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In: JONAS, 1994, p.11). O poder sobre a natureza conferido ao homem pelas tecnociências
torna-lhe responsável pelos resultados de suas ações. A imprevisibilidade das mudanças
possibilitadas pela técnica moderna, cujos efeitos não se limitam ao presente, introduz uma
dimensão temporal na ética. Com isto, “[...] impõe-se substituir as antigas éticas da
contemporaneidade e da imediatez por uma nova ética da prospectiva e da responsabilidade”.
(Ibid., p.13)
Segundo Cascais (Ibid., p.14), Hans Jonas desenvolve o que denomina “Princípio da
Responsabilidade”, onde a ética já não se refere somente ao semelhante, mas se expande,
principalmente, em função da permanência da vida humana, visando assegurá-la. Advoga,
então, contra o que denomina “tirania „utópica‟ da tecnociência” e defende a necessidade de
implantação de um conselho de “peritos éticos” que avaliem os estudos científicos uma vez que,
em sua concepção, “[...] intervir na liberdade de investigação é um mal menor face às suas
próprias e prováveis conseqüências funestas”. O filósofo reconhece que a tecnociência não seja
politicamente democrática, uma vez que não se chega à formulação de leis universais por um
consenso majoritário. Há, entretanto, em sua concepção, um antes e um depois da pesquisa
que dão margem à discussão, à ação humana, conseqüentemente, à intervenção ética.
A partir desta visão, torna-se possível que a técnica cumpra tarefa de reconstruir e
preservar a natureza, condição para seu funcionamento. A relevância desta proposta justifica-se
pelo fato de que, conforme concebe Jonas, o homem e a técnica são indissociáveis, onde “[...] a
tecnociência, enquanto projeto humano, isto é, atravessada por um ato de vontade e de escolha
apaixonada, é tão “humana, demasiado humana” quanto a ética com a qual, nesse pé, pode
estabelecer diálogo”. (Ibid., p.24)
O risco, entretanto, está na “tirania „utópica‟ da tecnociência”, citada por Jonas e
inserida em um contexto de primazia “insana” da técnica, onde ela surge como salvação do
homem, causando deslumbramento e ficando acima de ser questionada. A edição de maio de
2009 da revista Superinteressante
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, com o título A ciência do impossível – 33 idéias que
parecem irreais, mas não são!!!
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, evidencia este risco ao trazer, junto às mais de 30
propostas promissoras de pesquisas científicas, dois textos do editor-chefe (um no início e
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Periódico de publicação não-acadêmica, com grande circulação e boa aceitação por trazer abordagens relacionadas à ciência.
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Das 33 idéias mencionadas nesta publicação, 13 estão diretamente relacionadas à temática abordada neste capítulo:
Imortalidade, Ciborgues, Ressureição, Recriar espécies extintas, Cura do câncer, Clonagem humana, Viagem no tempo,
Regeneração de membros, Transplante de mente, Inteligência artificial, Produzir vida em laboratório, Nanotecnologia e o
texto final do editor-chefe, Reinaldo José Lopes, denominado Transumanismo. Faço uma relação com o pensamento de
Lipovetsky, citado no início deste capítulo, a respeito da força atribuída à “dinâmica técnica e científica” culminando,
entre outros fenômenos, na oferta do que denomina como um “simulacro de imortalidade”.