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encontrar pessoas. Além do empenho pelo jogo em si, gostar do basquete é um fator de mo-
tivação, tanto quanto o é exercitar o espírito competitivo, com as outras pessoas com quem
criam laços de amizade. E, assim, vai se consolidando, para esses jogadores, um sentimento
de pertença àquele espaço social, no caso, o seu grupo; e, simultaneamente, vai se produzindo
uma identidade – a identidade de basqueteiro –, a partir da produção e/ou incorporação de
linguagens, estratégias, tarefas, brincadeiras, partilhas e outras formas de convivência e uso de
artefatos, símbolos e representações, próprios do grupo, conforme demonstro no item anterior
em que analiso a linguagem dos basqueteiros.
Ultrapassando as fronteiras das instituições que pesquisei, encontro reforço para a
valorização do sentimento de equipe no “mundo do basquete”, ao atentar para a fala do técnico do
grupo masculino, de basquete do Brasil, o espanhol Moncho Monsalve, em junho de 2008. Em
face da conduta de jogadores masculinos, atuantes no basquete americano, que pediram dispensa
para não participarem do Pré-Olímpico da Grécia, que disputaria a vaga para as Olimpíadas de
Pequim-2008, o técnico afi rma: “Esses jogadores não serão chamados na próxima convocação. É
um desrespeito ao grupo e à Federação. Estrelas não ganham; grupos é que ganham o jogo”
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.
Em seguida à apresentação da dinâmica do basquete, trato da descrição e análise de
ocorrências em que esse jogo é apropriado, por parte de algumas empresas, principalmente, da es-
fera privada como clubes, meios de comunicação ou empresas de produtos esportivos, a exemplo
das multinacionais. Nesse contexto, tais empresas visam utilizar propósitos do jogo, paralelamente,
à vinculação desses princípios aos processos de propagação de valores tais como fi lantropia e res-
ponsabilidade social. Ao promoverem iniciativas de solidariedade apoiadas nessa prática, utilizam o
basquete em defesa também da difusão de sua imagem. Nesta perspectiva, em sentido mais amplo,
vejo que noções como efi cácia, competência, resistência, vigor, competitividade, vitalidade, con-
quista, são veiculadas como valores culturais, vinculados com a atividade e associados à imagem,
de ídolos de esporte, paralelamente, à pratica esportiva. O próprio meio de comunicação, a exemplo
do jornal O POVO que busca formar opinião, se apropria da mensagem desportiva, digamos assim,
como uma jogada de marketing no jogo da própria vida, junto a um público consumidor dessas men-
sagens face à competição da sociedade de que essas organizações fazem parte.
60 Aqui, verifi co, também, exemplo de confl itos advindos da relação técnico X atleta, cujo pivô da discórdia é o
rompimento, por parte de atletas, com a visão do jogo coletivo. No caso, essa questão se torna complexa em função
da migração de nossos principais atletas, que passam a fazer parte da profi ssionalização do basquete no exterior. Este
comentário de Monsalve ocorre, paralelamente, às notícias que circulavam na imprensa de que um dos principais
atletas masculinos, o armador Leandrinho, que joga nos EUA e que pedira dispensa por se encontrar com infl amações
no tendão, estava jogando futebol benefi cente nas ruas de Nova Iorque. Essa discussão entre os adeptos do basquete
alimenta uma discordância que se evidencia, inclusive, quando o Brasil perde sua vaga masculina para as Olimpíadas
da China. O diálogo entre Alberto Bial e Oscar Shimidt projeta o confl ito acerca de motivos que explicam a derro-
ta do Brasil. Se, de um lado, para Oscar, esse fato pode signifi car falta de envolvimento individual com a seleção,
para Alberto Bial, não se pode acusar o jogador de assumir, nesse caso, uma atitude não-patriota. Bial considera a
precariedade de oportunidades de trabalho do profi ssional no Brasil como razão da migração deste para o exterior, e
afi rma, também, que a ausência de atletas da seleção em competições internacionais tem origem na complexa rede de
organização do basquete americano, uma vez que, em defesa de seus interesses, o clube não se dispõe a liberar um
profi ssional de seu plantel para servir à seleção do Brasil, sem impor condições que protejam suas necessidades.