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Teve que pagar com os bens que na verdade nem foram adquiridos
com essa atividade de carvão, que muita gente já tinha tratores, teve
sua moto, então antes né? Teve essas coisas às vezes trabalhando
na terra, antes de mexer com carvão e aí, quando veio essa
atividade de trabalhar com carvão, nessa ilusão de que carvão
estava dando dinheiro, né? Muita gente parou de trabalhar na terra e
foi trabalhar com carvão e aí veio a Caema, né? Eles pegavam a
madeira à noite, pegava o pessoal aí roubando madeira, que na
verdade estava roubando, né? Pegando escondido, pegando
madeira escondido e aí prendia, leva o trator lá, apreendia o trator,
moto... e para tirar era a maior dificuldade. Tem gente que está lá
com trator até hoje enferrujando no pátio da Aracruz, mas não
consegue tirar. Quer dizer, para soltar, para sair da cadeia era cinco
mil reais, seis e, para pegar os trator esses trem eles não devolvem
não, quem não tem esse dinheiro vai tirar de onde? Só se vender as
terras, né?
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Esta repressão ocorria a partir de práticas muitas vezes violentas. A
comunidade sabia disso e denunciava inclusive o uso da Caema, como uma força
do Estado, utilizada para defender os interesses dos representantes das empresas,
colocando em risco a vida de camponeses.
[...] e quanto essa atividade de carvão que todo mundo agora em
Helvécia... tornou outra praga, que todo mundo só quer fazer isso,
isso, isso, aí tinha uns fachos, eles cortavam o eucalipto, pega a
madeira melhor e levava, ficava aqueles facho ali no meio, eles
começaram a pegar esses fachos, só que quando eles iam pegar
esses fachos também aproveitavam e pegavam o que era da
empresa, que era útil para a empresa, a madeira boa. Aí veio a
Caema que é aquele pessoal lá da Mata Atlântica... e veio para estar
controlando isso. Veio a serviço, acho que principalmente da
empresa, que acho que veio mais para isso, e aí minha filha, a gente
já perdeu um... [referindo-se a um ente querido], em dois mil e cinco,
porque ele foi lá pegar um eucalipto, uma madeira à noite, lá perto do
Rio do Sul e aí, ...pegando a noite, escondido, roubando, e aí teve
um acidente de trator, acabou morrendo. Perdeu a vida, novo, deixou
aí quatro filhos, quatro filhos aí todos novos e assim sei lá, tem gente
perdendo a vida aí à toa, perdendo o que já tinha antes e cada vez
mais afundando né? Ninguém consegue as coisas mais aqui em
Helvécia, as pessoas falam que parece que enterraram uma cabeça
de bode aqui em Helvécia, que tudo de ruim só está em Helvécia e
nada de bom.
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As firmas contam com o apoio do Estado, através da atuação da Caema, no
sentido de coibir a retirada, não autorizada, do facho. Estas ações repercutem na
comunidade, explicitam tensões que perpassam aquele distrito, dizem de um outro
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Entrevista concedida à autora pela sra. Maria Sérvulo Henriqueta em 15 ago. 2007.
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Entrevista concedida à autora pela sra. Regina Constantino em 15 ago. 2007.