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De origem semântica obscura, o dandismo nasce na Inglaterra ainda no início do
século XIX.
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Seus primeiros adeptos eram aristocratas, mas também plebeus ricos, que
conviviam entre a high society londrina, reunindo-se em famosos clubes, como o
Watiers.
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Esses recintos – exclusivos para homens e nos quais se praticavam ruinosas
jogatinas de cartas e dados – eram freqüentados por aqueles que se destacavam por seu
alto nível de insolência, uma extrema elegância aliada a várias doses de soberba, à
paixão pelos esportes, por jogos e pelos cavalos. Essa primeira caracterização conservou
alguns aspectos positivos aos olhos da tradicional nobreza londrina durante um curto
período de tempo. Ao que parece, é na segunda década do século XIX que surge a
associação entre a figura do dândi e os célebres beaux da aristocracia inglesa.
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Segundo
John C. Prevost, a partir de 1813
le dandy est le fat qui se fait le plus remarquer dans la société anglaise
du XIX siècle. Ce type est la prolongation peu différenciée du beau et
du buck, et comme eux, il est sorti de n’importe quelle couche sociale.
Pendant une cort période (1813-1816), le terme semble avoir désigné
un homme mis avec soin et élégance, et faisant partie de la société
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Há um consenso entre os comentadores de que o termo dandy foi reapropriado do francês pelos
britânicos. Em todo caso, especula-se sobre duas possíveis origens etimológicas da palavra. A
primeira remete ao vocábulo dandin, do francês arcaico, que designaria um indivíduo tolo cujo
estranho modo de caminhar lembraria o movimento pendular do bastão de um sino. A segunda
origem estaria ligada ao vocábulo dandi-pratt: uma moeda de pouco valor corrente no século XVI,
durante o reinado de Henrique VII. Por extensão, a palavra era ainda utilizada para designar
indivíduos “simplórios” e “desprezíveis” da sociedade daquela época. A esse respeito ver:
CARASSUS, Emilien. Le mythe du dandy; PREVOST, John C. Le dandysme en France; STANTON,
Domna C. The aristocrat as art.
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Fundado em 1807, o Watiers se tornou o reduto mais célebre dos dândis durante a Regência inglesa.
Entre seus membros faziam parte Lord Byron e Georg Bryan Brummell.
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De acordo com Frédéric Schiffter, o termo Beau, também importado do francês pelos britânicos,
designaria “l’homme sachant se distinguer par sa mise impeccable, ses manières exquises, son esprit
piquant. Le mot dandy, d’une origine incertaine, finira par le remplacer”. Acrescente-se a essa
definição, o grau de proximidade dos Beaux com o poder real. Basta lembrar o caso de Brummell:
freqüentemente mencionado como Beau Brummell – fato curioso, o dândi planejou seu epitáfio com
as insígnias The broken Beau –, ele gozou durante um certo tempo da intimidade do futuro rei da
Inglaterra, George IV. De acordo com testemunhas da época, o Príncipe Regente chegou mesmo a
bancar o caro custo de vida de alguns dos primeiros dândis – nesse caso, também se inclui Brummell
–, que perdiam altíssimas somas de dinheiro em suas jogatinas: “ They were generally midle-aged,
some even eldery men, had large appetites and weak digestions, gambled freely and had no luck and
had the most of them been patronized at one time or other by Brummell and the Prince Regent”. A
esse respeito ver respectivamente: SCHIFFTER, Frédéric. Le dandy ou l’aplomb de la légèreté. In:
AUREVILLY, Jules Barbey. Du dandysme et de Georg Brummell, p.21; GRONOW apud
PREVOST, John C. Le dandysme en France, p. 19.