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manter uma universidade obsoleta numa sociedade que se esforçava
por superar o atraso social e cultural através de uma reforma agrária
e da constrição da exploração estrangeira.
Através destas discussões que se irradiaram imediatamente por
todo o país, o projeto da Universidade de Brasília se difundiu
enormemente, convertendo-a no que ela foi e no que ela é, funda-
mentalmente: a cristalização, como utopia concreta, das aspirações
mais profundas da intelectualidade brasileira, particularmente da
comunidade científica nacional.
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Nunca antes no Brasil a universidade se vira a si mesma tão
calorosamente. O resultado desta polêmica foi a radicalização to-
tal entre os partidários da nova universidade – que eram todos os
estudantes e os melhores professores – e os que se opunham a ela,
em defesa da quadratice catedrática de pequenas glórias acadêmi-
cas e de antigas posições hegemônicas no controle do ensino su-
perior, como a da Igreja Católica.
Neste ambiente de polêmica começaram a surgir novos obs-
táculos à concretização da UnB nas bases em que ela fora plane-
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Entre várias iniciativas do mesmo gênero destinadas a debater o projeto de estruturação
da Universidade de Brasília, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência convocou
uma reunião especial realizada no Rio de Janeiro, em outubro de 1960, da qual participaram:
os físicos Gleb Watghin, José Leite Lopes, Mário Schemberg, José Goldenberg, Jayme
Tiomno, Richard Walauschek, Oscar Sala, Guido Beck, Lauro Nepomuceno; os matemáti-
cos Leopoldo Nachbin, M.L. Leite Lopes, A. Ferreira Gomes; os químicos J. Cristóvão
Cardoso, Jacques Danon, Water B. Mors, Julio Puddles, Ricardo Ferreira, Lúcia Furtado;
os geógrafos Orlando Valverde, Pinchas Geiger, Fábio M. S. Guimarães; o diplomata
Wladimir Murtinho; o filósofo Euryalo Cannabrava; os biólogos Paulo Sawaya, F. Brieger,
Carlos Chagas F., W. Oswaldo Cruz, Haiti Moussatché, M. Rocha e Silva, Clodowaldo
Pavan, Newton F. Maia, S. Baeta Henriques, Annie P. Dannon, Amadeu Cury, Herman Lent,
Antonio Couceiro, O. Frotta-Pessoa, Segadas Vianna, Carlos Zilbertstchmidt; os médicos
Arthur Moses, Paulo de Góes, M. de Freitas Amorim; os escritores Cyro dos Anjos, Paulo
Duarte, Afrânio Coutinho, J. I. Mendonça, P. Madureira Pinho; os historiadores Maria Yedda
Leite Linhares. Francisco Iglézias; o crítico de arte Mário Pedrosa; os antropólogos Darcy
Ribeiro, Carlos de Araújo Moreira Neto, Roberto C. de Oliveira, Josidelth G. Consorte; os
economistas Celso Furtado, Pompeu Acioly Borges, Ignácio Rangel; os educadores Anísio
Teixeira, Almir de Castro, Jayme Abreu, Faria Góes Sobrinho, A. de Almeida Júnior, Alberto
Venâncio Filho; os sociólogos Florestan Fernandes, Oracy Nogueira, Morse Belém Teixeira,
Oswaldo Gusmão; o urbanista Lúcio Costa; os biblioteconomistas Lídia Sambaqui, Kadem
Moussatché e o agrônomo Felisberto Camargo.
DarcyRibeiro_NM.pmd 21/10/2010, 08:00107