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era tecnicamente pouco recomendável (...)”
34
. A linha única impedia o movimento de
trens nos dois sentidos ao mesmo tempo. Os trilhos eram assentados sobre dormentes de
madeira, e estes, diretamente sobre o solo, diminuindo assim a vida útil da linha. As obras
eram executadas de maneira manual e os trilhos eram “(...) implantados num processo
denominado de ‘raspagem’ que consiste da retirada apenas da camada superficial do solo
natural (...)”
35
. Para a ausência de pedregulhos ou britas como lastro sob os trilhos, foram
usadas, como justificativas, a distância dos fornecedores de materiais de construção, bem
como a inexistência de pedras de qualidade. Visando à economia, foram construídas
“curvas com raios de até 163 m consideradas fechadas e perigosas, limitando a
velocidade do trem”
36
. Também pelo fator econômico, as rampas chegavam a atingir 2,5%
de inclinação, sendo muito íngremes para locomotivas a vapor, o que reduzia a capacidade
34
Idem, p.34. O afastamento entre os trilhos, a bitola, e a discussão sobre as vantagens e desvantagens de
bitolas maiores ou menores foi assunto que acompanhou todo o desenvolvimento das estradas de ferro. A
discussão aparecia já nos tratados de construções ferroviárias do século XIX e, em nosso país, comparece em
textos de revistas de engenharia. Uma síntese de grande interesse sobre o tema comparece no artigo de
Ataliba Valle, Estradas de Ferro. Notas de Aula, Revista Polytechnica, 1929, n. 95-96, pp. 397-412, de onde
provêm os dados a seguir. Os primeiros trilhos estabelecidos para os veículos em estradas de rodagem tinham
bitola de 4 pés e 81/2" (= 1, 435m), que era o afastamento das rodas daqueles veículos; as estradas de ferro, a
começar pela de Stephenson, mantiveram essa distância. Na Europa, prevaleceu a bitola de 1,435 m, mas
havia exceções, tais como Rússia (1,521 m) e Espanha (1,735 m). Na Índia, a bitola larga era de 1,68m e nos
Estados Unidos, chegava até 1,83 m. O autor cita que segundo o Bulletin de l'Association Internationale du
Congrès des Chemins de Fer, a distribuição das bitolas na rede mundial era: 12% acima da normal, 3 tipos;
67% normal (1,435); 21% abaixo da normal, 23 tipos. Ou seja, havia 27 tipos de bitola. No Brasil, a bitola
normal é a de 1,00 m; a larga, de 1,60 m; as estreitas, 0,76; 0,66; 0,60.
O autor informa que, para um mesmo traçado, a bitola de 1,00m custa um pouco menos que a de 1,60m, pois
demanda uma plataforma mais estreita, dormentes mais curtos e um menor volume de lastro. A bitola estreita
tem ainda traçado mais econômico e fácil pela sua maior flexibilidade, menos despesa no estabelecimento,
menores pesos das superestruturas da via permanente, do material rodante. Permite a execução de raios de
curvas menores, sendo, portanto, mais fácil de contornar obstáculos naturais, diminuindo trabalhos de
terraplenagem e obras-de-arte. No entanto, traz alongamento do traçado, na exploração comercial não há
redução de despesas, e a construção custa menos. Mas a dificuldade de conservação do material rodante é
maior.
Já a bitola larga promove uma diminuição das resistências à circulação, causando menor estrago do material
fixo e rodante. Possibilita, ademais, maior velocidade (diâmetro das rodas é maior quanto maior a bitola) e
maior capacidade de transporte, com locomotivas mais potentes, aproveitando melhor a resistência da estrada
oferecendo melhor proporcionalidade entre potência das locomotivas, além de maior comodidade. Desse
modo, a bitola larga é mais cômoda, segura, veloz; mais econômica para movimentos intensos, grandes
tonelagens e longos percursos. A bitola estreita tem pequeno custo e presta-se para tráfego reduzido. Desse
modo, estranha-se que a EFNOB, que foi prevista para transportar grande quantidade de cargas, tenha se
utilizado da bitola métrica.
35
Idem, p.36.
36
Ibidem.