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A cultura negra se tornou um patrimônio e os afro-brasileiros passaram a valorizar
aspectos culturais e físicos da raça. Influenciados com o movimento da Negritude
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houve uma
revalorização das raízes culturais. A estética e a moda afro se difundem com o movimento
Black Power
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, que traz conseqüências positivas, também no Brasil, na forma do negro se
aceitar fisicamente. “As mulheres negras deixaram de espichar o cabelo a ferro e as cores da
Mama África viraram coqueluche no vestuário, mesmo fora do carnaval”. (CORREIO DA
BAHIA, 1999, p. 115). Houve a redescoberta da estética negra.
Partimos da hipótese de que as roupas, o vestuário, asseguram uma identidade, permitindo
que um grupo seja diferente do outro. A moda e a indumentária dividem grupos ao mesmo
tempo em que identificam valores comuns no seu interior. A comunicação e construção da
identidade destes grupos caracterizam o sentido cultural.
A moda afro-baiana conseguiu demarcar uma identidade na Bahia? Ela consegue se fazer
presente, ser usada por muitos negros, fazer assimilações a uma moda africana, na tentativa de
buscar a sua história, as suas características e sua identidade. Acreditamos que a moda
adotada liga-se a certo comportamento e personalidade, funcionando como um processo de
identificação de pessoas e grupos. Podemos viver diversas identidades ao mesmo tempo, por
isso ela não pode ser demarcada e sim vivenciada. Vamos tentar avançar justamente no estudo
da moda como um processo de identidade. Analisando a comunicação feita através da moda
afro-baiana, mostrando a reafirmação da cultura negra, e das características étnico-raciais.
Procuro trazer novas investigações teórico-metodológicas para este campo do saber,
compreendendo o impacto e o alcance da moda na sociedade contemporânea e destacando a
importância da moda como articuladora de sociabilidades específicas através da história.
O estudo da apropriação da moda no processo identitário da afro-baianidade é analisado
dentro dos parâmetros de afirmação e comunicação, identificando matrizes culturais da moda
afro e produtores dessa moda, analisando suas implicações na cultura baiana, bem como,
compreendendo o impacto e o alcance da moda afro-baiana na sociedade através de uma
identificação e análise das transformações ocorridas em relação ao negro.
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O conceito de Negritude é desenvolvido pelo senegalês Léopold Sédar Senghor sendo difundido inicialmente
também por Aimé Césaire, Damas, Sainville e Maugée. Seria uma definição ao conjunto dos valores culturais do
mundo negro. O movimento da Negritude foi um movimento literário e político que surgiu com o objetivo de
recuperar a dignidade e personalidade do homem africano e, como um movimento propulsor da descolonização
da África. Eles queriam combater a discriminação, dando ênfase à reflexão sobre a condição do negro. Mas
foram criticados de veicular um essencialismo negro. O movimento da negritude conseguiu difundir suas idéias e
até hoje ajuda a influenciar a auto-estima do negro.
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Movimento entre pessoas negras em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos, no final dos anos 60 e
início dos anos 70. O movimento enfatizava orgulho racial e criação de instituições culturais e políticas negras
para promover interesses coletivos. Com esse movimento as pessoas passavam a se assumir enquanto negras,
assumindo também suas características fenotípicas.