
219
o coração de todo aquele que até ele chegasse... inclusive para receber
alguma merecida censura, que ele sabia fazer com tanta delicadeza, que
quem o escutava não podia desgostar-se. Não se confunda tudo isto com
fraqueza, indulgência exagerada ou perdão passivo. Se preciso, ele sabia
mostrar-se decidido, forte e tenaz, embora preferindo ao tom violento e a
voz entrecortada uma fala longa e envolvente que, pelos caminhos mais
impensados, levava aonde ele queria: em suma, mão de ferro em luva de
pelica
82
.
Magistrado, financista e político de prestígio, Francisco Martins foi diversas vezes
deputado na Assembléia Geral e presidente das províncias da Bahia e do Ceará, além de
ocupar disputados cargos públicos. Como conceituado financista, foi convidado para ser
Ministro da Fazenda, não aceitando o cargo. Os espaços que ocupou revelam um pouco do
grau do prestígio e do reconhecimento alcançados pelos egressos de Boa Esperança.
Além disso, o depoimento de Francisco Martins mais do que ser a fala de um ex-aluno,
revela o discurso de um membro do IHGB, portanto, um discurso autorizado de alguém que
reconhece a importância da memória na construção de uma identidade, seja local, seja
nacional. Por isso oferece alguns tons importantes às cores que compuseram as imagens de
Padre Marcos, ao ressaltar que a sua polidez representava também ferramenta de seu jogo de
82
MARTINS, Francisco de Sousa. apud CASTELO BRANCO, H. op. cit., p. 32. Filho do coronel Joaquim de
Sousa Martins e Tereza de Jesus Maria, nasceu a 5 de Janeiro de 1805, em Jaicós. Após sua passagem por Boa
Esperança, foi mandado para o Rio onde devia continuar o curso no seminário de São José, onde ainda
permaneceu dois anos. Abandona o Seminário e matricula-se no curso de Direito, em Coimbra, em 1827,
concluindo o curso em Olinda, em 1831. Retorna a Oeiras, onde foi nomeado procurador fiscal. Político de
prestígio foi eleito à Assembléia Geral para várias legislaturas. Em 1835, ocupou durante seis meses a
presidência da Bahia; em 1839, durante oito meses ocupou a do Ceará. Foi nomeado juiz de direito de Oeiras,
em 1833. Transferido para o Rio em 1842, e para Minas em 1845, retornando para o Rio, em 1847, como juiz
dos Feitos da Fazenda. Ocupou o cargo pouco tempo, pois, adoeceu gravemente e ausentou-se para a Europa à
procura de recursos médicos. Membro do IHGB. Conceituado financista, foi convidado para ser Ministro da
Fazenda, mas declinou da função. “O eclipse de sua estrela começa com o casamento. Enamorado
apaixonadamente de uma graciosa donzela carioca, desposou-a. Meses depois fugia à convivência dos amigos,
tornava-se taciturno, pálido e doente. Tomado de profundo esgotamento nervoso, quase cego, foi para a França,
ficando em Paris mais de dois anos sem proveito algum, partindo então para Portugal. Em Lisboa, ainda que com
esforço e fadiga, melhorando da vista, pode entregar-se às suas leituras prediletas. Saudoso do berço natal veio
para o Piauí. Agravando-se-lhe, porém, o estado de neurastenia, recolheu-se a uma fazenda, passando a ser tido
como louco. Em 1854, cansado de viver, tentou suicidar-se, ficando mal ferido. Ainda resistiu três anos,
falecendo em l° de Fevereiro de 1857. Dele dizia o Dr. J. M. de Macedo, no "Suplemento" do Ano biográfico:
„Inteligência ilustrada por sérios e profundos estudos, caráter nobre, severo e de probidade experimentada,
Francisco de Sousa Martins foi muito menos do que devia e podia ter sido‟. Sua especialidade fora o estudo das
questões financeiras, econômicas e administrativas. Seus discursos na Câmara, sobre assuntos dessa natureza,
são verdadeiros primores” Cf. NEVES, Abdias, Homens notáveis. In: O estado do Piauí. Disponível em:
<http://www.historiasdopiaui.com/arquivos/Estado_do_Piauí_fonte.pdf>, acessado em 17 de março de 2007, p.
157-8. Grifo do autor.