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Ma Dame, comment Ovide- que l´on dit pourtant Prince des poètes, bien que
certains, dont je suis, estiment que la palme revient –plutôt à Virgile (sauf
correction de votre part)-, a-t-il pu dire tant de mal des femmes dans sés
poèmes: dans l´ouvrage intitule ‘L´Art d´aimer’, par exemple, ou bien encore
dans “Les Remèdes d´amour”, ou bien d´autres ouvrages encore?
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[...] je m´étonne tant de cette opinion -assez répandue parmi les hommes (Jean
de Meun en particulier le clame bien haut dans son Roman de la Rose, et il est
loin d´être le Seul auteur à le faire) – que les maris doivent se garder de confier
leurs secrets à leurs épouses, car les femmes sont incapables de se taire.
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A responsabilidade pela difusão dessa cultura misógina na literatura é explicada
pelo fato de os escritos pertencerem ao império masculino na sua quase totalidade.
Assim, suas obras refletem uma ideologia, obviamente, masculina. Pois, na medida em
que a classe dominante é a dos homens, a mentalidade que reina, conseqüentemente,
será também a patriarcal.
Esse império masculino estaria na origem de injustiças frente à mulher,
denunciadas lucidamente em várias passagens do texto, onde a autora, na voz da
senhora Retidão, faz apelo ao saber empírico, ao cotidiano, à própria experiência das
mulheres para resumir o quadro da realidade feminina:
Ah! chère Christine! Tu sais toi-même combien de femmes on peut voir, par
la faute d´un mari cruel, user leur malheureuse vie dans les chaînes d´un
mariage où elles sont encore plus maltraitées que les esclaves des Sarrasins.
Ah! Seigneur! [...] Oh! Les indignités, les infamies, les injures, offenses et
outrages qu´endurent tant de bonnes et valeureuses femmes, sans la moindre
protestation. Et combiens d´autres, encore, chargées d´une nombreuse
progéniture, ne voit-on pas creuver la faim et la misère, alors que leurs maris
traînent dans les lieux de débauche et font la noce dans toutes les tevernes de
la ville! […]. Dis-moi si je mens, et si tel n´est pas le lot de plusieurs de tes
voisines?
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Minha Dama, como Ovídio – que dizem ser o Príncipe dos poetas [...] - pôde falar tão mal das
mulheres em seus poemas: na obra intitulada ‘A Arte de amar’, por exemplo, ou ainda em ´Os Remédios
de amar’, ou em tantas outras obras ainda? (idem, p.52)
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[...] surpreende-me esta opinião – bastante difundida entre os homens (Jean de Meun em particular a
clama bem alto em seu ‘Roman de la Rose’, e está longe de ser o único a fazê-lo) – que os maridos devam
se resguardar de confiar seus segredos a suas esposas, pois as mulheres são incapazes de calarem-se.
(idem, p.161)
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Ah! Cara Cristina! Você mesma sabe quantas mulheres podemos ver, por conta de um marido cruel,
estragarem sua vida infeliz num casamento de prisão, onde elas são ainda mais maltratadas do que os
escravos dos sarracenos. Ah! Senhor! Oh! As indignidades, as infâmias, as injúrias, ofensas e afrontas às
quais tantas mulheres boas e de valor são submetidas, sem o menor protesto. E, quantas outras, ainda,
carregadas de uma numerosa prole, vivem com fome e na miséria, enquanto seus maridos vagueiam em