
A proibição, não somente de aquisição, mas mesmo de manutenção, no próprio lar, de
aparelhos de rádio, foi estendida também para os súditos da Hungria e da Romênia. Os rádios
receptores de propriedade de nacionais da Alemanha, Itália, Hungria e Romênia passaram a
ser apreendidos. Mesmo para os nascidos no Brasil, a aquisição de rádio passou a ser
dificultada. Bastava ter um sobrenome alemão ou italiano para que a compra somente
pudesse ser concretizada após a aprovação da Delegacia de Polícia.
Como as denúncias anônimas eram muitas, a Repartição Central de Polícia,
sediada em Porto Alegre, fez circular um panfleto alertando para que as denúncias
infundadas cessassem. Uma briga entre vizinhos, uma discussão entre colegas de
trabalho, uma vingança contra um ex-patrão ou uma antiga rixa entre desafetos
poderiam ser motivos suficientes para denunciar alguém à polícia sob a acusação de
falar o alemão, de possuir armas, de manter escritos em língua estrangeira ou de
sintonizar o rádio na estação de Berlim.
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O delicado momento do período de nacionalização e da guerra fez com que
alguns espertalhões percorressem as áreas coloniais com o fito de vender retratos de
personalidades importantes do governo, especialmente de Getúlio Vargas, álbuns,
distintivos e ações de companhias.
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Comerciantes e pacatos colonos eram coagidos a
comprar, por preços extorsivos, o material ofertado. Em um local visível de salões de
baile, de casas comerciais, de salas de escolas, de residências e até mesmo de templos,
a foto do ditador Vargas ficava exposta.
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Kipper, op. Cit. p. 129.
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Em 18 de janeiro de 1943, compareceram na DP de Santa Cruz, perante o delegado, Sr. Agostinho Ghislene, e
o escrivão, Milton Rodrigues, os senhores Helmut Wartchow, Francisco Wartchow e Ewaldo Bohrz. Disseram
que apareceu na Linha Rio Pardinho, 4º distrito, onde moravam os queixosos, no mês anterior, um indivíduo
baixo, gordo, cor morena, barba e bigode raspados, cabelos e olhos castanho-escuros, bem trajado, que se dizia
representante da Cia. Siderúrgica do Brasil. Esse indivíduo teria forçado os declarantes a comprarem ações da
aludida companhia por meio de palavras ameaçadoras. Teria dito que quem não comprasse era Quinta Coluna.
(Livro de Queixas da DP, 1943.
p.
90).
Queixa idêntica fora feita, em 16 de janeiro de 1943, por Balduíno José Giehl, João Marcos Shuster, João Soder,
Henrique Leonardo MüIler, Fredolino Konzen, Rodololfo Ziegart, Leopoldo Anton e Leopoldo Guilherme
Kappaun. O primeiro reclamante residia em Linha Santa Cruz; o segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto
moravam em Linha São João da Serra; os dois outros, eram colonos em Cerro Alegre.
De acordo com os queixosos, andaram em suas residências dois indivíduos que se diziam inspetores da Cia.
Nacional da Indústria Pesada, mandados pelo Presidente da República para venderem apólices aos bons
brasileiros. Obrigaram os queixosos a adquirirem ações da Companhia sob pena de serem relacionados, isto
é,
terem seus nomes anotados e remetidos para as autoridades competente de Porto Alegre, por se negarem a ficar
com apólices patrióticas. Os reclamantes
foram
unânimes ao dizer das ameaças sofridas pelos supostos agentes da
empresa e disseram que um dos estelionatários, mais baixo, falava com eles o idioma alemão, depois de pedir ao
seu companheiro, que se dizia fiscal superior do Presidente Vargas, licença para tal. Que o agente baixo, quando
se expressava em alemão, dizia que os queixosos deveriam ficar com apólices porque senão iriam perder suas
descendências alemãs, o que muito deveriam honrar. Tendo ficado com parte
das mesmas, julgavam-se logrados,
pois, após compararem as ações entre si, notaram que quase todas variavam de preço e que umas estavam
seladas e assinaladas e outras não. (Livro de Queixas da DP, 1943, p. 99-103)