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Revista de Ciências da Administração • v. 12, n. 28, p. 38-57, set/dez 2010
Conteúdo Estratégico em Organizações do Terceiro Setor: possibilidades e implicações de pesquisa no campo social
(FERNANDES, 1994; FALCONER, 1999; MELO NETO; FROES, 1999;
ALVES, 2000; BAVA, 2000; IBGE, 2004). Apresenta-se nessas circunstânci-
as, a atuação dessas organizações como elemento constituinte, agregador e
complementar às ações desenvolvidas pelo Estado.
As organizações que compõem o campo social configuraram-se de di-
versas formas (cooperativas de catadores de lixo, creches comunitárias, insti-
tutos ou fundações empresarias de responsabilidade social, centros de
capacitação), muitas até sem qualquer personalidade jurídica, na qual se fa-
zem presentes em um contexto crítico de necessidades de recursos (físicos,
materiais, humanos, financeiros); melhorias de processos de gestão (estrutu-
ras departamentais coesas e integradas; programas e projetos concisos e co-
erentes; instrumentos e técnicas adequadas); legitimidade (suporte contextual,
prestígio com o público atendido; institucionalização de práticas e ações)
(HATTEN, 1982; FALCONER, 1999).
Diante da diversidade dessas organizações, seja pela sua configuração
jurídica, terminologia, formas de atuação ou propósitos diversos, essas orga-
nizações tornam-se um campo amplo e rico de investigações (SALAMON,
1997; BRESSER-PEREIRA; GRAU, 1999; FALCONER, 1999; COELHO,
2000; MORRIS, 2000; ALVES, 2002). Embora Falconer (1999) tenha consi-
derado o Terceiro Setor no Brasil como um tema não extensivamente
pesquisado, existindo ainda poucos estudos empíricos abrangentes, e um
número insignificante, até recentemente com enfoque organizacional. Os
primeiros esforços acadêmicos para compreender a temática do Terceiro Se-
tor em território brasileiro surgiram somente a partir dos anos de 1990 e cada
vez mais pessoas e organizações se interessam e se dedicam a estudar o as-
sunto ou trabalhar nesse tipo de organização.
De acordo com Fischer e Mendonça (2002), informações e conheci-
mentos estão sendo produzidos a esse respeito, no entanto, essa produção se
dá por meio de iniciativas isoladas e divergentes. Essas iniciativas geram uma
falta de convergência de atividades, assim como de integração entre pesqui-
sadores, estudiosos e militantes, além disso, há pouca divulgação dos traba-
lhos acadêmicos e de sua aplicação na prática das organizações.
Entre a ideologia e a politização dos discursos emblemáticos encontra-
dos nos estudos organizacionais sobre a realidade do campo social, seja na
construção de um quadro teórico próprio ou na desconstrução de propostas
pautadas na lógica de mercado, aumentam as divergências e os conflitos
conceituais, distanciando o foco no contexto crítico desse campo. Esse en-