
sentido cinético (Θ1, 1046
a
11); e du/namij, que é a potencialidade para passar a um novo
estado, expressando preferencialmente o sentido metafísico e, portanto, uma relação
intrínseca com a matéria (Θ6, 1048 a 31). Todavia, como já foi assinalado, Aristóteles
utiliza, ao longo da exposição, as duas palavras indiscriminadamente podendo suscitar
confusões e ambigüidades na compreensão de sua teoria. É exatamente esse modo de
exposição que tem alimentado a crítica de alguns intérpretes, entre eles, David Ross
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que
acusa Aristóteles de não seguir as distinções que ele próprio estabelece no início,
confundindo-as constantemente durante todo o livro.
Pode-se alegar, porém, que essa mistura seja proposital e não simplesmente um
desleixo metodológico. É nessa linha de raciocínio que outros comentadores indicam uma
solução. Michael Frede, por exemplo, afirma que tal confusão não ocorre, pelo contrário, é
a noção de potencialidade adotada por Ross que é diferente daquela pretendida por
Aristóteles, tratando
dunato/n e du/namij como se fossem dois tipos diferentes de
possibilidade. De acordo com Michael Frede, há coerência na exposição de Aristóteles
verificada com a sustentação de uma noção fundamental de
du/namij - enquanto princípio
de movimento - e suas várias outras noções, mesmo aquelas que não interessam
diretamente a esta investigação, como no caso da matemática, visto que todas elas remetem
sempre àquela principal. Aristóteles está ciente dos vários usos de
du/namij, mas entende
que eles formam uma família de usos com uma certa estrutura interna e que sempre estão
relacionados com o sentido principal que é a potência enquanto princípio de movimento.
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Pode-se concluir que ao restringir
dunato/n ao sentido lógico, corre-se o risco de perder
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Para David Ross há dois sentidos de du/namij que podem ser indicados pelas palavras força (power) e
potencialidade (potentiality): “Força ele explica como sendo primeiramente uma força em A para produzir
uma mudança em B, ou em A mesmo para produzir mudança nele mesmo enquanto outro. Potencialidade,
por outro lado é a potencialidade em A de passar a um novo estado ou ocupar-se em nova atividade. Esta
pode ser a produção de mudança em B, mas a noção de um B ser submetido à ação não está necessariamente
implicada na noção de potencialidade, como, pelo contrário, encontra-se na noção de força. (...) Que
Aristóteles não preserva com êxito a distinção entre força e potencialidade é indicado, pelos fatos já
observados por Bonitz que, na discussão de força, introduz (1) uma definição de
dunato\n
que refere-se
claramente à potencialidade mais do que à força (1047
a
24), e (2) uma outra extensa seção também refere-se
à potencialidade mais do que à força (1047 b 3-30).” Ross, D. In: Aristotle’s Metaphysics, vol. II, p.240-241.
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De acordo com Michael Frede, os especialistas não tratam com cuidado as distinções efetuadas por
Aristóteles: “eles pensam que quando Aristóteles distingue dois ou mais usos ou sentidos do termo
du/namij
ele também está distinguindo dois ou mais tipos de
du/namij
, dois ou mais tipos de possibilidade, dois ou
mais tipos de itens na ontologia. Bonitz e Ross, por exemplo, falam como se houvesse, por um lado, força
ativa e, por outro, potencialidades, como se houvesse dois diferentes tipos de possibilidade com os quais
Aristóteles estaria fazendo confusão.” Frede, M., Aristotle’s notion of potentiality in metaphysics Θ, in:
Unity, identity, and explanation in Aristotle’s metaphysics, p. 179.
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