
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A CRIANÇA NO DUPLO CARÁTER DA CULTURA 111
Cortar o cordão umbilical com a minha mãe foi difícil. [riso nervoso] Eu tinha um
vínculo muito forte com ela. Foi um momento complicado. Esse cordão umbilical! Mas
enfim, eu falava todo dia por telefone. Eu ligava. Na verdade minha mãe estava com
cinquenta e quatro anos e meu pai era doze anos mais velhos que ela. Então ele já
estava com [pausa] doze..., bem mais velho! Quase beirando os setenta. E quando
chegou lá minha mãe teve um processo difícil de adaptação. Porque aqui em São Paulo,
eram muitos filhos próximos e lá tinham dois só e ela sentia falta. Enfim, a gente, nós
íamos... Nas férias, feriados, a gente procurava estar próximos, mas aí foi um elo que
foi cortado. E após ela estar lá um ano, dois anos, ela passou um momento assim: Meu
pai, que era doente, que tinha assim, vários problemas, teve um princípio de enfarto, foi
internado, depois deu um AVC, que é o Acidente Vascular Cerebral, ele perdeu alguns
movimentos tinha alguns problemas pra falar. Depois ele recuperou, voltou a andar
com dificuldade e falava. E minha mãe sempre saudável.
Quando foi em julho de 1994 ela teve um problema, de manhã quando ela levantou,
acabou passando mal e entortou a boca. Foi levada para Presidente Prudente. Me
ligaram na empresa e falaram assim: ‘Olha, você tem que vir porque a sua mãe passou
mal e está internada’. Mas eu falei assim, como anotaram o recado: ‘Não é minha mãe
que é doente, é meu pai’. Enfim, aí fui e quando cheguei lá, ela tinha passado por um
processo de AVC. Acidente Vascular Cerebral. Isso aconteceu em nove de julho e
quando foi no dia dezenove minha mãe veio a falecer. [choro] Foi muito difícil pra mim.
[pausa, choro] Então eu voltei. Daí foi muito complicado toda essa perda e o que
aconteceu.
Eu tive que me desligar da empresa e voltei pra cuidar do meu pai lá. Eu mais fiquei
com ele, um ano, dois anos e aí ele veio a falecer também. E aí, o que aconteceu? Aí eu
entrei na faculdade, na época ele era vivo ainda, na UNESP em Presidente Prudente e
foi muito assim... gratificante. Porque você sair de uma escola pública e entrar em uma
estadual, pra mim, foi muito gratificante. Eu nem imaginava, eu passei em uma posição
até privilegiada entre vinte e dois, tinha bastante gente concorrendo, apesar de que este
é um curso de um ano, não é daqueles mais concorridos, mas é numa Universidade
Pública. Então, você chegar a isso é uma conquista. Enfim, eu comecei lá em 97 e em
98 eu conheci o que é o meu ex- esposo. Casamos em 2000 e ficamos quatro, cinco anos
casados e aí, eu falar de maternidade, pra mim, é uma coisa muito assim, linda. Porque
eu não podia ser mãe. E foi uma luta pra engravidar, fiz um tratamento e Deus me
presenteou com o Eric. Então eu acho que é um privilégio pra eu ser mãe.
Quando eu falo assim da questão da criança, em violência, que é o tema que você trata,
pra mim, assim, é uma coisa muito..., é assim, que me traz indignação quando vejo.
Tanto da parte, no seio familiar, ou seja, do pai ou da mãe. Porque eu acho que é um
privilégio, um presente de Deus, e eu acho que são heranças mesmo. Assim, como eu
não pude ter, eu me preparei pra isso. Eu quero dar o melhor e não é em termos de
valores materiais e bens. Nada disso, eu acho que o maior legado que a gente deixa é
uma educação, amor, coisas saudáveis e assim, construir regras no cotidiano. Eu acho
que isso aí é o mais difícil. Educar mesmo e hoje, a gente se depara com muitas