Inglaterra foram expulsos das terras comunais para dar espaço às pastagens para carneiros
que, por sua vez, forneciam a matéria-prima para a incipiente indústria têxtil inglesa. Sem
opção, os pobres vagavam pelas estradas e, em alguns casos, passaram a obter ajuda através
da “Lei dos Pobres”. De imediato a legislação atraiu adversários ferrenhos no parlamento
inglês e entre intelectuais.
Um dos mais notáveis opositores foi o reverendo Malthus. Contrário à “Lei dos Pobres”, ele
enxergava a questão por uma ótica natural e não social, diagnosticando que a forma mais
adequada de redução da pobreza era a fome e a morte dos menos afortunados (CORAZZA,
2005). Contemporâneo e amigo do reverendo, Ricardo não compartilhava da visão
catastrófica da escassez de alimentos – embora reconhecesse o impacto do crescimento
demográfico sobre a elevação da pobreza – mas deslocou o foco da análise para os conflitos
distributivos. Preocupava-o a destinação de maior parcela do produto social para os pobres,
o que comprometia a acumulação do capital (IDEM, 2005). À época, porém, a abordagem
mais profunda partiu de Smith: ele enxergava as desigualdades como um processo natural,
dadas as diferenças de talento existentes entre os indivíduos, mas atribuía a origem do
pobreza ao surgimento da propriedade privada e à instituição do Estado, cujo propósito era
assegurar os direitos de proprietários (BELTRÁN, 2000).
A grande guinada no tratamento da pobreza nos países centrais ocorreu com a Grande
Depressão de 1929, a conseqüente derrocada do pensamento liberal e a ascensão das idéias
keynesianas. Surgia o Estado de Bem-Estar Social, que se sustentava sob duas abordagens:
uma delas, a européia, era ex-post: tentava-se corrigir as distorções do capitalismo com
políticas redistributivas, com justiça tributária e transferências sociais; a outra, vigente nos
Estados Unidos, articulava-se ex-ante: investimentos no sistema educacional e regulação no
patrimônio e no fluxo de renda (POCHMANN, 2004). Esse sistema entrou em crise na
década de 1970, com a estagnação econômica e elevação da inflação nos países centrais.
Há, então, o resgate do pensamento ortodoxo, que recomendava a redução do tamanho do
Estado e a focalização das políticas sociais apenas na população mais pobre, mediante