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Hernesto Weber, lamentando-se, pois, que o Modernismo brasileiro tenha privilegiado a
estética moderna em detrimento da ideologia da modernidade européia.
Como diz Marshall Berman
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, em Tudo o que é sólido desmancha no ar (1940), onde
constrói um painel vertiginoso e lúcido dos tempos modernos, “uma arte desprovida de
sentimentos pessoais e de relações sociais está condenada a parecer árida e sem vida. A
liberdade que ela permite é a liberdade belamente configurada e perfeitamente selada... da
tumba” (BERMAN, 1940, p. 29), ou seja, o modernismo que simplesmente procura uma
arte-objeto pura, auto-referida, que não relaciona arte moderna e vida moderna, voltando as
costas para a sociedade e confrontando o mundo dos objetos, como sugeria Roland Barthes,
não pode ser pactuado por muito tempo.
Por esse mesmo viés de pensamento, Ernst Fischer
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, em A necessidade da arte
(1959), comenta que, “no mundo alienado em que vivemos, a realidade social precisa ser
mostrada no seu mecanismo de aprisionamento, posta sob uma luz que devasse a
‘alienação’ do tema e das personagens” (FISCHER, 1959, p. 15).
Graciliano Ramos também era um crítico mordaz ao Modernismo. “Salvo
raríssimas exceções, os modernistas brasileiros eram uns cabotinos. Enquanto outros
procuravam estudar alguma coisa, ver, sentir, eles importavam Marinetti”, acusa ele, em
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Marshall Berman é um importante crítico literário da modernidade que, sem dúvida, amplia os horizontes da
estética marxista. Professor de teoria política e urbanismo, na City University, em Nova York, investiga o
espírito da sociedade e da cultura dos séculos XIX e XX, propondo leituras originais e instigantes de autores
como Goethe, Marx, Baudelaire e Dostoievski, bem como das vanguardas artísticas contemporâneas, sempre
mostrando que ser moderno é viver uma vida de paradoxo e contradição, movido pela “vertigem e o terror de
um mundo no qual tudo que é sólido desmancha no ar” (BERMAN, 1986, p. 13).
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Crítico marxista, falecido em 1972, trabalhou como comentarista político na rádio soviética, durante a
Segunda Guerra, e foi eleito deputado pelo PC austríaco. Em A necessidade da arte (1959), Ernst Fischer
afirma que “numa sociedade em decadência, a arte, para ser verdadeira, precisa refletir também a decadência”
(FISCHER, 1959, p. 58). Para Fisher, socialista por opção, o artista tem uma função social. E, segundo ele, “o
traço comum a todos os artistas e escritores significativos no mundo capitalista é a incapacidade por eles
experimentada de se porem de acordo com a realidade social que os circunda” (FISCHER, 1959, p. 118).
Mas, ao sugerir a necessidade de uma arte de protesto e revolta, não quer dizer com isso que o artista deva
reproduzir a realidade tal como ela é, e
sim uni-la à imaginação. “Se decidirmos definir o realismo não como
um método, mas como uma atitude – a atitude que fixa a realidade na arte -, chegaremos à conclusão que
quase toda a arte (com exceção da arte abstrata, do tachismo, etc.) é realista” (FISHER, 1959, p. 123). Ou
seja, ele propõe, em oposição ao realismo crítico, um realismo socialista, que é “o resultado da adoção pelo
escritor ou artista do ponto de vista histórico da classe operária, o resultado da aceitação da sociedade
socialista, com todos os seus contraditórios desenvolvimentos, como matéria de princípio” (FISCHER, 1959,
p. 128), aproximando-se, pois, do pensamento de Sartre, para quem, em Que é a literatura? (1948), “a função
do escritor é fazer com que ninguém possa ignorar o mundo e considerar-se inocente diante dele” (SARTRE,
1948, p. 21).