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Léia Aparecida Veiga
Jaguapitã-PR: pequena cidade da rede urbana norte-
paranaense especializada na produção industrial de
mesas para bilhar
Londrina – PR
2007
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
Centro de Ciências Exatas – CCE
Departamento de Geociências
Mestrado em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento
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Léia Aparecida Veiga
Jaguapitã-PR: pequena cidade da rede urbana norte-
paranaense especializada na produção industrial de
mesas para bilhar
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Geografia, Meio Ambiente e
Desenvolvimento da Universidade Estadual de
Londrina, como parte das exigências para obtenção
do tulo de Mestre em Geografia, Meio Ambiente e
Desenvolvimento.
Orientada pela Prof.ª Dr.ª Tânia Maria Fresca.
Londrina, 2007
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ii
Léia Aparecida Veiga
Jaguapitã-PR: pequena cidade da rede urbana norte-
paranaense especializada na produção industrial de
mesas para bilhar
Banca Examinadora
__________________________________
Prof.ª Dr.ª Tânia Maria Fresca
(Orientadora – UEL/Londrina)
___________________________________
Prof.ª Dr.ª Márcia Siqueira de Carvalho
(UEL/Londrina)
___________________________________
Prof. Dr. Armem Mamigonian
(USP/São Paulo e UFSC/Florianópolis)
Londrina, 13 de setembro de 2007.
iii
DEDICATÓRIA
A meu pai (in memorian).
iv
AGRADECIMENTOS
Inicio essa lista de agradecimentos pela minha orientadora Prof.ª
Dr.ª Tânia Maria Fresca, que desde o começo do curso de mestrado, sempre se fez
presente através de críticas, elogios e sugestões, de forma atenciosa e amiga,
contribuindo assim para o meu crescimento acadêmico.
A Prof.ª Dr.ª Márcia Siqueira de Carvalho e a Prof.ª Dr.ª Ideni
Terezinha Antonello, pelas contribuições enquanto membros da minha banca de
qualificação.
As funcionárias do Departamento de Geografia e de Pós Graduação
do CCE-UEL, pelas vezes que me atenderam e ajudaram a providenciar
documentos ou esclarecer dúvidas burocráticas.
A todos os professores do Departamento de Geografia da UEL, que
contribuíram para a minha formação acadêmica durante o curso de graduação, de
especialização e de mestrado. Em especial àqueles que nos momentos mais difíceis
me motivaram a continuar os meus estudos.
A todos os meus colegas de trabalho das escolas públicas e da
escola particular de Jaguapitã-PR, pelas palavras amigas e incentivos durante a
elaboração dos capítulos. Em especial aos amigos e amigas do Colégio Nilson
Ribas, pelo valioso apoio no decorrer desses dois anos de estudos.
Aos meus amigos e amigas, pessoas especiais que
involuntariamente arcaram com o mais doloroso ônus da realização desse trabalho:
a minha ausência.
A querida amiga Andresa Lourenço da Silva, pela solidariedade,
carinho e amizade dedicados no decorrer do curso de mestrado e durante a
elaboração dessa dissertação.
v
A minha mãe, pelo amor dispensado a mim todos esses anos, aos
meus irmãos pelo carinho e colaboração durante a elaboração deste trabalho, em
especial ao Rafael que ajudou a resolver os problemas referentes à formatação,
produção de mapas, figuras, entre outros.
A Prefeitura Municipal de Jaguapitã-PR e ao Departamento de
Engenharia Civil, ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pela
disponibilização de informações e mapas.
A todas as pessoas do comércio varejista e atacadista, industriais,
agricultores, senhores aposentados, profissionais liberais, enfim, a todos que
concederam entrevistas, ajudando-me a compreender aspectos históricos,
econômicos, sociais e espaciais dessa pequena cidade em momentos históricos
distintos.
Aos funcionários da Indústria Bilhar Formosa de São Paulo-SP,
especialmente ao proprietário Antônio Hernandes, pelas valiosas informações
concedidas durante horas de entrevista em agosto de 2005; a secretária Sandra
pelo atencioso atendimento, ao Valdir e sua esposa me hospedaram
carinhosamente.
E o agradecimento maior é para todos os industriais, funcionários e
atacadistas de matérias-primas e acessórios do ramo de mesas para bilhar de
Jaguapitã-PR, sem os quais este trabalho não teria sido realizado. Pessoas essas
que apesar dos seus afazeres cotidianos, dedicaram um tempo a mim e contribuíram
muito com o aprendizado sobre a gênese, evolução e situação atual da produção de
mesas para bilhar na cidade.
vi
VEIGA, Léia Aparecida. Jaguapitã-PR: pequena cidade da rede urbana norte-
paranaense especializada na produção industrial de mesas para bilhar. 2007.
Dissertação (Mestrado em Geografia Meio Ambiente e Desenvolvimento)
Universidade Estadual de Londrina. Londrina – PR.
RESUMO
O objetivo deste estudo é compreender a re-inserção de Jaguapitã-PR na rede
urbana norte-paranaense após a década de 1970, a partir da especialização
produtiva em mesas para bilhar. Para tanto abordou-se a gênese do núcleo urbano
no contexto da rede urbana norte-paranaense a partir da década de 1930,
caracterizando-o do ponto de vista econômico, social, político, etc.
O entendimento do processo de implantação da atividade industrial de mesas para
bilhar, insere-se no período pós 1960/1970, quando inúmeras transformações de
ordem econômico-social afetaram toda a rede urbana e singularizadamente a
pequena Jaguapitã-PR. Por intermédio de iniciativas locais, agentes sociais foram
capazes de capturar processos gerais, transformando-os em indústrias de mesas
para bilhar. A expansão desta atividade produtiva criou a perspectiva de implantação
de novas indústrias por agricultores, filhos de agricultores, comerciantes diversos,
etc. oriundos da pequena produção mercantil rural e urbana. Nos anos de 1980 e
1990, a atividade passou por grande expansão, tornando Jaguapitã-PR a primeira
cidade brasileira em número de indústrias de mesas para bilhar e com significativo
controle do mercado consumidor nacional, sendo responsável pelo controle de
aproximadamente 30.000 mesas para bilhar no Brasil. Essa especialização industrial
presente na cidade, complexifica sua inserção na rede urbana norte-paranaense,
bem como em outras redes, cujas interações espaciais tornaram-se muito mais
amplas.
Palavras-chave: rede urbana norte-paranaense, cidade pequena, industrialização,
iniciativas e capitais locais, Jaguapitã-PR.
vii
VEIGA, Léia Aparecida. Jaguapitã-PR: small city of the urban network in the North of
Paraná State specialized in industrial production of pool tables. 2007. Dissertação
(Mestrado em Geografia Meio Ambiente e Desenvolvimento) Universidade
Estadual de Londrina. Londrina – PR.
ABSTRACT
The objective of this study is to understand the new insertion of Jaguapitã-PR in the
urban network in the Noth of Paraná after the seventies, from the productive
specialization in the pool tables. For this we approached the geneses of the urbane
nucleus in the context of the urban network of the North of Paraná from the thirties,
characterizing it from the economic point of view, social, political, so on. Understand
the introducing process of industrial activity of pool tables, it inserts in the period after
1960/1970, when many transformations from economical and social order affected all
the urban network and the small cities Jaguapitã-PR. By the intermediate of local
initiatives, social agents were able to catch general processes, transforming them in
pool tables industries. The expansion of this productive activity created the
perspective to introduce new industries by farmers, farmers’ sons, and several
traders, so on. Coming from the little rural and urban mercantile production. In 1980
and 1990, the activity had a great expansion, becoming Jaguapitã-PR the first city in
Brazil in number of pool tables industries and with a significant control of the national
consuming-market, being responsible for the control of 30.000 pool tables in Brazil.
This industrial specialization present in the city, makes its insertion in the urban
network of the North of Paraná, as well as in other network, whose space interactions
became much wider.
Key-words: urban network of North of Paraná, small city, industrialization, local and
capital initiatives, Jaguapitã-PR.
viii
LISTA DE MAPAS
Mapa 01
Rede urbana norte-paranaense em 1960......................................
39
Mapa 02
Rede urbana norte paranaense em 1997......................................
74
Mapa 03
Localização dos produtores integrados às agroindústrias
avícolas Jaguafrangos e Avebom, em Jaguapitã-PR, 2006..........
95
Mapa 04
Interações espaciais para Jaguapitã-PR, 2006.............................
120
Mapa 05
Interações espaciais de Jaguapitã-PR, 2006................................
121
Mapa 06
Interações espaciais para Jaguapitã-PR, 1970. Principais áreas
fornecedoras de matéria-prima e acessórios para as indústrias
de mesas para bilhar de Jaguapitã-PR..........................................
158
Mapa 07
Interações espaciais para Jaguapitã-PR, 2006. Principais áreas
fornecedoras de matéria-prima e acessórios para as indústrias
de mesas para bilhar de Jaguapitã-PR..........................................
159
Mapa 08
Em destaque algumas linhas de mesas para bilhar locadas na
Região Sul brasileira por uma micro-indústria de Jaguapitã-PR,
2007................................................................................................
166
Mapa 09
Interações espaciais de Jaguapitã-PR, 2006. Principais áreas
que concentram o mercado consumidor das mesas para bilhar
produzidas em Jaguapitã-PR.........................................................
169
Mapa 10
Interações espaciais de Jaguapitã-PR, 2006. Mercado
consumidor de uma pequena-empresa de mesas para bilhar de
Jaguapitã-PR..................................................................................
172
Mapa 11
Interações espaciais de Jaguapitã-PR, 2006. Mercado
consumidor de uma micro-empresa de mesas para bilhar de
Jaguapitã-PR..................................................................................
173
Mapa 12
Interações espaciais de Jaguapitã-PR, 2006. Mercado
consumidor de uma micro-empresa de mesas para bilhar de
Jaguapitã-PR..................................................................................
174
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Localização do município de Jaguapitã-PR.
2006..........................................................................................
06
Figura 02 Município de Jaguapitã-PR no ano de 1950............................ 43
Figura 03 Representação da área urbana de Jaguapitã-PR na década
de 1970.....................................................................................
104
Figura 04 Representação da área urbana de Jaguapitã-PR na década
de 1980.....................................................................................
105
Figura 05 Representação da área urbana de Jaguapitã-PR na década
de 1990 ....................................................................................
106
Figura 06 Representação da área urbana de Jaguapitã-PR na década
de 2000.....................................................................................
107
Figura 07 Localização das Indústrias de Mesas para Bilhar na Cidade
de Jaguapitã-PR, 2006.............................................................
150
x
LISTA DE FOTOS
Foto 01 Vista parcial da feira livre realizada na cidade de Jaguapitã-PR,
década de 1950..............................................................................
56
Foto 02 Vista parcial do armazém de secos e molhados “Casa
Paratodos” em Jaguapitã-PR, década de 1960.............................
58
Foto 03 Vista parcial de alguns estabelecimentos comerciais (Casas
Pernambucanas, Restaurante Metrópoles, Casa São José, etc.)
situados na Avenida Minas Gerais em Jaguapitã-PR, década de
1960................................................................................................
59
Foto 04 Vista parcial do Hotel-Restaurante Avenida em Jaguapitã-PR,
década de 1950..............................................................................
61
Foto 05 Vista parcial do Hotel Brasil em Jaguapitã-PR , década de 1960..
62
Foto 06 Vista parcial do Banco Noroeste do Estado de São Paulo,
década de 1950..............................................................................
62
Foto 07 Vista parcial do Banco Comercial do Paraná, década de 1950.....
63
Foto 08 Vista parcial do Banco de Curitiba, década de 1950.....................
63
Foto 09 Vista parcial do Grupo Escolar de Jaguapitã-PR, 1948.................
65
Foto 10 Vista parcial de um ônibus da Viação Carreira, década de 1960.
65
Foto 11 Vista parcial do cinema Cine Guairacá situado na Avenida
Paraná em Jaguapitã-PR, década de 1960...................................
67
Foto 12
Vista parcial da máquina de café Coleto em Jaguapitã-PR, 1965.
69
Foto 13 Vista parcial da agroindústria Jaguafrangos, 2005........................
91
Foto 14 Vista parcial da agroindústria de frangos Avebom, 2006...............
91
Foto 15 Vista parcial do exterior de um aviário de frangos, em Jaguapitã-
PR, 2005.........................................................................................
98
Foto 16 Vista parcial do interior de um aviário de frangos, em Jaguapitã-
PR, 2005.........................................................................................
99
Foto 17 Vista parcial do armazém secos e molhados Casa Paião, 2007...
110
Foto 18 Vista parcial de alguns objetos fabricados artesanalmente a
partir de pés e chifres de gado bovino, 2007.................................
128
xi
Foto 19 Vista parcial do local de fabricação dos objetos como copo,
garrafas e berrantes, 2007.............................................................
129
Foto 20 Levi Vieira e Nestor Ananias da Cruz, precursores nesse ramo
industrial em Jaguapitã-PR, 1980..................................................
133
Foto 21 Vista parcial da indústria Cruz & Vieira Ltda. Esta foi transferida
para as atuais instalações na Avenida Paraná, no início da
década de 1980..............................................................................
134
Foto 22 Vista parcial de uma indústria de mesas para bilhar, 2007............
149
Foto 23 Vista parcial de uma indústria de mesas para bilhar, 2007............
151
Foto 24 Vista parcial de uma indústria de mesa para bilhar, 2007.............
151
Foto 25 Vista parcial da área interna de uma indústria de mesas de
bilhar, 2007.....................................................................................
152
Foto 26 Em destaque uma camionete D-20 utilizada para o trabalho na
linha de mesas para bilhar, 2007...................................................
165
Foto 27 Mesa para o jogo de bilhar em sua fase inicial, 2007....................
183
Foto 28 Bases das mesas para bilhar, 2007...............................................
183
Foto 29 Placas de ardósia para mesas de bilhar, 2007..............................
184
Foto 30 Mesa para bilhar revestida com a fórmica e com a ardósia
fixada na parte superior, 2007........................................................
184
Foto 31 Vista parcial do equipamento utilizado no acabamento da
ardósia, 2007..................................................................................
185
Foto 32 Vista parcial dos pés da mesa para bilhar, 2007...........................
185
Foto 33 Mesa para bilhar embalada para ser entregue pelo funcionário
da linha no estabelecimento comercial, 2007................................
186
Foto 34 Mesas para bilhar para serem reformadas, 2007..........................
186
Foto 35 Mesas para bilhar em processo de reforma, 2007.........................
187
Foto 36 Serra Circular com mesa móvel, 2007...........................................
189
Foto 37 Vista parcial de uma Plaina Desengrossadeira, 2007....................
189
Foto 38
Vista parcial de uma Tupia, 2007...................................................
190
xii
Foto 39 Desempenadeira, 2007..................................................................
190
Foto 40 Furadeira Horizontal, 2007.............................................................
191
Foto 41 Em destaque uma Lixadeira de fita com disco, 2007.....................
191
Foto 42 Equipamento especial para polir bolas de mesas para bilhar,
2007................................................................................................
192
Foto 43 Em destaque uma Furadeira Vertical, 2007...................................
192
Foto 44 Equipamento utilizado para lixar as bordas superiores da base
da mesa e depois a ardósia quando fixada na base, 2007............
193
xiii
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Cronograma das tarefas em aviários dos integrados da
Jaguafrangos por safra de frangos (6 semanas) + 2 semanas
para limpeza, em Jaguapitã-PR, 2005......................................
97
Quadro 02 Municípios do norte-paranaense que sofreram decréscimo de
população de 1970 em relação a 1960.....................................
102
Quadro 03 Esquema do trabalho realizado pelos funcionários
responsáveis por uma linha de locação de mesas para bilhar,
2007...........................................................................................
198
xiv
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Estrutura dimensional dos estabelecimentos rurais de
Jaguapitã-PR: 1950 e 1960........................................................
50
Tabela 02 Uso da terra em Jaguapitã-PR: 1950 e 1960.............................
51
Tabela 03 Condição do Produtor por categoria, estabelecimento a área
em Jaguapitã-PR: 1950 e 1960..................................................
53
Tabela 04 Principais produtos agrícolas cultivados no município de
Jaguapitã-PR: 1950 e 1960........................................................
54
Tabela 05 Produção pecuária nos estabelecimentos rurais de Jaguapitã-
PR:1950 e 1960..........................................................................
55
Tabela 06 Número de estabelecimentos comerciais e prestadores de
serviços por classes e gêneros em Jaguapitã-PR: 1950...........
58
Tabela 07 Estrutura dimensional dos estabelecimentos de Jaguapitã-PR:
1970-1995/1996.........................................................................
82
Tabela 08 Uso da terra em Jaguapitã-PR: 1960 e 1970.............................
84
Tabela 09 Uso da terra em Jaguapitã-PR: 1970, 1980 e 1995/1996..........
85
Tabela 10 Principais produtos agrícolas cultivados no município de
Jaguapitã-PR: 1970 – 2000........................................................
86
Tabela 11 Produção pecuária nos estabelecimentos rurais de Jaguapitã-
Pr: 1970 – 2000..........................................................................
88
Tabela 12 Efetivo de vacas ordenhadas e produção de leite em
Jaguapitã-PR: 1990 – 2000........................................................
89
Tabela 13 Evolução da população total em Jaguapitã-PR: 1950-2000......
101
Tabela 14 Número de estabelecimentos comerciais por classes, gêneros
comerciais em Jaguapitã-PR: 2006............................................
111
Tabela 15 Evolução do número de estabelecimentos e empregos
gerados nas unidades industriais em Jaguapitã-PR: 1985-
2004............................................................................................
126
Tabela 16 Participação do valor adicionado dos grupos industriais em
relação à Jaguapitã-PR e do município em relação ao valor
adicionado estadual: 1975-2004................................................
130
xv
Tabela 17 A origem e situação inicial das indústrias de mesas para bilhar
em Jaguapitã-PR a partir de 1967.............................................
144
Tabela 18 Locais de Obtenção de Matéria-Prima e Acessórios para as
Indústrias de Mesas para Bilhar de Jaguapitã-PR, 2006...........
155
Tabela 19 Situação atual da indústrias de mesas para bilhar em
Jaguapitã-PR, 2006....................................................................
176
xvi
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................
vi
ABSTRACT...............................................................................................
vii
LISTA DE MAPAS....................................................................................
viii
LISTA DE FIGURAS.................................................................................
ix
LISTA DE FOTOS.................................................................................... x
LISTA DE QUADROS...............................................................................
xiii
LISTA DE TABELAS................................................................................ xiv
INTRODUÇÃO ........................................................................................ 01
1. A REDE URBANA: COMPREENDENDO O CONCEITO................... 10
1.1 Transformações na rede urbana...................................................
18
1.2
A rede urbana e as pequenas cidades: uma discussão............... 24
2. A REDE URBANA NORTE-PARANAENSE E A INSERÇÃO DE JAGUAPITÃ-PR
NOS ANOS 1960........................................................ 31
2.1 A estruturação e a caracterização da rede urbana norte-
paranaense..................................................................................
31
2.2 A gênese e inserção de Jaguapitã-PR na rede urbana .............. 40
2.2.1
As atividades agropecuárias........................................................ 48
2.2.2
As atividades urbanas.................................................................. 56
3. AS TRANSFORMAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL NORTE-
PARANAENSE E AS SUAS SINGULAIDADES EM JAGUAPITÃ-PR... 71
3.1 Transformações gerais na rede urbana do norte do Paraná........
71
3.2 Transformações em Jaguapitã-PR: as singularidades................. 74
3.2.1
As atividades agropecuárias........................................................ 82
3.2.2
Dinâmica populacional................................................................. 100
3.2.3
Atividades comerciais e prestadoras de serviços.........................
108
3.2.4
As interações espaciais................................................................ 118
4. JAGUAPITÃ-PR E A ESPECIALIZAÇÃO INDUSTRIAL EM MESAS PARA
BILHAR................................................................................................... 125
4.1 A gênese da produção industrial de mesas para bilhar............... 131
4.2 Expansão da atividade industrial..................................................
141
4.3 Caracterização da atividade industrial: matéria-prima, sistema
de comercialização, mercado consumidor e produção................
153
4.4 O sistema produtivo......................................................................
175
xvii
4.4.1
Equipamentos utilizados e inovações tecnológicas..................... 187
4.4.2
Caracterização da mão-de-obra................................................... 195
4.5 Os reinvestimentos do setor......................................................... 201
4.6 Relações com o poder local, as dificuldades do setor e as
perspectivas dos industriais.........................................................
203
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 209
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................... 213
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo compreender a re-inserção de
Jaguapitã-PR na rede urbana norte-paranaense após a década de 1970, a partir da
qual ocorreu a gênese da produção industrial de mesas para bilhar que permitiu a
este núcleo urbano tornar-se especializado nesta produção.
A escolha dessa temática está relacionada a uma rie de
motivações. Primeiramente, pode-se atribuir ao desejo pessoal de entender como
ocorreu a estruturação em pouco mais de três décadas, do processo industrial de
mesas para bilhar nessa pequena cidade. Desejo esse que surgiu da convivência
com donos das fábricas de bilhar, funcionários que viajam mensalmente para
regiões brasileiras distintas, enfim do contato direto com pessoas que atuam no
ramo de mesas para bilhar da cidade na qual resido desde 1985. O contato com
produções teóricas a respeito das cidades pequenas também foi outro aspecto
importante para a escolha dessa temática de pesquisa, ocorrendo a primeira
aproximação durante as aulas de Geografia Urbana ministradas pela professora Drª.
Tânia Maria Fresca no curso de graduação, e posteriormente após a leitura de
algumas produções teóricas de Fresca (2001, 2004), Corrêa (1989), Rangel (1986) e
Mamigonian (1991). Leituras essas que despertaram o desejo de entender como as
cidades pequenas se inserem na atual conjuntura do sistema capitalista, e
principalmente quais fatores e/ou elementos levaram alguns centros a
desenvolverem suas potencialidades funcionais, ao mesmo tempo que outras
pequenas cidades perdem parte de suas funções urbanas.
Inicialmente se faz necessário ressaltar que o termo bilhar é utilizado
no Brasil indistintamente para os jogos praticados em mesas com bolas e tacos, no
entanto nos deparamos com outros nomes como sinuca e snooker em nosso
cotidiano. Nesse sentido, consideramos necessário esclarecer a diferença entre
essas terminologias que consequentemente resultam em diferentes mesas,
acessórios e regras de jogo. O termo bilhar se refere aos jogos praticados em
mesas sem caçapas, com tacos de sinuca e apenas três bolas, geralmente maiores
2
que as da sinuca, possuindo essas bolas as cores branca, amarela e vermelha. Esse
jogo originou-se no final do século XV, a partir de um outro com tacos e bolas
chamado Billard de Terre
1
(www.sportmania.com.br).
O snooker foi principiado nas primeiras décadas de 1800, quando
foram feitas algumas mudanças como adaptação de uma cobertura de couro na
ponta do taco e de tecidos finos na mesa, alterações essas que permitiam golpes
mais precisos e maior eficiência no jogo. Por volta de 1875, um oficial inglês
inventou outras regras para o jogo: criou as caçapas e adicionou várias bolas
coloridas sendo 15 bolas vermelhas e 05 bolas nas cores amarela, verde, rosa, preta
e branca, criando assim novas modalidades. Na seqüência foram acrescentadas
mais duas bolas coloridas, sendo uma marrom e outra azul, criando o novo jogo
(www.sportmania.com.br).
Assim, as diferenças entre esses dois jogos, em linhas gerais pode-
se dizer que é a presença ou não da caçapa que distingue o bilhar do snooker,
tendo em vista que as mesas para bilhar não possuem caçapas
(www.sportmania.com.br).
Por fim, a sinuca, modalidade mais praticada no Brasil surgiu a partir
de alterações no snooker. O jogo de sinuca apesar das diversas formas existentes,
na sua versão mais praticada no Brasil, é praticado com apenas uma bola vermelha,
diferente do snooker que possui 15 bolas vermelhas. Além dessa bola vermelha com
o número 3, o jogo de sinuca envolve mais 07 bolas numeradas na seguinte forma:
amarela-1, azul-2, roxo-4, rosa-5, verde-6, marrom-7e preta-8 além da branca.
Todas as bolas (exceto a branca) além de numeradas, possuem o mesmo tamanho
e peso, ocorrendo a repetição das cores a partir do número 9, totalizando 15 bolas
numeradas. A sinuca é jogada numa mesa retangular com tampo de mármore ou de
lousa, forrado de feltro verde com tabelas de borracha (www.sportmania.com.br).
1
Esse jogo assemelhava-se ao Crocquet, onde vários arcos eram encravados na terra e as bolas
eram impulsionadas de modo a percorrerem uma determinada trajetória. O impulso nas bolas era
dado com um taco curto e grosso, chamado bille (www.sportmania.com.br).
3
No que diz respeito às regras durante a partida de bilhar,
destacamos a regra francesa conhecida como Carambola, onde cada participante
joga com uma das três bolas e os pontos são considerados a partir do momento em
que a bola toca nas outras duas, configurando assim na ação denominada
“carambola”, podendo ser com ou sem tabela, conforme combinado. Ressalta-se
que a quantidade de pontos deve ser combinada antes do início do jogo, podendo
ser sem tabela ou com 1, 2 ou 3 tabelas. Ainda segundo a Confederação Brasileira
de Bilhar e Sinuca, durante o jogo de bilhar caso o jogador não acerte as bolas
passará a vez para o outro jogador, perderá seus pontos feitos na jogada se não
acertar as duas bolas, não perdendo os pontos caso tenha acertado apenas uma
bola na jogada. Vence a partida o jogador que primeiro atingir os pontos
combinados. Para cada acerto de duas bolas é atribuído o valor de 1 ponto. Dentro
das regras do bilhar existem diversas modalidades, todas com normas que visam
ampliar as dificuldades para atingir a ação de carambolar
(www.divobilhares.com.br/difereg.htm e www.tacolandia.com.br/sinuca).
No jogo de snooker ou de sinuca, em virtude da quantidade de bolas
e da presença de caçapas, as regras são diferentes do jogo de bilhar. Em linhas
gerais, o jogo de snooker ou de sinuca envolve dois adversários que objetivam
durante uma partida encaçapar as bolas coloridas na seqüência, as partidas podem
ser disputadas individualmente ou em duplas. O snooker, internacionalmente é
jogado com 22 bolas (15 vermelhas), com diâmetro de 5,25 cm, hoje também oficiais
no Brasil. Segundo a Confederação Brasileira de Bilhar e Sinuca, aqui no Brasil o
jogo de snoooker original sofreu significativas alterações como: a redução do
número de bolas em uso, a ampliação do tamanho da bola para 5,4 cm de diâmetro
e as suas normas foram modificadas, tornando assim o jogo mais rápido ao mesmo
tempo que ficou menos técnico. Também foi alterado o tamanho da mesa que
passou a ter 2,84 m X 1,42 m, uma redução de 50 cm, tanto na largura, quanto no
comprimento, em relação à mesa inglesa original. Entende-se assim, que o jogo de
sinuca no nosso país, conservou as finalidades do snooker, no entanto em
decorrência das adaptações sofridas, passou a ser jogado com normas mais
flexíveis. Portanto, oficialmente a regra brasileira consiste na prática da sinuca de 6
ou 10 bolas vermelhas, com a finalidade é encaçapar todas as bolas em jogo, em
4
seqüência ordenada, respeitando normas específicas. Essa regra oficial brasileira,
desde 1996 passou a ser complementar, sendo proibida nos jogos infanto-juvenis e
nas categorias superiores (www.divobilhares.com.br/difereg.htm).
Isso porque no Brasil, oficialmente é praticado o jogo de sinuca de
acordo com as normas inglesas. No entanto, a expectativa do presidente da
Confederação Paranaense de Sinuca é que os dois padrões o inglês e o norte-
americano sejam adotados, para que os jogadores possam participar de
competições internacionais, principalmente das Olimpíadas, caso o jogo de sinuca
seja incorporado ao grupo de esportes olímpicos. Embora existam as regras oficiais,
nos estabelecimentos comerciais a sinuca é praticada sob diversas regras e
diferentes modalidades, variando de uma Região para outra. Ocorrendo até mesmo
casos em que a definição das regras fica sob a responsabilidade do dono do
estabelecimento comercial, quando surgem discussões sobre as mesmas
(MASCHIO, 2006).
Percebe-se assim, que embora a maior parte das indústrias
brasileiras receba a denominação indústrias de mesas para bilhar, não são todas
que produzem mesas e acessórios para o jogo de bilhar. Isso porque grande parte
das indústrias se restringem à produção de mesas com caçapas, destinadas ao jogo
de sinuca, como no caso de Jaguapitã-PR, onde são produzidas mesas para sinuca,
mas no cotidiano recebem o nome de mesas para bilhar.
A nosso ver, essa difusão indiscriminada do nome bilhar a todos os
tipos de mesas para jogos com taco e bolas, pode ser associada a implantação da
primeira indústria de bilhar no Brasil, que ocorreu por volta de 1930, quando uma
indústria de mesas para bilhar norte-americana denominada Brunswyk, fundada nos
EUA em 1845
2
, instalou uma filial na cidade do Rio de Janeiro, publicando em 1931
no Brasil, uma coletânea chamada Brunswyk: o ABC do bilhar. A fundação da
primeira indústria de mesas nacional ocorreu na cidade do Rio de Janeiro-RJ em
2
Chamamos a atenção para o fato da indústria de mesas para bilhar Brunswyk ter sido fundada nos
EUA, o num período anterior ao surgimento do jogo de snooker, que ocorreu em 1875 por iniciativa
de um inglês (www.sportmania.com.br).
5
1940, com o nome de Tujague, sendo logo em seguida fundada a Taco de Ouro em
São Paulo-SP. A expansão do número de unidades industriais nessas duas cidades
a partir da década de 1940, foi impulsionada pela instalação de inúmeros salões de
sinuca tanto em São Paulo-SP quanto no Rio de Janeiro-RJ e pela organização de
campeonatos esportivos envolvendo o jogo de sinuca, por iniciativa das associações
de caráter desportivo (www.sportmania.com.br).
No caso de São Paulo-SP, na década de 1960, dentre as inúmeras
indústrias que surgiram, destaca-se a Bilhar Formosa, fundada por Antonio
Hernandes em 1967, com capital obtido a partir da venda de um caminhão, de um
terreno e de economias pessoais. De início, a Bilhar Formosa começou a produzir
mesas para pebolim e para bilhar, posteriormente locadas nos estabelecimentos
comerciais da Região Metropolitana de São Paulo-SP. No entanto, em 1968 passou
a produzir alguns acessórios como: giz, cujo gesso era adquirido em Pernambuco e
os tacos, a partir da madeira paranaense. Além desses acessórios, essa indústria
também passou a comercializar o tecido entre os demais industriais ou com
proprietários apenas de linhas de locação. Na primeira metade da década de 1970,
parou com as locações e intensificou a produção de acessórios, abrindo firmas
distintas para a produção de cada acessório, no caso o giz, a bola, o taco e uma
metalúrgica para a parte de ferragens, além da produção de mesas para o jogo de
bilhar, sinuca, pebolim, entre outras. Com isso, começou a atuar na venda de mesas
e acessórios paulatinamente em todos os estados brasileiros, fornecendo inclusive
para a cidade de Jaguapitã-PR os acessórios a partir da década de 1970, tornando-
se um dos industriais de maior destaque em escala nacional.
O entendimento da origem dos termos bilhar, snooker e sinuca e do
processo de instalação das primeiras indústrias de mesas instaladas Rio de Janeiro-
RJ e principalmente em São Paulo-SP, contribuem para a contextualização do objeto
de estudo desse trabalho, no caso as indústrias de mesas para bilhar na cidade de
Jaguapitã-PR, localizada na rede urbana do Norte do Paraná, conforme figura 01.
Convém esclarecer que em razão dos diferentes tipos de jogos e denominações,
optamos no presente trabalho pelo uso do termo mesas para bilhar, cotidianamente
muito conhecido e o mais utilizado em Jaguapitã e no Norte do Paraná.
Figura 01: Localização do município de Jaguapitã-PR. 2006.
Fonte: SEDU – Secretaria do Estado do Desenvolvimento Urbano – 2003.
Org.: Léia Aparecida Veiga
A cidade de Jaguapitã-PR, localizada a cerca de 50 km de Londrina-
PR sentido noroeste apresentava em 2000, uma população urbana de 8.707
habitantes, representando 80% da população total (IBGE, 2000). Inserido na rede
urbana norte-paranaense, esse núcleo urbano possui atividades urbanas modestas
em relação ao comércio varejista, atacadista e de prestação de serviços que são
caracterizados por fornecerem bens de consumo freqüente à população local e de
uma pequena hinterlândia. No entanto, o destaque fica por conta do setor industrial,
que tem concentrado apenas na área urbana 54 fábricas de mesas para bilhar
(JAGUAPITÃ, 2006), das quais 46 estão em plena atividade, segundo
levantamentos de campo em 2006. Essa atividade industrial além de ser o segundo
setor responsável pela geração de empregos no município, contribui para a
dinamização da economia local movimentando na cidade o lucro das mesas locadas
nas mais diferentes cidades brasileiras e para a re-inserção dessa pequena cidade
na rede urbana norte-paranaense após a década de 1970, tornando-a um centro
especializado na produção industrial de mesas para bilhar. A caracterização
enquanto um centro especializado advém do fato da cidade ter uma produção
expressiva de mesas para bilhar, oscilando entre 20% e 30% da produção nacional
e pelo fato de concentrar 46 unidades industriais em atividade, destacando-se assim
dentre as demais cidades nacionais em relação à quantidade de estabelecimentos
desse setor industrial, segundo levantamentos de campo em 2006.
No entanto, as indústrias de mesas para bilhar têm especificidades
como o fato da mercadoria produzida - a mesa não ser objeto de venda. Ou seja,
os processos de produção, distribuição, circulação e consumo o se realizam de
forma similar às outras indústrias onde a mercadoria e a realização do lucro se faz
no processo de consumo.
Isso porque as mesas para bilhar são na sua quase totalidade
locadas, isto é são colocadas em bares, restaurantes e similares mediante acordo
comercial com o dono do estabelecimento, com o pagamento estipulado a este
último.
8
Quanto aos procedimentos operacionais para a realização do
trabalho, estes passaram pelo uso de fontes secundárias e primárias. Dentre as
fontes secundárias estão principalmente os dados levantados em órgãos públicos
como a Prefeitura Municipal de Jaguapitã-PR, Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística -IBGE, Secretaria da Fazenda do Estado do Paraná SEFA e Ministério
do Trabalho por intermédio do RAIS.
As fontes primárias basearam-se principalmente em entrevistas
realizadas com representantes do poder executivo local e de associações, com
proprietários de estabelecimentos comerciais varejistas, atacadistas e prestadores
de serviços, de indústrias diversas, etc. presentes no município. Também foram
entrevistados residentes no município que vivenciaram o período da gênese do
mesmo, vários proprietários e alguns funcionários das 27 indústrias de mesas para
bilhar de Jaguapitã-PR e da Bilhar Formosa de São Paulo-SP. Esses entrevistados
do setor industrial de mesas para bilhar, foram a principal fonte de informações para
o entendimento de todo o processo produtivo de tal atividade na cidade. Ao todo
foram 60 entrevistas, das quais 27 somente com os industriais de mesas para bilhar
de Jaguapitã-PR.
Estruturamos o trabalho de maneira que no primeiro capítulo
abordamos um conjunto de leituras e reflexão de modo a compreender o conceito de
rede urbana bem como a diversidade teórico-metodológica para sua compreensão
diante de processos de transformação. Nesse mesmo capítulo, realizamos uma
discussão sobre as pequenas cidades no contexto da rede urbana buscando
compreendê-las em suas inserções e singularidades.
Na seqüência discutimos a estruturação da rede urbana norte-
paranaense, processo esse concluído no final da década de 1950. A partir de então
analisamos a gênese de Jaguapitã-PR bem como sua inserção na rede na década
de 1960, por intermédio do entendimento das atividades urbanas e agropecuárias
inclusa a dinâmica social articulada a essas atividades.
9
No terceiro capítulo buscamos compreender como as
transformações na organização sócio-espacial norte-paranaense após 1960 se
singularizaram em Jaguapitã-PR. Analisamos num primeiro momento as
transformações gerais na rede urbana norte-paranaense e na seqüência como
essas transformações gerais se singularizavam na agropecuária, na dinâmica
populacional, no comércio e prestação de serviços e nas interações espaciais.
O último capítulo diz respeito especificamente ao processo de
especialização produtiva em mesas para bilhar ocorrido em Jaguapitã-PR após a
década de 1970. Abordamos desde a gênese da produção de mesas para bilhar na
cidade até os aspectos concernentes à expansão da atividade industrial, a
caracterização da matéria-prima, sistema de comercialização, mercado consumidor
e produção, o sistema produtivo, os reinvestimentos do setor, a relação com o poder
local, as dificuldades e as perspectivas dos industriais desse setor.
Nas considerações finais discutimos o sentido da especialização
produtiva industrial para este núcleo urbano com nível de centralidade muito fraca,
mas que mediante tal produção, o inseriu em muitas redes e com complexas
interações espaciais.
10
1- A REDE URBANA: COMPREENDENDO O CONCEITO
A expansão territorial das relações econômicas e sociais capitalistas
no decorrer de suas etapas de desenvolvimento, demandou transformações e
ampliação da divisão territorial do trabalho, permitindo que centros urbanos se
tornassem especializados funcionalmente e com crescente articulação entre esse e
os demais. Assim, os lugares foram sendo reorganizados sob a ótica capitalista,
tornando-se cada vez mais divididos -produção e consumo- e articulados -troca entre
produtores localizados em numerosos territórios- (CORRÊA, 1989).
No entanto, essa progressiva divisão e articulação, estão
correlacionadas ao desenvolvimento e estruturação “[...] de uma ampla rede urbana,
abrangendo vários tipos de centros localizados em rios territórios [...]” (CORRÊA,
1989, p. 53).
Partindo desse pressuposto, compreendemos a rede urbana
enquanto “[...] um conjunto de centros funcionalmente articulados [...]” (CORRÊA,
1989, p.08), na medida em que os centros urbanos inseridos no sistema capitalista
acabam por realizarem umas das etapas do modo de produção, isto é, realizam as
trocas comerciais (atacado e varejo) e prestam serviços variados. Estamos nos
referindo ao consumo, onde os produtos atingem o seu destino final, o mercado
consumidor. Dessa forma, as cidades interligadas acabam por ser responsáveis não
exclusivamente, pela articulação entre a produção e o consumo.
Nas palavras de Corrêa (1997, p.20), é através “[...] das numerosas
cristalizações materiais diferenciadas do processo de distribuição varejista e de
serviços, que se realiza, em um amplo território sob o domínio do capitalismo, a
articulação entre produção propriamente dita e consumo final [...]”. Essas redes
hierarquizadas de localidades centrais são fundamentais para o processo de
acumulação capitalista, pelo fato de viabilizarem através da oferta de prestação de
serviços e bens de consumo a concretização da extração da mais-valia, tendo em
vista que esse excedente se materializa no mercado distribuidor, quando este é o
responsável pela intermediação entre mercadoria e consumidor. Em outras palavras,
11
essa relação entre modo de produção e localidades centrais pode ser assim
entendida como:
[...] o ato de um assalariado dirigir-se a uma localidade central
implica o pagamento de um preço ao varejista pelos produtos que
adquire. Este preço contém uma margem de lucro que é capturada
pelo varejista. Por sua vez, o varejista da pequena localidade central
ao adquirir esse produto do industrial estará possibilitando a
realização da mais-valia. Isto significa que o processo de
acumulação capitalista, fundamentado na produção industrial e no
trabalho assalariado, tem uma dimensão espacial e esta tem como
um de seus lugares a rede de localidades centrais. [...] (CORRÊA,
1997, p.21)
Para Corrêa (1997), a rede urbana seria a cristalização do mercado
de distribuição no sistema capitalista, por isso pode ser entendida como uma
estrutura territorial
3
importante à dinâmica da acumulação capitalista. Para o referido
autor, considerar a rede de localidades centrais enquanto uma estrutura territorial
pelo fato das mesmas serem fundamentais para o processo de acumulação, implica
também entendê-las como uma forma de reprodução das classes sociais, que
existe uma diferenciação no consumo entre as mesmas.
Além de considerar a rede urbana enquanto uma estrutura territorial,
se faz necessário também entender a mesma enquanto uma dimensão sócio-
espacial da sociedade, isso porque a rede por ter sua gênese e dinâmica
correlacionadas ao processo histórico, acaba por tornar-se um “[...] produto social,
historicamente contextualizado, cujo papel crucial é o de, através de interações
sociais espacializadas, articular toda a sociedade numa dada porção do espaço [...]
(CORRÊA, 1997, p. 93), refletindo e condicionando a sociedade na qual está
inserida.
Nesse sentido, por ser a rede urbana uma dimensão sócio-espacial
da sociedade e ao mesmo tempo se apresentar como uma estrutura territorial,
segundo Corrêa (1989), processos como o de criação, apropriação e circulação do
3
Para Corrêa (1997, p. 38), estrutura territorial seria o conjunto de cristalizações materiais no espaço
ligado à produção, circulação, distribuição e consumo, ou seja, seriam os campos, fábricas, vias de
circulação, residências, etc. Sendo ao mesmo tempo, um reflexo do funcionamento de um dado modo
de produção.
12
capital excedente não só estarão ocorrendo na rede como estarão sendo
constantemente modificados, pelo fato dos mesmos estarem correlacionados a
divisão territorial do trabalho, que também passa por mudanças no decorrer do
tempo.
Esse entendimento da rede urbana nos conduz, segundo Corrêa
(1989, p. 48), à compreensão da rede urbana enquanto [...] um reflexo da e uma
condição para a divisão territorial do trabalho” [...]. A rede urbana reflete a divisão
territorial do trabalho na medida que a diferenciação entre os centros urbanos está
correlacionada à lógica capitalista, ou seja, inseridos na ótica do sistema capitalista
os agentes sociais na constante busca de redução dos custos e maximização de
lucros, estabelecem vantagens locacionais diferenciadas, resultando assim em
arranjos espaciais distintos.
A realização desse processo na rede urbana, o ocorre de maneira
homogênea, tendo em vista que não são todos os lugares que apresentam os
elementos necessários (padrões locacionais) à reprodução do capital num dado
momento. Assim, na medida em que acontece valorização de certas localidades que
em dado momento dispõem dos elementos necessários à lógica de produção e
reprodução do capital, outros centros urbanos são preteridos por não disporem
ainda, dos requisitos importantes na ótica capitalista, ficando estes à espera do
momento onde suas localizações possam ser valorizadas. Esse processo resulta na
diferenciação entre as localidades centrais de uma rede urbana (CORRÊA, 1989).
Nas palavras de Corrêa (1989), a rede urbana reflete a divisão
territorial do trabalho por ser a mesma o resultado da combinação de elementos
próprios do modo de produção (forma de ocupação, produção, relações sociais,
distribuição e renda da população), ou seja, é um reflexo a partir do momento que a
rede expressa a sociedade ali instaurada. Nesse sentido,
[...] numa planície fértil e densamente ocupada, com produção
agrícola negociada extralocalmente, define-se uma hierarquia de
localidades centrais, enquanto às margens de baías de águas
profundas desenvolvem-se centros portuários; próximo às jazidas de
carvão emergem centros mineiros ou mesmo dotados de indústrias
de transformação [...] (CORRÊA, 1989, p. 49).
13
Sendo a rede urbana um reflexo, ao mesmo tempo “[...] através das
funções articuladas de suas cidades – comércio atacadista e varejista, bancos,
indústrias e serviços de transporte, armazenagem, contabilidade, educação, saúde,
etc” – (CORRÊA, 1989, p. 49), a rede torna-se uma condição para a divisão territorial
do trabalho. Dito de outra forma, a rede é uma condição a partir do momento que os
processos de produção, distribuição, circulação e consumo são viabilizados
mediante a articulação entre as cidades que compõem uma rede. Articulação essa
que está intimamente correlacionada à evolução dos meios de transportes e de
comunicação, que permitem numa proporção cada vez maior, o movimento de fluxos
de pessoas, mercadorias, capital, informações e idéias, seja no âmbito interno (entre
os centros que compõem determinada rede) ou externo (entre diferentes redes
urbanas).
Apreendemos assim, que a rede urbana na sua dimensão sócio-
espacial ao viabilizar “[...] a criação, apropriação e circulação do valor excedente [...]”
pode ser considerada como a “[...] cristalização do processo de realização do ciclo
do capital [...]”, onde cada centro urbano cumpre um papel diferenciado, a fim de
viabilizar sua existência (CORRÊA, 1989, p.52).
No entanto, esse entendimento da rede urbana como um reflexo da
e uma condição para a divisão territorial do trabalho, se torna possível se
realizado a partir da compreensão da mesma enquanto uma particularidade do
espaço considerado uma totalidade, isto é, o espaço seria um todo estruturado e em
curso de desenvolvimento e auto-criação (FRESCA, 1990). A “[...] cada vez que a
totalidade passar por um processo de mudança, implicando em mudanças nas
relações sociais, econômicas e políticas, da mesma maneira tais mudanças
acontecerão em relação ao espaço que se transformará para adaptar-se às novas
necessidades da sociedade [...]” (SANTOS, 1986, p.37).
Assim, ao pensarmos a organização espacial a partir da totalidade
social, nos deparamos com a necessidade de entender as partes que compõem
esse todo, pelo fato do todo “[...] estar sempre se desfazendo e se refazendo para se
tornar outro todo no contínuo processo de desenvolvimento. se consegue captar
14
a totalidade em um dado momento, pois quando aquele momento foi captado já não
é mais aquela totalidade, pois esta já tornou-se outra (FRESCA, 2004, p.18-19).
Para compreendermos um fato da realidade se faz necessário isolar
o mesmo através da decomposição dessa totalidade, porque segundo Kosik (1986,
p.48), não se pode “[...] conhecer o contexto real a não ser arrancando os fatos do
contexto, isolando-os e tornando-os relativamente independentes [...]”. Tal caminho
nos permite o entendimento de alguns fatos, elementos de uma totalidade, pelo fato
de nos permitir o acesso ao concreto a partir do abstrato e a passagem das partes
para o todo e vice-versa (FRESCA, 2004).
Partindo assim da relação entre o todo e as partes, a rede urbana
enquanto uma temática importante nos estudos geográficos, passa a ser entendida
como uma particularidade da totalidade. Mas para que o estudo da rede enquanto
uma particularidade expresse o real movimento da totalidade, o mesmo deve ser
baseado em categorias analíticas, que permitem a fragmentação do todo e na
seqüência a reconstrução do mesmo (SANTOS, 1985).
Ao nos reportarmos aos estudos a respeito dessa temática, nos
deparamos com uma vasta produção teórica, que procuraram e procuram entender a
rede urbana a partir de diferentes elementos e categorias analíticas. Dentre esses
estudos, destaque deve ser dado aos que foram iniciados na década de 1930,
quando W. Christaller elaborou a Teoria das Localidades Centrais, que tornou-se o
primeiro referencial para os estudos sobre as redes urbanas.
Segundo a Teoria das Localidades Centrais, a rede urbana pode ser
entendida a partir de sua função, isso porque “[...] segundo ele existem princípios
gerais que regulam o número, tamanho e distribuição dos núcleos de povoamento
[...]” (CORRÊA, 1989, p.21).
No que diz respeito à função, na interpretação christalleriana, toda
cidade desempenha funções centrais que estão relacionadas à distribuição de bens
e serviços diversos para uma população residente em sua área de influência. Dessa
funcionalidade surgem diferenças entre os centros urbanos tendo em vista que cada
15
núcleo vai ofertar bens e serviços de acordo com a demanda local e regional
(ROCHEFORT, 1998), estabelecendo-se assim uma hierarquização entre os
mesmos. Teríamos então, segundo a Teoria das Localidades Centrais o centro local,
centro de zona, centro sub-regional, capital regional e metrópole regional. Essa
diferenciação das funções centrais segundo as proposições de Christaller, acaba por
estabelecer uma hierarquia urbana
4
entre as localidades de uma determinada rede,
pelo fato de cada centro desempenhar um dado papel na oferta de bens e serviços.
Enquanto o centro local oferta bens e serviços de consumo muito
freqüente como alimentos, vestuário, móveis, atendimento médico-hospitalar de
clinica geral, educação básica, etc., a metrópole regional “[...] oferece uma gama
completa de bens e serviços que naquele tipo particular de sociedade é consumida
pela população em razão de seu nível de renda e padrão cultural [...]” (CORRÊA,
1989, p. 23). Ou seja, a metrópole acaba por ofertar tanto bens e serviços que o
consumidos menos frequentemente quanto aqueles que são consumidos mais
frequentemente. Diante dessa ampla oferta de bens e serviços, a metrópole exerce
influência numa vasta região, ela contém as hinterlândias dos demais centros da
rede urbana, ou seja, quando os consumidores do centro local ou do centro de zona
necessitam de produtos mais específicos ou serviços especializados, os mesmos
recorrem ao centro metropolitano, a fim satisfazerem sua necessidade ou desejo de
compra.
Segundo Rochefort (1998, p. 20), isso vai gerar a diferenciação entre
os centros, ou seja, “[...] a diferenciação entre os centros assenta unicamente na
maior ou menor freqüência de recursos ao serviço, que implica maior ou menor
‘raridade’ desse no espaço regional, em decorrência da necessária rentabilidade de
sua localização”. Assim, a centralidade de um núcleo estará intimamente relacionada
ao seu grau de importância que é determinado a partir de suas funções, ou seja,
quanto maior for o número de funções maior será sua área de influência e número
populacional atendido (CORRÊA, 1989).
4
Hierarquia urbana é a diferenciação existente entre as cidades de uma rede urbana, a partir da
oferta de bens e serviços de modo espacialmente desigual. No topo dessa hierarquia estão as
cidades com ampla oferta de bens e serviços e na base os núcleos que oferecem somente bens e
serviços de uso freqüente, o mínimo necessário para a sobrevivência de uma população.
16
Nesse sentido, Christaller propõe o conceito de alcance espacial
máximo que engloba uma área determinada a partir da localidade central, onde o
consumidor se desloca para obter bens e serviços. Deslocamento esse que pode
ocorrer para além dessa localidade central, rumo a centros que estão mais próximos,
desde que isso não implique em altos custos no transporte. O outro conceito é o de
alcance espacial mínimo que estaria relacionado “[...] a área em torno de uma
localidade central que engloba o número mínimo de consumidores que são
suficientes para uma atividade comercial ou de serviços, uma função central possa
se instalar [...]” (CORRÊA, 1989, p.21).
Partindo desses conceitos, fica evidente que os bens e serviços
consumidos com freqüência diária ou semanal demandam um reduzido alcance
espacial mínimo, isso porque a concentração de poucas pessoas justificaria a
presença dos estabelecimentos que ofertam bens e serviços dessa ordem. O
mesmo ocorre com o alcance espacial máximo que também passa a ser reduzido,
em função dos custos com transportes, onde dependendo da distância percorrida,
às vezes mínima que seja, tornam-se muito mais elevados que os custos dos bens e
serviços. Enquanto os bens e serviços consumidos com menor freqüência
necessitam de maior alcance espacial mínimo e maior alcance espacial máximo,
que os deslocamentos serão menores, impondo área de atuação maior (CORRÊA,
1989).
Além do papel de cada centro urbano numa dada rede vinculado a
oferta de bens e serviços, Christaller estabelece princípios teóricos que podem
influenciar na estruturação da rede urbana, sendo o primeiro o princípio do mercado,
que propõe a existência de três centros urbanos de nível inferior para cada centro
urbano com nível hierárquico superior, ou seja, para cada capital regional teria três
centros sub-regionais. No entanto a estruturação da rede segundo esse princípio
teórico resulta numa rede urbana com o menor número possível de centros. O
segundo princípio seria o dos transportes, que pressupõe o alinhamento dos
principais centros urbanos ao longo de poucas vias de circulação, ao contrário do
primeiro princípio, no dos transportes o número de centros é maior, no entanto essas
vias responsáveis pela localização dos centros são reduzidas, passando a ocorrer
uma minimização do número de vias de circulação. As redes que foram estruturadas
17
a partir da circulação tendo a capital regional, os centros sub-regionais e quase
todos os centros de zona alinhados ao longo de uma via de transporte rodoviário ou
férreo, assumindo um padrão linear de centros. O último princípio seria o
administrativo, onde o número de centros amplia-se e não ocorre superposição de
áreas de influência como nos dois anteriores (CORRÊA, 1989).
Partindo dos pressupostos christallerianos, Corrêa (1989), fez uma
crítica superior ao propor a existência de diferentes redes urbanas no âmbito
regional, isso porque elas podem ou não apresentar todos os níveis hierárquicos, ou
seja, no território brasileiro podemos encontrar redes urbanas com todos os níveis,
ou seja, com centro local, centro de zona, centro sub-regional, capital regional e
metrópole regional. Assim como existem redes que apresentam apenas dois níveis
ou estão organizadas sob três níveis hierárquicos.
Essa estruturação das redes com diferentes níveis hierárquicos seja
no caso brasileiro ou de outros países subdesenvolvidos, na interpretação de Corrêa
(1989, p. 33) está intimamente relacionada ao “[...] nível de demanda e à mobilidade
espacial da população [...]”. Dito de outra forma, se uma dada rede apresenta nível
de demanda e mobilidade espacial altas, a estruturação da rede ocorrerá de forma a
atender ao seu amplo mercado consumidor, sendo assim necessário a presença de
vários níveis hierárquicos.
O que não ocorre quando a rede urbana possui um limitado nível de
demanda e de mobilidade espacial da maior parte da população, a mesma acaba
sendo estruturada com apenas alguns dos níveis hierárquicos de centros, ou seja,
ocorrerá um grande número de centros locais e de zonas, localidades essas que
devido o baixo poder aquisitivo de seu mercado consumidor, além de serem
relativamente próximos acabam por fornecerem apenas bens e serviços de uso
freqüente. os centros intermediários representados pelo centro sub-regional e
capital regional vão aparecer num número reduzido ou até mesmo estarão ausentes
nessas redes, pelo fato de tais localidades serem responsáveis pela oferta de bens e
serviços pouco necessários ou até mesmo de alto custo para o mercado consumidor
em questão. A função de fornecer uma complexa gama de bens e serviços mais
sofisticados e de uso menos freqüente passa a ser exercida apenas pela metrópole
18
regional, que atenderá o mercado consumidor de alto poder aquisitivo de sua área
de influência, no caso aqueles que residem na própria metrópole e em sua
hinterlândia.
Essa variação na presença dos níveis hierárquicos da rede urbana
nos países subdesenvolvidos produz, segundo Corrêa (1989, p. 34) “[...] um
achatamento da rede de localidades centrais pela ausência ou mínima ocorrência de
centros de escalões hierárquicos intermediários [...]”.
No entanto, se faz necessário esclarecer que a rede urbana
enquanto forma espacial tipo christalleriano, dentre as demais existentes é apenas
um dos padrões espaciais que a rede pode assumir. Optamos por esse percurso na
análise da rede urbana norte paranaense, em função da mesma apresentar-se até a
década de 1960 organizada no padrão espacial tipo christalleriano, ou seja uma rede
com localidades centrais sob um dado nível hierárquico cuja função principal
consistia na distribuição de bens e serviços para o mercado consumidor de sua
hinterlândia. Enfoque esse submetido a um contexto histórico determinado e
acrescido do entendimento da rede enquanto uma dimensão da sociedade e uma
organização espacial (FRESCA, 2004).
1.1- Transformações na Rede Urbana
As transformações na rede urbana estão correlacionadas à
incidência de processos gerais no território, isso porque a totalidade entendida aqui
como “[...] o conjunto de todas as coisas e de todos os homens, em sua realidade
[...]” (SANTOS, 2004, p 116), ao passar por mudanças, provoca alterações nos
lugares, enquanto partes que compõem esse todo. Na medida que processos de
mudanças ocorrem, tanto a sociedade passa por alterações qualitativas e
quantitativas, como o espaço também passa por mudanças a fim de adequar-se às
necessidades e imposições criadas pela sociedade (SANTOS, 1985).
19
Entretanto, cabe ressaltar que esse movimento do todo não implica
numa assimilação homogênea por parte de todos os lugares, isso porque, cada qual
por ter uma especificidade histórica vai produzir uma combinação muito particular
das variáveis emanadas do processo geral, resultando assim numa crescente
diferenciação entre os lugares. O mesmo ocorre com as formas, que não são
totalmente renovadas a cada mudança no todo, embora a nova totalidade pode criar
algumas formas necessárias à realidade produzida, antigas formas são preservadas,
ocorrendo apenas a mudança na função das mesmas, a fim de atenderem as
necessidades da sociedade (SANTOS, 1985).
Nesse contexto, alterações nas relações sociais, políticas,
econômicas, culturais, impondo outra totalidade implicam também em alterações na
rede urbana, por ser esta uma dimensão sócio-espacial da sociedade e ter um
caráter dinâmico, ou seja, a rede urbana altera-se de acordo com as transformações
ocorridas em dada sociedade. Transformações essas que na rede são
materializadas mediante alterações na forma e na função, ou em apenas uma
dessas duas categorias (CORRÊA, 1989).
Partindo dessa interpretação, compreendemos que a rede urbana
brasileira sofreu alterações significativas, principalmente após a Segunda Guerra
Mundial. Se até o início da década de 1940, a rede urbana podia ser entendida
como sendo do tipo christalleriano por apresentar dentre outras características,
centros urbanos com um limitado grau de diversificação funcional, ter a distribuição
de bens e serviços organizada de acordo com a produção rural e com a numerosa
população residente no campo (CORRÊA, 1997), a partir da década seguinte a rede
começou a sofrer alterações principalmente na sua funcionalidade, tendo em vista
que a forma já apresentava certa complexidade.
Essa diferenciação e complexificação funcional entre os centros
urbanos brasileiros, foi uma adaptação da rede à nova sociedade que estava
instaurando-se, sociedade essa que diante de uma série de alterações geradas por
processos gerais de mudanças passou a assumir um caráter urbano-industrial após
a década de 1950. Dentre as alterações decorrentes dessa nova fase do sistema
capitalista brasileiro que contribuíram para a complexificação funcional das cidades
20
pode-se destacar segundo Corrêa (1997, p. 99), “[...] a industrialização, a
modernização do campo e a melhoria geral da circulação, [...]”.
Em relação ao processo industrial houve após a década de 1950 a
intensificação do mesmo com a consolidação das indústrias de bens e consumo
duráveis e a estruturação das indústrias de base. Àquelas voltadas para a
agricultura, elemento primordial para a intensificação da modernização do campo
teve sua expansão a partir dos anos 1970. Ressalte-se a importância da difusão e
expansão pelo território brasileiro das agroindústrias, que submetidas à lógica de
produção e reprodução industrial contribuíram para a modernização da
agropecuária, tornando o campo um “[...] lugar das novas monoculturas e das novas
associações produtivas, ancoradas na ciência e na técnica e dependentes de uma
informação sem a qual nenhum trabalho rentável é possível [...]” (SANTOS, 2004, p.
306). Ainda relacionado ao processo industrial e modernização da agropecuária
está, a questão demográfica que foi significativamente alterada, tendo em vista que
a mecanização das atividades agropecuárias acabou por provocar um esvaziamento
demográfico no campo, ao mesmo tempo que intensificou o crescimento da
população urbana, ou seja, a população rural diante do emprego de uma
agropecuária cada vez mais tecnicizada e quimificada acabou migrando para as
cidades, principalmente para as médias e grandes cidades em busca de emprego.
Outro fator que também contribuiu para as transformações na rede
urbana é a evolução nos meios de comunicação e de transportes. Segundo Santos
(2004), a revolução científico-técnica contribuiu para mudanças na sociedade ao
disponibilizar uma série de produtos e serviços, dentre os quais aqueles
relacionados às inovações da mídia rádio-televisiva (rádios e televisões locais,
vídeos, televisão por cabo etc.), aos serviços na rede telefônica (secretária
eletrônica, tele-alarmes, fax, reuniões a distância, etc.), a difusão de produtos como
microcomputadores e computadores domésticos, além de produtos nascidos da
combinação desses citados (videotexto, teletexto, bancos de dados,
transferências bancárias eletrônicas, etc.) e produtos como quinas fotográficas,
câmeras cinematográficas, jogos, aparelhos domésticos, automóveis que de forma
implícita acabam incorporando componentes eletrônicos.
21
O autor nos chama a atenção ainda para a rapidez de difusão
dessas inovações na atual fase do sistema capitalista, isso porque ao compararmos
com etapas anteriores, perceber-se-a que “[...] as inovações técnicas introduzidas
nos vinte anos após a Segunda Guerra Mundial se espalharam duas vezes mais
rapidamente do que aquelas introduzidas depois da Primeira Guerra Mundial e três
vezes mais do que as introduzidas entre 1890 e 1919 [...]” (SANTOS, 2004, p. 178).
Isso porque tais inovações se tornaram fundamentais para o desenvolvimento do
sistema capitalista na fase de maior concentração e centralização do capital e de
conseqüente redução do tempo de produção e reprodução do capital. Nesse
sentido, pode-se dizer que a evolução dos meios de comunicações e dos
transportes foi fundamental para o sistema produtivo capitalista, já que a circulação é
uma etapa muito importante na produção capitalista, por ser a mesma um elo entre a
produção, a distribuição e consumo final das mercadorias.
Assim nesse contexto atual onde a circulação é tão importante
quanto a própria produção, e os fluxos se tornam mais intensos, mais extensos e
mais seletivos, os meios de transportes passaram por significativos avanços, a fim
de viabilizar maior fluidez à circulação das pessoas, idéias, decisões, produtos, etc.
Essa dinâmica e agilidade nos deslocamentos foram possíveis com a expansão de
vias aéreas e terrestres pelo território brasileiro, com a modernização dos
aeroportos, portos, estradas rodoviárias, ferrovias e hidrovias (SANTOS, 2004).
Essa fluidez se estendeu também aos meios de comunicações, ao
passo que a adoção e expansão dos produtos e serviços oriundos da revolução
científico-técnica possibilitou a todos os lugares o acesso à informação, aos
acontecimentos de forma instantânea, sem nenhuma defasagem. Essa velocidade
da circulação das informações permite um deslocamento mais rápido das pessoas e
das mensagens, sincronizando assim o “global e o fragmentado” (SANTOS, 2004).
Ou seja, a incorporação de satélites, do laser, da fibra óptica e das tecnologias das
microplaquetas conjugadas, criam uma vasta rede de interatividade de
comunicações e de informações, agilizam o diálogo com o outro e a divulgação de
cada dado, produto. Rede essa que “[...] aproxima os lugares, torna possível uma
tomada de conhecimento imediata de acontecimentos simultâneos e cria entre
22
lugares e acontecimentos uma relação unitária à escala do mundo [...]” (SANTOS,
2004, p. 203).
No entanto que se ressaltar que “[...] a expansão desse meio
técnico-científico-informacional é seletiva, com o reforço de algumas regiões e o
enfraquecimento relativo de outras [...]” (SANTOS, 2002, p. 102), isso porque os
agentes sociais da vida econômica, social e política, ou seja os detentores do
capital, acabam por escolher os melhores lugares para sua atuação. Por isso,
mesmo que tenha ocorrido nas últimas décadas a intensificação da produção,
distribuição, circulação e consumo, não são em todos os lugares que o capital vai
encontrar os elementos necessários a sua reprodução, o que resulta em diferentes
inserções de cidades e redes urbanas na divisão territorial do trabalho. Pode-se
dizer que cada rede urbana acaba por absorver de forma diferenciada as variáveis
emanadas do todo, impondo redes regionais distintas no território brasileiro.
(CORRÊA, 1982).
Essa diferenciação entre as redes urbanas se em função de cada
uma se estruturar funcionalmente de acordo com a atividade que na lógica
capitalista gerará mais lucro numa dada área. Por isso vamos encontrar conjuntos
de cidades que estão estruturadas para atender a produção agroindustrial seja da
cana-de-açúcar seja da soja/trigo, enquanto outros centros atenderão demandas da
pecuária ou das indústrias, enfim cada rede urbana será organizada de acordo com
a produção local/regional e disto resultará sua inserção na divisão territorial do
trabalho. No entanto, a inserção de uma dada rede na divisão territorial do trabalho
não está restrita apenas a uma única produção, cada rede pode ter mais de uma
correlacionada à distribuição, circulação e consumo, inserindo-se na divisão do
trabalho por várias produções propriamente ditas. (CORRÊA, 1989; FRESCA, 2004).
Nessa perspectiva, alguns centros urbanos da rede tiveram suas
potencialidades desenvolvidas ao passo que outros acabaram perdendo parte de
suas funções ou se tornaram reservatório de mão-de-obra rural. Por isso segundo
“[...] a posição de cada centro na hierarquia urbana não é mais suficiente para
descrever a sua importância na rede de cidades. É necessário que se considere
23
suas especializações funcionais, sejam industriais ou vinculadas aos serviços,
muitos dos quais criados recentemente [...]” (CORRÊA, 1997, p. 100).
Para Corrêa (1997, p. 100) essa complexidade funcional da rede
urbana:
[...] vai traduzir-se, entre outros aspectos, no fato de que cada centro
situa-se em pelo menos duas redes. Uma constituída por localidades
centrais e na qual cada centro tem uma posição (metrópole, capital
regional, centro sub-regional, centro de zona, centro local) e outra,
menos sistemática e mais irregular, na qual cada centro desempenha
um papel singular e/ou complementar a outros centros [...] implicando
assim em diversos tipos e graus de integração dos centros.
A expansão do processo industrial, a modernização da agropecuária
e evolução dos sistemas de transportes e comunicação no território brasileiro,
contribuiu para a crescente intensificação e ampliação das interações espaciais, o
que contribuiu para a complexificação da rede urbana. Ou seja
[...] rompem-se as amarras de horizontes espaciais limitados e
fortemente fechados, submetidos a uma economia
preponderantemente autárquica. Estabelece-se uma crescente
divisão territorial do trabalho que leva a uma necessária articulação
entre as áreas e cidades através de uma rede urbana cada vez mais
importante e fortemente articulada. (CORRÊA, 1997a, p. 282)
As interações espaciais, aqui entendidas enquanto “[...] um amplo e
complexo conjunto de deslocamentos de pessoas, mercadorias, capital e informação
sobre o espaço geográfico” (CORRÊA, 1997a, p. 279), deixam de ser realizadas
apenas em curta distância e entre poucos centros, passando agora a alcançar
lugares longínquos e um número cada vez maior de cidades. Assim, se antes as
interações espaciais estavam circunscritas à posição do centro na rede, nessa nova
etapa do sistema produtivo as interações são realizadas “[...] entre as grandes
cidades localizadas na mesma região ou em regiões distintas, entre uma grande
cidade e centros menores localizados tanto na hinterlândia como fora dela e entre
cidades pequenas localizadas na mesma região ou em regiões diferentes [...]”
(CORRÊA, 1997a, p. 283). Sendo essas interações externas ou internas entre os
núcleos urbanos de uma rede, são as mais distintas possíveis, por envolverem a
exportação de produtos agrícolas, importação de gêneros alimentícios
24
industrializados, exportação de produtos industrializados, deslocamento
populacional, etc. (FRESCA, 2004; CORRÊA, 1997a).
Compreende-se assim que a complexidade e intensificação das
interações espaciais a curta ou longa distância, estão correlacionadas às
transformações advindas com o capitalismo industrial.
O que foi apresentado até o momento, nos permite a compreensão
das alterações sofridas pela rede urbana após a Segunda Guerra Mundial. No
entanto, por entendermos que o todo se expressa no mais singular, por meio do
particular, optamos pelo estudo da singularidade de uma pequena cidade, inserida
na rede urbana, como forma de encontrarmos as determinações gerais emanadas
do todo.
1.2- A Rede Urbana e as Pequenas Cidades: uma discussão
Os estudos sobre a cidade pequena foram relativamente ampliados
nas últimas décadas, especialmente no âmbito da Geografia. É o que se verifica
através dos trabalhos desenvolvidos, por Fresca (1990, 2001, 2004), Corrêa (1999),
Bernardelli (2004), Endlich (2006) etc., onde cada autor procurou analisar cidades
pequenas a partir de diferentes recortes analíticos e objetivos. Importante ainda nos
referir que nos últimos anos foi criado mais um evento científico denominado
“cidades médias”, quando tem-se verificado além das produções sobre as cidades
médias, uma relativa proliferação de trabalhos sobre cidades pequenas.
Nos trabalhos realizados por Fresca (1990, 2004), o núcleo urbano é
analisado a partir de seu papel na rede urbana, isso porque, para a referida autora, o
estudo a respeito de uma ou mais cidades não pode ser realizado de forma isolada,
o mesmo deve estar inserido em um contexto maior, a fim de se obter um quadro
mínimo de relações que possibilitem a compreensão da ação dos processos gerais e
particulares na diferenciação e redefinição dos lugares.
25
Nessa perspectiva, o estudo sobre de Osvaldo Cruz e Inúbia
Paulista objetivou compreender a dinâmica funcional dessas pequenas cidades
inseridas na rede urbana de Marília-SP. Para tanto, a autora delimitou dois
momentos, sendo o primeiro referente à década de 1950, onde analisou a gênese, a
funcionalidade plena e as interações espaciais desses núcleos urbanos. Na década
de 1980, buscando compreender a redefinição funcional dessas cidades, foram
abordadas as transformações gerais, assim como suas especificidades e impactos
tanto em Osvaldo Cruz como em Inúbia Paulista.
Em 2004, tendo como recorte espacial a rede urbana norte-
paranaense, num estudo comparativo entre Jacarezinho, Cornélio Procópio e
Cianorte, a autora objetivou entender o processo de mudança na rede após 1970 e a
nova funcionalidade dessas três cidades a partir de dois momentos distintos. Em
1960, quando as mesmas caracterizavam-se pela distribuição de bens e serviços a
sua população predominantemente rural e por exercerem funções vinculadas à
comercialização e beneficiamento da produção agrícola. Foram abordados os
processos históricos de suas ocupações, da incorporação de terras e de suas
gêneses. Num segundo momento que englobou as transformações na organização
sócio-espacial no norte do Paraná após as décadas de 1970, a autora analisou a
singularidade de cada centro e a re-inserção de cada um na rede urbana a partir de
mudanças funcionais.
Fresca (2001), propõe uma discussão sobre a importância das
cidades pequenas no ensino de Geografia ao publicar o artigo “Em defesa dos
estudos das cidades pequenas no ensino de geografia”. Nesse trabalho, partindo da
prerrogativa que os pequenos centros urbanos, enquanto lugares singulares
expressam a totalidade, a autora procurou relacionar algumas temáticas
constantemente trabalhadas nas salas de aulas do Ensino Fundamental e Médio -
porém com enfoque nos grandes centros às pequenas cidades, como no caso da
industrialização, transformações na agropecuária, questões como a moradia,
saneamento básico, lixo urbano, saúde, desemprego e outras referentes ao eixo
ambiental. Ou seja, ela pontuou algumas das possibilidades de análises que podem
ser realizadas nas aulas de Geografia, a partir de um grupo de cidades que
26
numericamente é maior que aquelas que englobam as cidades médias e grandes,
principalmente no interior brasileiro.
Corrêa (1999) em seu artigo intitulado “Globalização e re-
estruturação na rede urbana: uma nota” propõe o estudo das médias e pequenas
cidades a partir do entendimento das mudanças sócio-econômicas resultantes do
processo de globalização. Isso porque essa fase do sistema capitalista em sua
perspectiva global, gerou transformações na rede, ou seja, a expansão desse
processo impôs criações urbanas e alterações funcionais nos centros urbanos
(CORRÊA, 1999,). Diante dessa perspectiva, ele propõe dentre os vários impactos
gerados nos centros urbanos pela globalização duas linhas de trabalho, uma no
escalão intermediário (cidades médias) enfocando a perda ou diminuição da função
de gestão do território e a outra no escalão inferior (cidades pequena) com o objetivo
de analisar a refuncionalização desses centros urbanos a partir dessa nova etapa do
sistema produtivo.
Bernardelli (2004), fez uma análise das pequenas cidades com
enfoque na questão da moradia, onde procurou a partir da relação entre a
construção de conjuntos habitacionais com recursos públicos (federais, estaduais ou
municipais) e a ocupação significativa dos mesmos por trabalhadores temporários
(agricultura e da agroindústria sucroalcooleira), analisar os papéis urbanos das
pequenas cidades na região de Catanduva-SP, área essa com forte produção
canavieira.
Endlich (2006), por sua vez desenvolveu um estudo sobre a temática
a partir de um conjunto de cidades do Noroeste do Paraná. Segundo a autora, essa
área com grande número de cidades pequenas passou por uma série de
transformações nas últimas décadas em função da modernização agrícola e a
expansão do processo industrial no Estado. Processos esses que acabaram por
redefinirem a rede urbana e a funcionalidade dessas cidades pequenas, que
assumiram novos papéis e significados diante dessa nova fase do sistema produtivo.
Isso culminou dentre outros fatores, em alterações na estrutura demográfica na
maioria desses centros urbanos pequenos, ocorrendo por um lado o declínio
27
populacional em grande parte dos mesmos e por outro uma dinâmica de
crescimento populacional em algumas outras pequenas cidades.
Objetivando compreender porque alguns municípios apresentam
taxas positivas de crescimento demográfico enquanto outros perdem população
total, a autora elegeu segundo alguns critérios pré-definidos (dinâmica demográfica
positiva, dinâmica demográfica negativa e municípios fora desses extremos, com
certa normalidade nos dados de população urbana), cerca de dezoito pequenos
municípios, onde através de um estudo comparativo procurou analisar a dinâmica
demográfica nas pequenas cidades da referida região.
Ao optarmos pelo termo cidade pequena, não significa em aceitar o
fato de considerá-la pequena por possuir um reduzido número de habitantes. Aceitar
apenas um número para classificar as cidades como grandes, dias ou pequenas
nos conduziria a uma interpretação equivocada, devido à generalização de núcleos
que apesar de possuírem um contingente populacional quantitativamente
semelhante, são diferentes em sua gênese e dinâmica econômico-social. Nas
palavras de Santos (1986, p. 69-70), temos que levar em consideração que o “[...]
fenômeno urbano abordado de um ponto de vista funcional, é antes um fenômeno
qualitativo e apresenta certos aspectos morfológicos próprios a cada civilização [...]”.
Assim, na busca de elementos que possam caracterizar a cidade
como pequena encontramos em Santos (1982), alguns apontamentos que a nosso
ver acabam por qualificar uma aglomeração urbana como pequena. Segundo o
referido autor, pensar uma aglomeração enquanto uma cidade em seu nível mais
fundamental significa aceitar que existe no interior da mesma “[...] um limite nimo
de complexidade das atividades urbanas capazes, em um momento dado, de
garantir ao mesmo tempo um crescimento auto-sustentado e um domínio territorial
[...]” (SANTOS, 1982, p.70).
Em outras palavras, uma aglomeração pode ser entendida enquanto
uma cidade a partir do momento que a mesma passa a desenvolver atividades que
não são agrícolas, mas sim vinculadas ao comércio e à prestação de serviços.
Atividades essas que atendem às necessidades de sua população (urbana e rural)
28
ao mesmo tempo que viabilizam a circulação e distribuição da produção local e
regional, garantindo assim à cidade um domínio territorial. Diante disso, pode-se
dizer que uma aglomeração torna-se cidade quando “[...] deixa de servir às
necessidades da atividade primária para servir às necessidades inadiáveis da
população, com verdadeira especialização do espaço”. (SANTOS, 1982, p.71).
A partir do que foi exposto até o momento, podemos entender que
existe uma dimensão mínima para que uma aglomeração seja considerada como
uma verdadeira cidade, dimensão essa que reside na capacidade que a mesma terá
de satisfazer “[...] as necessidades vitais mínimas reais ou criadas de toda uma
população, função essa que implica em uma vida de relações [...]” (SANTOS, 1982,
p. 71). No entanto, o reconhecimento dessa dimensão mínima nos conduz também
ao entendimento da complexidade de condições e elementos que caracterizam uma
cidade como pequena, isso porque “[...] nesta classe de cidades vamos encontrar
desde aquelas com limite mínimo da complexidade de atividades urbanas até
aquelas donde tal complexidade é bastante acentuada, refletindo inclusive,
diferenças do ponto de vista populacional [...]” (FRESCA, 2001, p. 28), existindo por
isso no mesmo grupo, segundo a referida autora, cidades pequenas com cerca de
2.000 mil habitantes e outras com população urbana em torno de 50.000 mil
habitantes.
Assim, pautados na perspectiva de Corrêa (1989), Fresca (1990,
2001, 2004) e Santos (1982), acreditamos que o caminho para a análise e
caracterização de uma cidade como sendo pequena, seria a compreensão de sua
inserção numa dada área, região ou rede urbana, entendimento esse que deve estar
correlacionado à formação econômica social e espacial da área, região ou rede
urbana. Ou seja, estudos dessa ordem devem permear o campo de interpretação
das relações entre o singular, o particular e o geral. Isso porque
[...] o singular e o geral não existem de maneira independente,
mas somente por meio de formações materiais particulares
(coisas, objetos, processos), que são momentos, aspectos
destes últimos. Cada formação material, cada coisa representa
a unidade do singular e do geral, do que não se repete e do
que repete (CHEPTULIN, 1982, p. 194).
29
Em outras palavras, variáveis do sistema de produção capitalista são
combinadas de forma muito particular em lugares que são singulares, como por
exemplo num centro local, indicando assim possibilidades de realização do todo, do
geral. Entretanto, apesar de alcançar os mais distintos lugares, processos universais
somente serão realizados se existirem condições favoráveis de múltiplas ordens,
caso contrário, tal processo não se manifestará de forma efetiva.
Partindo desse pressuposto que o singular pode ser entendido
em função do todo e por causa dele, segundo Santos (1982), estudos dessa ordem
devem ser pautados na Formação Econômica Social e Espacial (FESE), pelo fato
dessa categoria de análise:
[...] permitir o conhecimento de uma sociedade na sua totalidade e
nas suas frações, mas sempre um conhecimento específico,
apreendido num dado momento de sua evolução. O estudo genético
permite reconhecer, a partir de sua filiação, as similaridades entre
F.E.S.; mas isso não é suficiente. É preciso definir a especificidade
de cada formação, o que a distingue das outras e, no interior da
F.E.S., a apreensão do particular como uma cisão do todo, um
momento do todo, assim como o todo reproduzido numa de suas
frações (SANTOS, 1982, p. 12).
Assim, de acordo com Santos (1982), o modo de produção se
manifesta num espaço geral, ao passo que as relações entre o espaço e a formação
social se processam num espaço particular.
Corrêa (1988, p.118), ao estudar a rede urbana a partir das relações
entre o singular, o particular e o geral, coloca que “[...] em termos espaciais a ação
dos processos gerais não se dá, em cada segmento da rede urbana, no mesmo
tempo, do mesmo modo nem com a mesma intensidade”. Por isso, principalmente
no que diz respeito aos pequenos núcleos urbanos, a partir da década de 1970, “[...]
as transformações verificadas no campo alteraram o padrão desses pequenos
lugares centrais, criando pelo menos quatro caminhos ao longo dos quais evoluíram”
(CORRÊA, 2004, p.75).
Essa nova refuncionalização de centros urbanos locais segundo
Corrêa (2004, p.75), pode ter gerado: a) prósperos lugares centrais em áreas
30
agrícolas nas quais a modernização não afetou radicalmente a estrutura fundiária e
o quadro demográfico; b) pequenos centros transformados em reservatório de força
de trabalho; c) pequenos centros em áreas econômica e demograficamente
esvaziadas por um processo migratório e d) os pequenos centros especializados em
atividades industriais.
A esse respeito nos interessa em específico, os pequenos centros
especializados, que após a década de 1960 assumiram um novo papel na divisão
territorial do trabalho, articulado à produção industrial. Ou seja, essas pequenas
cidades ao terem sua hinterlândia esvaziada pela modernização dolorosa do campo,
se industrializaram a partir do investimento de “capitais locais ou de fora” (CORRÊA,
2004, 74). Naquelas cidades pequenas onde essa refuncionalização foi
impulsionada a partir de capitais locais, isto é, as atividades industriais foram criadas
por grupos locais permite entender que:
[...] trata-se, de um lado, de grupos da elite local que necessita
encontrar outras atividades que lhes permitam manter-se como elite.
[...] e do outro de grupos sociais emergentes que dispõem de um
potencial de habilidades técnicas, apreendido a partir da prática em
outra atividade. (CORRÊA, 1999, p.51)
Esses grupos de agentes sociais ao investirem na produção
industrial acabaram re-inserindo o centro urbano e sua hinterlândia em uma rede
urbana globalizada, como aconteceu com Jaguapitã-PR, que teve a partir do
desenvolvimento do processo industrial de mesas para bilhar, sua re-inserção na
rede urbana norte-paranaense após a década de 1970.
31
2- A REDE URBANA NORTE-PARANAENSE E A INSERÇÃO DE
JAGUAPITÃ NOS ANOS DE 1960
O presente capítulo tem por objetivo analisar a inserção de
Jaguapitã-PR na rede urbana norte-paranaense no início dos anos de 1960. Esse
recorte temporal adotado se justifica em razão da rede urbana ter tido seu processo
de estruturação completado nesse momento quando foi concluída a incorporação
das terras à produção no noroeste da área. Muito embora a gênese do núcleo
urbano de Jaguapitã-PR tenha ocorrido a partir de meados da década de 1930,
inúmeros processos afetaram seu desenvolvimento e somente no final dos anos de
1940, teve fim o conflito armado pela posse da terra e novas condições políticas
permitiram a retomada do desenvolvimento do município de Jaguapitã-PR. Assim,
discutiremos inicialmente a estruturação da rede urbana norte-paranaense, seguido
da nese e inserção de Jaguapitã-PR na rede bem como o desenvolvimento de
suas atividades urbanas e rurais no referido período.
2.1 - A Estruturação e a Caracterização da Rede Urbana Norte-
Paranaense
A estruturação da rede urbana norte paranaense ocorreu entre
meados do século XIX até meados do século XX, mediante diferentes processos de
ocupação das terras e fundação de cidades. Tanto assim que Fresca (2004),
estabeleceu quatro fases de ocupação de terras e fundação de cidades a partir de
diferentes processos econômico-sociais.
A primeira fase corresponde ao período entre 1850 e 1899, tendo a
fundação da colônia militar de Jataí, pelo Barão de Antonina como marco inicial do
povoamento do extremo nordeste paranaense. A criação dessa colônia militar
objetivava a abertura de uma via de penetração rumo ao Mato Grosso assim como,
tornar-se um ponto militar avançado de proteção contra possíveis invasões
paraguaias. Ainda sob a influência do Barão de Antonina foram fundados dois
32
aldeamentos indígenas: um situado em frente à colônia do Jataí mas na margem
oposta do rio Tibagi e que foi denominado São Pedro de Alcântara e o outro
aldeamento nomeado na ocasião de São Jerônimo se localizava nas margens do rio
Tigre, um dos afluentes do rio Tibagi. A colônia militar de Jataí, atualmente a cidade
de Jataizinho, juntamente com esses aldeamentos indígenas foi a primeira iniciativa
de criação de núcleo de povoamento na referida área do Paraná (WACHOWICZ,
1967; MÜLLER, 2001).
No entanto, a ocupação de fato dessa área ocorreu a partir de
1867 com a chegada de migrantes, principalmente de mineiros, que se instalavam
mediante grandes posses de terras e dedicavam-se à agricultura de subsistência e à
suinocultura. Inúmeras famílias se dirigiram para a região nas décadas finais dessa
primeira etapa, apesar da ausência das estradas e precariedade daquelas
existentes, da falta de recursos e do isolamento da área.
Em relação à fundação dos núcleos urbanos nessa etapa, a mesma
ocorria em terras que eram cedidas pelos fazendeiros, onde eram construídas
inicialmente uma capela e uma praça, tendo a concentração populacional em seu
entorno. Dentre os núcleos urbanos que surgiram nessa fase destacamos
Jacarezinho, Ribeirão Claro, Santo Antônio da Platina, Tomazina, etc.
(WACHOWICZ, 1967; FRESCA, 2004).
A segunda fase de ocupação no sentido oeste se deu entre 1900 e
1929, impulsionada pela chegada de cafeicultores paulistas, que passaram a cultivar
o café em grandes propriedades e em relação ao trabalho na lavoura, os mesmos
adotaram regime do colonato
5
(FRESCA, 2004). Essa ocupação da área a leste do
Tibagi por paulistas se deu a partir de Ourinhos-SP, que foi atingida pela estrada de
5
Relação social de produção na qual “[...] o contrato de colono era a forma estabelecida de
organização do trabalho na fazenda de café. Em geral os rendimentos totais do colono incluíam a
combinação seguinte de salários em dinheiro e gratificações não monetárias. [...] os salários em
dinheiro vinham de três fontes diversas: do pagamento estabelecido por contrato pelo cuidado dos
pés de café durante o ciclo anual de produção; da colheita de café e dos trabalhos ocasionais,
inclusive nas instalações de beneficiamento de café, transporte de carroças com café dos campos e
para a estação de trem, consertos de prédios e cercas, etc”. (HOLLOWAY, 1984, P. 117)
33
ferro Sorocabana, em 1908. Tendo Ourinhos como “boca de sertão” ou “ponta de
trilhos” o povoamento expandiu-se, dando origem a inúmeras cidades dentre as
quais estão Cambará, Andirá, Bandeirantes, Cornélio Procópio, Leópolis, etc.
(MÜLLER, 2001; FRESCA, 2004).
No entanto, a demora na progressão dos trilhos da “Sorocabana” de
certa forma reduziu o ritmo de ocupação da área, isso porque “[...] os povoadores,
temerosos de se distanciarem demais da ‘boca de sertão’, que foi primeiro Ourinhos-
SP (até 1925) e depois Cambará-PR (até 1930), passaram a avançar com
precaução” (MÜLLER , 2001, p. 100).
Ainda nessa fase foi iniciada a ocupação da porção oeste do rio
Tibagi, mediante as primeiras iniciativas de colonização e fundação de cidades nos
moldes de concessão de terras. O governo estadual cedeu duas glebas de 50.000
hectares a particulares, originando assim as colônias de Primeiro de Maio (1923) e
de Sertanópolis (1924). Posteriormente, no sentido oeste, às margens do
Paranapanema o governo concedeu terras a Manoel Firmino de Almeida, que
estruturou o loteamento da Colônia Zacarias de Góis, tendo no entanto, essa
terceira concessão um desenvolvimento mais lento que os das duas primeiras. A
ocupação dessas três concessões foi oriunda da Alta Sorocabana que seguia
sentido sul, transpondo o rio Paranapanema (FRESCA, 2004; MÜLLER, 2001).
Em relação às colônias de Primeiro de Maio e de Sertanópolis, é
importante destacar que as mesmas foram de “[...] grande importância pois, abrindo
uma nova frente pioneira independente de Ourinhos-SP serviram de base à
continuação da penetração de Leste para Oeste e ao povoamento do planalto a
Oeste do Tibagi” (MÜLLER, 2001, p. 100).
Ressalta-se aqui que a gênese dos núcleos urbanos nessa área de
concessão, diferentemente da outra a leste do rio Tibagi, não estava relacionada a
ação de fazendeiros, isso porque a criação da planta urbana e a divisão da área
urbana em datas, era uma das funções dos concessionários (FRESCA, 2004).
34
Diferentemente das fases anteriores, na terceira que se deu entre
1930 e 1945, tendo em 1929 a fundação da cidade de Londrina como marco, entrou
em cena uma companhia imobiliária, a Companhia de Terras Norte do Paraná
(CTNP) que passou a lotear vastas glebas em pequenas propriedades e fundar
cidades. Com isso houve a intensificação do fluxo migratório para essa região e a
expansão da agricultura que passa a ser praticada em pequenas e médias
propriedades, com destaque para a cafeicultura, mas que envolvia a produção de
variados gêneros alimentícios, matérias-primas e pecuária diversificada. (MÜLLER,
2001; WACHOWICZ, 1967; FRESCA, 2004)
Segundo Fresca (2004), além da comercialização de terras e da
construção de estradas e ferrovias, que se destacar nesse período o tamanho
das propriedades como elemento fundamental para o desenvolvimento econômico-
social de vários municípios do norte paranaense. Na realidade, essa ocupação de
terras apoiada em pequenas e dias propriedades foi de fundamental importância
para a emersão da pequena produção mercantil tanto na área rural quanto na
urbana.
A pequena produção mercantil no campo implicava que a produção
era realizada em pequenos estabelecimentos rurais, com parcos capitais e mão-de-
obra familiar, cuja produção era destinada fundamentalmente para o mercado. Ou
seja, tratava-se de uma atividade que produzia para o mercado, mas em quantidade
restrita por estabelecimentos, mas elevada no conjunto do município. Essa vasta
produção poderia ser efetivamente realizada com a participação da cidade, que
era estruturada a partir de serviços diversos, com abertura de pequenos
estabelecimentos comerciais, de capitais locais e mão-de-obra familiar, e em alguns
casos empregava a mão-de-obra assalariada.
Nesse contexto, o núcleo urbano era fundamental para o
desenvolvimento econômico da área que estava sendo ocupada, isso porque na
medida que a atividade agrícola baseada na cafeicultura, produção de gêneros
alimentícios e matéria-prima se expandia, esses patrimônios
6
iam sendo
6
Patrimônio era a denominação dada às aglomerações urbanas no momento de seu nascimento nas
áreas de frentes pioneiras, termo esse utilizado por Monbeig (1984).
35
estruturados a fim de oferecerem determinados bens e serviços de atendimento da
demanda do campo. Assim, nesses centros urbanos havia um comércio varejista
com produtos de uso freqüente e atacadista direcionado para a compra e venda da
produção rural, no caso cereais, café e algodão. Também se faziam presentes
unidades industriais que beneficiavam a produção rural, como as máquinas de
beneficiamento de arroz, despolpar café e as máquinas de descaroçar algodão,
além do setor de prestação de serviços, representados pelos transportes rodoviário
e ferroviário, sistema bancário, dentre outros. (FRESCA, 1990).
Assim, na medida que a ocupação da terras avançava na direção
noroeste do Paraná, as cidades iam sendo fundadas como forma de apoiar a
comercialização e a produção, ofertando bens e serviços voltados à produção
propriamente dita e aos habitantes urbanos e rurais.
Por isso, dentre os patrimônios que foram criados na área de
atuação da Companhia de Terras Norte do Paraná, inúmeros núcleos urbanos foram
resultado de um planejamento, onde
[...] Estudos prévios, com a criação das plantas urbanas,
antecederam o ato da fundação com critérios rigorosos de suas
localizações a permitir fácil acesso a toda uma população rural.
Havia em toda a proposta de fundação a busca de melhor relação
custo-benefício. Como se tratava de um empreendimento capitalista,
cada cidade deveria estar posicionada para atender às exigências de
sua população e do mercado consumidor. (CMNP, 1977, p.135).
Finalmente, entre 1945 e 1960 ocorreu a última fase de ocupação
das terras do norte paranaense, mediante a continuidade dos loteamentos
realizados por companhias privadas e por intermédio do Estado. Ressaltando que a
demarcação de lotes e fundação de pequenos patrimônios pelo Estado havia se
acentuado no decorrer das décadas anteriores e segundo Müller (2001), o sucesso
obtido pelas companhias privadas, estimulou essa ação do governo.
36
Na porção oeste da rede urbana norte-paranaense, a Companhia
Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP
7
) deu continuidade ao processo de
loteamento de terras, construção de estradas e a fundação de núcleos urbanos, com
algumas variações em relação à forma urbana, ou seja, se antes o tabuleiro de
xadrez ou quadrangular era a forma predominante, essas foram substituídas por
formas elípticas, em trevo ou lembrando uma nave, segundo Müller (2001). Dentre
as cidades fundadas nessa área pela CMNP, destacam-se Umuarama e Cianorte.
De acordo com Fresca (2004, p. 51), essas cidades “[...] foram cidades planejadas
nos mais distintos aspectos, para tornarem-se, do ponto de vista da empresa,
centros regionais importantes a exemplo de Londrina e Maringá”.
A respeito dessa última etapa de incorporação de terras, Fresca
(2004, p. 51), destaca que o fato das companhias de loteamentos seguirem o
mesmo padrão de ocupação utilizado na etapa anterior, significando além do
comércio de terras e fundação de cidades, a continuidade da pequena produção
mercantil, que ainda era a força econômica e social.
Nesse processo de ocupação do norte do Paraná, fica evidente que
o período entre 1929 e 1960, foi o mais intenso seja em relação às áreas ocupadas,
ao fluxo populacional, à abertura e construção de vias de circulação (vias férreas e
rodoviárias), ao número de cidades fundadas ou em relação à produção rural
diversificada.
Em suma, todas essas etapas de ocupação das terras foram
importantes para a estruturação da rede urbana norte paranaense, sendo o final dos
anos de 1950 e o início de 1960 o momento considerado por Fresca (2002, p.08),
como o final da estruturação da referida rede, isso porque “[...]estavam criados os
núcleos urbanos e estabelecidas as mais distintas ligações econômico-sociais
interna e externamente à rede urbana [...]”.
7
Segundo Müller (2001), em conseqüência dos pesados impostos sobre capitais estrangeiros, essa
companhia foi vendida em 1944 a um grupo de capitalistas paulistas dos quais alguns já eram
acionistas da CTNP, passando a se chamar Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CTNP) em
1954.
37
Rede urbana essa que segundo Fresca (2002), apresentava em
1960, características de uma rede tipo christalleriano, ou seja, as cidades que
compunham essa rede tinham uma heterogeneidade produtiva relativamente fraca,
devido à agricultura voltada à exportação (café) e à produção de neros
alimentícios e matérias-primas para o mercado interno. Nesse contexto as cidades
assumiram o papel de “[...] localidades centrais cuja essência era a distribuição de
bens e serviços correlacionada à produção, circulação, consumo além daquelas
funções vinculadas à produção propriamente dita como a coleta, transformação,
comercialização e transporte [...]” (FRESCA, 2002, p.16). Quando nos referimos ao
fato da rede ser do tipo christalleriano, significa dizer que a mesma não era idêntica
ou produzida acorde a Teoria de Christaller, e sim que a rede norte-paranaense na
década de 1960 se assemelhava à proposta Christalleriana.
Além do papel exercido por esses centros urbanos, encontramos na
localização desses núcleos um outro elemento que nos possibilita a correlação da
rede urbana ao tipo christalleriano. Esse elemento seria o transporte, que numa
economia de mercado segundo as proposições de Christaller, se torna um dos
princípios que influenciam na localização dos núcleos urbanos e no arranjo espacial
de uma rede urbana (FRESCA, 2004).
Fresca (2002) ao analisar a distribuição espacial das cidades na
rede urbana norte paranaense em 1960, percebeu que a aplicabilidade desse
princípio ao constatar que os centros urbanos de maior hierarquia se localizavam ao
longo das principais vias de transporte, ou seja
[...] as duas capitais regionais, cinco centros sub-regionais e cinco
centros de zona alinhavam-se ao longo da grande rota que de
Cambará atinge Guaíra. Os demais centros sub-regionais em
número de três, alinhavam-se ao longo das outras principais rotas
como a BR 373, a BR 153 e a PR 317, enquanto os demais centros
de zona, dois alinhavam-se ao longo da BR 153 e os outros cinco ao
longo das vias secundárias que parte do eixo principal (FRESCA,
2002, p. 09).
No entanto, a análise da rede urbana norte-paranaense na década
de 1960 não pode restringir-se a caracterização da mesma como sendo do tipo
38
christalleriano, pelo fato da mesma apresentar na referida época, um grau de
complexidade na sua forma espacial e no seu aspecto funcional.
Em relação a sua forma espacial, pode-se dizer que a mesma
assumia um padrão complexo, pelo fato de existir entre as localidades da rede
todos os níveis hierárquicos de centros, ou seja, a forma como ocorreu a ocupação
da região norte resultou num elevado nível de demanda e de mobilidade espacial da
população, que por sua vez levou as localidades a se organizarem em diferentes
níveis hierárquicos, como forma de atender seu mercado consumidor (CORRÊA,
1989; FRESCA, 2002). Assim já se faziam presentes desde as capitais regionais até
os inúmeros centros locais, estando segundo Fresca (2002, p. 09-10), “[...] as
capitais regionais localizadas na porção central da rede e os centros sub-regionais
dispersos pela rede estabelecendo certa divisão de área da atuação entre eles.
Entre esses localizavam-se centros de zona e locais [...]”.
Acrescente-se aqui também que havia relativa proximidade entre
as cidades e um elevado número de pequenos centros urbanos, aspectos esses
muito importantes também para a complexificação da forma espacial da rede
urbana, pelo fato dos mesmos tornarem a produção e reprodução do excedente
mais intensa e fluída.
Essa complexificação na forma espacial por sua vez produziu uma
complexidade funcional, pelo fato dos centros urbanos estruturados em vários níveis
hierárquicos apresentarem diferentes níveis de centralidade, ou seja, as cidades da
rede mediante a demanda e mobilidade populacional de sua hinterlândia passaram a
realizar funções diferenciadas, o que atribuiu a cada núcleo uma determinada
centralidade. Sendo mais freqüente entre as localidades da rede o fornecimento de
bens e serviços de uso freqüente, em virtude da mesma ser constituída por 98
cidades, das quais 76 ocupavam o nível hierárquico de centro local (FRESCA,
2002), conforme mapa 01 a seguir.
Nesse sentido, as cidades da rede urbana norte-paranaense foram
organizadas de maneira a desempenharem os seguintes papéis: coleta,
beneficiamento e comercialização da produção rural; o comércio varejista (armazéns
39
Mapa 01: Rede urbana norte-paranaense em 1960.
Fonte: Fresca, 2004, p. 61.
de secos e molhados, bazares, lojas diversas, e outros) sendo que nas cidades
maiores o comércio varejista era mais amplo e diversificado; setor atacadista com
presença mais forte nas cidades de Londrina e Maringá (sendo que nas demais esse
setor era relativamente fraco). O setor industrial também relativamente fraco na
maioria das cidades da rede, estando relacionado à transformação dos produtos
rurais através das máquinas de beneficiamento. Em se tratando do setor industrial
ainda se faziam presentes outros tipos de indústrias como a alimentícia, bebidas,
móveis, equipamentos agrícolas, olarias, serrarias, etc., embora essas fossem no
período, menos expressiva. O setor de prestação de serviços era representado pelos
serviços referentes a alojamento/alimentação e reparação, aos transportes
(ferrovias, rodovias e estradas) e ao sistema bancário. Nesse período, os serviços
referentes a infra-estrutura básica como abastecimento de energia elétrica, água e o
setor das telecomunicações apresentavam-se ainda muito precários (FRESCA,
2002).
40
Assim, embasados nas análises realizadas por Corrêa (1989) e
Fresca (2002 e 2004) entendemos que a rede urbana norte paranaense na década
de 1960, apesar de ser caracterizada como sendo tipo christalleriano, apresentava-
se complexa em sua forma espacial, o que representava também uma complexidade
funcional, devido os diferentes níveis de centralidade assumidos pelas localidades
nessa época.
2.2 – A Gênese e Inserção de Jaguapitã-PR na Rede Urbana
O atual município de Jaguapitã-PR teve sua gênese a partir de
meados dos anos de 1930, quando agricultores oriundos principalmente de São
Paulo, iniciaram a ocupação das terras por intermédio de posses. De acordo com
Lopes (1982), até o início dos anos de 1930, essas terras faziam parte da concessão
de Antonio Alves de Almeida que foram reincorporadas ao Estado
8
de fato em 1940.
Essa iniciativa do Estado de reincorporar terras que haviam sido concedidas para
particulares, se deu em função dos concessionários não terem cumprido as normas
estabelecidas no contrato
9
, ou seja, essas terras concedidas não estavam sendo
utilizadas para um loteamento efetivo, tendo em vista que os concessionários não
tinham procedido com a divisão das glebas, demarcação e comercialização dos
lotes, construção de estradas, fundação do povoado, etc. (FERREIRA, 1984).
A respeito da concessão de Antonio Alves de Almeida é necessário
ressaltar que a área da mesma em 1921, época em que foi concedida pelo Estado,
perfazia uma extensão de 50.000 ha, passando para 300.000 ha em 1923, mediante
transações comerciais posteriores que culminaram na incorporação de outras
8
Após a Revolução de 1930, com a intervenção estabelecida no governo paranaense, foram abertas
sindicâncias em vários órgãos, inclusive no Departamento de Terras e Colonização, sendo que dentre
as medidas referentes à política de terras e colonização tomadas pelo interventor, destacou-se a
suspensão de quase todas as antigas concessões. (PADIS, 1981; WESTPHALEN, 1968).
9
No contrato de concessão também eram previstas normas de conduta no que diz respeito às posses
existentes, assim como tinham cláusulas referentes ao tamanho, onde era determinado que cada
concessão não podia ultrapassar 50.000 ha e que a mesma deveria ser dividida em lotes de 5 a 25
ha e vendidos a preço atribuído pelo concessionário, a colonos nacionais ou estrangeiros
(FERREIRA, 1984).
41
concessões
10
a área que pertencia à concessão de Antonio Alves de Almeida. Essa
vasta extensão de terras por não ter sido ocupada
11
como previsto no contrato
estabelecido entre concessionário e Estado, retornou aos domínios do Estado
mediante a declaração de caducidade e anulação da concessão em 1934, pelo
então interventor Manoel Ribas (FERREIRA, 1984).
Embora a anulação dessa concessão tenha sido realizada na
primeira metade da década de 1930, o Estado deu início ao seu projeto de
loteamento na área a partir de 1939, isso porque o mesmo deu um prazo para
revalidações de direitos porventura existentes (WESTPHALEN, 1986; FERREIRA,
1984).
No entanto, nesse período entre a anulação da concessão e o início
da colonização pelo Estado, cerca de 5 anos, essas terras foram sendo ocupadas de
maneira espontânea, com a chegada e instalação de migrantes na área mediante o
regime de posse de terras. Em uma porção de terras que engloba hoje o município
de Jaguapitã-PR, algumas famílias oriundas do estado de São Paulo se instalaram
como posseiros
12
a partir de 1937, passando cultivar gêneros alimentícios, além da
criação de porcos. Dentre essas famílias duas se destacaram, a de Isaltino
Rodrigues e Antonio Pinto Corrêa, que ao chegarem na área optaram pelo
desenvolvimento de atividades relacionadas ao comércio, dando assim origem ao
povoado conforme entrevista com José Cateli (2005) e IBGE (1959).
No caso de Isaltino Rodrigues, mesmo não possuindo ainda a
propriedade jurídica da terra, ele foi o responsável por fundar o primeiro
estabelecimento comercial na área onde se desenvolveria mais tarde o núcleo
urbano. Ressalta-se então, que a gênese desse núcleo urbano está relacionada a
iniciativa de Isaltino Rodrigues, que ao inaugurar um armazém de secos e molhados
10
Cinco concessões foram incorporadas a área que pertencia a Antonio Alves de Almeida, sendo
elas a de Augusto Loureiro (concedida em 20/10/1919), de James Lody Terry (concedida em
06/12/1919), de Percy James Allen (concedida em 06/12/1919), de Jacob Petry & Cia (concedida em
15/01/1920) e a de José Hauer Junior que foi realizada em 15/10/1920 (FERREIRA, 1984).
11
As terras dessa concessão permaneceram incultas e desabitadas durante todo o tempo de
concessão de Antônio Alves de Almeida, cerca de 08 anos de contrato e 02 anos de prorrogação
((FERREIRA, 1984).
12
Segundo Lopes (1982, p. 136), posseiro seria a unidade familiar que buscava delimitar na terra
devoluta, direitos sobre parte dela, pelo seu trabalho em pequena escala. Era um sitiante como os
outros, com a diferença que ainda não tinha em mãos o título de domínio sobre aquele terreno.
42
tornou-se o fundador da cidade de Jaguapitã-PR, que foi denominada nesse
primeiro momento de patrimônio São José dos Bandeirantes, pertencente ao
município de Sertanópolis-PR conforme entrevista com José Cateli (2005) e IBGE
(1959).
Em 1940, devido à constante chegada de famílias principalmente de
agricultores paulistas à área e ao desenvolvimento do povoado que já possuía
inúmeras edificações, os moradores requereram junto ao governador do Estado a
medição das glebas do patrimônio. Após a medição das terras por topógrafos da
Secretaria de Agricultura, o povoado passou a ser chamado de Colônia de São José
dos Bandeirantes (IBGE, 1959).
Condição essa que em função do crescente fluxo populacional para
a área e do desenvolvimento econômico tanto rural quanto urbano seria alterada
oficialmente ainda na referida década, ao ser elevado à condição de vila sob a
denominação de Jaguapitã pelo decreto-lei nº 199, de 30 de dezembro de 1943
(IBGE, 1959), época essa que o Estado produziu o mapeamento da área tanto rural
com a divisão das glebas em lotes rurais como do povoado que passou a ter a sua
planta urbana. Ressalta-se que essa primeira planta urbana produzida pelo
departamento de Geografia Terras e Colonização do Paraná foi esboçada segundo
a aglomeração urbana existente, em relação à demarcação dos lotes urbanos e
arruamento.
Somente em Novembro de 1947, sob a ação do governo estadual a
cidade foi elevada à condição de sede municipal na hierarquia administrativa do
Estado, passando em Janeiro de 1949, a ser considerada Comarca do distrito de
Santo Inácio e Centenário do Sul, dos patrimônios de o Sebastião do Guaraci,
Colorado, Lupionópolis, Lupion (Itaguajé), Guairacá (Cafeara), Nossa Senhora das
Graças e Santa Inês (IBGE, 1959), conforme figura 02. Década essa na qual o
governo estadual intensificou o seu papel de agente fundiário ao dar continuidade ao
processo de loteamento e ocupação de várias áreas devolutas. Segundo Müller
(2001, p. 89) e Westphalen (1986, p. 19), o Estado procurou seguir os passos do
sistema de colonização realizado pela Companhia de Terras Norte do Paraná,
Figura 02: Município de Jaguapitã-PR no ano de 1950.
Fonte: PARANÁ, 1997.
vendendo as terras em pequenos lotes agrícolas, ou seja, cada lote tinha em média
31 hectares, sempre em frações perpendiculares a rios e espigões.
No entanto, essa iniciativa do governo de intensificar o loteamento
de terras públicas no final da década de 1940, originou um sangrento conflito por
terras no norte-paranaense, na medida que houve o confronto de interesses. Isso
porque de um lado, essas terras oficialmente devolutas já estavam sendo ocupadas
desde o final da década de 1930, por agricultores que foram aos poucos se
estabelecendo na área, com culturas efetivas e morada habitual sob o regime de
posse. Estando do outro lado os intrusos - pessoas que ocupavam as terras
devolutas ou de particulares, de forma ilícita - e os proprietários legais das terras,
que na maioria das vezes eram da região de São Paulo e Minas Gerais, que
adquiriam junto ao governo, a propriedade.
Cabe aqui ressaltar que se os posseiros objetivavam a propriedade
da terra, o mesmo não acontecia com os intrusos, que não tinham interesse na
propriedade da mesma, almejavam “[...] o recebimento de novas terras pela sua
saída, ou o pagamento de indenizações pelas benfeitorias realizadas na
propriedade, as quais, via de regra, ficavam muito aquém das importâncias exigidas
para a sua retirada [...]” (WESTPHALEN, 1968, p. 23). Em vários casos, esses
intrusos operaram para grupos poderosos que estavam interessados na formação de
“grilos”
13
, sendo na maioria das vezes por intrusões violentas, pelo fato dos mesmos
se instalarem mediante o uso da força em terras já ocupadas pelos posseiros, porém
sem a expedição do título definitivo de propriedade. Esse tipo de intrusagem dirigida
acabava por gerar o acirramento do conflito pela terra, que um determinado lote
ou gleba acabava tendo dois ou mais possíveis proprietários, ou que pelos menos se
apresentavam como tais.
Desde que o governo estadual iniciou o processo de loteamento e
venda das terras pertencentes ao Estado no início da década de 1940, era comum o
conflito pela terra entre aqueles que se encontravam instalados e ocupando a
13
Os grilos seriam porções de terras cuja documentação de propriedade não é original, ou seja,
indivíduos se apossaram dessas terras alheias mediante falsas escrituras de propriedade (LOPES,
1982).
45
área por meio da agricultura e o novo proprietário legal das mesmas. Situação essa
que tornou-se mais freqüente nos anos seguintes, na medida que as terras,
mediante a expansão da produção cafeeira, tornaram-se mais valorizadas no norte
do Paraná e o governo por sua vez, ampliava as áreas loteadas e acentuavam-se as
lutas por um mesmo lote ou gleba entre posseiros, intrusos e proprietários de terras.
Segundo Westphalen (1968), nessa situação conflituosa outro
personagem deve ser acrescido, no caso os “grileiros”, pessoas que baseadas na
falsificação de documentos, escrituras de transferência, de recibos e outros
tomavam posse de terras alheias, estando muitas vezes essas ocupadas. Assim,
“[...] intrusos e grileiros, via de regra, com o recurso de jagunços, pistoleiros de
ofício, intranqüilizavam posseiros e sitiantes, obrigados também, muitas vezes a
reagir à bala [...]” (WESTPHALEN, 1968, p. 27).
Embora o foco principal desse conflito armado pela posse de terras
tenha ocorrido a partir de 1950 em vastas áreas do município de Porecatu-PR, onde
nos anos de 1950 e 1951 foram registrados os mais violentos confrontos armados
entre inúmeros posseiros apoiados pelo PCB
14
e centenas de soldados fortemente
armados, outros municípios como Jaguapitã-PR, Guaraci-PR e Centenário do Sul-
PR também tiveram parte de suas áreas envolvidas nesse conflito litigioso de terras,
segundo artigo publicado no jornal Folha de Londrina em 17/07/85.
No caso de Jaguapitã-PR, a partir da segunda metade da década de
1940, uma parte de das terras
15
passou a ser alvo de disputa entre posseiros e
proprietários de terras. Em 1946,
[...] milhares de lavradores, integrando cerca de 1.500 famílias,
posseiros de terras devolutas, ou intrusos em terras particulares,
passaram a viver em estado de alarme, face aos problemas de terras
14
O fato da imprensa nacional ter dado destaque a Guerra de Porecatu”, levou o Comitê Central do
Partido Comunista Brasileiro a interferir de maneira direta e política na luta, enviando representantes
do partido para a área do conflito, em fevereiro de 1951 (Cf. Folha de Londrina, 18/07/85).
15
Objetivando delimitar a área pertencente a Jaguapitã-PR que foi alvo de disputa, realizamos
entrevistas com pessoas que residem desde o início da década de 1950 na cidade, mas nenhum
deles soube demarcar com clareza essas áreas onde ocorreram os conflitos por terras, as únicas
lembranças que os mesmos têm se referem ao conflito em terras nos limites de Jaguapitã-PR e
Guaraci-PR, área que engloba atualmente porções da Fazenda Primavera, localizada na divisa entre
Jaguapitã-PR e Guaraci-PR.
46
e, sobretudo, o comportamento do governo do Estado ante os
mesmos. Muitos foram esbulhados em suas posses, em favor dos
proprietários, outros despejados com violência. Gravíssimas
ocorrências registraram-se a partir de agosto de 1947, quando um
grupo armado tentou ocupar as terras da Fazenda Guaracy, e os
sitiantes reagiram à bala, deixando um saldo de vários mortos e
inúmeros feridos. Os caboclos enviaram suas famílias para recantos
mais longínquos e permaneciam atocaiados pelos picadões, com o
dedo no gatilho, a fim de defender suas posses contra novos
assaltos. (WESTPHALEN, 1968, p. 33).
Diante da eclosão do conflito armado pela terra a partir de 1946 em
porções de terras que pertenciam a Jaguapitã-PR, o governo estadual passou a
atuar no sentido de solucionar o problema, cedendo numa primeira tentativa, uma
audiência pública aos posseiros da área de Jaguapitã-PR envolvida na disputa, onde
prometeu terras devolutas na região de Paranavaí-PR, cerca de “[...] dez alqueires
de terras para cada família, uma casa de madeira e o transporte, se os mesmos
concordassem em deixar a região” (WESTPHALEN, 1968, p. 33). Os posseiros, por
acreditarem na proposta do governador, aceitaram e começaram a se preparar para
a saída da área, ou seja, reuniram as ferramentas, fizeram as colheitas não
semeando mais e procederam com a derrubada do rancho. No entanto, não houve
por parte do Estado o cumprimento do acordo, ficando assim essas famílias
abandonadas à própria sorte, inclusive sem alimentos, porque os mesmos já não
plantavam mais na expectativa de suas transferências para outro lugar. Isso tornou a
situação mais difícil, ao passo que os mesmos, tomados pela revolta, passaram a
reagir novamente pela posse da terra.
Com isso o governo passou a enviar tropas da polícia militar para
Jaguapitã-PR, com o objetivo de expulsar, mediante o uso da força armada, os
posseiros e intrusos da área. Foram despejados assim, inúmeros posseiros antigos
e proprietários legítimos dos lotes, em favor de privilegiados políticos. O conflito
continuou acirrado nos anos seguintes, acontecendo em 1949 outro confronto
armado, onde
[...] novo derramamento de sangue determina a ida do comandante
da policia militar, com cerca de 200 homens para a região. A situação
complica-se. Intrusos rebelados seriam orientados pelos próprios
chefes da situação política dominante no Estado. O governo
favorecia o clima propício a intrusagem e as negociatas de posses
47
em Jaguapitã e Guaracy, tornando-se atividades altamente rendosas
e configurando o conto das terras no norte do Paraná
(WESTPHALEN, 1968, p. 34).
No início da década de 1950, embora em Porecatu-PR a disputa
armada pela posse da terra ainda era intensa
16
, em outras áreas os conflitos pela
posse da terra já começavam a ser resolvidos, tendo em vista que o governo
baseado no preceito constitucional do interesse social começou a declarar de
utilidade pública porções de terras em litígio, cujos títulos tinham sido expedidos nos
anos anteriores. Na seqüência procedeu com reintegração de posse dos grandes
proprietários que haviam adquirido o direito de propriedade junto ao governo e a
demarcação e venda das terras que ainda não haviam sido vendidas. É necessário
ressaltar que muitos posseiros e proprietários legítimos dessas terras em litígio
foram preteridos em favor dos privilegiados políticos das cidades (WESTPHALEN,
1968).
Em Jaguapitã-PR, dentre os posseiros que sobreviveram ou que não
envolveram-se diretamente no conflito, poucos tornaram-se pequenos proprietários,
áreas regularmente grandes foram subdivididas em pequenos lotes a fim de
acomodar o maior número possível de famílias de posseiros. Outros foram
removidos para glebas recém abertas em Campo Mourão, Goio-Erê, Paranavaí e
outras. Também houve uma parcela de posseiros que foram expropriados, restando
a estes apenas o trabalho em outras propriedades rurais ou na área urbana
(WESTPHALEN, 1968).
Com o final do conflito e a legalização da posse das terras, o fluxo
de pessoas para a área, agora sob a condição de município, continuou a ocorrer de
forma crescente tanto para a área rural quanto em direção à cidade, sendo que uma
quantidade maior se dirigia para o campo, em função da economia local e regional
estar baseada na produção agropecuária.
16
O conflito por terras em Porecatu-PR nos anos de 1950 e 1951 foram intensos, com disputas
armadas e uma série de mortes, sendo o dia 10/10/1950 o dia mais sangrento da luta. Em junho de
1951 a luta chega ao fim, com a presença de centenas de soldados na área de conflito (Cf. Folha de
Londrina,17/07/85).
48
2.2.1 – As atividades agropecuárias
Como a gênese de Jaguapitã-PR antecede o período de
emancipação, iremos nos reportar às atividades desenvolvidas no campo durante o
final da década de 1930 e início da década de 1940, quando predominavam as
posses de terras.
A esse respeito, embora não haja muitos referenciais bibliográficos
disponíveis, as entrevistas realizadas com residentes no município que vivenciaram
esse período, nos permitiram obter informações para o entendimento de aspectos
desses processos que afetaram o então patrimônio São José dos Bandeirantes,
primeira denominação dada ao município de Jaguapitã-PR.
Nesse período inicial de ocupação, o fluxo de pessoas para a área
objetivava a prática da agricultura, principalmente o cultivo de gêneros alimentícios
(arroz, feijão, milho, amendoim), matérias-primas como o algodão e a criação de
animais, com destaque para os porcos, seguida pela pecuária bovina. Como o
comércio dos lotes não tinha se efetivado totalmente, ou seja, devido à maioria dos
produtores rurais estarem ainda ocupando a terra no sistema de posse, terras até
então pertencentes ao Estado, a cafeicultura era praticada em poucas propriedades,
como forma de assegurar a posse da terra. Segundo José Cateli (2005), grande
parte dos posseiros não plantavam o café pelo fato dessa cultura permanente exigir
elevados investimentos para a formação inicial, ao mesmo tempo que o retorno
começaria cerca de quatro anos após o plantio. Acrescente ainda o fato dos mesmos
temerem a perda do lote que não eram proprietários jurídicos e poderiam perder
todo o investimento realizado na lavoura cafeeira. Fica evidente que diante da falta
de recursos ou mesmo por não terem a propriedade jurídica das terras, esses
agricultores que se instalaram na área rural a partir de 1937, mediante a posse de
terras, acabaram por deixar a cafeicultura num segundo plano, dando destaque para
a criação de porcos e o cultivo de cereais.
Segundo José Cateli e Manoel Paião (2005), assim que agricultores
tomavam posse de um pedaço de terra, dentre as primeiras atividades realizadas
49
praticavam a queimada e limpeza do terreno como forma de preparar a área para
cultivo do milho, arroz, feijão, batata-doce, abóbora, etc. Dentre essas plantações,
parte do milho, a batata-doce e abóbora eram destinadas à criação de porcos,
realizada no sistema de safras. Ou seja, quando essas culturas estavam crescidas,
os agricultores não procediam com a colheita, pelo contrário, eles soltavam os
porcos em meio às plantações até atingirem tamanho e peso ideal para a
comercialização.
Ao atingirem o tamanho e o peso ideal, os porcos eram tropeados a
por seu proprietário até o patrimônio, onde eram comercializados localmente ou
com intermediários, no caso pessoas que compravam para comercializar esses
animais em Rolândia-PR, Londrina-PR, etc. “Tinha safra de porcos que percorria
cerca de doze quilômetros até chegar ao patrimônio”, segundo Manoel Paião (2005).
É importante ressaltar que a criação de porcos no sistema de safras tornava-se
viável nesse período, devido à presença ainda significativa da vegetação, à ausência
de cercas entre as propriedades e o reduzido número de vizinhos, segundo José
Cateli (2005). Assim como os porcos, os cereais produzidos na área rural também
eram comercializados na área urbana, no entanto o transporte era feito em
carroções até o patrimônio, onde era adquirido pelos armazéns locais ou por
representantes de estabelecimentos comerciais de Rolândia-PR, conforme
entrevista com José Cateli (2005).
Tendo em vista que em 1947 Jaguapitã-PR foi elevada à condição
de sede municipal, a primeira base de dados sobre o município é a de 1950, a partir
do recenseamento do IBGE. O primeiro elemento é a estrutura dimensional dos
estabelecimentos rurais conforme a tabela 01 a seguir. Observa-se que os
estabelecimentos rurais com até 49 ha representavam numericamente maioria
absoluta, com 89,62% do total, enquanto a área ocupada perfazia 44,66% do total
em 1950. No entanto, os dados dessa tabela também evidenciam que houve desde
1950 uma tendência à concentração de terras nas mãos de poucos proprietários,
tendo em vista que no referido ano, enquanto cerca de 94,82% dos
estabelecimentos rurais com até 100 ha ocupavam 52,52% da área total, os
estabelecimentos com extensão acima de 500 ha, um total de 0,8% detinham a
posse de 27,63% da área total de terras.
50
Tabela 01: Estrutura Dimensional
17
dos Estabelecimentos Rurais de Jaguapitã-PR:
1950 e 1960.
1950 1960
Grupos de área
estab. área (ha) estab. área (ha)
até 49 ha 2583
58.978
900
17.057
50 a menos de 100 ha 150
10.386
96
6.643
100 a menos de 500 ha 125
26.190
47
10.151
acima de 500 ha
24
36.499
08
13.133
total 2.882
132.053
1.051
46.133
Fonte: Censo Agrícola, IBGE, 1950 e 1960.
Org. : Léia Aparecida Veiga
Na década de 1960 verifica-se que a área total foi reduzida em cerca
de 35% em relação ao período anterior, isso devido ao desmembramento de
distritos e patrimônios até então pertencentes a Jaguapitã-PR e que passaram à
condição de sede municipal no transcorrer da década de 1950. No entanto, mesmo
com essa redução na área total, na década de 1960, a estrutura dimensional dos
estabelecimentos rurais manteve praticamente as mesmas características da década
anterior, ou seja, os estabelecimentos rurais com até 49 ha ainda representam
numericamente maioria absoluta, com 85,64% do total, perfazendo uma área de
36,98% do total, apresentando uma redução em relação à área total desse grupo de
estabelecimentos entre as décadas analisadas.
Outra característica mantida na década de 1960 foi à tendência a
concentração de terras, tendo em vista que entre os grandes estabelecimentos
rurais houve um acréscimo na área ocupada e uma redução na quantidade numérica
dos mesmos, ou seja, em 1960 cerca de 0,76% dos estabelecimentos rurais acima
de 500 ha ocupavam 28,47% da área total, conforme a tabela 01.
Ao procedermos a análise do uso da terra no município, conforme a
tabela 02 a seguir, verifica-se que em 1950 uma área significativa das terras que
ainda estavam ocupadas por florestas, perfazendo 48,39% da área total. Pode-se
dizer que esse percentual significativo de terras cobertas por florestas indicava que
seus proprietários estavam à espera da regularização da situação litigiosa, para de
fato investirem na derrubada da floresta e iniciarem atividades agrícolas.
17
Estrutura dimensional refere-se apenas ao tamanho e número dos estabelecimentos rurais,
conforme IBGE (1950).
51
Tabela 02: Uso da Terra em Jaguapitã-PR: 1950 e 1960.
1950 1960
Atividade
área (ha) % área (ha) %
lavoura temporária 17.475
13,35
2.696
5,80
lavoura permanente 18.802
14,37
21.377
45,92
pastagem 26.148
19,98
16.524
35,50
florestas 63.363
48,39
4.354
9,35
terras incultas 5.128
3,91
1.600
3,43
total 130.916
100 46.551
100
Fonte: Censo Agrícola, IBGE, 1950 e 1960.
Org. : Léia Aparecida Veiga
Os dados revelam que dentre aqueles estabelecimentos com o
cultivo agrícola em 1950 em Jaguapitã-PR, assim como em outros municípios
vizinhos já havia o predomínio da lavoura permanente, que ocupava 14,37% da área
enquanto as culturas temporárias perfaziam 13,35% da área total. Em 1960, a área
ocupada pela lavoura permanente foi ampliada significativamente para 45,92 %,
enquanto as temporárias nesse mesmo período passaram a ocupar apenas 5,80%
da área total. Paralelo ao crescimento das lavouras permanentes, ocorre a redução
da área ocupada pelas florestas para 9,35% da área total em 1960, um indicativo
que a vegetação original foi sendo substituída no transcorrer da década de 1950
pela cultura cafeeira.
No entanto, ressalta-se que em 1950 o uso do solo nos
estabelecimentos rurais de Jaguapitã-PR não se restringia apenas à cafeicultura,
pelo contrário, nos estabelecimentos o cultivo de lavouras temporárias era
significativo, tendo em vista que as mesmas ocupavam 13,35% da área total,
percentual esse semelhante ao ocupado pelo café nesse momento. Outro diferencial
quanto ao uso do solo em 1950 fica por conta das pastagens, que perfaziam 19,98%
da área total, mero significativo diante do contexto regional na referida década,
onde na maioria dos municípios parte significativa das terras era destinada ao cultivo
do café, gêneros alimentícios e matéria-prima, ficando a pecuária em segundo plano.
Essa diferença quanto ao uso do solo nesses dois momentos em
Jaguapitã-PR, pode ser relacionada aos acontecimentos da década de 1940,
primeiramente porque o conflito pelas terras ainda não tinha sido de fato
solucionado, o mesmo findou em 1951, o que gerava insegurança entre os
proprietários na área do conflito, optaram por não investirem nas lavouras
52
permanentes, evitando assim prejuízos caso o conflito se estendesse. É pertinente
colocar que a maior parte desses investimentos em lavouras permanentes no final
da década de 1940, eram feitos nas porções de terras cujos proprietários tinham
certeza que o título de posse não seria revogado, tendo em vista que esses
proprietários tinham o apoio do então governador Moysés Lupion. Em segundo
lugar, isso pode estar relacionado à existência ainda, de um número significativo de
posseiros na área, que continuavam com o plantio de lavouras temporárias (cereais)
e a criação de animais.
A distribuição espacial desses estabelecimentos na área rural,
variava de acordo com a proximidade do centro urbano, ou seja, aqueles ao redor da
cidade eram os menores em área, denominados chácaras, em relação aos
demais, conforme iam se distanciando do núcleo urbano apresentavam extensões
variadas, até alcançar o padrão de fazendas, isso já na divisa com outros municípios
conforme entrevista com José Cateli (2005).
Em relação à o-de-obra utilizada no trabalho com lavoura e
demais nas atividades rurais, nos estabelecimentos predominava o trabalho familiar,
o sistema de colonato, de parceria e de porcenteiros conforme entrevista com José
Cateli (2005).
Segundo Carvalho (1991, p.86), parceiro ou meeiro “[...] seria o
morador de fazenda que realizava as mesmas tarefas na lavoura como o colono,
mas era caracterizado juridicamente como “sócio” do proprietário e não empregado
deste, recebia como remuneração, uma parcela da safra de café [...]”. O termo
porcenteiro não deixava de ser uma parceria, com a diferença que estes recebiam
cerca de “[...] 40% da safra do produto e, por vezes, a totalidade da lavoura branca
plantada nas “ruas” do “talhão” do cafezal que lhe correspondia”. Por colonos
entende-se aqui um grupo de pessoas
[...] responsáveis por um determinado mero de cafeeiros, de
acordo com o número de familiares aptos ao trabalho (“enxadas”) e
tratavam do cafezal em todas as fases da produção. O colono
recebia “mesadas”, que eram pagamentos em dinheiro de dois em
dois meses durante o ano, além disso eles recebiam diárias pelos
53
serviços prestados na fazenda, de acordo com os contratos
agrícolas. (CARVALHO, 2002, p.67)
De acordo com os dados apresentados na tabela 03, dentre os
responsáveis pela produção agrícola nas décadas de 1950 e 1960, destaca-se a
categoria dos proprietários tanto no número de estabelecimentos como na área
ocupada, seguido pelos parceiros que na década de 1960 perfaziam 20,69% de
número de estabelecimentos e ocupavam 10,3% da área agricultável.
A parceria ou o porcenteiro era a relação de trabalho que
possibilitava a manutenção do cafezal sem despender capital. De acordo com
Carvalho (2002), os diaristas existiam no trabalho com o café na década de 1960,
embora não fossem numericamente superiores. Esses diaristas “[...] eram
empregados nas colheitas de café quando a mão-de-obra residente nas fazendas se
tornava insuficiente, recebendo as menores remunerações” (CARVALHO, 2002, p.
66).
Tabela 03: Condição do Produtor por Categoria, Estabelecimento a Área em
Jaguapitã-PR: 1950 e 1960.
1950 1960
Categorias
nº. estab. área nº. estab. área
ocupantes 6,83 4,91 2 1,64
parceiros --------- -------- 20,69 10,3
arrendatários 0,25 0,20 2,45 1,06
proprietários 88,09 66,40 74,86 88,99
administrador
4,83 28,48 --------- ---------
Fonte: Censo Agrícola, IBGE, 1950 e 1960.
Org. : Léia Aparecida Veiga
Dos dados apresentados na tabela 04, a primeira observação diz
respeito às quantidades colhidas em 1950. Dentre todos os produtos, a maior
produção foi de milho, seguido pelo feijão, arroz, café e algodão. Em termos de área,
conforme vimos na tabela 02 anteriormente apresentada, as culturas permanentes
com enfoque ao café, ocupavam a maior área dentre todas as atividades e usos. Na
tabela 04 por sua vez, a área apresentada diz respeito àquela que efetivamente
produziu, num claro indicativo que após o encerramento do conflito pela posse da
terra, os cultivos foram retomados, mas ainda não havia a produção na área
54
ocupada pelos 12.176.776 novos pés de café. Lembremos que nesse momento, as
primeiras safras de café ocorriam em média, após 04 anos de plantio.
Em 1960, com a expansão da lavoura cafeeira, as culturas
temporárias apresentaram um decréscimo tanto no volume produzido como na área
ocupada, passando assim o café a assumir lugar de destaque na produção, seguido
pelo milho, arroz, algodão e feijão. Ressalta-se que essa redução drástica na
produção e área do milho pode também ser atribuída à extinção da criação de
porcos safristas no decorrer da década de 1950.
Tabela 04: Principais Produtos Agrícolas Cultivados no Município de Jaguapitã-PR:
1950 e 1960.
1950 1960
Principais culturas
quat. (t) área (ha) quat. (t) área (ha)
café
algodão **
arroz **
feijão **
milho **
trigo
cana-de-açúcar
1540
1.164
2.692
2.926
28.119
62
101
856*
1.434
2.594
6.632
12.218
69
08
19.692
640
676
94
1.194
01
207
18.107
864
1.122
348
1.251
01
7
*No entanto havia 12.176.776 pés novos plantados (IBGE, 1950) numa área aproximada de
21.198,53 ha.
** Área referente a cultivo simples e associado.
Fonte: Censo Agrícola, IBGE, 1950 e 1960.
Org. : Léia Aparecida Veiga
A análise dos dados da tabela 04 nos permite apreender ainda que a
produção agrícola de Jaguapitã-PR, semelhante aos demais municípios no Norte do
Paraná, era caracterizada pelo plantio do café e por uma variedade de neros
alimentícios e matéria-prima, embora o café fosse o produto de maior valor
econômico já no final de 1950 .
Em relação à criação de animais de acordo com a tabela 05,
percebemos que na década de 1950, a quantidade de suínos é superior a de
bovinos, sendo respectivamente 50.169 e 25.135 o número de cabeças para cada
atividade criatória. A respeito da criação de suínos se faz importante ressaltar que,
embora alguns criadores praticassem a criação ainda no regime safrista no início
de1950, em função da crescente demarcação das terras e da presença de vizinhos,
55
a mesma deixou de ser produzida na década de 1960, o que resultou num
decréscimo no número de cabeças de suínos na referida década.
Tabela 05: Produção Pecuária nos Estabelecimentos Rurais de Jaguapitã-PR:1950
e 1960.
1950 1960
Atividade criatória estab. cabeças estab. cabeças
bovinos 1.428
25.135
680
19.852
eqüinos/asininos/muares 1.136
2.972
980
1.839
ovinos 71
853
28
388
caprinos 889
3.090
51
195
suínos 2.362
50.169
665
8.353
aves * 2.530
130.942
842
43.763
* Dentre as aves destacavam-se galinhas, patos, marrecos, gansos e perus.
Fonte: Censo Agropecuário, IBGE, 1950 e 1960.
Org. : Léia Aparecida Veiga
Ao lado da elevada quantidade de suínos, também deve ser
destacada a criação de aves que perfazia um total de 130.942 cabeças em 1950.
Ambas as atividades criatórias impulsionavam a produção de milho nos
estabelecimentos em 1950, tendo em vista que este era o principal alimento dos
porcos e das aves. Segundo entrevistas, tanto os suínos quanto as aves eram
comercializados na cidade de Jaguapitã-PR, compondo assim juntamente com a
produção café e cereais, a base econômica dos estabelecimentos rurais nesse
período.
Esses produtos agrícolas e os animais eram transportados até a
cidade de Jaguapitã-PR por meio da força animal e carroças
18
, onde eram
comercializados. O café, o algodão e o arroz eram adquiridos pelas máquinas de
beneficiamento, presentes no núcleo urbano ou em municípios vizinhos como
Rolândia-PR. Tanto o milho, o feijão e os demais gêneros alimentícios como os
porcos e as aves eram comercializados nos estabelecimentos comerciais, nas feiras
livres realizadas todos os domingos de manhã (Foto 01) ou adquiridos por
atacadistas oriundos principalmente de Rolândia-PR.
18
O transporte era realizado dessa forma por um lado devido à precariedade das estradas rurais e
por outro pela falta de recursos financeiros dos produtores para obter um outro meio de transporte.
Aqueles que dispunham de recursos financeiros e a propriedade rural era de cil acesso, fretavam
caminhões para o transporte.
56
Foto 01: Vista parcial da feira livre realizada na cidade de Jaguapitã-PR aos domingos pela
manhã na cada de 1960, onde eram comercializados diversos produtos rurais como o
milho, o arroz, o feijão, cabritos, carneiros, aves e porcos, verduras, legumes, ovos, queijos,
leite, farinha de mandioca, doces caseiros, entre outros, oriundos dos agricultores locais.
Fonte: Arquivo pessoal de Nivaldo Bortolotti. Jaguapitã-PR (reprodução).
2.2.2 – As atividades urbanas
Paralelo a esse processo de ocupação das terras e de
desenvolvimento agropecuário na década de 1940 e 1950, ocorreu a estruturação e
expansão do núcleo urbano, com o desenvolvimento de atividades urbanas voltadas
para o atendimento das necessidades da população em dado momento, ou seja, no
transcorrer dos anos o patrimônio mediante a crescente população rural e produção
agropecuária, passou a comercializar a produção rural e a oferecer bens e serviços
que atendiam as necessidades do campo. A realização dessas funções viabilizou a
existência do núcleo urbano, que ao atender a demanda rural cumpria o seu papel
naquele dado momento, contribuindo assim para a produção e reprodução das
relações capitalistas.
Buscando compreender o papel da cidade de Jaguapitã-PR e sua
inserção na rede urbana norte-paranaense nesse período, procederemos com a
análise da funcionalidade da mesma. Análise essa correlacionada às categorias
57
forma, função, estrutura e processo, que a nosso ver, é o percurso que nos
aproxima do entendimento da construção e evolução do espaço social através do
tempo, ao mesmo tempo que nos afasta de uma descrição meramente empirista e
idiográfica (SANTOS, 1985; FRESCA, 1990).
Funcionalidade essa que ocorreu plenamente somente a partir da
década de 1950, quando a forma estava pronta para desempenhar funções que lhes
foram atribuídas. Portanto, apesar da origem desse núcleo urbano ter ocorrido em
1937, quando as levas de migrantes se faziam presentes no campo, o mesmo
passou a exercer suas funções urbanas de maneira plena alguns anos mais tarde.
Entendendo que a economia municipal estava nesse período
assentada na produção rural, a cidade passou a desenvolver atividades urbanas
voltadas ao atendimento das demandas da população rural, que era superior à
urbana em 1950, ou seja, enquanto a população rural representava uma taxa de
84% (32.578 hab.), a urbana perfazia 16% (6.243 hab.), de um total de 38.821
habitantes (IBGE, 1950). Assim, o urbano foi estruturado com a finalidade de ofertar
serviços de coleta, beneficiamento e comercialização da produção rural, bem como
atividades ligadas ao comércio e prestação de serviços, funções essas que
acabaram por satisfazer as necessidades tanto em termos pessoais quanto em
termos de atividades produtivas.
Observa-se na tabela 06, que a cidade de Jaguapitã-PR no ano de
1950, contava com cerca de 134 estabelecimentos comerciais, que visavam o
atendimento da população local urbana e rural. Tais estabelecimentos atendiam as
necessidades básicas em termos de bens e serviços, além daquelas atividades
referentes à produção agrícola. Embora a classificação da mencionada tabela não
deixe claro, o setor varejista na referida década era composto por uma série de
gêneros do comércio. Segundo os levantamentos de campo, a cidade comportava
no comércio varejista além de inúmeros armazéns de secos e molhados, vários
estabelecimentos comerciais de remédios, alimentos, bebidas, utilidades
domésticas, móveis e vestuário, ou seja, um comércio voltado às necessidades
imediatas da população. Na seqüência apresentaremos duas fotos de alguns
58
estabelecimentos comerciais presentes na cidade no período destacado (foto 02 e
03).
Tabela 06: Número de Estabelecimentos Comerciais e Prestadores de Serviços por
Classes e Gêneros em Jaguapitã-PR: 1950.
Atividade Nº de estabelecimentos Nº pessoas ocupadas
comércio varejista 77
140
comércio atacadista ---
03
serviços de alojamento e
de alimentação
43
95
serviços de confecção e
reparação
08
21
serviços de higiene
pessoal
06
09
total 134
268
Fonte: Censos Demográficos e Econômicos, IBGE, 1955.
Org.:ia Aparecida Veiga
Foto 02: Vista parcial do armazém de secos e molhados “Casa Paratodos” em Jaguapitã-
PR, década de 1960.
Fonte: Arquivo pessoal de Elena Rosseto. Jaguapitã-PR (reprodução).
59
Foto 03: Vista parcial de alguns estabelecimentos comerciais (Casas Pernambucanas,
Restaurante Metrópoles, Casa São José, etc.) situados na Avenida Minas Gerais em
Jaguapitã-PR, década de 1960.
Fonte: Arquivo pessoal de Nivaldo Bortolotti. Jaguapitã-PR (reprodução).
Em função da importância dos armazéns de secos e molhados no
contexto da economia local da cidade nas décadas de 1950 e 1960, se faz
necessário ressaltar que esses estabelecimentos comerciais procuravam satisfazer
as diversas necessidades de seus consumidores, predominantemente localizados no
campo. Esses armazéns,
[...] além de comercializarem alimentos e bebidas, ofereciam
implementos agrícolas, arames, querosene, sementes, louças,
alumínios, tecidos, calçados, armarinho, etc. Não eram
estabelecimentos comerciais com especialização na venda de
produtos, muito pelo contrário, vendiam produtos de vários gêneros
necessários ao mercado consumidor rural [...]. Assim, quando da
presença de consumidores, um único estabelecimento era capaz de
prover-lhes as necessidades pessoais e familiares, como aquisição
de produtos e equipamentos para sua atividade econômica [...].
(FRESCA, 2004, p. 106).
Ainda em relação aos armazéns, é importante ressaltar que em
função do predomínio da população rural e das atividades agropecuárias, o
pagamento dos produtos era efetuado a vista ou a prazo, sendo que no segundo
caso, as dívidas eram saldadas na época das safras.
Esses armazéns de secos e molhados e os demais
estabelecimentos comerciais varejistas eram abastecidos pelo comércio atacadista
situado nas cidades de Rolândia-PR, Londrina-PR e outras do Estado de São Paulo,
60
que se fazia presente por intermédio de vendedores que visitavam os
estabelecimentos comerciais da cidade de Jaguapitã-PR quinzenalmente. Esses
representantes comerciais efetuavam os pedidos e as entregas eram realizadas
pelos atacadistas mediante o transporte rodoviário. O pagamento das compras no
atacado era efetuado tanto a vista como a prazo com parcelas de até 90 dias, que
eram saldadas com o próprio representante comercial. No entanto, esse não era o
único meio de reposição do estoque, tendo em vista que uma parcela de
comerciantes varejistas se dirigia até o atacadista, ficando nesse caso o transporte
da mercadoria adquirida sob responsabilidade do comerciante varejista, que era feito
com o próprio veículo ou por outros fretados. Como no caso dos Irmãos Rosseto,
que possuíam um estabelecimento comercial de secos e molhados. Segundo
Ernesto Rosseto, a família Rosseto comprou o estabelecimento comercial em 1951 e
passou a comercializar uma gama variada de produtos alimentícios, bebidas,
ferramentas, equipamentos agrícolas, materiais para construção, cereais, etc. Esse
estabelecimento denominado Casa Paratodos, foi comprado com capital oriundo da
cafeicultura e de economias pessoais da família. A reposição da mercadoria era feita
a partir de representantes comerciais que atuavam na região ou diretamente na
indústria pelos proprietários do armazém, que ao efetuarem as compras no atacado
eram também os responsáveis pelo transporte dos produtos. Os pagamentos dessas
compras no atacado eram efetuados em sua maioria a vista, visando o recebimento
de descontos. No entanto, também eram feitas compras a prazo, com pagamento
para 30 dias. A Casa Paratodos atendia além da população local, consumidores de
cidades vizinhas como Porecatú-PR, Guaraci-PR, Centenário do Sul-PR, Miraselva-
PR, Colorado-PR e Santo Inácio-PR conforme entrevista com Ernesto Rosseto
(2007).
Ainda em relação às compras no atacado, se faz necessário
destacar que os armazéns de secos e molhados pelo fato de comercializarem
cereais entre a população urbana, os mesmos os adquiriam no próprio núcleo
urbano, como no caso do feijão que era comprado diretamente junto ao produtor e o
arroz que podia ser obtido tanto nas indústrias (máquinas) de beneficiamento de
arroz descascado ou diretamente com o produtor rural, sendo neste caso o arroz
entregue posteriormente às máquinas de beneficiamento, mediante o pagamento de
61
uma taxa. Em relação a essas compras de cereais, os pagamentos eram efetuados
a vista.
Dentre os estabelecimentos comerciais prestadores de serviços
destacamos aqueles relacionados ao alojamento e alimentação que perfaziam o
total de 43, segundo a tabela 06. A presença desses estabelecimentos se justificava
à medida que na década de 1950 e na primeira metade de 1960, o fluxo de pessoas
para a cidade era intenso, devido a produção rural estar pautada principalmente na
cafeicultura. Assim, a fim de atender as pessoas que estavam chegando à cidade,
inúmeros hotéis e restaurantes foram sendo instalados na área central e no seu
entorno, como o caso do Hotel Brasil e do Hotel e Restaurante Avenida, nas fotos 04
e 05. Embora em menor quantidade numérica, também se faziam presentes
estabelecimentos comerciais prestadores de serviços de confecção e reparação e de
higiene pessoal.
Destaque também deve ser dado à prestação de serviços
financeiros, educacionais, de transporte, de saúde e de infra-estrutura da área
urbana que foi ampliada paulatinamente no decorrer das décadas de 1950 e 1960
em virtude das necessidades da população local.
Foto 04: Vista parcial do Hotel-Restaurante Avenida em Jaguapitã-PR, década de 1950.
Fonte: Arquivo pessoal de Nivaldo Bortolotti. Jaguapitã-PR (reprodução).
62
Foto 05: Vista parcial do Hotel Brasil em Jaguapitã-PR, década de 1960.
Fonte: Arquivo pessoal de Nivaldo Bortolotti. Jaguapitã-PR (reprodução).
Em relação aos serviços financeiros, os mesmos eram executados
pelas seguintes agências bancárias: Banco Noroeste-SP, Banco Comercial do
Paraná, Banco Curitiba-PR e Banco Rural-PR conforme fotos 06, 07 e 08, segundo
nossos entrevistados José Cateli e Manoel Paião, 2006. A presença dessas
agências bancárias na cidade nesse período se fazia necessária em virtude da
produção rural, que estava pautada principalmente na cafeicultura, produto esse que
foi o responsável pela dinamização da economia local. Ressalta-se que o Banco
Rural, diferentemente dos demais presentes na cidade, era de origem local,
instalado a partir da iniciativa de Aragão Bordin, Juraci Barbosa e Miguel Martins,
agentes sociais residentes em Jaguapitã-PR. Essa agência bancária foi desativada
em 1966 conforme entrevista com Joaquim Ventura (2007).
Foto 06: Vista parcial do Banco Noroeste do Estado de São Paulo, década de 1950.
Fonte: Arquivo pessoal de Nivaldo Bortolotti. Jaguapitã-PR (reprodução).
63
Foto 07: Vista parcial do Banco Comercial do Paraná, década de 1950.
Fonte: Arquivo pessoal de Nivaldo Bortolotti. Jaguapitã-PR (reprodução).
Foto 08: Vista parcial do Banco de Curitiba, década de 1950.
Fonte: Arquivo pessoal de Nivaldo Bortolotti. Jaguapitã-PR (reprodução).
Os serviços educacionais se faziam presentes desde 1946, quando
foi fundada a primeira escola no município, com a denominação de Grupo Escolar de
Jaguapitã-PR (atual Colégio Estadual Dr. Nilson Ribas), escola essa que em 1955
passou a ser estadual (foto 09). No decorrer da década de 1950 e 1960 outros
estabelecimentos educacionais foram sendo criados, com o propósito de aumentar a
taxa de pessoas alfabetizadas, que até então era de 16% segundo IBGE (1959). Em
1953 por iniciativa do vigário da paróquia, Padre Guido Cagnani, foi fundada a
primeira escola particular da cidade, denominada Jardim da Infância Paroquial, atual
Escola Divina Providência. Essa escola particular é administrada desde sua
fundação pelo grupo de irmãs da ordem Franciscana, de Malta Itália (PRADO,
1997).
64
Em 1956, além da escola estadual situada na Avenida Paraná e da
escola particular, na área rural havia aproximadamente 45 estabelecimentos que
ofertavam o ensino básico de a séries do atual Ensino Fundamental. Essas
escolas rurais foram construídas em áreas cedidas por fazendeiros que possuíam
um número significativo de pessoas morando em suas terras ou em áreas próximas
às estradas, atendendo a população rural no seu entorno. Esse número de escolas
rurais tinha por objetivo atender a imensa população rural existente na década de
1950 (84%) e 1960 (77%) no município de Jaguapitã-PR (IBGE, 1950/1960).
No ano de 1968, mais um prédio foi construído na então praça
Getúlio Vargas, hoje Avenida São Paulo e destinado à criação de mais uma escola
estadual que ofertava o ensino de a séries, denominada inicialmente Grupo
Escolar Prof. Newton Guimarães, atual Escola Municipal Prof. Newton Guimarães.
O serviço de transportes muito importante para a o fluxo de pessoas,
mercadorias, informações, investimentos e lucros, se dava pelas estradas de
rodagens que interligavam Jaguapitã-PR às demais cidades da região. Em relação
ao transporte rodoviário de passageiros, este ocorria desde a década de 1940, por
meio de um ônibus conhecido como “jardineira” responsável pelo transporte de
passageiros duas vezes por semana até Rolândia-PR, segundo levantamentos de
campo em 2006. Essa “jardineira” tinha como ponto de partida o patrimônio de São
Sebastião do Guaraci, atual cidade de Guaraci-PR e uma de suas paradas era na
cidade de Jaguapitã-PR, de onde seguia para Rolândia-PR. Já nas décadas de 1950
e 1960, a Viação Carreira, era a responsável pelo transporte de pessoas entre
Jaguapitã-PR e os municípios da região (foto 10).
No decorrer da década de 1950, por iniciativa do poder
administrativo local, outros serviços passaram a ser ofertados na cidade a partir da
construção do hospital municipal, da estação rodoviária, de um posto de saúde, da
linha de transmissão de energia elétrica da usina termo-elétrica da Fazenda
Maragogipe
19
que permitiu a distribuição de luz elétrica para a cidade, assim como a
19
Essa fazenda possuía nas referidas décadas quase 1.000 moradores. A maior parte de suas terras,
mais de 1.000 alqueires paulistas, era ocupada pelo café. Na área próxima a sede, além das casas
dos moradores em sua maioria colonos, existiam vários estabelecimentos comerciais como açougue,
65
Foto 09: Vista parcial do Grupo Escolar de Jaguapitã-PR, no ano de 1948. Atual Colégio
Estadual Dr. Nilson Ribas, ainda se encontra situada na avenida Paraná e oferecia até o ano
de 2006, o curso de Ensino Médio e Ensino Normal.
Fonte: Arquivo pessoal de Nivaldo Bortolotti. Jaguapitã-PR (reprodução).
Foto 10: Vista parcial de um ônibus da Viação Carreira, na década de 1960. Empresa
responsável pelo transporte de pessoas para outras cidades da região norte-paranaense.
Fonte: Arquivo pessoal de Luiz de Souza Rolim. Jaguapitã-PR-reprodução.
padaria, armazéns de secos e molhados, farmácia e um campo de aviação. Também tinha um clube
social e alguns estabelecimentos industriais como olarias e serrarias conforme entrevista com Ernesto
Rosseto (2007).
66
construção da cadeia pública, entre outros. Serviços esses de infra-estrutura urbana
que foram ampliados a partir da segunda metade da década de 1960, com a
instalação do sistema de energia elétrica da COPEL, do sistema de telefonia e foi
feita a pavimentação asfáltica da cidade. Percebe-se assim, que nas referidas
décadas, sucessivas obras de melhorias urbanas vinculadas à função administrativa
foram implementadas na cidade, visando a instalação de serviços que pudessem
satisfazer as necessidades imediatas da população local.
Em relação ao esporte e lazer além do primeiro campo de futebol
construído em 1949, foram criados no decorrer de 1950 e 1960 alguns clubes que
ofereciam momentos de lazer e diversão à população da cidade, como o primeiro
clube social criado em 1947, na Avenida São Paulo, o Country Clube com área
social e de esportes em 1954 e o Clube dos 15, criado em 1964, sendo esse último
de caráter social e filantrópico. Nesses clubes além de solenidades oficiais, ocorriam
bailes, festas, apresentação de orquestras e atividades desportivas. Destaque
também deve ser dado ao cinema, que se fez presente na cidade na década de
1950 com o Cine Jaguapitã situado na Avenida São Paulo, de propriedade da família
Peretti e ao Cine Guairacá, construído na Avenida Paraná, pelos Irmãos Bordin no
final da década de 1950 (PRADO, 1997), conforme foto 11.
O setor industrial, segundo levantamentos de campo, nas décadas
de 1950 e 1960, a cidade possuía atividades industriais relacionadas principalmente
ao beneficiamento e comercialização da produção rural com a instalação de
máquinas de beneficiamento na cidade, sendo 06 de café, 04 de arroz e 01 de
descaroçar de algodão. Havia ainda 01 olaria, uma fábrica de refrigerantes
denominada Guaraná Bandeirantes, 04 serrarias conforme entrevista com Luiz de
Souza Rolim (2007).
67
Foto 11: Vista parcial do cinema Cine Guairacá situado na Avenida Paraná em Jaguapitã-
PR, década de 1960.
Fonte: Arquivo pessoal de Nivaldo Bortolotti. Jaguapitã-PR (reprodução).
Em relação às unidades de beneficiamento de arroz, se faz
necessário esclarecer que o pequeno produtor, após retirar uma porção para o
consumo familiar, transportava geralmente em carroças o restante da produção de
arroz para a cidade, onde era vendida ao maquinista
20
. Este após o beneficiamento
do produto, comercializava o arroz na própria cidade entre os estabelecimentos
comerciais varejistas ou com estabelecimentos de outros núcleos urbanos. Além da
compra e comercialização do arroz, outra função do maquinista era beneficiar
mediante uma taxa, o arroz que os produtores tinham reservado para o consumo
próprio. Essa relação estabelecida entre o pequeno produtor e maquinista, evidencia
a dependência do primeiro em relação ao segundo, isso porque os produtores de
arroz não tinham outra opção se não comercializarem o produto com os maquinistas
presentes na cidade, entregando sua produção ao preço estabelecido pelos
mesmos, segundo levantamentos de campo em 2006.
Em relação às indústrias responsáveis pelo beneficiamento e
comercialização do café, em função da intensa produção cafeeira na cidade até o
final de 1960, essas unidades foram as responsáveis pelo maior movimento tanto de
pessoas como de produto comercializado. Além do beneficiamento e
comercialização do café, essas unidades também concediam créditos aos pequenos
20
Maquinista era a denominação comum dada aos proprietários de indústrias de beneficiamento
tanto de algodão, arroz como de café, indústrias essas que chamadas de máquinas de arroz, algodão
e de café, daí a origem do termo maquinista.
68
proprietários, dinheiro esse que possibilitava ao produtor a manutenção da
propriedade e da família até o período da colheita. Os pequenos produtores
recorriam a esse empréstimo junto ao maquinista, pelo fato das agências bancárias
possuírem na referida época linhas de créditos voltadas apenas ao grande
proprietário, por este possuir mais garantias de pagamento da dívida. Esse
empréstimo era feito mediante a cobrança de juros mensais, sendo o percentual de
acordo com o estabelecido pelo dono da indústria de beneficiamento. que se
destacar ainda que na maioria das vezes, o maquinista ao emprestar o dinheiro,
deixava claro ao produtor que a safra deveria ser vendida ao mesmo que estava lhe
concedendo o crédito. A linha de crédito tornava-se assim algo muito lucrativo para o
maquinista, que nesses casos adquiria a safra pelo menor preço possível, que o
produtor por estar endividado ficava sem opção de venda. Outro papel exercido
pelas indústrias de beneficiamento era a armazenagem do café, onde os produtores
recorriam ao maquinista objetivando armazenar o café colhido até o momento da
comercialização do produto, segundo levantamentos de campo 2006. Percebe-se
assim, que o maquinista era o maior beneficiado nas relações comerciais
estabelecidas com o pequeno e médio produtor, lucrando tanto no preço ofertado
pelo produto, nos juros do empréstimo como no armazenamento do produto em suas
instalações.
Dentre essas unidades de beneficiamento presentes na cidade de
Jaguapitã-PR nas décadas de 1950 e 1960, destaque deve ser dado a de José
Coleto, um proprietário de terras no município que também se dedicava ao
beneficiamento e comercialização do café (foto 12). Além da indústria de beneficiar
café, era proprietário de uma indústria de beneficiar arroz e de outra de descaroçar
algodão. Além dessas, o industrial possuía algumas filiais em Rolândia-PR,
Arapongas-PR, Lupionópolis-PR e Colorado-PR. Era um forte comprador de café no
Norte do Paraná, empregando em sua indústria de beneficiar café de Jaguapitã-PR
cerca de 250 funcionários, sendo destes 150 catadeiras
21
conforme entrevista com
Ernesto Rosseto (2007) e Luiz de Souza Rolim (2007).
21
A catação era realizada por mulheres que separavam os grãos fora do padrão e o resultado final
era um café de tipo melhor e mais homogêneo (Carvalho, 1991).
69
Foto 12: Vista parcial da máquina de café Coleto em Jaguapitã-PR, 1965. Essa máquina
beneficiava grande parte do café produzido no município e em municípios vizinhos devido os
bons preços ofertados pelo industrial aos produtores.
Fonte: Arquivo pessoal de Luiz de Souza Rolim. Jaguapitã-PR-reprodução.
A máquina de Café Coleto era responsável pela maior parte de
movimento de cafeicultores na cidade, que durante as épocas de colheitas,
formavam filas ao longo da avenida para entregarem o produto nessa indústria. No
entanto, embora nosso entrevistado não saiba ao certo o motivo, as indústrias de
propriedade de José Coleto faliram por volta de 1966, levando consigo o dinheiro
das safras de café de pequenos e grandes proprietários de Jaguapitã-PR e cidades
vizinhas que tinham estocado a produção na indústria de beneficiamento Coleto,
conforme entrevista com Luiz de Souza Rolim (2007).
Observa-se assim, que como em outras áreas do norte-paranaense,
no período compreendido entre 1950 a 1960, em Jaguapitã-PR as funções urbanas
foram organizadas visando o atendimento da produção e do amplo mercado
consumidor rural, funcionalidade expressa através de um aparelhamento comercial,
industrial, bancário e prestador de serviços que assegurava naquele momento à
cidade o controle do campo.
Nesse primeiro recorte temporal foram abordadas as relações sócio-
econômicas e espaciais estabelecidas a partir da gênese de Jaguapitã-PR em 1937,
70
quando migrantes paulistas instalaram-se na área até então pertencente ao Estado,
passando a praticar a agricultura e fundando o patrimônio. Aa década de 1960,
esse pequeno núcleo mediante a produção agropecuária, tendo o café como produto
principal, exercia suas funções de distribuição de bens e serviços à sua população,
cuja maioria localizada no campo. Por ser a distribuição uma etapa necessária entre
a produção e o consumo na estrutura capitalista, tal função exercida pelo núcleo
urbano era uma condição fundamental de sua existência. Outra função importante
exercida pela cidade diante da sua inserção na divisão territorial do trabalho pautada
na produção agrícola, era a comercialização e beneficiamento da produção agrícola
pelas inúmeras indústrias de beneficiamento presentes no núcleo urbano.
Percebe-se assim que as funções de distribuição de bens e serviços
à população local e de comercialização e beneficiamento da produção rural atribuía
a essa cidade uma importância na rede urbana, caracterizando-a como um centro
local na rede urbana norte-paranaense, que apresentava-se do tipo christalleriano
na década de 1960 (FRESCA, 2002).
Contudo, sendo um centro local na rede urbana, Jaguapitã-PR
caracterizava-se por apresentar um nível de interações espaciais bastante
expressivo para esta posição. Vale destacar a sua importância mediante o comércio
varejista, abastecendo várias cidades vizinhas, das máquinas de beneficiar com
mercado consumidor bastante amplo, na oferta de serviços que atendia além da
população local, aquela adjacentemente localizada em municípios vizinhos.
Expressivo por certo era o número de agências bancárias presentes em Jaguapitã-
PR, demonstrando até certo ponto, o volume de renda e lucro que as mesmas
capturavam. Isto implica em dizer que o fato de Jaguapitã nos anos de 1960 ser
considerada um centro local, não significava que a mesma era apenas um centro
urbano que atendia somente as necessidades mais básicas e vitais de sua
população. Como se tratava de um núcleo urbano inserido numa rede urbana
complexa em sua forma e dinâmica econômica e social, Jaguapitã-PR foi inserida na
mesma de modo bastante complexo, respondendo pela multivariada gama de
serviços e comércio que envolvia uma hinterlândia relativamente expressiva.
71
3– AS TRANSFORMAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL
NORTE PARANAENSE E AS SINGULARIDADES EM JAGUAPITÃ - PR
A partir da década de 1970, profundas transformações afetaram a
rede urbana norte-paranaense nos mais diferentes aspectos. De um modo geral,
uma série de transformações que vinham ocorrendo desde os anos de 1960,
passaram a ser concretizadas na área em estudo, impondo novas relações
econômico-sociais. No presente capítulo discutiremos inicialmente as
transformações gerais na organização sócio-espacial da rede urbana e
seguidamente como estas transformações se singularizaram em Jaguapitã-PR como
recurso ao entendimento de sua re-inserção na rede, bem como os caminhos pelos
quais tal re-inserção ocorreu.
3.1 Transformações Gerais na Rede Urbana do Norte do Paraná após
1970
As cidades da rede urbana norte-paranaense a partir da década de
1970, passaram por um processo de refuncionalização, o que tornou a rede mais
complexa e diversificada. Nas palavras de Fresca (2002, p. 17) “[...] na medida que
processos gerais foram incidindo na rede urbana, emergiu uma heterogeneidade
que antes não estava presente e onde o que mais se ressalta é a continuidade da
diferenciação e redefinição dos lugares [...]”.
Vários processos contribuíram para essa nova etapa funcional da
rede urbana como as alterações na base técnica produtiva da agricultura brasileira,
alterações nas relações sociais no campo, a migração rural-urbano, a intensificação
do processo industrial, a melhoria dos transportes, da comunicação, dentre outros.
As transformações no campo mediante a substituição da cafeicultura
e dos gêneros alimentícios por culturas mecanizadas, resultaram numa diversidade
produtiva ao passo que foram estabelecidas atividades agropecuárias intimamente
ligadas à produção e reprodução do capital industrial. Pode-se aqui ressaltar a
expansão dos complexos agroindustriais como uma das atividades mais
72
significativas desse período. Fresca (2004, p. 240), destaca a incorporação de
vastas “[...] áreas à produção de soja-trigo, sucro-alcooleira, pecuarista - incluindo-se
gado bovino para corte e leite e acola para o fornecimento de carne - e outras
tantas produções de menor representatividade de área ocupada e valor gerado [...]”.
No entanto, é necessário destacar que essas alterações no campo
não ocorreram de forma homogênea em todo o norte-paranaense, algumas
localidades da rede acabaram ficando à margem desse processo. Isso porque “[...]
do ponto de vista do capital, não garantem, neste momento, condições para taxas de
lucratividade, mediante inversões realizadas” (FRESCA, 2004, p.240). Essas áreas
que ainda não foram inseridas nessa produção e reprodução do capital poderão ser
incorporadas num outro momento, sob ação de outros processos gerais, resultando
assim em novas singularidades.
Outro elemento de suma importância que interferiu no papel de cada
cidade foi a migração rural-urbano impulsionada pela mecanização das lavouras.
Com isso praticamente em toda rede, passaram a ocorrer mudanças nas relações
sociais de trabalho, que culminou no esvaziamento demográfico do campo, ao passo
que a populão passou a migrar para as maiores cidades da rede urbana ou para
áreas de fronteiras agrícolas. No período pós 1970, houve um crescimento negativo
da população da rede urbana, paralelo ao crescimento da taxa de urbanização nas
cidades com mais forte nível de centralidade. Nesse novo contexto populacional,
“[...] cidades que nos anos de 1960 eram as maiores quanto à população, tiveram
seu crescimento reforçado, gerando incluso, outros fatores econômico-sociais
áreas de aglomeração físico territorial em Londrina e Maringá [...]” (FRESCA, 2004,
p.241).
que se destacar também outro aspecto de crucial importância
para essa refuncionalização da rede urbana, no caso o industrial. Se anteriormente
as cidades apresentavam uma restrita produção industrial, no decorrer das décadas
seguintes, houve a intensificação do processo industrial nos grandes centros
urbanos e nas pequenas e médias cidades. Verifica-se que no norte do Paraná
alguns centros urbanos se especializarem em determinadas produções industriais,
como no caso de Cianorte, Apucarana e Arapongas que se especializaram
73
respectivamente no setor confeccionista de roupas, confeccionista de bonés e
moveleiro (FRESCA, 2005).
Segundo a referida autora, esse processo de industrialização nessas
cidades ocorreu em linhas gerais
[...] num período de completa desestruturação de uma dada
produção e de processos gerais atingindo os mais distintos lugares.
[...] destacando aqui [...] a percepção e ação de agentes sociais
locais em valorizar e dar importância a estes lugares, tornando-se
capazes de dar rumos diferentes às cidades (FRESCA, 2002, p.18).
Outro elemento importante para esse desenvolvimento industrial em
vários centros urbanos da rede, está relacionado à melhoria na circulação com a
adoção de sistemas de transportes, comunicação e informação mais eficientes, que
permitissem segundo Fresca (2002, p.19), “[...] maior fluidez e flexibilidade na
circulação de pessoas, mercadorias, capital, idéias, valores, etc”. Acrescente-se a
esse processo de melhoria, a adoção recente de modernos sistemas técnicos
referentes às telecomunicações e informações. Ressaltando-se que esse processo
não se estendeu por todas as localidades da rede urbana, ficando circunscrito
àquelas localidades que apresentaram no decorrer das décadas condições de
garantir o retorno dos investimentos realizados (FRESCA, 2002).
Nesse contexto fica evidente que a rede urbana norte-paranaense a
partir de 1970 ao concretizar processos gerais do sistema capitalista passou por
significativas mudanças nas suas funções, com redefinições de papéis na rede que
acabou por expressar uma nova centralidade. Para Fresca (2004, p. 246), essa
mudança ocorreu apenas na funcionalidade, isso porque “[...] o padrão espacial da
rede em sua estrutura o fora complexo com diversos padrões de localização de
centros [...] sendo assim a forma pouco alterada [...]” a partir do referido período,
conforme o mapa 02.
74
Mapa 02: Rede urbana norte-paranaense, 1997.
Fonte: Fresca, 2004, p. 243.
Tal complexidade funcional da rede urbana norte-paranaense atingiu
tanto os grandes centros urbanos quanto os médios e pequenos núcleos. Mas em
função do nosso recorte de análise ser a cidade pequena, vamos direcionar a
reflexão para as pequenas cidades, que “[...] são de fundamental importância para a
compreensão do urbano em seu escalão inferior” (CORRÊA, 2004, p. 76).
3.2 – Transformações em Jaguapitã-PR: as singularidades
A compreensão das transformações na estrutura produtiva no
município de Jaguapitã-PR após década de 1970, perpassa pelo entendimento do
avanço do sistema capitalista, a nível nacional, isso porque a nosso ver, as
transformações nas relações sociais, econômicas e políticas da totalidade social
acabam repercutindo a nível local, a fim de adequar-se aos novos padrões de
75
produção e consumo da sociedade (SANTOS, 1986). Assim mediante o estudo do
singular, ou seja, das mudanças ocorridas em Jaguapitã-PR a partir da década de
1970, tanto na produção agropecuária como nas funções urbanas exercidas pela
referida cidade, é possível encontrar determinações do geral, visto que o todo se
expressa no local, no singular por meio de muitos particulares.
Nesse sentido, torna-se importante destacar, embora de forma
sucinta, alguns aspectos da totalidade que estão intimamente relacionados ao
processo de transformação dos núcleos urbanos da rede urbana norte-paranaense,
aspectos esses que dizem respeito à nova etapa assumida pelo sistema produtivo
nacional, no caso o industrial, que avançou muito após 1930.
Na perspectiva teórica de Rangel (1986), esse período acima
referido que englobou a fase “b”do terceiro Kondratieff
22
(1920 a 1948) e fase “a”do
quarto Kondratieff (1948 a 1973), foi muito importante para o processo industrial
brasileiro, por ter sido estruturado justamente nessa época o edifício industrial
brasileiro, com o desenvolvimento das indústrias leves num primeiro momento e num
segundo, começou a se fazer presente a indústria pesada. A partir da década de
1920, passou a ocorrer o processo de substituição industrial de importações, iniciado
pelas indústrias leves ou como denominado por Rangel (1986), Departamento II,
enquanto a indústria pesada ou Departamento I se fazia ainda pré-industrial. Em
outras palavras, processo de substituição das importações foi estruturado da
seguinte forma: “[...] indústria de bens de consumo simples, indústria de materiais de
construção, indústrias de bens duráveis e indústrias químicas e mecânicas”
(MAMIGONIAN, 1991, p. 11).
De acordo com análise feita por Rangel (1986, p. 32), o
desenvolvimento industrial brasileiro foi tão intenso de 1938 a 1963 (fase b” do
Kondratieff e início da fase “a” do Kondratieff) que elevou o Brasil ao patamar de
país capitalista com maior índice de crescimento da produção industrial da referida
época. Nesse período o “[...] Brasil emergiu como uma das economias mais
22
Os ciclos longos de Kondratieff são frutos da evolução do próprio sistema capitalista. De acordo
com Rangel (1986) cada ciclo compreende a dois período, um próspero de desenvolvimento que
seria a fase “a” e outro economicamente declinante, depressivo chamado de fase “b” , cada qual com
cerca de 25 anos.
76
dinâmicas do mundo, provavelmente a mais dinâmica do mundo capitalista”
(RANGEL,1986, p. 32).
A expansão da produção industrial brasileira se estendeu por todo
período da fase expansiva do quarto Kondratieff (1948 a 1973), ou seja, a conjuntura
econômica do sistema capitalista mundial apresentou-se muito favorável ao
crescimento industrial, e no período de 1963 a 1971, a taxa de inflação que era de
88,4% decaiu para 15% em 1971, enquanto a taxa de produção industrial cresceu
de 0,2% para 12%, e consequentemente, o PIB também cresceu, ascendendo de
0,2% para 11,3% nas respectivas datas, crescimento esse denominado Milagre
Econômico brasileiro (RANGEL, 1986).
Durante a fase recessiva do terceiro Kondratieff e a fase ascendente
do quarto Kondratieff “[...] no setor industrial, o objetivo foi o de promover a criação,
consolidação e diversificação deste setor [...] investindo principalmente nas
indústrias de base”, isso através de um desdobramento de relações cooperativas
que envolviam o Estado, as empresas estatais, o capital privado nacional e o
estrangeiro (ARAÚJO JR, 2003, p. 52).
A respeito do papel do Estado nessa fase do processo industrial
brasileiro, Fresca (1990, p.85) destaca que [...] um maciço bloco de investimentos
levados a efeito no período 1956-1961, com a ão decisiva do Estado, daria
condições para que este, intervindo na esfera produtiva, implantasse os setores de
base da indústria nacional”. E no que tange o capital internacional, a referida autora
coloca que, a partir de 1950, o investimento das grandes corporações estrangeiras
em vários setores de produção (automobilístico, máquinas e equipamentos, etc)
contribuiu de forma significativa para a implantação do setor de bens de capital no
Brasil.
Nesse período que engloba a fase “b” do Kondratieff e a fase
“a”do Kondratieff tanto a “[...] política macroeconômica quanto à de
desenvolvimento industrial eram compatíveis e seguiam um curso complementar,
dentro de uma mesma política industrial e desenvolvimentista para o país” (ARAÚJO
JR, 2003, p.53).
77
Paralelamente a esse desenvolvimento do processo industrial
brasileiro, implantavam-se as condições para uma efetiva transformação da estrutura
produtiva no campo, a fim de oferecer os elementos importantes que atenderiam as
novas exigências da etapa em que se encontrava o sistema produtivo nacional. Isso
porque essa sociedade urbano-industrial demandou mudanças nas relações sócio-
econômicas, que por seguinte acabaram refletindo no campo.
Essas transformações no campo passaram a ocorrer no contexto
nacional, no período pós 1955, quando o parque industrial nacional passou a ofertar
indústrias pesadas e de bens industriais para a agricultura. Dentre essas
transformações na agropecuária pode-se destacar o uso do solo, a composição da
mão-de-obra, a intensificação do processo migratório rural-urbano, o volume da
produção, os financiamentos e o emprego da técnica e maquinários (FRESCA,
1990).
Na escala regional norte-paranaense, essas transformações se
processaram de forma efetiva a partir do final da década de 1960 mediante a “[...]
desestruturação de uma produção propriamente dita ligada ao café, neros
alimentícios e matérias-primas para comercialização [...] e à implantação de uma
outra produção ligada ao binômio soja-trigo, agroindústrias sucro-alcooleiros e
pastagens” (FRESCA, 2005, p.5562).
Nesse contexto de substituição principalmente do café por culturas
temporárias e pela pastagem, iniciaremos nossa análise a partir da década de 1960,
destacando a implementação de uma política cafeeira a nível nacional que contribuiu
significativamente para a redução da área dos cafezais a partir do início da década
de 1960. Dentre os instrumentos utilizados para a diminuição da área plantada de
café, destaca-se a atuação do Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura
(GERCA) criado em 1961, responsável pela execução do Programa de
Racionalização da Cafeicultura Brasileira, financiados pelo Instituto Brasileiro do
Café (IBC) que foi desenvolvido em duas fases. A primeira fase de execução do
Programa de Erradicação de Cafezais Anti-econômicos foi de 1962 a 1966, período
que o produtor recebia uma indenização que equivalia aproximadamente 80% do
valor da produção, tinha o direito de escolher a cultura que ocuparia a área, não
78
eram feitas exigências agronômicas para as culturas temporárias e os produtores
passaram a ter acesso a recursos financiados pelo Banco do Brasil, sendo que para
as culturas temporárias o financiamento básico dessa agência bancária foi acrescido
em 50%, sendo 10% para aquisição de sementes selecionadas, 20% para práticas
de conservação do solo e 20% para a utilização de fertilizantes e defensivos
agrícolas (CARVALHO, 1991).
Na segunda fase iniciada em agosto de 1966, o Programa de
Erradicação passou por modificações, dentre as quais destacamos a ampliação do
valor da indenização por cafeeiro eliminado, sendo esse valor diferenciado entre as
regiões. A cultura substitutiva deixou de ser da escolha do produtor, tendo que ser
autorizada pelo Instituto Brasileiro de Café (IBC), assim como as técnicas de destoca
do terreno, aração, gradeação começaram a ser exigidas e o financiamento passou
a ser liberado apenas após dois anos de cultivo, sendo esse direcionado para a
formação e custeio da lavoura. Outra mudança diz respeito à execução do
programa, foi dividida entre o Banco do Brasil, bancos estaduais e privados, tendo a
partir de então vários agentes financeiros e a atuação dos avaliadores, que
passaram a emitir laudos para os financiamentos dos bancos, exceto para o Banco
do Brasil (CARVALHO, 1991).
Quando foi implantado em 1962, esse Programa de Erradicação do
café previa a eliminação de 2 bilhões de cafeeiros. Até julho de 1966 tinham sido
eliminados cerca de 723,5 milhões de cafeeiros. Segundo GERCA, essa meta
estabelecida no início da implantação do Projeto de Erradicação foi alcançada em
1967, com a geada
23
que ocorreu no Paraná em junho do referido ano, danificando
aproximadamente 500 milhões de cafeeiros. Ou seja, somando-se os pés eliminados
na primeira e segunda fase de desenvolvimento do Projeto de Erradicação
24
cerca
de 1,5 bilhões de cafeeiros aos 500 mil cafeeiros comprometidos pela geada,
chegou ao total de 2 bilhões (CARVALHO, 1999).
23
Essa geada de junho de 1967 superpôs-se aos efeitos das geadas de 1963 e 1966 (CARVALHO,
1991, p. 74).
24
Segundo Carvalho (1991, p. 74), os resultados da segunda fase do Programa de Erradicação
(agosto de 1966 a 1969) foram prejudicados pelas fraudes ocorridas.
79
Na década de 1960, essas áreas liberadas com a erradicação do
café, numa escala nacional foram sendo ocupadas principalmente por pastagem. A
partir de 1962, período da primeira etapa de desenvolvimento do Projeto de
Erradicação, a reocupação das áreas por pastagem foi maior do que por outras
culturas, tendo em vista que a pastagem foi ampliada de 39,3% em 1962 para 46,5%
em 1963, decrescendo para pouco mais de 44% nos dois anos seguintes. As
culturas temporárias como arroz, milho, algodão entre outras, nos anos destacados
ocuparam uma área menor. Em relação ao estado do Paraná, a pastagem também
destacou-se na reocupação da área liberada pelo café entre 1962 e 1966,
perfazendo uma média de 40,4%, seguida pelo milho 11,1%, pelo algodão 16,0% e
pelo feijão 4,8%. No caso da porção norte-paranaense, a expansão da pastagem na
área liberada pela erradicação do café no referido período, foi de 23,5% no Norte
velho, 41,2 no Norte novo% e 44,7% no Norte novíssimo (CARVALHO, 1991).
Em relação às culturas temporárias, verifica-se que a expansão
significativa da cultura de soja e trigo ocorreu a partir do início da década de 1970.
Segundo Moro (1980), a cafeicultura que até 1968 era praticada numa área de
1.187.532 ha no Estado do Paraná, foi reduzida para 698.241 ha em 1977. Tendo
como recorte espacial de análise apenas o Norte do Paraná, o uso do solo na
década de 1970 sofreu as seguintes modificações: o café e o algodão que em 1970
eram cultivados em 900.704 ha e 275.696 ha, em 1975 passaram a ocupar uma
área reduzida, cerca de 807.463 ha para o café e 188.373 ha para o algodão. Houve
assim, uma redução significativa dessas culturas no curto período de cinco anos, ao
passo que outras culturas como a soja e o trigo foram ganhando espaço nesse
mesmo intervalo de tempo, ou seja, se em 1970 a área ocupada por essas culturas
era respectivamente de 122.394 ha e 52.483 há, em 1975 foi ampliada para 413.410
ha e 221.140 ha, ampliação essa significativa num curto intervalo de tempo, cerca de
237,77% para a soja e 76,275% para o trigo (MORO, 1980, p.49).
A expansão dessas lavouras implicou na difusão da modernização
técnica, fator que resultou em “[...] efeitos positivos para a produtividade da terra e
do trabalho, no qual os produtos gerados pela indústria especializada passaram a
dar maior autonomia à agricultura em relação aos recursos naturais” (FRESCA,
80
1990, p.88), o que elevou a produção agrícola seja das culturas voltadas para o
mercado externo, seja daquelas direcionadas ao interno.
Em meio a essas transformações no campo brasileiro, chamamos a
atenção mais uma vez para o papel do Estado em relação às linhas de créditos para
o produtor. Segundo Graziano da Silva (1999), diante da adoção de técnicas
modernas no campo, o sistema de crédito passou a ser fundamental para o
financiamento dos maquinários e insumos necessários. No entanto, a forma como foi
gerido o Crédito Rural por parte do Estado, acabou beneficiando muito mais os
grandes e médios proprietários que os pequenos, que acabaram à margem desse
processo em virtude das exigências dos contratos de financiamentos. Ainda a
respeito desse sistema de financiamento, segundo Oliveira (1981, p.12), é pertinente
colocar que dentre todo o empréstimo liberado pelo Banco do Brasil, em torno de
70% acaba sendo direcionado para o consumo de produtos industriais, ressaltando
que desse montante “[...] em média 15% do empréstimo tomado ao Banco do Brasil
tem necessariamente que ser gasto em adubo”. Assim o maior beneficiado é o
industrial, pois ao cobrar juros menores que os demais para a agricultura, o Estado
(via Banco do Brasil) acaba por financiar e viabilizar a produção industrial.
Além do sistema de financiamento, o Estado atuou na
[...] geração de tecnologia, ao fortalecer o sistema nacional de
pesquisas agropecuárias através da Empresa Brasileira de
Pesquisas Agropecuárias (EMBRAPA) e na difusão de tecnologia,
através da extensão rural. O Estado contribuiu ainda para a
transformação das relações sociais de trabalho através de medidas
como as leis trabalhistas estendidas aos trabalhadores rurais e à
criação do FUNRURAL integrado ao sistema INPS/INAMPS que
contribuíram para as transformações do trabalhador permanente em
trabalhador temporário. (FRESCA, 1990, p. 90)
Diante da expansão da tecnificação e quimificação da agricultura,
que se evidenciar, segundo Fresca (1990), a modernização dos complexos
agroindustriais preexistentes, que passaram a exercer um domínio maior sobre as
atividades realizadas no campo a partir do momento que começaram a fornecer
bens e insumos (indústria para a agricultura) e a processar as matérias-primas de
81
origem agrícola (indústria da agricultura), tudo isso por setores industriais de porte
oligopólico.
Em relação à mão-de-obra, pode-se afirmar que houve uma
alteração drástica nas relações de trabalho, ou seja, com a essa expansão do
capitalismo no campo ocorreram de maneira combinada a expulsão de lavradores
autônomos cuja existência está baseada estritamente no seu trabalho e no de sua
família e a transformação desses mesmos trabalhadores em proletários rurais
(MARTINS, 1983). Essa combinação disseminou no cenário brasileiro, o assalariado
temporário (bóia-fria), que passou a viver na área urbana e nos períodos de
demanda de força de trabalho é absorvido pelo próprio sistema produtivo agrário
25
(D’INCAO, 1984).
No entanto, é importante ressaltar que todas essas mudanças no
campo ocorreram sem alterações na estrutura fundiária. Segundo Fresca (1990,
p.90) “[...] mais do que nunca a terra foi equivalente financeiro o que reforçou a
especulação fundiária e a concentração de uso e propriedade da mesma”. Em
outras palavras, o acesso as técnicas e procedimentos necessários para as culturas
mecanizadas não foi estendido a todos os proprietários rurais, em função disso os
grandes foram incorporando terras, haja vista que uma parcela significativa de
pequenos proprietários diante da impossibilidade financeira de cultivar, acabaram
procedendo a venda de suas terras.
Essas alterações ocorridas na agropecuária seja na estrutura
dimensional seja no uso do solo, na produção agrícola e nas relações sociais de
trabalho, resultaram em profundas mudanças no campo, na dinâmica populacional,
nas atividades comerciais e prestadoras de serviços e nas interações espaciais
estabelecidas por Jaguapitã-PR após a década de 1960.
25
Segundo Graziano da Silva (1981), existem três tipos de bóias-frias: os permanentes que
trabalham o ano todo, os eventuais ou esporádicos que trabalham em diferentes propriedades em
épocas descontínuas e os temporários que trabalham geralmente nos períodos de safras e acabam
por isso, apresentando uma alternância sazonal entre empregos rurais e urbanos.
82
3.2.1 – Atividades agropecuárias
No que diz respeito à agropecuária no município de Jaguapitã-PR, a
incidência dos processos gerais via modernização da agricultura após 1970,
produziu uma série de transformações resultando em alterações na propriedade da
terra, nos produtos cultivados, no uso da terra, nas relações sociais de trabalho no
campo, etc.
A primeira das alterações refere-se à estrutura dimensional dos
estabelecimentos rurais, que no período entre 1970 e 2000, apresentou uma
crescente concentração da terra. Na tabela 07 fica evidente que nas décadas de
1970 e 1980 dentre os pequenos estabelecimentos com até 49 hectares, houve uma
redução drástica de aproximadamente 62, 97% em seu número e de 65,05% em sua
área. Ou seja, se em 1970 estes perfaziam um total numérico de 875 e ocupavam
uma área de 18.901 ha, na década seguinte essa classe de estabelecimentos
contava com 324 e englobava 6.465 ha. Redução essa que não ocorreu nos
estabelecimentos das outras classes apresentadas. Aqueles com área entre 50 e
menos de 100 ha que representavam em 1970, 0,16% do total de estabelecimentos
e 8,18% em termos de área, passaram respectivamente a corresponder a 15,07% e
10.35% na década de 1980.
Tabela 07: Estrutura Dimensional dos Estabelecimentos de Jaguapitã-PR: 1970,
1980 e 1995/1996.
1970 1980 1995/1996
Grupos de área (ha)
estab. área(ha)
estab. área(ha) estab. área(ha)
até 49 ha 875
18.901
324
6.465
288
5.111
50 a menos de 100 ha 64
4.330
74
5.258
61
4.221
100 a menos de 500 ha 67
13.822
81
19.124
98
21.515
acima de 500 ha. 9
15.909
12
19.970
16
17.084
total 1.015
52.909
491
50.817
463
47.931
Fonte: Censo Agropecuário, IBGE, 1970 e 1980. www.sidra.ibge.gov.br, 1995/1996.
Org. : Léia Aparecida Veiga
Nos médios estabelecimentos aqueles com área entre 100 e menos
de 500 ha, também houve crescimento em termos de número e de área,
aumentando respectivamente de 6,60% e 26,10% em 1970, para 16,50% e 37,63%
na década de 1980. O mesmo correu com os grandes estabelecimentos, ou seja,
com aqueles cuja área é superior a 500 ha, que entre as referidas décadas em
83
relação à quantidade numérica e à área ocupada cresceram de 0,89% e 30,03%
para 2,45% e 39,30% respectivamente. Esses percentuais evidenciam que dentre os
grupos de estabelecimentos que apresentaram crescimento, os médios foram os que
tiveram maior ampliação tanto no número como na área ocupada. Outro aspecto
significativo referente à concentração de terras na década de 1970, é evidenciado
pela área ocupada pelos estabelecimentos acima de 500 ha, onde apenas 09
propriedades detinham cerca de 30,03% da área total de estabelecimentos rurais
municipal.
Levando em consideração que o município apresentava desde a
década de 1950 uma tendência à concentração de terras, época essa que 24
estabelecimentos rurais detinham 27,63% das terras de uso agropecuário, pode-se
dizer que essa concentração verificada após 1970 o ocorreu essencialmente a
partir das transformações na agropecuária, o que houve foi uma intensificação desse
processo com a mecanização da lavoura.
Processo esse de concentração de terras que teve continuidade no
decorrer da década de 1990, com a redução da área ocupada pelos pequenos
estabelecimentos, aqueles com área até 100 ha que passaram a ocupar 19% da
área total, seguido pela ampliação tanto no número como na área dos médios
estabelecimentos rurais, que perfaziam 21% e ocupavam 45% da área total. Nos
estabelecimentos acima de 500 ha apesar de ter ocorrido um incremento em termos
numéricos, houve uma redução na área ocupada que passou a ser de 35,64%.
Ao compararmos os dados referentes à estrutura dimensional,
verificamos que no transcorrer das décadas evidenciadas, ou seja, 1970, 1980 e
1990, houve uma redução no número de estabelecimentos rurais, que de 1.015
passou para 491 e 463 respectivamente. Esta redução foi acompanhada pela da
área total que passou de 52.962 ha em 1970 para 50.817 ha e 47.931 ha nas
décadas seguintes.
Inicialmente, antes de procedermos com a análise dos dados sobre
o uso da terra a partir da década de 1970, se faz necessário retomar alguns dados já
trabalhados anteriormente, a fim de correlacionarmos as transformações ocorridas
na década de 1960 com 1970, por entendermos que a referida década nos fornece
84
elementos essenciais para a compreensão da redução da área de lavouras
permanentes em Jaguapitã-PR. Assim, ao analisarmos os dados da tabela 08,
percebemos que no transcorrer de uma cada (1960-1970), paralelo à redução da
área de lavouras permanentes que tinha o café como principal produto, ocorreu a
ampliação da área de pastagem. A lavoura permanente que em 1960 ocupava uma
área maior que as demais com 44,53% passou em 1970 a ocupar apenas 21,72%,
a pastagem cresceu de 35,50% em 1960, para aproximadamente 59,33% na
década seguinte. As lavouras temporárias também apresentaram crescimento no
período destacado. Em virtude do que foi discutido anteriormente, numa escala
local atribuímos essa alteração no uso do solo ao Projeto de Erradicação do café
desenvolvido pelo GERCA na década de 1960, que contribuiu para a redução da
área cafeeira em Jaguapitã-PR e na reocupação dessa área liberada pela pastagem,
principalmente na sua segunda fase de desenvolvimento após agosto de 1966,
quando dentre outras alterações “[...] permitia-se aos lavradores a diversificação de
suas áreas com pastagem” (CARVALHO, 1991, p. 74).
Tabela 08: Uso da Terra em Jaguapitã-PR: 1960 e 1970.
1960 1970
Atividade
área (ha) % ha %
lavoura temporária 2.696
5,80
10.425
22,20
lavoura permanente 21.377
45,92
4.629
9,85
pastagem 16.524
35,50
27.863
59,33
florestas 4.354
9,35
2.335
4,98
terras incultas 1.600
3,43
779
1,65
total 46.551
100
46.962
98,01
Fonte: Censo Agrícola, IBGE, 1960 e 1970.
Org. : Léia Aparecida Veiga
A partir da década de 1970, na medida que a área de lavouras
permanentes foi sendo reduzida, aquelas destinadas as pastagens foram ampliadas
significativamente, ocupando cerca 60,36% em 1980 e 63,29% em 1995/1996 de
área. As culturas temporárias que em 1970 ocupavam uma área menor que a
destinada a cafeicultura, passaram em 1980 a ser praticadas em 16,82% da área
agricultável, ultrapassando assim a área ocupada pela cultura permanente, que era
praticada em 12,35% no referido ano, conforme a tabela 09.
Em relação à cultura permanente, no caso da cafeicultura os dados
apresentados na tabela 10 evidenciam que houve na década de 1970 e 1980 uma
85
redução na área ocupada de 14.91%. O mesmo não ocorreu com a produção que
aumentou de 1.872 para 2.863 toneladas em 1980, como resultado de uso de
técnicas e insumos agrícolas que não eram utilizadas nas décadas anteriores.
Tabela 09: Uso da Terra em Jaguapitã-PR: 1970, 1980 e 1995/1996.
1970 1980 1995/1996
Atividade
ha % ha % ha %
lavoura permanente 10.425
22,20
6.281
12,35
1.212
2,53
lavoura temporária 4.629
9,85
8.553
16,82
11.074
23,11
pastagem 27.863
59,33
30.681
60,36
30.334
63,29
florestas 2.335
4,98
2.481
4,88
3.075
6,41
terras produtivas não
utilizadas
779
1,65
1.606
3,16
900
1,88
terras produtivas
inaprovetáveis
------ ------- ------- ------- 1.336
2,78
total 46.962
98,01
50.822
97,57
47.933
100
Fonte: Censo Agrícola, IBGE, 1970 e 1980. www.sidra.ibge.gov.br, 1995/1996
Org. : Léia Aparecida Veiga
A partir de 1990, a área ocupada pela cafeicultura continuou a
diminuir, seguida a partir de então por uma queda crescente na produção nos anos
seguintes. Ao compararmos a área ocupada e a quantidade colhida de café nas
décadas de 1980 e 1990, percebemos que houve uma queda na área e na produção
de 69,94% e 85,09% respectivamente. Ressaltando que essa queda foi crescente no
decorrer da primeira metade de década de 1990, quando em 1995 a cafeicultura
atingiu apenas 24 toneladas numa área de 783 hectares. A partir de então, tanto a
área ocupada como a quantidade colhida voltaram a crescer, ocupando em 2.000
uma área de 908 ha e produção de 3.160 toneladas, conforme a tabela 10. Assinala-
se aqui a adoção após 1990 do sistema adensado de plantio de café por uma
pequena parcela de agricultores. Sistema esse que consiste em uma maior
aproximação dos cafeeiros para melhor aproveitamento da área destinada ao cultivo.
Enquanto no sistema convencional um hectare chega a possuir até 3.000 pés de
café, no plantio adensado esse número pode variar entre 5.000 a 10.000 cafeeiros
por hectare.
A respeito dos gêneros alimentícios, os dados da tabela 10
demonstram que o arroz e o feijão tiveram entre 1970 e 2000 uma redução drástica
na área ocupada e no volume de produção respectivamente de 94,82% e 77,41%
para o arroz e 93,46% e 86,30 para o cultivo do feijão. O milho por sua vez
86
Tabela 10: Principais Produtos Agrícolas Cultivados no Município de Jaguapitã-PR: 1970, 1980, 1990, 1995 e 2000.
1970 1980 1990 1995 2000
Principais culturas
quant. (t)
área(ha)
quant.(t)
área(ha)
quant.(t)
área(ha)
quant.(t) área(ha)
quant.(t)
área(ha)
Café 1.872
5.508
2.863
4.687
2.436
3.278
24
783
3.160
908
Algodão 1.009
1.290
3.257
1.853
5.708
3.406
1.298
850
------
-------
Laranja 10*
0
6*
0
-------
--------
--------
--------
13.044*
107
Soja 19
19
4.750
2.365
5.205
3.000
6.913
3.100
9.306
4.700
Amendoim 124
140
139
171
------
-------
------
-------
04
03
Arroz 779
1.447
428
354
343
186
480
180
176
75
Cana-de-açúcar 207
7
796
24
84.420
1.043
184.222
2.565
223.646
3.176
Trigo 105
162
1.443
1.543
4.350
2.500
2.232
1.200
398
1.088
Feijão 124
382
68
169
118
260
31
80
17
25
Milho 4.470
3.312
8.599
3.896
10.656
3.325
14.490
3.500
6.602
3.371
* Mil frutos.
Fonte: Censo Agropecuário, IBGE, 1970 e 1980. www.sidra.ibge.gov.br, 1990,1995, 2000.
Org. : Léia Aparecida Veiga
87
apresentou crescimento positivo em produção e área ocupada entre 1970-1980; em
1990 teve discreta redução de área ocupada mas com acréscimo na produção,
atingindo em 2000, praticamente a mesma área que ocupava em 1990 e
apresentando decréscimo em sua produção. Fato esse que possivelmente esteve
vinculado aos baixos preços do produto no mercado nacional. Ressalta-se que a
cultura do milho em relação ao volume de produção e área ocupada desde a década
de 1950, sempre teve lugar de destaque dentre os demais cultivos.
O algodão teve a área ocupada e o volume de produção ampliados
em 164,03% e 465,70% respectivamente no período de 1970 a 1990, apresentando
a partir de então forte redução, ao ponto de praticamente desaparecer na safra de
2000 de acordo com os dados da tabela 10.
Dentre as lavouras temporárias que foram expandidas após 1970, os
destaques são para a soja e o trigo. No período de 1970 e 1980, o trigo e a soja
embora ainda não tivessem assumido o patamar de principais culturas, tiveram um
crescimento vertiginoso, tanto na área como na quantidade. O trigo que desde a
década de 1970 vinha apresentando um crescimento significativo, passou a ter
decréscimo em sua área ocupada e produção a partir de 1995, e continuada em
2000, muito vinculada às intempéries, mas acima de tudo à forte oscilação em seu
preço no mercado interno, onde o governo federal não manteve uma política efetiva
de preço mínimo.
A cultura da soja se manteve em expansão desde a década de
1970, ocupando em 2000, área de 4.700 ha e produção de 9.306 toneladas.
Observe-se que a soja e o trigo correspondem a um binômio, isto é, a primeira safra
é de soja, seguida pela de trigo. Contudo, os diversos problemas ligados aos preços,
implicaram na redução do trigo, que foi substituído pela cultura do milho “safrinha”.
No entanto, a partir de 2003 em função da dinâmica mundial de comercialização da
soja articulada à taxa de câmbio no Brasil e a desvalorização do real mediante o
dólar, houve a queda dos preços da soja, fator esse que resultou em 2004 na
interrupção de um crescimento que vinha ocorrendo desde 1970, ao ocorrer em
termos de quantidade colhida uma redução de 7,48% entre 2004 e 2005
(www.sidra.ibge.gov.br).
88
A cana-de-açúcar é outra cultura que apresentou crescimento
positivo tanto na área ocupada como na produção a partir da década de 1970,
alcançando no ano de 2000 a produção de 223.646 toneladas e ocupando a área de
3.176 ha. Esse incremento na produção e área nas últimas décadas, foi motivado
por uma série de fatores como a relação entre oferta, demanda e preço do álcool no
mercado interno e externo, principalmente com o aumento dos carros bi-
combustíveis; a elevação do preço do petróleo; a competitividade do preço do
açúcar brasileiro no mercado externo, etc.
Tabela 11: Produção Pecuária nos Estabelecimentos Rurais de Jaguapitã-PR: 1970,
1980, 1990, 1995 e 2000.
Número de cabeças
Atividade criatória
1970 1980 1990 1995 2000
bovinos 32.189
42.945
38.061
44.949
45.122
eqüinos/asininos/muares 1.928
1.576
543
620
1.344
ovinos 1.038
1.652
250
1.450
952
caprinos 383
268
140
140
15
suínos 10.575
4.464
2.700
3.430
4.566
aves * 45.590
185.636
-----------
-----------
-------------
galinhas -----------
------------
14.500
48.920
117.339
galos, frangos e pintos -----------
------------
108.000
466.130
737.208
* Dentre as aves destacavam-se galinhas, patos, marrecos, gansos e perus.
Fonte: Censo Agropecuário, IBGE, 1970 e 1980. www.sidra.ibge.gov.br, 1995, 1996 e 2000.
Org. : Léia Aparecida Veiga
Em relação à criação de animais, os dados da tabela 11 acima
evidenciam que a pecuária bovina tornou-se uma atividade importante para a
economia local, tendo em vista que houve um efetivo aumento do rebanho bovino,
passando de 32.189 cabeças em 1970 para 45.122 reses em 2000, um incremento
de 40,18% no decorrer dessas décadas. Criação essa que destinava-se para o corte
e fornecimento de leite. Embora a produção de leite seja uma importante fonte de
renda principalmente nos estabelecimentos pequenos e tenha tido no período de
1990 a 2000 um incremento em sua produção, ao analisarmos os dados da tabela
12 constatamos que o efetivo de vacas ordenhadas passou por um decréscimo de
3,73% no período de 1990 a 2000, enquanto a criação de gado bovino para o corte a
foi superior, conforme a tabela 11.
89
Tabela 12: Efetivo de Vacas Ordenhadas e Produção de Leite em Jaguapitã-PR:
1990 a 2000.
Anos 1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
vacas ordenhadas (cabeças) 4100
3428
3418
3974
4134
4232
3611
3843
3876
3884
3974
leite (Mil litros) 3152
3065
3383
4291
4466
4570
5894
6276
6498
6500
6591
Fonte: www.sidra.ibge.gov.br, 1990 a 2000.
Org.: Léia Aparecida Veiga
Em relação às demais atividades criatórias, os números expressos
na tabela 11 evidenciam que houve um decréscimo no número de cabeças do
eqüinos, asininos, muares, ovinos, caprinos e suínos de 1970 para 2000, embora
tenha havido entre uma década e outra uma oscilação, ora tendendo a aumentar ora
a reduzir o número de cabeças, excetuando-se os caprinos. Ressalta-se aqui a
criação de suínos que em 1950 apresentava um efetivo de 50.169 cabeças e
figurava como uma importante atividade criatória, teve um decréscimo de 90,89%
para o ano de 2000, sendo agora em grande parte apenas um complemento da
renda familiar para os pequenos produtores.
Ainda em relação à atividade criatória é notório o aumento
significativo da criação de aves, que passou de 45.590 cabeças em 1970 para um
total de 854.607 cabeças em 2000, incremento de 1.774,55% no decorrer desse
período. A fim de compreendermos melhor essa atividade, vamos analisar os dados
separadamente. Assim no primeiro grupo temos as galinhas que de acordo com os
dados, apresentaram em 1990, 1995 e 2000 respectivamente um número em torno
de 14.500, 48.920 e 117.339 cabeças de aves, acréscimo de 709,23% entre 1990 e
2000. Parte significativa dessas aves é destinada à produção de ovos, que desde a
década de 1980 tem crescido no município, sendo a produção ampliada de 193 para
2.665 mil dúzias em 2000 (www.sidra.ibge.gov.br). Essa ampliação na criação de
galinhas e consequentemente na produção de ovos, está relacionada a atuação da
agroindústria avícola Big Frango
26
do município de Rolândia-PR, que acaba por
incentivar a produção para adquirir os ovos. Esses ovos são utilizados para a
26
A agroindústria avícola Big Frango localizada em Rolândia-PR, foi criada no final da década de
1960 e tornou-se a maior agroindústria avícola do Paraná. Em 2005, abatia aproximadamente 160 mil
aves/dia, abastecendo o mercado consumidor interno e externo, no caso China e Japão
(www.bigfrango.com.br).
90
reprodução de pintos que abastecem os aviários integrados dessa agroindústria. É
importante ressaltar que os aviários pertencentes a essa empresa avícola são
responsáveis pela geração de aproximadamente 80 empregos diretos.
O segundo grupo é o dos frangos, frangas, galos e pintos que
também apresentaram um crescimento vertiginoso a partir da década de 1990, cerca
de 582,6% de acréscimo no número de cabeças até 2000. Na década de 1980, esse
aumento se deve ao desenvolvimento do sistema integrado de criação de aves que
passou a ocorrer no campo a partir da ação da agroindústria de frangos instaladas
no município de Rolândia-PR (Big Frango), enquanto a partir da década de 1990
houve a instalação de duas agroindústrias no município de Jaguapitã-PR, e estas
passaram a ser as responsáveis pelo incremento na produção de aves.
As duas agroindústrias avícolas de Jaguapitã-PR, são a
Jaguafrangos e Avebom, ambas de iniciativa de agentes sociais locais, instaladas na
cidade na década de 1990. A instalação da primeira, a Jaguafrangos, ocorreu em
1992, tendo como proprietários membros da família Botazzari, que antes desse
período residiam no município de Guaraci-PR e atuavam como intermediários,
comprando frangos dos produtores locais e revendendo para agroindústrias avícolas
da região. Para a construção das primeiras instalações, o capital investido foi
oriundo de recursos familiares e de apoio da Prefeitura local (terreno, isenção fiscal).
A segunda agroindústria, a Avebom foi instalada em 1999, por iniciativa de três
industriais de mesas para bilhar e um proprietário rural, que se uniram em sociedade
com o intuito de investir recursos disponíveis a partir de suas atividades. Além disso,
os mesmos também receberam terreno e isenção fiscal da Prefeitura local (fotos 13
e 14).
91
Foto 13: Vista parcial da agroindústria Jaguafrangos, Jaguapitã-PR. Localizada na porção
norte da cidade, essa agroindústria fica numa área próxima ao córrego São José, além de
ter na circunvizinhança propriedades rurais e dois conjuntos habitacionais. O escoamento de
sua produção é viabilizado pela proximidade com a Pr 340 que corta o perímetro urbano
norte-sul sentido Rolândia-PR.
Fonte: A autora, 2005.
Foto 14: Vista parcial da agroindústria de frangos Avebom. Localizada no parque industrial
que foi construído no final da década de 1990 na porção sul da cidade de Jaguapitã-PR. O
escoamento da produção é viabilizado pela proximidade com a Pr 340 no sentido Rolândia-
PR.
Fonte: www.avebom.com.br / capturado 23/10/06.
Se em 2003 essas duas agroindústrias geravam empregos para
cerca de 535 pessoas (JAGUAPITÃ, 2003), em 2006 estima-se que as mesmas
foram responsáveis pela oferta de aproximadamente 1.100 empregos diretos, sendo
800 funcionários empregados na Jaguafrangos e aproximadamente 300 na Avebom.
Mão-de-obra essa que é composta por residentes na área urbana de Jaguapitã-PR e
trabalhadores de municípios vizinhos como Prado Ferreira-PR e Guaraci-PR, que
realizam a migração pendular. Essa oferta de emprego atraiu muitos migrantes para
92
a cidade o que refletiu na falta de moradias, alta no preço do aluguel, além da
dificuldade para encontrar um imóvel para alugar, segundo levantamentos de campo
em 2006.
Essas agroindústrias além dos empregos diretos, diante de sua
produção diária, geram empregos no campo, ao necessitarem de um número
considerável de matéria-prima, contribuindo assim para a expansão da avicultura
nas pequenas propriedades numa escala regional, tendo em vista que ambas
possuem integrados em municípios da rede urbana norte-paranaense.
A Jaguafrangos abatia em 2006 aproximadamente 75.000 aves/dia
por ter acesso a uma estrutura física e mercado consumidor mais amplo,
englobando não apenas o mercado brasileiro, mas também o Japão, Hong Kong,
Azerbaijão, Senegal e Rússia. a Avebom, ao contrário da outra, por escoar seus
produtos apenas no mercado nacional, principalmente na Região Norte, tem abatido
uma quantidade menor de frangos, cerca de 40.000 aves/dia. Ambas as
agroindústrias destinam essas aves à produção de frangos inteiros, diversos tipos de
cortes e ainda de produtos temperados, embutidos e miúdos de acordo com
levantamentos de campo em 2006.
Em relação à exportação, em janeiro de 2005 a Jaguafrangos
exportava cerca de 10% dos frangos abatidos, percentual esse que foi ampliado
para 65% em dezembro de 2005 (www.avisite.com.br). Em função das exigências do
mercado consumidor externo, os funcionários foram treinados para realizar cortes
diferenciados nos frangos, procurando assim atender as mais variadas preferências
dos consumidores dos países que importam tais produtos. Adequações também
foram realizadas na atividade criatória, mediante a intensificação do apoio técnico
junto aos produtores integrados e com a construção de aviários próprios, cerca de
15 (quinze) aviários que comportam aproximadamente 30.000 aves (CASARIL;
PINTO, 2005).
Os aviários da empresa são todos automatizados e climatizados,
construídos e equipados com um alto nível de tecnologia, sendo assim superior aos
93
dos integrados e por isso demandam pouca mão-de-obra, cerca de três famílias
moram na propriedade rural que pertence a Jaguafrangos e cuidam dos aviários
(CASARIL; PINTO, 2005). Adequações também foram feitas no transporte da carga
com aquisição de carretas frigoríficas mais amplas e com capacidade maior de
refrigeração, a fim de não comprometer o produto durante o transporte rodoviário até
o porto de Paranaguá-PR.
Ressalta-se aqui que a presença e atuação dessas agroindústrias na
área de estudo estão intimamente relacionadas às transformações que ocorreram na
agropecuária norte-paranaense desde o final da década de 1960. Mediante a ação
desses complexos agroindustriais “[...] a agricultura se transformou num ramo de
aplicação do capital em geral e, de modo particular, do capital industrial que lhe
vende insumos e compra as mercadorias produzidas” (GRAZIANO DA SILVA,
1998, p.04).
No contexto de crescente subordinação do campo ao capital
industrial, as agroindústrias avícolas passaram a atuar no sistema de integração com
produtor, onde a empresa integradora mediante contrato garante a “[...]
exclusividade na aquisição dos insumos por parte do produtor rural, ao padrão
tecnológico e manejo a ser posto em prática sob orientação e assistência técnica da
empresa, a exclusividade e garantia da produção agropecuária por parte da
empresa integradora” (SORJ, 1982, p. 41). Nesse sistema, ao pequeno produtor
integrado além da propriedade cabe o fornecimento da mão-de-obra e a
disponibilização do capital para construção e manutenção dos aviários.
Os produtores integrados são pequenos proprietários rurais com
experiência na agricultura ou com gado leiteiro, que passaram a se dedicar também
à avicultura, todos mantendo relação familiar de trabalho nos aviários (CASARIL;
PINTO, 2005). No caso da Jaguafrangos esses integrados estão concentrados em
Jaguapitã-PR e em 10 (dez) municípios próximos à cidade, enquanto os integrados
da agroindústria Avebom estão concentrados em 08 (oito) municípios. Verifica-se
que a distância média das propriedades integradas em relação ao abatedouro está
em torno de 30 Km da empresa, assinalando a preocupação do industrial em
94
minimizar os custos relacionados ao transporte da matéria-prima, bem como as
visitas dos técnicos às propriedades, entre outros, conforme o mapa 03.
De acordo com as duas agroindústrias, foram utilizados os seguintes
critérios para escolher os integrados: serem proprietários da terra, interesse pela
atividade, disponibilidade financeira e localização da propriedade com distância
máxima de 30 Km da unidade industrial.
Sobre o primeiro critério, principalmente em relação aos pequenos
proprietários, cabe ressaltar tanto no município de Jaguapitã-PR, como em outros
vizinhos o interesse em trabalhar com avicultura ocorreu a partir do início da década
de 1990, quando pequenos proprietários estavam desmotivados com a produção de
leite que era comercializado a R$: 0,13 o litro e com a produção agrícola era
comercializada por preços que não compensavam os custos de produção das
mesmas (CASARIL; PINTO, 2005). Diante dessa realidade pode-se dizer que a
existência da avicultura integrada depende de “[...] uma massa de produtores rurais
em condições sociais inferiores e aos quais o conjunto das condições sociais não
oferece alternativa melhor que a produção integrada” (SORJ, 1982, p.67).
No que diz respeito à disponibilidade financeira dos integrados,
destaca-se o papel do Estado, via financiamentos com juros baixos mediante
programas como o Programa Nacional Familiar (PRONAF), ao pequeno produtor,
que viabiliza o dinheiro necessário para a construção do aviário e a obtenção dos
equipamentos para aqueles que não dispõem de recursos próprios. Ressalta-se que
tal financiamento não possibilita a instalação de aviários modernos, por ser uma
quantia nima, que permite a construção de aviários modestos e a instalação de
equipamentos básicos. Também deve ser pontuado o papel do Instituto Paranaense
de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), que nos primeiros anos
desenvolveu trabalho junto a pequenos produtores, no sentido de esclarecer dúvidas
sobre a integração com agroindústrias (CASARIL; PINTO, 2005).
95
Mapa 03: Localização dos produtores integrados das agroindústrias avícolas Jaguafrangos e Avebom, em Jaguapitã-PR, 2006.
96
Ainda em relação aos integrados, a partir dos estudos realizados por
Casaril e Pinto (2005) fica evidente que as tarefas nos aviários dos integrados,
seguem o mesmo ritmo e cumprem as mesmas prescrições técnicas. É uma rotina
de muito serviço, onde a racionalização do uso de insumos, a forma e a distribuição
de todo trabalho estão na maioria das vezes fora do controle do produtor, por serem
determinadas pelo técnico da agroindústria, conforme quadro 01.
Observa-se no quadro 01 que essas prescrições técnicas englobam
também os procedimentos que devem ser seguidos pelos integrados no caso de
aves mortas, as quais devem ser colocadas num local próprio, denominado casa de
compostagem. Feito isso, o produtor deve proceder com a borrifação de formol e
jogar palha “cama de frango” sobre as mesmas (CASARIL; PINTO, 2005).
Segundo Casaril e Pinto (2005), dentre as atividades realizadas no
período da limpeza do aviário, o que gerava mais desgaste para o integrado era a
retirada da palha e a limpeza do chão. A palha chamada popularmente de “cama de
frango” era embalada em sacos para ser vendida a pecuaristas ou para agricultores
que a usavam como adubo nas plantações. Com esse dinheiro o integrado
conseguia até 2003 comprar a nova palha e ainda pagar a energia consumida nos
aviários, o que o foi mais possível após 2005. Com a ampliação do número de
integrados, o preço da “cama de frango”, diminuiu e os integrados estavam
conseguindo apenas repor a nova palha com o dinheiro da venda da “cama de
frango” da safra anterior.
Em relação ao dia de entrega da safra para a empresa, todo o
“apanhe” é feito por funcionários da agroindústria designados para essa função,
cabendo ao integrado apenas estar presente nesse dia. Assim, não é necessário
trocar serviço com outros integrados e nem pagar pessoas para esse serviço. Com
essa prática a empresa passa a garantir mais qualidade do produto, evitando
possíveis focos de doenças e lesões nas aves (CASARIL; PINTO, 2005).
97
1ª semana 2ª semana 3ª semana 4ª semana 5ª semana 6ª semana Limpeza do
aviário
Limpeza do
aviário
* Por a ração de
manhã (ração pré)
* Por a ração de
manhã (ração F1)
* Por a ração de
manhã (ração F1)
* Por a ração de
manhã (ração F2)
* Por a ração de
manhã (ração F2)
* Por a ração de
manhã (ração F3)
*Ensacar a cama
de frango
* Forrar o aviário
com a palha nova.
*Lavar o
bebedouro infantil
três vezes ao dia.
* Lavar o
bebedouro todas
as manhãs.
* Lavar o
bebedouro todas
as manhãs.
* Lavar o
bebedouro todas
as manhãs.
* Lavar o
bebedouro todas
as manhãs.
* Lavar o
bebedouro todas
as manhãs.
*Lavar todo o
aviário
* Borrifar formol e
pulverizar com
cobre.
* Controlar a
cortina (de acordo
com a
temperatura)
* Controlar a
cortina (de acordo
com a
temperatura)
* Controlar a
cortina (de acordo
com a
temperatura)
* Controlar a
cortina (de acordo
com a
temperatura)
* Controlar a
cortina (de acordo
com a
temperatura)
* Controlar a
cortina (de acordo
com a
temperatura)
*Lavar os
bebedouros e os
comedouros.
* Verificar se a
ração e a água
estão organizadas.
* Mexer a cama de
frango (a
freqüência varia de
acordo com a
umidade)
* Mexer a cama de
frango (a
freqüência varia de
acordo com a
umidade)
* Mexer a cama de
frango (a
freqüência varia de
acordo com a
umidade)
* Mexer a cama de
frango (a
freqüência varia de
acordo com a
umidade)
*Passar a cal no
chão.
* Proceder com a
limpeza em volta
do aviário
(capinagem e
retirada de
entulhos e
sujeiras).
* Retirar as aves
mortas. *Vacinar
os pintos.
* Retirar as aves
mortas.
* Retirar as aves
mortas.
*Vacinar os
franguinhos.
*Retirar as aves
mortas.
* Retirar as aves
mortas.
* Retirar as aves
mortas.
* Além do trabalho
diário, é
necessário
levantar no mínimo
quatro vezes por
noite,
para verificar a
temperatura que
deve estar em
torno de 32º.
* Além do trabalho
diário, é
necessário
levantar no mínimo
quatro vezes por
noite, para verificar
a temperatura que
deve estar em
torno de 29º.
* O trabalho é
mais durante o dia,
no período noturno
torna-se
esporádico. A
temperatura deve
estar em torno de
26º.
* O trabalho é
mais durante o dia,
no período noturno
torna-se
esporádico. A
temperatura deve
estar em torno de
23º.
* O trabalho é
mais durante o dia,
no período noturno
torna-se
esporádico. A
temperatura deve
estar em torno de
20º.
* O trabalho é
mais durante o dia,
no período noturno
torna-se
esporádico. A
temperatura deve
estar em torno de
20º.
* Estar presente
no apanhe” dos
frangos no final da
safra.
Quadro 01: Cronograma das Tarefas em Aviários dos Integrados da Jaguafrangos por Safra de Frangos (6 semanas) + 2 Semanas para
Limpeza, em Jaguapitã-PR: 2005.
Fonte: CASARIL; PINTO, 2005.
98
A tecnologia utilizada nos aviários da maioria dos pequenos
produtores em função da situação financeira é a mínima possível, como o forro
27
, o
sistema de aquecimento à lenha que controla a temperatura automaticamente, 450
comedouros, 250 bebedouros, 16 ventiladores, 1 imunizador (para borrifar água em
dias quentes), isso num aviário de 1.200 m
2
com 16.000 pintos (fotos 15 e 16).
Foto 15: Vista parcial do exterior de um aviário de frangos, em Jaguapitã-PR, 2005. Em
destaque as árvores ao fundo, plantadas com o objetivo de fornecer sombra, proteger o
aviário de ventos fortes e evitar erosão nas proximidades do mesmo. A capina realizada ao
redor segue as prescrições do técnico da agroindústria.
Fonte: A autora, 2005.
27
No aviário esse forro abaixo do telhado é feito com uma lona amarela, que contribui para a
manutenção da temperatura ideal.
99
Foto 16: Vista parcial do interior de um avrio de frangos, em Jaguapitã-PR, 2005. Em
destaque os equipamentos utilizados pela maioria dos pequenos produtores. Os frangos
nesse aviário estavam com 35 dias e seriam encaminhados para o abate assim que
completassem 45 dias.
Fonte: A autora, 2005.
Por último destacamos as relações de trabalho no campo, que em
virtude da ação do Plano de Erradicação dos Cafeeiros Anti-econômicos, da
expansão das pastagens e de culturas mecanizadas já abordadas anteriormente,
também foram modificadas a partir do final da década de 1960 em Jaguapitã-PR.
Não podemos deixar de salientar o Estatuto do Trabalhador Rural, que acabou
estendendo as garantias trabalhistas ao campo a partir de 1963. Segundo Carvalho
(2002, p.65)
Muito citada pelos grandes, e mesmo entre os pequenos, a
implantação do Estatuto do Trabalhador Rural, também
desempenhou um papel de destaque no bojo do processo de
erradicação da década de 1960 promovida pelo IBC. Alegando não
ter lucros suficientes com a cafeicultura para cumprir os direitos
trabalhistas garantidos ao trabalhador rural, os grandes proprietários
desarticularam o colonato, que raramente obedeciam ao
cumprimento das leis trabalhistas [...]
De acordo com Carvalho (1991), o parceiro e o ocupante por
estabelecimento, passaram de 30,15% e 14,88% em 1970 respectivamente para
100
4,07% e 2,85% em 1980. Assim como houve o crescimento dos arrendatários de
1,28% em 1970 para 8,55% por estabelecimento em 1980. Tendência essa que foi
mantida no decorrer dos anos seguintes, com a parceria sendo reduzida em 1996 a
1,71%, o ocupante a 2,09% e o arrendatário que apresentou 8,90% em 1996.
Ressalta-se que o arrendatário se faz presente nas lavouras temporárias de
algodão, trigo e soja, principalmente após períodos de crises na agricultura,
tornando uma saída para o proprietário, que acaba por repassar os riscos de
prejuízos para o arrendatário.
Em relação ao parceiro e ocupante, percebe-se que paralelo à
erradicação do café houve a diminuição dessa categoria. Estes foram substituídos
paulatinamente pelos diaristas ou volante, que [...] era auxiliar na época de colheita
e que atualmente é quase a única encontrada no mercado de trabalho rural
(CARVALHO, 2002, p.65). Embora o levantamento estatístico sobre os diaristas em
Jaguapitã-PR, contemplado pelo IBGE 1995/1996 não quantifique o número total de
trabalhadores dessa categoria existentes, apresentando apenas os empregados
temporários contratados por meses de emprego
28
, conversas informais com
trabalhadores e proprietários residentes na cidade, nos dão indícios que os diaristas
são dominantes no processo produtivo nas grandes ou pequenas propriedades,
realizando as atividades nas lavouras temporárias que demandam mão-de-obra
como a cana-de-açúcar, na pecuária e nas lavouras permanentes, estando no caso
do café presente na preparação e na colheita do produto.
3.2.2 – Dinâmica populacional
As novas relações de produção introduzidas na agropecuária norte-
paranaense após a década de 1970, impuseram além das alterações no uso da terra
e na base técnica da agricultura, significativas mudanças na distribuição da
população. Isso porque paulatinamente à expansão das lavouras temporárias e das
28
Segundo o IBGE 1995/1996 de acordo com os 157 informantes, os empregados temporários por
meses de emprego perfaziam os seguintes números: Jan. 508, fev. 372, mar. 348, abr.482, maio 545,
jun. 639, jul. 786, ago. 392, set. 307, out. 273, nov. 253 dez. 319.
101
pastagens e a conseqüente incorporação de insumos químicos, sementes tratadas e
maquinários a lavoura, ocorreu a liberação da mão-de-obra permanente, o que
implicou num esvaziamento demográfico do campo no decorrer das décadas de
1970-2000. Assim, em Jaguapitã-PR como em outros municípios da rede ocorreram
significativas alterações na distribuição e evolução da população, principalmente
após a década de 1970.
Através da análise dos dados da tabela 13 verificamos que entre
1950-1960 em Jaguapitã-PR, logo após sua emancipação política, ocorreu redução
na população total, com decréscimo de 56, 34%. Essa taxa de crescimento negativo
está diretamente relacionada à emancipação política dos distritos que pertenciam ao
município
29
, fator esse que ocasionou a redução da população total que passou a
apresentar em 1960 cerca de 21.873 habitantes, assim como provocou decréscimo
da população urbana e rural, embora em termos percentuais a população urbana
apresentou um acréscimo de 7%, e um decréscimo da mesma ordem para a rural, o
que evidencia uma tendência de concentração da população na área urbana
neste período. Tendência essa que nas décadas seguintes intensificou-se, mediante
a desestruturação da produção cafeeira/gêneros alimentícios e a implantação das
culturas mecanizadas, resultando numa ampliação da migração rural-urbana. A
população total do referido município apresentou uma contínua redução entre 1960
e 1991, perfazendo em 1991 cerca de 10.559 habitantes.
Tabela 13: Evolução da População Total, Urbana e Rural em Jaguapitã-PR: 1950-
2000.
décadas pop. total pop. urbana % p. urbana pop. rural % p. rural
1950 38.821 6.243 16 32.578 84
1960 21.873 5.047 23 16.826 77
1970 16.710 4.429 27 12.281 73
1980 12.001 5.220 43 6.781 57
1991 10.559 7.457 70 3.102 30
2000 10.906 8.707 80 2.199 20
Fonte: Censo demográfico, IBGE, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000.
Org. Léia Aparecida Veiga
29
Centenário do Sul 1951, Lupionópolis 1951, Santo Inácio 1951, Colorado 1954 e Guaraci 1954.
102
Chamamos a atenção para o período compreendido entre 1960 e
1970, quando a população total é reduzida de 21.873 para 16.710 respectivamente.
De acordo com os dados expressos na tabela 13, observa-se que essa população
que migrou no transcorrer da década de 1960, em sua maioria da área rural, não
teve como destino a cidade de Jaguapitã-PR, tendo em vista que a população
urbana também decresceu, embora em menor quantidade que a rural. Levando em
consideração que apenas no Norte Novo até 1964 tinham sido erradicados cerca de
47.370,8 cafeeiros e liberado uma área de 59.808 ha (CARVALHO, 1991), essa
perda da população total está intimamente correlacionada ao plano de Erradicação
dos Cafeeiros Anti-econômicos financiado pelo IBC e coordenado pelo GERCA, que
resultou na substituição do café principalmente pela pastagem em Jaguapitã-PR no
transcorrer da década de 1960, conforme já discutido anteriormente.
Essa perda populacional na década de 1960, não foi restrita apenas
a Jaguapitã-PR, tendo em vista que inúmeros municípios do norte-paranaense
também tiveram redução da população total, conforme pode ser observado no
quadro 02:
% de perdas Municípios
até 20% Jacarezinho, Ribeirão Claro, Pinhalão, Abatiá, Nova Fátima, Assai,
Uraí, Sertanópolis, Rancho Alegre, Sertaneja, Sabáudia, kaloré,
Jaguapitã, Mirasselva, Jardim Olinda, Nossa Senhora das Graças,
Santa Fé, Flórida, Atalaia, Uniflor, Cruzeiro do Sul, Paranacity, o
João do Caiuá, Itaúna do Sul, Terra Rica, Guairacá, Tamboara,
Paraíso do Norte, Floraí, São Jorge, Ourizona, Paiçandu e Floresta.
de 20 a 40% Jataizinho, Bom Sucesso, Iguaraçú, Guaraci, Centenário do Sul,
Lupionópolis, Cafeara, santo Inácio, Santa Inês, Itaguajé,
Paranapanema, Lobato, Alto Paraná, São Carlosdo Ivaí e Amaporã.
de 40 a 60% Mirador, Nova Aliança do Ivaí, Presidente Castelo Branco e Inajá.
Quadro 02: Municípios do Norte-Paranaense que Sofreram Decréscimos de População de
1970 em Relação a 1960.
Fonte: Carvalho, 1991, p. 09.
Segundo Carvalho (1991, p.08) “[...] na década de 1960 os
movimentos migratórios no Estado já eram muitos significativos, com a formação de
uma corrente deslocando-se em direção ao Sudoeste e para outros Estados da
federação”. Vários desses municípios ainda continuaram tendo perdas populacionais
103
no início da década de 1970, no entanto essas perdas não ultrapassaram 20% da
sua população anterior.
Essa redução da população total nos municípios citados a partir da
década de 1960, dentre os quais destacamos Jaguapitã-PR, não pode ser atribuída
a ocorrência de geadas, “[...] mas às alterações nas relações de trabalho, pois os
que se utilizaram das erradicações financiadas foram os grandes cafeicultores, os
mesmos que raramente cumpriam a legislação do Estatuto do Trabalhador Rural”
(CARVALHO, 1991, p. 09). Embora não tenhamos dados específicos sobre a rota
migratória dessa população que saiu de Jaguapitã-PR na década de 1960, tudo nos
levar a crer que uma porção significativa dessas pessoas pode ter se deslocado para
os municípios da porção oeste – sudoeste do Paraná, acompanhando assim a
corrente migratória assinalada por Carvalho (1991).
Ao compararmos a população total de 1970 com 1980 percebemos
que o contingente populacional que continuou migrando do campo não teve como
destino a área urbana do município, isso porque a população urbana aumentou
respectivamente de 4.429 para apenas 5.220 nas referidas décadas, sendo que a
população rural reduziu no mesmo período aproximadamente 49% . Esse
decréscimo de 5.500 habitantes não foi totalmente absorvido pela cidade, uma
evidência de que a população rural ao migrar, procurou nesse período, outros
centros, em busca de empregos.
Além do declínio da população total, fica evidente nos da tabela 13
que a partir da década de 1980, a população urbana ultrapassou a rural, isso em
virtude da consolidação da cultura mecanizada na área rural de Jaguapitã-PR. Assim
a população rural que representava em 1950, 84% da população total, perfez 20%
em 2000, a urbana de 16% em 1950, passou para 80% em 2000.
Uma das implicações dessa dinâmica populacional nas últimas
quatro décadas está intimamente relacionada com a expansão urbana, que não
apresentou mudanças significativas, pelo contrário, ao observarmos a evolução da
área urbana da referida cidade entre 1970-2000, conforme as figuras 03, 04, 05 e 06
a seguir, fica evidente que o crescimento físico territorial foi pequeno, sendo
104
Figura 03: Representação da área urbana de Jaguapitã-PR na década de 1970.
Fonte: Prefeitura Municipal de Jaguapitã/Departamento de Engenharia Civil.
105
Figura 04: Representação da área urbana de Jaguapitã-PR na década de 1980.
Fonte: Prefeitura Municipal de Jaguapitã/Departamento de Engenharia Civil.
106
Figura 05: Representação da área urbana de Jaguapitã-PR na década de 1990.
Fonte: Prefeitura Municipal de Jaguapitã/Departamento de Engenharia Civil.
107
Figura 06: Representação da área urbana de Jaguapitã na década de 2000.
Fonte: Prefeitura Municipal de Jaguapitã/Departamento de Engenharia Civil
108
circunscrito apenas ao surgimento de alguns conjuntos habitacionais e poucas áreas
rurais foram incorporadas ao uso urbano para a construção de dois parques
industriais que comportam uma agroindústria avícola, algumas fábricas de mesas
para bilhar, de madeira e mobiliário, de rações, entre outras.
Ainda de acordo com os dados da tabela 13 é possível verificar que
entre 1991-2000, enquanto a população rural teve decréscimo de 903 habitantes, a
urbana teve um acréscimo de 1.250 habitantes. Isso significou que a cidade
absorveu boa parte da migração rural nesse período e também migrantes de outros
municípios. Esse crescimento positivo da população urbana no período referido está
intimamente correlacionado com a crescente oferta de trabalho nas agroindústrias
de frangos implantadas na cidade.
3.2.3 – Atividades comerciais e prestadoras de serviços
Diante de todas essas transformações no campo, a cidade acabou
passando também por mudanças significativas nas suas funções, a fim de atender
tanto as novas necessidades da população urbana sejam elas reais ou criadas e
condizentes aos padrões impostos pela sociedade urbano-industrial, como
necessidades de sua restrita população rural.
No entanto, como cada cidade da rede urbana combina de maneira
singular as variáveis de processos gerais, em Jaguapitã-PR, a incidência desses
processos não provocou alterações significativas no comércio e na prestação de
serviços, resultando em relativa complexidade funcional. Entretanto, parcela das
funções urbanas desempenhadas nas últimas cadas assumiram um caráter
qualitativo distinto daquelas exercidas anteriormente. Entendemos que essa
funcionalidade exercida pelo cleo urbano apesar de diversificada tornou-se
relativamente fraca, pelo fato das atividades vinculadas ao comércio e prestação de
serviços desenvolvidos responderem apenas pela satisfação das necessidades vitais
mínimas de sua população.
109
Assim, a primeira transformação dessas funções está na diminuição
das máquinas de beneficiamento que foram de suma importância nas décadas
anteriores em virtude da produção rural de café e de gêneros alimentícios.
Localizadas na cidade, essas indústrias de descascar arroz e despolpar café eram
um suporte para tais atividades realizadas no campo, porque garantiam à todos os
pequenos produtores a venda de sua produção. Segundo Fresca (1990, p.106)
essas unidades industriais por estarem localizadas no centro urbano “[...]
correspondiam a uma dimensão do processo de exploração da cidade sobre o
campo”.
Com a redução da área de produção do café, na cidade existia em
2006 apenas uma máquina de beneficiar o produto, no entanto, a mesma passou
por uma série de transformações, entre elas a técnica, onde os equipamentos foram
renovados a fim de obter mais rapidez, qualidade e volume de beneficiamento.
Também foi reduzida a atividade de armazenagem do produto, pois se antes o
produtor recorria aos maquinistas para armazenar sua produção até o momento da
venda, atualmente os produtores vendem suas safras logo após a colheita, ou então
quando o preço está muito baixo e os mesmos podem esperar, a colheita acaba
sendo armazenada em Cooperativas. E por último pode-se afirmar que atualmente
os maquinistas não financiam mais os pequenos produtores rurais através de
empréstimos, prática comum no período anterior a década de 1970, tendo em vista
que o sistema bancário acabava por direcionar os empréstimos apenas ao grande
produtor. Com a expansão entre as redes bancárias de empréstimos com taxas de
juros controladas pelo governo federal para financiar a produção e direcionados ao
pequeno e médio produtor, a indústria de beneficiamento de café deixou de financiar
a produção. Desta forma o capital financeiro, passou a subordinar a partir de então
não apenas o grande produtor, mas também o médio e pequeno (FRESCA, 1990).
O comércio varejista também apresentou transformações quando
comparado ao que era realizado anteriormente à década de 1970, como por
exemplo a extinção dos inúmeros armazéns de secos e molhados que existiam na
cidade, estabelecimentos esses que ofertavam à população rural todos os
elementos necessários para a sua manutenção e produção num mesmo lugar. Com
o crescente esvaziamento demográfico do campo os mesmos perderam sua
110
clientela, o que levou alguns ao seu fechamento e outros a se transformarem em
pequenos supermercados. Ressalta-se que em 2006, existia apenas 01
estabelecimento comercial ainda com características de armazém de secos e
molhados na cidade (foto 17). Esse armazém foi instalado em 1976 por Manoel
Paião e continuava até 2006 funcionando nos mesmos moldes da década de 1970,
vendendo produtos variados: alimentos, bebidas, equipamentos para o trabalho
rural, produtos de limpeza, utensílios domésticos, produtos farmacêuticos, etc.
Dentre os supermercados existentes na cidade, a maioria foi
originado mediante o investimento de capital local, seja através de famílias que
migraram do campo a partir da década de 1970 e passaram a investir a renda obtida
na atividade rural no comércio de alimentos, seja a partir de antigos armazéns que
adotaram o padrão de supermercado como forma de atender às novas
necessidades de seu mercado consumidor.
Foto 17: Vista parcial do armazém secos e molhados, Casa Paião em Jaguapitã-PR. Esse
estabelecimento situado na Avenida Paraná desde sua instalação em 1976 ainda conserva
as mesmas características da referida data.
Fonte: A autora, 2007.
Esses supermercados de uma maneira geral, renovam seu estoque
de produtos no comércio atacadista de Londrina-PR e Maringá-PR, além de
recorrerem a um distribuidor atacadista local quando se trata de bebidas. A
111
aquisição dos produtos é realizada através de vendedores que visitam mensalmente
os proprietários dos supermercados ou diretamente com o atacadista, sendo o
pagamento dependendo do montante da aquisição, realizado a vista ou a prazo. De
acordo com os dados expressos na tabela 14, os supermercados em março de 2006
perfaziam o total de 07 estabelecimentos.
Tabela 14: Número de Estabelecimentos Comerciais por Classes, neros
Comerciais em Jaguapitã-PR: 2006.
Classes e Gêneros do Comércio Nº estab.
Comércio Varejista 182
Ferragens, materiais de construção, ferramentas 08
Acessório e peças, veículos 08
Artigos de habilitação, utensílios domésticos, moveis e eletrodomésticos 09
Produtos químicos e farmacêutica perfumaria 07
Tecidos, artefatos de tecidos, artigos do vestuário e armarinho. 34
Combustíveis e lubrificantes 03
Produtos alimentícios, bebidas. 39
Produtos agropecuários e madeira 09
Equipamentos de informática, celulares 10
Papel, impressos, artigos escritório e escolares. 21
Artigos diversos 21
Comércio Atacadista 04
Matérias-primas e acessórios para mesas de bilhar 02
Produtos alimentícios e bebidas 02
Fonte: Prefeitura Municipal de Jaguapitã-PR, 2006.
Org.: Léia Aparecida Veiga
Embora a classificação da referida tabela não deixe claro, além dos
supermercados, na cidade ainda se fazia presente um armazém de secos e
molhados e vários mini-mercados dispersos pela cidade. Nesses estabelecimentos
comerciais, segundo levantamentos de campo em 2006, ainda ocorria a prática do
anotar as contas de cada cliente num caderno, com o pagamento para o final ou
início do mês. Isso decorre do fato da população em sua maioria, não ter salários
compatíveis com pagamento à vista dos produtos que consome semanalmente e tão
pouco para uma compra mensal. Ressaltamos aqui que mesmo nos supermercados,
os pagamentos não eram efetuados à vista. Em grande parte eram realizados com
cheques pré-datados ou no cartão próprio do estabelecimento comercial. E além
disso, alguns supermercados utilizavam-se do bloco de anotações, onde anotava-se
o valor da compra, o endereço e nome do cliente, sendo as mesmas saldadas no
final ou início do mês. Em virtude dessas facilidades de pagamento, é grande o fluxo
112
de pessoas oriundas de outras localidades que faziam suas compras mensalmente
nos supermercados de Jaguapitã-PR, sendo esses consumidores de Içara e Santa
Zélia distritos do município de Astorga-PR, Guaraci-PR e de Prado Ferreira-PR.
No entanto é importante ressaltar que esses supermercados em
função da cidade ter uma pequena população e por certo, diferenciado poder
aquisitivo com tendência para ser baixo, ofereciam produtos básicos, com pouca
diversidade. Por isso, uma pequena parcela da população local que dispõe de
condições financeiras, se dirigia aos centros urbanos maiores pelo fato dos mesmos
oferecerem uma vasta gama de produtos que permite escolha maior, seja na
variedade seja no preço dos mesmos. Em linhas gerais o fluxo mais intenso dessa
população com maior poder aquisitivo é direcionado para as cidades de Londrina-PR
e Maringá-PR.
Assim como o setor de alimentos, o comércio do gênero do
vestuário, artefatos de tecidos e armarinhos também passou por transformações. Se
até a década de 1970 predominavam os bazares e armarinhos, estes foram
substituídos por inúmeras lojas de tecidos, de roupas e de calçados. Nesse ramo se
destacam na cidade estabelecimentos originados a partir do capital regional, que
devido às facilidades de pagamentos e dos preços acessíveis acabam por
conquistar a maior parte do mercado consumidor local, segundo levantamento de
campo em 2007.
Nesse sentido destacamos a Casa Vantajosa, com sede em
Florestópolis-PR, que por sua vez é um centro urbano menor que Jaguapitã-PR, a
Carinhosa Confecções, cuja a proprietária é oriunda de Guaraci-PR e a Casa
Milaneza, com matriz em Nova Esperança-PR. Esses estabelecimentos ofertavam
artigos de vestuário a preços acessíveis, atingindo o mercado consumidor que
trabalha no corte de cana, nas indústrias e aqueles que residem no campo. A forma
de reposição de estoque era realizada através de solicitações junto aos
representantes dos atacadistas ou por aquisições diretas pelo proprietário. Os
principais fornecedores atacadistas de artigos do vestuário para esses
estabelecimentos se encontravam em cidades de Santa Catarina como Brusque,
113
Blumenau, Jaraguá do Sul e Camboriu; de São Paulo como Nova Odessa e São
Paulo capital, além de cidades mineiras, levantamentos de campo, 2007.
Destaque deve ser dado à Casa Milaneza, que era um armazém de
secos e molhados instalado em sociedade pelos irmãos José Soares e Laércio
Soares em Jaguapitã-PR no final da década de 1940. Por volta de 1960, um dos
sócios migrou para Nova Esperança-PR e instalou outro estabelecimento comercial
de roupas e artefatos de tecido com o mesmo nome. Laércio Soares continuou
administrando o armazém de Jaguapitã-PR até 1972, quando resolveu abrir em
Maringá-PR um estabelecimento comercial semelhante ao que seu irmão tinha em
Nova Esperança-PR. Em 2005, José Soares, que possuía filiais em Paranacity e
Colorado, resolveu abrir uma filial em Jaguapitã-PR, porque segundo a filha do
proprietário o comércio é rentável. Ressalta-se que Laércio Soares além do
estabelecimento comercial era proprietário de uma linha de mesas para bilhar na
década de 1970 e início de 1980.
Essa presença do capital regional também foi observado em outros
tipos de estabelecimentos comerciais como naqueles que comercializam os produtos
farmacêuticos, dentre os quais das 6 farmácias existentes em 2006, 03 foram
instaladas a partir da ação de agentes sociais regionais, sendo a Farmácia São
Marcos de propriedade de um ex-funcionário
30
de estabelecimentos farmacêuticos
da cidade de Astorga-PR e a Farmácia Paraná, uma filial cuja matriz está sediada
em Astorga-PR. A Farmácia do Povo foi instalada por um farmacêutico de Maringá-
PR, que optou pela cidade pequena devido à presença das grandes redes de
farmácia nas cidades médias. Esses três proprietários justificaram também a opção
por Jaguapitã-PR pelo fato do comércio na mesma apresentar um bom desempenho
em vendas. As vendas eram feitas em sua maioria a prazo, cerca de 70%, com
anotações em bloco de notas. As compras no atacado eram realizadas através de
pedidos via ligações telefônicas diretamente nas distribuidoras ou por
representantes comerciais que passavam recolhendo os pedidos, e a entrega em
ambos os casos ficava por conta da distribuidora de remédios. Essas distribuidoras
30
Segundo o proprietário em Astorga-PR existiam muitos estabelecimentos comerciais no ramo de
remédios em 2006, por isso resolveu abrir o seu estabelecimento em Jaguapitã-PR.
114
estavam localizadas em Maringá-PR, Londrina-PR, Curitiba-PR, Colorado-PR e
Arapongas-PR.
No comércio de móveis e eletrodomésticos, os estabelecimentos
presentes na cidade até 2006 eram todos de capital regional, sendo a Shopp Móveis
oriunda de Rolândia-PR em 2002, a J.Maruo e a Marumóveis de Jandaia do Sul no
ano de 2002. Além dessas havia duas filiais de rede de lojas, temos a Thenam, filial
instalada no início da década de 1980 e com sede na cidade de Florestópolis-PR e a
Daron Móveis que veio para a cidade em 2005 e tem sua matriz em Arapongas
desde 1973, cidade essa que concentra um parque industrial de móveis que foi
originado nos anos de 1960 a partir da iniciativa de agentes sociais locais e com
gênese ligada à pequena produção mercantil rural e urbana (FRESCA, 2004, p.
198). Segundo levantamentos de campo 2007, a rede de lojas Daron Móveis
resolveu instalar filiais em cidades pequenas a partir de um prévio levantamento que
envolveu o índice de inadimplência, de faturamento e de emprego fixo, optando pela
cidade de Jaguapitã-PR, que apresentou os melhores índices desse levantamento.
Assim como acontece com o ramo de roupas e tecidos, esses estabelecimentos de
móveis e eletrodomésticos oriundos de outras cidades atraíam a maior porção do
mercado consumidor local, por ofertarem produtos variados, com preços acessíveis
e longos prazos de pagamentos, o que levou ao fechamento dos estabelecimentos
de eletrodomésticos e móveis de capital local a partir de 2000.
Em linhas gerais esses estabelecimentos eram abastecidos por
atacadistas localizados em Maringá, Arapongas, Curitiba (Paraná); Valentin Gentil,
Jaci, Itajobi, Fernandópolis, São Paulo (São Paulo); Ubá (Minas Gerais); Soledade,
Bento Gonçalves e Salvador das Missões (Rio Grande do Sul), dentre outras
cidades. Além dos produtos disponíveis no estabelecimento que adquiridos pelo
proprietário, os consumidores tinham a opção de fazerem seus pedidos a partir de
um catálogo de amostras, cabendo ao proprietário o contato com o distribuidor
atacadista, excetuando-se a Daron veis que era abastecida pelo próprio depósito
regional de Arapongas-PR.
Os estabelecimentos comerciais de produtos agropecuários
perfaziam o total de 3 em 2006, sendo apenas 01 de capital regional, denominada
115
Tradição Agropecuária de propriedade de um veterinário oriundo de Londrina-PR,
que buscando uma cidade com significativo efetivo de rebanho bovino e produção
agrícola, após um levantamento de campo, escolheu Jaguapitã-PR para morar. O
mesmo destacou que a proximidade com Londrina-PR também influenciou na sua
opção. Assim que instalou seu estabelecimento comercial percebeu que os grandes
produtores compravam os produtos veterinários diretamente nos grandes centros,
por isso acabou restringindo sua venda apenas aos pequenos produtores. No
entanto, para satisfazer as necessidades desses pequenos produtores e da
população urbana local, diversificou seus produtos, ofertando além dos produtos
veterinários para aves, suínos, pássaros, ovinos, coelhos, bovinos, etc., produtos
diversos para animais domésticos e pesca, artigos de selaria e cordas, ferragens, de
jardinagem, da área country como chapéus, fivelas, cintos e botas, ofertando ainda
produtos diversos como isqueiros, cuia de chimarrão, bonés, etc. A parte de
ferragens e equipamentos para agricultura era menor em 2007, devido a utilização
de produtos químicos nas lavouras.
Ainda segundo o proprietário, a concorrência era grande com o
entreposto da Cooperativa Corol
31
em Jaguapitã-PR, por isso ele comercializava
remédios e outros produtos com o mesmo princípio ativo dos que eram
comercializados pela cooperativa, só que com preços mais acessíveis, sendo a
maioria de origem nacional. As compras no atacado eram realizadas em Londrina,
Maringá, Curitiba (Paraná); em Goiânia (Goiás), São Paulo (São Paulo) e Erechim
(Rio Grande do Sul), etc, segundo entrevista concedida por Édson Acorsi, 2007. Os
outros dois estabelecimentos agropecuários de capital local, denominados Agrovet e
Aliança também procuravam diversificar a oferta de produtos, não trabalhando com a
área de jardinagem.
31
A Cooperativa Agrícola dos Cafeicultores, atual Cooperativa Agroindustrial de Rolândia -COROL-
foi fundada em 1963 por um grupo de 25 pessoas no município de Rolândia-PR. A finalidade inicial
era beneficiar, rebeneficiar, padronizar, vender e exportar a produção dos seus associados, no caso o
café. A partir do final da cada de 1970, essa cooperativa assumiu os moldes de uma agroindústria
ao industrializar produtos (café, açúcar, álcool, suco de laranja, rações e concentrados), além de
fornecer insumos (sementes, corretivos, fungicidas, peças, lubrificante, rações e suplementos
animais) e assistência técnica e comercializar produtos in natura (soja, milho, trigo, café, cana-de-
açúcar e laranja) (www.corol.com.br/quem.htm).
116
Outros estabelecimentos comerciais varejistas de capital local
também foram instalados como de revenda de veículos usados, de materiais de
construção, de locação de fitas de vídeo, de internet (lan house), de cosméticos em
geral, de oficina mecânica, entre outros.
O comércio atacadista, por sua vez, não era significativo, tendo em
vista que era representado apenas por um distribuidor de bebidas denominado
Goleada Atacado, por um distribuidor de doces diversos e por dois comércios de
matérias-primas e acessórios para mesas de bilhar. Esse comércio atacadista de
bebidas foi uma forma encontrada por uma família -já proprietária do supermercado
Golfeto- de investir o capital acumulado com a atividade e diversificar a renda, tendo
em vista que não havia até então nenhum distribuidor na cidade de bebidas. O
distribuidor de doces atua nessa atividade mais de 20 anos. Ambos revendiam
seus produtos para os estabelecimentos comerciais de Jaguapitã-PR e eram
abastecidos por representantes do comércio atacadista de Londrina, Maringá,
Mandaguari (Paraná) e São Paulo (São Paulo), entre outros. o comércio
atacadista voltado para as indústrias de mesas para bilhar forneciam matéria-prima e
acessórios para as indústrias de Jaguapitã-PR e cidades de outros estados
brasileiros. A reposição desses produtos por parte desses atacadistas era feita com
aquisições em outros estados como São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, entre
outros. Abordaremos esse comércio atacadista de matéria-prima e acessórios para
bilhar de forma mais detalhada no decorrer do quarto capítulo a seguir.
Com relação aos serviços prestados pela cidade houve
diversificação e melhoria nos mesmos. Os de transportes foram melhorados com a
ampliação das linhas de ônibus regionais e inter-regionais. O transporte de
passageiros era realizado por empresas regionais em horários distintos, tendo a
Viação Garcia de Londrina-PR uma atuação maior em número de ônibus e horários
que outras empresas. que se destacar também a presença local de serviços
prestados por transportadoras de cargas, de trabalhadores e de estudantes, que
perfaziam em março de 2006, o total de 22, sendo as de cargas direcionadas para o
transporte de óleos vegetais, gás e cargas em geral. E a de pessoas composta por
01 ônibus, 01 microônibus e 04 vãs fretadas por estudantes a fim de transportá-los
para cidades vizinhas e de 04 ônibus que são contratados pelas cooperativas para
117
transportar trabalhadores volantes para a colheita da cana-de-açúcar na região
(JAGUAPITÃ, 2006).
Os serviços da saúde embora não sejam ainda satisfatórios, nas
últimas décadas foram ampliados tanto na rede pública quanto na particular. No
serviço de saúde pública, a população local contava com um atendimento setorial
realizado por dois postos de saúde e com visitas de agentes da saúde nas
residências periodicamente. Além do posto de saúde a cidade também possuía um
hospital, sendo esse, no entanto, insuficiente para o atendimento das necessidades
da demanda local, tendo em vista que o mesmo possuía apenas equipamentos
básicos. Assim, os casos mais graves e urgentes eram encaminhados para outras
cidades da rede, no caso para o hospital Cristo Rei de Astorga-PR, o João de Freitas
em Arapongas-PR e demais hospitais na cidade de Londrina. O transporte dessas
pessoas para o atendimento médico-hospitalar em hospitais ou clínicas na cidade de
Londrina-PR era realizado por meio de um ônibus que foi disponibilizado pela
Prefeitura Municipal, sendo o trajeto Jaguapitã-Londrina realizado duas vezes ao dia
(manhã e tarde). Nos casos de urgência, o transporte era viabilizado por duas
ambulâncias pertencentes ao hospital municipal de Jaguapitã-PR (Levantamentos
de campo, 2006).
Além desse atendimento médico-hospitalar blico, a cidade
contava com a presença de algumas clínicas especializadas, sendo 01 de
fisioterapia, 01 de oftalmologia, 06 de odontologia e uma de clínica geral. Também
se faziam presentes na cidade dois laboratórios que realizavam algumas análises
laboratoriais, principalmente as de sangue (JAGUAPITÃ, 2006).
Em relação aos serviços prestados na área da educação algumas
mudanças também foram realizadas, como por exemplo, o fechamento das escolas
rurais a partir do final da década de 1980. Com o esvaziamento populacional da área
rural, as mesmas, que se localizavam nas grandes propriedades rurais, perderam
sua clientela e foram desativadas. Para a população que permaneceu no campo e
que está na faixa etária escolar de ensino básico, 06 ônibus da Prefeitura Municipal
realizavam o transporte diário nos períodos matutino, vespertino e noturno. Na
cidade em função da demanda a partir do final da década de 1980, foram ampliadas
118
para 09 o número de escolas com atendimento ao ensino básico, desse total 02
particulares, 04 municipais e 03 estaduais, sendo que dentre essas últimas uma é
direcionada ao atendimento de pessoas com necessidades especiais APAE
(Levantamentos de campo, 2006).
Faziam-se presentes ainda em 2006, estabelecimentos que
ofertavam serviços de manutenção de computadores e cursos de informática (03),
além de locadoras de deo e DVD (02), corretoras imobiliárias (02), escritórios em
contabilidade comercial e agrícola (03), serviços advocatícios (03), serviços de
alojamento (02), serviços de alimentação (13), entretenimento e informação no caso
a rádio comunitária Jaguar FM de propriedade de um industrial de mesas para bilhar,
etc. Os serviços financeiros, por sua vez, eram realizados por três agências
bancárias, sendo uma do Banco do Brasil, uma do Itaú e a outra do HSBC.
Quanto aos serviços prestados na área de infra-estrutura básica
também ocorreram melhorias significativas, com a implantação a partir da década de
1990 de uma rede de coleta e tratamento de esgoto municipal, além da ampliação
das redes de água tratada, luz e da pavimentação para todos os bairros da cidade.
Houve também uma melhoria no sistema de coleta de resíduos sólidos urbanos, com
a ampliação da frota municipal de caminhões destinados para esse fim e a
construção de um aterro sanitário controlado (Levantamentos de campo, 2006).
No caso da cidade de Jaguapitã-PR, diante do que foi apresentado
em relação ao comércio e prestação de serviços, fica evidente que esse núcleo
urbano embora tenha sofrido alterações qualitativas em sua funcionalidade, o
mesmo se insere na rede urbana com um nível muito fraco de centralidade,
conforme o mapa 02 apresentado anteriormente na página 73, em relação à
distribuição de bens e serviços, mas desempenha interações espaciais longínquas.
3.2.4 – As interações espaciais
Mediante as inúmeras transformações advindas com a expansão e
fortalecimento do capitalismo industrial principalmente após a Segunda Guerra
Mundial, estabeleceu-se uma crescente divisão territorial do trabalho que levou a
119
uma necessária articulação entre áreas e cidades, ocorrendo assim a intensificação
e complexificação das interações espaciais (CORRÊA, 1997a). Ou seja, as
interações espaciais na atual etapa do modo de produção capitalista ocorrem a curta
ou longas distâncias, entre núcleos urbanos com nível de centralidade semelhante
ou distintos, envolvendo uma gama cada vez mais complexa de bens, pessoas,
capital e informação.
Em relação a Jaguapitã-PR, os fluxos são estabelecidos numa
escala regional, nacional e internacional, a partir de interações espaciais para e de
Jaguapitã-PR. A análise do mapa 04 evidencia que no fluxo de pessoas para essa
cidade, estão inclusos os consumidores de cidades vizinhas que se deslocam em
busca de produtos variados, principalmente de neros alimentícios e bebidas
ofertadas nos supermercados da cidade. A falta desses estabelecimentos ou a
existência em reduzido número nas suas cidades de origem e as formas de
pagamentos ofertadas no comércio de Jaguapitã-PR, acabam por atrair esses
consumidores.Também estão inclusas no deslocamento populacional para
Jaguapitã-PR, as pessoas residentes nas cidades de Guaraci-PR, Prado Ferreira-PR
que trabalham nas agroindústrias avícolas presentes na cidade.
Observa-se ainda no mapa 04 as importações realizadas pelo
comércio varejista e atacadista em diferentes estados brasileiros, com destaque para
o Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Goiás.
Contudo, no mapa 05 percebe-se que o fluxo diário de pessoas de
Jaguapitã-PR para outros centros urbanos é mais intenso, sendo composto por dois
grupos distintos. Num primeiro grupo estão os estudantes que se deslocam para
estudar o ensino básico em escolas particulares de Rolândia-PR e Londrina-PR e o
ensino superior nas faculdades estaduais ou particulares de Rolândia-PR, Londrina-
PR, Apucarana-PR, Arapongas-PR, Jandaia do Sul-PR, Mandaguari-PR e
Presidente Prudente-SP. O outro diz respeito ao deslocamento diário de pessoas em
busca de atendimento médico-hospitalar, fluxos que são mais intensos para a cidade
de Londrina-PR em função da Prefeitura Municipal ofertar o transporte para esse
centro – e em menor grau para Astorga-PR, Arapongas-PR e Maringá-PR.
120
Mapa 04: Interações espaciais para Jaguapitã-PR, 2006.
121
Mapa 05: Interações espaciais de Jaguapitã-PR, 2006.
122
Ocorre também o fluxo populacional de Jaguapitã-PR para outras
cidades da rede, que são realizados com menor freqüência semanal ou quinzenal,
para fazerem compras no varejo de produtos mais sofisticados que o o
ofertados em Jaguapitã-PR. E no caso do comércio mais sofisticado os
consumidores se deslocam até as cidades de Londrina-PR e Maringá-PR. Em
relação ao fluxo de trabalhadores para as lavouras de cana-de-açúcar na região de
Rolândia-PR, o mesmo ocorre apenas na época de safra.
Uma segunda forma de interação espacial de Jaguapitã-PR para
outras cidades da rede se dá mediante a comercialização de produtos agropecuários
em âmbito regional. Em linhas gerais os produtos agropecuários tem os seguintes
destinos: cana-de-açúcar comercializada com a Cooperativa Agropecuária de
Rolândia Ltda (COROL) e com a Cooperativa Agroindustrial Nova Produtiva em
Astorga-PR; o leite é adquirido pela Indústria e Comércio de Laticínios Líder Ltda
(LÍDER) sediada em Lobato-PR e pela S.A. Fábrica de produtos alimentícios Vigor
(VIGOR) de Santo Inácio-PR; a carne bovina comercializada nos açougues e
supermercados da cidade de Jaguapitã-PR e junto a frigoríficos de Rolândia-PR e
Maringá-PR e os cereais com a Cooperativa Agroindustrial de Rolândia (COROL) e
em menor quantidade com outras agroindústrias da região, conforme o mapa 05.
Esse conjunto de análise realizado até o momento nos permite
verificar que Jaguapitã-PR, na condição de ser um núcleo urbano com nível de
centralidade muito fraco, apresenta um conjunto de atividades que o insere numa
rede de interações espaciais que ultrapassam a escala regional mais próxima.
Mesmo que essas interações sejam realizadas por intermédio de atividades
comerciais, prestadoras de serviços de agentes extra-locais, situão essa bastante
distinta daquela presente nos anos de 1960, isso ainda contribui para uma relativa
hinterlândia.
As interações mais complexas ficam por conta das agroindústrias
avícolas que estabelecem fortes relações com outras redes urbanas não só no
âmbito regional, mas a nível nacional e internacional. Essas agroindústrias na escala
regional estão em contato com cidades próximas ao terem produtores integrados em
vários municípios do norte paranaense. Estando também ao mesmo tempo
123
articuladas numa escala nacional e internacional, quando estas lançam seus
produtos industrializados para a comercialização no mercado nacional e externo, no
caso de países da África, Ásia e da Europa, conforme mapa 05.
A análise das relações sócio-econômicas e espaciais estabelecidas
por Jaguapitã-PR a partir do final da década de 1960, nos permitiu compreender que
uma série de mudanças emanadas do movimento geral da sociedade incidiu sobre a
rede urbana norte-paranaense após o referido período, alterando paulatinamente a
funcionalidade exercida pelas cidades, modificando também as relações formas-
funções ao dar origem a novas funções, novas formas ou então eliminando formas e
redefinindo funções para as formas já existentes.
Essas alterações correlacionadas à estrutura produtiva das cidades
da rede urbana norte-paranaense resultaram na transformação da agropecuária,
com a substituição do café e neros alimentícios por culturas mecanizadas e
pastagem, implicando em mudanças significativas no campo como nas relações de
trabalho, no uso do solo, no volume da produção, no emprego da técnica e
maquinários, na intensificação do processo migratório rural-urbano, dentre outros
aspectos. Ao mesmo tempo em que implicou em sérias mudanças nas funções
urbanas das pequenas cidades, já que estas tinham sido criadas e estruturadas para
atender a demanda da produção rural de café e cereais e de consumo da população
do campo.
A cidade de Jaguapitã-PR, nesse contexto de transformações na
agropecuária e conseqüente esvaziamento demográfico do campo, alterou
paulatinamente sua função passando a ofertar bens e serviços voltados para a
população urbana, que a partir da década de 1980, tornou-se numericamente maior.
Assim, no transcorrer das décadas seguintes, tanto o comércio como
o setor prestador de serviços em geral sofreram modificações significativas, como
forma de atender aos anseios da população urbana local e de sua restrita
hinterlândia, além da reduzida população rural.
124
O caminho percorrido até o presente momento foi uma forma de
contextualizar os processos singularizados que no decorrer das décadas
contribuíram para a re-inserção dessa pequena cidade na rede urbana norte-
paranaense após 1970, quando teve início outro processo industrial que se
consolidaria nas décadas seguintes, tornando esse pequeno núcleo urbano
especializado na produção industrial de mesas para bilhar.
125
4- JAGUAPITÃ-PR E A ESPECIALIZAÇÃO INDUSTRIAL EM MESAS PARA
BILHAR
Nos últimos 35 anos, a cidade de Jaguapitã-PR mediante a ação de
agentes sociais locais, passou a concentrar um número significativo de indústrias de
mesas para bilhar, tornando-se o centro urbano brasileiro com o maior número de
indústrias desse ramo, segundo levantamentos de campo 2006.
Para o entendimento desse setor industrial na cidade de Jaguapitã-
PR, principiaremos pela análise da tabela 15, cujos dados demonstram que no
período compreendido entre 1985-2004, a cidade apresentou em linhas gerais um
desenvolvimento industrial relativamente fraco, embora a quantidade total de
unidades industriais e de trabalhadores de uma forma geral, teve acréscimos no
decorrer dos anos, principalmente no ano de 2004, quando existiam 71
estabelecimentos industriais que empregavam 523 trabalhadores. Uma evidência de
que o processo industrial embora de forma discreta, tenha sido ampliado na cidade
no período citado.
De acordo com a tabela 15, em 1985 o setor industrial era
representado por 16 estabelecimentos que empregavam 92 trabalhadores, cujo
destaque era o gênero de fabricação de móveis e indústrias diversas representando
56,25% e 59,78% respectivamente do total. Em 1990, ocorreu pequeno acréscimo
no número total de estabelecimentos e empregados, cujos destaques ficaram ainda
por conta do setor de fabricação de móveis e indústrias diversas, representando
47,82% e 50% respectivamente do total, seguido pela indústria de alimento e
produtos químicos.
No entanto, a partir de 1994, o gênero de fabricação de móveis e
indústrias diversas passou a apresentar oscilações tanto no mero de
estabelecimentos como no de trabalhadores, ora tendendo a aumentar ora a
diminuir, seja no número de estabelecimentos seja no de trabalhadores. Observa-se
que após 1994, em número de estabelecimentos esse setor passou a ser o segundo
maior na cidade, já na quantidade de mão-de-obra empregada em linhas gerais
126
Tabela 15: Evolução do Número de Estabelecimentos e Empregos nas Unidades Industriais em Jaguapitã-PR, 1985-2004.
1985 1990 1994 1996 2000 2002 2004
Gêneros industriais
est.
trab.
est.
trab.
est.
trab.
est.
trab.
est.
trab.
est.
trab.
est.
trab.
Fabricação de produtos alimentícios e
bebidas
03
07
04
20
04
98
06
139
04
350
03
174
11
308
Confecção de artigos do vestuário e
acessórios
01
0
01
03
01
02
01
0
------
------
03
04
04
01
Preparação de couros e fabricação de
artefatos de couro e artigos de couro
-----
----
03
11
-----
-----
-----
-----
01
07
02
24
04
54
Fabricação de produtos da madeira
------
------
------
------
------
-----
02
03
01
04
02
11
03
13
Edição, impressão e reprodução de
gravações
01
07
01
09
02
14
02
15
02
15
03
17
03
14
Indústria de produtos químicos
01
20
01
26
01
25
02
26
02
38
02
49
06
59
Fabricação de produtos minerais não
metálicos
------
------
01
02
------
------
01
05
01
03
02
03
02
09
Fabricação de produtos de metal – inclusive
máquinas e equipamentos
01
03
01
01
01
01
------
------
01
02
01
03
03
03
Fabricação de máquinas e equipamentos
------
------
------
------
------
------
------
------
01
02
01
00
02
05
Fabricação de móveis e indústrias diversas
09
55
11
72
06
44
07
14
24
48
07
47
33
57
Total
16
92
23
144
15
183
21
202
37
469
26
332
71
523
Fonte: BRASIL, 1985 – 2004.
Org. Léia Aparecida Veiga
127
ocupava o terceiro lugar, cedendo espaço para o setor alimentício e de produtos
químicos, no que diz respeito à quantidade de funcionários.
Esse aumento no mero de mão-de-obra empregada pelo nero
alimentício a partir de 1996, está correlacionado primeiramente às agroindústrias
avícolas de capital local, que foram instaladas na cidade na década de 1990, sendo
a Jaguafrangos em 1992 e a Avebom em 1999. Essas duas agroindústrias, assunto
discutido no capítulo anterior, são as principais responsáveis pela geração de
empregos na cidade, empregando parcela significativa da população local e de
municípios vizinhos nos abatedouros e respectivas fábricas de ração, além de
envolver inúmeros pequenos proprietários mediante o desenvolvimento do sistema
de integração para a criação das aves.
Em relação ao gênero de produtos químicos, chamamos a atenção
para a indústria Extrasul que foi instalada na cidade em 1983 e empregava
aproximadamente 50 funcionários em 2004. Essa indústria química de capital
paulista em parceria com capital italiano, produz o Condroitin
32
e a Heparina
33
a
partir de extratos animais como: a traquéia bovina e a mucosa bovina. Essas
matérias-primas o obtidas em frigoríficos de diferentes cidades brasileiras. Os
produtos farmoquímicos da Extrasul são vendidos para laboratórios farmacêuticos
brasileiros e também são exportados, sendo a Heparina em quase sua totalidade
exportada para países europeus e para os Estados Unidos, segundo entrevista
concedida por José Maria Rezende (2007).
Outro setor que apresentou crescimento seja no número de
unidades seja na mão-de-obra empregada foi o de preparação de couros e
fabricação de artefatos de couro, que em 2004 era composto por 04 unidades e
empregava 54 pessoas, segundo a tabela 15. Por essa tabela englobar apenas as
unidades e trabalhadores formais, a mesma não expressa todas as unidades que
desenvolvem o trabalho com pés, chifres e cabeças de gado bovino para a produção
de objetos diversos (foto 18). No caso dessas unidades, com os chifres são feitos
32
Fabricado a partir da traquéia bovina, esse produto é utilizado principalmente para o tratamento de
doenças articulares e do tecido ósseo.
33
A Heparina é um produto farmoquímico com importante efeito anticoagulante. Tem a mucosa
bovina como matéria-prima básica.
128
berrantes; as cabeças e alguns animais inteiros são empalhados; os pés de bois são
transformados em objetos de decoração e utensílios como copo, garrafas, sendo
todos utilizados em larga escala em lugares fortemente influenciados pelo rodeio e
estilo country, como Barretos (SP), Colorado (PR), entre outros. É uma atividade que
pode ser classificada como artesanal, pelo fato de utilizar apenas algumas
ferramentas e equipamentos adaptados na produção de cada peça (foto 19).
Classificadas como atividade artesanal num levantamento realizado pela Prefeitura
Municipal de Jaguapitã-PR em 2003, foi verificado a presença de 32 unidades desse
tipo de estabelecimento industrial que empregavam 106 pessoas (JAGUAPITÃ,
2003), o que implica na possibilidade de parcela dos trabalhadores atuarem na
informalidade.
Foto 18: Vista parcial de alguns objetos fabricados artesanalmente a partir de pés e chifres
de gado bovino.
Fonte: A autora, 2007.
129
Foto 19: Vista parcial do local de fabricação dos objetos como copo, garrafas e berrantes.
Observa-se que os equipamentos foram adaptados objetivando facilitar o trabalho na
produção de cada peça.
Fonte: A autora, 2007.
Ao observarmos a tabela 16 referente ao Valor Adicionado dos
Grupos Industriais em relação ao Município de Jaguapitã-PR e a participação
industrial do município no Valor Adicionado Estadual, verifica-se que o mesmo é
pouco significativo em relação ao Estado do Paraná. No decorrer dos anos
destacados, apresentou fortes oscilações de um ano para o outro. Quanto ao total
de participação de cada grupo no Valor Adicionado do município, a tabela 16
evidencia que o grupo de produtos alimentícios e de produtos químicos,
farmacêuticos e veterinários foram os que representaram maior participação nos
anos destacados, tendo o setor alimentício em média a maior participação.
Chamamos a atenção para o grupo de indústrias do mobiliário e diversas, que teve
uma participação pouco significativa nos anos analisados.
A partir da análise das tabelas 15 e 16, percebe-se que os dados
apresentados nas mesmas não dão conta de caracterizar a cidade como
especializada na produção de mesas para bilhar, por demonstrarem uma oscilação
no número de unidade fabril e de trabalhadores empregados, conforme expresso na
tabela 15, e pela baixa participação desse setor no Valor Adicionado municipal e
estadual segundo a tabela 16. A nosso ver isso pode estar relacionado ao fato
130
Tabela 16: Participação do Valor Adicionado dos Grupos Industriais em Relação à Jaguapitã-PR e do Município em Relação ao
Valor Adicionado Estadual, 1975 a 2004.
Grupos industriais 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2004
Transformação de
produtos minerais não
metálicos 0,01
0,38
0
0,03
1,61
0,65
0,26
Metalúrgica 0
9,60
0,10
0,59
1,03
0,06
0,04
Mecânica 0
0
0
0
0
0
0,15
Madeira 3,92
28,85
0,02
0,56
0
0,60
0,54
Mobiliário e indústrias
diversas 1,25
0,75
0,25
2,29
5,15
2,05
0,62
Couros, peles e produtos
similares 0
0
0
0,52
0
0
0
Indústria química e de
produtos farmacêuticos e
veterinários 0
0
28,17
74,39
7,63
8,20
11,71
Vestuário, calçados e
artefatos de tecidos 0
0
0,007
0,06
0,94
0,77
1,06
Produtos alimentícios e
bebidas (+ extra DFC) 94,82
39,66
4,08
17,25
83,41
88,23
76,80
Editorial e gráfica 0
20,76
0,71
4,30
0,23
0,01
1,06
Extração de minerais 0
0
66,66
0
0
0
0
Serviços industriais de
utilidade pública (+extra
DFC) 0
0
0
0
0
0
9,15
% total de Jaguapitã-
PR
em relação Valor
Adicionado total do
Estado do PR
0,16%
0,002%
0,02%
0,04
0,01
0,04
0,09
Fonte: SEFA, extraído da Base de Dados do Estado do Paraná.
Org. Léia Aparecida Veiga
131
desses dados não levarem em consideração os números de indústrias e de
empregados que podem estar atuando na informalidade.
Nesse sentido, nossos levantamentos de campo em 2006, nos possibilitaram
o entendimento da realidade do setor produtivo de mesas para bilhar em Jaguapitã-
PR, mediante a realização de várias entrevistas, com informações sobre a evolução
e expansão desse setor na cidade. Assim, partindo desses dados de campo e de
demais informações adquiridas junto a órgãos públicos, discutiremos inicialmente a
gênese da produção industrial de mesas para bilhar, seguido da expansão,
caracterização da atividade industrial e processo produtivo, bem como dos
reinvestimentos do setor, as relações com o poder local, as dificuldades e as
perspectivas dos industriais.
4.1 – A Gênese da Produção Industrial de Mesas para Bilhar
O início do processo industrial de mesas para bilhar ocorreu no final
da década de 1960, num período em que a economia brasileira passava por uma
fase de expansão em seu desenvolvimento econômico, época essa que ficou
conhecida como “milagre brasileiro” -1968-1973.
No entanto, foi nas décadas seguintes, quando a economia mundial
e brasileira entrou na fase recessiva do quarto ciclo longo (4º Kondratieff) iniciado
em 1973, com a crise do petróleo (RANGEL, 1986), que a produção industrial de
mesas para bilhar na referida cidade foi consolidada, sempre relacionada às
iniciativas de agentes sociais locais. Segundo Fresca (2004, p.196), “[...] quando se
diz que eram iniciativas e investimentos predominantemente locais implica em dizer
que houve transferência de capital de atividades urbanas e rurais em direção à
implantação de unidades industriais [...]”. Foi o caso dos precursores da atividade
em Jaguapitã-PR, Levi Vieira e Nestor Ananias Cruz, ambos de origem urbana que
trabalhavam como representantes comerciais de artigos para vestuário no Norte do
Paraná, e resolveram em 1967, ainda de forma modesta, iniciar a produção industrial
de mesas para bilhar no município. Segundo Levi Vieira (2005), a idéia surgiu após o
132
proprietário de um estabelecimento comercial (bar) de uma cidade do norte-
paranaense ter solicitado a eles que trouxessem de Ponta Grossa-PR
34
uma mesa
para pebolim e assim que a mercadoria foi entregue os dois amigos perceberam que
era uma atividade lucrativa e resolveram iniciar a produção de mesas para pebolim.
Assim que foram produzidas as primeiras mesas para pebolim, os
sócios resolveram também produzir mesas para bilhar, ao perceberem que nos
bares os fregueses preferiam esse jogo ao de pebolim, que geralmente era mais
jogado por crianças e adolescentes. Então os marceneiros
35
contratados na época a
partir de uma mesa para bilhar adquirida pelos proprietários da Cruz & Vieira,
desmontaram e produziram na seqüência as peças parte a parte para a reprodução
de outras mesas, dando assim início à produção industrial de mesas para bilhar.
Como a preferência pelas mesas para bilhar nos estabelecimentos comerciais era
maior, as mesas para pebolim ficaram em segundo plano
36
.
Com capital oriundo de financiamento bancário e rendas pessoais de
seus salários, compraram uma camionete, a matéria-prima (madeira, tecido, bolas,
etc.) e um barracão onde eram fabricadas carroças, iniciando a produção de mesas
de pebolim, e na seqüência mesas para bilhar.
Segundo entrevista com os precursores da atividade (foto 20), nos
primeiros anos eles enfrentaram muita dificuldade em relação a obtenção da
matéria-prima (taco, tecido, bola, parafuso), que só era encontrada na cidade de São
Paulo-SP. Em virtude disso, eles se deslocavam duas vezes por mês para
comprarem tais produtos.
34
Até o final da década de 1960, não eram produzidas no Norte do Estado mesas para o pebolim e
nem para bilhar.
35
Eram três marceneiros, sendo um deles Carlos Cruz, irmão de Nestor Ananias Cruz.
36
Até 2006, embora em escala reduzida, praticamente todas as indústrias de mesas para bilhar ainda
produziam mesas para o jogo de pebolim. Segundo eles, é uma forma de atender o dono do
estabelecimento quando este também deseja ter uma mesa para pebolim. Dependendo do local onde
a concorrência é grande, se o industrial não tem a mesa para pebolim, o dono do estabelecimento
procura outro que possua as duas mesas.
133
Ainda nesses primeiros anos, como a produção era pequena, eles
locavam
37
mesas apenas em bares de cidades na região nordeste do Paraná como
Jacarezinho, Venceslau Braz, entre outras. Somente em 1973 e 1974 conseguiram
expandir a locação de mesas para cidades do interior do Estado de São Paulo,
incluso a capital, em função de contatos estabelecidos durante as viagens para
comprarem matéria-prima.
Foto 20: Levi Vieira e Nestor Ananias da Cruz, precursores nesse ramo industrial em
Jaguapitã-PR, 1980. Eles realizaram nesse dia uma festa em comemoração a
aposentadoria de um funcionário o senhor José Vieira, em meio aos dois sócios. Ao fundo
observa-se várias mesas para o jogo de bilhar ainda sem o acabamento final, mesas essas
foram fabricadas nas instalações modestas de um barracão que foi transformado por esses
sócios na primeira indústria da bilhar.
Fonte: Arquivo pessoal de Levi Vieira. Jaguapitã-PR (reprodução).
A partir de 1975, passaram a ter um bom retorno da atividade e
expandiram a produção, fato que possibilitou a ampliação da locação de mesas no
interior de São Paulo, além de propiciar no decorrer dos anos a expansão para
outras áreas como em cidades litorâneas de Santa Catarina e na região
metropolitana de Porto Alegre-RS. Com isso tiveram que contratar mais funcionários
37
Na indústria de mesas para bilhar após a fabricação, os industriais não vendem o produto, eles
fazem um acordo comercial, tendo como base um percentual estipulado no acordo entre o industrial e
o dono da casa comercial. Esse percentual é sobre o total de dinheiro arrecadado pela venda das
fichas em cada mesa num período de quinze a vinte dias de cada mês.
134
para fazer a linha
38
, pois apenas os dois proprietários não conseguiam realizar todo
o serviço. Consequentemente houve a ampliação das instalações físicas da
indústria, em função da necessidade de espaço para os equipamentos adquiridos,
para a matéria-prima e mesas que estavam sendo produzidas agora numa
quantidade maior que na década anterior. Assim, ocorreu a transferência da
indústria da Avenida São Paulo para as atuais instalações na Avenida Paraná, na
área central da cidade (foto 21).
Foto 21: Vista parcial da indústria Cruz & Vieira Ltda. Esta foi transferida para as atuais
instalações na Avenida Paraná, no início da década de 1980. Os sócios dispondo de capital
acumulado na produção e locação das mesas adquiriram um terreno amplo e construíram
nova planta, com área necessária para desenvolver todas as etapas da produção.
Fonte: Arquivo pessoal de Levi Vieira. Jaguapitã-PR (reprodução).
Ainda no final da década de 1960, foi criada a segunda indústria de
mesas para bilhar por iniciativa do pai de José Antônio Zago. Essa família de origem
urbana e com experiência na atividade de marcenaria, produzindo carroças e móveis
migrou de Iepê-SP em 1950 para a cidade de Lupionópolis-PR, onde montou outra
marcenaria e continuou produzindo carroças, carrocerias para caminhões e móveis
38
Fazer a linha é uma expressão que designa o deslocamento periódico de funcionários de uma
indústria de mesas para bilhar a diferentes cidades a fim de realizarem as seguintes tarefas: receber
o lucro de cada mesa a partir da venda das fichas, fazer a manutenção das danificadas; locar mais
mesas em outros bares e quando necessário retirar mesas dos estabelecimentos cujos proprietários
não desejam mais.
135
como mesas, cadeiras, armários, entre outros, para serem vendidos na região. Em
1966, a família mudou-se para Jaguapitã-PR e com o dinheiro obtido com a venda
da marcenaria anterior, montou outro estabelecimento para continuar no mesmo
ramo de atividade industrial.
Contudo, como em 1969, a produção de mesas para bilhar estava
despontando como atividade lucrativa na cidade, a família Zago que tinha sua
própria marcenaria resolveu diversificar a produção e começou a fabricar mesas
para bilhar. Para tanto não precisou dispor de novos investimentos, pois as
máquinas que eram utilizadas na produção de carroças e móveis foram facilmente
adaptadas para a fabricação de mesas para bilhar. Tão pouco a família precisou
adquirir camionetes para o transporte de mesas para locação, pelo fato de restringir-
se apenas à produção de mesas num primeiro momento. Portanto ela passou a
fabricar as mesas para bilhar e vender as mesmas para pessoas que estavam
começando a montar apenas as linhas de locação nos Estados do Mato Grosso e
Goiás, além de Jaguapitã-PR. Somente em abril de 1987 a família Zago investiu na
locação de suas próprias mesas, passando a estabelecer linhas em várias cidades
dos Estados do Paraná e do Mato Grosso.
A partir da década de 1970, ocorreu uma outra forma de expansão
da atividade industrial em Jaguapitã-PR. Várias pessoas com poucos recursos,
ingressaram no ramo pela locação das mesas. Essas pessoas, por caminhos
diversos, estabeleceram linhas em diferentes Estados brasileiros onde locavam as
mesas. Para a obtenção das mesmas, eles compravam toda a matéria-prima e
pagavam pela o-de-obra para determinada indústria. É o caso da indústria da
família Zago, a Bilhar Zagomesas, que durante muito tempo apenas se dedicou à
produção das mesas, vendendo-as para outros que estabeleceram linhas. Muitas
pessoas que tinham a linha, a partir de certo acúmulo de dinheiro construíram a
unidade industrial. Dentre essas pessoas destacamos o senhor Antônio Domingues
Neto, de origem rural que chegou ao município em 1943 ainda recém-nascido junto
com seus pais, oriundos da área rural do município de Ariado, sul de Minas Gerais.
O objetivo do deslocamento era cultivar café no norte do Paraná e, para tanto
136
adquiriram uma propriedade rural de doze alqueires paulista de terras em Jaguapitã-
PR.
Nessa propriedade o café era o produto principal em termos
econômicos, mas também eram cultivados outros gêneros alimentícios como arroz,
milho e feijão. Mas no início, durante a formação do cafezal, período de quatro a
cinco anos naquela época, a renda familiar era complementada com trabalho de
fretes com carros de boi na área rural e urbana. Em 1965, diante do desejo das
filhas estudarem, os pais resolveram morar na cidade, mas não se desfizeram da
propriedade e continuaram trabalhando na agricultura.
Por volta de 1971, Antônio Domingues Neto foi convidado por um
amigo para ser ajudante em uma linha para o Triângulo Mineiro
39
, e a partir desse
convite não deixou mais de viajar. Essa linha de mesas para bilhar era de Laércio
Soares com um sócio, e como eles não tinham a indústria, pagavam para outra
indústria fabricar as mesas. Essa linha em Minas Gerais tinha em torno de 150
mesas locadas em várias casas comerciais como bares, mercearias, salão de
barbearia, salões de jogos, etc.
No ano seguinte, Antônio Domingues Neto deixou de ser ajudante
para ser o responsável pela linha, contratando outra pessoa para o auxiliar. Isso
ocorreu porque a sociedade foi desfeita e seu Laércio Soares comprou a parte do
sócio - este iria abrir outra linha em Governador Valadares-MG. E assim Antônio
Domingues Neto ficou trabalhando como empregado até 1982, momento em que
Laércio Soares estava querendo deixar a atividade do bilhar para dedicar-se mais
nas suas lojas de tecidos em Maringá, denominadas Casas Milanezas. Então
arrendou sua linha para o funcionário, estipulando um preço simbólico. Nos dois
anos seguintes Antônio Domingues Neto investiu na linha, melhorando o rendimento
da mesma, ou seja, parte do dinheiro obtido com as mesas já locadas foi aplicado na
aquisição de mais mesas para bilhar, ampliando assim o número de locação na sua
linha.
39
Antônio Domingues Neto tinha um pouco de experiência como ajudante, pois em 1969 e 1970
havia feito algumas viagens na linha de Heitor Cruz, irmão de Nestor A. Cruz, sócio-proprietário da
indústria precursora em mesas para bilhar em Jaguapitã-PR.
137
Em 1984, Laércio Soares passou a se dedicar apenas à sua rede de
lojas de tecidos e vendeu a linha de mesas para bilhar e o veículo para Antônio
Domingues Neto, com pagamento parcelado mensalmente, com a renda obtida nas
mesas para bilhar e sem juros. Essas condições de pagamento facilitaram-lhe o
início como proprietário da linha, quitando as dívidas referentes à linha e a
camionete num período relativamente curto, que segundo o entrevistado “foi um
negócio de pai para filho”.
O bom retorno da atividade levou Antônio Domingues Neto a instalar
sua indústria em 1985. De início era um pequeno barracão com algumas máquinas
para marcenaria, que empregava apenas uma pessoa, o marceneiro, que também
viajava junto com o proprietário. Foi a partir da instalação dessa unidade que ele
ampliou a margem de lucro, pois além de não ter mais que pagar outro industrial
para fazer suas mesas, passou a fabricar também para outras pessoas que estavam
iniciando atividades nesse ramo. Com a expansão da produção houve a
necessidade de aumentar a de mão-de-obra, resultando na contratação de outro
marceneiro e mais funcionários para viajarem em 1989.
No decorrer da década de 1980, outras famílias que residiam na
cidade e tinham propriedade rural em Jaguapitã-PR também investiram na atividade
industrial da bilhar, entre elas a família Ceccatto, que chegou à cidade no ano de
1950, quando o senhor Antônio Ceccatto que trabalhava na área rural de Campo
Largo-PR resolveu ainda solteiro, migrar para Jaguapitã-PR se instalando na
fazenda de um conhecido da família para trabalhar como assalariado na realização
de serviços gerais.
Seu Antônio Ceccatto, que no decorrer do tempo casou-se e teve
quatro filhos, permaneceu na fazenda de João Antônio Prosdócimo por volta de 24
anos e oito meses. Mediante seu trabalho, acumulou economias, que somadas a
empréstimos (sem juros) feitos por seu patrão, propiciaram a compra da primeira
propriedade rural da família no município, cerca de 20 hectares.
A partir de 1974, a família passou a trabalhar em sua propriedade,
onde além da cafeicultura, criavam gado leiteiro. Os seus filhos ajudavam nos
138
trabalhos da propriedade, além de fazerem fretes (transporte de bois para o
frigorífico) com um caminhão que a família havia comprado no ano anterior. Em
1975, em busca de serviços sicos como a energia elétrica, a família transferiu-se
para a cidade e os irmãos continuaram com as atividades na propriedade rural.
Na primeira metade da década de 1980, um dos quatro filhos do Sr.
Ceccatto percebeu que os donos das indústrias de mesas para bilhar estavam
obtendo bons lucros com a locação, então decidiu entrar nesse ramo e convenceu o
pai e os demais irmãos a investirem nessa atividade. De início começaram apenas
com a locação de mesas que eram produzidas pela fábrica do José Zago, ou seja,
eles compravam em diferentes lugares toda a matéria-prima necessária para a
fabricação da mesa como a madeira em Cascavel-PR, as bolas, o tecido e o taco em
São Paulo-SP, a caçapa de alumínio no Estado de Minas Gerais e o prego,
parafuso, cola, dentre outros, em Londrina-PR e pagavam para essa indústria
fabricar as mesas. Os recursos utilizados para a aquisição da matéria-prima, a
compra das camionetes e pagamento da mão-de-obra utilizada na fabricação das
mesas foram obtidos a partir dos fretes realizados com o caminhão e da renda
gerada pelas atividades praticadas no sítio.
Em 1982, em função de possuírem pouco capital disponível,
produziram cerca de 20 mesas para bilhar que foram locadas em estabelecimentos
comerciais em Campo Largo-PR e cidades próximas, onde montaram seu primeiro
depósito
40
. No decorrer dos anos, com o lucro obtido a partir da locação dessas
primeiras mesas, a família investiu na linha e adquiriu mais mesas para serem
locadas nessa mesma área, atingindo um total de 100 unidades. A partir de então a
família dividiu as tarefas: dois irmãos ficaram responsáveis pelo trabalho de
cobrança e manutenção das mesas para bilhar e os outros dois, juntamente com o
pai, realizavam o trabalho no tio e os fretes com o caminhão. Ressalta-se que o
lucro obtido com a locação dessas mesas era revertido para a manutenção das
40
Lugar onde os irmãos Ceccatto, responsáveis pelas atividades da linha, permaneciam de quinze a
vinte dias para o recebimento do dinheiro e reformas das mesas locadas nos estabelecimentos
comerciais das cidades da região de Campo Largo-PR.
139
mesas, das camionetes e pagamento da mão-de-obra e matéria-prima utilizada na
fabricação das mesmas.
Segundo os irmãos Ceccatto em entrevista concedida, no final da
década de 1980, quando resolveram instalar a fábrica de mesas para bilhar, não
receberam nenhum tipo de apoio da prefeitura. Para tanto utilizaram recursos
próprios oriundos das atividades realizadas no tio, economias dos fretes até então
realizados e dinheiro obtido com a venda do próprio caminhão no ano de instalação
da unidade fabril, em 1987. Com a instalação da indústria eles conseguiram de
início, além da região de Campo Largo-PR, expandir a locação de suas mesas para
a região sul do Paraná, atingindo no decorrer dos anos, a região metropolitana de
Porto Alegre-RS, além das áreas litorâneas de Santa Catarina.
No decorrer da década de 1970 poucas fábricas foram instaladas em
Jaguapitã-PR; essa atividade tomou impulso maior na cidade a partir da década de
1980, face o sucesso obtido pelas primeiras. Segundo entrevistas com os donos de
fábricas de mesas para bilhar, no decorrer da década de 1970/1980, vários
estabelecimentos comerciais como os bares foram instalados na cidade com o
objetivo de terem mesas para bilhar locadas. Assim, as unidades fabris começaram
a se desenvolver, tornando-se uma alternativa para muitos agricultores que se
deparavam com problemas nessa atividade.
Conforme vimos em capítulos anteriores, foi a partir do final da
década de 1970 e início de 1980 que as transformações na agropecuária se
concretizaram em Jaguapitã-PR, via mecanização da lavoura. Nesse contexto de
ampliação das áreas ocupadas pelas culturas da soja, do trigo e do algodão e de
redução da área destinada a cafeicultura, acrescido de mudanças nas relações
sociais de trabalho no campo, onde o porcenteiro e colono foram substituídos
paulatinamente pelo trabalhador assalariado, agricultores resolveram ou foram
obrigados a migrarem para a cidade e passaram a investir a renda acumulada nas
atividades agrícolas - com destaque para a cafeicultura - nas indústrias de mesas
para bilhar que já despontavam como empreendimento lucrativo, conservando a
propriedade rural como um complemento da renda, mediante a criação de gado
140
bovino ou culturas mecanizadas. Cerca de 60% dos atuais proprietários de indústrias
de mesas para bilhar tiveram origem rural e apenas 40% se dedicavam às atividades
urbanas, anterior à produção industrial.
Ao analisarmos a origem da produção industrial de mesas para
bilhar em Jaguapitã-PR, pode-se dizer que a primeira indústria instalada por Levi
Vieira e Nestor Ananias da Cruz foi precursora, pelo fato “[...] que desta unidade
produtiva emergiram outras, seja pela criação da sociedade e quando de seu
rompimento, um dos ex-sócios abriu nova empresa; e principalmente, seja pela
experiência gerada aos funcionários que depois iniciaram atividades industriais”
(FRESCA, 2005, p.5559).
É importante ressaltar que a consolidação da produção industrial em
Jaguapitã-PR, ocorreu justamente numa fase recessiva mundial e agravada no
Brasil a partir de 1980, conhecida como “década perdida” em função da perda do
ritmo de crescimento comparativo ao período anterior, com destaque para a redução
da produção industrial e os altos índices inflacionários (RANGEL, 1986). Essa etapa
recessiva levou agentes sociais locais a buscarem e implantarem medidas e
soluções que naquele momento pudessem fazer frente à perda de ritmo do
crescimento econômico (FRESCA, 2004a). Noutras palavras, partindo das
proposições de Cheptulin (1982), entendemos que as possibilidades de realização
criadas a partir da incidência de processos gerais, concretizaram-se mediante a
combinação do necessário com o contingente. Ou seja, a realização do processo
industrial enquanto uma das possibilidades emanadas do todo no referido período,
ocorreu em Jaguapitã-PR a partir da existência correlacionada de aspectos
internos (o necessário) com circunstâncias ou variáveis externas (o contingente).
Essas iniciativas locais de pequenos proprietários rurais,
comerciantes ou de ex-funcionários com técnicas e habilidades, foram responsáveis
no decorrer das décadas de 1970-2000 pela implantação e consolidação do setor
produtivo industrial de mesas para bilhar em Jaguapitã-PR, que hoje concentra 46
unidades fabris ativas (JAGUAPITÃ, 2006), ocupando no cenário nacional o patamar
de município com maior concentração de fábricas de mesas para bilhar, inserindo
141
essa pequena cidade numa rede de relações diversas com outros núcleos urbanos
numa escala nacional, seja através da obtenção de matéria-prima ou através da
locação das mesas.
4.2 – Expansão da Atividade Industrial
A partir da criação da indústria Cruz & Vieira e do sucesso
alcançado pela mesma, ocorreu a expansão desse tipo de indústria na cidade de
Jaguapitã-PR. Ou seja, a ampliação das áreas de locação no decorrer da década de
1970 pela indústria precursora e a conseqüente lucratividade desses dois sócios,
despertou o interesse de outras pessoas no decorrer das décadas seguintes. Tal
processo permitiu a ampliação do número de indústrias que fabricam mesas para
bilhar na cidade (JAGUAPITÃ, 2006).
Os levantamentos de campo nos permitiram identificar que no
momento de profundas transformações na agropecuária municipal, agentes sociais
locais passaram a investir na atividade industrial, podendo ser os mesmos
classificados em quatro grupos distintos. O primeiro composto por proprietários
rurais, que diante da desestruturação da estrutura produtiva que até então era
baseada na cafeicultura e no cultivo de cereais e matéria-prima e da introdução de
cultura mecanizadas, transferiram parcela das rendas para investimento no ramo
industrial que estava emergindo na cidade de Jaguapitã-PR. Dentre esses
encontram-se aqueles que fizeram transferência de renda acumulada nas atividades
agropecuárias ou mesmo de dinheiro obtido a partir venda de veículos e/ou casas
para a instalação da unidade industrial não precisando dispor da propriedade rural.
Outros dispuseram de parte das terras como forma de obter o capital necessário
para a instalação da indústria.
Um segundo grupo engloba os filhos e/ou genros, cujos pais ou
sogros proprietários rurais, diante das perspectivas de lucros na indústria de mesas
para o jogo de bilhar e do desejo de encaminhar o filho ou genro para o
desenvolvimento de um negócio próprio, optaram por apoiá-los na instalação da
unidade fabril. Para tanto dispuseram de parte de terras, da renda obtida com safra
142
de café ou soja e de imóveis como forma de obter o capital necessário para a
fabricação das mesas e da linha ou para a instalação da fábrica. Indústrias essas
que passaram a ser de propriedade e responsabilidade do filho ou genro.
Os ex-funcionários e ex-sócios das indústrias de bilhar compõem o
terceiro grupo, que em função da experiência prévia como funcionário ou na
administração da empresa resolveram investir na instalação de unidades industriais
próprias. No caso do ex-sócio, o período de convivência administrativa na sociedade
permitiu o conhecimento de uma série de fatores referentes ao funcionamento da
indústria, como a produção e locação de mesas para o jogo de bilhar, além do
contato com os fornecedores de matéria-prima e acessórios. Os ex-funcionários
tanto os marceneiros como os responsáveis pelo trabalho na linha, após o acúmulo
de experiência e de certa poupança também passaram a investir na instalação de
uma indústria própria.
Ao considerar o contato com a atividade industrial de mesas para
bilhar um elemento que fomentou o surgimento de outras indústrias desse ramo,
torna-se necessário ressaltar que alguns industriais antes de instalarem suas
fábricas possuíam linhas de mesas locadas, acumulando assim além do capital
certa experiência. Ou então, esses elementos somados a outras fontes de
rendimento resultaram na abertura de unidades industriais. Chamamos a atenção
para a origem de outras indústrias, que embora tenham sido citadas em outros
grupos, as mesmas também tiveram os rendimentos da propriedade de uma linha de
mesas para bilhar somados ao montante de capital utilizado para sua fundação.
O quarto e último grupo é formado por pessoas ligadas às atividades
urbanas como comércio, fabricação de móveis, beneficiamento de café ou que eram
profissionais liberais. Esses agentes sociais investiram as economias acumuladas
nas atividades anteriores ou então a quantia recebida como acerto com o patrão
para a instalação de suas indústrias de mesas para bilhar. Está incluída nesse
conjunto a precursora Cruz & Vieira, que foi criada a partir de economias do salário
dos dois sócios e de um financiamento bancário, já comentado anteriormente.
143
Esse levantamento a respeito da origem do capital utilizado para a
instalação da unidade fabril, evidencia que diferentemente do que ocorreu com as
agroindústrias avícolas que receberam incentivos fiscais e terreno para sua
instalação a cidade de Jaguapitã-PR, a maioria dos industriais de mesas para bilhar
não contaram com o apoio de órgãos públicos durante a instalação das unidades
industriais na cidade.
A partir da observação da tabela 17, percebe-se que esses
estabelecimentos desde sua origem eram pequenas unidades produtivas, que em
sua maior parte iniciaram o trabalho industrial com pouco capital e poucos
funcionários, sendo a produção na maioria das indústrias nessa fase inicial de
instalação, maior que quando comparada a produção de 2006. Isso de deve ao fato
de que no início da atividade, a demanda e produção de mesas era maior em função
da montagem das linhas, ou seja, eles precisavam de uma quantidade significativa
de mesas para locarem nos estabelecimentos comerciais. Portanto, em quase todas
as indústrias a produção inicial sempre foi grande, segundo relataram nossos
entrevistados. À medida que os industriais iam estabelecendo suas linhas, a
produção de mesas tendia a reduzir.
Na tabela 17 ainda é possível verificar que entre 1967 1977, foram
criadas 4 indústrias: entre o ano de 1980-1990 foram criadas 10; entre 1991-2000,
10 empresas e no início dos anos 2000, 03 outras empresas. Sendo assim, fica claro
que foi na década de 1980 e 1990 que foram criadas o maior número de indústrias
de mesas para bilhar em Jaguapitã-PR, décadas essas onde a denominada crise
econômica nacional foi mais intensa. Isso demonstra as possibilidades entreabertas
de como agentes sociais diversos encontram e implantam atividades produtivas para
fazer frente à crise.
144
Tabela 17: A origem e a situação inicial das indústrias de mesas para bilhar em Jaguapitã-PR a partir de 1967.
Situação inicial
Ano
Indústria
Origem do capital
funcionários.
produção
funcionários
linha
média prod.
mensal
finalidade áreas do mercado
consumidor
1967 1 economias do salário +
financiamento bancário
3 a 5 locação Nordeste do Paraná
1969 2 evolução de marcenaria p
indústria + economias pessoais
2 não tinha
linhas
10 venda Paraná: proprietários de
linhas e donos de
estabelecimentos
comerciais
1975 3 renda obtida no café +
financiamento bancário
1 4 10 locação Norte, Sul e Oeste do
Paraná
1977 4 economia do trabalho em outra
indústria de bilhar
1 2 5 locação Norte e Noroeste do
Paraná
1980 5 evolução de marcenaria para
indústria + economias pessoais
a b 2 locação Norte de São Paulo
1982 6 renda obtida na agricultura +
rendimento da propriedade de
linha de mesas para bilhar
5 5 50 locação Litoral de Santa Catarina,
Norte e Oeste do Paraná,
Norte de São Paulo e Sul
de Goiás
1984 7 rendimento da propriedade de
linha de mesas para bilhar +
venda de bens pessoais
1 1 10 locação Noroeste do Paraná
1985 8 dissolução de sociedade 01 04 07 locação Oeste do Paraná
Noroeste do Mato Grosso
1985 9 rendimento da propriedade de
linha de mesas para bilhar
1 1 2 locação Sudoeste de Minas Gerais
e Sul de Goiás
145
Situação inicial
Ano
Indústria
Origem do capital
funcionários.
produção
funcionários
linha
média prod.
mensal
finalidade áreas do mercado
consumidor
1986 10 rendimento da propriedade de
linha de mesas para bilhar +
acúmulo de capital em
sociedade anterior numa
indústria de mesas para bilhar
a 1
8 locação Sul do Mato Grosso
1986 11 venda de bens pessoais a a 10 locação Norte do Paraná
1987 12 dissolução de sociedade 1 10 10 locação Oeste do Mato grosso,
Norte de São Paulo,
Sudoeste do Rio Grande do
Sul.
1987 13 economias da agricultura +
venda de bens pessoais
2 4 15 locação Sudeste e Sul do Paraná
1989 14 rendimento da propriedade de
linha de mesas para bilhar
1 2 7 locação Norte do Paraná
1990 15 dinheiro do acerto de recisão
de contrato + venda de bens
pessoais
1 1 10 locação Noroeste e Sudoeste do
Paraná
1991 16 capital obtido na indústria de
beneficiamento de café
6 6 50 locação Região Metropolitana de
Florianópolis e litoral de
Santa Catarina
1991 17 venda de bens pessoais 1 6 15 locação Noroeste de Santa
Catarina, Sul e Sudoeste
de São Paulo
146
Situação inicial
Ano
Indústria
Origem do capital
funcionários
produção
funcionários
linha
média prod.
mensal
finalidade áreas do mercado
consumidor
1992 18 venda de bens pessoais
(sogro)
01 3
10 locação Litoral de Santa Catarina
1993 19 rendimento da propriedade de
linha de bilhar + venda de bens
pessoais (pai e sogro).
1 2
2 locação Região Metropolitana de
Curitiba, Litoral de Santa
Catarina
1994 20 venda de bens pessoais +
renda obtida na pecuária
1 a
3 locação Noroeste e Oeste do
Paraná
1994 21 rendimento de uma safra de
soja (pai)
2 4
10 locação Norte de Santa Catarina,
Sul Mato Grosso do Sul
1996 22 economias do trabalho como
funcionário numa linha de
outra indústria
1 2
35 locação Litoral de Santa Catarina
1997 23 venda de bens pessoais +
rendimento da propriedade de
linha de bilhar
c 1
0,5 locação Sudoeste de São Paulo,
Nordeste do Rio Grande do
Sul
1999 24 rendimento da propriedade de
linha de bilhar + lucro de
estabelecimento comercial
1 2
Não informou locação Oeste do Paraná
2002 25 bancário acertos de recisão
de contrato
2 10
10 locação Norte, Oeste e Sudoeste do
Paraná, Sul e Sudeste do
Mato Grosso
2003 26 dissolução de sociedade 4 14
20 locação Região Sul do Brasil
147
Situação inicial
Ano
Indústria
Origem do capital
funcionários
produção
funcionários
linha
média prod.
mensal
finalidade áreas do mercado
consumidor
2004 27 rendimento da propriedade de
linha de bilhar
4 3
8 locação Noroeste do Paraná
a: O trabalho é realizado pelo(s) proprietário(s)
b: O trabalho é realizado pelo proprietário e pelo filho
c: Funcionário contratado temporariamente, somente em épocas de fabricação de mesas.
Fonte: Levantamentos de campo, 2006.
Org. Léia Aparecida Veiga
148
De acordo com dados fornecidos por JAGUAPITÃ (2006), existiam
em 2006, 54 unidades industriais do ramo na cidade. No entanto, durante nossas
pesquisas de campo 2006, foi possível levantar que desse total 08 estão
desativadas. A respeito dessas unidades, conversas informais nos indicaram que as
mesmas estão temporariamente desativadas em função de problemas pessoais do
proprietário, o falecimento proprietário ou então por problemas de saúde do dono da
indústria. No entanto, 04 industriais desativaram a unidade fabril mas não venderam
as linhas de mesas locadas, as mesmas foram arrendadas para outros industriais da
cidade, com um pagamento apoiado em um percentual dos lucros. O dono da linha
passa a receber cerca de 30% dos rendimentos líquidos, ficando para o arrendatário
as despesas com a manutenção, com o custo dos funcionários, transporte, matéria-
prima e acessórios para a reforma das mesas dessas linhas.
No processo de expansão do setor produtivo industrial de mesas
para bilhar na cidade de Jaguapitã-PR, não houve um direcionamento por parte do
poder público local, para uma área ou criação de distritos industriais capazes de
abrigar a maior parte das unidades produtivas. Diante disso, a maioria dessas
unidades estão localizadas nos bairros residenciais, tendo apenas 05 nos parques
industriais atuais e uma quantidade pequena na área central, como pode ser
observado na figura 07. Essa dispersão das indústrias de mesas para bilhar na área
urbana, está estritamente correlacionada à falta de áreas previamente destinadas
por parte das autoridades municipais para a localização das mesmas até meados da
década de 1990 e também às condições econômicas em que se deu a instalação de
cada uma. Cada industrial a partir de capital próprio investiu na abertura de sua
empresa em terreno livre no fundo do quintal da própria casa ou adquiriu outro, que
geralmente teria fim residencial, para a construção do galpão onde se realizaria
todas as etapas produtivas da indústria, como pode ser observado nas fotos 22, 23,
24 e 25.
149
Foto 22: Vista parcial de uma indústria de mesas para bilhar. Situada no fundo do quintal do
proprietário, é uma micro-empresa que foi instalada em 2001 com capital oriundo da venda
de equipamentos agrícolas. É um barracão simples e pequeno onde ficam alojadas as
máquinas, a matéria-prima e as mesas que estão sendo fabricadas. Observa-se uma
camionete D-20 utilizada em uma das linhas dessa indústria, de propriedade do industrial.
Fonte: A autora, 2007.
150
Figura 07: Localização das Indústrias de Mesas para Bilhar na Cidade de Jaguapitã-PR, 2006.
Fonte: Prefeitura Municipal de Jaguapitã-PR.
151
Foto 23: Vista parcial de uma indústria de mesas para bilhar. Essa micro-empresa também
está situada no fundo do quintal do proprietário, mas ao contrário da anterior, possui
instalações mais amplas.
Fonte: A autora, 2007.
Foto 24: Vista parcial de uma indústria de mesa para bilhar. Essa unidade fabril foi
construída em terreno adquirido pelos proprietários numa área residencial. Observa-se
ainda um caminhão pequeno que é utilizado em uma das linhas da indústria, normalmente
por aqueles que contam com maior capital de giro.
Fonte: A autora, 2007.
152
Foto 25: Vista parcial da área interna de uma indústria de mesas de bilhar. Nota-se um
funcionário trabalhando na produção de uma mesa de pebolim, bem como uma mesa para
bilhar em processo de reforma e outra sendo fabricada. Acompanhando as laterais das
paredes estão distribuídos os equipamentos de produção.
Fonte: A autora, 2007.
O conjunto de unidades industriais de mesas para bilhar de
Jaguapitã-PR, é composto por estabelecimentos predominantemente considerados
de micro e pequeno porte, segundo a classificação do Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresa - SEBRAE. Este, utiliza o número de funcionários como
elemento básico para a classificação das indústrias
41
. Durante os levantamentos de
campo, verificou-se que das 46 indústrias atuantes em 2006, apenas 04 possuíam
entre 21 e 25 funcionários formais empregados na produção, nas linhas de locação
e no administrativo, empregando as demais de 03 a 20 pessoas formalmente,
lembrando que essas não empregam funcionários no administrativo, sendo essa
função realizada pelo proprietário ou familiares. Portanto, segundo o número de
funcionários pode-se afirmar que em 2006, existiam 04 pequenas-empresas e 42
micro-empresas do ramo de mesas para bilhar. Ressalta-se que estamos aqui
utilizando os dados obtidos com os levantamentos de campo. Contudo, importa frisar
que a possibilidade dessas indústrias contarem com um número maior de
funcionários, especialmente aquelas que prestam serviços em condições informais,
o que afetaria a caracterização estabelecida em micro e pequena empresa.
41
Micro-Empresa: até 20 funcionários, Pequena-Empresa: de 21 a 100 funcionários, Média-Empresa:
de 101 a 500 funcionários, Grande-Empresa: acima de 500 funcionários.
153
Em relação ao aspecto administrativo, verificamos o predomínio da
gestão empresarial familiar, pois todas as indústrias estão organizadas em
sociedade limitada, estabelecida entre sócios com vínculos de parentesco -
sociedade entre irmãos, casal, pais e filhos, cunhados, e outros, e com vínculos de
amizade estabelecidos em trabalhos anteriores, na vizinhança, entre outros.
A partir do que foi exposto sobre a criação e expansão do número
das indústrias de mesas para o jogo de bilhar em Jaguapitã-PR, fica evidente que
esse processo ocorreu vinculado ao que Fresca (2000) denominou de contato
próximo. Ou seja, “[...] a partir do sucesso de uma empresa gerou-se a perspectiva
da implantação de outras, sem que para tal, tenha havido uma política ou ações
coordenadas por parte de órgãos públicos ou agentes privados como forma de
fomentar a criação de indústrias” (FRESCA, 2000, p. 361).
4.3– Caracterização da Atividade Industrial: matéria-prima, sistema de
comercialização, mercado consumidor e produção
O desenvolvimento e expansão desse ramo industrial no decorrer
das décadas de 1970-2000 suscitou um deslocamento cada vez maior de pessoas,
mercadorias, informações e capital de e para Jaguapitã-PR. Com o crescente
número de unidades produtivas, foi ampliada a demanda por matéria-prima e
acessórios, assim como ocorreu a expansão das áreas para a locação das mesas
para o jogo de bilhar , ou seja, do mercado consumidor.
Assim, como primeiro elemento de análise temos a obtenção da
matéria-prima e acessórios pelas indústrias de Jaguapitã-PR que no decorrer do
período estudado ampliou a rede de relações dessa pequena cidade com redes
urbanas de diferentes regiões brasileiras. Isso porque na década de 1970, segundo
nossos levantamentos de campo, tanto a matéria-prima quanto os acessórios eram
adquiridos no Paraná, em São Paulo e Mato Grosso, incluindo em 2006, os estados
de Santa Catarina, Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e
Rondônia no grupo de fornecedores de matéria-prima e acessórios. Essa crescente
154
expansão da área para obtenção da matéria-prima está correlacionada às melhorias
nas vias de transportes e de comunicações ocorridas nas últimas décadas no
território brasileiro, fator esse que possibilitou aos industriais uma opção maior de
escolha tanto em qualidade como no preço do produto no atacado.
Na tabela 18 a seguir estão relacionadas todas as matérias-primas e
acessórios utilizados para a produção de mesas para bilhar e mesas para o
pebolim
42
. Observa-se que dentre os fornecedores de madeira e compensados, o
Paraná foi o responsável pelo fornecimento de parte significativa dessa matéria-
prima tanto na década de 1970 como em 2006, embora o estado de Mato Grosso
tenha fornecido também nas referidas épocas muita madeira para as indústrias do
ramo. Dentre as variedades de madeiras utilizadas destacam-se o pinho, o cedrilho
e o eucalipto, mas segundo o relato de alguns industriais, também são utilizadas as
variedades Santa Bárbara e Grevilha na fabricação das mesas, espécies essas
encontradas facilmente nas propriedades rurais de Jaguapitã-PR e região. Em
relação aos compensados e aglomerados, destacam-se Guarapuava-PR e Irati-PR
como principais fornecedores em 2006.
O Paraná em 2001, foi o terceiro maior produtor de madeira no
Brasil, concentrando em torno de 19% da produção nacional. Dentre as micro-
regiões paranaenses com maior concentração de indústrias madeireiras destacou-se
a de Guarapuava-PR, na qual apenas o citado município produziu 1.751.200 m3 de
madeira de silvicultura (MONTANARI, 2006). O município de Irati-PR, está localizado
numa área de produção madeireira, conformando juntamente com os demais
municípios da Região Irati-União da Vitória na segunda região maior produtora de
tora do Paraná em 2003, quando as reservas naturais e de reflorestamento dessa
região apresentaram um total de 6,0 milhões de m³ de madeiras em tora (OLIVEIRA,
2006).
42
Para a fabricação da mesa para pebolim são utilizadas praticamente as mesmas matérias-primas
que nas mesas de bilhar, a exceção do jogo de pebolim que é especifico. Segundo levantamentos, a
produção de mesa para pebolim não é significativa, em virtude da procura ser pequena. Os industriais
produzem esse tipo de mesa objetivando ter o produto caso o proprietário do estabelecimento
comercial queira além da mesa para bilhar, a mesa para pebolim.
155
Tabela 18 : Locais de Obtenção de Matéria-Prima e Acessórios para as Indústrias de Mesas para Bilhar de Jaguapitã-PR, 2006.
Localização
Tipo
Especificação
1970 2006
Ardósia
São Paulo-SP
Trombudo Central-SC e Belo
Horizonte-MG
Grampos, Tecido (acrílico), adesivo para laminado
(cola fórmica), cola PVA, parafusos.
São Paulo -SP
São Paulo-SP
Madeira (aglomerado) Paraná Guarapuava-PR
Madeira (cedro ou cedrilho) Paraná e Mato Grosso do Sul Marcelândia-MT
Compensados (maderite) Norte do Paraná Irati-PR
Borracha própria para tabela, percevejos, parafusos o Paulo -SP Região Metropolitana de Florianópolis-
SC
Laminados (fórmica) São Paulo-SP São Paulo-SP
Tecido de brim
São Paulo -SP e Londrina -PR Belo Horizonte-MG, São Paulo-SP,
Londrina-PR
Matéria-prima
Napa, Duraplac,
borracha
São Paulo-SP Arapongas-PR
Campinas-SP
Bolas
São Paulo-SP Francisco Beltrão- PR e São Paulo-SP.
Materiais fundidos (caçapas e pé niveladores)
São Paulo-SP
Apucarana -PR
Artigos Plásticos (cantoneiras, caçapas de plástico,
taqueiras, porta giz, pregos, cruzeta de plástico)
São Paulo-SP e Paraná
Londrina -PR e São Paulo-SP
Ponteira São Paulo-SP Curitiba-PR
Troféus São Paulo-SP Ibiporã- PR
Anilhas São Paulo-SP Cambé- PR
Contador de partidas, ficheiros, giz, cruzeta de
alumínio
São Paulo
São Paulo-SP
Fechadura e puxador São Paulo-SP Salvador-BA
Jogo de pebolim São Paulo-SP São Paulo-SP
Acessórios
Tacos
São Paulo-SP * São José do Rio Preto-SP, Cerejeiras-
RO, Goianésia- GO e Açailândia- MA.
* Na década de 1970 poucos tacos eram adquiridos em São Paulo (SP), isso porque a grande maioria de tacos era fabricada pela própria indústria de mesas
para bilhar.
Fonte: Levantamento de campo, 2006.
Org.: Léia Aparecida Veiga
156
Nas cadas de 1970 e 1980, o consumo de madeira pelas
indústrias de mesas para bilhar era maior primeiramente porque a produção de
mesas para bilhar quando comparado às décadas seguintes, era muito superior, em
função da demanda pelo produto nas linhas que estavam sendo montadas pelas
fábricas. E outro fator correlaciona-se aos tacos que eram fabricados pelos próprios
industriais tanto em 1970 como em 1980. Produção essa que foi diminuindo ao
ponto de em 2006 apenas uma unidade fabricar os seus tacos; a maioria abandonou
essa parte da produção porque o custo produtivo é maior que a aquisição de tacos
prontos. Em relação à indústria que produz os seus próprios tacos, a mesma
continua com essa prática porque consegue adquirir a madeira a preços baixos na
Região Norte. A madeira destinada para a produção dos tacos é obtida em
Rondônia, em função do preço e da qualidade da mesma que resulta num produto
final mais resistente e sem imperfeições.
É importante ressaltar que durante os levantamentos de campo
feitos em 2006, uma parcela significativa de industriais informou que está comprando
madeira nas madeireiras de Jaguapitã-PR e demais matérias-primas e acessórios
em Jaguapitã-PR e em Londrina-PR. Isso se deve ao fato deles estarem fazendo
mais reformas de mesas do que produzindo e segundo os entrevistados, as
reformas não demandam tanta matéria-prima e acessórios como a fabricação de
mesas, sendo assim como o preço em Jaguapitã-PR e Londrina-PR é semelhante
ao praticado em São Paulo e outros estados, eles preferem adquirir esses produtos
no Norte do Paraná, barateando os custos em razão do transporte.
A aquisição de matéria-prima e acessórios também pode ser
realizada na própria cidade de Jaguapitã-PR pelo fato da mesma possuir dois
estabelecimentos comerciais atacadistas, ambos originados a partir da iniciativa de
agentes sociais locais, no limiar da década de 1990 e início de 2000. A instalação do
primeiro, Art Pedras, ocorreu em 1999, quando um funcionário do Banco do Brasil da
cidade, que tinha na revenda de ardósia uma atividade paralela desde 1996,
resolveu deixar a atividade e se dedicar somente à revenda de tais produtos,
montando assim o seu próprio estabelecimento comercial com o dinheiro que
recebera do acerto com o banco. Com a abertura de sua loja de acessórios, ele
passou a revender além da ardósia todos os demais acessórios e matérias-primas
157
para as indústrias de Jaguapitã-PR e de outras cidades. Segundo o entrevistado, em
Jaguapitã-PR ele revende apenas 30% do seu estoque, o restante é comercializado
em uma filial no Rio Grande do Sul e outra no Estado de Goiás.
O segundo estabelecimento comercial atacadista, a Valpedras, foi
instalado em 2000, em função da dissolução de uma sociedade numa indústria de
mesas para bilhar, quando um dos sócios resolveu com o dinheiro obtido no final da
sociedade, revender matéria-prima para as indústrias, no caso apenas a ardósia,
que é adquirida em Trombudo Central (SC) e revendida em Jaguapitã-PR e para
outras cidades de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Além da
revenda dessa matéria-prima, possui algumas máquinas como a “máquina de lixar a
ardósia”, prestando serviços para outros donos de indústrias de mesas para bilhar
da cidade que ainda não possuem tal equipamento.
A partir do comércio atacadista de matéria-prima e acessórios para
as indústrias de mesas para bilhar, percebe-se que a produção das referidas mesas
é significativa em vários estados. Segundo nossos levantamentos de campo no ano
de 2006, em ordem de importância, no tocante à produção destacam-se os estados
de o Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro (Antônio Hernandes, 2006). A
partir da venda de acessórios e matéria-prima para o setor em inúmeros estados
brasileiros, Antonio Hernandes nos informou que, embora em menor proporção,
outros estados apresentavam um crescimento significativo nesse setor como Bahia,
Pernambuco, Maranhão, Piauí, Goiás e Rio Grande do Sul.
A respeito da comercialização da matéria-prima e acessórios por
esses estabelecimentos, se faz necessário dizer que o pagamento das mesmas por
parte significativa dos industriais é feito na maioria dos casos a prazo, para trinta
dias ou parcelado em duas, três ou mais vezes, dependendo da quantidade
adquirida pelo industrial. Os casos de pagamentos a vista estão relacionados às
compras pequenas de materiais como pregos, artigos plásticos, laminados, etc. que
faltam para concluir a mesa que está sendo construída ou reformada.
Os mapas 06 e 07 com as interações espaciais para Jaguapitã-PR,
especificamente para obtenção de matérias-primas pelos industriais na década de
158
Mapa 06: Interações espaciais para Jaguapitã-PR, 1970. Principais áreas fornecedoras de matéria-prima e acessórios para as indústrias de
mesas para bilhar de Jaguapitã-PR.
Fonte: Levantamentos de campo, 2006.
159
Mapa 07: Interações espaciais para Jaguapitã-PR, 2006. Principais áreas fornecedoras de
matéria-prima e acessórios para as indústrias de mesas para bilhar de Jaguapitã-PR.
Fonte: Levantamentos de campo, 2006.
1970 e no ano de 2006, demonstram que as interações estabelecidas por essa
pequena cidade via indústrias de mesas para bilhar foram ampliadas
significativamente nos últimos 30 anos.
Observa-se assim que se no decorrer da cada de 1970 os
industriais ao adquirirem matérias-primas e acessórios restringiam-se apenas aos
Estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso. em 2006, segundo nossos
levantamentos de campo, devido o processo de melhorias e ampliação dos meios de
160
transportes e de comunicação discutido anteriormente e crescente demanda por
matérias-primas e acessórios por parte das unidades industriais de mesas para
bilhar que foram instaladas na cidade após 1970, tanto os industriais como os
estabelecimentos comerciais atacadistas instalados no início de 2000, passaram a
estabelecer relações espaciais longínquas ao interagirem com cidades de outras
redes urbanas, ampliando assim as relações comerciais com regiões brasileiras
distintas. Nesse contexto, os estabelecimentos atacadistas de matérias-primas e
acessórios são responsáveis pelas relações comerciais mais distantes como no caso
da ardósia, adquirida em Santa Catarina e Minas Gerais, dos tacos que são
adquiridos em Goiás e Maranhão, as fechaduras e puxadores comprados na Bahia,
entre outros.
Nosso segundo elemento de análise é o sistema de comercialização
das mesas para bilhar, que ampliou de forma muito acentuada as interações
espaciais tanto em escala nacional, com maior concentração no Sul, Sudeste,
Centro-Oeste e Região Norte, como internacional ao englobar o mercado
consumidor argentino, paraguaio e uruguaio.
Durante os levantamentos de campo, foi possível identificar duas
formas de “comercialização” das mesas: a locação das mesmas preferencialmente
em estabelecimentos comerciais do tipo bares e a venda propriamente dita de
mesas para bilhar.
O procedimento de locação de mesas para bilhar é o mais utilizado
pelos industriais de Jaguapitã-PR. A locação consiste num acordo realizado entre o
industrial e/ou funcionário da indústria e o dono do estabelecimento comercial, onde
o primeiro fornece a mesa para bilhar e toda a manutenção da mesma durante o
mês e o dono do estabelecimento além de ceder área para a mesa, fica responsável
pela venda de fichas e pelo bom uso da mesa durante os jogos de bilhar. Ao final de
cada mês, o dinheiro arrecadado em cada mesa a partir da venda das fichas é
dividido entre o industrial e o dono do estabelecimento, que oscila em torno de 40%
para o industrial e 60% para o estabelecimento comercial.
161
Embora tenhamos delineado desde o início de nosso trabalho a
particularidade desse estudo por se tratar da especialização produtiva industrial
numa cidade pequena, ao nos aprofundarmos no entendimento desse ramo
industrial, percebemos uma peculiaridade do mesmo, que diferente dos demais
gêneros industriais presentes na cidade e na região norte-paranaense não vende a
mercadoria produzida, pelo fato da mesma ser destinada à montagem das linhas.
Esse processo de produção de mesas para bilhar cuja finalidade é a locação,
envolve uma discussão bastante instigante a respeito da apropriação do lucro.
Embasados na idéia que o industrial se apropria da mais-valia
extraída dos trabalhadores no ato de produção da mercadoria e que a obtenção do
lucro é concretizada no momento da venda do produto (Marx, 1985), entendemos
primeiramente que o industrial que produz as mesas para a venda extrai de imediato
o seu lucro, algo que não ocorre com aqueles que locam as mesas. A nosso ver, o
industrial que possui mesas locadas, ao realizar a produção das mesas para bilhar
não obtém de imediato a mais-valia, porque esta mercadoria não é vendida, mas
sim, locada. Podemos dizer que a mais-valia está aprisionada na mercadoria e que o
industrial vai obtendo parceladamente, ou seja, mês a mês ele vai obtendo uma
parcela desse lucro, os 40% sobre o rendimento mensal de cada mesa baseado
no preço da ficha de jogo corresponde ao lucro do industrial. Lucro esse que está
condicionado ao preço de cada ficha, variando de acordo com a concorrência. Mas o
industrial também obtém mais-valia sobre os trabalhadores que realizam a linha, ou
seja, os responsáveis pela mesma que são o motorista e também o seu ajudante.
Estes, em grande parte das indústrias, além do trabalho de locação e recebimento,
realizam algumas reformas necessárias às mesas, como a substituição do tecido, de
caçapa, de ficheiro, da ponteira do taco, de alguma peça de madeira que está
danificada, etc., sendo essa reforma, dependendo do que está danificado, realizada
no próprio estabelecimento comercial, no depósito ou na indústria. Também foram
observados casos onde os responsáveis pela linha auxiliavam o marceneiro na
reforma geral das mesas de sua responsabilidade.
No entanto, esse lucro parcelado representa apenas 40% do
rendimento mensal de cada mesa, sendo que a maior parte desse lucro é absorvida
por outro agente, mediante o acordo comercial. Ou seja, 60% do rendimento mensal
162
de cada mesa foi apropriada pelo dono do estabelecimento comercial que fez o
acordo com o industrial, percentual esse entendido enquanto uma renda.
Deparamos com um rentista diferente daquele discutido por Marx
(1985) e Engels (1985), cujo conceito é aplicado àquele capitalista que emprega seu
capital na produção de imóveis, via indústria de construção civil, e a partir daí os
aluga auferindo uma renda. Situação essa explicada por Engels (1985) ao tratar das
grandes cidades. Assim como não se assemelha ao rentista representado pelo
capitalista que aufere renda a partir da terra tornada mercadoria.
A caracterização do dono do estabelecimento comercial enquanto
um rentista, se deve ao fato do mesmo ter cedido uma área de seu estabelecimento
para a mesa pertencente ao industrial, em troca de um percentual de participação no
lucro que se obtido com a vendas das fichas para o jogo de bilhar. Esse
comerciante passa a receber também de forma parcelada a maior parte do lucro
aprisionado em cada mesa, mas que no entanto não pode ser caracterizado como
lucro por não ter sido este o responsável pela produção da mesa para bilhar e
exploração do trabalhador que gera a mais-valia. Entendemos, portanto, que o
mesmo aufere renda a partir da presença das mesas para bilhar em seu
estabelecimento comercial.
Pelo fato da indústria ter seu lucro pautado nesse sistema de
locação, o industrial objetiva ter o maior número possível de mesas locadas e assim
cada proprietário vai montando pontos estratégicos de locação e concentrando as
locações de suas mesas em áreas próximas, a fim de facilitar o trabalho de
manutenção e cobrança mensal, surgindo assim as chamadas linhas de locação.
Ressalta-se que esses locais que compõem uma linha de locação podem estar
concentrados numa mesma cidade ou área metropolitana ou cidades/regiões
diferentes.
Essas linhas são montadas de acordo com a demanda da área, ou
seja, os funcionários ou o próprio industrial fazem o levantamento da área onde
pretendem montar a linha, procurando observar se os estabelecimentos comerciais
são movimentados, se estão localizados em ponto comercial favorável e se naquela
163
cidade muitos concorrentes. Feito isso, eles passam nos estabelecimentos
oferecendo as mesas para bilhar, utilizando para isso argumentos que convençam o
proprietário a aceitar a proposta. Segundo os industriais, os argumentos mais
utilizados são: qualidade das mesas e atendimento durante o mês. Eles também
destinam os primeiros trinta dias do rendimento da mesa como brinde ao dono do
estabelecimento comercial e em épocas de torneios de bilhar, os industriais
fornecem os troféus aos donos dos estabelecimentos.
No entanto, essas linhas também podem ser adquiridas
montadas, ou seja, com as mesas nos estabelecimentos comerciais. Isso é possível
quando um industrial resolve se desfazer de uma de suas linhas ou quando não
deseja mais atuar no ramo ou por dissolução de sociedade. Nesse caso a linha é
vendida para outra pessoa que passará a administrar o trabalho mensal na mesma.
Objetivando o entendimento do processo de compra e venda de uma
linha de mesas para bilhar, durante as entrevistas foi abordada essa questão com
alguns industriais e funcionários, onde o processo foi descrito da seguinte forma: o
interessado em adquirir uma linha observa inicialmente a concorrência na área, o
tempo de montagem da linha, a distância até a indústria ou cidade que reside, se o
ponto comercial é bom e se tem grande fluxo de pessoas no estabelecimento
comercial onde está a mesa para bilhar; após realiza-se um cálculo a fim de verificar
se o movimento mensal dessa linha vai ser lucrativo ou o diante do montante que
será investido na aquisição da mesma. Esse cálculo consiste em multiplicar a
quantidade de mesas locadas nessa linha pelo preço da produção de cada mesa
43
a
fim de se obter o valor do capital que será investido. Na seqüência faz-se a
multiplicação do total de mesas locadas pelo lucro mensal de uma mesa
44
a fim de
obter o rendimento mensal da linha como um todo. Nesse caso de venda de uma
linha com mesas locadas, o industrial ao comercializar suas mesas extrai numa
única parcela a mais-valia que ficou aprisionada em cada uma, passando o
43
O custo final de produção de uma mesa para bilhar em dia perpassa o valor de R$550,00, no
entanto essas mesas quando comercializadas atingem um preço maior, variando de R$700,00 a
900,00, podendo alcançar R$ 1.100,00 o preço de cada mesa.
44
A produção mensal de uma mesa envolve a quantidade de fichas que foram vendidas e o preço de
cada uma. Como ocorre uma variação entre esses fatores numa mesma linha, uma mesa para bilhar
acaba tendo o lucro mensal diferenciado da outra, sendo feito assim o lculo a partir de uma média
de lucro para cada mesa numa determinada linha, média essa que varia de acordo com a região, em
função principalmente da concorrência que influencia muito no preço de cada ficha.
164
comprador da linha, que ainda não abriu sua unidade industrial, a receber uma
renda mensal das mesas tornando-se assim um rentista temporário. Situação essa
comum entre os industriais, onde de acordo com a gênese discutida
anteriormente, vários iniciaram como rentistas por possuírem apenas as linhas de
locação, passando posteriormente a extrair a mais-valia ao produzirem suas próprias
mesas.
Ainda a respeito das linhas de locação é importante explicar que o
industrial destina uma camionete (foto 26) e dois funcionários para o trabalho em
cada linha, sendo um o responsável pela organização e realização do trabalho na
linha e o outro o ajudante. Ambos têm sob sua responsabilidade em média um total
de 200 a 250 mesas para bilhar locadas. Todos os meses eles se deslocam para o
trabalho na linha; geralmente a saída ocorre sempre no início da primeira quinzena e
o retorno para Jaguapitã-PR no final da segunda quinzena de cada mês. Durante a
permanência na linha por 15 dias
45
os funcionários são responsáveis pelo
recebimento do lucro de cada mesa; pela manutenção da mesa procedendo com
uma reforma ou troca das mesas danificadas, assim como fazem locação de novas
mesas em estabelecimentos comerciais que ainda não possuem as mesmas, e
ainda retiram mesas de estabelecimentos que têm baixo faturamento mensal ou
porque o comerciante não está pagando o percentual combinado para o industrial.
Durante a permanência quinzenal na linha, esses funcionários
geralmente ficam em um barracão da própria empresa, o qual eles denominam
depósito. A localização desse depósito fica na cidade onde tem a maior
aglomeração de mesas locadas, para facilitar o trabalho diário dos funcionários.
Além da cidade com maior concentração de mesas locadas, eles fazem cobranças
em outras cidades onde possuem mesas locadas, mas isso se durante o trajeto
de ida para depósito ou durante o retorno para Jaguapitã-PR. Por exemplo, em uma
linha de Jaguapitã-PR a Porto Alegre-RS que possui 200 mesas locadas, os dois
funcionários param para receber a renda mensal de uma mesa numa cidade
litorânea de Santa Catarina, os demais recebimentos e todo o trabalho são feitos na
região metropolitana de Porto Alegre-RS, mais precisamente nas proximidades de
45
Em algumas empresas os funcionários permanecem mais tempo na linha, cerca de 20 dias, devido
a quantidade de mesas que chega a 300 unidades ou até mesmo ultrapassam esse número.
165
Alvorada-RS, onde a indústria para qual trabalham tem o barracão (depósito). Neste,
eles ficam abrigados, também guardam as mesas que serão reformadas e as novas
para serem locadas.
Foto 26: Em destaque uma camionete D-20 utilizada para o trabalho na linha de mesas
para bilhar. Esses veículos trafegam constantemente carregados, tanto na ida para a linha
com mesas e acessórios para reposição, como no retorno da linha com mesas para serem
reformadas nas indústrias.
Fonte: A autora, 2007.
A seguir apresentaremos a localização de linhas de mesas para
bilhar nos estados da Região Sul de uma única micro-empresa, espacializadas num
mapa. Essa espacialização das linhas foi organizada pelo próprio industrial a fim de
facilitar o trabalho administrativo da indústria.
Observa-se no mapa 08 que as cores representam as linhas, sendo
cada linha de responsabilidade de dois funcionários. Cada ponto demarcado no
mapa diz respeito a uma cidade, onde o industrial possui inúmeras mesas para
bilhar locadas. A legenda organizada ao lado do mapa faz referência às linhas, que
recebem denominações específicas para melhor gerenciamento do trabalho.
Percebe-se assim que essa micro-indústria possui quantidade maior de mesas para
bilhar locadas nos Estados do Paraná e de Santa Catarina, sendo em menor
quantidade no Rio Grande do Sul, onde possui mesas locadas em apenas 21
cidades.
166
Mapa 08: Em destaque algumas linhas de mesas para bilhar locadas na Região Sul por
uma micro-indústria de Jaguapitã-PR, 2007.
Fonte: Levantamento de campo, 2007.
167
Embora o percentual para o industrial que era de 60% na década de
1970 sobre o preço da ficha, tenha sido reduzido para 40% em 2006
46
, a locação de
mesas para bilhar é ainda lucrativa. Durante as entrevistas, conseguimos obter
algumas informações que nos possibilitaram entender o custo da manutenção da
linha e o lucro obtido com a mesma. Vamos demonstrar tal entendimento através de
um exemplo hipotético levando em consideração o mercado consumidor da Região
Sul. Como cada linha possui em torno de 200 a 300 mesas para bilhar, escolhemos
uma linha com 250 mesas locadas. Em média cada mesa arrecada mensalmente R$
50,00 para o industrial; ao final do mês o industrial receberá de R$12.500,00 bruto. É
o valor bruto porque desse montante serão descontados o custo com o combustível,
o pedágio, o aluguel do depósito, a alimentação, telefone usados pelos funcionários,
além do almoxarifado, o tecido, tacos, bolas, giz, etc. que foram utilizados para as
reformas de mesas dessa linha. Enfim, após todos os descontos, resta para o
industrial ainda uma quantia de aproximadamente R$ 8.000,00 por mês. Ainda
desse valor será descontado o percentual dos funcionários, cerca de 10% para o
responsável pela linha e 5% para o ajudante. Ao final de todo o processo, o
industrial terá um lucro de cerca R$ 6.700,00 por mês. Levando-se em consideração
o custo médio de produção de uma mesa que varia de 400,00 reais a 700,00 reais,
variação essa que ocorre de acordo com as condições de produção como preço da
matéria-prima, preço da mão-de-obra, etc, a produção e locação de mesas para
bilhar é um investimento rentável como pode ser observado no raciocínio a seguir.
Tendo por base os seguintes elementos: a quantidade estimada de
250 mesas, com preço médio de venda estimado em R$ 900,00 para cada mesa e o
valor de R$ 6.700,00 como lucro parcelado estimado para uma linha com 250 mesas
locadas, entendemos que o industrial que produz para a locação, a longo prazo
obterá um lucro embora parceladamente muito maior que aquele que produziu a
mesma quantia para vender. Isso porque, as 250 mesas vendidas ao preço médio
de R$ 900,00, resultarão em R$ 225.000,00. Já o mesmo número de mesas locadas
numa linha com lucro mensal de R$ 6.700,00, em 3 anos o industrial terá obtido o
lucro de R$ 241.200,00; no final de 5 anos R$ 402.00,00 e com perspectiva de lucro
maior a cada ano de propriedade da linha. Assim, o capital inicial de R$ 137.500,00
46
Alguns industriais que possuem linhas no Centro-Oeste e Norte do Brasil conseguem fazer o
acordo de 50%, segundo conversas informais em 2006.
168
investido para produzir 250 mesas a um custo de produção médio de R$ 550,00, no
final de 5 anos resultará num lucro de R$ 402.000,00. Lembrando que além do lucro
parcelado das mesas de uma linha, esse industrial ainda possui a propriedade das
mesas que representam um tipo particular de capital imobilizado, algo que aquele
que vende as mesas não possui mais após receber o lucro.
Embora a obtenção do lucro seja maior com a locação, na cidade
ocorre a comercialização de mesas para bilhar, onde o industrial vende as mesas
produzidas para outros industriais que possuem linhas e compram para repor ou
ampliar sua linha. Ou então eles vendem para industriais da região metropolitana de
São Paulo-SP que adquirem essas mesas para posteriormente revenderem-nas
para industriais que num dado momento precisam repô-las
47
ou para pessoas que
possuem apenas linhas de mesas para bilhar. Ocorre ainda, embora em menor
quantidade, a venda de mesas para donos de estabelecimentos comerciais. No
entanto, dentre os industriais que produzem mesas para a venda, os mesmos
destacam a não lucratividade quando comparado ao processo de locação. No caso
de Jaguapitã-PR, dos 46 atuantes apenas dois industriais que possuem quantidade
pequena de mesas locadas optaram pela comercialização de parte das mesas que
fabricam. Nesse caso é importante destacar que o industrial que produz a mesa
apenas para a venda não está conseguindo uma taxa de lucro que viabilize a
continuidade das atividades produtivas. Isto porque talvez o grande segredo desse
ramo industrial seja a locação, pois a mesma permite a obtenção de lucro parcelado
nos decorrer dos anos de propriedade da linha, como já analisado anteriormente.
Percebe-se assim que dentre os industriais de mesas para bilhar,
cerca de 95% optou apenas pelo sistema de produção e locação de suas mesas em
estabelecimentos comerciais, tendo o bar a preferência para locação. Como essas
mesas são locadas em dez estados brasileiros e em algumas cidades da Argentina,
47
Principalmente entre as micro-empresas isso ocorre, tendo em vista que várias dessas unidades
por possuírem poucas linhas com mesas locadas acabam dispensando o marceneiro, sendo portanto
mais barato comprar a mesa pronta do que fabricá-la quando a reposição é de apenas uma a três
mesas. No entanto, quando esse mesmo industrial precisa de uma quantidade maior de mesas, seja
para reposição ou para novas locações, o mesmo contrata um marceneiro temporário e compra a
matéria-prima e os acessórios, pois nesse caso devido a quantidade, o custo com a compra é muito
superior, sendo mais lucrativo a fabricação das mesas.
169
Uruguai e Paraguai, conforme o mapa 09, os industriais têm acesso a um amplo e
variado mercado consumidor.
Mapa 09: Interações espaciais de Jaguapitã-PR, 2006. Principais áreas que concentram o
mercado consumidor das indústrias de mesas para bilhar de Jaguapitã-PR.
Fonte: Levantamentos de campo, 2006.
170
Segundo os entrevistados, o valor da ficha para o jogo numa mesa
para bilhar varia de um Estado para outro, de R$ 0,30 a R$ 0,70 centavos em média,
sendo os preços mais baixos praticados na Região Sul, devido a concorrência com
as demais indústrias existentes nesses três estados e principalmente, pela disputa
de mercado entre os próprios industriais de Jaguapitã-PR que possuem mesas
locadas em Santa Cataria, Rio Grande do Sul e Paraná.
Dentre os dez Estados onde os industriais possuem mesas locadas,
a lucratividade é maior na Região Norte, no entanto os mesmos não explicaram por
que as pessoas em Rondônia ou Amazonas recorrem mais ao jogo de bilhar.
Acredita-se que além do preço maior das fichas no Norte do Brasil,
aproximadamente R$ 0,70, um outro elemento que contribui para a alta lucratividade
de cada mesa está relacionado ao fato dessas mesas serem locadas em
estabelecimentos comerciais de pequenos centros urbanos, como no Estado do
Amazonas. existem mesas locadas tanto na Região Metropolitana de Manaus
como em pequenos povoados mais distantes da capital, com a maior parte da
população empregada em carvoarias e na pesca. Estas acabam recorrendo ao jogo
de bilhar nos finais de semana como umas das opções principais de lazer. Segundo
conversas informais, nesses povoados a cobrança das linhas é feita através do
transporte fluvial e esse mercado consumidor não é exigente quanto a qualidade dos
acessórios e da mesa como o mercado consumidor do Centro-Sul, o que resulta em
menor mercado consumidor na Região Norte para os industriais de Jaguapitã-PR.
Caso o grau de exigência fosse o mesmo que no Centro-Sul, a demanda pelas
mesas para bilhar produzidas em Jaguapitã-PR seria maior, devido a qualidade das
mesmas quando comparadas com aquelas produzidas pelos industriais de Manaus-
AM, segundo levantamentos de campo, 2006.
Observa-se no mapa 09, que o mercado consumidor das indústrias
de mesas para bilhar de Jaguapitã-PR está concentrado em áreas da Região
Centro-sul predominantemente, ou seja, a maior quantidade de linhas em 2006 se
encontram nos Estados de São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul. Ressalta-se que desde o início da década de 1970, esses Estados
tornaram-se área preferencial de locação das mesas para bilhar produzidas em
Jaguapitã-PR, principalmente os Estados do Sul e cidades do interior de São Paulo,
171
em virtude do amplo mercado consumidor gerado pela baixa concorrência nas
décadas de 1970 e 1980.
No entanto, o mesmo mapa evidencia novas áreas de locação que
começaram a ser exploradas a partir da década de 1990, quando o mercado
consumidor no Centro-Sul apresentava-se saturado, fator que levou os industriais
a montarem linhas na Região Centro-Oeste e Norte. No Estado de Rondônia
percebe-se que existe uma grande quantidade de linhas de mesas locadas por
vários industriais de Jaguapitã-PR, enquanto no Amazonas o mercado consumidor
está restrito apenas ao entorno de Manaus. Entre esses industriais que possuem
linhas nesses dois estados acima mencionados, parte significativa dos funcionários
que trabalham nas linhas estão residindo nas áreas onde mesas para bilhar
locadas, reduzindo o custo com o deslocamento quinzenal dos mesmos, que
retornam para Jaguapitã-PR bimestralmente a fim de prestarem contas do trabalho
desenvolvido e quando necessitam de mais mesas para repor ou ampliar a linha.
Em função da expansão do número de indústrias de mesas para
bilhar em Jaguapitã-PR nas últimas décadas e da crescente concorrência na Região
Centro-Sul, além do Norte, novas linhas de locação também foram abertas no sul do
Estado de Goiás e nordeste de Minas Gerais a partir do final da década de 1990.
Acresce-se aqui também a expansão a partir desse período, de linhas para as
cidades de El Dourado na Argentina e Porto Casado e Concepción no Paraguai e
para algumas cidades uruguaias, nas proximidades do Rio Grande do Sul. A
abertura de linhas nessas áreas evidencia a busca por parte dos industriais de
novos mercados consumidores e uma saída para o enfrentamento da concorrência.
Na seqüência, apresentaremos as linhas de mesas locadas de 03
indústrias de mesas para bilhar, sendo uma pequena-empresa e duas micro-
empresas. Observa-se nos mapas 10, 11 e 12, que essas indústrias têm acesso a
diferentes áreas de mercado consumidor, tendo a pequena indústria um número
maior de mesas locadas e um mercado consumidor mais amplo. Já as micro-
empresas estão limitadas ao mercado consumidor da região Centro-Sul, tendo uma
delas linhas apenas no Paraná.
172
Mapa 10: Interações espaciais de Jaguapitã-PR, 2006. Mercado consumidor de uma
pequena-empresa de mesas para bilhar de Jaguapitã-PR.
Fonte: Levantamentos de campo, 2006.
173
Mapa 11: Interações espaciais de Jaguapitã-PR, 2006. Mercado consumidor de uma micro-empresa de mesas para bilhar de Jaguapitã-PR.
Fonte: Levantamentos de campo, 2006.
174
Mapa 12: Interações espaciais de Jaguapitã-PR, 2006. Mercado consumidor de uma micro-empresa de mesas para bilhar de Jaguapitã-PR.
Fonte: Levantamentos de campo, 2006.
175
No entanto o número de mesas locadas não pode ser tomado como
elemento indicador de produção de mesas, tendo em vista que a quantidade de
linhas e de funcionários nem sempre é proporcional a produção de mesas. No caso
dessas indústrias representadas nos referidos mapas, apenas a pequena-empresa
(mapa 10) produziu um número razoável de mesas em 2006, cerca de 10 ao mês. Já
a micro-empresa representada no mapa 11 e com linhas no Mato Grosso, São Paulo
e nos Estados da Região Sul, não produziu nenhuma mesa no referido ano, se
limitando apenas às reformas, o que não aconteceu com a micro-empresa que tem
apenas linhas no norte, nordeste e sudoeste do Paraná (mapa 12), que produziu 1
mesa mensal, além das reformas.
Constatação essa evidenciada na tabela 19, onde percebe-se que
indústrias classificadas enquanto pequenas-empresas por possuírem acima de 20
funcionários, tiveram uma produção mensal menor que algumas micro-indústrias,
que produziram em média 27 e 18 mesas mensalmente e não possuíam nem 10
funcionários no ano de 2006. Portanto, o levantamento de campo de 2006, indica
que a dinâmica da produção é distinta nas mesas para bilhar em Jaguapitã-PR,
tendo em vista que uma micro-empresa pode produzir mais que pequenos
industriais.
Embora as indústrias em 2006 estivessem em sua maioria
dedicando-se principalmente à manutenção das linhas tendo com isso mais reformas
que produção, no que diz respeito à produção, estima-se que essa pequena cidade
tenha sido responsável pelo percentual produtivo entre 20% e 30% da produção
nacional de mesas para bilhar em 2006 e que esses industriais tenham em torno de
30.000 mesas para bilhar locadas, segundo conversas informais no referido ano.
4.4 – O Sistema Produtivo
Durante os nossos levantamentos de campo, conseguimos obter
informações que possibilitaram a compreensão do sistema produtivo de mesas para
o jogo de bilhar nas indústrias de Jaguapitã-PR. Sistema esse que é diferenciado do
176
Tabela 19: Situação Atual das Indústrias de Mesas para Bilhar em Jaguapitã-PR em 2006.
Indústria Funcionários
na produção
Funcionários
na linha
Média mensal
de produção de
mesas
Finalidade Áreas do mercado consumidor
1* 4 14 25 + reformas locação Mato Grosso do Sul, Sul do Mato
Grosso, Norte de Rondônia
2 2 3 2 + reformas locação Sul e Sudoeste do Paraná,
Nordeste do Mato Grosso
3 2 8 2 + reformas locação Região Metropolitana de Porto
Alegre RS, Sul do Paraná, Sul
de Minas Gerais, Oeste de São
Paulo e Sul do Mato Grosso
4 1 1 2 + reformas locação Norte, Noroeste e Sudoeste do
Paraná
5* 2 23 10 + reformas locação Norte de São Paulo, Região
Metropolitana de Curitiba, Sul e
Sudoeste Mato Grosso Sul, Sul
do Mato Grosso, extremo Leste
do Paraguai, Norte e Noroeste de
Rondônia e Região Metropolitana
de Manaus – AM
177
Indústria Funcionários
na produção
Funcionários
na linha
Média mensal
de produção
Finalidade Áreas do mercado consumidor
6* 5 20 10 + reformas locação Litoral e Nordeste de Santa
Catarina, Norte, Oeste e Sul do
Paraná, Norte e Oeste de São
Paulo, Sul de Goiás
7 2 12 somente as
reformas
locação Região Metropolitana de Porto
Alegre RS, Litoral de Santa
Catarina, Região Metropolitana de
Curitiba – PR, Nordeste do Rio
Grande do Sul, Sudoeste Mato
Grosso do Sul, Sul de são Paulo
e Sul de Minas Gerais
8* 2 22 somente as
reformas
locação Região Sul, interior de São Saulo
e do Mato Grosso do Sul
9 2 8 2 + reformas locação Norte do Mato Grosso do Sul,
Sudoeste de Minas Gerais
10 2 7 8 + reformas locação Oeste do Paraná, Noroeste do
Mato Grosso, Leste da Argentina,
Norte, Oeste e Sul de Rondônia
178
Indústria Funcionários
na produção
Funcionários
na linha
Média mensal
de produção
Finalidade Áreas do mercado consumidor
11 3 10 somente as
reformas
locação Sudoeste do Mato Grosso do Sul,
Sul Mato Grosso, Norte de São
Paulo, Região Metropolitana de
Florianópolis SC, Região
Metropolitana de Curitiba – PR
12 2
4
27 + reformas locação e
venda
Norte do Paraná e Norte de São
Paulo.
13 1
2
somente as
reformas
Locação Norte de São Paulo, Sudoeste do
Rio Grande do Sul.
14 a
8
somente as
reformas
locação Região metropolitana de Porto
Alegre RS, Sul e Sudoeste do
Paraná, Sul de Santa Catarina
15 1
2
2 + reformas locação Norte e Oeste do Paraná
16 b
6
somente as
reformas
locação Nordeste de Santa Catarina,
Oeste do Paraná
17 1
3
somente as
reformas
locação Noroeste de Minas Gerais, Sul de
Goiás
18 5
2
18 + reformas locação e
venda
Litoral de Santa Catarina
179
Indústria Funcionários
na produção
Funcionários
na linha
Média mensal
de produção
Finalidade Áreas do mercado consumidor
19 1
5
2 + reformas locação Região Metropolitana de Curitiba
PR, Litoral e Sudeste de Santa
Catarina
20 1
7
somente as
reformas
locação Noroeste do Paraná, Sudeste de
São Paulo, Sul do Mato Grosso,
Sudoeste de Minas Gerais
21 2
4
2 + reformas Locação Norte e Sul do Paraná, Oeste e
Sul de São Paulo
22 b
5
10 + reformas locação Norte de São Paulo, Litoral de
Santa Catarina.
23 1
5
2 + reformas locação Sul e Sudoeste de São Paulo
24 1
6
Não informou locação Sudoeste de São Paulo, Oeste do
Paraná, Sul do Mato Grosso
25 1
8
somente as
reformas
locação Norte, Oeste e Sudoeste do
Paraná, Sul e Sudoeste do Mato
Grosso
26* 4
14
20 + reformas locação Região Sul do Brasil e Norte de
São Paulo
180
Indústria Funcionários
na produção
Funcionários
na linha
Média mensal
de produção
Finalidade Áreas do mercado consumidor
27 4
3
5 + reformas locação Região Metropolitana de Porto
Alegre RS, Sul e Norte do Mato
Grosso
Total
a: O trabalho de marcenaria é realizado pelo proprietário.
b: Quando precisam fabricar ou reformar mesas é contratado o marceneiro temporário.
* Indústrias com funcionários no setor administrativo: 1: 03, 5:03, 6: 01, 8:03, 26: 01.
Fonte: Levantamentos de Campo, 2006.
Org.: Léia Aparecida Veiga
181
empregado nas agroindústrias avícolas e demais indústrias existentes na cidade.
Isso porque, a produção das mesas o é realizada nos moldes produtivos
taylorista
48
e nem fordista
49
, ou seja, não foram adotados nessas indústrias os
princípios básicos de organização científica do trabalho, inexistindo a produção em
massa, o parcelamento das tarefas e especialização do trabalhador com um número
limitado de gestos repetidos constantemente durante a jornada de trabalho, a linha
de produção, dentre outros aspectos (GOUNET, 1999, p. 18-19). Tão pouco foram
adotados princípios da produção preconizados pelo sistema toyotista
50
, que pode ser
caracterizado dentre outros aspectos pela organização flexível e integrada do
trabalho nas indústrias (CORIAT, 1994).
Assim, levando em consideração a forma de organização do
trabalho nas indústrias de mesas para bilhar, todo o processo produtivo das mesas
fica restrito ao marceneiro e seus auxiliares, funcionários esses que dominam todas
as etapas de produção de uma mesa desde o corte da madeira até o acabamento
final, tendo os mesmos pleno domínio dos equipamentos. Esses funcionários da
produção fabricam uma peça de cada vez (o corpo ou base da mesa, o quadro, as
tabelas, os pés e fazem todo o acabamento final em cada mesa montada). Ressalta-
se aqui que os demais funcionários que viajam nas linhas não têm acesso à
produção das mesas, mesmo nos períodos que não estão viajando. Os mesmos
somente ajudam na reforma das mesas de suas linhas, evitando assim que se
tornem futuros concorrentes. Diante disso, pode-se afirmar que essas unidades
48
Conjunto de estudos desenvolvidos por Frederick Winslow Taylor (1856-1915) ), que objetivava o
aumento da produção e da produtividade nas indústrias sem ter que recorrer a inovações de base
técnica. Esse sistema de produção atua sobre o posto de trabalho individual através do planejamento
e controle do trabalhador e das suas práticas de trabalho, de modo que se possa eliminar o
desperdício do esforço físico através do estudo dos tempos e movimentos dos operários. Dentre os
princípios básicos de sistema destacam-se a decomposição das tarefas em operações simples; o
planejador no processo produtivo como um elemento crucial para o acompanhamento dos tempos e
movimentos alocados a cada operação; a eliminação do desperdício do esforço físico; o cumprimento
do tempo prescrito, etc. (RAGO, 1986).
49
Sistema fordista consiste em métodos de racionalização da produção elaborados por Henry Ford
(1863-1947) logo após a primeira Guerra Mundial. Buscando minimizar os custos de produção, o
fordismo parte da decomposição do produto em seus vários elementos constitutivos, fazendo com
que estes elementos circulem pela "linha de montagem”. Dentre suas características destacamos a
imposição do tempo de trabalho pela máquina, as inovações de base técnica, a especialização da
maior parte dos trabalhadores em uma única e repetida tarefa, a produção em grandes volumes,
padronizada e necessitando de altos investimentos, etc. (GOUNET, 1999).
50
Criada e implantada pelos japoneses de 1950 a 1970, na Toyota, essa forma de organizar o
trabalho baseia-se em princípios como o trabalho em grupo, com várias responsabilidades e
agrupados a um líder; operários responsáveis pela qualidade, rede ou grupo de fornecedores
agrupados por funções dos produtos; just-in-time, entre outros (CORIAT, 1994).
182
industriais estão estruturadas desde seu surgimento, na década de 1970, da mesma
maneira: um marceneiro ao ter contato com uma mesa já fabricada conseguiu
reproduzir todas as etapas de produção da mesma, a partir de um sistema de
produção manufatureiro, sendo o marceneiro o responsável por todas as etapas de
produção.
Essa forma de organização da produção industrial de mesas é
similar em todas as indústrias presentes na cidade de Jaguapitã-PR, isso porque as
técnicas produtivas iniciais desenvolvidas pelo marceneiro da unidade industrial
pioneira, foram absorvidas e aprimoradas pelas demais indústrias que passaram a
ser instaladas a partir da década de 1970. Organização produtiva essa que resulta
na produção de mesas nos mesmos moldes e com formatos semelhantes.
Assim, em todas as indústrias, o trabalho do marceneiro envolve
basicamente as seguintes etapas: corte da madeira e similares, montagem da mesa,
colagem dos laminados e acabamento final, por último a colocação do tecido sobre a
ardósia. O marceneiro também realiza o trabalho de lixar e polir os tacos e as bolas,
fabricar o suporte para mesa, no caso os pés, além de lixar a ardósia antes de
revestir a mesma com tecido.
Além da fabricação, quando necessário os marceneiros são
responsáveis pela reforma das mesas que foram danificadas durante a locação nos
estabelecimentos comerciais, trabalho esse que consiste na verificação dos danos e
troca de peças ou partes que apresentam problemas. Ressalta-se que na maioria
das indústrias os funcionários que fazem a linha são também os responsáveis por
parte das reformas das mesas. Dependendo dos problemas apresentados pelas
mesas locadas, a reforma gira em torno da substituição do tecido, em outros é
realizada em cerca de 80% de uma mesa ou é feita uma reforma total, sendo nesses
casos necessária a presença do marceneiro. Na tentativa de explicitar essas etapas
do processo produtivo, na seqüência serão apresentadas fotos que ilustram a
fabricação de mesas para bilhar em Jaguapitã-PR.
183
Foto 27: Mesa para o jogo de bilhar em sua fase inicial. Essa peça compõe a base da mesa
feita em madeira.
Fonte: A autora, 2007.
Foto 28: Bases das mesas para bilhar. Essas bases já passaram pela fase de lixamento e
estão prontas para receberem as demais peças, como a ardósia e os laminados (fórmicas).
Fonte: A autora, 2007.
184
Foto 29: Placas de ardósia para mesas de bilhar. Após serem cobertas pelo tecido verde,
formarão o campo (tampão) da mesa. Essa peça é fixada com parafusos na base da mesa.
Fonte: A autora, 2007.
Foto 30: Mesa para bilhar já revestida com a fórmica e com a ardósia fixada na parte
superior. Observa-se em cima da mesma um líquido utilizado para combater infestação de
cupins na madeira. Ao fundo vemos uma peça que irá compor a mesa, denominada
“quadro” pelos marceneiros. Essa peça juntamente com a tabela, será fixada na parte
superior da mesa. A função da peça denominada “quadro é fixar a tabela e dar o
acabamento na mesa. A tabela é composta por borracha e madeira e tem por função
absorver o impacto da bola e projetar a mesma no lado oposto.
Fonte: A autora, 2007.
185
Foto 31: Vista parcial do equipamento utilizado no acabamento da ardósia. Nessa etapa a
ardósia fixada na base da mesa passa pelo processo de lixamento, para corrigir as
possíveis irregularidades presentes na mesma.
Fonte: A autora, 2007.
Foto 32: Vista parcial dos pés da mesa para bilhar. Cada peça possui um acessório de
alumínio que tem por função adequar a mesa às irregularidades do piso no estabelecimento
comercial. Esse acessório contribui para que a mesa fique nivelada.
Fonte: A autora, 2007.
186
Foto 33: Mesa para bilhar embalada para ser entregue pelo funcionário da linha no
estabelecimento comercial. Esse tecido verde que está recobrindo a parte superior é
utilizado para proteger a mesa durante o transporte da mesma até o estabelecimento
comercial.
Fonte: A autora, 2007.
Foto 34: Mesas para bilhar para serem reformadas. Por se tratar de uma produção similar
ao artesanal, cada mesa para bilhar acaba tendo pequenas diferenças em relação ao
tamanho e encaixe das peças, sendo assim não pode ocorrer a troca de seus componentes
(quadro, ardósia e tabelas principalmente). Para evitar tal problema, essas peças são
numeradas quando a mesa é desmontada.
Fonte: A autora, 2007.
187
Foto 35: Mesas para bilhar em processo de reforma. foram retirados todos os
acessórios, os laminados e a ardósia, restando apenas a base de madeira que será
submetida à reforma caso esteja danificada. Ressalta-se que além da base de madeira,
todas as demais peças (ardósia, tabelas, pés, “quadros”) e acessórios (ficheiro, caçapas,
tacos, bolas, etc) passam por uma vistoria e são encaminhados para a reforma ou são
trocados. No caso das bolas, as mesmas são lavadas e polidas, nos tacos são trocados as
pontas de borrachas, lixados e recobertos com uma camada de verniz. O tecido quando
necessário também é substituído por um novo. Ao final do processo, todas as peças são
montadas novamente cada qual na sua base de madeira original.
Fonte: A autora, 2007.
Ainda em relação à produção de mesas se faz necessário salientar
que o objetivo da mesma é a locação, o que impõe relativa produção. Com isto, o
trabalho do marceneiro passa a ser direcionado principalmente para as reformas das
mesas para bilhar.
4.4.1- Equipamentos utilizados e inovações tecnológicas
Diferentemente de outros setores industriais, as indústrias de mesas
para bilhar em Jaguapitã-PR, apresentaram poucas alterações em relação aos
equipamentos utilizados para a produção. Isso em parte está relacionado a forma de
organização do trabalho nessas indústrias, onde o marceneiro é o responsável por
188
todas as etapas de produção de uma mesa. Podendo também ser relacionada ao
baixíssimo grau de exigência por parte do produto que não requer a utilização de
máquinas mais sofisticadas, ao mesmo tempo que os equipamentos simples para o
trabalho com a madeira acabam por satisfazer as necessidades imediatas de
fabricação das mesas para bilhar e de pebolim.
As indústrias utilizam máquinas e equipamentos de fabricação
brasileira, isso porque para a produção de mesas são necessários equipamentos
para o trabalho com a madeira, produtos esses facilmente encontrados no território
brasileiro. Dentre os fornecedores de máquinas e equipamentos para as indústrias
de mesas para o jogo de bilhar está o estado de São Paulo, com destaque para o
grupo industrial Invicta Vigorelli Metalúrgica Ltda, localizado na cidade de Limeira-
SP. Outra indústria paulista responsável pelo fornecimento de equipamentos para o
setor é a Indústria Lanametal Ltda, localizada em Ribeirão Preto-SP.
Ao compararmos os equipamentos utilizados nas décadas de 1970 e
1980 com os utilizados a partir de 2000, ficou evidente que a introdução de novas
máquinas no setor foi pequena. Os equipamentos básicos utilizados pelas indústrias
nas décadas iniciais como a desengrossadeira, a serra circular, a tupia, furadeira
horizontal e a furadeira vertical, ainda o utilizados até o presente momento na
fabricação das mesas. Quanto à manutenção de tais equipamentos, a mesma é
realizada por técnicos das próprias indústrias fornecedoras que estão presentes nas
cidades de Maringá-PR e Londrina-PR, ou então, por outros técnicos que prestam
serviços nessa área de equipamentos para madeira. As inovações após a década de
1990, ficaram por conta da adoção de equipamentos que facilitaram o acabamento
das mesas e dos acessórios como as lixadeiras manuais, o torno, as máquinas de
polir bolas e lixar os tacos, e principalmente da adoção de uma máquina de
acabamento das peças de madeira e da ardósia, a lixa, máquina essa chamada de
“lixão” pelos industriais e funcionários. Ressalta-se que essa máquina de
acabamento, a lixa, é fabricada sob encomenda dos industriais, porque esse
equipamento é produzido semelhante ao sistema artesanal.
189
Foto 36: Serra Circular com mesa móvel. Equipamento utilizado para serrar todas as
madeiras e compensados em linhas retas. Fabricado pelo grupo industrial Invicta Vigorelli
Metalúrgica Ltda, Limeira-SP
Fonte: A autora, 2007.
Foto 37: Vista parcial de uma Plaina Desengrossadeira. Equipamento utilizado para obter
espessuras mais finas das madeiras maciças. Fabricado pelo grupo industrial Invicta
Vigorelli Metalúrgica Ltda, Limeira-SP.
Fonte: A autora, 2007.
190
Foto 38: Vista parcial de uma Tupia. Esse equipamento é utilizado para entalhar a madeira
e para o acabamento lateral. Fabricado pelo grupo industrial Invicta Vigorelli Metalúrgica
Ltda, Limeira-SP.
Fonte: A autora, 2007.
Foto 39: Desempenadeira. Equipamento utilizado para desempenar a madeira e para fazer
o acabamento nas lâminas (fórmica). Fabricado pelo grupo industrial Invicta Vigorelli
Metalúrgica Ltda, Limeira-SP.
Fonte: A autora, 2007.
191
Foto 40: Furadeira Horizontal. Equipamento utilizado para perfurar a madeira e
compensados durante a fabricação das mesas. Dotada de um acessório específico (ponta)
ela faz o encaixe da ponta do taco durante a reforma. Fabricado pelo grupo industrial Invicta
Vigorelli Metalúrgica Ltda, Limeira-SP.
Fonte: A autora, 2007.
Foto 41: Em destaque uma Lixadeira de fita com disco. Equipamento utilizado para lixar
qualquer tipo de madeira.
Fonte: A autora, 2007.
192
Foto 42: Equipamento especial para polir bolas de mesas para bilhar. Essa máquina serve
apenas para dar brilho nas bolas.
Fonte: A autora, 2007.
Foto 43: Em destaque uma Furadeira Vertical. Equipamento utilizado para perfurar a
madeira no sentido vertical.
Fonte: A autora, 2007.
193
Foto 44: Em destaque um equipamento utilizado para lixar as bordas superiores da base da
mesa e depois a ardósia quando fixada na base. Essa máquina é feita sob encomenda na
Indústria Lanametal Ltda, localizada em Ribeirão Preto-SP. Ao fundo observa-se um
equipamento em tom cinza, o mesmo está sendo implantado junto a essas máquinas por
exigência do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). É um tipo de coletor de pó, que é
fabricado numa metalúrgica de Jaguapitã-PR sob encomenda. Esse coletor de pó ainda não
foi implantado em todas as indústrias, que acabam por recorrer a outras invenções
51
de
coletar o pó liberado por essa máquina de lixar.
Fonte: A autora, 2007.
Em relação aos equipamentos que facilitam o acabamento das
mesas e dos acessórios faz-se necessário dizer que não são todas as micro-
empresas que possuem os mesmos. Aquelas que adquiriram essas máquinas
prestam serviços para as demais quando as referidas empresas fabricam ou
reformado as mesas para o bilhar. Percebe-se assim entre os industriais elementos
que caracterizam uma certa terceirização.
Pode-se dizer que desde a estruturação inicial da primeira unidade
fabril em 1970 e até a instalação das demais indústrias no decorrer das décadas
seguintes, poucas foram as alterações técnicas adotadas pelos industriais de mesas
para bilhar, resultando assim num investimento relativamente baixo na aquisição de
51
Na ausência do coletor de pó, alguns industriais improvisam utilizando um recipiente grande de
plástico com água e uma mangueira, onde o passa por essa mangueira e vai direto para o
recipiente e se mistura com a água, evitando assim a dispersão do mesmo no ar e permitindo
posteriormente a coleta do resíduo.
194
maquinários. Isso se deve às características de um produto que exige quantidade
pequena de máquinas para o trabalho com a madeira e também a forma de
produção, que por ser manufatureira, não demanda a utilização de muitos
equipamentos sofisticados.
Talvez seja esse sistema manufatureiro, com baixíssimo nível de
divisão social do trabalho e o trabalho com uso de equipamentos muito simples que
permitiram até certo ponto, a forte presença e expansão das indústrias de mesas
para bilhar contrariando as tendências da denominada reestruturação produtiva
52
do
setor industrial que vem desde os anos de 1980 e 1990 impondo a cada dia, maior
incorporação de inovações como um dos caminhos para a competitividade
oligopólica de certos setores produtivos.
Outro ponto que deve ser assinalado diz respeito à composição
orgânica do capital
53
desses industriais, que diferentemente dos demais setores
industriais, pode ser caracterizada como baixa. Isso porque o montante de
maquinário, matérias-primas e tudo que é necessário para produzir uma mesa para
bilhar em relação à força de trabalho necessária, em termos de valor, torna-se sendo
baixa quando comparado aos demais ramos industriais.
Ao nosso ver, além do que já foi explicitado sobre a origem e
expansão dessas indústrias na cidade, se faz necessário acrescentar que essa
baixa composição orgânica do capital também contribuiu para a ampliação do
número dessas unidades fabris nas décadas recessivas de 1980 e 1990, tendo em
vista que justamente nos períodos de crise, o setor industrial necessita de menor
capital de giro, mão-de-obra mais barata, equipamentos de baixo custo, etc. Ou seja,
o industrial devido a crise o pode dispor de elevado capital (fixo ou variável) para
52
As indústrias brasileiras a partir da década de 1990 passaram a ser submetidas à uma significativa
reestruturação produtiva, por conta da exposição à concorrência internacional e da tendência à
valorização cambial (essa última vinha ocorrendo desde os fins da cada de 1980). Dentre as
principais estratégias adotadas destacam-se aquelas que privilegiaram a especialização produtiva
nos segmentos de mercado em que detinham maior poder competitivo e buscaram alterar o processo
produtivo, para ganhar (ou não perder) espaço no mercado interno e, se possível, também no
mercado externo (BRAGUETO, 2007).
53
Segundo Marx (1985) composição orgânica do capital seria é a proporção entre parte do capital
constante (valor da matéria-prima, máquinas, equipamentos e instalações) e parte do capital variável
(força de trabalho).
195
produzir, caso contrário corre o risco de ter prejuízo. Nesse sentido, o fato das
indústrias de mesas para bilhar demandarem um baixo capital orgânico, contribuiu
para o surgimento e expansão das mesmas.
4.4.2- Caracterização da mão-de-obra
Quanto à o-de-obra utilizada nas indústrias de mesas para bilhar,
a mesma é composta por dois grupos distintos de funcionários: o primeiro
responsável pela produção e reformas das mesas, os marceneiros e ajudantes e o
outro grupo responsável pelo trabalho nas linhas de locação de mesas.
No que diz respeito ao grupo de marceneiros, para a contratação
dos mesmos exige-se alguma experiência anterior seja no trabalho com madeira em
marcenarias ou serrarias, seja na produção de mesas para o jogo de bilhar em
outras indústrias. Esses funcionários quando empregados formalmente são
remunerados mensalmente, não tendo um piso salarial fixo para essa categoria, isso
porque o valor pago a cada marceneiro varia de acordo com o porte da empresa,
ocorrendo uma oscilação de R$ 600,00 a R$ 800,00 ao mês, chegando esse valor
em algumas indústrias a R$1.200,00 mensais. No caso dos auxiliares de
marcenaria, a média salarial é de R$ 500,00 mensais.
No entanto, entre os industriais entrevistados, alguns dispensaram
os marceneiros contratados formalmente por não estarem produzindo uma
quantidade significativa de mesas anualmente. Nessas unidades fabris a presença
do marceneiro ocorre em períodos em que o industrial precisa produzir mais
mesas para serem locadas em suas linhas ou então quando têm muitas mesas para
serem reformadas. Nesses casos, o processo de contratação é temporário, no que
eles denominam de regime de empreita, onde o valor da remuneração é negociado
entre marceneiro e industrial segundo a quantidade de mesas que serão fabricadas
ou reformadas.
196
Este processo de contratação do trabalhador para a produção
propriamente dita das mesas nos revela uma fraca divisão social do trabalho no
interior da unidade produtiva. Ao mesmo tempo demonstra de modo mais claro o
nível da super exploração da força de trabalho durante a produção da mesa para
bilhar. Nesse caso a extração da mais-valia pelos industriais que venderam a
mercadoria pode ser entendida a partir do seguinte raciocínio: nas indústrias de
mesas para bilhar um marceneiro recebe mensalmente de R$ 600,00 a R$ 800,00
para a produção das mesas. Quando comparamos esse salário pago com a
quantidade de mesas que poderiam ser produzidas num mês - caso a indústria
estivesse produzindo unidades de forma sistemática todos os meses - com a
estimativa de lucro a partir da venda de cada mesa, as evidências da exploração do
trabalhador são mais perceptíveis. Numa idéia hipotética seria o seguinte: o
marceneiro que tem a capacidade de produzir uma mesa a cada dois dias, recebe o
salário mensal acima mencionado. Levando em consideração 20 dias de trabalho
com jornada de 8 horas por dia – porque as indústrias não funcionam aos sábados
no final do mês esse marceneiro teria produzido uma dia de 10 mesas. Para o
industrial o custo de produção de cada mesa é em média de R$ 550,00; para a
produção de 10 mesas para bilhar seria utilizado o total de R$ 5.500,00; valor esse
que diz respeito ao capital fixo (máquinas e equipamentos + matéria-prima) e ao
capital variável (salário).
No entanto essas mesas que foram produzidas a um preço médio de
R$ 550,00 e podem ser comercializadas por preços que oscilam de R$ 700,00 a R$
900,00, alcançando em áreas com pouca concorrência o valor de R$ 1.000,00.
Assim, tendo por base esses preços, a menor taxa de lucro obtida com a venda de
10 mesas será de R$ 2.500,00 e a maior de R$ 4.500,00. Embora sejam meros
estimados tanto para o custo de produção como de venda de cada mesa para bilhar,
os mesmos nos permitem a compreensão do processo de extração de mais-valia
durante a produção da mercadoria, no caso a mesa para bilhar. Entretanto, para os
industriais frente às possibilidades de ganhos com a locação das mesas, essa
margem de lucro que pode ser obtida com a venda não é interessante. Isso porque o
processo de locação com a obtenção do lucro parceladamente no decorrer dos
anos, amplia ainda mais o retorno dessa atividade industrial, ao mesmo tempo que
evidencia uma exploração maior do trabalhador que produz a mesa.
197
No sistema denominado pelos industriais de empreita, a exploração
do trabalhador é mais intensa ainda, isso porque o industrial vai ter seu custo de
produção reduzido, tendo em vista que o capital variável (salário sem os encargos
trabalhistas) será utilizado apenas em períodos pré-determinados e não mais
mensalmente, como nas empresas com marceneiros formais. Ainda nesse regime
de contratação temporária do funcionário, os preços salariais praticados em função
da oferta de mão-de-obra podem ser maiores ou menores que dos empregados
formais, isso porque ocorrem períodos onde a produção de mesas diminui, gerando
certo desemprego para os marceneiros. Ressalta-se que embora o marceneiro
domine todas as etapas produtivas de uma mesa para bilhar, a alienação do
trabalhador se faz presente.
O outro grupo de funcionários trabalha nas linhas, sendo formado
por pessoas tanto de origem rural como do setor industrial, comercial e de prestação
de serviços, que foram contratados principalmente sob a forma de indicação,
pessoas de confiança e funcionários que acabam passando as referências do
candidato ao emprego. Assim o treinamento para o trabalho nas linhas acaba sendo
realizado no próprio local de trabalho, não sendo necessária uma qualificação
formal. O contratado formal inicia como auxiliar denominado de ajudante pelos
industriais, na linha de mesas locadas, podendo ser promovido para responsável de
uma linha. Para exercer a função de auxiliar ou de responsável pela linha não é
exigida nenhuma experiência anterior, nem nível de escolaridade, sendo apenas
estritamente necessário a carteira de habilitação para o responsável pela linha, que
geralmente é o motorista durante todo o trajeto de trabalho na linha. Algumas
indústrias passaram a exigir a carteira de habilitação nas últimas décadas também
para o auxiliar, em virtude do mesmo colaborar como condutor do veículo durante o
longo trajeto de algumas linhas. Esses dois funcionários são responsáveis pelo
recebimento, manutenção, locação e retiradas das mesas, como pode ser observado
no quadro 03.
198
Quadro 03: Esquema do Trabalho Realizado pelos Funcionários Responsáveis por uma Linha
de Locação de Mesas para Bilhar.
Fonte: Levantamentos de campo, 2006.
Org.: Léia Aparecida Veiga
Os funcionários que fazem o trabalho nas linhas também não
possuem um piso salarial fixo, em função da comissão que recebem sobre a
produção mensal das mesas de suas linhas. Entre as indústrias ocorre uma variação
grande em relação à remuneração mensal desses funcionários, onde uns recebem
cerca de R$ 500, 00 por mês e outros conseguem alcançar um montante acima de
R$ 1.400,00 mensais, oscilação essa relacionada ao tamanho da linha que varia de
200 a 300 mesas locadas. No entanto, um outro fator que acaba interferindo na
produção mensal da linha e consequentemente na variação da remuneração do
responsável pela mesma, é a diferença no preço da ficha para o jogo nas Regiões
Brasileiras, diferença essa existente por causa da concorrência em lugares que
estão saturados com a presença de mesas para bilhar. No Paraná e Rio Grande do
Sul, por exemplo, são praticados os preços mais baixos das fichas, com isso o lucro
mensal das linhas nesses Estados é bem menor que as linhas montadas nos
Estados da Região Norte. O mesmo ocorre com os auxiliares (ajudantes de linha),
Recebimento
Nos estabelecimentos comerciais o
funcionário verifica a renda mensal de
cada mesa de jogo de bilhar locada por
ele e já faz a divisão do percentual com
o locatário, deixando os 60% dele e
reservando os 40% do industrial.
Locação de me
sas
Durante o tempo de permanência
na linha o funcionário visita os
estabelecimentos que não
possuem ainda mesas locadas a
fim de locar mais mesas da
indústria para a qual trabalha,
ampliando assim sua linha de
locação.
Manutenção das mesas locadas
O funcionário também faz a
verificação do estado físico de cada
mesa locada, procedendo com a
reforma da mesa no próprio
estabelecimento quando esta é
simples. Quando os danos o
maiores a mesa é reformada no
depósito ou na indústria.
Recebimento
Nos estabelecimentos comerciais o
funcionário verifica a renda mensal
de cada mesa de jogo de bilhar
locada por ele e faz a divisão do
percentual com o locatário,
deixando os 60% dele e reservando
os 40% do industrial.
Retirada de mesas locadas
Paralelo aos demais trabalhos na
“linha”, também são feitas retiradas
de mesas dos estabelecimentos
quando o comerciante não deseja
mais continuar como locador ou
então, essas retiradas são realizadas
a partir do momento que as mesas
não estão sendo lucrativas.
199
que apesar de terem o percentual fixo de 5%, acabam recebendo salários
diferenciados em função da variação que ocorre na lucratividade mensal de cada
linha. Ressalta-se que os funcionários que trabalham formalmente nas linhas, são
registrados com salário fixo na carteira de trabalho, como forma de ter garantido um
mínimo a receber no final do mês.
A respeito desses dois grupos de funcionários, salienta-se que
durante os levantamentos de campo, não foi possível quantificar o número de
funcionários existentes nas indústrias. Primeiramente por não termos tido acesso as
todos os industriais e também pelo fato do trabalhador informal estar presente em
parcela significativa dessas unidades, não sendo os mesmos declarados durante as
entrevistas em algumas empresas. No entanto, as indústrias de mesas para bilhar
presentes na cidade, eram responsáveis em 2003 pela geração de 510 empregos
diretos (JAGUAPITÃ, 2003). O conjunto de indústrias de mesas para bilhar é o setor
responsável pela segunda maior fonte de geração de empregos na cidade de
Jaguapitã-PR, sendo as duas agroindústrias avícolas as que empregam o maior
número de funcionários.
Essa informalidade presente no setor pode estar relacionada aos
baixos preços das fichas apresentadas a partir da década de 1990, onde em meio às
sucessivas altas do petróleo e derivados, dos pedágios, matéria-prima, etc, em
virtude da concorrência os industriais não conseguiram elevar o preço das fichas
para bilhar, repercutindo assim na redução do lucro parcelado nas linhas de mesas
locadas. Isso tudo somado aos encargos sociais sobre os funcionários, resultou na
contratação informal de trabalhadores por parte dos industriais.
Além dos funcionários formais e informais na produção e locação de
mesas, em função dessas indústrias apresentarem características de gestão familiar,
a mão-de-obra é composta também por familiares, seja em funções produtivas seja
em administrativas (gerência), seja com trabalho nas linhas de locação. Quando são
contratados funcionários para as funções de secretário e gerente administrativo - na
maioria das indústrias esse trabalho é realizado pelo proprietário ou por membros da
família - a exigência é o Ensino Médio e no caso dos gerentes, um curso técnico
contábil ou ensino superior na área administrativa ou contábil.
200
Ainda a respeito do trabalho realizado nas linhas de locação de
mesas para bilhar, dentre as indústrias entrevistas, duas estão adotando um sistema
diferenciado das demais nas suas linhas: o arrendamento de linhas para os próprios
funcionários. Os industriais que implantaram o sistema de arrendamento o fizeram
como forma de driblar os problemas comuns na atividade como questões
administrativas com funcionários, com encargos salariais, com o rendimento da
linha, entre outros. Embora o faturamento para o industrial seja menor com redução
de cerca de 20% em cada linha, quando comparado ao outro todo, esses dois
industriais ainda preferem o sistema de arrendamento, pois dizem gerar menos
problemas que o modo convencional de linhas de locação praticados pelos demais
industriais.
Esse arrendamento é viabilizado mediante o estabelecimento de um
contrato com duração de três anos entre as partes interessadas, com cláusulas que
especificam os deveres do industrial e do arrendatário. Segundo as normas
estabelecidas no contrato de uma dessas indústrias, ao industrial cabe: o
fornecimento da linha com as mesas locadas com todos os acessórios
necessários para o funcionamento da mesma nesse primeiro momento e a mão-de-
obra para a produção de novas mesas ou para a reforma daquelas que foram
danificadas o fornecidas pelo industrial, sendo os funcionários responsáveis pela
produção os únicos com vínculos empregatícios na indústria.
Ao funcionário que está passando para a posição de arrendatário da
linha, foram estabelecidas as seguintes atribuições de acordo com contrato:
a) Responsabilizar-se por todas as despesas de manutenção e conservação das
mesas tais como: troca de tecido, de tabelas, caçapas, tampões,
revestimentos, gavetas, pés, ficheiros e relógios avariados, entre outras;
b) Proceder sempre com a reforma das mesas em funcionamento quando
necessário;
c) Repor a mesa para bilhar quando a mesma for perdida seja por roubo,
extravio, deterioração ocasionada por incêndio, mau uso como penhora ou
apreensão por quaisquer órgão.
201
d) Fazer continuamente uma seleção dos locatários que forem utilizar as mesas
a fim de manter um elevado índice de rentabilidade na linha.
e) Responsabilizar-se pelo transporte das mesas devidamente acompanhadas
pelos documentos fiscais exigidos pela legislação vigente;
Além dessas atribuições, o arrendatário deve ser proprietário de uma
camionete para o transporte na linha e se responsabilizar pela contratação do
auxiliar que o ajudará na realização do trabalho. Em relação à camionete, esses
industriais repassaram o financiamento para a obtenção do veículo que estavam
pagando e todas as responsabilidades sobre a mesma para o arrendatário.
Ao final de cada mês, o arrendatário deverá pagar ao industrial cerca
de R$ 20,00 da lucratividade total de cada mesa locada na linha. Esse valor foi
estabelecido para o período entre abril de 2004 a abril de 2007 no contrato
analisado. Sendo o mesmo valor alterado apenas se houver reajuste nos preços das
fichas de locação. Ao final desses três anos de arrendamento, a linha retorna para o
industrial que poderá ou não arrendá-la novamente.
Mesmo com a redução de cerca de 20% no faturamento de cada
linha para o industrial, esse processo de arrendamento ainda é vantajoso para os
industriais, pelo fato de não terem mais custos com as despesas com funcionários,
manutenção da linha e camionetes, segundo os entrevistados.
4.5 – Os Reinvestimentos do Setor
Em relação aos reinvestimentos dos lucros obtidos pelo setor
industrial de mesas para bilhar na cidade de Jaguapitã-PR, os levantamentos de
campo nos indicaram dois momentos distintos sobre os reinvestimentos: o primeiro
ao longo das décadas de 1970-1980 e o segundo após a década de 1990.
Dentre os entrevistados que iniciaram a atividade na década de
1970 e início de 1980 e ainda continuam atuando no ramo, foi unânime a afirmação
202
de que nas referidas décadas esse tipo de indústria era uma atividade muito
lucrativa devido a pouca oferta na Região Sul. Sendo assim, com o lucro mensal das
mesas locadas, além da manutenção da fábrica e das linhas, os industriais investiam
em imóveis rurais e urbanos, na prática da pecuária bovina, entre outros. Segundo
os próprios industriais, esse reinvestimento era possível porque o custo de produção
e a manutenção das linhas não eram altos e, principalmente, não havia concorrência
acentuada, elementos esses que facilitavam a fabricação de mesas sem a
preocupação com a qualidade do produto e a prática da locação de acordo com o
percentual e preço da ficha estabelecidos pelos industriais.
Situação essa que começou a ser desfavorável para o industrial a
partir da década de 1990, quando a margem de lucro por mesa passou a ser menor
devido o crescente rebaixamento do preço das fichas. Até 1995 uma ficha para o
jogo de bilhar tinha o mesmo preço de um refrigerante, segundo os industriais. Em
2006, essa comparação já não era mais possível, tendo em vista que o preço da
ficha oscilava entre R$ 0,25 e R$ 0,50 enquanto uma lata de refrigerante era
vendida nos estabelecimentos comerciais por R$ 1,50. Paralelo a esse rebaixamento
do preço das fichas de jogo de bilhar, o custo de produção e os gastos com a
manutenção das mesas locadas nas linhas aumentou. Diante desses fatores, houve
uma crescente diminuição na rentabilidade mensal das indústrias, o que limitou os
reinvestimentos da maioria dos industriais à própria unidade fabril.
Em 2006, dentre todos os entrevistados, apenas 20% estava
conseguindo conduzir seus reinvestimentos além da própria fábrica, para outros
setores. Esse grupo composto por pequenos e por alguns micro-empresários
direcionavam os lucros obtidos nas linhas, para a aquisição de médios e grandes
estabelecimentos rurais na região e no Estado do Mato Grosso, assim como de
imóveis urbanos e estavam construindo residências de alto padrão. Há que se
destacar a ação conjunta de três industriais, que em 1999 reuniram-se em sociedade
para reinvestir os lucros oriundos da produção e locação de mesas no setor
agroindustrial, instalando na cidade uma agroindústria avícola, denominada Avebom.
Dentre os demais micro-empresários do ramo de mesas, cerca de
80%, os reinvestimentos estão circunscritos à própria unidade fabril, onde os
203
mesmos promovem melhorias no prédio, investem na aquisição de equipamentos
que facilitam o acabamento das mesas, compram veículos ou então reinvestem na
contratação de funcionários e na ampliação de suas linhas. Esse direcionamento de
capital para a própria fábrica é fundamental para a continuidade das micro-empresas
no mercado, tendo em vista que o acesso a financiamentos e linhas de créditos não
é facilitado aos micro-empresários.
4.6 Relações com o Poder Local, as Dificuldades do Setor e as
Perspectivas dos Industriais
Desde a criação da primeira indústria de mesas para bilhar até a
consolidação de todo o setor no transcorrer de pouco mais de três décadas, os
industriais não dispuseram de apoio específico para o setor industrial, algo que ficou
explícito durante as entrevistas. Entre todos os industriais a realidade inicial do
empreendimento foi semelhante, envolvendo disponibilização de capital próprio para
a instalação da unidade produtiva (terreno, prédio, matéria-prima, equipamentos) e
para a montagem das linhas. Não tiveram acesso às linhas de créditos ou
financiamentos viabilizados por instituições estaduais ou federais.
Em relação ao poder local, iniciativas direcionadas ao setor industrial
ocorreram a partir da segunda metade da década de 1990, quando a Prefeitura
Municipal adquiriu terrenos que seriam destinados à criação de dois parques
industriais no perímetro urbano.
No entanto, nesses espaços que passaram a ser destinados ao
setor industrial da cidade, até o ano de 2006, estavam instaladas apenas 06
unidades fabris de mesas para bilhar, estando todas as demais distribuídas em
terrenos particulares em bairros residenciais da área urbana. Isso se deve ao fato da
maioria das indústrias de mesas para bilhar estarem em pleno funcionamento nos
terrenos dos proprietários até o início do ano de 2000. Também pode ser
relacionado à forma modesta e informal adotadas por essas unidades produtivas ao
iniciarem suas atividades, fator esse que levou os industriais que começaram a atuar
204
no ramo a partir de 2000, a dar continuidade ao processo de construírem seus
barracões no fundo do quintal de suas residências, prática bastante comum. Com
isso os espaços deixados nos parques industriais foram sendo ocupados por
indústrias de outros ramos, por estabelecimentos comerciais atacadistas de matéria-
prima e acessórios e prestadores de serviços.
Essa iniciativa de criação dos parques industriais foi a única ação
concreta do poder local em direção ao setor nos últimos 30 anos. Um projeto de
ampliação das áreas desses parques industriais está sendo viabilizado pela atual
gestão administrativa, com aquisição de terrenos rurais próximos ao parque
industrial 2 situado na Rodovia Pr 340, saída para Rolândia-PR. Esses terrenos não
são específicos para as indústrias de mesas para bilhar, os mesmos estarão abertos
às indústrias que queiram se instalar na área, segundo entrevista concedida pelo
Prefeito Municipal, 2006.
A aquisição e destinação de áreas para a instalação de indústrias
desse ramo, ainda é a única ação implementada pelos gestores públicos locais. No
ano de 2005, houve por parte da Prefeitura Municipal de Jaguapitã-PR uma tentativa
de organizar as indústrias nos moldes de Arranjo Produtivo Local
54
, com vistas ao
apoio, via políticas públicas e instituições diversas, no enfrentamento das principais
carências e problemas do setor industrial de mesas, segundo o Assessor do Prefeito
Municipal, 2006.
Embora a cidade de Jaguapitã-PR seja reconhecida no relatório
anual de 2004 do Sistema de Federação das Indústrias do Estado do Paraná como
um pólo produtivo com potencial para ser transformado em Arranjo Produtivo Local –
APLs –, a administração local não conseguiu implantar e desenvolver essa idéia
entre os industriais do setor, devido à falta de adesão dos mesmos ao projeto de
formação da APL de mesas para bilhar. Segundo nossos levantamentos de campo,
os industriais não demonstraram interesse e acabaram rejeitando essa proposta.
54
De acordo com o IPARDES (2006, p. 08), “[...] um Arranjo Produtivo Local - APL - pode ser definido
como um aglomerado de agentes econômicos, políticos e sociais que operam em atividades
correlatas, estão localizados em um mesmo território e apresentam vínculos de articulação, interação,
cooperação e aprendizagem”.
205
Embora não tenha sido mencionado em nossas entrevistas, essa
falta de interesse pelo desenvolvimento de uma APL de mesas para bilhar, pode
estar relacionada aos altos tributos sobre a micro-empresa no Brasil. Esses impostos
podem acabar comprometendo a margem de lucro principalmente do micro-
empresário, lucro esse que paulatinamente no decorrer dos anos com a crescente
concorrência tem diminuído.
No caso do industrial de mesas para bilhar formal, estima-se que
numa micro-empresa com média de 15 funcionários e produção máxima de duas
mesas ao mês mais as reformas, entre os encargos sociais com funcionários -FGTS,
INSS-; as taxas sobre a produção industrial -DARF-; os impostos sobre a
propriedade do imóvel –IR, IPTU- e cobrado pelo Instituto Ambiental do Paraná-IAP;
acrescidos de outros gastos como os impostos advindos da propriedade de
veículos
55
e seguro contra roubos dos mesmos, as taxas pagas pela filiação em
federações, sindicatos ou associações como Federação do Trabalhador nas
Indústrias do Paraná, Sindicato dos marceneiros, do transporte rodoviário e outras
filiações em órgãos regionais ou estaduais, acabam por gerar um gasto aproximado
de 7% mensal sobre o rendimento das linhas de mesas locadas.Esse valor somado
a todo o custo de produção e manutenção das linhas, compromete o funcionamento
e gerenciamento do empreendimento industrial, podendo levar parcela significativa
dos mesmos a aturem na informalidade.
Embora a existência de indústrias informais seja uma hipótese
importante que auxilia no entendimento da não adesão ao projeto de APL, dentre os
industriais formais do setor essa resistência pode ser explicada a partir do receio de
surgirem novas taxações sobre a unidade fabril caso o setor ganhe reconhecimento
estadual ou nacional. Durante algumas conversas informais foi citado o exemplo de
cidades que a partir da divulgação da quantidade de mesas locadas em seus
estabelecimentos comerciais passaram a cobrar um imposto municipal sobre cada
mesa, como no caso de Alvorada-RS.
55
No caso dos veículos, os custos com impostos devem ser destacados porque a camionete é
fundamental para a existência da indústria de mesas para bilhar, tendo em vista que é amplamente
utilizada para a realização do trabalho nas linhas de mesas locadas.
206
Outras ações isoladas foram realizadas pela Associação Comercial
e Industrial de Jaguapitã-PR como a promoção de palestras sobre gerenciamento
empresarial via Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas -
SEBRAE. No entanto, durante as entrevistas, os industriais afirmaram que o
conteúdo dessas palestras não foi de encontro aos anseios dos mesmos, ou seja, na
prática diária da indústria o tema destas palestras não se concretizou.
Em termos de divulgação e reconhecimento público da importância
desse setor industrial na cidade e região, houve por parte do poder local em 2005
durante as atividades festivas da I Festa do Leite de Jaguapitã-PR, a iniciativa de
realizar um concurso para eleger a comida típica da cidade. Como esse evento foi
promovido com o apoio da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná,
do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural - Emater, da
Associação dos Produtores Rurais de Jaguapitã Aprojag e da Associação dos
Produtores de Leite de Jaguapitã Aproleite, visando contemplar as três atividades
econômicas significativas do município - a indústria de mesas para bilhar, o frango e
o leite - foi criada e premiada uma receita salgada à base de frango, cujo nome seria
“Frango Snukado
56
e de uma receita doce a partir do leite, denominada
“Jagualeite
57
(www.aenoticias.pr.gov.br/modules/news/article.php?storyid=15309).
Nos anos seguintes esse evento não teve continuidade. Durante mais de 30 anos de
existência das indústrias de mesas para bilhar na cidade, esse foi o único evento
público de iniciativa do poder local e estadual que visou a divulgação e
reconhecimento da importância desse setor.
Tais fatos evidenciam que a consolidação do setor industrial de
mesas para bilhar na cidade, ocorreu mediante a ão isolada de agentes locais,
com capital próprio das indústrias e sem uma sistematização e intervenção
governamental, ocorrendo apenas em momentos singulares a ação do poder local
em prol desse setor.
56
O “Frango Snukado” foi preparado com um frango em pedaços refogado com grão de bico, lingüiça
de frango defumada e temperos (www.aenoticias.pr.gov.br/modules/news/article.php?storyid=15309).
57
A mousse “Jagualeite” era composta de queijo frescal, leite condensado, creme de leite, gelatina e
goiabada (www.aenoticias.pr.gov.br/modules/news/article.php?storyid=15309).
207
Diante desse quadro, várias são as dificuldades enfrentadas pelos
industriais como a ausência de um setor na Prefeitura que viabilize um trabalho
sistematizado junto aos industriais de mesas. Esse trabalho envolveria o
levantamento dos problemas comuns e a proposição de medidas para a melhoria do
setor.
Outro problema apontado por alguns entrevistados é a falta de uma
associação nos moldes de cooperativismo, específica para o ramo de mesas para
bilhar na cidade. Segundo eles, uma organização desse porte resolveria o problema
de aquisição de matéria-prima e acessórios, pois adquirir produtos no atacado para
um grupo de industriais é muito mais viável que as aquisições individuais de cada
industrial. Essa associação também viabilizaria a busca junto ao poder local de
melhorias para o setor. Algo semelhante ao que ocorreu na cidade de Apucarana-
PR, reconhecida como Arranjo Produtivo Local de Confecções de Bonés
(VIETRO, 2006), onde a formação de duas associações tem contribuído muito na
obtenção de matérias-primas, tendo em vista que ambas conseguem “[...] rebaixar
os custos pela quantidade adquirida e ao mesmo tempo criaram um estoque
regulador para seus afiliados” (FRESCA, 2005, p. 5563).
Dentre aqueles micro-empresários que iniciaram a atividade a partir
de 2000, uma dificuldade comum tem sido a falta de acesso das mesmas às fontes
de financiamentos. Os mesmos reclamam que não auxílio no sentido da criação
de subsídios, linhas de créditos e programas específicos que viabilizem a aquisição
de matéria-prima, equipamentos e veículos (utilitários), sendo esse último o maior
custo para aqueles que não possuem maiores recursos financeiros incluso para
capital de giro.
A nosso ver, mesmo não tendo sido mencionado como uma
necessidade pelos empresários, diante de problemas como a concorrência, venda
de mesas para donos de bares e arrendamento com percentual fixo para os donos
de bares, fica evidente a necessidade da criação de uma regulamentação para o
setor, no que diz respeito à locação de mesas, algo que sistematize essa prática, a
fim de evitar problemas e prejuízos para o conjunto de fábricas da cidade.
Acreditamos que se esses industriais constituíssem uma associação local, além da
208
questão da locação, outras questões poderiam ser resolvidas, contribuindo assim
para o desenvolvimento de todo o parque industrial de mesas para bilhar.
Em virtude dessas problemáticas existentes no setor, da ausência
de ações mais efetivas do poder local e principalmente da elevada carga tributária
que acaba onerando o custo de manutenção da micro-empresa, principalmente
daqueles que iniciaram a produção após 1995, durante os levantamentos de campo
2006, percebeu-se entre os entrevistados que um pequeno grupo não vislumbrava
perspectivas de melhoria para o setor, por acreditarem que ao longo dos anos a
tendência seria a redução dos lucros ao ponto da empresa tornar-se inviável.
No entanto, a maioria dos micro-empresários e todos os pequenos
estão otimistas diante das dificuldades desde o final da década de 1990, quando o
preço da ficha entrou em processo de rebaixamento devido à concorrência maior.
Isso por entenderem, primeiramente, que existe no setor períodos prósperos e
outros de retração na lucratividade das mesas locadas nas linhas. Em segundo
lugar, por acreditarem que as indústrias de mesas são ainda mais lucrativas que as
demais indústrias - excetuando-se os abatedouros de frangos - e do que a
agropecuária praticada no município, principalmente nas épocas de crises
econômicas.
Em suma, podemos afirmar que a maioria dos industriais demonstra
certo otimismo em relação ao setor, mesmo diante das dificuldades enfrentadas na
última década.
209
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo como recorte espacial a rede urbana norte-paranaense,
buscamos compreender os papéis desempenhados pela pequena cidade de
Jaguapitã-PR em dois momentos distintos: de sua origem até a década de 1970 e o
segundo após 1970, quando processos gerais incidiram sobre a rede e impuseram
alterações na estrutura produtiva e na sua re-inserção na rede urbana.
A compreensão dos papéis exercidos pela pequena cidade de
Jaguapitã-PR nos dois momentos destacados, perpassou pelo entendimento da
estruturação da rede urbana norte-paranaense que foi concluída no final de 1950 e
das transformações gerais na rede urbana após 1970, tendo em vista que a
incidência e assimilação dos processos gerais pelos núcleos urbanos da rede não
ocorreram de forma homogênea, isso porque cada lugar antes de mais nada possui
especificidades e singularidades.
A respeito do primeiro recorte temporal, a análise das relações
sócio-econômicas e espaciais estabelecidas desde a gênese dessa pequena cidade
até o início de 1970, nos permitiu compreender que embora Jaguapitã-PR não
desenvolvesse atividades relacionadas ao comércio atacadista de forma significativa
e as atividades comerciais e prestadoras de serviços fossem pouco diversificadas
qualitativa e quantitativamente, a mesma satisfazia as necessidades imediatas de
consumo de bens e serviços diários da sua população rural e urbana. Ao mesmo
tempo, a própria atendia todas as demandas do campo, desde a coleta pelos
compradores de café e cereais, o beneficiamento pelos maquinistas, até a
comercialização, transporte e prestação de serviços bancários, exercendo assim o
controle sobre o campo. Por conta dessas atividades urbanas, as interações
espaciais estabelecidas estavam circunscritas de maneira geral às capitais regionais
da rede urbana, no caso Londrina e Maringá para comprar mercadorias no atacado
e satisfazer necessidades mais complexas cujo núcleo urbano de Jaguapitã-PR não
ofertava; às cidades paulistas, com destaque para a capital São Paulo e com o Porto
de Paranaguá, para onde era escoada a produção cafeeira. Fica evidente que esse
centro local desempenhou as funções que lhe foram atribuídas pela divisão territorial
210
e social do trabalho no referido período. Função urbana essa que seria modificada
após 1970 mediante a incidência dos processos gerais e o desenvolvimento
industrial.
Ou seja, os núcleos urbanos não podem acolher todas e nem as
mesmas variáveis dos processos gerais que incidem sobre a rede urbana, assim
estes acabam por combinar de maneira particular algumas variáveis. A
concretização das variáveis dos processos gerais permite que os núcleos urbanos,
enquanto lugares particulares combinem de forma singular elementos desse
processo geral. Assim, diferentemente de outras pequenas cidades da rede urbana
norte-paranaense, que a partir da alteração dos papéis exercidos até então e da
nova refuncionalização imposta pelas transformações gerais perderam suas
funções, não assumindo de modo geral, novo papel na rede de cidades, estando à
espera de verem suas potencialidades latentes serem aproveitadas, a cidade de
Jaguapitã-PR, a partir de iniciativas locais combinou de forma singular algumas
variáveis do todo, dando início a partir do final de década de 1960 ao processo
industrial de mesas para bilhar.
Esse setor industrial com gênese no final dos anos 1960, surgiu a
partir de iniciativas de agentes sociais locais que com parcos capitais iniciaram a
produção dessas mesas em instalações modestas, com máquinas para o trabalho
em marcenaria e com poucos funcionários. A expansão do número de unidades
desse ramo nas décadas seguintes ocorreu da mesma forma, sempre
correlacionada as iniciativas locais, cujo capital e experiência adveio da pequena
produção mercantil urbana ou rural e sem apoio do poder local ou estadual. É
notório que a ampliação do número de unidades fabris ocorreu nas décadas de
1980, adjetivada como “década perdida” e na década de 1990, caracterizada pelo
início da implantação de uma política neoliberal no país, épocas essas consideradas
recessivas na economia nacional. O que nos leva a perceber que ao mesmo tempo
que fatores externos agiam de forma a impor outras produções, havia a ação
paralela de fatores internos na cidade de Jaguapitã-PR que indicavam outras
possibilidades de obtenção do lucro, sendo notados por agentes locais, que devido
aos pré-conhecimentos e seus interesses próprios passaram a investir nessa
211
atividade, tornando a pequena cidade especializada na produção industrial de
mesas para bilhar.
É necessário explicitar que a especialização produtiva em Jaguapitã-
PR está relacionada ao número de unidades produtivas, 46 indústrias ativas em
2006. Quantidade essa que na escala nacional a coloca como a primeira cidade em
número de indústrias desse ramo conforme levantamentos de campo. Ao mesmo
tempo na pequena cidade, diferentemente dos médios e grandes centros urbanos,
os aspectos sócio-econômicos são facilmente percebidos, tendo em vista que nela
“tudo se vê, tudo se sabe”.
Além da visibilidade, outros elementos contribuem para a
caracterização de Jaguapitã-PR como um centro urbano especializado: a produção e
locação de mesas para bilhar e a geração de empregos. Em relação à quantidade
de mesas produzidas e locadas, a partir dos levantamentos de campo em 2006,
estimou-se que a mesma respondia por uma oscilação entre 20% e 30% da
produção nacional, o que resultou numa quantidade expressiva de mesas para bilhar
locadas em distintas regiões brasileiras e em algumas cidades da Argentina, do
Paraguai e do Uruguai, número esse estimado em 30.000 mesas para bilhar. De um
modo geral, nossos levantamentos de campo permitiram entender que a Região
Metropolitana de São Paulo é a primeira em produção na escala nacional, seguido
pelo Estado de Minas Gerais, e em terceiro lugar o Estado do Paraná, onde
Jaguapitã é a cidade que mais produz mesas para bilhar.
Quanto ao número de trabalhadores empregados por esse setor na
cidade, o conjunto de indústrias de mesas para bilhar ocupava até 2006 o segundo
lugar em geração de empregos diretos, ao empregar cerca de 11% da população
economicamente ativa da cidade. Mantém-se atrás apenas das agroindústrias
avícolas, que empregavam no mesmo período em torno de 25%. Numa cidade com
população urbana de 8.707 pessoas (IBGE, 2000) e cuja população
economicamente ativa era estimada em 4.331 pessoas (IBGE, 2000), os empregos
ofertados pelo setor industrial de mesas para bilhar tornam-se significativos no
contexto sócio-econômico dessa cidade pequena.
212
O desenvolvimento e consolidação do setor industrial na cidade
acabou por atribuir um novo papel a Jaguapitã-PR na divisão territorial do trabalho e
na sua reinserção na rede urbana norte-paranaense, que passou de um centro local
com funções urbanas voltadas ao atendimento da produção e da população do
campo para centro urbano especializado no setor industrial após a década de 1970.
Mesmo que tal processo o tenha alterado sua classificação como cidade com
nível muito fraco de centralidade (FRESCA, 2000).
Tal especialização industrial propiciou a essa localidade central,
interações espaciais com outras redes urbanas no âmbito nacional, ampliando
significativamente as interações espaciais seja na obtenção de matérias-primas seja
na montagem das linhas de locação das mesas. Entende-se assim, que Jaguapitã-
PR, ao desenvolver a atividade produtiva industrial no ramo de mesas para bilhar – o
que não significa exclusividade, pois como foi discutido anteriormente, são
realizadas outras atividades industriais na cidade passou a ser inserida em outras
redes, cujas escalas de abrangência são muito mais amplas internas e externamente
à própria rede urbana norte-paranaense.
Isso significa que o entendimento da rede urbana e a re-inserção
dos núcleos urbanos passou a ser cada vez mais complexa pois “[...] à medida em
que se instauram novas etapas da produção, circulação, distribuição e consumo com
inserção específica para cada rede e cidade, a diferenciação torna-se maior entre as
primeiras e entre as seguintes”. (FRESCA, 2002, p. 7).
Assim, podemos caracterizar a rede urbana norte-paranaense como
sendo uma rede com forte complexidade e diversidade, correlacionada tanto a sua
inserção na divisão territorial do trabalho como em seus núcleos urbanos. Esse
caminho explicitado por Fresca (2002), permite-nos compreender como Jaguapitã-
PR, mediatizada por agentes sociais diversos, foi capaz de perceber a possibilidade
de realização de um dos processos universais, singularizada na produção industrial
de mesas para bilhar.
213
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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