Porque foi o meu primeiro romance. Mas eu só pego, a minha versão de Ópera dos
fantoches, é em virtude de que eu resolvi reescrever Tempo de amar como...
(Uma narrativa mais madura)
Eu resolvi aproveitar como técnica literária, em Ópera dos fantoches, o chamado monólogo
interior. Eu sempre fui preocupado com duas técnicas de escrever, de narrar: uma é o
monólogo interior e a outra o fluxo da consciência, em que as coisas são ditas e escritas, de
uma maneira muito informal, como se fosse um sonho.
(Tipo um monólogo narrado aonde o personagem vai ele, por si só, tomando conta da
narrativa, conduzindo-a, quase que apagando a figura do narrador?)
Eu dou o formato de ópera. Ponho uma epígrafe. (“AUTOR - ...y pues que ya tengo todo el
aparato junto, venid, mortales, venida adornaros cada uno para que representeis em el gran
teatro del mundo!” El gran teatro del mundo, Calderón de la Barca.”) Cada personagem eu
ponho dentro dele um monólogo.
(Aos capítulos também você dá o nome de cena, como no teatro. Isso significaria que
Tempo de Amar não ficou a seu gosto?)
Não! Ficou. Mas como foi meu primeiro romance, tenho uma visão crítica desse livro. Por
isso é que eu resolvi reescrever o livro, mas a história é a mesma. Mas eu parto do princípio
que a história é um dos recursos que o escritor usa quando quer distrair o leitor para lhe
bater a carteira.
(Seria de fato o que menos conta o enredo?)
O enredo é uma certa armação...
(Para construir uma narrativa.)
Perfeito.
4ª) E Ópera dos Mortos? Está ligada a uma tradição barroca?
R.: Não. Era só ...É um livro bastante moderno.
( Sob que aspecto Ópera dos Mortos é moderno?)
É moderno no sentido de que... Alguns dos... Recentemente, um professor de literatura, que
tem até um livro, uma gramática boa de Filologia, ele explicou qual o sentido da obra. Eu
expus a ele no Brasil, pouquíssimos escritores conhecem essa técnica. Sobretudo a técnica
do stream, o fluxo da consciência. A narrativa feita à base de associação de idéias, que é o
que caracteriza o stream, o fluxo da consciência. E o monólogo interior é a visão da ópera
como se fosse uma ópera barroca.
(Essa seria a sua visão crítica sobre a Ópera dos mortos?)
Eles confundem os narradores, confundem o monólogo interior com solilóquio. Confundem
até com outras técnicas já tradicionais na literatura brasileira. Enquanto que o monólogo
interior foi uma criação de Dujardin. Edouard Dujardin, que era um escritor francês que
influenciou muito Joyce. É mais a influência... Eu sou um leitor de Joyce, mas nunca pelas
extravagâncias do Dujardin. Ele ficou mais como uma raridade, o monólogo interior.
Dujardin usa o monólogo simples. Ele, Dujardin, chegou a dizer, eu tenho um livro aí, que
diz que o monólogo interior só fica bem na primeira pessoa. O que é um engano dele. Eu
fiz muitas das falas em terceira pessoa.
(E ficou muito bom!)
Ficou? Eu acho que ficou bom.
(E dá um resultado também tão bom como de primeira pessoa)
Tem vários elementos que eu uso em Ópera dos Mortos para caracterizar a ligação possível
e arbitrária, minha, da ópera barroca. Eu coloco, por exemplo, a epígrafe que é uma fala do