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trazida pela vivência da comum espiritualidade, criava-se um vínculo tão
forte entre todos nós a ponto de nos levar a dizer (foi o que disse, enquanto
falava a essas 1.600 pessoas): «Quem nos separará do amor de Cristo?» (Rm
8,35). Perto de mim estava um focolarino anglicano e outra focolarina
anglicana
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. Olhando para eles eu disse: «Quem nos separará? Isso é
impossível, pois é Cristo que nos une, Jesus no meio.»
Demos o nome a este modo de viver: «diálogo da vida» e também «povo
em diálogo», pois sentimos que compomos um único povo cristão, que
abrange leigos, mas também monges, religiosos, diáconos, sacerdotes,
pastores, bispos, pois o povo de Deus é feito por todos. «Povo em diálogo»,
que não é um diálogo da base que se contrapõe ou justapõe ao diálogo dos
vértices ou dos responsáveis de Igrejas. É um diálogo do qual todos os
cristãos podem participar. Este povo é um fermento no movimento
ecumênico, que reaviva em todos a noção de que, sendo cristãos e batizados,
na possibilidade de amar-nos, todos podem contribuir para a realização do
Testamento de Jesus.
Dando-nos o carisma da unidade, Deus fez realmente algo novo.
Antes, cada um seguia o próprio caminho. Agora todos se interessam
também pelos outros. Pelo amor recíproco, [...] vivido entre nós, passamos a
conhecer as nossas diversas tradições e apreciamos os dons uns dos outros
e o que temos em comum. Desse modo, é incrementado entre nós o diálogo
da caridade, pois nos conhecemos melhor. Jesus no nosso meio suscita a
comunhão e nos faz ser irmãos e irmãs.
No trabalho ecumênico a oração tem um lugar de relevo, pois a
unidade é, em primeiro lugar, um dom do alto. É evidente que poderíamos
obter mais facilmente a graça da unidade, pedindo-a juntos ao invés que
sozinhos. Jesus disse: «Em verdade eu vos digo: se dois de vós estiverem de
acordo nesta terra ("consenserint") sobre qualquer coisa que queiram pedir,
isso será concedido por meu Pai que está no Céu» (Mt 18,19). Não se trata de
estar simplesmente lado a lado, como na igreja, mas de rezar realmente
unidos espiritualmente com Jesus em meio à comunidade.
São João Crisóstomo diz que ninguém se reúna com outros para rezar
«confiando na sua virtude, mas na comunidade e no acordo, que Deus tem
em máxima consideração e com o qual fica comovido e aplacado, porque –
continua Crisóstomo - "onde dois ou três estiverem reunidos no meu nome,
eu estou no meio deles". De fato, o que não se obtém rezando sozinho, se
obterá, rezando com a comunidade. Por quê? Porque, se a virtude própria
não tem uma grande força, a tem, porém, a unanimidade: "onde estiverem
dois ou três reunidos"...»
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.
Essa oração ao Pai, feita em unidade, fez chover infinitas graças sobre
o Movimento: espirituais e materiais. Temos a certeza de que a oração de um
povo cristão, unido no nome de Jesus, surtirá o máximo efeito para alcançar
a plena comunhão entre as Igrejas.
Também o diálogo teológico terá grandes vantagens do "diálogo da
vida". Se os teólogos se amarem reciprocamente e estabelecerem a presença
de Jesus entre eles, Jesus, que é a única verdade para a qual todos tendem,
iluminará as suas mentes e indicará o caminho a seguir para alcançar a
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Na realidade, eram Leslie e Callan, dois focolarinos anglicanos (N.d.T.);
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In Epist. II ad Thess., Hom. 4, 4, in PG 62, 491;