o nascimento, permanece com a mãe, 24h por dia,
num mesmo ambiente, até a alta hospitalar. Este sistema possibilita a prestação de todos os cuidados
assistenciais, bem como a orientação à mãe sobre a saúde do binômio mãe e filho.
50
associados a não amamentação. Contudo, em tempos de aids o amamentar necessita ser
ressignificado.
Todavia, enquanto persistem estes paradigmas relacionados à estigmatização, torna-se
necessário que o enfermeiro repense sobre estas vulnerabilidades que compelem a puérpera
soropositiva.
4.1.2 - Face Obscura: As Representações do Medo
As mulheres hiv positivas (re) apresentaram em suas falas relacionadas à maternidade
a questão do medo: dos sintomas, da medicalização, do desamparo dos filhos e até da própria
morte.
Seguem trechos que evidenciam esta questão:
É bastante difícil, é preocupante, dá medo, é tudo isso. A gente não dorme, fica pensando se
vai vim com hiv, será que não, é difícil, é difícil sim. A gente carrega tipo um peso, uma preocupação
no dia-a-dia, é difícil, bem difícil mesmo”.(Brilhante)
“(...) mas o que eu mais quero e mais peço é que ele não tenha nada, igual ao outro”. (Rubi)
“(...) meu filho poderia vim doente também. (...) isso era uma grande preocupação pra
mim”. (Ônix)
O medo de adoecer pode estar associado também à possibilidade de ter o seu status
sorológico revelado para outras pessoas do convívio social. Através deste estudo foi possível
constatar que o medo é um sentimento presente na vida da mulher soropositiva, donde os
sentidos da a maternidade coadunam-se às barreiras circunscritas que lhes são impostas pela
infecção com o hiv/ aids.
51
Verificou-se que além da preocupação da mulher com sua condição de saúde, coexiste
também uma grande preocupação com a saúde da criaa. O medo iminente da transmissão
vertical e a ansiedade durante a espera do resultado do teste anti-hiv do bebê, permanecem
como ameaça contínua no pensamento dessas mulheres.
Freitas e Moreira (2007), afirmam que o tempo de espera até a confirmação do
diagnóstico do filho é vivenciado com angustia e incerteza e constitui um dos momentos mais
difíceis de serem enfrentados pelas mulheres.
Entendo que as perspectivas da puérpera por um filho livre da TV, esbarram em
dilemas físicos, sociais e emocionais. A sociedade ainda é rígida em suas críticas sobre as
mulheres hiv positivas que engravidam. Muitas dessas mulheres, violentadas pela vida,
correm mais um risco social: a culpabilização pela possibilidade de devolverem para a
sociedade uma criança soropositiva.
Observa-se nas falas subseqüentes, que a existem grandes conflitos emocionais, pois
estão ainda na tentativa de se situarem frente a doença e acaba por surgir a necessidade de
terem de se correlacionar com as exigências necessárias para o cuidado da criança.
“Quando eu descobri que estava grávida da G, eu fiquei desesperada! Senhor Deus, eu vou
ter uma filha doente! Eu vou ter mais uma?! Não posso estar grávida agora, tenho a R com esse
pobrema! (Pérola Negra)
“Quando eu sôbe que estava grávida eu senti, bem dizer, remorso (...)” (Rubi)
“Quando eu fiz o inxame e sôbe que tava grávida eu chorei muito (...) eu pensava que tinha
que tê corage, lutá pela minha vida, mas... (choro)”. (Lápis Lazuli)
“(...) era muito difícil porque eu achava que o neném ia vim doente né? Aí eu tinha medo dele
sofrer com isso, (...) de crescer com uma doença”. (Turquesa)
“Saber que pode ter um filho assim, com hiv é ruim... os outros três é tudo normal, e ela,
não vai ter a liberdade dela como os outros três o, porque vai ter que ficar tomando remédio,
52
fazendo tratamento. E isso assim agente fica triste, não pela gente mas pelo bebê, né? E eu mais
triste mermo assim por causa da minha filha”. (Esmeralda)
Os riscos da transmissão vertical do hiv estão vinculados a diversos fatores como, por
exemplo, o uso de anti-retroviral (ARV), comportamento e nutrição maternos, obstétricos,
fetais, placentários, aleitamento materno, virológicos e imunológicos (GIANVECCHIO e
GOLDBERG, 2005).
Sabe-se que o sistema imunológico tem uma conexão bastante íntima com o sistema
límbico
4
. Ao vivenciar situações de grande estresse emocional o organismo pode tornar-se
sintomático para diversas enfermidades, por apresentar maior debilidade imunológica
(RIBAS, 2007). Em face do exposto, entendo que, urge a necessidade de um cuidado de
enfermagem direcionado também para as questões emocionais dessas mulheres.
Nas questões relacionadas à saúde da criança, foi possível identificar conflitos e
dúvidas referentes ao bem estar da criança a partir do uso dos ARV. Embora as
preocupações com malformações fetais encontrem-se presentes na maioria das gestações,
pode-se pensar que o hiv/ aids potencialize este temor, uma vez que a gestação se encontra
num contexto de infecção e vulnerabilidade (RIGONI et al, 2008).
Segue depoimento que constata essa afirmativa:
Eu achei que ía ter um neném assim com defeito (…) a doutora falava que se eu ficasse
grávida eu podia ter um neném deformado por causa dos remédios que eu tomava, eu fiquei cheia de
medo. Aí quando eu fiquei grávida eu fiquei toda apavorada”. (Rubilita)
4
Conjunto formado por estruturas do Sistema Nervoso Central responsável por respostas e comportamentos
emocionais.
53
AS contestações sobre o uso dos ARV durante a gestação e pela criança no
puerpério, pairam sobre os efeitos adversos que podem causar, mas não sobre sua eficácia na
diminuição do risco de transmissão vertical. Conforme discutido por Marques (2006), o
benefício da profilaxia da transmissão vertical com o uso de drogas ARV aliadas a outras
medidas é inquestionável. O risco de transmissão vertical com o uso de terapia potente e
outras medidas, varia desde 0 a 3%, ao passo que com o uso isolado de zidovudina (AZT)
situava-se ao redor de 8% e sem o uso de anti-retroviral era de 25%.
Porém a autora sinaliza que, neste momento de fragilidade quando a homeostase da
mulher está adaptada para garantir a sua sobrevincia e o desenvolvimento de seu feto, o uso
de medicamentos ao longo da gravidez deve ser criterioso, embasado na melhor evidência
científica disponível.
Os possíveis efeitos dessas drogas sobre o feto, recém-nascidos e durante a infância,
incluem os riscos de teratogênese e carcinonese. Para as crianças infectadas, os ARV
podem aumentar o de risco de toxicidade mitocondrial, alterações neurológicas,
hematológicas e hepáticas (MARQUES, 2006).
Enquanto profissional de saúde, entendo que devemos informar e esclarecer aos
questionamentos da mulher/ gestante/ puérpera hiv positivas de forma completa,
argumentando sobre todas as condições envolvidas no seu contexto de vida, reconhecendo e
valorizando como pensam, como são e como vivem.
Faz-se necessária a expansão do diálogo entre o profissional e a cliente, numa
perspectiva muito além de um discurso pautado exclusivamente no modelo biomédico.
Mulheres soropositivas esperam sentimentos de desaprovação por parte de seus médicos,
caso lhes mencionem o desejo de ter filhos (PAIVA et al, 2002).
54
Boltanski (1989) em sua obra “As classes sociais e o corpo”, enfatiza que a recusa do
profissional de saúde em fornecer um nimo de informações ao ser-cuidado sobre o seu
corpo e a doença que o atingiu, em função essencialmente de impedi-lo de manter com o
corpo uma relação científica e reflexiva com a doença, configura uma atitude de
conseqüências inversas, pois o leva à obrigação de construir por seus próprios meios um
discurso que não lhe é familiar.
As representações sociais são um conjunto de conceitos e explicações
originadas no cotidiano, dentro das comunicações interpessoais podendo, ser
equivalente aos mitos e crenças das sociedades tradicionais, ou ainda uma
versão contemporânea do senso comum” (MOSCOVICI, 1978).
É importante que o enfermeiro, e demais profissionais de saúde, valorizem a
comunicação com seus clientes.
Preocupações com a terapia ARV e o medo dos agravos da aids também refletem
insegurança e medo nas mulheres com suas próprias vidas. Vivenciar a infecção com o hiv
pode ser entendido como o encontro com a morte antes mesmo que se desenvolva qualquer
sinal ou sintoma que caracterize o quadro clínico da aids. É viver a sensação da “morte
anunciada”. As falas a seguir expressam esses sentidos:
“(...) Porque quando a gente fica sabendo que está com essa doença, a gente morre. Quando
eu ia pra mesa de parto eu achava que não ía mais voltar”. (Turmalina Negra)
“(...) Eu penso que eu ficá doente, que eu ficá de cama, qualqué dozinha eu
comento com o meu esposo: ai meu Deus, eu tô com medo”. (Água Marinha)
Assim, igual que eu fiquei sabendo hoje, que abaixou e que eu tenho que tomá remédio, isso
pra mim foi...o pingo da gota d’agua (...). (Berilo Verde)
“Eu fico pensando assim, quando chegar à hora de começar a tomar os remédio e me dá uma
coisa assim de repente, e eu passo mal (...)”. (Berilo Amarelo)
55
Essa angústia antecipada ao momento de iniciar a TARV se dá pelo (re) conhecimento
dos efeitos colaterais penosos que acabam por distanciar o corpo do seu estado de saúde”.
Cunha (2004) cita que para Canguilhem (1990) a saúde é representada pela ausência de
sintomas, o silêncio dos órgãos”. A angústia aumenta quando a mulher soropositiva
desenvolve sintomas e experimenta períodos de internação hospitalar.
(...) por que eu fiquei internada duas semana, e eu sei que a qualqué hora isso
pode sê de novo, por que os remédio também faz mal, se não toma também...eu paro de tomá, mas
eu sei que não pode. ( Lápis Lazuli)
Os efeitos colaterais dos ARV conferem sintomas como pirose, inapetência, useas,
vômitos, depressão, sonolência, tonteira, sensações de desmaio, e até alergia aos
medicamentos (CUNHA, 2004).
“(...) eu fiz alergia ao medicamento que tomei durante a gravidez, meu filho nasceu antes do
tempo”. (Granada)
“(...) eu tinha crise de depressão, não queria ninguém, minha mãe me perguntava e eu
nada. Durmia chorano, acordava chorano.(Lápis Lazuli)
Não obstante a melhora das condições de saúde e da qualidade de vida de pessoas
soropositivas em TARV, dados indicam que a incidência de depressão é observada em mais
de 50% dos pacientes hiv positivos, em algum momento da trajetória da doença (Ministério da
Saúde, 2000).
Outras queixas relacionadas à terapia medicamentosa são quanto ao tamanho e a
quantidade de cápsulas que devem ser ingeridas por diversas vezes ao dia, a necessidade de
períodos de jejum e a incompatibilidade entre as drogas, que causam desconforto para o
56
organismo dos portadores do hiv/ aids e uma sorte de mudanças metabólicas (SEIDL et al,
2007). Reforça-se a extrema importância das intervenções do enfermeiro neste processo
terapêutico, pois todas as dificuldades apresentadas colaboram para a não adesão dos
pacientes hiv positivos ao tratamento.
Em consonância com todos esses aspectos, identificou-se nas entrevistas o medo da
morte, principalmente numa perspectiva em que a mulher sofre diante do futuro incerto.
Uma coisa que não é bom ser hiv positiva, eu tenho medo, assim, de morrer e deixar meus
filhos, tá entendendo? (Brilhante)
Ah, por que eu acho que eu morrê a qualqué hora, qualqué tempo, deixar meus
filhos. (Água marinha)
“(...) eu fico pensando em morrê e deixá minhas filha na mão dos outro, os outro maltratá
minhas filha, eu não mais minhas filha...penso assim...acontecer alguma coisa comigo, eu morrê ,
nunca mais vô vê minhas filha”. (Berilo Verde)
“(...) deixá os meus filho pequeno, pras pessoa cuidá, fico bastante preocupada com isso, é o
medo da morte é o medo de toma o remédio, de batê num hospital e não mais condição de erguer
minha vida, né? Deixa meus filho, sinto muito (choro). (Berilo Amarelo)
Entendo que as preocupações com o cuidado e com a guarda dos filhos após a sua
morte também representam uma inquietação adicional para as mães portadoras do hiv/aids.
De acordo com Gonçalves e Piccinini (2007), diante da possibilidade de sua morte as
es comam a procura por uma "nova família" para os filhos, donde algumas precisam
lidar com conflitos familiares esquecidos, ou mesmo, em uma situação mais dramática,
acionar órgãos civis de tutela para menores. E nesta perspectiva, o ciclo de vulnerabilidades
recomeça, pois permanece a necessidade de proteger a criança da discriminação, a culpa
experimentada por colocar o filho nessa situação e por pri-lo de sua presença e auxílio no
futuro.
57
Deste modo configuram-se as representações da vulnerabilidade que demonstram toda
a face obscura de vivenciar a maternidade e a infecção pelo hiv/ aids para essas mulheres.
Em contrapartida as mulheres hiv positivas, sujeitos desse estudo, também revelaram
aspectos positivos relacionados a maternidade. Neste sentido entendo que se trata de uma
forma de lidar, um enfrentamento diante das vulnerabilidades que foram abordadas nesta
subunidade.
A seguir discutiremos sobre os enfrentamentos nas representações da mulher hiv
positiva.
4.2 - A Maternidade para a Mulher HIV Positiva: Representações do Enfrentamento
Nesta subunidade de análise apresento para discussão os aspectos encontrados nas
representações que expressam os enfrentamentos das mulheres frente às vulnerabilidades
impostas pelo hiv no contexto da maternidade.
A importância da representação social no contexto do hiv/ aids e maternidade oferece
suporte para construir formas de pensar e explicar as possibilidades de vivenciar a epidemia
no âmbito social, uma vez que o estudo permite apreender como os grupos sociais entendem
determinados fenômenos. A partir das entrevistas, as representações de enfrentamento
encontradas foram: e Esperança no Convívio HIV/ AIDS e a Maternidade e Mudança
de atitude: Disposição para a Manutenção da Vida.
Através deste estudo foi possível observar ainda que apesar de todas as condições de
adversidade vivenciadas pelas mulheres hiv infectadas, surgiram significações positivas que
funcionam como uma alavanca que impulsionam as mulheres HIV positivas, que vivenciam
a maternidade, a adotarem comportamentos de superação, buscando um novo sentido para
sua forma de viver.
58
Em conformidade com Carvalho (2007), existem importantes fatores de proteção, que
contribuem para a saúde e bem-estar dos portadores de hiv/ aids, entre eles a aceitação da
infecção; a participação da família no tratamento e como fonte de apoio afetivo; o papel das
organizações governamentais e não-governamentais, o enfrentamento cognitivo e a
religiosidade. Acredita-se que a compreensão da resiliência
5
como uma "capacidade do ser
humano de superar adversidades" é essencial ao entendimento da infecção e tratamento de
pacientes com hiv/ aids.
A compreensão destes fatores de proteção, fornece subsídios para que nós
enfermeiros e demais profissionais da área de saúde, possamos entender melhor os processos
coexistentes com a infecção do hiv/ aids e que busquemos capacitação para o
desenvolvimento de novas estratégias de atuação e relacionamento com nosso cliente a fim
de que alcancem êxito na vida, também através do tratamento.
Entende-se por enfrentamento a capacidade de criar esforços cognitivos
6
e
comportamentais voltados para o manejo de exigências ou demandas internas ou externas, que
são avaliadas como sobrecarga aos recursos pessoais (FOLKMAN et al, 1986).
No decorrer de suas experiências com o fato de ser portadora do rus hiv, encontram
mecanismos para a superação de fatores que causam estresse adotando um comportamento
resiliente frente a essas situações.
5
O estudo da resiliência foi proposto pela física e sua definição estava relacionada à capacidade de um material
recobrar o seu estado anterior, depois de ter passado por alguma deformação. Ao ser incorporada pela ciência
psicológica, a resiliência passou a ser vista como o conceito que explicaria o porquê de, mesmo em situações de
adversidades sociais, econômicas e psicológicas, alguns indivíduos conseguirem sobreviver e alcançar o bem-
estar em suas vidas, enquanto outros não o obtinham (CARVALHO, 2007).
6
De cognição. Termo utilizado para designar a ação de adquirir um conhecimento (Dicionário Aurélio da
Língua Portuguesa).
59
4.2.1 - Fé e Esperança no convívio com HIV/ AIDS e a Maternidade
Observou-se tanto na captação dos dados sócio-demográficos quanto nos depoimentos,
a presença da religião e da fé. Em vários momentos dos discursos, a fé vem representando um
apoio para suportar os desconfortos e as incertezas constantes no enfrentamento da
maternidade na condição de infecção pelo hiv.
O enfrentamento em pessoas com hiv/aids deve-se ao fato de a vivência da
soropositividade vir acompanhada de aspectos clínicos, sociais e psicológicos que podem
acarretar sofrimento. Além disso, conviver com a incurabilidade de uma infecção percebida
como sinônimo de morte é altamente estigmatizante.
Em face de uma situação controversa, que acaba por extrair do ser humano o estado
de saúde, muitos se rebelam. Conduzem sua prática e sua fala numa permanente contestação.
Mas sozinhos sentem-se impotentes para encontrar uma saída libertadora. Os exemplos nos
depoimentos que se seguem, transmitem que relacionar-se com o filho e acreditar em Deus
7
ajuda a renovar a esperança.
“Eu acho que ele vai melhorar bastante a minha vida, por que eu acredito em Deus e acredito
nele também. Eu sei que ele pode ter o HIV, de repente não, mas pra mim o que... ele ta aqui, pra
mim é tudo, ter meus filhos”. (Rubi)
(...) Deus me deu duas vidas né? A minha sobrevivência por causa desse problema, dessa doença e
mais o meu filho pra eu ter mais força ainda pra viver”.(Ametista)
7
Ser spremo, infinito, perfeito, criador e observador do universo; a causa necessária de tudo o que existe;
indivíduio que por qualidades extraordinárias, se impõe ao culto dos homens; objetivo de vida e profunda afeição
(Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).
60
Nesse momento de expressão da dor e do sofrimento o ser humano pode cultivar o
espaço do divino, abrir-se ao diálogo com Deus. Assim as mulheres depositam em Deus sua
confiança e esperam uma resposta de dias melhores para elas e também para os seus filhos.
“Eu sempre pensava assim, eu conversava com Deus, né? Eu sempre pedia pra nenhum dos
meus filho vim doente (...)(Ônix)
“ (...) graças a Deus meu primeiro filho não teve nada, meu segundo eu tenho fé em Deus que
não vai ter nada (...)”. (Olho de Tigre)
“Meu filho tomô o remédio deu negativo, graças a Deus, mas e se fosse? Graças a Deus
que não foi, porque ía sê eu e ele”. (Lápis Lazuli)
Na busca por uma força redentora capaz de mudar o destino de suas vidas, surge então
à espiritualidade que dá sentido às religiões. Elas expressam o encontro com Deus nos
códigos das diferentes culturas.
De acordo com Boff (1999), o decisivo não são as religiões, mas a espiritualidade
subjacente a elas. É a espiritualidade que une, liga, re-liga e integra. Ela e não a religião ajuda
a compor as alternativas de um novo paradigma civilizatório.
Muitas vezes resignadas, colocam a responsabilidade total de sua vida diante das
designações de Deus num gesto de confiança e descanso entendendo que o melhor por elas
será feito.
“(...) e seja o que Deus qui.(Safira)
“Agora eu vô indo até onde Deus quisé”. (Topázio)
“(...)eu deixei na mão de Deus, seja o que Deus quiser.(Rubilita)
61
A em Deus exercida através de uma religião pode trazer um bem-estar no processo
de enfrentamento do hiv/ aids, pois Siegel e Schrimshaw (2002) investigaram os benefícios
percebidos na utilização do enfrentamento religioso. Constatou-se o favorecimento de
emoções e sentimentos de conforto, sensação de força, poder e controle, facilitação da
aceitação da doença, avio do medo e da incerteza perante a morte, disponibilidade de suporte
social e senso de pertencimento.
Sabe-se que comportamentos subversivos como a estigmatização, o preconceito e a
discriminação, já abordados na subunidade anterior, provocam retraimento social. Por sua
vez, Siegel et al (2001), destacaram que o papel da religião é facilitador para o acesso a redes
de suporte e de integração social nas instituições religiosas e suas congregações.
Complementarmente, Ellison (1994) observou que certas pessoas costumam recorrer a
instituições religiosas em tempos de doenças severas, pelo fato de elas estarem historicamente
identificadas com a oferta de apoio emocional, prática assistencial e caridade aos enfermos e
necessitados.
A espiritualidade ajuda a encontrarem estímulo e conforto para suportarem a dor de
serem hiv positivas e a manterem o pensamento firme acreditando na possibilidade de uma
vida com qualidade, tanto através do tratamento quanto na espera por um milagre onde Deus
possa re-escrever a sua história e transformar a sua vida completamente.
(...) vai fazê 10 anos e graças a Deus eu não tomo nenhum medicamento, nunca senti nada,
nunca tomei, quando fiquei grávida, desde que comecei meu tratamento aqui eu nunca tomei
remédio (...) por isso, que Deus, que por ser evangélica, ta trabalhando na minha vida e me deixando
de até hoje. Mas pela minha fé, eu digo pra Deus: eu sei que o Senhor me curou. Deus me
essa força”. (Berilo Amarelo)
62
Mas diante da impossibilidade de reverter a situação que lhes causam sofrimento e
dor, a crença e a confiança em Deus as fazem prosseguir e modificar sua visão de mundo
procurando aceitar o que estiver para acontecer até o final de sua existência.
“(...) Por que Deus sabe o que faz na vida da gente. Pedi muita força pra Deus... pra
Ele me ajudar”. (Turquesa)
“Mas Deus sabe o que faz. Se Ele deu, não foi por dá, por que tem um objetivo na
minha vida, então se Ele deu, Ele sabe o que ta fazendo”. (Brilhante)
“Se Deus acha que eu tenho queaqui, eu tenho que tá aqui. E já tem um ditado: Deus só dá
a cruz pra quem consegue carregar, e graças a Deus essa eu conseguindo carregar”. (Olho de
Tigre)
Além da questão da fé, outros aspectos também têm representado como promotores de
esperança diante da soropositividade, como por exemplo, a redefinição de relações pessoais,
a reavaliação da opinião sobre a morte, a (re) descoberta da vontade de viver, a percepção de
sentido na vida (FARIA e SEIDL, 2006). A figura do filho foi identificada como um motivo
para essas mulheres repensarem sua situação diante da vida e o considerados um estímulo
para resistirem aos momentos ruins.
Particularmente no início, eu fiquei revoltada comigo mesmo, depois eu aceitei por causa
dos meus filho que precisa de mim, mas por mim é uma tristeza enorme, muito triste mesmo...(choro).
As vezes bate um desânimo, uma tristeza enorme, você olha pra cara dos neném né? E vê que não tem
nada haver. Eles precisa, não tem nada com isso. Mas fora isso a gente tenta leva uma vida normal
(...)”. (Safira)
63
(...) mas eu penso como luz, uma benção, né, tudo de bom, me mais força pra eu poder
lutar pra sobreviver pra poder criar ele (...) chega uma hora que a gente pensa em desistir, fica
enjoada, mas agora vou lutar pela minha saúde, é isso que eu vou fazer”. (Brilhante)
Tem hora que eu fico pensando, pensando, tipo como uma depressão, mas me uma
força e me bota pra frente e penso logo nos meus filho e me bota pra frente, mas se deixá, eu entro
mermo de depressão mermo. Eu olho eles e começo a pensá que eu quero vê eles grande, depois
que eu vê eles grande aí eu posso ir”. (Topázio)
O desejo de ver os filhos crescerem, traz força e ao mesmo tempo preocupação.
Conforme visto na subunidade anterior, para aquelas mães que não possuem uma rede
familiar próxima, a principal preocupação provém da vulnerabilidade da criança e da
possibilidade de terem de deixar a criança aos cuidados de uma pessoa estranha que não
pertença à família (Knauth, 1997). Para elas, resistir à doença seria uma mais missão a ser
cumprida diante da maternidade e uma forma de garantir o cuidado do filho até que ele atinja
a independência financeira.
“A criança pra mim representa vida. vontade de viver. É... mais força de vontade pras
coisa, de corre atrás, pra...principalmente pra realizar os sonhos! (...)Então, meus filho pra mim,
depois de ficá sabendo do resultado deles...foi como se eu tivesse...nascido de novo. Cada dia que
passa que eu vejo que eu me sinto bem, vejo eles, o crescimento deles, que eu me sinto melhor
ainda. (Turmalina Negra)
A experiência da maternidade, por si só, envolve intensas mudaas para a mulher,
iniciando-se na gravidez e estendendo-se aos primeiros anos de vida da criança. A vivência
subjetiva da maternidade exige que a mulher se defronte com a formação de um novo ser
dentro de si e com a realidade imposta pelo nascimento do filho.
64
Diante disso, a e precisa elaborar seus sentimentos em relação à gravidez, buscando
posicionar-se nesse papel e procurando esboçar um lugar para o filho ocupar na relação com
ela e com a família (GONÇALVES e PICCININI, 2007). Para as mães portadoras do hiv/aids,
o seria diferente. Para a maioria dessas mulheres o desejo de vivenciar a maternidade está
acima do seu status sorológico.
Ser mãe HIV positivo, eu acho assim que é difícil, pras pessoa ignorante que não entende.
Por que se a pessoa bota isso na cabeça, a pessoa que tiver um sonho de ser mãe que nunca foi...ah,
ela vai esquecer esse sonho? Mas eu acho que o sonho de ser mãe consegue superar qualquer
problema. (...) Não sei se estou certa mas a doença não te mata, mas o baixo astral se entrar na tua
mente, isso te mata. gata)
“O J”, foi uma esperança, você achar que porque é soropositivo não vai poder ter filho,
claro que pode ter! É uma esperança por que mesmo esperando, tratando, usando os medicamentos,
tudo direitinho, você pode engravidar sem problema nenhum, é só fazer tudo à risca”. (Granada)
Vale ressaltar que o desejo de ter filhos não se resume somente a uma vontade pessoal
ou a uma decisão individual, mas é modelado por normas sociais mais amplas, pois segundo
Silva (2006) tal desejo associava-se sobretudo às expectativas dos seus parceiros. Neste
contexto soma-se á esperança a expectativa da alegria em poder desempenhar o se papel e
retribuir com um filho na relão com o cônjuge. Querer filhos é um desejo legítimo de
homens e mulheres, às vezes motivados por questões religiosas, para dar sentido a vida, às
vezes por questões de gênero, para a construção da identidade feminina ou viril.
“Os outros dois que são gêmeos, é um casal de gêmeos eu não planejei, mas esse que eu
aqui agora eu quis mesmo por quê é o primeiro do meu esposo”.(Água Marinha)
65
“(...) é uma experiência nova, uma experiência nova na minha vida, e não me atrapalha em
nada, não atrapalha nada na minha família ne? Nem com meus filho, nem com meu esposo ...é isso.
Esses três filhos eu tive por que eu quis ter”. (Turmalina Negra)
“Em relação a mim não me afetou em nada, a minha vida continua sendo a mesma, com os
meus filhos com o meu esposo, com todo mundo”. (Olho de Tigre)
De acordo com Knauth (1999), "a manutenção da atividade reprodutiva é uma
importante estratégia utilizada pelas mulheres (...) acionada especialmente por aquelas que se
encontram em fase de consolidação de aliança e que buscam, através da maternidade,
fortalecer essa relação". Ainda, as relações com a família consangüínea, ao "ganhar" um
descendente, também são reforçadas por meio da maternidade.
Outros motivos sociais também encorajam a mulher soropositiva a desejar a
maternidade. A criança assume um papel de compensação diante de uma situação de perda
real num momento anterior. Nos depoimentos a seguir podemos compreender os impasses
sócio-afetivos que, mesmo no contexto de infecção com o hiv/ aids, não a desanimam da
opção por engravidar.
“(...) eu sou doida pra ser mãe, eu perdi um filho, ele nasceu, depois ficou doente, teve
hepatite e meningite, aí foi ficando internado, não resistiu. Pra mim agora é a felicidade, é
esquecer do mundo, ainda mais quando a gente tem um desejo grande de mãe, né? Quero só saber
do meu filho mesmo. Pra mim vai sê mais uma companhia e pra eu esquecer um pouco dos problema
do mundo”. (Citrino)
“Esse bebê que eu tô esperando veio num momento que eu tava triste que foi a perda do meu
esposo, ele deixô, então como que eu posso dizê que é uma escuridão né?”. (Ametista)
66
Notou-se também no contexto dos depoimentos, que de fato existem dificuldades nas
relações de nero, referentes à autonomia da mulher diante da própria sexualidade, onde,
das 22 mulheres entrevistadas 9 mulheres (40,9%) expressaram verbalmente que o
desejaram engravidar. Mas apesar dessas afirmativas, as mulheres decidiram levar a gestação
a termo e enfrentar a maternidade mesmo sendo soropositivas.
“(...) como eu sou católica eu falei: deixa vim, não vou tira. E aí agora ta aqui”. (Rubi)
Hoje, ser mãe da G é bom, por que eu tava desesperada pra tirar ela, tava loca!
(Pérola Negra)
E aí tirá a criança eu sou contra, aí eu dexei vim. (Alexandrita)
As pessoas falavam pra eu tirá, eu disse: tirá o que rapaz? Isso aqui é uma vida. Se Deus me
deu por que é que eu vô tirá? Né? Jamais! Só quem pode tirá nossa vida é Deus”. (Ametista)
“(...) aí eu fui levando, aborto eu não faço”. (Rubilita)
Vale destacar que o aborto é um problema de Saúde Pública de grande magnitude.
Segundo Rocha e Andalaft (2004), a ilegalidade do aborto no Brasil, não tem impedido sua
prática, que ocorre em condições diversas, desde clínicas com controle de qualidade da
assistência como em clínicas clandestinas em condições precárias. O número de abortos, no
Brasil, é de 1,4 milhões por ano, correspondendo a uma razão de 23 abortos por 100 gestações
e 50 milhões por ano no mundo, impondo sérios riscos à saúde e à vida das mulheres.
Desta forma reforça-se a veracidade dos depoimentos supracitados onde conclui-se
que as mulheres decidiram pela manutenção da vida de seus conceptos. Paralelamente ao forte
significado da maternidade para a mulher infectada, evidências de que nem sua condão
de soropositiva para o hiv, nem a possibilidade de transmissão do rus ao feto, determinam
sua decisão de interromper a gestação ou de não a levar a termo. As mulheres grávidas,
infectadas, desejam que seus filhos nasçam com saúde e que não recebam delas orus.
67
4.2.2 - Mudança de Atitude: Disposição para Manutenção da Vida.
Aprender é a maior prova da maleabilidade do ser humano,
porque, mais que adaptar-se à realidade, passa a nela intervir. (...)
é também a maior prova do sujeito capaz de história própria. Saber
aprender é fazer-se oportunidade, não fazer oportunidade
(DEMO, 2002).
Aspectos relacionados a hábitos e estilos de vida, apoio social e estratégias de
enfrentamento estão implicados no processo saúde-doença. As representações aqui
estabelecidas tem o sentido de vida e aprendizado através da experiência da maternidade e
infecção com o hiv/ aids. Nesta perspectiva encontramos, consubstanciado a este contexto,
uma atitude nobre e ontológica na constituição do ser humano: O Cuidado.
Durante a análise do estudo observou-se que as mulheres soropositivas adotam
mudanças de comportamento como uma tentativa de preservação da vida através do auto-
cuidado. Subtende-se que, na concepção dessas mulheres, o auto-cuidado é fonte de
sustentação para o cuidado dos filhos.
Boff (1999) enfatiza que, do ponto de vista existencial, o cuidado se acha a priori,
antes de toda atitude e situação do ser humano, o que significa dizer que ele se acha em toda
situação e atitude de fato. Este relato do autor parte da premissa de que o cuidado é íntimo do
ser humano, é componente de sua natureza, antes mesmo de suas ações.
Faz-se imprescindível destacar este achado temático nas falas, pois o autor, op cit, nos
sinaliza sobre o sintoma da “falta de cuidado”, já constatado há décadas por vários analistas e
pensadores contemporâneos, que aparece sob o fenômeno do descuido, do descaso e do
abandono. Tal sintoma difunde um exeqüível mal-estar na civilização.
Conforme Castro (2001), a maternidade nessa situação fortaleceria o desejo de
continuar vivendo para cuidar dos filhos, promovendo, indiretamente, o auto-cuidado nessas
mulheres.
68
“(...) pra mim mudou muita coisa porquê eu saía, eu bebia, eu fazia farra, com eles e até com
a doença eu passei mais a refletir, eu ouvia outras pacientes comentando que tinha que se preservar
mais, que não podia ficar pegando friagem, essas coisas, aí eu fui me preservando mais até por causa
deles (filhos), né?” (Berilo Amarelo)
“(...) vou voltar a fazer meus tratamento pra ele poder vim com saúde. (...)Eu tava meses
sem tomar remédio então eu acho que esse filho veio pra poder me força pra tentar viver”.
(Brilhante)
A gente toma os remédio, pra ver se a gente consegue viver mais um pouquinho”. (Safira)
Hoje tomo o remédio, não paro de tomá”. (Ametista)
A maternidade em mulheres portadoras do hiv/aids pode possibilitar seu
reposicionamento diante da doença, para que possam assumi-la, de alguma forma, para
procederem ao tratamento profilático em favor dos filhos. A influência do cuidado para com
os filhos representa disponibilização de encorajamento e motivação para o auto-cuidado e
ajudam a decidir pela adesão a TARV.
Conforme exposto no depoimento abaixo, Boff (1999) nos diz que a atitude de
cuidado pode provocar preocupação, inquietação e sentido de responsabilidade. Suas
indagações promovem uma auto-refleo para elaboração de suas atitudes.
“Ele representa tudo pra mim, responsabilidade, força (...) que ás vezes eu fico assim meio
caída, eu olho pra ele, lindo, vivo e maravilhoso, por que que eu vou entrar numa de não tomar o
remédio? não vou na consulta? Sendo que muitas pessoas precisam e não tendo a oportunidade
que eu tô tendo?(Granada)
(...) eu aprendi a amadurecer mais do que eu já sou madura, entendeu? Não dizer assim: ah,
eu amadureci por causa da doença. Eu amadureci de as coisa, de mais valor as coisa,de
mais valor assim no dia-a-dia, entendeu?”. (Ágata)
69
O cuidado na relação mãe/ criança, aqui vem representado em seus atos sinônimos de
prover, proteger, criar, atender às necessidades, saber o que precisa, dar atenção, acariciar,
amar, conforme nos depoimentos a seguir:
“Assim, uma mãe positiva, eu acho que você protege seu filhote desde a barriga, e o
seu carinho é aquela tela de proteção, você bota dez vezes mais.(...) Minha filha, ela é tipo assim um
tesouro que eu tenho, entendeu? Um tesouro que eu tenho e que eu protegi o máximo que eu protegi,
que eu vi o resultado disso e que, assim, eu guardo ela no meu cofre, e esse cofre dela é eu. (Ágata)
O que mexe comigo é que eu vou que mais atenção a ela, mais carinho do que pros
outro três. (...)vou procurar sê mais assim amiga da minha filha, o bem dela, vê o que ela precisa, e
é isso”.( Esmeralda)
Ela ficou internada, ficô um ano e um mês internada, eu tive que ficá no hospital com ela.
Deixava ela lá com o pai, e ia em casa cuidar dos outro. A de sete ano eu cuidei”. (Pérola Negra)
(...) se eu tiver que beijar meus filhos eu beijo, se tiver que abraçar, faço tudo o que eu tiver
que fazer, mas com os devidos cuidados: se eu sangrar procuro não encostar em nenhum machucado
deles, mas no restante, continuo o mesmo. (…)E só quando esse aqui fala: mamãe...me quebra! Quando eu olho
pra ele e ele começa a rir, pronto!”. (Olho de tigre)
“Aí depois que eu descobri é que eu passei a cuidar direito de casa, dos meus filho, porque eu
não cuidava muito direito não, depois que eu descobri comecei a cuidá de mim e deles. (...)Agora eu
fico mais perto deles. Eu num saio de perto deles”. (Topázio)
“Eu procuro sempre cuidá deles, deixa eles sempre perto de mim, me faz eu me sentir como
se...a vida não tivesse fim, nem pra mim, nem pra eles, é como se na frente ainda tivesse muita
coisa boa pra gente (risadas).” (Turmalina Negra)
Constata-se que o cuidado aparece também, numa condição altruísta na concepção
destas mulheres, pois se desarraigaram de seus próprios ferimentos acerca da doença em
detrimento do bem-estar do outro o sucesso salutar dos filhos.
70
“Mas é a mesma coisa sendo ou não sendo, não muda nada, não é que eu dizer que eu
tenho o HIV positivo que eu não vô criar os meus filhos.( Água Marinha)
“Pra mim o que representa mais é que ele veio com saúde. (...)O neném hoje representa tudo
pra mim, é tudo o que eu queria ter na vida, que era o amor da minha mãe, essas coisa eu nunca tive,
mas pra ele e pros outros filhos eu vou sempre ter e vou continuar tendo e até a morte eu vou
continuar tendo”. ( Rubi)
“(...) no momento eu vivendo pra eles. um ensino bom pra eles, (...) dizê pra eles se
cuidar, se preservar, então...é isso”. (Alexandrita)
(…) em parte eu sempre fiz por onde pra eles o ter problema, então eu acho que sendo
comigo é o de menos”. (Olho de tigre)
Nessa trajetória, percebe-se uma tentativa de refazer o cotidiano e as mães declaram
que buscam força para seguir em frente nos próprios filhos, muitas vezes abnegando-se de si
mesmas.
A capacidade para o enfrentamento depende da predisposição do sujeito que passa por
momentos de grandes adversidades. O sujeito faz uma auto-reflexão, reavalia seus conceitos
e mergulha em si mesmo para buscar ajustamento.
“Não é por que eu sou soropositivo que eu vou deixar de me arrumar, não vou deixa de fica
sorrindo, não vou deixar de ir num cinema, numa praia, eu tenho que faze tudo e mais valor pra
isso”. (Ágata)
Assim como observamos em vários depoimentos, as atitudes dessas mulheres revelam
características de resiliência, pois reafirmam sua capacidade humana de superar as
adversidades e situações potencialmente traumáticas que desvirtuam o sentido da maternidade
71
quando vivenciada em conjunto com a infecção pelo hiv, e decidem valorizar a vida, a fé e a
esperança.
72
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Que pretendes mulher? Independência, igualdade
de condições? Empregos fora do lar? És superior
àqueles que procuras imitar. Tens o dom divino de
ser mãe. Em ti está presente a humanidade!”.
Mãe - Cora Coralina
73
A partir deste estudo foi possível identificar que, na trajetória das mulheres
soropositivas para o hiv/ aids que tiveram filhos depois do diagnóstico, a maternidade toma
um sentido próprio, se conformando em uma imagem onde existem representações de sombra
que remetem a conteúdos negativos, mas também representações de luz que remetem a
conteúdos positivos dessa experiência.
Apesar das várias motivações que levam estas mulheres a terem filhos,
comportamentos que remetem ao relacionamento maternal foram constatados através do
cuidado dos filhos, do medo de não protegê-los ou mesmo que sofram danos sicos e sociais.
Por meio dos relatos foi possível aproximar-me da realidade vivenciada pelas
mulheres HIV positivas no que diz respeito ao fenômeno da maternidade. A análise desses
relatos revelou duas faces de um mesmo fenômeno: a vulnerabilidade e o enfrentamento que
expressam um comportamento resiliente, de superação. Para essas mulheres a maternidade
traz a tona os sentimentos de culpa por colocar o filho em “risco” a preocupação com seu
diagnóstico, o medo de infectá-lo e deixá-lo desamparado em virtude da possível sua morte.
Observa-se que a relação com os filhos e a presença desses sentimentos está também
associada às ambivalências e paradoxos vividos por qualquer mãe, mas diante do convívio
com a soropositividade, tais sentimentos merecem um olhar diferenciado.
Neste cenário de incertezas, a busca pelo apoio religioso e a valorização da fé trazem
esperança e protegem a saúde. O bem-estar religioso pode ser entendido como apoio social,
que contribui para uma sensação de conforto, modificando em certo grau o impacto na
convivência com o HIV/Aids.
As atitudes de enfrentamento podem auxiliar as pessoas que vivem com HIV/Aids na
manutenção e diminuição de agravos do processo saúde-doença, contribuindo para o
desenvolvimento da qualidade de vida. O cuidado com o filho é considerado como fator
motivador para o enfrentamento da mulher soropositiva, induzindo-a ao auto-cuidado. Neste
74
sentido, as mulheres HIV positivas, mesmo não manifestando sinais e sintomas clínicos,
tendem a desenvolver religiosidade como uma fonte de apoio que tem sido relacionada a
afetos positivos e de proteção à saúde (Fredrickson, 2003).
As representações que circulam na dia e que contribuem para a imagem social da
aids ainda hoje encontram, em sua maioria, raízes nas primeiras informações noticiadas, que
apresentavam à sociedade uma doença grave, de evolução rápida e letal, onde, a princípio,
o se imaginava que mulheres e crianças pudessem um dia estar inseridas.
Sendo assim, acreditava-se que as mulheres com parceiros fixos estavam livres da
possibilidade de infecção. De fato, a maternidade consonante à infecção com o hiv/aids
constitui um paradoxo, pois representa simultaneamente a normalidade e o desvio da norma,
algo socialmente estimulado às mulheres e condenável àquelas portadoras do hiv/aids.
Ressalta-se que, mesmo com todas as transformões sociais do papel da mulher, ainda existe
no imaginário social uma figura idealizada de mãe
(SANTOS, 2003).
Para Ingram e Hutchinson (2000), a infecção pelo hiv/aids complicaria a assuão do
papel materno, já que sobre a mulher uma forte expectativa social relativa à maternidade e
também uma perda desse reconhecimento em situações que se desviam da norma social e
cultural. As mulheres soropositivas que escolhem ter um filho são, muitas vezes, consideradas
irresponsáveis e descuidadas por colocar a criança em risco. Nessa direção, parece haver uma
tendência a negar o fato de que a vida sexual e reprodutiva dessas mulheres continua após a
infecção.
As citações demonstraram que es portadoras do hiv/aids centralizam sua vida no
papel materno, sendo que a criança não hiv infectada simbolizaria a continuidade de seu
legado pessoal e cultural, além da esperança de superar os próprios medos.
75
Mesmo considerando as restrições relacionadas à transmissão do hiv, as mulheres
entrevistadas expressaram a valorização trazida pela oportunidade de viver e reviver a
experiência de gerar um filho, função esta tão culturalmente enraizada como um traço
constitutivo da identidade feminina, numa perspectiva de gênero. As motivações de ter filhos
associadas às expectativas de seus parceiros conjugais como uma forma de "retribuição"
sócio-afetiva também estiveram presentes.
Ao lado dos fatores de natureza biomédica, a vivência relacional com os filhos
apresentou influência mais estruturada e significativa para a adesão das mulheres
soropositivas à TARV.
A TARV ainda é considerada com um obstáculo a ser enfrentado para quem é
soropositivo, mas a possibilidade da transmissão vertical do hiv, quando ocorre, traz
conseqüências drásticas ao binômio mãe-filho e família. Em contrapartida ausência de
sintomas da aids e o uso dos medicamentos, tem recobrado a esperança dessas mulheres de
poder cuidar dos filhos e criá-los, e, se possível, um dia, obter a cura. Esse fato tem
modificado as perspectivas das mulheres portadoras do rus em relação à gravidez.
Em decorrência do exposto, espera-se que no âmbito da saúde dos grupos, em especial
da mulher, o enfermeiro consiga estabelecer um nível de comunicação capaz de gerar
aproximação e encorajamento para que sejam discutidas questões de saúde reprodutiva,
também após o advento do hiv/ aids.
O senso comum nos aponta que o silêncio proveniente das mulheres em relação a
assuntos que envolvem questões sexuais e reprodutivas ainda persiste nos dias atuais. Em
decorrência deste silêncio o processo de comunicação com o profissional de saúde, pode levar
a um entendimento de que todas as orientações e dúvidas foram sanadas.
O Enfermeiro deve tomar a iniciativa para o diálogo sobre as vulnerabilidades da
sexualidade e reprodução feminina, numa visão ampla que envolve questões sociais e
76
subjetivas. Informar à mulher soropositiva sobre os possíveis prejuízos que a ação de
engravidar pode acarretar para sua saúde, nem de longe atende a uma perspectiva mais
integral da atenção à saúde.
Entendo que não cabe ao profissional de saúde o julgamento de valor sobre a mulher
soropositiva que vivencia ou deseja vivenciar a maternidade, pois o cuidado do enfermeiro é
voltado para a pessoa independente do rus. A perspectiva ética para nós enfermeiros deve
ser ao lado e com as mulheres soropositivas planejar ações que contribuam para o seu bem
estar.
Crê-se que o enfermeiro, pela sua formão, esteja capacitado para atuar nesse
processo, pela sua função de educador e de cuidador. Conhecer como as mulheres
soropositivas para o HIV (re)apresentam a maternidade contribuem para uma ação dos
profissionais da saúde, em especial enfermeiros, voltada para as necessidades da mulher.
Acredita-se que a educação em saúde seja o melhor meio para os profissionais
obterem maior envolvimento da clientela. Sinaliza-se aos programas da área de saúde da
mulher, desenvolvidos em todo o Brasil, a importância em dar ênfase para as questões de
vulnerabilidade
8
, sem deixar de apontar para as questões que produzem enfrentamento.
Acredito que projetos voltados para o acolhimento das mulheres soropositivas para
reflexão em grupo, na perspectiva do SUS
9
ou ONGs
10
traria resultados positivos quanto a
questões de gênero, sexualidade e reprodução, pois destaco que elas apreendem com facilidade
o conhecimento trazido por outras mulheres que compartilham entre si a mesma realidade.
8
Além de discutir temas relacionados à sexualidade, procurando envolver os parceiros nessas atividades. O
envolvimento do casal deve ser priorizado na discussão de medidas de sexo mais seguro, mesmo entre a dupla
infectada, com o objetivo de manter reduzida a carga viral de ambos e evitar gravidez não planejada.
9
Sistema Único de Saúde.
10
Organizações Não Governamentais
77
Neste panorama, o enfermeiro atuaria como mediador entre as mulheres para incentivar os
procedimentos de saúde corretos e desmistificar os procedimentos equivocados.
Mesmo considerando algumas mudanças e restrições no cotidiano das mulheres hiv
infectadas, não se pode reduzir ou restringir suas vidas à sua condição sorológica, nem mesmo
supor que elas deixem de ter projetos ou aspirações em função da soropositividade.
Numa condição de resiliência, apesar de todas as obscuridades impostas pelo hiv/aids,
as mulheres, sujeitos deste estudo, se mostraram dispostas a mudar de atitude para
continuarem a viver. A maternidade trouxe para elas um senso de realidade e responsabilidade
e vontade pela vida. Em resposta aos desafios, as mães buscavam sustentar uma identidade
forte, centrando suas preocupações na criança, para enfrentar a doença e apoiando-se em
modelos maternos positivos.
Elas encontraram um novo sentido na vida percebendo a maternidade como um meio de
suprirem suas próprias necessidades e enxergando nos filhos uma extensão de si mesmas.
Enquanto pesquisadora, estar com essas mulheres me possibilitou constatar que essas
mulheres constituem o produto frágil de um sistema que as colocam face a face com a
epidemia. São dependentes economicamente e afetivamente de outros, pois na carência do
contexto sócio-cultural em que vivem, estão expostas à insalubridade, à violência sexual e à
escassez de oportunidades de educação e trabalho. Deste modo, pude compreender que apesar
de estarem com o corpo hiv infectado, suas necessidades de saúde e bem-estar não são
unicamente biológicas.
Penso que novos estudos, aprofundando os achados devam ser desenvolvidos,
principalmente em torno dos fatores que fortaleçam o restabelecimento da integridade moral
78
dessa população de mulheres e demais cidadãs brasileiras para que, portanto, possam se
apropriar da integralidade dos seus direitos e exercer sua autonomia.
Encerro essa etapa com algumas palavras que hoje me inspiram e são produtos dessa
relação desenvolvida a partir do contato com essas mulheres. Mais importante do que conhecer
os sentidos da maternidade para essa mulher foi compreender que muito pouco ainda sabemos
sobre as pessoas. O cuidar é tarefa desafiante e complexa, que fascina, mas também nos deixa
perplexos. E o que seria de nós, cuidadores, se não pudéssemos enxergar no outro um pouco de
nós mesmos? Se não pudéssemos enxergar naquilo que nos causa estranheza, um vínculo. Isso
nos torna humanos e fornece a nossa preocupação um caráter sem igual a perspectiva de um
cuidar solidário.
Mulheres em idade reprodutiva infectadas pelo hiv: Elas estão por toda parte;
devemos abordá-las com ética e respeito; Sua face é de tristeza, mas de alegria também;
Pensam sobre o quanto é difícil serem soropositivas; Sentem medo do preconceito, dos
sintomas da doença, da morte, do abandono dos filhos; Falam de suas dificuldades, mas
também de suas esperanças; Sim, certamente elas choram; Os filhos são o motivo para
sorrir; Elas são vistas mas não percebidas; dificilmente são ouvidas; se disfarçam; retraem-
se ; Querem ser amadas; Sonham em ver seus filhos crescerem; Desejam a cura; Sim, estão
vivendo; todos morreremos; percebem-se frágeis, mas têm forças para lutar; O que na
estrada em que caminham estas mulheres? luz... para que não permaneçam na
sombra!!!
Isabel Catarina Braga, 2009.
79
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Secretaria de Vigilância em Saúde
Programa Nacional de DST e Aids
Metas e Compromissos assumidos pelos
Unidas em
HIV/Aids
UNGASS HIV/Aids
Resposta Brasileira
2005/2007
Relatório de Progresso do País
Programa Nac
86
ANEXOS
87
ANEXO I
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS
CODINOME: (Escolhido pela entrevistada)
IDADE:
SITUAÇÃO CIVIL:
ESCOLARIDADE:
OCUPAÇÃO:
RELIGIÃO:
Nº DE FILHOS:
Nº DE FILHOS PÓS-DIAGNÓSTICO:
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1) O que representa a maternidade para você sendo HIV+, luz ou sombra? Por quê?
ANEXO II
88
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
FACULDADE DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO MESTRADO
Prezada Senhora
Você está sendo convidada a participar de uma pesquisa descritiva intitulada “A
Representação Social da Maternidade para a Mulher HIV positiva”. O motivo de você
estar sendo convidada a participar deste estudo é que a sua vivência, representada através de
pensamentos e atitudes, contribui para que possamos reavaliar os nossos procedimentos e
ampliar nossos conhecimentos acerca do significado da maternidade para as mulheres
portadoras do HIV/AIDS.
A coleta de dados se fará através da realização de entrevista passível de transcrição e
gravação , para atingir os seguintes objetivos:
Identificar o sentido atribuído à maternidade pela mulher HIV positiva.
Analisar a influência da maternidade na qualidade de vida da mulher HIV positiva.
É importante ressaltar que este estudo não trará nenhum tipo de risco sico para você,
pois não envolve a coleta de exames e/ou procedimentos médicos, bem como estará
assegurado o sigilo de sua participação. Será necessário, colher seus depoimentos, que serão
gravados em fita magnética para análise posterior, sem identificação, mantendo sempre o seu
anonimato. As as gravações, você poderá ouvir as fitas, se desejar.
89
Como benecios, num primeiro momento, esperamos estabelecer um canal de diálogo
mais efetivo entre os profissionais de saúde e as clientes atendidas, onde pretende-se reunir
elementos que permitam construir estratégias que promovam a qualidade de vida das
gestantes/puérperas HIV positivas.
Sempre que sentir necessidade, você tem o direito de esclarecer suas dúvidas e receber
todas as informações que desejar sobre o conteúdo da entrevista ou qualquer questão relativa
ao estudo:
A sua participação neste estudo é livre. Caso não queira participar, não afetará o seu
atendimento na instituição. Caso você se sinta suficientemente esclarecida e aceite o convite
para colaborar com este trabalho, por favor, assine o termo de consentimento apresentado a
seguir.
Declaração do Participante:
De acordo com os esclarecimentos prestados pelo pesquisador, o estudo teve início
com o encaminhamento ao Comitê de Ética em Pesquisa, submetendo-o à apreciação na
instituição, local onde se desenvolverá a coleta de dados através de entrevista individualizada
em ambiente privativo. Estou ciente de que tenho a liberdade para interromper a minha
participação na pesquisa a qualquer momento, sem punição alguma e sem prejuízo a minha
pessoa. Tamm fui informada que este estudo não envolve nenhum gasto, desconforto ou
alteração em minha rotina. Além disso, estou ciente da garantia de sigilo que assegure a
privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos e a garantia de
esclarecimentos antes e durante o curso da pesquisa. Estou a par que a pesquisadora, cujo
endereço e telefone se encontram abaixo, está à disposição para sanar qualquer tipo de dúvida
e fornecer mais informações sobre o estudo, caso seja meu interesse. Declaro que estou ciente
do conteúdo desta pesquisa científica e que decidi participar da investigação proposta, de livre
90
e espontânea vontade. Diante disso, dou meu consentimento (tendo recebido uma cópia desse
termo).
Rio de Janeiro,...../..../....
________________________________________________________
(Cliente/ Entrevistada)
__________________________________________________________
(assinatura da Enfermeira)
___________________________________________________________________
(assinatura do pesquisador)
Endereço: Rua Francisco Mota 554, Projetada A, casa 11, Campo Grande, RJ.
Telefone. (021) 3405-3030 /9914-1171.
91
ANEXO III
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo