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e pulsões sexuais, mas entre pulsões de vida e pulsões de morte”. (idem, ibidem,
p.63).
Para dar conta da oposição e concomitância das pulsões de vida e de morte,
Freud (ibidem) recorre a um modelo semelhante de ambivalência: amor e ódio que
coexistem. Há, desde o início, um elemento sádico na pulsão sexual. Este
componente pode se destacar e, sob o contorno de uma perversão, predominar toda
a atividade sexual. Pode surgir ainda como uma pulsão elementar dominante numa
das ‘organizações pré-genitais’. Porém, esse elemento sádico também pode:
(...) entrar em ação a serviço da função sexual. Durante a fase oral da
organização da libido, o ato de obtenção de domínio erótico sobre um objeto
coincide com a destruição desse objeto; posteriormente, a pulsão sádica se
isola, e, finalmente, na fase de primazia genital, assume, para os fins da
reprodução, a função de dominar o objeto sexual até o ponto necessário à
efetivação do ato sexual. Poder-se-ia verdadeiramente dizer que o sadismo
que for expulso do ego apontou o caminho para os componentes libidinais
da pulsão sexual e que estes o seguiram para o objeto. Onde quer que o
sadismo original não tenha sofrido mitigação ou mistura, encontramos a
ambivalência familiar de amor e ódio na vida erótica. (idem, ibidem, p.64).
Anteriormente, Freud (ibidem) defendeu que o masoquismo deveria ser
entendido como um sadismo que retornou ao próprio eu do sujeito. O autor sustenta
que essa visão antes adotada talvez deva ser revisada, pois acredita que pode
existir um masoquismo primário, ideia que até então era contestada. Retomando sua
concepção no que tange a finalidade da vida ele assinala que seu ponto de vista
coincide com o defendido por Goethe e Schopenhauer.
Se tomarmos como verdade que não conhece exceção o fato de tudo o que
vive morrer por razões internas, tornar-se mais uma vez inorgânico,
seremos então compelidos a dizer que ‘o objetivo de toda vida é a morte‘, e,
voltando o olhar para trás, que ‘as coisas inanimadas existiram antes das
vivas‘. (...) As pulsões de vida, tratam-se de pulsões componentes cuja
função é garantir que o organismo seguirá seu próprio caminho para a
morte, e afastar todos os modos possíveis de retornar à existência
inorgânica que não sejam os imanentes ao próprio organismo. (...) O que
nos resta é o fato de que o organismo deseja morrer apenas do seu próprio
modo. Assim, originalmente, esses guardiões da vida eram também os
lacaios da morte. (idem, ibidem, p.49-50).