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exclamou: “Estarei em paiz extrangeiro ou no Brazil!”. Justificou sua admiração pelo fato
de não existir na povoação um só brasileiro e as casas serem construídas de maneira
diversa das até então conhecidas. Pensou o viajante ter chegado à Alemanha.
Apesar de longa a citação, trata-se de um relato raro, detalhado e quiçá
fidedigno, que nos permite vislumbrar aspectos da fábrica e da vila operária no final do
século XIX. Ei-lo:
[...] A povoação em que desembarcavamos, chama-se – Votorantim, dista uma
legua da cidade de Sorocaba.[...] Visitámos as officinas em que tem de
trabalhar os teares, que os vimos estar armando; as salas de estamparia, com
seus curiosos machinismos; os depositos de arrecadação, um repartimento em
que está a machina que desenha os padrões das chitas. Tudo é espaçoso e
solido, construido a tijollo, sendo os tectos lindissimos pela sua armação de
ferro, á ingleza, que de longe produz bello effeito pela sua perspectiva,
parecendo-me como esses extensos claustros do seculo XIII, dos gothicos
mosteiros. Todos os edificios são asphaltados com cimento romano, com regos
para escoar as aguas da lavagem, abundando estas em toda parte. Notamos
ainda a perfeição da telha franceza, ali mesmo fabricada, que cobre os vastos
estabelecimentos, sem precisar de forro. Passámos a ver as machinas a vapor,
as turbinas, os longos canaes terreos que servem de exgotto ás fabricas, não
deixando de admirar as condições hygienicas pelo seu asseio. Fomos
surprehendidos ao olharmos uma redonda chaminé, como columna
monumental de uma praça publica, com perto de 30 metros de altura e
seguramente com mais de dous metros de base, de tal perfeição no assento do
tijolo, de que é construida, que á primeira vista parece ter sido torneada. [...].
Affirmaram-me ter de construir-se mais um vasto edificio, para uma fabrica de
algodãosinho. A levar-se a effeito esta nova construção, sem exageração, o
Votorantim, será o ponto culminante da nossa industria, que rivalisará com os
estabelecimentos deste genero na Europa. O primeiro predio que se avista é de
sobrado de grande altura e sua architetura é propriamente industrial. Outros
seis edificios se unem a elle, que estão na mesma linha de seu alicerce, todos
de tijollo e com as mesmas proporções e frontespicios, ainda que mais baixos.
No grande edificio já descripto, ha uma sala, a maior que tenho visto no Brazil,
tem de comprimento cincoenta metros, por vinte de largura, que perfazem mil
metros quadrados, ou duzentos e quarenta palmos ao correr, com noventa de
extremo a extremo. Contou-nos o sr. Venezio, que naquella sala se dera um
grande baile, na memoravel noite de 15 de novembro de 1894. Passámos a
examinar a machina de vapor do fabrico de tijolos, de telhas, de telhas
francezas, de canos para conduzir agua e tambem para exgottos. Vimos este
aperfeiçoado trabalho, podendo affiançar que os artefactos europeus desta
especialidade, em nada excedavam os trabalhos ali, sendo a argila de superior
qualidade. [...] Preparam-se por dia, sete mil tijolos, e se não excede desse
numero, é em razão de outros serviços em que a machina se occupa. Fomos
assistir a conducção dos tijolos, depois de cortados, que são removidos em
carros de mão, sendo estendidos em compartimentos apropriados e, vimos
retirar os seccos, que tinham de entrar para forno, que é de grandes
proporções. [...] A povoação é extensa, em vista da sua edade, é talvez já
superior a 300 habitantes. – O que será esta localidade quando iniciar seus
trabalhos? Que aglomeração de industriaes! [...] A localidade é bella, e o ponto
para as fabricas foi bem escolhido. Ha ainda ao lado esquerdo, um bom predio